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Conhecimentos que você

precisa para RECONSTRUIR


O MUNDO i

pos-
APoCaLiPSE
zuMBi
Organização:
Roberto Dalmo Oliveira
Everton Bedin
PATRÍCIA Barbosa PEREIRA
IVANILDA HIGA
Gabriela Ferreira
AMANDA Ribeiro da ROCHA

Um projeto de parceria: PRP-PIBID/Química, PRP/Biologia e


PIBID/Física
Conhecimentos que você
precisa para RECONSTRUIR
O MUNDO i

pos-
APoCaLiPSE
zuMBi
Conhecimentos que você precisa para reconstruir
o mundo Pós-Apocalipse Zumbi
Organizadores(as): Roberto Dalmo Oliveira, Everton Bedin, Patrícia Pereira,
Ivanilda Higa, Gabriela Ferreira, Amanda Ribeiro da Rocha.

Diagramação: Gabriela Ferreira


Revisão Ortográfica: Camila Novak
Ilustração: Amanda Ribeiro da Rocha

Universidade Federal do Paraná


Reitor
Prof. Dr. Ricardo Marcelo Fonseca
Vice-Reitora
Prof.ª Dr.ª Graciela Bolzón de Muniz
Pró-reitora de Graduação e Educação Profissional
Prof.ª Dr.ª Julio Gomes
Coordenador de Atividades Formativas e Estágio
Prof. Dr. Leonir Lorenzetti
Coordenadora institucional Residência Pedagógica
Prof.ª Dr.ª Fernanda Silva Veloso
Coordenadora institucional PIBID
Profª. Dr.ª Joanez Aparecida Aires

Livro elaborado com finalidade didática.


Proibida a sua comercialização.
Apresentação
“Ocupar é dedicar-se ao trabalho de viver juntos, mesmo onde as probabilidades
estejam contra nós. É recusar - e também se recuperar. Se quisermos viver,
devemos aprender à ocupar até os espaços mais degradados da vida na Terra”.
(Anna Tsing - Viver nas ruínas p.87)

Prezados sobreviventes, este livro é fruto de um trabalho cooperativo que conta com o apoio de
dois programas de formação, o PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência) e o PRP (Programa Residência Pedagógica), da Universidade Federal do Paraná.
Trabalharam em conjunto os subprojetos PIBID-Química, PIBID-Física, PRP-Química e PRP-
Biologia, todos financiados pela CAPES. No dia 27 de maio, sábado, professores do ensino
superior e da educação básica, estudantes e equipe de suporte composta por pessoas dos
programas de pós-graduação em Educação (PPGE) e em Educação em Ciências e em
Matemáticas (PPGECM) se reuniram para o evento intitulado “Cooperar para reconstruir:
pensar coletivamente o mundo no pós-apocalipse zumbi”. O evento iniciou com uma mesa de
abertura na qual os representantes institucionais dos programas e o coordenador da COAFE
(Coordenação de Atividades Formativas e Estágios) fizeram suas falas de boas-vindas e
acolhimento aos participantes. Em seguida ocorreu a palestra “Gestos para qual pós-apocalipse
zumbi” proferida pela filósofa Stefany Stettler. Após o horário do almoço, os estudantes se
reuniram em grupos supervisionados pelos coordenadores dos programas de formação e por
tutores designados para cada um deles. Os grupos se formaram de maneira interdisciplinar,
contendo, no mínimo, um estudante de cada curso. Com isso iniciaram-se reflexões e propostas
para pensar tópicos como: produção e consumo de alimentos; comunicação; hidratação;
mobilidade – tanto em termos de veículos quanto de combustíveis; rejeitos; habitações
ecológicas para diversos espaços do globo envolvendo a preocupação com questões térmicas;
recursos energético nos âmbitos da produção e do consumo; vestimentas, bem como os
relacionamentos com os diversos biomas e espécies mais que humanas. Os grupos de trabalho se
organizaram, pensaram, apresentaram coletivamente as estratégias e fizeram suas apresentações
para todos os participantes. Após o evento foram destinados quinze dias para a escrita e a
produção de capítulos. A conclusão deste trabalho foi o que gerou este livro – “Conhecimentos
que você precisa para reconstruir o mundo no pós-apocalipse zumbi”.

Sendo assim, é com enorme prazer que apresentamos à comunidade de sobreviventes o material
elaborado pelos estudantes. Iniciamos o livro com o capítulo da Stefany Stettler no qual a autora
apresenta a alegoria do zumbi e sua potência para pensar questões ambientais no momento que
chamamos de antropoceno. Em seguida você poderá contar com 15 capítulos sobre os mais
diversos temas já explicitados acima e que apresentarão estratégias divertidas para pensar o
mundo interconectando ciências tradicionais e modernas.

Esperamos que este livro não apenas horrorize ou gere angústia, mas promova esperanças ao fazer
perceber que a juventude está engajada em pensar novos modos de vida – em contraposição à
crise ambiental e à injustiça climática que se apresentam.

Um forte abraço e mordidas contaminadas por vírus zumbificantes,

Organizadores/as.
Próximo de dezembro de 2035 eu encontrei, sob os escombros de uma ruína da antiga fábrica
da CapiAgro, um livro chamado “Conhecimentos Químicos que você precisa para
sobreviver ao apocalipse zumbi”. Confesso que, apesar de ter sido difícil de aceitar, ele me
deixou esperançoso. A carta que seguia o dossiê parecia ter sido escrita pra mim. Eu
trabalhava na CapiAgro e vivi aquilo tudo. Eu fazia o que chamavam, no mundo antigo, de
Recursos Humanos e o meu contato direto com as pessoas mostrava exatamente o que estava
na carta. As pessoas confiavam bastante na gente, éramos símbolo de orgulho. Tinhamos o
congresso e o senado nas nossas mãos - a gente apoiava a eleição deles e eles apoiavam as nossas
leis. Apesar de ninguém saber nada do que se passava, eu confesso que também vivia
amarrado pela forma como a vida corria. Sim, ela corria - não tínhamos tempo pra viver o
presente porque durante o presente nós pensávamos sobre o futuro. Nos questionávamos
sobre como gastar o dinheiro que ganharíamos. No antigo mundo nós sofríamos com medo
de não ganhar aquilo que poderia proporcionar os carros e casas de luxo que a gente
acreditava que seriam a recompensa pelo sucesso. A carta que foi deixada me marcou e eu
também confesso que no começo eu pensei em queimar ela e todo o dossiê porque eles me
lembravam que, de alguma forma, eu era culpado por tudo que estava acontecendo. Quando
eu perdi tudo que fui entender o que realmente vale, quando eu decidi não queimar a carta,
eu decidi, ao mesmo tempo, sobreviver. Utilizei cada conhecimento que estava naquele dossiê
para me manter vivo - sem saber muito o motivo. Seguimos minuto por minuto. O presente
se torna absoluto quando nos falta expectativas de futuro e cada dor parece prolongar até o
momento que aprendemos a lidar com o presente e com a dor. Parece irônico o fato de que
eu vivia pensando no futuro. Acho que aprendi que o futuro é consequência de bons
encontros. Fazemos planos e planos, mas qualquer pequena alteração no mundo e tudo
desaba. Quando eu decidi sobreviver eu entendi tudo, e entendi que não poderia fazer isso
sozinho. Pode acreditar, eles tentaram nos matar - de todas as formas possíveis e
inimagináveis. Eles tentaram nos matar, mas alguns de nós, para o desgosto deles,
sobrevivemos. Aprendemos, com o livro que achamos, a sobreviver, a gerenciar aquilo que
encontrávamos, a formar grupos que passamos a chamar de família - muito para além de
qualquer laço sanguíneo ou genético. Com o passar do tempo os zumbis ficaram cada vez
mais escassos e os nossos laços ficaram cada vez mais fortes.
Quando sobreviver deixou de ser um mistério meu grupo e eu iniciamos aquilo que foi
chamado de “Projeto Micélio” - uma pessoa antiga da ciência dizia que os fungos digerem o
mundo em que vivem e o absorvem. Logo isso passou a ser nosso lema. Crescemos com os
encontros e não queríamos mais “apenas” sobreviver, queríamos viver e viver muito diferente
daquele modo de vida que quase nos extinguiu. Sem pensar em um futuro, mas
presentificando o presente. Absorver do mundo nosso nutriente, brotar das ruínas, mas por
outros caminhos.
Se você está lendo esse texto é porque você também sobreviveu. O projeto micélio criou esse
dossiê. Reunimos pessoas com diferentes conhecimentos e fizemos a proposta de escreverem,
juntos, um texto que semeasse novas formas de vida para o novo mundo, pós-apocalipse. Se
você está lendo essa cópia é sinal de que sobreviveu. Nós, projeto micélio, esperamos que você
possa esperançar, assim como nós. Acreditar que podemos construir um mundo diferente
daquele que nos levou ao apocalipse. O material que fizemos espera que possamos aprender
juntos a brotar das ruínas e renascer.
Assinado:
SUMÁRIO
Gestos para qual pós-apocalipse?..........................7
1 "Não tenho casa, não tenho teto..."........................16
2 Colhendo o que plantamos....................................20
3 O país das calorias................................................24
4 Fala que eu te escuto............................................28
5 Água é pop, água é tudo!......................................32
6 Trilhando o Novo Mundo.........................................36
7 Se beber, não dirija...............................................40
8 Do lixo ao luxo.......................................................44
9 Era uma casa muito engraçada: bem preparada
e refrigerada..........................................................48
10 Energizando o futuro.............................................52
11 Transformando Desespero em Combustível!..........56
12 Largados e protegidos...........................................60
13 Moda pós-apocalíptica.........................................64
14 Terra, Fogo, Vento, Água... Sementes?
VAI, PLANETA!!!.......................................................68
15 Se correr o bicho pega, se ficar o bicho….............72
Referências das aberturas dos capítulos...............76
GESTOS PARA QUAL PÓS-
APOCALIPSE? Stefany Sohn Stettler*
Nós, da filosofia, gostamos de argumentar que a ciência não é neutra. Sendo feita por
humanos, ela também carrega os vieses dos indivíduos que a constroem. Essa é uma
construção que opera através de Michel Foucault (2019) e Georges Canguilhem (2009), para
desembocar em Donna Haraway, filósofa estadunidense contemporânea, e em Isabelle
Stengers, filósofa e historiadora belga. Em Saberes Localizados (1995), a partir da perspectiva
feminista, Haraway questiona o conceito de objetividade na ciência, situando-se entre duas
perspectivas: um construcionismo social, no qual a ciência é uma retórica; e uma forma
feminista de encarar a objetividade. Sobre o construcionismo social, a autora escreve:

Mas tenham elas ou não a estrutura e as propriedades de objetos retóricos,


as entidades científicas do final do século vinte – vetores de infecção
(micróbios), partículas elementares (quarks) e códigos biomoleculares
(genes) – não são objetos românticos ou modernistas, com leis internas de
coerência. Elas são traços momentâneos focalizados por campos de força,
ou são vetores de informação numa semiose mal corporificada e altamente
fugaz, ordenada por atos de reconhecimento e de mau conhecimento
(Haraway, 1995, p. 11-12).

Em Reativar o animismo (2017, p. 01), Stengers estabelece uma diferença entre aqueles que
“adoram dividir e classificar” e aqueles que constroem pontes. Como filósofa, ela se situa ao
lado daqueles que dividem e classificam, mas acredita que ainda há muito a ser feito deste
lado, no sentido de construir pontes. A ciência, segundo a autora, é a linha de frente desse
pensamento, na qual nem filósofos e nem teólogos estão permitidos de entrar.

Mas o que sabemos é que quem não é um cientista autorizado não pode
intervir nessas questões, assim como um mero mortal não teria como intervir
nas disputas dos deuses olímpicos. Nem filósofos nem teólogos têm voz
nesse âmbito, ainda que aqueles descendam da razão grega [...]. Isso
porque nem sequer falamos das senhoras idosas que juram que seus gatos
as entendem. Os cientistas podem discordar quanto ao modo de estarmos
errados, mas concordam que estamos errados. A narrativa épica aqui em
jogo não diz mais respeito à “ascensão do homem”, mas sim à ascensão do
cientista (STENGERS, 2017, p. 03).

Não se trata de negacionismo, como alguns podem acusar. Não se trata também de uma
batalha maniqueísta entre objetividade x subjetividade. Trata-se sobretudo de perceber que as
formas como os dados são coletados e interpretados estão sujeitas à atuação e ao viés
humano. Sabemos que essa disputa entre a filosofia e a ciência é de longa data.

Anna Tsing (2015, p. 184) escreve que o “excepcionalismo humano nos cega”. Danowski &
Viveiros de Castro (2017, p. 17, grifo original) afirmam que “o excepcionalismo humano é um
autêntico ‘estado de exceção ontológico’”. A ciência, para Tsing, é uma sucessora das religiões
monoteístas que perpetuavam as histórias sobre a superioridade humana que, por sua vez,
produzem questões sobre o controle e impacto do homem sobre a natureza no lugar de
fornecer questões relacionadas à interdependência de espécies.

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Uma das muitas limitações dessa herança é que ela nos fez imaginar as
práticas de ser uma espécie (humana) como se fossem mantidas
autonomamente e, assim, constantes na cultura e na história. A ideia de
natureza humana foi apropriada por ideólogos conservadores e por
sociobiólogos que se utilizam de pressupostos da constância e autonomia
humanas para endossar as ideologias mais autocráticas e militaristas. E se
imaginássemos uma natureza humana que se transformou historicamente
com variadas teias de dependência entre espécies? A natureza humana é
uma relação entre espécies. Longe de desafiar a genética, um recorte
interespecífico para nossa espécie abre possibilidades de linhas de
pesquisa tanto biológicas quanto culturais. É preciso entender mais, por
exemplo, sobre as variadas teias de domesticação nas quais nós humanos
nos enredamos (TSING, 2015, p. 184).

Stengers (2017) constata uma diferença entre a Ciência com “c” maiúsculo – responsável por
traduzir tudo em conhecimento racional e objetivo e por atribuir julgamento a outros povos e a
nossa relação com nós mesmos –, e as realizações científicas, que exigem que o pensamento
seja voltado à “aventura das ciências”, no plural e com “c” minúsculo. Essas realizações criam
situações que permitem aos cientistas colocar em xeque as questões feitas por eles,
separando as perguntas relevantes daquelas que foram impostas de forma unilateral. Esta
perspectiva, por um lado, afasta a racionalidade hegemônica da Ciência -- com "c"
maiúsculo" --, produto de um processo de colonização do pensamento, voltada à conquista do
mundo. Por outro lado, se aproxima das realizações científicas, nas quais os objetos de estudos
são "parceiros" que ajudam a gerar novas questões ao testar a relevância das perguntas
direcionadas a eles.

Quando eu concebi o título deste ensaio, me questionaram se o termo “gestos” era apropriado
para as Ciências da Natureza. Ora, em princípio pode não parecer, mas, se tomarmos essa
pequena introdução como algo dotado de sentido, ou seja, considerando que a ciência não é
objetiva ou neutra, o termo “gestos” faz todo o sentido. São gestos que decidem para onde
olhar, como olhar e quando olhar. São os gestos que determinam os rumos da produção
científica. E saber disso, carregar os próprios vieses com consciência e intencionalidade,
ajudará a construir a melhor ciência possível.

O que isso tem a ver com o pós-apocalipse? Essa ciência que se pretende absoluta, racional e
objetiva é significativamente responsável pela disrupção entre a espécie humana e o resto:
outras espécies, outros ecossistemas. Essa disrupção não é só produtora de diferença, mas de
hierarquização e, assim, todas as características que pudessem comprovar a superioridade do
homem foram listadas: Para Platão e Descartes, a alma; para Aristóteles, a política e a
linguagem; para Marx, o trabalho e a modificação do meio por meio dele. A comunicação, a
postura ereta, a falta de pelos ou penas ou escamas, polegares opositores, a capacidade de
dominar o fogo, a capacidade de desenvolver cultura, etc. Nada disso, sobretudo a linguagem,
foi capaz de nos tornar seres cooperativos como as formigas, as abelhas, os pássaros e os
peixes. Nos comunicamos, mas é a racionalidade individual que nos define, assim como o homo
economicus de John Stuart Mill.

Quando a COVID-19 se alastrou pelo mundo, todos foram obrigados a entrar em contato com
uma nova realidade. Coube aos filósofos percorrer as possibilidades de novas realidades que
se desenhavam a partir das alterações às quais precisávamos nos submeter. Assim,
começamos a projetar o que seria da humanidade após a crise. Bruno Latour (2020a) escreveu
que considerava “indecoroso”, mas essencial, esse gesto. É também em homenagem a ele, que
faleceu em outubro de 2022, que utilizo o termo “gestos”. Latour, como falei, considerava

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necessária essa projeção imaginária para o cenário pós-crise na tentativa de evitar que a
“retomada da economia” não trouxesse “de volta o mesmo velho regime climático que temos
tentado combater, até hoje em vão” (2020a, não paginado).

Esse velho regime climático, combatido por Latour, é o que nós nos habituamos a conceituar
como Antropoceno. Até onde sei, esse termo não é pacífico nas ciências – tive um ex-
namorado da Geografia que esbravejava toda vez que eu citava o Antropoceno –, mas é bom
que não o seja. Unânime ou não, é um conceito útil para pensar a intervenção humana na
paisagem, nos ecossistemas e nos bioprocessos terrestres. É também frutífero pensar qual, se
de fato estamos em outra época geológica, seria o ponto inicial, o Golden Spike do
Antropoceno. Bruno Latour (2020b) gostava de pensar que esse ponto inicial seria a queda
brusca de CO2 perto do ano de 1610 apontada no Law Dome Ice Core, isso porque esse ponto
marcaria também o encontro do Velho e do Novo Mundo, que, por sua vez, deu início aos
grandes mercados globais, ao capitalismo e ao seu sintoma infame que chamamos hoje de
globalização. Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro escrevem sobre isso em seu livro
Há mundo por vir? (2017, p. 142):

Poderíamos assim chamar de Primeira Grande Extinção Moderna esse


evento americano, quando o Novo Mundo foi atingido pelo Velho como se
por um planeta gigantesco, que propomos chamar Mercadoria, por
analogia com o planeta Melancolia de L.[ars] von Trier. Em matéria de
concursos de apocalipse, é certo que o genocídio americano dos séculos
XVI e XVII – a maior catástrofe demográfica da história até o presente, com
a possível exceção da Peste Negra – causado pelo choque com o planeta
Mercadoria sempre terá um lugar garantido entre os primeiros colocados,
pelo menos no que concerne à espécie humana, e mesmo se consideramos
as grandiosas possibilidades futuras de uma guerra nuclear ou do mega-
aquecimento global.

Trago a COVID-19, o Antropoceno e o processo de colonização para pensarmos melhor, antes


de abordar o “pós”, o que seria um apocalipse nos dias de hoje. A COVID-19 nos mostrou que
no mundo globalizado, inserido nesse processo que Latour (2020c) chamou de globalização-
menos, no sentido de menos diversidade, e Milton Santos, geógrafo brasileiro chamou de
globalitarismo – fundindo as palavras “globalização” e “totalitarismo” –, qualquer doença
contagiosa tem potencial para tornar-se pandemia em pouquíssimo tempo. Além da COVID-19,
como exemplo mais recente, mas não único no plano da realidade, vemos, no plano da ficção,
em filmes como World War Z, de 2013, e na aclamada, recém-lançada e esplendorosa série The
Last of Us (2023) os grandes poderes de disseminação nessa globalização.

Em World War Z (2013), Gerry, um ex-funcionário da ONU, interpretado por Brad Pitt, é
convocado para uma missão no território ocupado da Palestina para descobrir qual seria a
origem da mutação do vírus que causa a pandemia zumbi e que se espalha em proporções
geométricas ao redor do mundo. No final, a cura para o contágio zumbi é desenvolvida a partir
de outra doença, seguindo uma teoria do próprio Gerry. Em The Last of Us (2023), segundo a
explicação apresentada por Joel, personagem de Pedro Pascal, no episódio de número 03
intitulado Long, Long Time, uma mutação do fungo Ophiocordyceps infectou a farinha de trigo
ou o açúcar, que foi distribuída ao longo de, ao menos, todos os Estados Unidos. Kyle Bishop
(2006) afirma que o apocalipse destruiria a infraestrutura societária, sobretudo os sistemas do
governo e da tecnologia. Mas o fungo de The Last of Us (2023), transmitido inicialmente pela
comida e, a partir disso, pelo contato, logo fez com que o Estado agisse de forma autoritária
em nome da própria manutenção, instaurando uma ditadura nos moldes distópicos que
conhecemos da ficção.

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No cenário pós-apocalíptico de Land of the Dead, lançado em 2005, os zumbis também não
foram eficientes em destruir as diferenças nem a luta de classes. Pelo contrário, os zumbis
foram incorporados à hierarquia de classes, representando uma “sub-subalternidade”. O
mesmo conjunto de estruturas de raça, classe e capital foram reformadas de maneira mais
marcada e explícita (BOHMAN, 2014). Por isso, ainda justificando meu título, devemos pensar
qual pós-apocalipse queremos.

"It matters what ideas we use to think other ideas", escreve Donna Haraway (2016, p. 34).
Importa quais ideias usamos para pensar outras ideias. Déborah Danowski e Eduardo Viveiros
de Castro escrevem em Há mundo por vir? (2017, p. 40) que “o Antropoceno é o Apocalipse,
em ambos os sentidos, etimológico e escatológico”. A palavra “apocalipse”, derivada do grego
apokálypsis (ἀποκάλυψις), significa, segundo o dicionário de Liddell & Scott (1996, p. 201), um
ato de “descobrir, revelar, desvelar”. Na Bíblia cristã, o termo adquire outro significado,
baseado no presságio narrado na obra: o de “fim de mundo”, derivado por metonímia. Nesse
sentido, opto por explorar o sentido etimológico do Apocalipse. O que ele nos revelaria? O que
faríamos com essas informações? Como reconstruiríamos aquilo que queremos reconstruir, não
só o mesmo mundo ao qual estamos acostumados, mas um inteiramente novo? Como seria –
emprestando a formulação de Giorgio Agamben (2006) – se não houvesse nem mundo nem
humanos, sem que com isso deixássemos de ser ecossistema e espécie? Um apocalipse, de
fato.

“Nossa tarefa”, escreve Haraway (2016, p. 01), “é criar problemas, incitar uma resposta potente
a eventos devastadores”. É isso que faremos, ou iniciaremos, nesse evento. É por meio da
chamada SF, que pode significar science fiction, speculative fabulation, string figures,
speculative feminism, science fact, enfim… do devir-com, nos-tornarmos-com, que caminham
juntamente com a simpoiese de Beth Dampster (2000), a simbiose e a simbiogênese de Lynn
Margulis (1999) e a contaminação de Anna Tsing (2022), que podemos pensar em reconstrução
no pós-apocalipse.

Para Margulis (1999), simbiose é o processo no qual membros de espécies diferentes vivem em
contato físico e se beneficiam mutuamente dessa parceria. Nas florestas, há trezentas
espécies de fungos micorrízicos – isso conforme as descobertas científicas da época na qual o
livro foi escrito –, por exemplo, que estão entrelaçados com as raízes de árvores como o bordo,
o carvalho e a nogueira-pecâ. Nos humanos, Margulis exemplifica nos lembrando de que nossa
pele e intestinos estão povoados de bactérias simbiontes. “Nós somos simbiontes em um
planeta simbiótico, e se quisermos, podemos encontrar simbiose em qualquer lugar”
(MARGULIS, 1999, p. 07, tradução nossa).

Simbiogênese, segundo a cientista e filósofa, se refere à origem de novos organismos, órgãos e


tecidos a partir de uma simbiose de longa data. A simbiogênese provoca reuniões inesperadas
entre indivíduos improváveis, formando outros mais complexos que geram novas populações
em níveis mais inclusivos de integração. Nesse sentido, a complexidade das espécies pôde
evoluir desde o surgimento da vida no planeta.

Beth Dempster propôs, no seu trabalho Sympoietic and Autopoietic Systems: a New Distinction
for Self-Organizing Systems (2000), o termo simpoiese, em contraste com os sistemas
autopoieticos oferecidos por Maturana & Varela (1980).

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Eu proponho a conceituação de sistemas sem fronteiras e construí o termo
simpoiese, das palavras gregas para coletivo e produção, para descrever
tais sistemas. Em contraste com os sistemas autopoiéticos, eles são
caracterizados por qualidades cooperativas e amorfas. Os sistemas
simpoiéticos produzem recorrentemente um padrão autossimilar de relações
por meio de interações complexas contínuas entre seus muitos
componentes diferentes. Em vez de delinear limites, as interações entre os
componentes e as capacidades de auto-organização de um sistema são
reconhecidas como as qualidades definidoras. A “sistemidade” não
depende da produção de fronteiras, mas das contínuas relações complexas
e dinâmicas entre componentes e outras influências. O conceito enfatiza
ligações, feedback, cooperação e comportamento sinérgico ao invés de
limites (DEMPSTER, 2000, p. 04).

Anna Tsing, por sua vez, prefere o termo contaminação, conforme escreve no segundo capítulo
de O cogumelo no fim do mundo: sobre as possibilidades de vida nas ruínas do capitalismo
(2022). Para ela, um encontro se transforma em acontecimento, ou seja, em algo maior do que
a soma das partes quando há contaminação. A transformação, porém, depende do espaço
que abrimos para os outros. “Ao mesmo tempo em que a contaminação transforma projetos de
criação de mundos, outros mundos compartilhados – e novas direções – podem surgir” (TSING,
2022, p. 73).

Nesse capítulo, a autora também questiona o conceito de sobrevivência. Essa sobrevivência,


para os países ocidentais, do Norte Global, colonialistas ou imperialistas – vocês podem
escolher o termo que preferirem –,significa salvar a própria vida, defendendo-se dos outros,
bem como significa um sinônimo para conquista e expansão.

É só nos lembrarmos de iniciativas de bilionários como Jeff Bezos e sua Blue Origin e Elon Musk,
com o seu SpaceX. O projeto de colonização dos outros planetas significa o abandono deste,
que já não serve mais pois todos os seus recursos – por falta de termo melhor – já foram
explorados. Essas iniciativas, que se encaixam no conceito popular de “sobrevivência”,
funcionam igualmente para salvar a própria vida – uma noção individualista e egoísta –,
conquistar, expandir e, sobretudo, defender-se dos outros.

Quem são esses outros? Aqueles que não são homens. “Guardemos a forma masculina”,
escrevem Danowski & Viveiros de Castro (2017, p. 47). As mulheres, as crianças, os animais, os
vegetais, os fungos, as algas, os protozoários, as bactérias, os vírus, a terra, a pedra, a água, os
raios solares…

[...] a legião incontável de animais confinados e torturados em campos de


extermínio para a extração de proteína, as poderosas fábricas de metano
instaladas nos estômagos dos bilhões de ruminantes "criados" pelo
agronegócio, [...] o Mar de Aral que virou deserto, [...] a saturação dos
solos agrícolas pelos pesticidas da Bayer e da BASF (duas das honoráveis
sucessoras da IG Farben, cuja história não é preciso relembrar aqui), [...] o
insubstituível povo das abelhas em risco de desaparecer devido a uma
sinergia de fatores de origem antrópica, [...] o permafrost que derrete, [...]
enfim, esses inumeráveis agentes, agências, atores, actantes, ações,
fenômenos ou como mais se os queira chamar [...] podem mudar de campo
(de efeito e de função) das maneiras mais inesperadas - e se articulam com
diferentes povos, coletivos e organizações de indivíduos da espécie Homo
sapiens, os quais se opõem entre si na medida mesma das alianças que
mantêm com tal multidão de não-humanos, isto é, dos interesses vitais que
os ligam a eles (DANOWSKI & VIVEIROS DE CASTRO, 2017, p. 138-139).

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Enfim, tenho certeza de que vocês acrescentariam itens a essa lista. Todos – todes – são
usados de forma utilitarista pelo homem. Mas eu escuto os protestos e confirmo: sim, nem todo
homem. Falo especificamente daqueles dotados de poder institucional, poder econômico e
que têm agido irresponsavelmente, apesar de se autoconcederem essa racionalidade objetiva
e inabalável.

Latour (2020c) os chama de elites obscurantistas, essas que, “uma vez diante da ameaça”,
escolhem fugir e não enfrentá-la. Essa ameaça se configura na possível cooperação entre
todos aqueles outros que listei.

Se desde os anos 1980 ou 1990 as elites, percebendo que a festa tinha


acabado, viram que era preciso construir o mais rápido possível
comunidades muradas para não ter de partilhar mais nada com as massas –
e sobretudo com as massas “de cor” que logo avançaram por todo o
planeta, uma vez que seriam expulsas de suas próprias casas –, é de se
imaginar que os deixados para trás tenham igualmente percebido que, se a
globalização estava a deus-dará, então eles também precisariam de muros
de proteção (LATOUR, 2020c, p. 30).

Em Land of the Dead (2005), fica evidente que as elites obscurantistas construíram suas
próprias comunidades muradas para não partilhar suas riquezas com as massas. Mas, em Blood
Quantum (2018), os nativos norte-americanos são imunes à mutação zumbi e transformam sua
reserva em território fortificado – comunidades muradas. Os sobreviventes brancos precisam de
anuência dos nativos para serem resgatados. Isso promove uma inversão de poder na dinâmica
do pós-apocalipse, na qual os nativos decidem o destino dos brancos que, nesse exemplo, se
tornam os outros.

Mas nós, os de fato outros, para Latour (2020c, p. 33), fomos traídos pelas elites, que
abandonaram o sonho da modernização do planeta “com todo mundo” e, por sua vez,
souberam, “antes de qualquer um”, que tal mundo modernizado era impossível “precisamente
por falta de planeta vasto o suficiente para estender a todos seus sonhos de crescimento”.
Para fugir ou se proteger, no entanto, as elites tiveram que “obliterar secretamente todo o
conhecimento científico sobre a ameaça” (LATOUR, 2020c, p. 31). E aqui, sim, falamos sobre
negacionismo.

Resta a nós, os outros, que jamais teremos sequer a possibilidade de colonizar outro planeta,
nos aterrarmos a este e quem sabe, tornamos este planeta – o do capitalismo, da colonização,
da exploração e da expropriação – em outro também. O que precisamos é não outrificar além
do que já fomos. “Manter-se vivo – para todas as espécies – requer colaborações viáveis”,
escreve Anna Tsing (2022, p. 73).

Se a sobrevivência sempre envolve alteridade, ela também está


necessariamente sujeita à indeterminação das transformações de si e dos
outros. Colaborações nos transformam, seja no interior de nossa espécie ou
entre espécies distintas. Tudo o que é importante para a vida no planeta
Terra acontece nessas transformações e não nos diagramas de decisão de
indivíduos autônomos. Ao invés de atentar somente para as estratégias de
expansão-e-conquista de indivíduos implacáveis, precisamos buscar as
histórias que se desenvolvem por meio da contaminação. Como pode um
encontro, então, transformar-se em “acontecimento”? (TSING, 2022, p. 75).

12
Acho que neste ponto já ficou claro que eu defendo que paremos de nos dividir, de nos
categorizar, de nos hierarquizar e que façamos pontes sem retroceder, como sugere Stengers
(2017): sem nos livrarmos do conhecimento que adquirimos, por bem ou por mal. Que olhemos
nossos objetos como coautores, parceiros de trabalho, e que deixemos que eles façam as
perguntas que interessam. E como ficam os zumbis nesse pós-apocalipse que nos propomos a
imaginar juntos? Serão eles o nosso outro? É possível construir pontes com um ser incapaz de
reconhecimento?

Eu gosto de trabalhar com duas definições de zumbis que, sobrepostas, abrangem quase a
totalidade da representação cinematográfica dos mortos-vivos. Uma é a de Comentale &
Jaffe (2014, p. 45-46, tradução nossa):

Algo pode ser zumbi, se (1) for chamado de zumbi (ou alguma palavra
equivalente; por exemplo, coisa, caminhante, vagabundo, geek, mordedor,
trepadeira, deadlite, infectado, skel, draugr, crazie, zed, zeke, zack, imbecil,
a-hole, z-hole, etc.; (2) parece um cadáver animado; tem um corpo
abjeto/repulsivo; parece na verdade composto por um cadáver ou alguém
que agora está morto; (3) ataca os vivos ("canibalismo"); ataques por
morder, arranhar e agarrar ("infecção"); (4) é implacável, hostil aos vivos; (5)
exibe insensatez, fraqueza mental, automatismo; (6) estrutura-se por
hordas, enxames, aglomerações; e (7) pode ser morto com impunidade
moral; vai matar e "morrer" por meios ultraviolentos.

E a definição de Boom (2011, p. 8, tradução nossa, grifo original), que define os possíveis
padrões de zumbis cinematográficos:

Os nove tipos, brevemente definidos, são os seguintes: (1) zombie drone:


uma pessoa cuja vontade lhe foi tirada, resultando em obediência servil; (2)
zombie ghoul: fusão do zumbi e do ghoul, que perdeu a vontade e se
alimenta de carne; (3) tech zombie: pessoas que perderam a vontade pelo
uso de algum dispositivo tecnológico; (4) bio zombie: semelhante aos
zumbis tecnológicos, exceto que algum elemento biológico, natural ou
químico é o meio que rouba a vontade das pessoas; (5) zombie channel:
uma pessoa que ressuscitou e alguma outra entidade possuiu sua forma; (6)
psychological zombie: pessoa que perdeu a vontade em decorrência de
algum condicionamento psicológico; (7) cultural zombie: em geral, refere-se
ao tipo de zumbi que localizamos dentro da cultura popular; (8) zombie
ghost: não realmente um zumbi, mas alguém que retornou dos mortos com
todas ou a maioria de suas faculdades mentais intactas; (9) zombie ruse:
truque comum em romances para jovens adultos, onde o “zumbi” acaba não
sendo zumbi.

Jeffrey Cohen (2012) afirma que zumbis não necessitam de abrigo ou construções e existem
em um estado de inexistência de cultura. Eles estão separados do mundo, mais do que nós,
embora o compartilhamento deste mundo seja inevitável. No entanto, esses zumbis nunca – ou
quase nunca – se libertam do antropomorfismo. O apocalipse zumbi raramente ocorre por
mutações naturais e, quando isso ocorre, é porque a natureza sofreu alterações
antropogênicas. O zumbi é terrivelmente humano. Ao mesmo tempo que força a inevitável
imagem da morte para uma sociedade que não mede esforços em escondê-la, ele é gerado
pela mesma morte que produzimos em escala global. Terrivelmente humano. O apocalipse
zumbi, mais do que todos os outros apocalipses possíveis, nos revela o quão longe fomos na
fantasia da racionalidade e objetividade. O apocalipse zumbi é a pedrinha solitária que rola
abismo abaixo cujo som do encontro com o solo não podemos ouvir.

13
Mas um antropocentrismo às avessas ainda é um antropocentrismo, talvez
mesmo o único antropocentrismo realmente radical, assim como os
europeus queimadores de ídolos eram os únicos fetichistas na grotesca
comédia de erros colonialistas, ao acreditarem na irrealidade dos fetiches
do mesmo modo como acreditavam – irrealisticamente – que os “selvagens”
acreditavam na realidade transcendente dos mesmos (DANOWSKI &
VIVEIROS DE CASTRO, 2017, p. 55-56).

Então, os zumbis nos condenam a engolir a outridade de qualquer forma? Eu acredito que há
uma saída. A partir do lançamento do videogame The Last of Us, em 2013, pudemos entrar em
contato com a possibilidade de uma nova forma de contágio zumbi: os fungos, que para Anna
Tsing (2015), são espécies companheiras. Além dessa obra, que foi adaptada como série de
televisão em 2023, em 2016 tivemos o lançamento do filme britânico The Girl with all the Gifts.
Nele, os zumbis, chamados de hungries, têm o cérebro entrelaçado com um fungo, assim como
no videogame e na série The Last of Us.

Nas duas obras, temos uma espécie de “segunda geração” de zumbis: Melanie e Ellie são
nascidas de gestantes infectada com o fungo e isso faz com que essas duas final girls – ou first
girls? – entrem em harmonia com o fungo, mantendo sua agência e consciência. Podemos
pensar em simbiose? E em simbiogênese?

É possível que a sobrevivência humana no pós-apocalipse zumbi dependa exclusivamente de a


humanidade parar de encontrar inimigos e aprender a pensar mesmo com elementos que
consideramos sem consciência? É possível que a sobrevivência da humanidade dependa dela
mesma abrir mão de sua humanidade pura, racional e objetiva, como ela vem sendo
significada desde que decidimos nos dividir e classificar? “A sobrevivência”, escreve Anna Tsing
(2022), “sempre envolve alteridade”.

Meu convite a vocês é que possam assumir tudo que nos rodeia, tudo que faz parte desse
ecossistema chamado corpo-humano e desse outro maior chamado planeta Terra como
parceiro, coautor, companheiro e não como objeto ou inimigo. Que lembrem que foi a lógica
da exploração e expropriação que nos trouxe até aqui e que ela deve ser abandonada se
pretendemos criar uma outra realidade de cooperação. Não pensem com a Ciência com “c”
maiúsculo, ela não nos interessa ou nos beneficia. Aventurem-se nas infinitas possibilidades de
existência e no sonho de um mundo totalmente simbiótico.

*Stefany Sohn Stettler é filósofa, bacharela e licenciada


em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná. Sua
pesquisa se concentra no estudo dos zumbis no cinema e
suas conexões com temas como a crise climática, o
Antropoceno, a crítica ao pensamento moderno e o
colonialismo. Stefany é autora publicada pela editora N-1,
com artigos e contos que exploram o tema dos zumbis,
promovendo diálogos interdisciplinares entre a filosofia, o
cinema e as questões sociais contemporâneas.

14
Referências
AGAMBEN, Giorgio. A Linguagem e a morte: um seminário sobre o lugar da negatividade. Belo Horizonte: UFMG, 2006.

BISHOP, Kyle. Raising the Dead: Unearthing the Non-Literary Origins of Zombie Cinema. Journal of Popular Film and
Television, v. 33, n. 4, p. 196–205, 2006.

BLOOD Quantum. Dirigido por Jeff Barnaby. Canadá: Prospector Films, 2019 (96 min.)

BOHMAN, Erik. Zombie Media. In: COMENTALE, E. P.; JAFFE, A. (Eds.). The Year's Work at the Zombie Research Center.
Bloomington: Indiana University Press, 2014. p. 150-192.

BOON, Kevin. The Zombie as Other: Mortality and the Monstruous in the Post-Nuclear Age. In: CHRISTIE, D.; LAURO, S. J.
(Eds.). Better off dead: The Evolution of the Zombie as a Post-Human. Nova Iorque: Fordham University Press, 2011. p. 50-
60.

CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Trad. Mana Thereza Redig de Carvalho Barrocas. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2009.

COHEN, Jeffrey Jerome. Undead: A Zombie Oriented Ontology. Journal of the Fantastic in the Arts, v. 23, n. 3, p. 393-
412, 2012.

COMENTALE, Edward P.; JAFFE, Aaron. Introduction: The Zombie Reseach Center FAQ. In: COMENTALE, E. P.; JAFFE, A.
(Eds.). The Year's Work at the Zombie Research Center. Bloomington: Indiana University Press, 2014. p. 01-58.

DANOWSKI, Déborah; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Desterro:
Cultura e Barbárie, 2017.

DEMPSTER, Beth. Sympoietic and autopoietic systems: A new distinction for self-organizing systems. Toronto: Proceedings
of the World Congress of the Systems Sciences and ISSS, 2000.

FOUCAULT, Michel. História da Loucura. São Paulo: Perspectiva, 2019.

GIRL With All the Gifts, The. Dirigido por Colm McCarthy. Grã-Bretanha: Warner Bros. Pictures, 2016 (111 min.)

HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial.
Cadernos pagu, n. 5, p. 07-41, 1995.

HARAWAY, Donna. Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene. Durham, Londres: Duke University Press, 2016.

LAND of the Dead. Dirigido por George A. Romero. Estados Unidos: Atmosphere Entertainment MM, 2005 (97min.)

LAST of Us, The [jogo eletrônico]. Desenvolvido por Naughty Boy. Estados Unidos: Sony Computer Entertainment, 2013.

LAST of Us, The [seriado]. Produzido por Neil Druckmann e Craig Mazin. Estados Unidos: HBO, 2023.

LATOUR, Bruno. Imaginar gestos que barrem o retorno da produção pré-crise. In: Pandemia Crítica. São Paulo: N-1,
2020a. Disponível em: https://www.n-1edicoes.org/textos/28. Acesso em: 06 fev. 2023.

LATOUR, Bruno. Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza no Antropoceno. Trad. Maryalua Meyer. São Paulo,
Rio de Jameiro: Ubu, Ateliê de Humanidades, 2020b.

LATOUR, Bruno. Onde aterrar? Trad. Marcela Vieira. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020c.

LIDDELL, Henry George; SCOTT, Robert (Orgs.). A Greek-English Lexicon. Oxford: Clarendon Press, 1996.

MARGULIS, Lynn. The Symbiotic Planet: a new look on evolution. Londres: Phoenix Books, 1999.

MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco. Autopoiesis and Cognition: the Realization of the Living. EUA: Springer,
1980.

SANTOS, Milton. Entrevista a José Corrêa Leite. Teoria e Debate, edição 40 - Para onde vai o país? Para onde vai o PT?,
1999. Disponível em: https://teoriaedebate.org.br/1999/02/06/milton-santos/. Acesso em: 28 mai. 2023.

STENGERS, Isabelle. Reativar o animismo. Trad. Jamille PInheiro Dias. Chão de Feira, Caderno de Leituras, n. 62, 2017.
15p.

TSING, Anna. Margens indomáveis: cogumelos como espécies companheiras. Revista Ilha, v. 17, n. 1, p. 177-201, 2015.

TSING, Anna. O cogumelo no fim do mundo. Trad. Jorgge Menna Barreto e Yudi Rafael. São Paulo: N-1 Edições, 2022.

WORLD War Z (Guerra Mundial Z). Dirigido por Marc Forster. Estados Unidos: Paramount Pictures, 2013 (116 min.)

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1
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

"Não tenho casa, não tenho


teto..."

“Como atravessar os muros das cidades? Quais possíveis


implicações poderiam existir entre comunidades humanas que
vivem na floresta e as que estão enclausuradas nas metrópoles?
Pois se a gente conseguir fazer com que continue existindo
florestas no mundo, vão existir comunidades dentro delas”
(Ailton Krenak - Futuro Ancestral, p. 64).

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1
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

"Não tenho casa, não tenho


teto..." NOSSA CASA, NOSSA VIDA

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
O que nos levou ao apocalipse foi esquecer que somos parte da
natureza, a individualização e o isolamento também contribuíram,
fazendo com que não tivéssemos força e organização para reagir. No
processo de sobrevivência, descobrimos a importância de lembrar que
não apenas somos natureza como também dela dependemos e,
sobretudo, descobrimos a importância da alteridade. É preciso pensar em
formas harmônicas de conviver com a natureza e o próximo, seja ele
humano ou não, e resistir, mesmo depois de tudo, contra o isolamento em
uma caverna sempre que perceber a dificuldade que é conviver com
humanos, tão difícil que às vezes dá até saudade dos zumbis.

(Re)construção de habitações sociais e ecológicas: implementações de


uma sociedade pós-apocalíptica
Precisaremos utilizar diferentes cosmovisões de habitar o planeta para nos (re)integrarmos a
ele. Outros modos já prosperaram e coexistem com a diversidade da vida. Assim, seria
inteligente nos basear naquilo que já funcionou harmonicamente para a reconstrução, não é?
Portanto, associe o saber científico aos conhecimentos ancestrais e tradicionais, como os dos
indígenas Kuikuro do Xingu e os da agricultura familiar de assentamentos do MST.

Uma simbiose entre nós e toda a vida, como micélios fúngicos conectando-nos por micorrizas,
como fazem com as árvores, essencial para sairmos dessa!

Lemas: cooperação, integração e não linearid


ade;
Estruture comunidades colaborativas coexistind
o em sistemas florestais, organizadas em
pequenas cidades circulares conectadas e pr
óximas, irradiando de uma cidade circular
central (similar às cidades ancestrais Kuikuro e
aos assentamentos da reforma agrária);
Cada pequena cidade produz diferentes
variedades de cultivos em sistemas
agroflorestais (árvores e arbustos nativos co
nsorciados com plantio), com ciclos de
rotação de culturas e também com o conhec
imento tradicional das sementes crioulas.
Evita-se pragas, protege-se o solo e a base nu
tricional é aprimorada;
A cidade central será um espaço comunitário
de colaboração, troca de saberes e de
estocagem e redistribuição dos alimentos prod
uzidos pelas vilas;
Desenvolver, dentro e ao redor das cidades,
espaços de gestão de resíduos (grandes
composteiras no solo), formando uma terra
rica em matéria orgânica para o plantio,
conhecida como egepe pelos Kuikuro;

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1
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

redor das cidades, “jardins” de pomares nativos;


Desenvolver, dentro e ao

tania — cid ad an ia ad ap ta da às floresta s, prom ovendo o


Nas novas cidades, buscar a flores en to co mo cidadãs
co mo o se u pr óp rio recon he cim
exercício cidadão de sua defesa, bem a po ssibilidade de
cidad an ia da s gr ande s me tró po les, co m
de direito, contrapondo à
huma no junto a outra s tec no log ias na s flo resta s.
desenvolvimento

É claro, além de um novo modelo de cidade, precisamos de novas maneiras de construir casas.
O PET é, no geral, uma solução muito boa por ser abundante e precisarmos mesmo nos livrar
dele (beber refrigerante já não é, e nunca foi, tão saudável). Assim, existem duas propostas
possíveis para sua humilde residência: uma de tijolos isopet e outra de uma lâmpada feita à
base de PET.

Segue o tutorial dos seus blocos:

Primeiramente, você irá precisar fazer o que chamamos


de "concreto leve". O concreto leve nada mais é do que
Lista de materiais: isopor, cola, água, cimento e areia ou terra, misturados.
Como o intuito desse concreto leve é servir como "cola"
- Isopor; - Cim en to; para as garrafas pet, ele terá uma consistência
nca; - A reia / ter r a ;
- Cola bra parecida com a da argamassa, sendo perfeito para
; - G a rr afa p e t. juntar as garrafas pet e formar, por fim, nosso bloco de
- Água isopet!

Para o bloco em si, basta que você encaixe as garrafas pet no formato desejado, e despeje
sobre elas o concreto leve. Para esse passo é importante que seja feito um molde, que pode
ser feito de madeiras, formando um quadrado, para que o concreto leve fique no formato de
bloco até endurecer.

Feito isso, basta esperar endurecer e usar o bloco como preferir! A recomendação é tanto
para uso externo, como as paredes, quanto para uso interno, podendo ser a base para a cama.

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1
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Para sua casa também é


essencial iluminação, até Lista de materiais: - Potinho preto de plástico;
porque, depois de tanto
tempo sendo assombrado - 2 litros de água; - Massa plástica ou cola de resina para
por zumbis, a última coisa - Garrafa pet transparente (2 l); vedação (é possível também explorar
que você deve querer é
passar o dia no escuro.
- 4 colheres de água sanitária; outras opções mais sustentáveis).

Para a construção da lâmpada em si, basta encher sua garrafa com água e com água
sanitária (meio de evitar o surgimento de algas que turvam a água) e então ela já pode ser
instalada em seu teto, fazendo nele um furo circular para encaixar a garrafa, deixando uma
parte da dela para fora do telhado (que irá captar luz) e uma outra parte, a de baixo da
garrafa, para dentro da casa (que irá refletir luz). É importante vedar bem após a instalação
para evitar infiltrações em sua moradia. Por fim, é indicado colocar o potinho preto sobre a
tampa da garrafa para evitar que ela resseque.

Obs.: a lâmpada
Refração é um fenômeno que ocorre devido a diferença de
funciona apenas com
velocidade que a luz tem em determinados meios, ele ocorre quando
água porque é ela
a luz passa por dois meios com diferentes índices de refração (como
que "conduz" a luz
uma garrafa com água). Quando isso acontece, a luz muda sua
através da refração.
velocidade de propagação e seu comprimento de onda, então ela é
"desviada". É dessa forma que, em sua lâmpada pet, você captura a
luz através da refração.

Referências
ABUD, Marcelo. O que é florestania?: conceito repensa a cidadania ligada aos povos da floresta e é destacado por
Krenak em filme. Cidadania - Instituto Claro, 21 dez. 2022. Disponível em:
https://www.institutoclaro.org.br/cidadania/nossas-novidades/podcasts/o-que-e-florestania/. Acesso em: 04 jun.
2023.

BOFF, Leonardo. Cidadania, Florestania: a Amazônia, titular de direitos. Instituto Humanitas UNISINOS,
26 jul. 2019. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/591069-cidadania-florestania-a-amazonia-titular-de-
direitos. Acesso em: 05 jun. 2023.

HECKENBERGER, Michael J. Lost Cities of the Amazon. Scientific American, v. 301, n. 4, p. 64-71, 2009.

KRENAK, Ailton. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 64 p.

MOULIN, Gabriela; MARQUEZ, Renata; ANDRÉS, Roberto; CANÇADO, Wellington (orgs.). Habitar o Antropoceno. Belo
Horizonte: BDMG Cultural / Cosmópolis, 2022. 256 p.

SILVA, Jailson de Souza e. Ailton Krenak – A Potência do Sujeito Coletivo: parte II. Revista Periferias, Rio de Janeiro,
2023. Disponível em: https://revistaperiferias.org/materia/ailton-krenak-a-potencia-do-sujeito-coletivo-parte-ii/.
Acesso em: 5 jun. 2023.

SOARES, Glyvani Rubim; FERREIRA, Gislaine Zanon; WOELFFEL, Anderson Buss; ALVAREZ, Cristina Engel de. Modelos de
Habitação Sustentável Para População de Baixa Renda no Município de Vitória-ES. Laboratório de Planejamento e
Projetos, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2003.

ZANELATO, Débora. Como funciona a lâmpada de garrafa PET?. Super Interessante, 4 jul. 2018. Disponível em:
https://www.google.com/amp/s/super.abril.com.br/mundo-estranho/como-funciona-a-lampada-de-garrafa-
pet/amp/. Acesso em: 5 jun. 2023.

Autoria
Ana Carolina Jungles de Lima; Eduardo Bello Dunker; Gabriel Alves da Cruz; Guilherme A.
Schenberger Manfio; Paulo Henrique Taborda; Wesley Gomes Bojarski; Maitê Thainara Barth;
Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa Pereira;
Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Colhendo o que plantamos

“Na Ciência das Plantations, a expertise e administração trabalham


juntas. Os cultivadores nunca são solicitados a comentar sobre suas
colheitas. Na ciência das platations, o bem-estar -é uma formula
calculada a partir de cima; o dano colateral é esperado, e ninguem para
pra perguntar: ‘bem-estar pra quem?’. Na ciência das plantations,
especialistas e objetos são separados pela vontade de poder; o amor não
flui entre o especialista e o objeto”
(Anna Tsing - Viver nas Ruínas, p. 59).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Colhendo o que plantamos


Abelhas atômicas

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
Cansado de comer ração ou ter que lutar por comida? Tenho uma notícia
boa! Os zumbis se foram e chegou a hora de reconstruir o mundo e
começar a produzir alimentos de verdade. Mas calma, não é fast food!
Todo aquele estilo de vida que ficou para trás foi o que destruiu o mundo,
seja grato por você não ter virado alimento de zumbi: a natureza está te
dando uma chance de recomeçar, a produção em larga escala neste
mundo não precisa ser tão larga assim, afinal, sobraram poucas pessoas,
portanto, junte suas forças e sua comunidade para plantar e produzir!

Produção de maneira sustentável como forma de reconstruir o planeta


A primeira medida a ser tomada é a recuperação do solo. De modo geral, o seu pH precisa ser
levemente ácido, e as suas condições podem ser observadas através da presença de algumas
plantas indicadoras de que nascem espontaneamente de acordo com o solo e o clima do
ambiente. Por serem sensíveis ao seu ambiente natural, elas conseguem determinar a
qualidade do solo e o que seria ideal plantar na região, além de indicar o manejo necessário
para esse espaço. Beldroega e dente-de-leão, por exemplo, são plantas que indicam que o
solo é fértil, urtiga indica excesso de matéria orgânica, carqueja e guanxuma indicam solo
compactado, já azedinha indica pH baixo e barba-de-bode demonstra solos inférteis. Caso o
solo esteja ácido, a medida a ser tomada é a calagem. Para isso, é interessante procurar
locais onde o calcário era armazenado, como em cooperativas agrícolas e lojas
agropecuárias. Caso o solo esteja básico, ele necessita de matéria orgânica (veja na seção de
rejeitos).

Para começar a produção de alimentos, a qualidade da água (ver seção de tratamento de


água) é essencial. Existem vários métodos de produção, mas o plantio direto de sementes no
solo é o principal. Nesse caso, você terá que procurar um banco de sementes ou encontrar
plantas que estejam em fase de produção de sementes (como as árvores frutíferas). As
sementes podem ser semeadas diretamente no solo, mas o ideal é que, com o passar do
tempo, as mudas passem a ser produzidas em sementeiras, o que aumenta a produção.
Sementeiras são bandejas com células individuais cheias de substrato onde as sementes são
depositadas individualmente, irrigadas e, após o crescimento, as mudas são transplantadas no
solo. Esse processo pode ser feito em copos descartáveis com alguns furos embaixo ou até
mesmo em caixa de ovos. O mesmo método também pode ser utilizado para diversas
hortaliças.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Outro método de produção de frutas indicado, além do plantio de sementes, é a alporquia. Ele
consiste num método em que um ramo (galho fino) de uma árvore deve ter uma pequena parte
descascada (anelamento) com uma faca, em seguida, ao redor desse corte, uma camada de
substrato úmido deve ser colocada e envolta com plástico até que crie raízes, o que leva cerca
de três meses em árvores frutíferas. Depois de as raízes se formarem, esse galho deve ser
cortado abaixo do local onde foi feito o anelamento – com cuidado para não cortar as raízes –
e plantado diretamente no solo.

Quando as coisas estiverem melhorando, a produção precisa aumentar e, para isso, existe um
método de produção chamado aquaponia. O sistema pode ser montado com uma caixa
d’água, canos de PVC e uma bomba de máquina de lavar: encane a água, em um terreno
inclinado, a partir da nascente até a caixa d'água onde estarão os peixes. O sistema de
aquaponia estará montado na vertical e a água com os dejetos dos peixes será transportada
até as plantas por uma bomba de máquina de lavar roupa (você vai precisar ver a seção de
recursos energéticos). O sistema vertical terá uma inclinação e, assim que a água passar pelas
raízes, ela sairá pelo outro lado do cano que, através de uma mangueira, conectará as
garrafas pets que estarão preparadas para fazer a aspersão no sistema de plantio direto. O
cano de PVC, onde serão plantadas as mudas, deve ter furos para isso, e a água passará pelas
raízes das plantas no substrato que pode ser obtido pela compostagem (ver seção de rejeitos).
Os peixes permitidos nesse método são os de água doce, e os indicados são a carpa, a tilápia
e o bagre.

Em um mundo devastado, plantar mais em um menor espaço é crucial. O sistema agroflorestal


se torna uma importante forma de produção combinando práticas agrícolas e florestais de
modo integrado. Nesse modelo, árvores frutíferas, ervas medicinais, hortaliças e outras culturas
agrícolas convencionais podem coexistir, gerando uma diversidade de produtos, melhorando a
resiliência do ecossistema e reduzindo a dependência de insumos ao simular o ambiente
natural.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

A permacultura será importante para traçar como as comunidades se estruturarão, visto que
essa prática é definida como um design que busca a construção de espaços habitáveis,
sustentáveis e eficientes, a fim de alcançar uma coexistência equilibrada com o ambiente
natural.

A irrigação das plantas será de extrema importância para a produção. Trata-se de uma
técnica utilizada na agricultura que tem por objetivo o fornecimento controlado de água para
as plantas em quantidade suficiente e no momento certo, assegurando a produtividade e a
sobrevivência da plantação. Para conseguir água potável recomenda-se ver a seção de
hidratar-se.

Regras básicas para irrigação - Irrigue repetidamente e por partes;


- Mantenha uniformemente úmido; - Irrigue de forma distribuída;
- Irrigue poucas vezes; - Irrigue com economia;
- Irrigue no fim da tarde ou início da manhã; - Evite o encharcamento;
- Mantenha as folhas secas; - Mantenha a qualidade com o solo rico
- Proporcione a quantidade certa de água; em argila.

Referências
ABDO, Maria Teresa Vilela Nogueira; VALERI, Sérgio Valiengo; MARTINS, Antônio Lúcio Mello. Sistemas agroflorestais e
agricultura familiar: uma parceria interessante. Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária, São Paulo, v. 1, n. 2, p.
50-59, 2008.

ARMANDO, Marcio Silveira; BUENO, Ynaiá Masse; ALVES, Edson Raimundo da Silva; CAVALCANTE, Carlos Henrique.
Agrofloresta para agricultura familiar. Circular Técnica 16. 1. ed. Brasília: Embrapa, 2002.

COELHO, Eugênio Ferreira; SILVA, Alisson Jadavi Pereira; PARIZOTTO, Ildos; MARTINS, Tibério Santos Silva. Sistemas e
manejo de irrigação de baixo custo para agricultura familiar. 2. ed. Brasília: Embrapa, 2017.

LIMA, Luiz Paulo Fernandes. A Física da Irrigação. 2016. Disponível em:


https://memoria.ifrn.edu.br/bitstream/handle/1044/931/Produto%20Final%20-%20MNPEF%20-
%20LIMA%2C%20L.P.F.%202016%20%28A6%29%20-%20ATUALIZADA.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 11 out.
2023.

NANNI, Arthur. O que é permacultura?. In: SIMPÓSIO DE INTEGRAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO SUL
CATARINENSE, 2., 2013, Araranguá. Anais... Araranguá, p. 33-33, 2013.

Autoria
Camili Leal Kobachuk; Janayna Aurya Rodrigues da Silva; Luane Cristina dos Santos Coelho;
Poliely W. Batista Pinheiro; Veronica Wosniaki Ferreira; Fernando Cezar Pereira da Costa; Karine
Karsten; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa
Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
23
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

O país das calorias

“Quando o agronegócio chegou por aqui, nos disseram para não


consumir boa parte dos frutos que costumávamos consumir.
Tudo aquilo que não era mercadoria era ruim.[...] Nosso povo
tinha vergonha de vender melancia, manga, caju, pequi ou
umbu. Se a natureza te oferece de graça, por que vender? Isso é
puro colonialismo”
(Antônio Bispo dos Santos - A terra dá, a terra quer, p. 80-81).

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3
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

O país das calorias


Sopa de Cordyceps

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
Imagine que você está em uma comunidade no sul do Brasil e as pessoas
responsáveis pelo preparo do alimento precisam saber o que preparar
para que todos tenham uma alimentação saudável e suficiente. No
apocalipse zumbi você não terá diversas opções de alimentos, então,
basicamente, contaremos com frutas e legumes. Com sorte, talvez até um
peixe. Aqui na comunidade o cardápio precisa ser regrado, fracionado e
pré-definido para manter a dieta saudável e aproveitar os alimentos
disponíveis em cada época do ano. Pensando nisso, criamos dois
cardápios especiais para que sua estadia nessa comunidade seja melhor
do que nos últimos cinco anos.

Regulando suas calorias diárias de forma saudável


É de conhecimento comum que o corpo humano necessita de uma variedade de nutrientes
para se manter saudável, por exemplo, proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais. Em um
mundo pós apocalíptico, como seria possível sustentar toda essa demanda do corpo de forma
saudável? O segredo para isso é saber o que comer e o quanto consumir.

Nesse sentido, a quantidade de nutrientes necessários para uma pessoa é de, em média,
25000 kcal, 25 g de fibra, 60 g de proteínas, 60 g? E 310 g de carboidratos por dia. Tudo isso
pode ser obtido através de uma dieta balanceada em um prato vegetariano com bastante
espinafre, cebolinha e nabo, por exemplo, que demoram menos de 45 dias para serem
produzidos e são ricos em vitaminas e minerais. É claro que a quantidade de calorias
consumidas pode variar dependendo da pessoa e da sua rotina, mas, projetando viver em uma
casinha estabelecida em uma comunidade pós-apocalíptica e considerando que as 2500 kcal,
em transformações de energia química para térmica podem proporcionar aproximadamente
10.460 kJ de energia, essas dicas podem ser de grande ajuda.

Primeiramente, a caça é uma atividade difícil de ser feita, portanto, o ato de sobrevivência
ideal seria o de adaptação para uma dieta vegetariana. Nesse caso, a proteína poderia ser
consumida normalmente na forma de soja, que é uma das principais matérias-primas do Brasil.

Desse modo, a construção de uma dieta organizada pelo período de estações em que o
alimento aparece é essencial para a sobrevivência da comunidade. Seguindo as tabelas feitas
especialmente para a vivência de um pós-apocalipse no sul do Brasil, não há dúvida de que
seu corpo agradecerá muito por não ter sido comido por um zumbi. Há, em conjunto, o
aprendizado de como manter esses alimentos conservados para não ter medo de consumi-los
pensando na escassez de amanhã. Em vista disso, é possível criar um desidratador de
alimentos para que tudo seja aproveitado.

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3
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

recisar de:
Você vai p Você deverá pintar o fundo da caixa de
madeira de preto com o carvão e, após isso,

ad eir a c a r vã o ; posicionar a tela ou grelha de metal a meia


- 1 caixa de m d e m e ta l; altura da caixa. Em seguida, faça algumas
lh a
- 1 tela ou gre u it eir o de v id ro frestas para ventilação e proteja tudo com a
1 tela pa ra m o sq tela para mosquiteiro. Por fim, tampe a caixa
- estu fa .
d o o u p l á st ic o d e com o vidro temperado ou plástico de estufa.
temp e ra Ele ficará parecendo uma cestinha de
hortifruti.

Você deverá pintar o fundo da caixa de madeira de preto com o carvão e, após isso,
posicionar a tela ou grelha de metal a meia altura da caixa. Em seguida, faça algumas frestas
para ventilação e proteja tudo com a tela para mosquiteiro. Por fim, tampe a caixa com o vidro
temperado ou plástico de estufa. Ele ficará parecendo uma cestinha de hortifruti.

Para usá-lo, basta deixar suas frutas cortadas em fatias finas dentro dessa caixa por
aproximadamente 3 horas, pois ela estará aquecida em cerca de 70 °C. Depois movimentar
um pouco a caixa para o calor sair e a temperatura reduzir para 40 °C a 60 °C, mantenha seu
alimento no interior para finalizar por mais um tempo. É importante se certificar de que haja
circulação de ar dentro da caixa e de que a água condensada no vidro temperado consiga
escorrer para fora do desidratador. Como resultado, você terá um tipo de "lanche" que poderá
complementar a alimentação e evitar o desperdício de alimentos.

Inverno

Dias da semana Manhã Almoço Jantar

Maçã cortada em fatias, Filé de peixe cozido, 1 porção de


Carne de soja, 1 porção de arroz,
Segunda-feira aveia, cereal, 1 copo de suco arroz, salada de folhas verdes
batata-doce, couve-flor
de tangerina (espinafre, rúcula, agrião), limão
Salada de quinoa, legumes Grão-de-bico, legumes
Mingau de aveia, canela, nozes
Terça-feira grelhados (cenoura, abobrinha, (abóbora, batata-doce,
picadas
pimentão) brócolis), 1 porção de arroz
Salada de frutas (maçã, Curry de legumes (cenoura,
Risoto de cogumelos, arroz
Quarta-feira laranja, morango e mamão), 1 batata, ervilha), 1 copo de suco
integral, salada de folhas verdes
copo de suco de laranja de morango
1 porção de arroz, salada de
Mingau de quinoa, canela e
Quinta-feira beterraba ralada, laranja e nozes, Sopa de grão-de-bico, legumes
maçã
carne de soja
Panquecas de banana, 1 copo Chilli vegano, feijão, legumes, 1 Bobó de cogumelos mandioca, 1
Sexta-feira
de suco de laranja porção de arroz porção de arroz
Quibe assado de abóbora,
Sábado Mamão, aveia Sopa de lentilha, legumes salada de folhas verdes, 1 copo
de suco de laranja
Filé de peixe cozido, 1 porção de
Panquecas de maçã, 1 copo de 1 porção de arroz, feijão tropeiro,
Domingo arroz, salada de folhas verdes
suco de morango couve refogada, peixe cozido
(espinafre, rúcula, agrião), limão

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3
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Verão

Dias da semana Manhã Almoço Jantar

1 banana, 1 porção de aveia, ½ xícara de arroz integral, ½ 1 porção de macarrão integral,


Segunda-feira salada de frutas (morango, xícara de feijão preto, 1 filé de legumes, 1 porção de grão-de-
melancia, mamão) peixe bico
1 porção de mix de castanhas
1 xícara de grãos cozidos de sua
(amêndoas, castanhas de caju, Espaguete de abobrinha, molho
Terça-feira preferência, brócolis, cenoura,
nozes), 1 copo de suco de de tomate e lentilhas
tomate, vinagrete de limão
laranja
Salada de quinoa, legumes 1 porção de batata-doce
2 fatias de pão, ½ abacate,
Quarta-feira (quinoa, pepino, tomate, cebola, assada, 1 porção de espinafre,
folhas de rúcula
limão) salada de rúcula e pimentão
1 porção de panquecas
Grão-de-bico, abacate, alface, 1 filé de peixe, arroz integral,
Quinta-feira veganas de aveia, 1 xícara de
tomate brócolis, cenoura, molho de soja
uvas
2 fatias de pão, 2 colheres de 1 porção de lentilha, 1 porção de
Risoto de legumes (arroz, caldo
Sexta-feira pasta de grão-de-bico, rodelas abóbora assada, folhas de
de legumes)
de tomate espinafre
1 filé de peixe assado, 1 porção de
1 banana, 1 colher de aveia, mix 1 porção de grão-de-bico, arroz
Sábado quinoa, salada verde (alface,
de frutas integral, brócolis cozido
agrião, rúcula)
½ xícara de morangos, ½ Abobrinha refogada, 1 porção de
Lentilha, arroz, 1 porção de
Domingo xícara de melancia, ½ xícara batata assada, agrião,
abobrinhas refogadas
de uvas beterraba

Referências
ALIJÁ, Maria José Castro. Quantas calorias devo consumir por dia? O Globo, 6 jan. 2023. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/google/amp/saude/noticia/2023/01/quantas-calorias-devo-consumir-por-dia.ghtml. Acesso
em: 2 jul. 2023.

ARARIPE, Paula. Alimentos da safra de inverno: aposte em frutas e legumes da época para economizar com muito sabor.
Tudo Gostoso, 14 jun. 2022. Disponível em: https://www.tudogostoso.com.br/amp/noticias/alimentos-da-safra-de-
inverno-aposte-em-frutas-e-legumes-da-epoca-para-economizar-com-muito-sabor-a6497.htm. Acesso em: 2 jul. 2023.

DIAS, Nilson. Como fazer um desidratador de alimentos? Pindorama, 23 ago. 2021. Disponível em:
https://pindorama.org.br/alimentacao-saudavel/como-fazer-um-desidratador-de-alimentos/. Acesso em: 2 jul. 2023.

LEWINSKI, Iara Waitzberg. Como funciona a reeducação alimentar para vegetarianos. Nutritotal, 4 dez. 2019. Disponível
em: https://nutritotal.com.br/publico-geral/colunas/reeducacao-alimentar-para-
vegetarianos/#:~:text=Ao%20excluir%20a%20carne%20do,%2C%20ervilha%2C%20soja%20e%20edamame.. Acesso em:
2 jul. 2023.

RBS BRAND STUDIO. Safra de inverno: sete receitas para curtir o melhor da estação. Gaúcha ZH, 21 jun. 2023. Disponível
em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/conteudo-de-marca/2023/06/safra-de-inverno-sete-receitas-para-
curtir-o-melhor-da-estacao-clj4ebwyq004s01517ks0rtdh.html. Acesso em: 2 jul. 2023.

VITAT. Banana Prata. Vitat, [s.d.]. Disponível em: https://vitat.com.br/alimentacao/busca-de-alimentos/alimentos/2068-


banana-prata. Acesso em: 2 jul. 2023.

Autoria
Ana Thereza Baranoski Azevedo; Andressa Thais dos Santos; Isis Lemes Vicente; João Vitor
Barbosa da Silva; Victor Matheus Dahmer; Karine Karsten; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela
Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

FALA QUE EU TE ESCUTO

“Falar no fim do mundo é falar na necessidade de imaginar, antes


que um novo mundo em lugar desse nosso mundo presente, um novo
povo; o povo que falta. Um povo que creia no mundo que ele deveria
criar com o que de mundo nós deixamos a ele”
(Déborah Danowki e Eduardo Viveiros de Castro - Há mundo por vir?,
p. 165).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

FALA QUE EU TE ESCUTO


Tagarelas

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
Resquícios do mundo pré-apocalipse ainda atingem todos os
sobreviventes, esse mundo antigo das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) moldou os seres humanos deixando-os dependentes
dessas formas de comunicação, resultando em uma sociedade cada vez
mais individualista e "líquida", na qual as relações têm data de validade,
tudo é descartado e "ninguém mais sabe conversar com ninguém". Por isso,
nós, Tagarelas, queremos te ajudar a realizar uma comunicação assertiva
para que todos sejam capazes de ouvir, compreender, ser compreendidos
e transmitir o conhecimento adquirido através deste manual, além de
identificar possíveis padrões de comunicação, sejam eles bons ou ruins.

Como se comunicar?
Após sobrevivermos ao apocalipse zumbi, é possível notar que é comum entre os sobreviventes
um pensamento mais egoísta e centralizado na sobrevivência individual e dos familiares. Mas
quem poderia culpá-los, não é mesmo? Diante disso, devemos estabelecer conexões e
contatos, necessários para a reconstrução e aprimoramento da sociedade, que busca divergir
daquela que vimos ruir. Nesse contexto a comunicação se mostra muito importante, mas não
precisa ser difícil nem necessitar de aparelhos complexos, como rádios, celulares,
computadores, internet etc. Por exemplo, ao observar as relações dos insetos sociais, como as
formigas e as abelhas, vemos que elas se comunicam de forma simples e eficiente através de
substâncias químicas chamadas feromônios (molécula química), que carregam uma mensagem
capaz de indicar marcação de trilha, sinal de alarme, sinal de ataque, agregação,
colaboração, defesa, acasalamento, entre outros.

Além desse recurso de comunicação, as formigas e abelhas utilizam o som e a visão. Através
de ondas sonoras de baixa frequência, a abelha se comunica sonoramente por meio da
vibração de suas asas durante o seu voo. Esses sinais sonoros podem ter vários significados,
por exemplo, identificar a fonte de alimento para as outras abelhas. A formiga, por sua vez, se
comunica através de sons feitos por suas mandíbulas, pernas e antenas. Esses sons têm várias
finalidades, como coordenar atividades e mostrar para a colônia onde estão os alimentos. Para
conseguir uma boa comunicação e se expressar bem, você precisa manter um tom de voz
ameno, uma vez que um tom de voz alto pode causar estresse e medo no seu ouvinte, e um
tom de voz baixo não pode ser escutado. As ondas sonoras se propagam com uma frequência
de 20 a 20.000 hertz (Hz), sendo o som que escutamos a sensação de propagação desta
onda.

Percebemos, então, que a maioria das mensagens utilizadas por esses animais prioriza a
sobrevivência coletiva. Porém, visto que os humanos não conseguem liberar e ler feromônios
ativamente, a principal ferramenta que pode ser utilizada no estabelecimento de uma
comunidade é a comunicação assertiva, mas, enfim, o que é isso?

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Assertividade é uma ferramenta para deixar seus relacionamentos mais justos.


(ALBERT; EMMONS, 2017)

A comunicação assertiva é uma abordagem de comunicação que implica em expressar seus


pensamentos, sentimentos e opiniões de maneira nítida, direta e respeitosa, sem infringir os
direitos dos outros. É uma abordagem para se comunicar de maneira saudável e construtiva,
buscando estabelecer um diálogo aberto e honesto. Essas são algumas de suas
características:

Expressão clara: Envolve expressar suas ideias de forma clara e objetiva, evitando
ambiguidades e indo direto ao ponto. Isso ajuda a garantir que suas mensagens sejam
compreendidas adequadamente pelos outros.

Respeito pelos outros: Isso significa ouvir atentamente, demonstrar empatia e


considerar diferentes perspectivas sem buscar a imposição de seus pontos de vista, mas
sim encontrar um equilíbrio entre as suas necessidades e as dos outros.

Lidar com conflitos: Saber expressar suas preocupações e desentendimentos


construtivamente, sem ser agressivo ou passivo. Buscar encontrar soluções colaborativas
e evitar confrontos desnecessários.

Definir limites pessoais: Ser assertivo envolve estabelecer limites pessoais e comunicá-
los aos outros. Isso significa que você tem o direito de dizer "não" quando necessário,
sem se sentir culpado. Tudo isso te ajuda a estabelecer e manter relacionamentos
saudáveis, definindo claramente suas necessidades e limitações.

Dicas para conseguir exercer essa comunicação:


Exercite a empatia: Procure entender os sentimentos e perspectivas dos outros.
Coloque-se no lugar deles e tente ver a situação por diferentes ângulos.

Esteja aberto às críticas: Esteja disposto a receber as opiniões dos outros e use-as
como uma oportunidade de crescimento.

Faça a escuta ativa: Preste atenção ao que os outros estão dizendo. Escute
atentamente, faça perguntas e demonstre interesse na conversa.

Defina limites: Não basta apenas respeitar os outros, é necessário não se permitir ser
desrespeitado, se necessário declare os limites que não devem ser ultrapassados.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Por fim, para garantir que você está se comunicando de maneira assertiva e também para
verificar de que forma as pessoas ao seu redor estão se comunicando, preparamos um
fluxograma para te ajudar a manter uma comunicação assertiva e a observar possíveis padrões
de comunicação a fim de evitar o surgimento de pessoas autoritárias e não assertivas.

Você chega em uma vila e precisa se comunicar com os habitantes,


ou quer verificar se sua forma de comunicação esta adequada?
Siga o Fluxograma

Os habitantes são Honestos e


Diretos?

Você tem sorte!


SIM COMUNICAÇÃO
seja como eles e
NÃO SIM ASSERTIVA
busque sempre se
(SENSÍVEL)
comunicar de
maneira assertiva.
São Respeitosos
COMUNICAÇÃO PERFEITO!! e Apropriados?
NÃO ASSERTIVA
(PASSIVA)

NÃO
Atenção! Tenha cuidado
para não se enganar,
busque varias fontes de Cuidado! Você pode
COMUNICAÇÃO
informação. acabar se envolvendo em
AGRESSIVA
uma briga, não alimente
(RUDE)
o ódio.

Referências
ALBERTI, R. E., EMMONS, M. L., Your Perfect Right: Assertiveness and Equality in Your Life and Relationships. New
Harbinger Publications, Inc, 2017.

FERNANDES, Lucas Rocha; FONTANA, Sávio Santos; FIGUEIREDO, Arthur da Mata; MATTIOLI, Pedro de Souza; SILVA,
Priscilla Chantal Duarte. Interação homem-máquina e as formas de comunicação humana. Research, Society and
Development, v. 10, n. 14, e90101420777, 2021.

FERREIRA, J. Tércio B.; ZARBIN, Paulo H. G. Amor ao primeiro odor: A comunicação química entre os insetos. Química
Nova na Escola, n. 7, 1998.

INFORMATION from your Patient Aligned Care Team: Assertive Communication. Assertive Communication, 2013.
Disponível em: https://www.mirecc.va.gov/cih-
visn2/Documents/Patient_Education_Handouts/Assertive_Communication_Version_3.pdf. Acesso em: 9 jun. 2023.

MAYO CLINIC STAFF. Being assertive: Reduce stress, communicate better. Mayo Clinic, 13 mai. 2022. Disponível em:
https://www.mayoclinic.org/healthy-lifestyle/stress-management/in-depth/assertive/art-20044644. Acesso em: 9 jun.
2023.

PEREIRA, Danilo Moura; SILVA, Gislane Santos. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como aliadas para o
desenvolvimento. Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas, Ano 7, n. 8, p. 151-174, 2009.

QUADROS, Ana Luiza de. Os feromônios e o ensino de química. Química Nova na Escola, n. 7, 1998.

TREVIZAN, Marcio Bogaz; VERAS, Cesar Augusto; BORGES, Pedro Pereira; SANTOS, Pedro Henrique Soares dos. ‘Ser leve
e ser líquido’: a “modernidade líquida” no pensamento de Zygmunt Bauman. Synesis, v. 15, n. 3, p. 32-47, 2023.

Autoria
Bruna Luanne A. M. Lopes; Eric Paraguaia dos Santos; Gabriel Damasceno de Almeida; Priscila
Taborda Alves; Hugo Baptistão Noti Medina Coeli; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira;
Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Água é pop, água é tudo!

“Me instig
a a possib
sobreviver ilidade de
em a nós alguns de
outros for se m sofrer sses corpo
am sujeito a s humilhaç s d’água
s. Pois é p ões e frat
aqui estão r e c iso dizer, uras a qu
sendo mu esses rios e
lanhado p tilados: c que invoco
or algum ada um d
dano, seja eles tem s
p elo garimpo eu corpo
apropriaç , pela min
ão indevid eração, pe
(Ailton K a da pais la
renak - F a gem”
uturo Anc
estral, p.
20).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Água é pop, água é tudo!


Hidromágicos

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
TERRA! PLANETA ÁAAAAGUA! Antes do fim do mundo, essa era uma música
que todo mundo cantava num lugar chamado escola quando tentavam nos
ensinar a cuidar do nosso planeta, ser conscientes, escovar os dentes com
a torneira fechada, não tomar banhos demorados, enquanto o
agronegócio gastava milhares de litros de água molhando capim pra boi
comer e a gente comer o boi depois. Parece que essa estratégia não deu
muito certo, né? Agora a Terra está mais para planeta suquinho de zumbi e
nós precisamos descolar água potável de algum lugar para continuar
sobrevivendo.

Ninguém quer beber suco de zumbi


Existem duas situações principais em que precisamos pensar quando se trata de obtenção de
água para beber: situação A: “Eu preciso beber água AGORA ou eu vou morrer seco!”, caso
em que a pessoa precisa beber água naquele instante ou ela vai morrer seca, e situação B:
“Precisamos guardar água potável para beber e para outras atividades”, caso em que é
necessário guardar água para atividades além de beber.

Vamos focar primeiro na situação A. Pensando que você já saqueou todas as lojas que
encontrou pelo caminho e pegou todas as garrafas de água existentes, uma ótima alternativa
é utilizar a natureza a seu favor e obter água das plantas. Se encontrar frutas pelo caminho,
aproveite para ganhar energia e se hidratar.

Além das frutas, podemos encontrar água em outras plantas, como


nos ocos de bambus e também nas plantas suculentas e nos cactos,
que armazenam muita água nos seus tecidos. Quando encontrar
uma suculenta (planta com uma folha bem gordinha) ou um cacto,
quebre um pedaço. Se não sair látex (um líquido branco tóxico),
você pode mastigar até extrair todo líquido e cuspir o resto.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Se, no seu caminho, você encontrar um poço antigo, primeiro se certifique de não ter muitas
carcaças de zumbis e de humanos azarados na região, pois o chorume (suquinho de zumbi
podre) se infiltra pela terra e pode atingir a água do poço e, acredite, você não vai querer
beber essa água.

Para retirar a água do poço (se não houver o balde que geralmente fica perto) você precisará
de uma mangueira que alcance o nível da água, como no desenho abaixo.

O sistema de sifão é utilizado para transporte


de líquidos e até mesmo para filtrar os sólidos
que ficam no fundo. Para utilizá-lo faça o B
seguinte: insira uma das pontas da mangueira
dentro da água e sugue a outra ponta com a
boca, até sair água (cuidado para não se
engasgar), então vire a mangueira para baixo,
direcionando para o recipiente que receberá a
água.

Isso ocorre porque existe uma diferença de


pressão entre a ponta dentro da água (A) e a
ponta que foi sugada (C). Quando sugamos a A
mangueira, retiramos o ar de dentro dela e,
como a pressão em baixo é maior que a de
cima, a água tende a subir pela mangueira.
Você pode utilizar esse sistema com qualquer C
líquido não muito viscoso e funciona para
retirar água até uma altura de
aproximadamente 10 metros (B).

Consumir a água obtida do poço ou captada da


chuva sem passar por um processo de
descontaminação é um grande risco. Existem dois
processos simples para melhorar a qualidade da
água para ser consumida: a fervura e a filtração.
O processo de filtração elimina partículas de
poeira e outros contaminantes sólidos (quanto
menores os furinhos e mais camadas o seu filtro
tiver – como algodão, areia e carvão –, melhor!), e
a fervura (processo em que se aquece a água até
que ela ferva por alguns minutos) elimina os
microrganismos que não suportam as altas
temperaturas.

Outra forma de diminuir a chance de contaminação é utilizar reagentes químicos. Se você


encontrar um mercado ou uma farmácia, procure algum frasco de hipoclorito de sódio (NaClO
em concentração de 2,5%). Ele era utilizado para limpeza e, como zumbis não se importam
muito com isso, então devem ter sobrado muitas garrafas. Para sanitizar a água basta pingar
duas gotas para cada litro, misturar e deixar em repouso por 30 minutos.

Quanto mais etapas de descontaminação puder fazer, menores as chances de passar mal.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Agora, pensando na situação B, nós precisamos estocar água de alguma forma para poder
beber durante vários dias e, quem sabe, até utilizar para produção de alimento e para higiene
pessoal.

Você vai precisar de canos de PVC (hora de saquear algum material de construção) e galões
para o armazenamento da água.

O sistema de cisterna deve ser instalado em locais altos, aproveitando a caída de telhados de
casas e calhas já instaladas em prédios para a captação da água da chuva, e deve ser
montado conforme a figura abaixo. Ah! E atenção: nada de colocar a saída de água num
ponto que não na base da cisterna, pois lá é onde encontramos a maior pressão e facilidade
para a retirada! Isso é o que disse um tal Bernoulli há muito tempo... E funciona muito bem.

A água reservada poderá ser sanitizada


com o hipoclorito de sódio dentro dos
galões, evitando a proliferação de
bactérias, e deve ser filtrada e fervida
antes do consumo.

Assim, quando houver períodos de seca,


você terá um meio de se manter
hidratado e saudável de forma segura!

Referências
CANTERBURY, Dave; THENÓRIO, Iberê; FULFARO, Mariana. Guia de Sobrevivência na natureza. Rio de Janeiro:
Sextante, 2022.

HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos da Física - vol. 2. 10. ed. Barueri: LTC, GEN, 2016.

WINGS ESCOLA DE AVIAÇÃO. Sobrevivência na selva: Água. Wings Escola de Aviação, 19 dez 2017. Disponível em:
https://wingsescola.com.br/sobrevivencia-na-selva-agua/. Acesso em: 10 jun. 2023.

Autoria
Emerson Augusto Abreu; Fernanda Likes; João Otávio Pauluk Trindade; Marcelo Chuvai Tercero;
Maitê Thainara Barth; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha;
Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Trilhando o Novo Mundo

“Amigos que trabalham com história da filosofia e da tecnologia me


disseram que o desvio dos humanos em seu sentimento de
pertencimento à totalidade da vida se deu quando descobriram que
podiam se apropriar de uma técnica. Atuar sobre a terra, sobre a
água, sobre o vento, sobre o fogo, até sobre as tempestades que antes
interpretavam como sendo fruto de um poder sobrenatural. Nas
tradições que eu compartilho, não existe poder sobrenatural. Todo
poder é natural, e nós participamos dele”
(Ailton Krenak – A vida não é útil, p. 31).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Trilhando o Novo Mundo


Vagonetes

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
Uma coisa é fato, os veículos que utilizávamos no mundo antigo foram
essenciais para o nosso crescimento, mas também para a nossa destruição.
Após o apocalipse, tempo não é mais dinheiro, tempo é um privilégio de quem
restou. Então, para não repetir os erros dos antigos, temos o dever de repensar
nossos meios de locomoção. Além disso, a reconstrução do mundo pós-
apocalíptico exige uma reflexão sobre a forma como exploramos o planeta. No
passado, os veículos utilizados eram movidos por tração animal, o que gerava
impactos ambientais e demandava uma grande quantidade de recursos
naturais. Mais tarde, os veículos motorizados surgiram trazendo consigo altos
níveis de poluição, o que contribuiu para a degradação do meio ambiente.
Diante desses desafios, é essencial adotar uma abordagem mais sustentável e
cooperativa. Optar por não utilizar tração animal é uma escolha consciente,
levando em consideração o bem-estar animal e a necessidade de preservar os
recursos naturais. Em vez disso, podemos promover o trabalho cooperativo
humano buscando soluções de transporte coletivo que sejam acessíveis a
todos.

COMO SE LOCOMOVER NO APOCALIPSE: A Vagoneta Manual


A construção das vagonetas utilizando peças de veículos do mundo antigo é um exemplo
desse novo paradigma. Ao reutilizar essas peças, evitamos o descarte excessivo e damos uma
nova vida a materiais que seriam desperdiçados. Essa abordagem contribui para a redução do
impacto ambiental e promove a sustentabilidade.

A vagoneta, com suas rodas e engrenagens, baseia-se em tecnologias antigas adaptadas para
as necessidades do mundo atual. Ela se torna um meio de transporte prático, objetivo e
permite o deslocamento de pessoas e insumos necessários para reconstruir a sociedade.
Utilizando os trilhos do mundo antigo, garantimos uma comunicação eficiente e o acesso a
diferentes locais de aglomeração de sobreviventes. A seguir temos uma figura da vagoneta.

37
6
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

A estrutura da vagoneta é composta por uma parte externa em bege, onde ficam as pessoas
ou o material transportado. No centro, há um vão por onde passa a haste de eixo. A manivela
em verde é encaixada entre duas hastes altas em formato de triângulo e permanece no meio
delas. A manivela se conecta à haste de eixo em amarelo e à engrenagem maior em rosa,
próxima ao centro, de modo que, quando a manivela desce e sobe, a engrenagem maior gira e
se conecta a uma engrenagem menor.

As rodas traseiras são conectadas por um eixo simples de metal para que ambas tenham a
mesma rotação. As rodas dianteiras são conectadas entre si por outro eixo, com uma pequena
engrenagem no centro.

O movimento ocorre porque, ao girarmos a engrenagem maior em rosa, obtemos uma rotação
maior na engrenagem menor em azul, responsável pelo movimento. Isso ocorre devido à
relação entre o número de dentes das engrenagens. Quando o número de dentes da
engrenagem menor é dividido pelo número de dentes da engrenagem maior e o resultado é
menor que 1, a rotação da engrenagem menor é maior em comparação com a engrenagem
maior. Isso permite que as rodas girem com mais facilidade, economizando energia
física/mecânica. O giro da engrenagem menor, por sua vez, movimenta o eixo das rodas e,
consequentemente, a vagoneta. A ilustração segue abaixo.

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6
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Agora, para que usar esse veículo? A função primária dele seria carregar materiais pesados
demais para serem carregados a pé ou que causam fadiga rapidamente. E, para evitar que
fatores como o clima afetem o veículo, seria possível construir uma espécie de “cobertura”.
Para isso, as hastes devem ser posicionadas nos cantos do esqueleto do veículo, conectadas
por uma chapa entre si, o que formará um teto capaz de proporcionar um transporte em meios
climáticos como a chuva. Poderia se juntar as hastes com outra chapa horizontalmente de
modo a criar uma proteção contra ventos fortes e frios. Essencialmente, a mesma ideia que se
tem nas atuais carrocerias de carros é utilizada aqui, o que evita o contato com o meio
externo.

Antigamente, o maquinário era lubrificado com derivados do petróleo, mas devido aos
impactos ambientais causados por essa prática, ela praticamente não é mais utilizada. Uma
alternativa sustentável aos óleos lubrificantes de origem petrolífera é o uso de lubrificantes à
base de óleos vegetais renováveis, como óleo de girassol, óleo de soja ou óleo de coco. Esses
óleos podem passar por refinamento e processamento para melhorar suas propriedades de
viscosidade e estabilidade, o que os torna adequados para a lubrificação de mecanismos
como o nosso. Além disso, eles são biodegradáveis, o que significa que não causam danos
ambientais significativos em caso de vazamentos ou descarte inadequado.

Referências
HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de Física - vol. 1. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.

MENDES, Adriano A.; SOARES, Cleide M. F.; TARDIOLI, Paulo W. Avanços recentes e perspectivas futuras para a produção
de biolubrificantes base stocks usando lipases como catalisadores ambientalmente corretos: Uma mini-revisão. World
Journal of Microbiology and Biotechnology, v. 39, n. 1, p. 25, 2022.

THANG, N. D. Railway hand car. Disponível em: https://www.youtube.com/shorts/ZpnMvKxk4lw. Acesso em: 9 jun. 2023.

Autoria
Alice Dobrychtop Correa; David Ruan Canani Dantas de Paula; Gabriel Santinelli Felipe Godoy;
João Lucas Belotti de Freitas; Marcelo Henrique Ghidini da Silva; Raquel Maistrovicz Tomé
Gonçalves; Débora Larissa Brum; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da
Rocha; Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Se beber, não dirija

“A barb
árie é h
abando oje o tr
nar, sem istemen
te previ
narrati n ostalgia sível. Ma
va de em nem de s a prov
mesmo, ancipaç sencanto a contin
já sem p ão em qu , o e s ua send
recisar e o Hom t il o épico, a o
envenen d e prótes em apren g rande
ou não e s a d e
humana porque p rtificiais a pensar
, mas po r om etera a p . E ss a g por si
rque de erspecti r a n de narra
marcad finiu es va ilusri tiva nos
a pelo d sa a d
julgavam esprezo emancip a eman
bem an pelos po ação de cipação
tes de e vo s e civiliza f orma avi
starmos ções que ltante,
determi n ossas ca
o u nados a tegorias
(Isabele não, no l h es le var, quis
Stenger ssas luz
s - No t es” essem el
empo d es
as cata
strofes,
p. 187)

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7
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Se beber, não dirija


Etanóis

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
A fabricação de combustíveis é fundamental em um mundo pós-
apocalipse zumbi, afinal, estamos em colapso e os recursos são escassos e
disputados. A sobrevivência e a mobilidade são cruciais. Nesse cenário
caótico, a disponibilidade de combustíveis é essencial para manter
veículos em funcionamento e permitir a locomoção rápida e eficiente para
escapar de ameaças constantes. Além disso, a fabricação de combustíveis
possibilita alimentar geradores e equipamentos vitais, o que garante
energia para abrigos e sistemas de segurança e comunicações. Por isso, a
produção de combustíveis se torna um dos principais pilares para a
esperança de sobrevivência e de reconstrução de uma nova sociedade.

Etanol: O Combustível Pós-Apocalíptico que Combina Sustentabilidade e


Versatilidade
Em um renascimento de civilização, a fabricação de etanol pode se tornar uma habilidade
crucial para garantir a energia necessária para mobilidade em automóveis.

Assim como vimos no capítulo 3 do compilado de sobrevivência ao apocalipse zumbi, esse


biocombustível pode ser produzido a partir de plantas como a cana-de-açúcar, batata,
beterraba, entre outras, uma vez que elas possuem açucares que serão extraídos de um caldo,
o qual será fermentado e então destilado para a separação do etanol. Em um mundo
devastado, a abundância é restrita à criatividade e à adaptação.

Coleta de matérias-primas
Já que devemos procurar por fontes que sejam capazes de produzir etanol, podemos entrar em
contato com nossos colegas da produção de alimentos e pedir auxílio com as plantações.

As vantagens para o cultivo das matérias-primas estão na rotação de cultura que diminui a
degradação do solo fértil e no uso do bagaço para compostagem e adubo.

Em todo caso, se não conseguirmos a produção a partir deles, nossa melhor chance é
encontrar cultivos remanescentes, como plantações abandonadas ou plantas selvagens.

41
7
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Extração de caldo
Uma vez encontrada as fontes de açúcar, é necessário extrair o seu caldo ou suco para dar
continuidade ao processo de fabricação, já que será necessário fermentar esse caldo.
Podemos extraí-lo manualmente triturando ou prensando as fontes com pedras, ou
espremendo após cozinhá-las um pouco para amolecer.

Fermentação
Para armazenar o caldo, pediremos auxílio aos colegas responsáveis pelos rejeitos para
encontrarmos alambiques de barro, barris, garrafas ou até tambores de metal em bom estado.
Obtidos e higienizados, adicionamos ao recipiente o caldo e então as leveduras (fungo que,
através do processo fermentativo, utiliza o açúcar para obter energia e gerar um subproduto, o
etanol) para iniciar o processo de fermentação. O recipiente deve ficar bem fechado, apenas
com uma válvula para liberar os gases gerados no processo.

Tempo e verificação da fermentação


A fermentação pode levar vários dias, dependendo das condições ambientais, logo, mantenha
o recipiente em um local protegido contra possíveis contaminações e frio. As leveduras
converterão os açúcares em álcool. Verifique diariamente o progresso da fermentação, pois,
quanto menor for a produção de bolhas e a diminuição da atividade, mais próxima a reação
estará do fim.

Realize testes de densidade utilizando um densímetro, você provavelmente encontrará um no


prédio da antiga CapiAgro. Quando, nos testes, a densidade do líquido ficarem próximos, a
fermentação estará completa e a maior parte do açúcar terá sido convertida em álcool.

Destilação e coleta do etanol


Após a fermentação, você terá uma solução de baixo teor alcoólico, nesse caso, para
aumentá-lo é necessário destilar o líquido.

Você vai precisar de:


- 1 destilador fracionado;
- mangueiras;
- 1 recipiente higienizado para armazenar o etanol destilado;
- 1 fonte de calor que não estoure seu recipiente com o líquido
a ser destilado.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Sei que pode ser difícil encontrá-los nos rejeitos, assim sendo, siga a dica sobre dar uma
passadinha na fábrica da CapiAgro, espero que os zumbis não tenham destruído tudo por lá.

Em último caso, improvise uma destilação simples utilizando uma panela, tubos de cobre ou
metal resistente ao calor e um frasco higienizado. O rendimento não será tão alto, mas você
conseguirá abastecer seu veículo.

Durante o processo, o vapor de etanol será condensado através de um sistema de resfriamento


improvisado – por exemplo, com o uso de água fria ou gelo – e o destilado será coletado em
um recipiente limpo. Esse líquido será o etanol mais puro que você produziu até agora.

Armazenamento
Feito todo o processo corretamente, teremos um combustível. A vida útil será maior se
armazenado em recipientes como garrafas de plástico ou de vidro, barris ou tanques
subterrâneos sem contato com a luz e hermeticamente fechados para evitar a evaporação e
contaminação.

Referências
CONCEITOS e Benefícios da Rotação de Cultura. Embrapa, 08 dez. 2021. Disponível em:
https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/soja/producao/rotacao-de-culturas/conceitos-
e-beneficios-da-rotacao-de-cultura. Acesso em: 27 mai. 2023.

NUNES, João Vitor da Silveira; NOGUEIRA, Kevyn Matheus Vieira; LIMA, Raoni Alves de; GUALBERTO, Victor Soares;
MARQUES, Rosali Barbosa; MALVEIRA, Jackson Queiroz; BUENO, Andre Valente; RIOS, Maria Alexsandra de Sousa.
Briquetes de bagaço-de-cana (Saccharum spp): avaliação da produção em escala de bancada. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ENERGIA SOLAR, 8., 2020, Fortaleza. Anais... Fortaleza, p. 1-6, 2020. Disponível em:
https://anaiscbens.emnuvens.com.br/cbens/article/view/964. Acesso em: 27 mai. 2023.

OLIVEIRA, Roberto Dalmo; BEDIN, Everton; CUNHA, Josafá; FERREIRA, Gabriela; ROCHA, Amanda Ribeiro da; REIS, Tiago
Cordeiro dos (orgs.). Conhecimentos químicos que você precisa saber para sobreviver ao apocalipse zumbi:
edição revisada. 2. ed. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química, 2022. Disponível em: https://quid.sbq.org.br/wp-
content/uploads/2022/05/conehcimentos-quimicos-vol-19.pdf. Acesso em: 27 mai. 2023.

QUAIS as diferenças entre o álcool de cana e o de milho?. União Nacional da Bioenergia, 13 abr. 2007. Disponível em:
https://www.udop.com.br/noticia/2007/04/13/quais-as-diferencas-entre-o-alcool-de-cana-e-o-de-milhoy.html.
Acesso em: 27 mai. 2023.

REDAÇÃO. Como é produzido o etanol?. Super Interessante, 4 jul. 2018. Disponível em:
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-e-produzido-o-etanol. Acesso em: 27 mai. 2023.

REDAÇÃO CANAL. Pesquisadores descobrem leveduras que produzem etanol com mais eficiência. Canal Rural, 18 nov.
2014. Disponível em: https://www.canalrural.com.br/noticias/pesquisadores-descobrem-leveduras-que-produzem-
etanol-com-mais-eficiencia-51956/. Acesso em: 27 mai. 2023.

Autoria
Ester Karoline da Luz da Silva das Dores; Izabel Cristina de Souza; João Lucas Strapasson Barchik;
Kauê Fernando Hoeppers Cruz; Thainara Oliveira Bonifácio; Débora Larissa Brum; Roberto Dalmo
Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa;
Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

DO LIXO AO LUXO

“Somos co
mposto, n
as human ão pós-hu
idades. Fi manos; ha
losófica e bitamos a
não uma materialm s humusid
pós-huma en ades, não
em devir- n is t a . Os bichos te s ou uma comp
com mútu - humano ostista,
todas as e o , comopondo s e não human
scalas e e -se e deco os - estão
emaranha m todos os r m po ndo-se en
dos simpo egistros d tre si, em
iéticos, em e tempos
terrenas, mundifica e de coisa
ecológicas ções e des s, em
(Donna H e evolutiva mundifica
araway - s do desenvolvi ções
Ficar com mento”
o problem
a, p. 174-1
75).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

DO LIXO AO LUXO
WALL-E

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
UFA! Finalmente um lugar habitável! No entanto, nem os zumbis viveriam
nas condições em que o mundo se encontra. Precisamos encontrar uma
forma de limpar tudo. Mas por onde começaremos?
Um por todos e todos por um! Vamos separar a sociedade em equipes e
deixar cada uma delas responsável pela purificação e limpeza de cada um
dos lugares.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo! Agora, é importante perder o
medo de sujar as mãos e encarar esse desafio! A esperança de voltar a
viver nos motiva a colocar a mão na massa.

DO CÂNHAMO À COMPOSTAGEM: ESTRATÉGIAS PARA O MANEJO E A UTILIZAÇÃO DE


RESÍDUOS ORGÂNICOS NUMA SOCIEDADE PÓS-APOCALÍPTICA
A matéria orgânica pode ter vários destinos, como produção de combustível, alimentação e
fertilização do solo (e tem matéria orgânica para dar e vender no pós-apocalipse, né?).

Vamos começar pela utilização da matéria orgânica para produzir energia. A gente precisa de
luz para viver, então, a melhor maneira de dar um fim em todos esses rejeitos orgânicos é
transformá-los em algo útil. Através de energia de biomassa, produzida por meio desses
substratos, é possível ter energia elétrica para tomar aquele banho quentinho, passar aquele
café da tarde ou maratonar aquela série (mas só depois de o mundo estar reconstruído!).

Bom, agora que tudo está sendo limpo para conseguirmos habitar este local, que tal usar esses
vários resíduos para fazer um pouco de luz?

Depois de todos esses anos, muito do espaço em que vivemos está cheio de resíduos urbanos,
tais como papel, plásticos, vidros, metais e muita, mas muita matéria orgânica (biomassa). Já
que temos isso de sobra, uma opção para eliminação e reaproveitamento desses materiais é a
pirólise. A pirólise é um processo termoquímico que envolve a decomposição de materiais
orgânicos pela ação do calor na ausência de oxigênio. Os produtos desse processo são vários,
como a produção de bio-óleo, gases e carvão.

Uma vez que temos diferentes tipos de resíduos espalhados por aí, podemos pensar em várias
possibilidades para a transformação destes em energia. Um processo que pode ser utilizado é
a gaseificação, que basicamente envolve a produção de um gás sintético (composto
primeiramente de CO2 e H2) a partir de qualquer carbono e hidrogênio. Essa tecnologia pode
ser usada com diversas matérias-primas, incluindo carvão mineral e materiais orgânicos, e o
gás gerado pode ser usado como matéria-prima para uma gama de produtos químicos
sintéticos e combustíveis.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Antes do apocalipse, geramos muitos resíduos orgânicos e, mesmo utilizando-os para a


produção de energia, ainda sobram muitos rejeitos. Após todo esse caos gerado pelas
indústrias, devemos pensar em uma vida mais limpa. Que tal usar uma parte desses resíduos
orgânicos para fazer adubo natural? A compostagem é ótima, ela transforma a matéria
orgânica encontrada no lixo em adubo natural, o que enriquece o solo com minerais e
vitaminas, especialmente nitrogênio, fósforo e potássio. Além disso, ela pode ser utilizada na
agricultura diminuindo o uso de agrotóxicos.

O cânhamo também nos dá diversas oportunidades na área da reciclagem e da moda


sustentável, desde a produção de roupas e tecidos até a produção do material mais utilizado
em todo o planeta: o plástico tradicional. Esse chefão leva 500 anos para ser totalmente
degradado pelo meio ambiente, ou seja, você, seus filhos, seus netos e mais cinco gerações na
sua frente vão de arrasta pra cima e o plástico vai estar vivão! Plásticos produzidos a partir de
cânhamo, por outro lado, levam somente 3 meses para se decomporem no ambiente (arrasou,
mona!) e podem ser facilmente substituídos (igual àquele seu ex tóxico) em vez de se usar o
plástico convencional.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

E aí? Podemos contar com sua ajuda para reconstruir nosso planeta Terra? Sempre é bom
lembrar que esse lugar é de todo mundo e que, ao reconstruirmos, devemos preservá-lo um mol
de vezes mais do que antes, pois foram as atitudes humanas descabidas que fizeram o
apocalipse acontecer. Dessa vez, conseguimos reconstruí-lo (aos trancos e barrancos). Por
isso, pense bem antes de atirar rejeitos de qualquer tipo ou ter atitudes danosas contra a
sociedade e o meio ambiente porque, no final, todos vão sofrer as consequências desse rolê.

Referências
CARVALHO, P. C. T.; GUERRA, M. A. D. S. L. Compostagem. In: TSUTIYA, M. T.; CAMPARINI, J. B.; ALEM SOBRINHO, P.;
HESPANOL, I. 2002. p. 181-208.

DELFINO, Lucas. Análise do cânhamo como alternativa sustentável para um modelo de produção e consumo
circular. 2021. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Administração) - Universidade de Brasília, Brasília, 2021.

EIRES, Rute Maria Gonçalves. Materiais não convencionais para uma construção sustentável utilizando cânhamo,
pasta de papel e cortiça. 2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil, Materiais e Reabilitação da Construção) -
Universidade do Minho, Braga, 2006.

LORA, Electo Eduardo Silva; ANDRADE, Rubenildo Viera; ÁNGEL, Juan Daniel Martínez; LEITE, Marco Antonio Haikal;
ROCHA, Mateus Henrique; SALES, Cristina Ap. Vilas Bôas de; MENDOZA, Mónica Andrea Gualdrón; CORAL, Doris del
Socorro Obando. Gaseificação e pirólise para a conversão da biomassa em eletricidade e biocombustíveis.
Biocombustíveis. In: LORA, Electo Eduardo Silva; VENTURINI, Osvaldo José (orgs.). Biocombustíveis - vol. 1. Rio de Janeiro
Interciência, 2012. p. 411-498.

OLIVEIRA, Arlene Maria Gomes; AQUINO, Adriana Maria de; CASTRO NETO, Manoel Teixeira de. Compostagem caseira
de lixo orgânico doméstico. Circular Técnica 76. Cruz das Almas: Embrapa, 2005.

SIQUEIRA, Thais Menina Oliveira de; ASSAD, Maria Leonor Ribeiro Casimiro Lopes. Compostagem de resíduos sólidos
urbanos no estado de São Paulo (Brasil). Ambiente & Sociedade, v. 18, p. 243-264, 2015.

VIEIRA, Gláucia Eliza Gama; NUNES, Abimael Pereira; TEIXEIRA, Luana Fagundes; COLEN, Aymara Gracielly Nogueira.
Biomassa: uma visão dos processos de pirólise. Revista Liberato, v. 15, n. 24, p. 167-178, 2014.

Autoria
Júlia do Carmo Santos de Freitas; Matheus Henrique de Lima; Rebeca Costa Duarte; Yasmin
Woginski Pereira; Gilvianio dos Santos Oliveira; Karine Karsten; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela
Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Era uma casa muito engraçada:


bem preparada e refrigerada

“As escolas de engenharia tinham que pensar muito na


responsabilidade que elas têm de todo ano despachar para a rua
milhares de perigosos engenheiros. Porque os conteúdos que esses
engenheiros vão pegar nas universidades resulta nessas cidades
verticais, nesse artificialismo todo que sustenta a nossa vida urbana, e
ainda chamam isso de sustentável. Então, é uma mentira embalada”
(Ailton Krenak - Radicalmente vivos, p. 38).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Era uma casa muito engraçada:


bem preparada e refrigerada
Os Elementares

s r u í n a s
a n d o d a
Br o t
Sobreviver ao apocalipse não foi uma tarefa fácil, mas foi facilitada
graças ao manual que encontramos pelo caminho! Hoje em dia as coisas
estão bem diferentes do que estávamos acostumados, não há aquela
infinidade de tecnologias eletrônicas que nos forneceram a capacidade
de driblar a seleção natural e sobreviver às condições adversas!
Os recursos mudaram, mas os problemas continuam os mesmos,
precisamos sobreviver ao frio, ao calor e até a outras condições climáticas,
como chuvas e ventos. Precisamos ser criativos! Você está preparado para
construir a casa ideal para sobreviver nesse novo mundo caótico?

PARA MANTER A TEMPERATURA INTERNA CONSTANTE


Utilizar materiais que sejam isolantes térmicos
Na hora de construir nossa casa pós-apocalíptica, é importante ter um lugar que não fique um
“forno” no verão nem um “freezer” no inverno. Para isso, existem materiais que são isolantes
térmicos, por exemplo, fibras de vidro, lã de rocha, poliestireno e alumínio. A madeira também
é um excelente isolante térmico e ainda existem algumas plantas do gênero Pinus, que
possuem baixa condutividade térmica, ou seja, demoram para esquentar. Essas são boas
escolhas para nossa casa!

PARA AQUECER O AMBIENTE


Construção de lareiras
As lareiras têm sido usadas desde a época em que o fogo foi descoberto. Na Idade da Pedra,
as pessoas cavavam buracos nas cavernas para terem um lugar quentinho. Na Idade Média, no
inverno, as famílias dormiam nas cozinhas, onde tinham fogões a lenha para se aquecerem.
Então, é uma boa ideia construir uma lareira na sua nova casa, porém, não de madeira e sim
de álcool etílico, que é mais sustentável.

Caixas de leite
Uma solução prática e rápida é utilizar caixinhas de leite para manter a temperatura da casa
estável. Isso mesmo, as caixinhas de leite podem ser a salvação! Basta abrir as caixinhas,
descolar as emendas e deixá-las retas. Depois, é só limpá-las com água e deixar secar. Se a
casa for de madeira, você pode fixar as caixinhas nas janelas e frestas com pregos ou
grampos, que também ajudam a amenizar o calor intenso. Já para o frio, fitas adesivas são
suficientes (o alumínio reflete a luz infravermelha, enquanto o plástico e o papel do outro lado
funcionam como isolantes térmicos, impedindo a passagem do calor).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

PARA RESFRIAR O AMBIENTE


Ventilação cruzada
O projeto arquitetônico deve incluir janelas e aberturas estrategicamente posicionadas para
permitir a circulação de ar fresco. Isso promove a ventilação cruzada: o ar quente é expelido
por aberturas mais altas, enquanto o ar fresco entra pelas aberturas inferiores, criando uma
corrente de ar natural que ajuda a resfriar o ambiente.

A fim de tentar refrescar o ambiente interno, os jardins são uma boa opção. Procure alguns
recipientes que sejam fundos o suficiente para que as raízes consigam se fixar e o vegetal
sobreviver nos primeiros dias fora do habitat inicial onde cresceu. Além disso, para mantê-los
suspensos, busque cipós ou qualquer material que seja resistente o suficiente para aguentar o
peso.

Alguns outros conhecimentos necessários


Mesmo em um mundo pós-apocalíptico, alguns conhecimentos básicos ainda podem ser
aplicados de forma sustentável. Por exemplo, escolher roupas escuras para dias frios e roupas
claras para dias quentes. Essa lógica pode ser aplicada na pintura das casas. Em locais frios,
opte por tintas escuras, e em locais quentes, por tintas claras.

Além disso, devido à paralisação do mundo, muitos espaços públicos e privados estão sendo
tomados por vegetação. Podemos aproveitar essa vegetação para regular a temperatura
dentro de casa. Entretanto, já que iremos retirar as plantas de seu ambiente natural, é
importante fornecer adubo. Um ótimo composto é a casca de ovo, mas também podemos
potencializar seu efeito fazendo reações químicas com vinagre:

CaCO3 + 2 CH3COOH → (CH COO) Ca + CO + H O


3 2 2 2

50
9
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Curiosidade!
Os Yurt
Os Yurt são tendas redondas utilizadas por povos nômades
na Mongólia há mais de 3000 anos. Feitas de madeira, lã e
plástico, elas oferecem um bom isolamento térmico. Essas
casas são especialmente adequadas para ambientes
desérticos, onde há grandes variações de temperatura entre
o dia e a noite. Estudos mostram que as Yurt conseguem
manter uma temperatura interna mais constante em
comparação com as variações externas, o que confirma sua
eficiência como isolante térmico.

Referências
DORNELLES, Kelen Almeida, RORIZ, Mauricio, RORIZ Victor, CARAM Rosana. Desempenho térmico de tintas brancas com
microesferas cerâmicas para uso em coberturas de edifícios. In: ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE
CONSTRUÍDO, VII ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 11., 2011, Búzios. Anais...
Búzios, 2011.

SILVA, Helen Correia da. Comportamento térmico da madeira maciça Tectona grandis L. f. e Pinus elliottii Engelm.
2021. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Florestal) – Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, Dois Vizinhos, 2021.

SOUZA, Henor Artur de; RODRIGUES, Luciano Souza. Ventilação natural como estratégia para o conforto térmico em
edificações. REM: Revista Escola de Minas, v. 65, p. 189-194, 2012.

XU, Guoqiang; JIN, Hong; KANG, Jian. Experimental Study on the Indoor Thermo-Hygrometric Conditionsof the Mongolian
Yurt. Sustainability, v. 11, n. 3, p. 687, 2019.

Autoria
Isabelly Ruvinski; Kevlyn Elen Guimarães; Nicole Graça Maia; Talita Cividini; Vinícius Mocelin;
Rodrigo Barcelos Lefebvre; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha;
Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

ENERGIZANDO O FUTURO

“esse avanço elétrico


modernizante não fo
segundo. A carga elét i o primeiro, mas sim
rica também foi ad o
atrás durante os pri esd trada bilhões de anos
meiros estágios da ev
e nos organismos, é olução da vida. Nas
a eletricidade que p células
ossibilita uma boa p
tudo que acontece. orção de

[...]
O primeiro transisto
r da Bell Labs tinha
centímetros, e desde aproximadamente tr
então vem sendo mel ês
mesmo dispositivo fo horado e encolhido.
i inventado bilhões O
de anos atrás na ev
das bactérias” olução
(Peter Godfrey-Smit
h - Metazoa, p. 37-4
1).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

ENERGIZANDO O FUTURO
Geradores de Ideias

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
Energia é um recurso crucial para a vida na Terra. É por meio da
transformação de energia solar em energia química que as plantas se
alimentam, processo esse conhecido como fotossíntese. E é através do
consumo das plantas e animais que nós, seres humanos, energizamos
nossos corpos. Na verdade, a produção de energia para a humanidade tem
especial importância, pois, durante nossa longa estadia neste pálido ponto
azul, tornamo-nos reféns da eletricidade. Mas, como obter energia elétrica
após o apocalipse? Como não cometer os mesmos erros do passado? Ora,
a resposta sempre esteve no céu!

Brilha, brilha, estrelinha


A fotossíntese é o processo mais importante que ocorre no planeta e foi responsável por
desenhar todo o cenário metabólico que herdamos como organismos autotróficos. Conhecida
por converter energia luminosa em energia química, a fotossíntese é a fonte elementar de
quase toda a energia biológica da Terra. Os organismos fotossintetizantes possuem organelas
específicas, chamadas cloroplastos, responsáveis pela absorção de luz e pigmentação verde
dos tecidos vegetais. Em geral, a fotossíntese é um processo de duas etapas baseado na
captura da energia solar para formar moléculas que serão fonte de energia na síntese de
açúcar e outros compostos orgânicos. Além de “limpar” o CO2 da atmosfera, há cerca de 2,5
bilhões de anos esse processo começou a liberar oxigênio no ambiente e foi responsável pela
diversificação da vida que conhecemos hoje.

Analogamente, células fotovoltaicas absorvem energia solar com o propósito de excitar


elétrons, mas, em vez do direcionamento de moléculas energizadas para a fixação de carbono,
há uma conversão direta em energia elétrica.

E, assim como a humanidade historicamente mimetiza o comportamento da natureza no


desenvolvimento de novas tecnologias, apresentaremos aqui um método para a construção de
sua própria célula solar sensibilizada por corantes naturais. Você terá que dispor de suas
capacidades para encontrar os materiais necessários, mas juro que valerá a pena, ou melhor,
valerá a energia!

Você vai precisar de:


- Água; - Multímetro;
- Beterraba; - Ralador de legumes;
- Corretivo líquido; - Tela LCD;
- Filtro de café; - Tintura de Iodo;
- Grampos metálicos; - Vela ou lápis grafite.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

A energia elétrica é gerada por meio do efeito fotoeletroquímico que ocorre quando a luz
incide sobre o corante natural, o sensibilizador, adsorvido pelo corretivo líquido, o
semicondutor, gerando elétrons excitados que são transferidos para o eletrodo. Como o
corante é oxidado pela luz, é preciso de um composto que sofra redução – a tintura de iodo –
regenerando o sensibilizador, doando um elétron.

Para extrair o corante natural, descasque e rale uma beterraba crua e a coloque em água na
proporção de 1:4. Feita a mistura, intercale períodos de agitação manual e descanso por cerca
de dez minutos, então a filtre e guarde em um frasco fechado. Você também pode escolher
outras fontes de corante – aproveite as frutas, flores e sementes da sua região!

Os eletrodos podem ser obtidos ao abrir telas LCD. O que interessa são as placas de vidro
localizadas em seu meio. Tome cuidado para não as arranhar, você pode perder a camada de
óxido de índio!

Para preparar o eletrodo negativo (ânodo), limpe delicadamente a placa de vidro com água e
detergente, então a seque. Você deve usar um multímetro na função “resistência elétrica” para
identificar o lado condutor da placa. Em seguida, aplique uniformemente o corretivo na face
condutora e espere secar. É possível substituir o corretivo por outras tintas ou corantes que
contenham dióxido de titânio (TiO2).

Para o preparo do eletrodo positivo (cátodo), siga os mesmos passos iniciais descritos
anteriormente de limpeza e identificação do lado condutor. Depois, aplique um filme de
carbono sobre a superfície condutora. Você pode colocar o vidro sobre uma vela acesa ou
riscá-la com grafite de lápis!

É hora de montar! Mergulhe o eletrodo negativo no corante de beterraba por meia hora, retire-
o com uma pinça, lave com água e deixe secar. Por fim, una o ânodo com o cátodo com
grampos metálicos e pingue uma tintura de iodo entre as placas.

Sua célula fotovoltaica está pronta! Conecte fios de cobre aos grampos e leve sua placa solar
a um ambiente bem iluminado à luz natural. Agora você já pode energizar seus eletrônicos e
recarregar suas baterias! Faça várias placas seguindo esse passo a passo para maximizar sua
obtenção de energia!

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Jamais esqueça: para reconstruir o mundo, você deve pensar no meio ambiente e
ter uma matriz energética diversificada para que, independentemente da estação
ou tempo, nada te deixe na mão!

Referências
AZEVEDO, Manuel; CUNHA, António. Fazer uma célula fotovoltaica. Physics on Stage, Aveiro, v. 2, n. 4, 1991.

CHRIST, Ivana de Souza; ALMEIDA, Kauana Nunes de; OLIVEIRA, Verônica Granvilla de; OLIVEIRA, Matheus Costa de;
SANTOS, Marcos José Leite; ATZ, Nara Regina. Célula solar na escola: como construir uma célula solar sensibilizada por
corantes naturais. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 41, n. 4, p. 394-398, 2019.

SONAI, Gabriela G.; MELO JUNIOR, Maurício A.; NUNES, Julia H. B.; MEGIATTO JUNIOR, Jackson D.; NOGUEIRA, Ana F.
Células solares sensibilizadas por corantes naturais: um experimento introdutório sobre energia renovável para alunos de
graduação. Química Nova, São Paulo, v. 38, n. 10, p. 1357-1365, 2015.

UNIVERSITY OF WASHINGTON. Clean Energy Institute. Nanocrystalline Dye Solar Cell Lab. 2020. Disponível em:
https://www.cei.washington.edu/lesson-plans-resources/nanocrystalline-dye-solar-cell-lab/. Acesso em: 13 jun. 2023.

Autoria
Bruno Vinicius Negrelo Gonçalves; Gabriel Henrique S. Galindo; Helena da Rosa Galeski; Maycon
Vinicius Manini; Renan Giovane Gomes de Melo; Débora Larissa Brum; Roberto Dalmo Oliveira;
Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa; Everton
Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Transformando Desespero em
Combustível!

“‘Sustentabilidade’
é o sonho de repass
gerações futuras, h ar uma terra habit
umanas e não hum ável para as
para encobrir práti anas. O termo tam
bém é usado
cas destrutivas, e es
predominante, que se uso se tornou tã
a palavra mais freq o
Ainda assim há razã u en temente me faz rir
o para sonhar - e o e chorar.
Em vez de criticar bjetar - e lutar por
a palavra, então, eu alternativas…
como um argumento a levo a sério, reap
radical em face da roveitando-a
prática hegemônic
(Anna Tsing - Viver a”
nas ruínas, p. 225).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Transformando Desespero em
Combustível!
ApocaPower

s r u í n a s
a n d o d a
Br o t
No mundo antigo, gerávamos uma demanda enorme de energia e
recursos naturais. O consumo excessivo desses materiais causou o
aparecimento do vírus e do apocalipse zumbi. Por meio da diminuição da
população, cidades ficaram abandonadas e restaram diversos rejeitos
orgânicos. Além disso, com o surgimento de novas comunidades, torna-se
necessário dar destino para os rejeitos que passaram a surgir. O
biodigestor é capaz de utilizar esse material como matéria-prima ao
transformar o lixo em biogás. No novo mundo, o biogás é uma boa
alternativa para a demanda doméstica, uma vez que gera aquecimento e
iluminação em nossos novos lares, ajuda no preparo e na conservação
dos alimentos, além de poder ser utilizado em pequenos motores a gás.

Aproveitando os resíduos orgânicos para geração de energia


Um biodigestor caseiro é uma forma de superar a lógica linear da economia do mundo antigo.
Em vez de seguirmos em um processo de extração, produção e descarte, partimos para um
sistema mais fechado que aproveita a geração de resíduos orgânicos para produzir adubo e
energia! Afinal, não queremos cometer os mesmos erros que nos levaram ao apocalipse, né?

O biodigestor é um equipamento utilizado para armazenar resíduos orgânicos – como dejetos


humanos, esterco de diversos animais, esgoto doméstico, rejeitos agrícolas e resíduos de
cozinha – em condições anaeróbicas (sem a presença de O2 ). Uma vez homogeneizado, o
resíduo passará por um processo de fermentação através das bactérias presentes no meio.
Esse processo promove a decomposição do material em substâncias mais simples, como o gás
metano (CH4 ) e o gás carbônico (CO2 ). No pré-apocalipse, esse mesmo gás foi um dos
principais responsáveis por aumentar o efeito estufa no planeta ao ser lançado na atmosfera
por diversos processos. Ao invés disso, propomos a redução da emissão do metano por meio do
armazenamento do gás obtido através da fermentação dos resíduos orgânicos. É possível
utilizar o gás para cozinhar alimentos, gerar calor e até mesmo operar máquinas.

ATENÇÃO!!! Não tente colocar os restos dos zumbis no biodigestor, ok? Eles podem contaminar
o sistema com bactérias ruins, além de prejudicar a atividade microbiana presente no sistema.

57
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Além disso, outro produto gerado nesse processo é o biofertilizante, rico em micro e
macronutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas, o que permite produção de
alimentos mais saudáveis e com menor impacto ao meio ambiente. O melhor de tudo é que
esse biodigestor pode ser construído com materiais simples, que podem ser encontrados em
quase todo canto da cidade em ruínas!

Você vai precisar de:


- 1 recipiente para armazenar os resíduos, como caixas
d’água abandonadas ou latas;
- Adaptadores e tubos de pvc para passagem dos resíd
uos e saída do gás e do biofertilizante;
- Material para vedar o biodigestor;
- Mangueira para conectar o gás ao equipamento no qu
al ele será utilizado;
- 1 recipiente onde o gás possa ser armazenado, como
uma câmara de pneu.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Já que o acesso à energia não será tão fácil, haverá necessidade de compartilhá-la com as
comunidades em volta que não tenham acesso. Como a maioria das comunidades serão
pequenas ou médias, as prioridades de consumo serão voltadas à sobrevivência básica e ao
armazenamento do que sobrar para futuras emergências, como a falta de recursos para
produzir mais energia. Essas prioridades estão relacionadas a refrigeração e preparo de
alimentos, aquecimento em regiões e épocas mais frias, iluminação dos principais pontos de
circulação e trabalho de pessoas na cidade, necessidades de higiene básica e atendimentos
medicinais. Dessa forma, evitaremos usar energia para alimentar indústrias e produzir materiais
que não são prioridades para a sobrevivência. Além disso, iremos contribuir para a construção
de um novo modo de viver, mais sustentável e mais coletivo!

Referências
ARAÚJO, Ana Paula Caixeta. Produção de biogás a partir de resíduos orgânicos utilizando biodigestor anaeróbico.
2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Química) - Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia, 2017.

BGS EQUIPAMENTOS. Como construir um mini biodigestor. BGS equipamentos para biogás, [s.d.]. Disponível em:
https://www.bgsequipamentos.com.br/como-construir-um-mini-biodigestor/. Acesso em: 15 out. 2023.

COSTA, Maycon Yuri. 5 fatos sobre a crise energética no Brasil. Politize, 20 nov. 2022. Disponível em:
https://www.politize.com.br/crise-energetica-no-brasil/. Acesso em: 15 out. 2023.

FREITAS, Lindeberg Rocha; SANTANA, Vilmar Leandro de; SILVA, Carlos Raniere Souza Pereira da; CARVALHO, Janduir
Clécio Miranda de; ROCHA, Hidemburgo Gonçalves; PAZ JUNIOR, Francisco Braga da; PAZ, Eliana Santos Lyra da;
HOLANDA, Marcos Antônio Arruda Guerra de. Construção de experimento de baixo custo e de alto interesse social:
montagem de biodigestor caseiro. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 5, p. 30099–30106, 2020.

METZ, Hugo Leonardo. Construção de um biodigestor caseiro para demonstração de produção de biogás e
biofertilizante em escolas situadas em meios urbanos. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em
Formas Alternativas de Energia) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2013.

NOVAES, Adauto (org.). A outra margem do ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

ORNELAS, Ademilso; MESQUITA, Glaucia. Uso do biodigestor caseiro destinado ao tratamento de resíduos orgânicos
domésticos. Revista Uniaraguaia, Goiânia, v. 12, p. 61-69, 2017.

Autoria
Arnaldo Veiga de Sousa; Julia Oliveira Assumpção; Kailani Maria Silva dos Santos; Lucas Alberto
dos Santos; Lyvia Quevedo Bobadilha; Sofia Tozzo Bueno de Lima; Hugo Baptistão Noti Medina
Coeli; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa
Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

LARGADOS E PROTEGIDOS

“A hyperobject could be the very long-lasting product of direct


human manufacture, such as Styrofoam or plastic bags, or the sum
of all the whirring machinery of capitalism. Hyperobjects, then, are
‘hyper’ in relation to some other entity, whether they are directly
manufactured by humans or not. […] Hyperobjects are directly
responsible for what I call the end of the world, rendering both
denialism and apocalyptic environmentalism obsolete”
(Timothy Morton - Hyperobjects, p. 1-2).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

LARGADOS E PROTEGIDOS
Tecelões do Apocalipse

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
Parece que o frio está chegando… sobreviver a um apocalipse zumbi e
morrer congelado não dá, né? Temos que tomar cuidado, pois as
temperaturas podem variar muito durante o ano. Nesse contexto de
reconstrução, no qual recursos são escassos e a sobrevivência é uma
batalha diária, enfrentar os períodos de frio ou calor intensos torna-se
uma prioridade incontestável. Afinal, não há nada melhor do que uma
roupa quentinha (e um chocolate quente) durante o inverno, ou, então,
uma roupa fresquinha (e um sorvetinho) para aproveitar o verão. Enfrentar
oscilações de temperatura em um pós-apocalipse é um desafio adicional
para a sobrevivência, e garantir roupas adequadas e recursos para
enfrentar os diversos climas pode fazer a diferença entre a vida e a morte
em um cenário desolado.

Não morra para o frio! Nem para o calor…


O isolamento térmico é a chave para minimizar a perda de calor do corpo e garante que nosso
sistema biológico funcione de forma eficaz. Para tanto, é preciso considerar confeccionar e
reutilizar roupas com materiais que possuam propriedades isolantes eficientes. Tecidos mais
densos, como lã ou fibras sintéticas (PET), geralmente têm maior capacidade de reter calor,
enquanto tecidos leves e porosos, como algodão ou cânhamo, tendem a ser mais eficientes em
permitir a circulação de ar e em refletir a luz solar. Pensando na sustentabilidade de um
recomeço, a lã e algodão podem ser reutilizados a partir de materiais já existentes. O PET, que
já dominava o mundo pré-apocalíptico, vai assumir outro papel e, por fim, o cânhamo poderá
ser uma boa alternativa de produção nesse cenário.

LÃ: quentinho igual um carneirinho


O uso da lã se dá desde a domesticação de ovinos, 11 mil anos a.C., porém a sua obtenção
pode partir de outros animais como: caprinos, camelídeos da América do Sul, raças de coelho,
e muito mais. A lã é um recurso valioso que oferece grande funcionalidade como isolante
térmico. Como alternativa ao manejo de diferentes animais para obtenção de lã, poderíamos
utilizar fontes preexistentes. Peças de roupa, cobertores e mantas são alguns dos exemplos.
Suas propriedades são fundamentais para reter o calor próximo ao corpo, pois a lã possui
fibras finas e macias, que atuam como pequenos bolsões de ar retendo o calor e formando
uma camada protetora.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

ALGODÃO: a roupinha da semente


O algodoeiro é uma planta do gênero Gossypium spp., que possui um tipo de fruto com fibras
que envolvem as sementes. No mundo pré-apocalíptico, mais de 100 países produziam algodão
em larga escala, a maior parte deles de forma insustentável. Sem dúvidas você irá encontrar
tecidos com algodão ou com lã, reutilizar é a melhor opção.

O algodão é um material com importantes propriedades térmicas. Sua estrutura o configura


como altamente respirável, o que permite a circulação do ar através do tecido e ajuda a
regular a temperatura corporal. Além disso, ele possui alta capacidade de absorção e
liberação da umidade ao absorver o suor do corpo e manter a pele seca e confortável. O
algodão preparado pode ser usado para confeccionar roupas de isolamento térmico, como
camadas intermediárias ou revestimentos. A combinação do algodão devidamente preparado
com outros materiais isolantes, como lã ou fibras sintéticas, pode potencializar ainda mais as
propriedades de retenção de calor.

PET: obrigado, refrigerante!


Reutilizar é fundamental nesse cenário, e garrafas PET podem atuar como uma camada
adicional de isolamento. O PET é um material de baixa condutividade térmica, de modo que
possui a capacidade de reduzir a transferência de calor. Isso ocorre porque o PET é composto
por longas cadeias de moléculas poliméricas que são arranjadas de forma a criar uma
estrutura relativamente compacta, que dificulta a movimentação de calor através do material
e age como uma barreira para a transferência de calor entre o corpo e o ambiente externo.

Para transformar as garrafas PET em material isolante nas vestimentas, você precisa:
4. Transformar o plástico derretido em fibras utilizando um equipamento
1. Coletar e limpar as garrafas PET;
improvisado com uma roda e um pedal, no qual plástico líquido é puxado
2. Cortá-las em pequenas tiras;
através de um bico de saída e esticado enquanto esfria, formando as fibras;
3. Derretê-las em um fogão
5. As fibras devem ser guardadas em local seco e seguro para então serem
improvisado;
utilizadas como enchimento nas roupas para proteger contra o frio intenso.

CÂNHAMO e sua milenar utilidade


O cânhamo é resultante da Cannabis sativa, e as suas fibras (fibras floemáticas) são obtidas
do caule. O cânhamo é uma variedade da Cannabis spp. que possui baixíssimo teor de THC
(sem efeito psicoativo). Há registros de sua ocorrência no período neolítico de 12 mil anos a.C.
na Ásia Central. As primeiras bíblias e livros foram impressos da mistura de papéis e trapos de
cânhamo! A sua produção no mundo pré-apocaliptico era de menos de 0,5% entre as fibras
naturais.

A planta exige uma baixa irrigação de água e é resistente a pragas agrícolas, o que
praticamente dispensa o uso de agrotóxico. A fibra extraída é extremamente resistente a
abrasão e altas temperaturas. As roupas terão como características primárias a leveza, alta
capilaridade, porosidade, proteção aos raios UV, alta absorção e liberação de umidade. Suas
fibras também são hipoalergênicas e antibacterianas. Com tanta matéria orgânica em
decomposição, é melhor se proteger dos germes.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Construção de camadas: pega casaco, bota casaco, tira casaco...


Construir camadas de roupas é fundamental para extrair todo o potencial da sua vestimenta.
Priorizar tecidos mais finos como o algodão na primeira pele diminui o risco de atrito que
materiais mais grossos têm com o corpo, por exemplo. Já na camada mais externa é
recomendável utilizar materiais mais robustos, como o PET. Além de isolante e impermeável, ele
impede a absorção nas camadas mais internas – em situações de chuva ou granizo (nunca se
sabe).

Tingir as roupas também é uma boa!


Todos já ouvimos que usar roupas pretas em dias quentes causa mais calor, não é mesmo? E
essa fala está correta! A cor é a impressão que a luz refletida ou absorvida pelos corpos
produz nos olhos e, quanto mais escura, mais luz e calor ela absorve. Assim, roupas de tons
escuros são uma boa opção em climas frios, nos quais a absorção de calor é desejada para
manter o corpo aquecido. Por outro lado, cores claras, como branco ou tons pastéis, refletem
mais a luz solar. Isso significa que roupas com essas cores são ideais para ambientes quentes,
pois ajudam a reduzir o acúmulo de calor e proporcionam uma sensação de frescor.

Acessórios
É possível manter a autoestima e a identidade pessoal por meio da criação de acessórios
repensados de maneira sustentável.

Referências
CHANDRAMOHAN, D.; MARIMUTHU, K. A review on natural fibers. International Journal of Research and Reviews in
Applied Sciences, v. 8, n. 2, p. 194-206, 2011.

CHEN, Yongfang; ZHAO, Bencheng; ZHANG, Hanlin; ZHANG, Tao; YANG, Dongya; QIU, Fengxian. Laminated PET-based
membranes with sweat transportation and dual thermal insulation properties. Chemical Engineering Journal, v. 450,
138177, 2022.

KHAN, Muhammad Azam; WAHID, Abdul; AHMAD, Maqsood; TAHIR, Muhammad Tayab; AHMED, Mukhtar; AHMAD, Shakeel;
HASANUZZAMAN, Mirza. World Cotton Production and Consumption: An Overview. In: Ahmad, S.; Hasanuzzaman, M. (eds).
Cotton Production and Uses. Springer: Singapore, 2020. p. 1-7.

KHAN, Belas Ahmed; WANG, Jing. Antibacterial properties of hemp hurd powder against E. coli. Journal of Applied
Polymer Science, v. 132, n. 10, 2015.

PAMINTO, Joko; FIANTI, Fianti; YULIANTI, Ian. The Effect of Surface Color on the Absorption of Solar Radiation. Physics
Communication, v. 5, n. 1, p. 27-32, 2021.

SANTOS, Virgínia; MARTINS, Ângela; SILVESTRE, Mário; SILVA, Severiano; AZEVEDO, Jorge. A história da lã: da
domesticação à atualidade. História da Ciência e Ensino: Construindo interfaces, v. 20, p. 65-76, 2019.

SHAHZAD, Asim. Hemp fiber and its composites–a review. Journal of composite materials, v. 46, n. 8, p. 973-986, 2012.

SONG, G. Thermal insulation properties of textiles and clothing. In: Williams, J. T. (Ed.). Textiles for Cold Weather
Apparel. Woodhead Publishing, 2009. p. 19-32.

VERÍSSIMO, Cecília José. Tolerância ao calor em ovelhas lanadas e deslanadas, em Nova Odessa, Estado de São Paulo.
Disponível em: http://www.iz.sp.gov.br/pdfs/1244577959.pdf. Acesso em: 15 out. 2023.

ZHANG, Hongjie; ZHONG, Zhili; FENG, Lili. Advances in the performance and application of hemp fiber. International
Journal of Simulation Systems, Science & Technology, v. 17, n. 9, p. 18, 2016.

Autoria
Isaque Duarte Batista; Isabelle Veiga; João Inacio Rodrigues Alves; Maria Eduarda Freitas
Barbosa; Mário Roberto B. Osorio Filho; Polyana B. Mercer; Maitê Thainara Barth; Roberto Dalmo
Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa;
Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

MODA PÓS-APOCALÍPTICA

“Os fungos são sobreviventes veteranos das perturbações


ecológicas. Sua capacidade de perseverar - e muitas vezes
prosperar - em períodos de mudanças catastróficas é uma de
suas características definidoras. São criativos, flexíveis e
colaborativos. Com grande parte da vida na Terra ameaçada
pela atividade humana, haveria formas de nos associarmos aos
fungos para que sejamos mais bem adaptados?”
(Merlyn Sheldrake - A trama da vida, p. 197).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

MODA PÓS-APOCALÍPTICA
Estilistas fúngicos

s r u í n a s
a n d o d a
B r o t
Como é a produção do que estamos vestindo? Essa é uma pergunta
que poucos se faziam antes do apocalipse zumbi, afinal, por que se
preocupar com a forma como as roupas são produzidas, os
impactos no meio ambiente e o descarte desses bens se o
importante era estar na moda? A indústria têxtil era o segundo
segmento que mais poluía o meio ambiente, com consumo de água
elevado e corantes tóxicos, por exemplo, tudo isso para lançar uma
novidade a cada estação. Daqui em diante, vamos ter que pensar
em como produziremos o que vestimos para não repetir a moda do
passado.

Alternativas para uma produção têxtil consciente, ética e responsável


Na realidade pós-apocalíptica, precisamos repensar a forma como nos vestimos e como
consumimos moda, buscando alternativas sustentáveis e conscientes. Vamos explorar ideias
incríveis juntos, já que não queremos repetir os erros do passado, certo?

Em um primeiro momento, vivendo num mundo onde a produção em massa não é mais viável,
podemos utilizar nossas habilidades de costura e criatividade para transformar roupas antigas
em novas peças únicas, enquanto garantimos que as roupas sejam duradouras e confortáveis.
Dessa forma, evitamos desperdícios e prolongamos a vida útil desses materiais ao utilizar
tecidos que geram pouco atrito, o que impede o desgaste precoce. Além disso, ajudamos a
limpar o meio ambiente, incluindo oceanos e rios, onde muitos materiais plásticos acumulam-se
como herança do mundo antigo. Essa abordagem segura e sustentável é uma alternativa mais
consciente do que criar novos produtos e repetir os erros antigos. Há tecnologias, como que
foram utilizadas para a produção têxtil, conhecidas como projeto B-SEArcular e ECONYL®.
Essas produções reutilizavam esses plásticos depois de um processo de regeneração e
purificação, economizando água e energia e, além de emitir menos gases poluentes,
consequentemente mitigava o plástico do Meio Ambiente.

Porém a criação de novos tecidos é inevitável, por isso, repensar as matérias-primas é


essencial. Organismos como os fungos podem ser utilizados na produção de tecido. As
indígenas yanomami coletavam a “raiz” de um fungo específico, o Marasmius yanomami, que é
fibrosa e resistente a ponto de poder ser utilizada em cestarias. No entanto, diversas pesquisas
do mundo antigo mostraram que várias espécies de fungo podem ser utilizadas na fabricação
têxtil, com a possibilidade de resultar em desde tecidos leves até semelhantes ao couro, o que
torna essa fabricação uma ótima alternativa devido ao fácil crescimento dos fungos – tanto na
natureza como em laboratório, dificultando a contaminação e a mutação. Por isso, não precisa
ficar preocupado, leitor, já que a possibilidade de mutação desses fungos é baixa. Além dos
fungos, há tecidos que podem ser feitos de bactérias do gênero Acetobacter a partir da
celulose bacteriana, a qual é um polímero que possui a mesma composição química da
celulose vegetal (molécula a seguir), mas difere no arranjo da estrutura cristalina.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Molécula da celulose
Fonte: Wikimedia Commons - domínio público.

Essa estrutura, ao passar por processos como estetização, modulação de propriedades físico-
químicas e coloração, resulta em um material que pode ser utilizado como tecido. Os produtos
desses cultivos são tecidos biodegradáveis que auxiliam na diminuição de resíduos têxtil, além
de necessitarem menos espaço, energia e água do que os métodos já conhecidos.

Também podemos utilizar uma matéria-prima vegetal. Não, não estamos falando do algodão,
um dos maiores consumidores de água e agrotóxicos das antigas plantações, pois precisamos
encontrar soluções que se adaptem às condições pós-apocalípticas. Os cactos são plantas
resistentes que demandam pouca manutenção e que podem fornecer fibras para a produção
de tecidos semelhantes ao couro. Além do cacto, pode-se utilizar abacaxi, maçã, e até
resíduos da uva provindos da produção do vinho para a fabricação desse couro vegetal. Ao
escolher essas plantas, estamos valorizando a sustentabilidade e a adaptação ao nosso novo
mundo.

Uma ideia que pode ter vindo na sua cabeça é utilizar materiais de origem animal. Lembre-se,
devemos nos relacionar bem com os outros seres desse planeta, eles necessitam de cuidado,
espaço, alimento e muita água, mas, em alguns casos, como em regiões de clima frio, tipo o
frio do “Djanho” de Curitiba, a lã pode ser uma opção viável, desde que em pequena escala.
Criar um pequeno rebanho de ovelhas, com cuidado e respeito, irá nos permitir obter lã de
maneira ética e sem comprometer o equilíbrio ecológico.

Vamos trabalhar juntos nesse pós-apocalipse repensando hábitos e utilizando soluções


sustentáveis para criar uma moda consciente que respeite nosso planeta e suas limitações.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Referências
DUARTE, Éden Batista; ANDRADE, Fábia Karine; LIMA, Helder Levi Silva; NASCIMENTO, Eligenes Sampaio do; CARNEIRO,
Maria José Magalhães; BORGES, Maria de Fatima; LUZ, Erika Patrícia Chagas Gomes; CHAGAS, Bruna Santana das;
ROSA, Morsyleide de Freitas. Celulose Bacteriana: Propriedades, Meios Fermentativos e Aplicações. Fortaleza: Embrapa
Agroindústria Tropical, 2019.

ELSACKER, Elise; ZHANG, Meng; DADE‐ROBERTSON, Martyn. Fungal Engineered Living Materials: The Viability of Pure
Mycelium Materials with Self‐Healing Functionalities. Advanced Functional Materials, v. 33, n. 29, 2301875, 2023.

EPSON. BSearcular, moda e têxtil sustentável. Disponível em: https://www.epson.pt/bsearcular. Acesso em: 12 jun.
2023.

JONES, Frances. Roupas feitas por bactérias. Pesquisa Fapesp, São Paulo, n. 291, 2020.

SCHNEIDER, Thaissa; FERNANDES, Karolyne Mylena Behling; PEREIRA, Laura Pedri. O couro e suas alternativas: uma análise
do seu uso no mercado da moda. Revista e-TECH: Tecnologias para Competitividade Industrial, v. 15, n. 1, 2022.

VACARU, V. Textile Eco - un trend în moda sustenabilă. In: TECHNICAL SCIENTIFIC CONFERENCE OF UNDERGRADUATE,
MASTER AND PHD STUDENTS, 2022, Chişinău. Works of the Conference, v. 2, Chişinău, 2022.

YANOMAMI, Floriza da Cruz Pinto; VIEIRA, Marina A. R. De Mattos; ISHIKAWA, Noemia Kazue (orgs.). Përɨsɨ: Marasmius
yanomami: o fungo que as mulheres yanomami usam na cestaria. Saberes da floresta Yanomami, v. 18. São Paulo: Instituto
Socioambiental; São Gabriel da Cachoeira: Associação de Mulheres Yanomami Kumirãyõma, 2019.

Autoria
Glaucio Martins; Keshili Martins; Lucas Antunes Felix; Mateus Dembiski Antunes de Souza; Matheus
Palmeira da Silva; Pollyana Brito; Vitoria Stephany de Freitas; Paulo Henrique Taborda; Thais
Guedes Guida; Hugo Baptistão Noti Medina Coeli; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira;
Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Terra, Fogo, Vento, Água...


Sementes? VAI, PLANETA!!!

“As plantas são os verdadeiros mediadores: são os primeiros


olhos que se colocaram e abriram para o mundo, são o olhar
que consegue percebê-lo em todas as suas formas. O mundo é
antes de tudo o que as plantas souberam fazer dele”
(Emanuele Coccia - A vida das plantas, p. 26).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Terra, Fogo, Vento, Água...


Sementes? VAI, PLANETA!!!
Groots

s r u í n a s
a n d o d a
Br o t
Desde o início do mundo, a coexistência com a natureza foi
essencialmente necessária para a sobrevivência dos seres humanos. Em um
ambiente pós-apocalíptico, onde as condições de vida podem ser
desafiadoras, não seria diferente, pois as florestas são uma fonte vital de
recursos para a nossa subsistência. Você encontrará aqui informações
valiosas para uma coexistência harmoniosa entre os seres humanos e as
florestas, afinal, adotar práticas sustentáveis é crucial para garantir a
preservação das florestas e a qualidade de vida de todos os envolvidos.

Uma nova coexistência com a natureza: germinação de sementes


Uma muda pode ser obtida a partir de partes da planta, como o caule ou a raiz. Porém, essa
técnica reproduz um clone (mesma genética) da planta original. Isso não é bom para
reflorestarmos. Quanto maior a variação genética entre as plantas, maior a possibilidade de
que elas sejam resistentes a doenças ou a condições extremas do clima, por exemplo. Por isso
usamos sementes para a produção de novas mudas. A semente gera uma nova planta com
maior variabilidade genética porque é o produto da reprodução sexuada. Para garantir ainda
mais variabilidade, o ideal é coletar sementes de diferentes indivíduos da mesma espécie.

Antes de coletá-las, é necessário conhecer as características da espécie, como o clima em


que sobrevive, o solo e a época de frutificação. Algumas sementes possuem o tegumento
(casca externa) rígido e pouco permeável à água. Essa é uma forma de adaptação que a
coloca em dormência quando a umidade, a luz solar ou a temperatura não são ideais. A
técnica para quebra da dormência dependerá da espécie. Você pode usar uma lixa para
atrito (escarificação física), imersão em ácido (escarificação química) ou água quente, ou
alternar temperaturas (choque térmico). Na tabela constam algumas espécies que podem ser
usadas para iniciar a restauração em diferentes biomas.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

TEMP. TÉCNICA QUEBRA


ESPÉCIE BIOMA LUZ UMIDADE FRUTIFICAÇÃO
(°C) DORMÊNCIA

Armazenar em
Castanheira
Média Dezembro a substrato úmido por 4
(Bertholletia Amazônia 26 Solo bem drenado
luminosidade março meses, depois
excelsa)
descascar

Solo Imersão em água


Juazeiro (Ziziphus Ambiente
Caatinga 20 a 30 moderadamente Junho a julho quente (70 °C), por 30
joazeiro) sombreado
irrigado minutos

Tamboril do cerrado Solo


Ambiente
(Enterolobium Cerrado 26 moderadamente Maio a agosto Escarificação com lixa
sombreado
gummiferum) irrigado

Guapuruvu Imersão em água


Mata Alta Solo bem irrigado
(Schizolobium 30 Abril a agosto fervente (95 °C), por 4
Atlântica luminosidade e drenado
parahyba) a 10 minutos

Armazenar em gelo,
Solo
Butiá (Butia Média dentro de um saco
Pampa 25 moderadamente Janeiro a abril
odorata) luminosidade plástico, por 1 a 3
irrigado
semanas

Abobreira Média Agosto a Escarificação química


Pantanal 20 a 30 Solo bem irrigado
(Samanea tubulosa) luminosidade novembro com ácido sulfúrico

É necessário que você esteja muito atento ao ambiente que deseja germinar as sementes.
Conforme mostrado na tabela acima, a temperatura e a luz são fatores importantes. A
temperatura é responsável pela velocidade da absorção da água e também por processos
bioquímicos que regulam o processo metabólico. A temperatura ideal é aquela em que ocorre
o maior número de germinação em menos tempo. A luz desempenha um papel essencial na
existência das plantas, afetando processos como a fotossíntese e diversos fenômenos
fisiológicos, incluindo o crescimento, desenvolvimento e a morfologia das plantas. As plantas
também reagem às alterações na proporção de luz e escuridão que ocorrem em um ciclo de
24 horas, um fenômeno conhecido como fotoperiodismo. Em muitas espécies o fotoperíodo é o
responsável pela germinação das sementes, desenvolvimento da planta e formação de bulbos
e flores.

As árvores são recursos importantes que podem ajudar no processo de reconstrução de um


mundo pós-apocalíptico ao fornecer madeira para construção de abrigos, lenha para
aquecimento, cozimento de alimentos ou outros fins. Além disso, algumas plantas encontradas
nas florestas também podem ser usadas para fins medicinais, já que muitas espécies contêm
compostos químicos que possuem propriedades terapêuticas. A seguir listamos algumas
árvores que poderiam ser úteis nesse processo.

Salgueiro: É uma árvore que cresce rapidamente e produz uma madeira macia, mas
resistente. Sua casca contém ácido salicílico, que pode ser usado como analgésico
natural.

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14
Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Mogno: Considerada uma árvore tropical que produz madeira valiosa, o mogno
também é conhecido por sua durabilidade e resistência a cupins e outros insetos. A
madeira dela é frequentemente usada em construções de alta qualidade, como móveis
finos e instrumentos musicais.

Pinheiro: Essa árvore é valorizada por sua madeira resistente e durável, que também
pode ser usada na construção de abrigos e móveis. Além disso, algumas espécies de
pinheiro produzem cones de pinhões, frutos que são uma fonte de alimento nutritivo.

Árvores frutíferas: macieiras, laranjeiras, pereiras, entre outras, são fontes de alimento
nutritivo e saboroso. Elas podem ser plantadas em pomares para fornecer frutas para
consumo próprio (ou, posteriormente, para venda).

Álamo: O álamo é uma árvore de crescimento rápido que produz uma madeira leve e
macia. Além disso, suas folhas têm propriedades medicinais que podem ser utilizadas
para o tratamento de doenças respiratórias.

Referências
BIANCHETTI, Arnaldo; RAMOS, Adson. Quebra de dormência de sementes de Guapuruvu (Schizolobium parahyba (Vellozo)
Blake). Boletim de Pesquisa Florestal, Colombo, n. 3, p. 69-76, 1981.

CARVALHO, Paulo Ernani Ramalho. Juazeiro (Ziziphus joazeiro). Circular Técnica 139. Colombo: Embrapa, 2007.

EVANGELISTA, Joziane Silva; NEVES, Ezaquiel de Souza; AZEVEDO, Valéria Rigamonte; WADT, Lúcia Helena de Oliveira.
Germinação de sementes de castanheira para produção de mudas. In: SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA
EMBRAPA ACRE, 1., 2018, Rio Branco. Anais... Rio Branco: BDPA, 2018. p. 1-7.

FONSECA, Marina de Magalhães da. Biologia reprodutiva de Butia odorata (Barb. Rodr.) Noblick. 2014. Dissertação
(Mestrado em Fitomelhoramento) – Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas,
2014.

HARAGUCHI, Linete Maria Menzenga; CARVALHO, Oswaldo Barretto de. Plantas Medicinais: do curso de plantas
medicinais. São Paulo: Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Divisão Técnica Escola Municipal de
Jardinagem, 2010.

MARCHI, Marene Machado; BARBIERI, Rosa Lía; SILVA, Patrick Silva da; MISTURA, Claudete Clarice. Como Produzir
Mudas de Butiá (Butia odorata – Arecaceae). Comunicado Técnico 359. Pelotas: Embrapa, 2018.

ROCHA, Ana Patrícia. Estabelecimento de protocolo para análise de germinação de sementes de Zizyphus
joazeiro Mart. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) - Departamento de Ciência Florestal, Universidade
Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2010.

SALES, Anna Gorett de Figueiredo Almeida. Dormência, germinação e vigor de sementes de Parkia pendula (Willd.)
Benth. ex Walpers e Samanea tubulosa (Benth.) Barneby & Grimes. 2009. Dissertação (Mestrado em Ciências
Florestais) – Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2009.

SOUZA, Maíra Jéssica Gomes de. Biometria de sementes e desenvolvimento pós seminal de alata, Enterolobium
gummiferum e Magonia pubescens e do sombreamento na germinação e/ou desenvolvimento inicial dessas
espécies. 2019. Dissertação (Mestrado em Biodiversidade, Ecologia e Conservação) - Pós-Graduação em Biodiversidade,
Ecologia e Conservação, Universidade Federal do Tocantins, Porto Nacional, 2019.

Autoria
Analuiza Alves da Cruz; Eric Gabriel de Paula Alves; Heloisa Ribeiro; Maria Eduarda Sant'Anna
Abreu; Patricia dos Reis Platner; Gabriela da Silva Chiarelli; Thais Guedes Guida; Paulo Henrique
Taborda; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro da Rocha; Patrícia Barbosa
Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin. 71
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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Se correr o bicho pega, se


ficar o bicho…

“‘Nós nas aldeias e vocês nos quilombos fazaemos uns caminhos que às
vezes não têm nem um metro de largura. E por esses caminhos passam os
animais, as onças, os tatus, as pessoas. Todos os viventes do ambiente
passam por esses caminhos sem conflito, sem se atacarem. Chegam os
colonialistas, porém, e alargam esses caminhos, fazem eles com seis
metros, e ai só passa carro.Não passa mais gente, não passa mais porco
nem onça. Como é que nossos caminhos, que têm apenas um metro, cabe
tudo, e nos deles, que têm seis metros, só cabe um carro?’, me perguntou
certa vez uma indígena”
(Antônio Bispo dos Santos - A terra dá, a terra quer, p. 58).

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Se correr o bicho pega, se


ficar o bicho…
UM BANDO DE ANIMAIS

s r u í n a s
a n d o d a
Br o t
A luta contra os zumbis foi longa, vidas foram perdidas, parte do mundo
foi danificado pelas armas utilizadas na ofensiva e agora os animais não
humanos voltam a ocupar os espaços que antes os pertenciam.
Nós, os sobreviventes, estabelecemos uma relação harmoniosa com os
animais ao perceber que é primordial não mais vê-los como mera fonte de
consumo e exploração, mas como seres dignos de respeito. A convivência
baseia-se em uma coexistência sustentável e saudável.
As comunidades buscam viver não apenas para sobreviver, mas
conscientes do seu impacto no mundo, reconhecendo que nossa espécie
nos conduziu a essa situação.

MAPEAR: Cooperar e coexistir


Na nossa hipótese, nesse mundo pós-apocalíptico, comunidades foram reconstruídas em
ambientes remanescentes e os aprendizados foram transmitidos por gerações mais antigas. A
troca de conhecimento e de experiências é fundamental para a reconexão dos seres humanos
com o mundo. É preciso reconhecer a importância intrínseca de todas as formas de vida na
Terra e construir uma relação mais justa e igualitária entre humanos e animais, capaz de levar
em conta não apenas suas necessidades materiais, mas também suas dimensões éticas e
culturais. São remanescentes os saberes promovido pela Educação ambiental; Inventário de
fauna – Estudo do comportamento das espécies; Estudo de ecossistemas; Conservação de
espécies.

Manual 1: dinâmica ecológica e redução de impacto


Este guia objetiva fornecer informações e orientações práticas para preservar e conviver com
a fauna. Será crucial adotar medidas responsáveis para minimizar nosso impacto ambiental e
promover a sobrevivência sustentável.

Proteção da Vida Selvagem: A biodiversidade é crucial para a recuperação ecológica, o


que torna indispensável adotar práticas sustentáveis ​para minimizar o impacto ambiental
considerando a diversidade presente. Crie reservas naturais ou áreas de conservação para
a fauna e a flora remanescentes, isso evitará a caça indiscriminada e incentivará a
reprodução e a diversidade.

Educação e Conscientização: Compartilhe conhecimentos sobre práticas ecológicas


comunitárias promovendo a educação ambiental e incentivando a colaboração entre os
sobreviventes. Para isso, organize oficinas e palestras para troca de ideias e experiências
sobre como viver de forma mais harmoniosa e responsável com outros animais.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Manual 2: estilo de vida consciente com a fauna no cenário pós apocalíptico


Atente-se a um estilo de vida que respeite e proteja a fauna remanescente, pois é crucial a
adoção de práticas que minimizem o impacto negativo no ambiente e promovam a
coexistência.

Eduque-se sobre a fauna local e o impacto humano: Aprenda sobre as espécies


nativas, seus hábitos, necessidades, sua importância para o ecossistema, bem como sobre
as atividades humanas que ameaçam a fauna e busque alternativas sustentáveis. Também
é possível acessar livros e catálogos de bibliotecas e órgãos ambientais sobre os animais e
seus comportamentos na região em que você está inserido, com isso você terá noção sobre
possíveis encontros com espécies silvestres e não será pego tão de surpresa . 1

Evite a destruição de habitats naturais: Não desmate desnecessariamente, evite a


poluição de rios e lagos e minimize a urbanização em áreas selvagens.

Restaure ecossistemas degradados: Participe de projetos de recuperação ambiental,


como reflorestamento e restauração de áreas danificadas.

Respeite a vida selvagem: Não cace, capture ou maltrate animais selvagens. Lembre-se
de que você compartilha o planeta com eles.

Evite a perturbação de habitats: Ao visitar áreas naturais, mantenha-se em trilhas


designadas e evite perturbar a fauna ou seus habitats.

Contribua para organizações e projetos de conservação que trabalham para proteger e


preservar a fauna.

Monitoramento da fauna nas imediações: Para conhecer a sua “vizinhança” e se


preparar da melhor forma para os possíveis encontros é recomendável criar bancos de
areia ou cercas guias com sensores.

No banco de areia, conforme os animais


passam, suas pegadas ficam marcadas.
Com a ajuda de um catálogo, você
poderá estimar o animal que ali passou.
Esse artifício terá mais sucesso com
mamíferos, e você poderá colocá-lo em
trilheiros ou próximo a córregos
juntamente com isca ou almíscar para
atrair o animal caso queira avistá-lo.

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Conhecimentos que você precisa para reconstruir...

Podemos utilizar cercas


guias para levar os
animais onde está
posicionada uma balança
e sensores de presença,
assim poderemos verificar
a massa e altura desse
animal2 .

Notas:

1 Com o apocalipse, algumas espécies podem ter alterado sua distribuição geográfica, logo, a
literatura pode não refletir a realidade pós-apocalipse, então anote todos os animais
diferentes para que sua comunidade seja fortalecida.

2
Para estimar a altura, faça um sistema de sensores de presença aproveitando controles
remotos de aparelhos antigos. Com os componentes, monte um circuito que emita um sinal de
infravermelho ininterrupto, o qual, ao ser bloqueado por algum obstáculo, acenderá um LED
que servirá para o controle. Os sensores podem ser posicionados a cada 20 cm em duas
hastes verticais, o conjunto indicará a altura estimada do animal de acordo com o número de
LEDs acesos.

Referências
HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos da Física - vol. 4. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2022.

INFANTE, Maisa. Com tecnologia e educação ambiental, a ViaFAUNA quer reduzir o atropelamento de animais nas
rodovias. Draft, 11 jun. 2018. Disponível em: https://www.projetodraft.com/com-tecnologia-e-educacao-ambiental-a-via-
fauna-quer-reduzir-o-atropelamento-de-animais-nas-rodovias-do-pais/. Acesso em: 5 jul. 2023.

SUINÃ INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Inventário de Fauna: Uma prosa rápida. Suinã Instituto Socioambiental, 27 jun.
2022.
Disponível em: https://www.institutosuina.org/post/inventário-de-fauna-uma-prosa-rápida. Acesso em: 7 jul. 2023.

WAGNER, Rambo. SENSOR INFRAVERMELHO (SIMPLES E EFICAZ), 9 out. 2021. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=-741VwuNmIk. Acesso em: 5 jul. 2023.

Autoria
Guilherme Aparecido Rosa; Gustavo Brizola da Silva; Iohana Polli do Prado; Melissa Spíndola
Estevam; Rodrigo Barcelos Lefebvre; Roberto Dalmo Oliveira; Gabriela Ferreira; Amanda Ribeiro
da Rocha; Patrícia Barbosa Pereira; Ivanilda Higa; Everton Bedin.
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Referências das aberturas dos capítulos
COCCIA, Emanuele. A vida das plantas: uma metafísica da mistura. Florianópolis: Cultura e Barbárie Editora, 2018.

DANOWSKI, Déborah; CASTRO, Eduardo Viveiros de. Há mundo por vir?: ensaio sobre os medos e os fins. São Paulo:
Instituto Socioambiental (ISA); Florianópolis: Cultura e Barbárie Editora, 2017.

GODFREY-SMITH, Peter. Metazoa: A vida animal e o despertar da mente. São Paulo: Todavia, 2022.

HARAWAY, Donna. Ficar com o problema: fazer parentes no chthluceno. São Paulo: Editora n-1, 2023

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

KRENAK, Ailton. Futuro ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

KRENAK, Ailton. Radicalmente vivos. O lugar, 2020.

KRENAK, Ailton. A vida não é útil: ideias para salvar a humanidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

MORTON, Timothy. Hyperobjects: Philosophy and Ecology after the End of the World. Minnesota: University of Minnesota
Press, 2013.

SANTOS, Antônio. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu, 2023

SHELDRAKE, Merlin. Trama da vida: como os fungos constroem o mundo. São Paulo: Fósforo Editora, 2021.

STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

TSING, Anna. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas, 2019.

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É com enorme prazer que apresentamos à comunidade de sobreviventes o
material elaborado pelos estudantes. Iniciamos o livro com o capítulo da
Stefany Stettler no qual a autora apresenta a alegoria do zumbi e sua
potência para pensar questões ambientais no momento que chamamos de
antropoceno. Em seguida você poderá contar com 15 capítulos sobre os
mais diversos temas: combustíveis; rejeitos; habitações ecológicas para
diversos espaços do globo envolvendo a preocupação com questões
térmicas; recursos energético nos âmbitos da produção e do consumo;
vestimentas, bem como os relacionamentos com os diversos biomas e
espécies mais que humanas, entre outros que apresentarão estratégias
divertidas para pensar o mundo interconectando ciências tradicionais e
modernas. Esperamos que este livro não apenas horrorize ou gere
angústia, mas promova esperanças ao fazer perceber que a juventude está
engajada em pensar novos modos de vida – em contraposição à crise
ambiental e à injustiça climática que se apresentam.

Os/as organizadores/as.

@OPOMBOCIBORGUE
LiDEC

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