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Joseph Fabry

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Tílulo 0riginal: Guideposts to Meaning
Copyright: Joseph Fabry - 1988

Direitos cxclusivos da ediça0' em língua portuguesa no Brasil


adquiridos pela ECE - Edizora de Cultura Espirizual - que se
reserva a propriedade desta traduçãa

Dados dc Calalogação na Publicação (ClP) lntcmacional


(Camam^ Brasüeua' do Livro, SP, Brasil)
lnd1"cespamcatal'ogosnstc'man"co:1.Logoterapia:Medicina616.89l4editorc
Fabry,JosephB.,1930-Aplicaçõespráticasdalogoterapia/JosephFa-bry;ltraduçãoequipedaECE].--SãoPaulo:ECE,1990.Bib11'ogrufi.¡'.1.LogoterapiaI.TílulolSBN85.85009-15-2CDD-616.89l4'NLM-WM42090-l37l
Joseph Fabry

APLICAÇÚES PRÁTICAS
DA
LO G U TE R A P | A
AGRADECIMENTO

Desejo extemar minha gralidão a alguns logotcrapeulas que desen-


volveram novos métodos de aplicação prática, das idéias do Dr.
Viktor FrankL nos quais esle livro toi baseado. Emrc csscs logole-
rapeutas cito Elisabeth Lukas. Ph.D., direlora do South Gemlan
lnstitutc of Logolherapy, em Munique; Mignon Eiscnberg, Ph.D.,
d1r'etor rcgional do lnstitute ot Logolherapy, em Chicago; lees
Crumbaugh, d1r'et0r regional do lnstitule of Logotherapy, em Biloxi;
James Yoder. diretor regional do lnstitule 01 Logotherapy, na cidadc
de Kansas; Roben Leslie, Ph.D., curador da Viktor Frankl Librdry'.
em Berkeley; H1r'oshi Takashima, M.D., diretor do Japan Sociely ol
Humanistic Amhropology, cm Tóquio; e John Quu'k, logolerapeuta
em Vancouver. Bmish Columbia.

Desejo também agradecer a Carroll TdJ'pers, por suas diversas su-


gestões editoriais, e a Hyman Roudman. pela Ieilura cuidadosa que
dedicou ao meu manuscr1'tu.

Joxrph Fulny
ÍNDICE

Capítnlo Umz Receítaz Uma Busca pelo Signiticado ........ ll


Capítulo Dons': O Diálogo Socrático .................... 25
Capítulo Tres“: Desretlexão .......................... 59
Capnul'o Quatroz Modiiicação das Atitudes ............... 73
Capítulo Cmoo': Guias para o Autoconhecimento ........... 83
Capítulo Scns': Guias para as Escolhas .................. 97
Capítulo Setcz Guias para a Unicidade .................. 115
Capítulo Ono': Guias para a Responsabilidade ............. 133
Capítulo Novc: Guias para a Aulotranscendência .......... 145
Capímlo Dezz Valores .............................. 157
Capítulo Onzez O Sentido no Casamcnto e a Vida Farmhar" .....
171
Capílulo Dozcz Grupos de Companilhamemo ............. 187
Apêndloc' A: Encontrando o Significado Todos os D1as' .......
207
Apêndioe B: O Método "AgLr'-Como-Se" ................ 233
Apcnd1“'ce C: Formular'io sobre o Histórico Pessoal .........
239
Apêndioc D: Leilão de Valores ....................... 243
Apcndlce"' Ez Auto-Estima ........................... 247
Apêndicc F: Objetivos dc Vida ....................... 249
Apêndlcc' Gz Aspüando a Metas Noéticas ................253
Apêndioc Hz Escala de Avaliagào no Reajustmwnto 257. . . .
Blb'liog,raha." .................................... 261
Capítulo Um

RECEITA.'UMA BUSCA PELO SIGNIFICADO

Existem dois tipos de pessoasz as que dízem sim à vida, a despeito


de suas vicissitudes. e as que dizem não à vida, a despeito das boas
coisas que lhes acontecem As que dizem sim geralmente senlem-se
satisteilas e felizes; as que dizem não geralmente sentem-se aliena-
das, frustradas, vazias.

Como a maioria das pessoas. nós provavelmente, nos siluamos entre


esses dois extremos. Adquüimos essa alitudc aLravés das experiên-
cias na intância e, mais tarde na vida, pelo papel que represemamos
e ensinamentos que recebemos. Nossa atitude pode ter mudado du-
rame a vida. É 1m'porlante perceber que podemos mudm de uma ati-
tude negaliva para uma positiva. Se lonnos dos que dizem não. isto
não significa que estejamos destinados a permanecer assim Algumas
pessoas toram ajudadas nessa transtormação pela religia'o, oulras
pela tilosotia e, recentemente, algumas pela psicologia.

A psicologia é uma ciéncia nova. Durdn'te a maior pane dos seus


cem anos de existência, ela vem procurando Cura.r' os que eslào
doentes. O psíquiatra vienense, V1k'tor FrankL toi 0 pn'me1r'o a
12 l'MA BUSCA PbLO SlüNlFlCADO

preocupar-se com os sadios, impedindo-os de se tomarem doentes,


frustrados, desesperados. Frankl desenvolveu suas idéias por volta
de 1930 e testou-as durante dois anos e meio nos campos de c0n-
centração na Alemanha. Quando foi libertado, em 1945, escreveu
o livroz “Diga sim à vida, apesar de tud0". Sob o título: “Man”s
Search tor Meaning”, esse livro vendeu três mühões de exemplares
nos Estados Unidos. Foi traduzido para mais de vinte idiomas, e
trouxe esperança e coníorto a muitas pessoas.

Frankl acredita que para encarar a vida de maneüa positiva é preciso


ter consciência de que a vida tem semido em quaisquer cu'cunstân-
cias, e que temos a capacidade de encomrar esse semido em nossas
vidas. Podemos nos erguer acima das entermidades e dos golpes do
deslin0, se pudennos ver sentido em nossa existência.

Frankl denomina seu sistema de “logolcrapia” - a saúde alravés do


signilicad0. A logoterapia aJuda as pessoas a dizerem sim à vida,
quer seu sotrimento provenha de desajustamentos em suas relaçócs
humanas, problemas com o Lrabalho, doença, culpa, quer pela mone
de um ente querido, quer por diliculdades auto-impostas como a hi-
pocondria, excessiva an^sia por poder, bens mateñais ou prazer.

Este livro descreve as aplicações práticas da logolerapia. Foi escrito


não para os que eslão mentalmente enlennos, mas para os quc eslão
mentalmente em busca de algo. As idéias aqui apresentadas podem
ser usadas por psicólogos, conselheLr'0s, assistentes sociais, sacer-
dotes, enlxermeüag professqres - e também pelos lcitores leigos que
desejam ajudar sua famflia, seus amigos ou a si mesmos. Encontrar
signiticado é o meio mais seguro de superar a alienação, a du'vida, o
desespcro, o vuio e 0 sentimento de não ter conseguido ating1r' ob-
jetivos. O sígnificado nos auxiliará a tomar-nos a pessoa que diz sim
á vida. Se nos decidxrm'os a buscar o significado de nossa vida tere-
mos que entrentar três perguntasz
UMA BUSCA PELO SIGNIHCADO 13

s, . Qual 0 signüicado que estamos buscando?


a Como encontrá-lo?
n- Onde encontrá-lo?
u
”s Que é o Significado?
s
e O signiíicado ocorre em dois níveisz o supremo significado e o sig-
nificado do momento.

o Quando procurarmos o significado supremo devemos ter consciência


n- de que - mesmo semindo-nos desnoneados - existe uma ordem no
s universo e que nós somos parte dcla. Se tormos religiosos, veremos
o essa ordem como ato divino. Se formos human1'stas, veremos essa
ordem aLravés do prisma da ética ou das lcis da natureza. Se formos
cientistas, encontraremos essa ordem nas leis da Iísica, química, as-
o Lronomia, evolução dos seres. Se formos an'islas, poderemos vê-la na
a, hannonia. Se formos ecolog1'stas. veremos essa ordem no equilíbrio
s do ecossistema.
e
i- O supremo signiticado - O signiticado da vida - é-nos inatingíveL E
como o horizonte _ por mais que nos esforcemos jamais consegui-
remos alcançá-lo. Contud0, pwa poder dizer sm~1 à vida, teremos que
o buscm o supremo signilicado mesmo que nunca consigamos atin-
o gi-lo. E ainda que conseguíssemos, e pudéssemos verdadeuamáente
m dizer: “Eu sei qual é 0 signiticado da vida”, estarímos espm"tual-
- mente mortos, pois nada mais nos restaria para tentar obter. O su-
e premo sígniticado é uma questão de té, de suposiçã0, de experiência
ar pessoal. Podemos viver como se a vida tivesse um signüicado e nós
o fizéssemos parte da trama da vida; ou viver como se a vida tosse um
- caos e nós as vítimas indetesas.
m
- Podemos achar desencorajador ler que a vida tem 51'gn1f'icado mas
que não podemos jamais atingi-lo. Felizmente há um segundo nível
14 UMA BUSCA PELO SlGNlHCADO

de signifícado que nós podemos e, na verdade, devemos alcançar pa-


ra levar uma existência plena. E o que Frankl denomma o “signifi-
cado do momento”.

Frankl ahrm'a que somos indivíduos u'm'cos, que atravessamos a vida


numa série de situaçóes únicas e que cada momento oíerece um sen-
tido para preencher - a oponunidade para agu' signiticaúvameme.
lsto pode ser conseguido aLravés do que tazemos, do que sentimos,
mas também das atitudes que assunúmos diante de situações de na-
gédias ineviLáveis. A única conLribuição que a logotcrapia oterece
para a saúde mental é ajudar-nos a ser aquele que diz sim à vida, em
tace de uma tragédia e a encontrar signiticado nas situações mais
caólicas.

Existe um vínculo enlre o supremo signüicado e o signíticado do


momento. Se estivermos cónscios do supremo significado, quer no
contexto religioso 0u secular, sercmos capazes de responder signiti-
cativamente às acepções do moment0. porque lemos uma bússola
interior sempre apomada para 0 significado.

Se não eslivermos cônscios do supremo signüicados 1r'emos resp0n-


der às acepçóes do momenlo da melhor maneüa que pudennos, e no
transcorrer de nossa vida u"emos gradativameme aproximando-nos
da compreensão desse significado.

Como encontrar o significado

Alguns filósolxos. como os existencialistas franceses Sartre e


Camus. declaram que a vida não tem semido, mas que os seres hu-
manos precisam conduzir suas vidas de modo significativa Ponanto,
nós damos à nossa vida o senlido que escolhermos. Os exislencia-
listas alemães, incluindo Viktor FrankL af1rma'm que o sentido exis-
te, e nós temos de descobri-lo. Se déssemos a nós mesmos 0
UMA Bl'SCA PLLO SlUNlHCADU 15

pa- sentido, tomando decisões, diz FrankL a vida seria um borrão ínex-
ifi- pressivo, como o teste de Rorschach, no qum projewíamos qualquer
signiticado que quiséssemos. Frankl vê a vida como um quebra-
cabeça com uma figura escondida - semelhanle ao desenho de linhas
ida confusas formando arv'ores, nuvens, tlores, casas. com uma legenda
en- que diz: “Encontre a bicicleta nesle desenho”. 'l'emos que v1r'ar 0
me. desenho em diversas dLrÀeçóes alé descobm a bicicleta oculta na mis-
os, celânea de Lraços. Da mesma maneu›a, devemos v1r'ar nossa vida em
na- todas as direçóes até encomrm 0 signiticado. Estc nâo nos pode ser
ece dado pela sociedade ou por nossos pais. Nem o psiquiatra pode
em prescrevê-lo como se tosse uma pñula. Ele pode descrever respostas
mais significativas a nossa situação, mas compete-nos descobrü o que nos
é 51'gn1f'icativo.

do Entre as muitas possibilidades que o momenlo nos oferece, como sa-


no ber quais são as mais signiticativas?
iti-
sola Não podemos ter ceneza. Porém se tivermos ajuda poderemos saber.
Embora nunca ames tenhmos passado pela situação específica em
que nos encontramos agora, milhões de pessoas, no decorrer de mi-
0n- lhares de anos, passaram por situações similares e encontrmam res-
no poslas significativas Dessas pessoas nós extraímos os valorcs - os
nos significados universais.

A maior pane dos valores moditica-se lentamente, porém os tunda-


mentais permaneccm Em situaçõcs comuns é aconselhável seguü os
valores da nossa cullura. Eles estão ancorados nos mandmentos
e religiosos, nas leis seculc1r'es. nos coslumes, nas regras de consenso e
hu- na sabedoria de alguns pensadores, como, por excmplo, no autoritá-
to, rio posilivismo de Kant, na passiva resistência de Gandhi, ou na
ia- reverência pcla vida, de Schweilzer.
xis-
0 Hoje os valores eslão em transiçãa Um número cada vez maior de
lÓ UMA BUSCA PELO SlGNlHCADO

pessoas são incapazes de encontrar o signiticado, seguindo cega-


mente os valores tradicionais. Rejcitam os sentidos universais. As
cdanças rcbelam~se comm os valores de seus pais; as mulheres não
se submetem à sociedade machista dominanle; os treqüentadores de
igrejas questionam suas doumnas e os Cidadãos desaprovam as leis
govemamentais. Os homcns estão usando ansiosamente sua liberda-
de para rejeitar valores trad1'cionais. Estão bem menos ansiosos em
encontrar respostas para 0 sentido que se apresenta no momento.
Não estão nem desejando nem conseguindo encontrar essas respos-
tas. Se rejeitamos os valores tradicionais temos que substituí-los por
valores pessoais. ou mergulhamos no caos. Valores e significados
pessoais não são regras moralistas, mas receitas para a saúde. As
conseqüências da ur'esponsabilidade com que lidamos com os signi-
ficados podem gerar neuroses. depressão e suicídi0.

Eis o grande dilemaz aceilar os valores Lradicionais poderá violar


nosso crilério pessoal de significado; encontrar nosso próprio cami-
nho poderá conduzu'-nos à ur'esp0nsabilidade; como reconhecer e
responder ao sentido que o momento nos apresema'?

Dlz' Frankl: '“Síga sua consciência na busca do sign1'ficado". Não


existe nada de novo na religião e na filosofia. A novidade está na
Medicina, onde a consciéncia é menosprezada, e na psicoterapia na-
dicionaL onde o “superego” é considerado como resultante das in-
tluências tamüiares e sociais que chegam ao m'd1'vídu0 através do
meio exterior.

A logotempia vê a consciência como altamente pessoal, uma espécie


de varinha de condão qUP nos ajuda a encontrar 0 sentido em cada
situação especíaL A consciência recebe grande intluência da socie-
dade; contudo, temos a liberdade de seguu' nossa voz interior e de
até mesmo rejeitar os valores sociais. Um método prático é dizer a
nós mesmos: “Para descobrü o significado do momento, em geral
UMA BUSCA PELO SIGNIFICADO l7

ga- apóio-me em meus valores culturais. mas em certas cxr'cunstâncias


As posso assumu' a responsabilidade e ouvu' minha consciêncía”.
não
de A voz da consciência é um atributo especificameme humano e, por-
eis tanto, como tudo o que é humano, pode falhm. Mas é nosso único
da- guia pessoal. Jamais teremos ceneza se estamos sendo bem aconse-
em lhados. Mas como expressou-se Gordon Allport. “podemos esm
nto. apenas meio-certos, e mesmo assim, sinceros". A maior tmeta da 10-
os- goterapia é aguçar 0 ouvido interno, Iorna'-lo mais alerta à voz da
por consciência. Alguns exercícios neste livro têm esta tinalidade.
dos
As Onde encontrar o Significado?
gni-
O signiticado encontra-se em todos os lugar'es, mas só teremos esta
percepção se estivermos sintonizados com ele. É como a música que
olar ouvimos no rádio; 0 ar eslá replcto de ondas sonoras, mas só pode-
mi- remos escutá-las se tívermos um recept0r.
er e
A pesquisa logoterápica estabeleceu que temos um receplor pma en-
trar em sintonia com 0 signitiwda Frankl denominou de espírito
Não humano nosso instrumento para encontm o signitiwdu Prccisamos
na tomar-nos Ciemes de que 0 possuímos, do que cle comém e de como
na- usá-lo.
in-
do 0 espírito humano é uma dimensão especiíicamente humana e c0n-
lém possibilidadcs que outras criuluras não possuem Qualqucr ser
humano é esthuaL pois o espírito é a essência do homem. 1"emos
écie um corpo que pode adoecer; temos uma mente que pode comurbm-
ada se. Mas o espmlto é 0 que somos. É o am^ago de nossa saúde.
cie-
e de Assim como a mente, 0 espírito é invisível; contudo, há uma dile-
er a rença entre ambos. Na mente somos conduzidos pelas emoções, pelo
eral instinto e pelas necessidades. No cspírito somos comandantes.
18 LEMA BUSCA PELO Sl(i\¡'ll*l('¡\l)()

Tommos decisóes sobre o que Iazer com nossas mou'vaçóes. com


nosso corpo - scja clc saudável ou não ~ com as circunstâncias nas
quais nos cnconlramos. O cspírllo é a ar"ea da liberdade humana. mas
tamoém da sua rcsponsabilidade. Pdr'a levmos uma vida plcna. de-
vemos assegurmmos de que possuímos um colre com essc tcsouro
espmtum dcmro de nós, e devemos aprendcr como utilizm seu
comcu'do.

As riquezas do espírito humano

0 espírito humano podcria também scr chamado dc colrc mcdicinal


da logolcrap1'a. Assim como acontece com todos os medicamentos.
precisamos descobnr' que eles existem e que devemos aprender como
usá-los. Eles estão livres, c apenas esperando. dentro dc nós. pma
ser ulilizados. Aqui estão algumas riquezas do espírilo humano:

O ANSEIO PELO SIGNIFICADO

Esta é a u mais lorle motivação pma vivcr e atuar'. ()s homens são
seres que buscam 0 signilicada Perceber 0 signiticado de nossas vi-
das Capacita-os a dcsenvolvcr nossas possibilidades c tolcrm as dcs~
venturas. 0 Criador da psicoterapia. Sigmund Frcud, considcrava 0
desejo do prazer como a mais poderosa torça mou'vadoru. Altred
Adlcr. discípulo de Freud (que toi prolessor dc Frunkl). consídcruvu
o desejo de poder, o mais inlluente incemivo. Ambos são imponan-
lesz ugmws pmu obtcr prazcr c adquim podcr. Porém, dc ucordo
, A _.4

com FrunkL o prazer não é a meta principuL Ele é o sub-produto dc


algo que loi signilkaiivu () podcr nào é o lün cm si mcsmo, mas
apenas o meio pma alingú um lim que é obtido pelo uso do podcr dc
Iorma signiticativa. Us signiliwdos não são nem os subprodulos
ncm os mcios pmu mcunçm um 1u'n. O sigmlicado é a meta linuL Sc
nosso unseio pclo signüicudo lor ignorado ou rcprinu'do, nos
senumos vazios.
.A:àm-. _
UI\1/\BLI.S'CAPlzLUSl(iNll<lCAl)0 19

com 1'ARL"'FA ()R1L”Nl› AD'0RA


nas
mas Pma sentirmo-n05 rcalizados, neccssitmos wrclas quc cstqm a
de- nossu espera, lanto a curto como a longo praLo. Dcvcm scr larelas
ouro quc nós cscolhcmos c não que lomos lorçados a exccutar (cmb0ra
seu possamos livrememe Concordar cm Iazcr algo quc nos Ioi pcdido).
Compromcrtcr-nos com uma tmela ajuda-nos a livrur-nos das ncuro-
ses e depresso'es, conlona-nos em pcríodos dilíceis e cvila rccaídasu
O valor curativo da uma lmcta é ainda maior quundo scnumos quc
unicamenle nós podcmos conscgui-la ou quc somos qucm mclhor
cinal
pode íazê-la.
ntos.
omo CUNSCIÉNCIA
pma
Esta é a agulha da bússola que apoma para a direção do signilicado
do r.10mento. A voz da consciêncía é lraca c gcralmcmc abuíada,
mas nossa habilidade para ouvir e obedecê-la podc aliviar angústias
c conllitos menlais.

s são AUTOTRANSCENDENUA
s vi-
dcs~ É a laculdadc dc 1r' além de nós mesmos, cm ducção a outrus pcs-
ava 0 soas para amar ou a causas pelas quais lular. A uulotrunscendônciu é
ltred um dos mais tortcs elemenlos Contidos no colre dos mcdicamcnlos
cruvu cspírituais. Tem um cxlraordinárío valor lerapêuu'<:o, pois conscguc
nan- proporcionar a cura nas horus cm que muis nos semimos dcrrotad()s.
cordo
, A _.4

to dc Há muilo tempo, os Alcoólicos Anônimos dcscobrimn quc a mclhor


mas pessou pma ajudm um alcoólatru, é um alcoólulru rccupcrudo. A
cr dc logotcrapm dcscobriu que a mclhor pessoa pm ujudur outra quc cslá
dulos aLravessando uma crise é a que cslá passundo pcla mesmu crisc
L Sc c, upcsar disto, descobríu o signilicudu Viúvas podcm ajudar
nos viu'vas. dcticientes lísicos em cadeírus de rodas podcm ajudm ouuos
inválidos, pessoas com doenças incuráveis podcm ujudm oulros
.A:àm-. _
20 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

pacientes tenmn'ais. Ajudando outras, a pessoa que ajuda pode al-


cançar a autotranscendência que é o cammh'o para o sign1f'icado.
(Ver Capítulo Nove).

A UTODISTACIAMENTO

É a capacidade de d1'stanciar-se de si pro'pn'o e observar-se “do lado


de fora”. No autodistanciamento, o “eu" espm"tual afasta-se do
“eu” tísico e este é geralmente o pr1m'elr'o passo necessar1"o para a
cura. Enquamo dissermos “sou um tracasso”, será muito ditícil que
nos modüiquemos, pois estamos considerando tracassado o nosso
ser de torma mtegraL Se aprendermos a dizer “sou um ser humano
com inúmeras possibüidades, mas no passado cometi erros”, então o
tracasso não se toma pane de nós, mas algo que vivenciamos e não
somos obrigados a repet1r'. As doenças tísicas e as emoçoe's, assim
como o medo e a raiva, são panes do nosso corpo e meme, mas na
dimensão es*p1n"tual podemos lutar contra eles. “Nós possu1'mos”,
como Frankl se expressa, “o desafiame poder do espírito humano",
o recurso vital de nosso cotre medicm'al interior.

HUMOR

Tnn'ta anos aLra's, Viktor Frankl enfatizou a importan^cia do humor


na medicina. Recentemente, Norman Cousins redescobriu-0. O hu-
mor é um meio prático de autodistanciamento, quando conseguimos
achar graça de cenos comportamentos que assumlm'0s. Nosso orien-
tador não n' de nós, mas nos ajuda a acharmos graça de nós mesmos.
A busca do significado é um Lrabalho séri0, porém pode ser larga-
meme facilitado através do humor.

Como tornar-se aquele que diz sim

A vma é dm”'al; causa-nos mais momentos de aborrecimento e angúsüa


UMA BUSCA PELO SIGNIFICADO 21

al- do que alegrias. Mas se eslamos conscientes de que a vida tem signi-
ado. ticado, e que nos oterece potenciais signilicalivos em qualquer sí-
tuação, podemos v1r' a ser aquele que diz sim, não importa 0 que nos
aconteça.

Temos que aprender a distingu1r' duas cu'cunstan^cias comrastantesz


as que o destino nos reservou - e que nâo podem ser mudadas - e as
ado
que escolhemos livremente - e que podemos mudaL E claro que o
do
sentido da situação que podemos mudar reside na nossa liberdade de
ra a
tazer essa mudança.
que
sso É menos óbvio para a maioria das pessoas. que o sentido de uma si-
ano tuação 1rr'eversível também dcpenda da nossa liberdade - não da Ii-
oo berdade de mudar o que não pode ser mudado, mas da liberdade de
não mudar nossa atitude perante o inevitáveL Podemos assumü uma ati-
sim tude significativa diante de acontecimentos desoladores. O fator me-
na gativo não é ignorad0. porém dm"gido para os canais positivos. (Ver
os”, Capítulo Quatro).
no",
Nem sempre é tácil discemü a situaçâo que pode ser mudada da que
não pode. A morte, a perda de um membro do corpo, as restriçoe's
que acompaham a velhice, as doenças m'curáveis. o divórcio - são
vicissitudes que devem ser aceitas, pois a luta para mudar o imutável
mor somente nos entraquecerá. Já com relação a problemas pessoais, fa-
hu- miliares ou de trabalh0, não é tão evidente sabemlos se devemos lu-
mos Iar para resolvê-los ou aceítá-los como se aprcsentam O diálogo so-
en- crático (Cap1'tulo Dois) poderá nos ajudar a fazer a escolha. A busca
os. do signüicado é tundamental para todosz
ga-
. para os Jovens que am'da não enconuaram o
. pma os que encontraram 0 signiticado e 0 perderam (a
crise da meia-idade)
. para os que estão enfremando a aposemadoria, a
süa velhice, a doença e a morte
22 z\|'l.l(*AÇ(-)¡:'S PRÁHCAS DA LOGOFLÃRAPIA

pma aqueles cujas possibilidades de significado se


alteraram em função de drásticas mudanças de si-
tuação na vida, tais como: a perda de uma pema, do
conjuge, da cwreüa
pma os angustiados por perda causada por morte, di-
vórci0, desemprcgo, aposcntadoria, a<.'idente, doença
. para os que estão se recuperando de um vício
pma os que estão sofrendo dc depressão ou neurose
pma os que estão entediados com a riqueza (um grupo
relativamente recente).

Os métodos que a logoterapia descreve neste livro podem nos ajudar


a lançm mão dos rccursos Contidos no cerne de nossa saúde - o es-
pírito humano. Algumas vezcs cste ccmc está bloqueado por ent'er-
midades tísicas. penurbaçóes psicológicas ou v1'cios. Nestes casos,
outros métodos, como medicamentos. psicoterapia tradicionaL de-
sintoxicação, devem ser usados para clarear 0 acesso ao espírito,
anles de ser aplicada a logoterapia. Este livro é para o 1'ndivíduo
cu_¡o âmago da saúde está acessíveL e que está em busca do signiti-
cado que irá prcencher sua vida.

Não estamos lidando com "pacientes” que estão doentes, nem lida-
do com “clientes" - esla palavra indica dependência de um protis~
sionaL Estamos lidando com dois seres humanosz o que busca e 0
que orienta. O que oriema pode ser um prolissional que se vale de
sua compelência a tim de reslaurm a sau'de, tanto a nível tísico como
psíquico. Na dimensão do espírito, o que busca, assun' como o que
0n'enta, são principulmcntc seres humanos que, juntos, 1r'ão percorrer
0 caminho da descoberta UU signiticado que os lransfommrá naquc-
lcs' que dizcm s1m' à vida.

Os próximos três capítulos rel'erem-se aos métodos de logoterapiaz o


diálogo socrálicm a desrellexào e a modificação das atitudes. Do
UMA BUSCA PlLLO Sl(¡Nll'lCAl)O 23

capítulo quinto até 0 nono, serào discutidus as cinco árcas onde há


maior probabilidade do signitícado ser encontrado e. portanto, as
o técnicas a serem ulilizadas scrão mais d1r'etas: autodescoberta, esco-
lhaS, unicidade, responsabilidade e aulotranscendência. O Capítulo
di- Dcz salienta as ulílidadcs c linúlaçócs dos valorcs. Os dois úllimos
ça capítulos Conlêm um guia p4r'a duas siluaçõcs cspccílicasz problemas
Iamiliares e matr1'moni.1'1's, e pdr'a grupos. O apêndicc comém diver-
e sos métodos especíticos desenvolvidos por logotc~rapeutas.
upo

udar
o es-
t'er-
sos,
de-
rito,
íduo
niti-

ida-
otis~
e 0
e de
omo
que
orrer
quc-

az o
Do
Capítulo Dois

0 DIÁLOGO SOCRÁTICO

O dial'0g0 socrático é a ferramenta que o on'entador uuh"za com major


trequ"ênda. para aux1h"ar o índívíduo que está na busca do signiticada
Este d1'al'0go o coloca em comato com 0 seu ceme saudável- 0 espm"lo
- a Iim de que ele consiga caplar as reservas nele contidas.

Uma das anrmaçoe's básicas da logolerapia é que, nas protundezas de


nossa dlanSãO esplmuaL sabemos que úpo de pessoa nós somos, que
potenans possuímos, o que é lmponante c sigmñcaüvo pma nós. Só-
crates acrecmava que a tdr'eta do protessor não era mcutJr mtormagñes
uentro do aluno, mas tazcr v1r à lona aquxlo que o aluno msünüvamente
sabm bramd acremla que a tmeta do logoterapeuta não é dizcr àquele
que busta1 quals os sxgmncados de sua v1da, mas pemúm que emeqa a
sabeaona oculta dentro do espímo de cada um.

RELAXAMENTO
O diálogo socrático nos ajuda a cncontrar o acesso que nos conduzi-
rá aos recursos esp1.r'itu41"s. E recomendável que estejamos bem dis-
postos antes de começar esse dial'ogo. Se estivennos excitados.
26 APLICAÇÓES PRAnlxlCAS DA LUUOTERÀPIA

nervosos, amedrontados ou desanimados, o diálogo deve ser prece-


dido de um breve exercício de relaxament0. Como preparação para 0
diálogo socrático, um curto exercício de cinco a dez mm'utos costu~
ma ser suficientez

O paciente senta-se numa cadeüa em posição contortáveL


pés apoíados no chão, mãos abertas nos joelhos com as
palmas para baixo. O orientador fala em voz baixa e cal-
ma; uma suavc música de fundo pode ser colocada. As
três abordagens - visuaL auditiva e cinestésica (sensação
corporal) - estão acessíveis para clarear o cammho para o
inconsciente. Algumas pessoas reagem melhor a um das-
tes estímulos, mas a combinação dos três é geralmente
mais eticaL

O orientador m'voca 1m'agens de lugares agradáveisz uma


tlorcsta tranqüila, um pôr-do-sol numa praia, um jard1m'
todo tlorido (pdr'a os que se identificam mais com a pane
visual); o som de pássaros cantando, o borbulhar de um
n'acho, uma bela música (para os que preferem a pane
auditiva); e a sensaçâo de estar estendido na terra, mu's-
culos relaxados, sensação agradável de calor ou 0
corpo pcsado (para os que têm inclinação a sensações
Cinestésicas).

A tinalidade desse exercício é aquictar a tagarelice de nossa mente


até que encontremos 0 ponto sereno de nosso ínterion Ler um poema
que desperte os aspectos positivos da vida, também pode fazer pane
desse excrcício relaxante.

PRIMEIRAS PERGUNTAS

O diálogo socrático usa cinco guias sugestivos para sondar as ar'eas


onde existem maiores possibilidades de encontrarmos o significadoz
DlÁLQG o s OCK ÁTICO 27

ece- l- Autodescobertz quanto mais descobrimos sobre nosw ver-


ra 0 dadeiro ser que se oculta atrás das máscaras protetoras que nos res-
stu~ guardam. maior será o número de significados que encontraremos.
2- Escolhz quanto mais escolhas pudermos divisar em deter~
minada situação que nos enconLramos, maiores serão as probabilida-
veL
des de alcançannos o signüicada
m as
3- Unicídadez Há maior chance de encontrarmos o sígnificado
cal-
em cücunstan^cias em que somos insubstituíveis.
As
4- Rcsponsabmdadcz Nossa vida será mais signiticativa se
ção
aprendermos a assum1r' responsabílidades quando tivermos a liberda-
ra o
de de escolha, e aprendermos a não nos sentü responsáveis diante de
das-
tatos que não podemos alteran
ente
5- AutoUancende“nc1a." O signüicado nos surge quando ultra-
passamos nosso egocenLrismo e nos voltamos em d1r'eçã0 aos derrm".
uma
1m'
Estes guias, que serão mais detalhadamente discutidos do capítulo
quinto ao nono, podem ser explorados através do diálogo socrático.
ane
Começamos com perguntas reterentes à situação em que o pacientc
um
ane
se' encontra e, gradativamente, o conduzimos até onde ele deseja
u's-
CthBL Se o problema estiver relacionado ao trabalho, a primeka
pergunta poderia ser: “Como você ganha a vida?” As questóes se-
0
gum'tes podem m'clu1r':
ões

. Onde você vê o sígniticado em seu trabalho? No trabalho em si


nte mesmo'! Nas pessoas com quem se relaciona? Nos produtos ou
ma serviços que sua empresa fomece? No prestígio que lhe confere?
ne . Que você faz com o dinheüo que recebe?
Se fosse f1'nance1r'amente m'dependente, gostaria de fazer o que
está fazendo agora?
. Que outras atividades exerce? Passatempos? Trabalho vo-
luntan"o? '
as . Quantas das suas atividades partilha com sua família?
oz . Gostaria de passm mais tempo junto à fam1'lia?
28 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

. Quanto lempo você dedica a ela? E aos seus amigos?


. Faça um graí'1'co assinalando como divide seu temp0.
. Está satisfeito com essa distribuição?
. De que maneüa gostaria de mudá-la? Que você faria em primeíro
lugar para mudar a distribuição de seu tempo a fim de poder
realizar aquilo que prefere?

Aí estão as perguntas que podem ser usadas no diálogo socrático,


e também as que se seguemz

. Em que c1r'cunstâncias você se sente bem'? Se tiver dificuldade em


descrever estas c1r'cunstâncias, relacione uma lista de coisas que
gosta de tazer e assinale aquelas que realmente fez nestas últimas
duas semanas.
. Quefaria você se sentü bem?
. Que poderia tazer para crim uma situação em que se semisse
bem'?
. Que “senur'-se bem” signüica para você?
. Que 0 1m'pede de tazer o que gosta'? Como poderia superm esses
obsláculos?
. No momento você esui com problemas. Fale-me sobre outras
vezes em que teve que entrentar diticuldades.
. Voltando agora para tra's, lembre-se se t1r'ou algum proveito
daquelas situações atlitivas. Aprendeu alguma coisa com elas'?
Amadurcceu? Alguns desses resultados você leria obtido de
outra manelr'a'?
. Você assumiu algum risco para livrar~se do problema?
. Como conseguiu resolver a situação?
Existem tatos que aprendcu com experiências passadas que
podeñml ser aplicados na sua condição atual'?
. Mencione alguns planos que gostaria de executar no próximo ano.
E nos próximos três an'os'?
. Que o impede de realizá-los?
DIÁLOGO SOCRÁTICO 29

. Escolha uma u'nica coisa que gosuma muito de conseguir.


_ Qual seúa seu pn'meu'o passo para atingir essa meta?
Que preço você cstmia disposto a pagar para alcançar esse
meíro objetivo?
poder . Descreva situaçóes cm que você sentiu que o mundo é b0m,
repleto de hannonia e que você é parte dele.
Existe alguma coisa agradável que seja comum a todas essas
ático, situaçóes?
Como você resgataria essa mesma sensação agora, mas talvez de
modo tolalmente diverso'?
de em _ Quem são seus modelos preteridos?
s que Que adnnr'a neles? Você tem algumas das qualidades que eles
timas tém?
. Poderia adquirir uma das qualidades que adm1r'a em seus
modelos?
misse Que poderia tazer para adqu1nr" essas qualidades. ainda que tosse
algo bem simples?
0 tato de pensar nessas qualidades lhc sugere o tipo de pessoa
esses que você é'? Ou que poderia ser?
Quais os seus pontos fortes. Seus talentos?
outras De que necessita para realiza'-los?
Quais os obstáculos que tem de enÍr'entar? Como poderia
oveito transpô-los?
elas'?
o de 0 objetivo da logoterapia é ajudar 0 paciente a sentu'-se bem por
haver encontrado algo que seja signlficatívo para ele, e não mera-
menle algo que lhe proporcione prazer, d1'nhe1r'0 ou poder. De acor-
do com a afirmação de FrankL 0 prazer é o subproduto de algo que
que foi signíficativo, e 0 d1'nhe1r'o c o poder são meramente meios para
atingü um fim, porém não a meta finaL Que tipo de coisas signitica-
ano. tivas poderia o paciente fazer com dinheüo e poder?

0 diálogo socrático não é uma discussão intelectuaL nem uma


30 APLICAÇÓES PRÁTICAS l)A LOGOTERAPIA

argumenlação ou manipulação. É ames uma troca de experiências de


ensmmlcntos e aprendizagens entre o que busca e o que orienta.
Duranle 0 diálogo, o oriemador Lraz à tona idéias e sentimentos do
pac1'e¡1le. através de perguntas baseadas naquilo que 0 paciente diZ -
“palavras-chave” que 0 orientador encontra nessa conversa.

CAPTANDO AS PALAVRAS-CHAVE

No diálogo socrático 0 oriemador taz mais do que ouvü Com simpa-


tia, mais do quc expressar compreensão pelos problcmas do pacien-
te. Uma símples manilestação de entendimento. (espelho) sobre
aquilo de que o pacicme está se queixand0. poderá levm 0 paciente
a envolver-se am°da mais protundameme com seus problemas.

Se o paciente diz: “Ja' não sinto prazer em viver". o orientador que


está aplicando os princípios da logoterap1'a, nunca dirá: "Enlendo
bem o que você está sentindo. AiinaL depois de tudo pclo quc pas-
sou..." (expressando compreensão) 0u: querendo dizer que
não quer mais viver?" (espelho). Em lugar dc dar' cssus respostas
deverá sugen'r: “'E que me diz sobre todas aquelas tareías cm sua vi-
da que ainda eslão esperando por você'!"

Na logoterap1'a, 0 papel que o orientador represenla é bcm mais utivo


que em outras tcrapias. Ele ouve com atenção c captu trascs que ex-
pressem aspeclos positivos do pacicnte. Deve. Contudo, scr cautelo-
so ao assumü esse pupcl para não tomdr'-se pcrsua51'vo.

A pemuasão podcrá scr clicaz somentc quando bascada em algo que


o pacienle lenha dno e que possa sugerír uma dircção correta. A
resposlu do orientador devc tundamcmar-sc em alguma paluvra-
Chave - uma nmnitestação otimista quc o paciente tcnha dcixado v1r'
à tona. para sugenr uma alitude ou ação positiva.
DIÁLOGU S()CRÁ 1 ILU 31

ias de A palavra~chave pode scr uma Irase. um vocábulo. uma indicação


ienta. não verbaL assim como um súbilo lom de cxcilagão. que insinuc o
os do que é rcalmenle .s*1§,›niíicalivo para 0 pac¡'cnlc. ou mcsmo um valor ti-
diZ - do cm alla considerução e quc sc munitcsta numa crcnça rcligiosa,
um voto matrimoniaL uma vocação ou um mcro passatempo. Essas
preíerências no signilicado de valores, geralmcnle são ammzenadas
cm nível 1'nconscicnte, e 0 oríentador dcvc ter 0 ouvido muilo agu-
çudo para ouvir essas alusões que cmergenL As palavras-chave pcr-
mitcm ao oricmador asscgurdr'-se da dírcção a ser scguida, rumo ao
simpa- signif1'cado.
acien-
sobre HISTÓRICO DE UM CASO
ciente
O diálogo socrátíco. que rclatamos a seguír, passa-se entrc Ana e
seu orientador. Podcmos observm de que tonna 0 oriemador capm
or que as palavras-chave do que Ana diz, e de que maneira as utíliza para
nlendo ajudar Ana a ajudar~se a si mesma.
c pas-
er que Ana é uma senhora de 55 anos que sotre de depressão e cnxaqucca.
postas É divorciada. mas seus trés tilhos são bem succdidos nu vida. cla
sua vi- mora numa bela casa. não tem preocupaç(›'cs tinanceiras e sua suúde
era boa até o surgimento da dcpressã0, há mais ou mcnos um ano.
0rientador: Já houve tcmpo em que você se sentia bcm consigo
s utivo mesma'?
ue ex- Ana: Eu diria que no meu tcmpo de cscola.
autelo- Orienludorz Como era sua vida naquelu época que lazia com que
se sentisse bcm?
Ana: Eu queria scr bailar1'na. liu me via no palc0.
go que Orienladorz Quc ucomcceuf
eta. A Anaz Apaixonci-mc por Henry. Casamosu live um Iilho upús o
aluvra- outro. Não me ar'rcprcndo; vivia ocupadu cuidando das
do v1r' Criangas. 'l'."nha uma vida boa. chry tinha um bom
emprego. nós nos d1'vertí.u'nos, viafáva1nos. mas agoru...
32 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

0n”enlador: Que mudou?


Anaz Nós nos divorciamos. Uma tilha está morando em
Massachusetts, outra na Flórida e 0 terce1r'o na Austrália.
Tenho qualro netos mas raramente os vejo. Estou agora com
55 anos. sozínha e ninguém precisa de mim.

Durante esse tragmento de diálogo o orientador encontrou uma


palavra-chave: Ana demonstrou que a idéia de se tomar bailarina,
havia sido significativa para ela.

Orienladorz Você ainda gosta da dança?


Anaz Gost0, s¡m'. Assisto a balés com frequ"ência, porém isto me
deixa m'ste. Fico 1m'agínando como seria se eu pudesse
estar lá em cima, no palco.
0rientador: D1'ga-me o que sente.
Ana: lnveja. Todas as moças são jovens e talentosas, com uma
cmeka pela trente. Creio que eu era tão talentosa quamo
muitas delas, ou talvez amda mais. Nunca saberei.
Orientador: Não há uma mancu'a em que vocé possa utilizar seu
amor pela dança, mesmo agora?
Ana: lsso é uma piada. Na minha idade? Na'o, não, minha vida já
se Ioi.
0n'emador: Algumas coisas se toram. Você não pode voltar à cscola
e ter de novo 18 an'os. Nâo pode ter seu marido de volta,
nem prelender quc seus tilhos tomem a ser pequenos pa~
ra precisax de você. Comudo, pode usar seu amor pela
dançzL de torma lsigniíicativm mcsmo aos 55 anos de
idade.

Aqui o orientador está mostrando à Ana, claramente, a diferença


enLre as ar'eas designadas ao “destino". e que ela tem de aceitar, e as
deslinadas à "liberdade". nas quais ela ainda tem opções de escolha.
DlÁLOUO S()CRÁ'1 ICO 33

Anaz Na'o, não posso. Tentei que minhas filhas se interessassem


pela dança quando eram pequenas, e minhas netas, mas
não consegui.

Mais duas palavras-Chave emergiram desse díálogo - O interesse de


Ana pela dança, e seu interesse em ajudar crianças a serem dançan'-
nas. Isto toma possivel ao 0n'entador, conduzu' Ana a novas altema-
tivas sigmt"1'cat1'vas.

Quando estivermos procurando as novas altemativas sugeridas pelas


palavras-chave, devemos considerar os Cinco guias para encontrar o
significado pessoaL discutidos no m'1'ci0 deste capítulo. Geralmente
é mais prático começar Com a ar'ea da escolha.

O paciente é orientado a transformar as palavras~chave numa série


de altemativas e examinar as conseqüências positivas e negativas de
cada opção. O método a ser usado eslá escrito detalhadamente no
Capítulo Seis. O paciente é encorajado a incluk 0 maior número
possível de 0pções, até mesmo aquelas que podem parecer 1m'prati-
cáveis. O objetivo é mostrar ao paciente que ele não está encurrala-
d0, que as escolhas são acessíveis.

Em seguida, o paciente decide qual das altemativas é a melhor. “A


melhor” não equivalc ser. necessan'amente, a mais agradáveL a mais
remuneradora, a que confere maior prestígio (embora prazer, dinhei-
ro ou prestígio, possam ser um subproduto), mas a que é mais signi-
ticativa dentro da situação que no momento esLá enfrentando. Todas
as Cinco ar'eas de significados são levadas em consideração. É evi-
dente que a escolha é o ponto de destaque, porém as outras ar'eas são
também 1m'p0rtantes. Relacionamos, a seguu', algumas das pergumas
que se referem à escolhaz
34 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOIERAPIA

EnLre as altemativas que você apresentou, sua escolha tinal


expressa sua personalidade (aut0dcscoberta), ou um “dever” que
brota do seu interior?
Sua escolha retlete sua unicidade? Cria uma situação onde você
é. até ceno ponto. insubstituível?
Sua escolha está levando em conta os interesses de oqua pessoa
(rcsponsabilidade)? É prejudicial aos 0utros, ou ao seu relaciona-
mento com eles?
Sua cscolha é u't11' aos que são 1m'portantes pma você, ou a uma
causa que quer detender (autotranscendência)? lsto não signitica
que você não deva ter motivos eg01'stas. Signitica que você está
cslendcndo seus interesses para inclu1r' outras pessoas e outras
causas, acima de suas próprias conveniências. Sentlr'á, com isso.
que a satistação é o subproduto do ato de ajudar o próximo.

Após escolher a melhor opção. 0 paciente prepara-se concretamente


para exccutá-la. A decisão deve-se transformar em ação.
í

1
!

APLlCAÇÃO DA ALTERNATIVA

i5mÁLoooSOCRÁTICOsenão“descrever”onúmerodealtemativasedeixarqueopaciemedecidaquaisasquepodemserincluídasnalista.Depoisdemuitasconsideraçóes,Anafezumalistaqueincluía0seguintezUmtrabalhovoluntar'i0numaescoladedançaparacrianças(“Quefariaeula"?Atenderiaaoteletone?Cuidariadoarquivo'!Qualqueresludamepoderiafazerisso").Ajudaros1'nstrutorescomidéiassobrecomocnsinaradançan(“Minhasidéiasestãosuperadas.Elesr1n"mdemirn").Freqüentarcursosparaaprenderastécnicasmodemasdebalé.(“Estoumuitovelhapara1r'àescola”).Abmumaescoladedança.(“Nãosoumulherdenegócios;m"aàfaléncia”).Comprarumaescoladedança.(“Nã0tenhodinheüosuficienteparaisso").Ajudaralunosformadosemdançaaobteremprego.(“Nãotenhocapacidadeparaisso”).Encontrarumagarotatalentosaquenãopudessepagarumaescoladedançaeajudá-laafazercarreu'a.(“C0moencomrmessagarota'?”).Aopassarrosolhospelalista,Anamostroualguminteressepelau'l-t1m'aaltemativa.Entãooorientadorsemiu-seaptoaapoiaraescolhaeprosseguiuodiálogosocráticozOrientador:Fazerissonâorequermuitodinheüoevocêpoderiamantercontatopessoalcomumajovemqueestivessecomeçandoaaprenderadançc1r'.comovocêmesmajáesteveumdia.Ana:(comotentativa)Eupoderiadaraessajovemachmcequeeuperdi.
3
Durantc o diálogo socrátic0. Ana fez uma lista enquanto procurava
os guias para o signif1'cado. Foi encorajada a relacionar as altemati-
vas que incluíam seu amor pela dança e pelas crianças. Ao chegar
ncsse ponto ela levantou - como muitas pessoas o fazem - uma série
dc objcçõcs do tipo “sim, mas..." Sim, mas já não sou jovem; não
cslou a par das atuais tendências da dança; na'o tenho talento para
organização nem par-a ncngociom não conheço cn'anças com aptidão
para dançan 0 oricntudor pediu à Ana que fizesse uma lista de todas
ns opçócs que cla conscguisse lembrar. porém que considerasse co-
mo argumcnlos dc conseqüência negaliva as idéias relacionadas com
o "sim, masx.." Ncsta altura do diálogo. o orientador deve ser cau-
leloso. procurando não “prescrever” soluções para as dl'temativas,
!
1

í
5mÁLoooSOCRÁTICOsenão“descrever”onúmerodealtemativasedeixarqueopaciemedecidaquaisasquepodemserincluídasnalista.Depoisdemuitasconsideraçóes,Anafezumalistaqueincluía0seguintezUmtrabalhovoluntar'i0numaescoladedançaparacrianças(“Quefariaeula"?Atenderiaaoteletone?Cuidariadoarquivo'!Qualqueresludamepoderiafazerisso").Ajudaros1'nstrutorescomidéiassobrecomocnsinaradançan(“Minhasidéiasestãosuperadas.Elesr1n"mdemirn").Freqüentarcursosparaaprenderastécnicasmodemasdebalé.(“Estoumuitovelhapara1r'àescola”).Abmumaescoladedança.(“Nãosoumulherdenegócios;m"aàfaléncia”).Comprarumaescoladedança.(“Nã0tenhodinheüosuficienteparaisso").Ajudaralunosformadosemdançaaobteremprego.(“Nãotenhocapacidadeparaisso”).Encontrarumagarotatalentosaquenãopudessepagarumaescoladedançaeajudá-laafazercarreu'a.(“C0moencomrmessagarota'?”).Aopassarrosolhospelalista,Anamostroualguminteressepelau'l-t1m'aaltemativa.Entãooorientadorsemiu-seaptoaapoiaraescolhaeprosseguiuodiálogosocráticozOrientador:Fazerissonâorequermuitodinheüoevocêpoderiamantercontatopessoalcomumajovemqueestivessecomeçandoaaprenderadançc1r'.comovocêmesmajáesteveumdia.Ana:(comotentativa)Eupoderiadaraessajovemachmcequeeuperdi.
3
i
36 APLICAÇÕES PRÃTICAS DA LOGOTERAPIA

On'emador: Faria uma diterença crucial na vida dessa moça.


Ana: (animando-se com a idéia) Eu poderia poupá-la dos desa-
ponLamentos que eu tive. Poderia 1r' com ela a algumas aulas.
Poderia dar-lhe uns conselhos. Tenho certeza que amda sei
coisas sobre dança que poderiam ser proveitosas. Slm', é isso
que quero tentarm
Orientadorz Qual seria o pnm'e1r'o passo que você daria?

Neste ponto do diálogo, o orientador e a paciente estão atravessando


a un'portante transição da meta escolhida pela paciente, para a ação.
Com dl'gumas sugcstões do orientador, Ana prepaxou uma lista de
maneüas de como encontrar a jovem que ela queria ajudarz Pôr um
4n'úncio no jomal. lr a uma agência de promoção social e fazer in-
dagações. Ir a escolas de dança. Enta'o, subitamente, Ana amassou a
lista.

Ana: Não, eu mesma quero encontrá-la.


Orientador: E de que manelra' laria isto?
Ana: Tenho bom olho para crianças talentosas. Lria à periferia
observar as crianças pobres brm'cando.

Ana procurou e encontrou uma menina coreana adotada. E ajudou-a


a m'iciar' sua caneüa de dançan'na.

A decisâo de Ana englobou os cinco guias para o signiticadoz

. Ela descobriu 0 que realmente desejava nessa tase de sua vida,


mdependentemente do que seus amígos aprovassem ou do que
seu conselheüo sugerisse.
. Ela percebeu que tmha saídas; que não estava engaiolada dentro
de uma época de sua vida que já não lhe oferecia pcrspectivas.
. Semiu que poderia tazer um trabalho no qual se sentia insubs~
tituíveL
DIÁLOGO SOCRÁTICO 37

Sua escolha m'clu1'a outra pessoa sem atetar seu limite


linance1r'o.
O mais un'portante - a escolha foi clmamente autotranscendcn-
te - ao ajudar outro ser humano ela preencheu seu próprio ser.

TÉCNICAS DO DIÁLOGO

íõfx
*¡F-ñ'.
Como outras técnicas logoterapêuticas. o diálogo socrático requer

o ázxr rs
boa dose de 1m'provisação e imuiçãa Existem muitas maneüas de

.'›.-Y
sondar o inconscieme de uma pessoa. e seu conhecimcnlo oculto so-
bre significados pessoais. O dial'0g0 socrático usa cenos métodos.

.n'.r'; ~
Entre eles destacmosz

. relembrar as significativas experiências do passado;


interpretações de sonhos focalizando mais esperanças e anseios
1'nconscientes, do que traumas reprimidos;
. fantasias orientadas e não orienladas para revelar 0 que o
paciente consídera significativo;
. expeñências sigmñcativas de pessoas que 0 paciente consídera
como exemplos a serem seguidos;

›-.+.:4v
r .._
relembraI experiências de máxun'a realização que mostraram ao

4 -.
paciente. geralmente como um súbito clarão, que a vida tem
mesmo sentido.

RELEMBRANDO EXPERIÊNCIAS

Tanto as experiências do orientador como as do paciente são uliliza-


das na busca do significado. Se perguntarmos a uma pessoa pessi-
mista: “Quando sua vida teve signiticad0?” Provavelmente a res-
posta será pessimista. De preteArência a abordagem é pergumar':
“Qual íoi o tempo em que você se sentiu Ieliz e bcm consigo
38 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

mesmo?" A pergunta desperta no paciente renúniscéncias que ele


vai buscm no passad0. que lhe taçam lembrar expeúências positivas

*-:'- _.=“n-*
e não signüicados positivos abstratos.

Env
ÍTÍY
A segu1r' relatamos parte de um diálogo entre orientador e paciente.
Harry. que escolheu viver 1'soladamente, fala sobre sua vida. Even-
tualmeme ele diz:

4 4 .'*.'.*."LÃ~Á.Í«.39DIÁLOGOSOCRÁTICOexecutdr'),equeauxiliassealgumrapudavizinhançaainiciarumacoleçãodeselos(autotranscendéncia).EstesprocedüncntosIoramospequenospassosquelevaramHanydevoltaàcomunidadehumana.Autilizaçãodeexpen'ênciaspassadas,comobaseparaatividadestuturas.éespecialmenteproveitosaparapessoasquesesenlemne~gativas,vazias,depnm'idas.alienadas,epmapessoasqueeslãoeu-tediadasporexcessoderiqueza.SONHOSSigmundFreuddiziaqueossonhossãoorégiocaminhopmaoin~consciente.VlktorFranklconcorda,evêoinconscientenãosóden-trodadimensãopsicológica.comotambémnadLm'ensa'oespirituaLcomoumrégiocamm'hoquelevaaumatclrradeamplidãoaindamaiorzlevaaosignificad0.0inconscientedescritoporFreudcontémpensmentosrepn'midosesentünentosquenãoqueremosenfrentarconscientemente.Arepres-sãopodecausarneurosesquesãocuráveispelap51'canálise.Frankltemumamploconceitosobreoinconscicntc.AfLmaqueelecom-tém.também,esperanças,metasesignificadosrepnn'n'dos,queparaserematingidos.ossonhossãoos“régioscaminhos".Signüicadosrepnmidosnãocausam,necessar'iamente.neuroses,porémprovocmumvaziointeriornoqualaneurosepodeseinstaldr',especialmentequandosurgemconflitosdeconsciênciaoutrustraçõesexistenciais.Paraestasperturbaçõesalogoterapiaéindicada.Ossonhospodemnostazerpercebercertascondutasreprimidasetraumasmuitopenososparaserementrentados,epodemlambémtrazer-nosmensagensdoinconsciente.Am'terpretaçãodeumsonhoatravésdestaperspectiva,podenosajudaradescobnr'oqueésigni-ticativoparanós.
v
Harr'y: Nunca me casei depois de ver o que minha mãe tez ao
meu pai. Ele se tomou alcoólatra, me batia muito. Eu era

W~ÍÉÍÚ§H
mau aluno e os garotos caçoavam de mm'1 por não ser bom
nos esportes. Se não fosse pelo Tom, não sei como eu teria

.I'¡êm'tã
sobrevivid0.
Oricntadorz Fale-me sobre o Tom.
Harryz Tom era um vizm'ho, dois anos mais velho do que eu.
Colecionávamos selos, dávamos longas cammhadas pelos
bosques, en11'm, tazíamos muitas coisas juntos. Ele sempre
me apoiava quando as coisas iam mal, em casa, por causa de
meus pais.

Pouco a pouco Harry toi-se tomando menos negativ0. Lembrou-se


de outras pessoas que o amparamL Começou a distanciar-se do tipo
que diz não, apesm de estar convencido de que “a maior pane das
criaturas são umas bestas”.

Em dial'ogos posteriores. Harry r_elembr0u situações em que algumas


pessoas “eram menos bestiticadas que a maioria do Zoológico hu-
mano” (sua torma dc humor). Resolveu associar-se a um clube de
pessoas que caminhavam a pé e a um Clube de colecionadores de
selos. O orientador reconheceu. nas pn'melr'as alusões de Harry em
engajar-se nessas atividades. as palavras-chave relacionadas com
Tom. e sentiu-se. ponanto, em condições de apoiar as escolhas. O
orientador sugeúu que Hany ur'asse do porão suas ca1x'as cheias de
selos misturados. que organizasse sua coleção (uma tmefa para
.'*.'.*."LÃ~Á.Í«.39DIÁLOGOSOCRÁTICOexecutdr'),equeauxiliassealgumrapudavizinhançaainiciarumacoleçãodeselos(autotranscendéncia).EstesprocedüncntosIoramospequenospassosquelevaramHanydevoltaàcomunidadehumana.Autilizaçãodeexpen'ênciaspassadas,comobaseparaatividadestuturas.éespecialmenteproveitosaparapessoasquesesenlemne~gativas,vazias,depnm'idas.alienadas,epmapessoasqueeslãoeu-tediadasporexcessoderiqueza.SONHOSSigmundFreuddiziaqueossonhossãoorégiocaminhopmaoin~consciente.VlktorFranklconcorda,evêoinconscientenãosóden-trodadimensãopsicológica.comotambémnadLm'ensa'oespirituaLcomoumrégiocamm'hoquelevaaumatclrradeamplidãoaindamaiorzlevaaosignificad0.0inconscientedescritoporFreudcontémpensmentosrepn'midosesentünentosquenãoqueremosenfrentarconscientemente.Arepres-sãopodecausarneurosesquesãocuráveispelap51'canálise.Frankltemumamploconceitosobreoinconscicntc.AfLmaqueelecom-tém.também,esperanças,metasesignificadosrepnn'n'dos,queparaserematingidos.ossonhossãoos“régioscaminhos".Signüicadosrepnmidosnãocausam,necessar'iamente.neuroses,porémprovocmumvaziointeriornoqualaneurosepodeseinstaldr',especialmentequandosurgemconflitosdeconsciênciaoutrustraçõesexistenciais.Paraestasperturbaçõesalogoterapiaéindicada.Ossonhospodemnostazerpercebercertascondutasreprimidasetraumasmuitopenososparaserementrentados,epodemlambémtrazer-nosmensagensdoinconsciente.Am'terpretaçãodeumsonhoatravésdestaperspectiva,podenosajudaradescobnr'oqueésigni-ticativoparanós.
v
.I'¡êm'tã W~ÍÉÍÚ§H 4 4 ÍTÍY Env *-:'- _.=“n-*
40 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

H1$'tórico de mn caso

Betty, uma mulher de 34 anos que não se dava bem com 0 pai, so-
nhou que estava deitada na cama com ele, abraçando-o carm'hosa-
mente. no que era correspondida. Assustada, ela acordou. Seria pos-
sível que ela tivesse repnm'ido desejos incestuosos depois de todas
as rejeiçoe's por que passara desde a infância? Seu pai sempre tivera
preferência por seu 1rm“ão mais velho, nunca lhe dedicara muito tem-
po, não ficava satisfeito com suas notas embora ela fosse boa aluna,
era muito n'gido com ela. e assím por diante.

Uma interpretação logoterapêutica desse sonho, revelou uma expli-


cação d1f'erente. Talvez o sonho estivesse dizendoz “Seja boazinha
com seu pai, que ele será bom para você”. A jovem telefonou ao pai
(ele morava a 300 km de distan^cia) c perguntou-lhe se poderia visi-
Lá-lo - coisa que jamais havia feito.

- Que você quer? resmungou ele.

Sob c1r'cunslâncias normais, essa resposta teria sido suficiente para


1r'ritá-la. Desta vez ela disse que slmplesmentc gostaria de jamar com
ele. Foi visi'tá-lo, am'da sob o etcilo do 1m'pacto que 0 sonho lhe cau~
sara. e não obstmte a atitude descontiada do pai, ela o Lratou com
temura. A paritr de entã0, começou a visitá-lo duas vezes por mês e
talavam muito sobre seu tempo de 1'n14n'"01'a. Seu 1rm'ão nascera com
um deteito no pé, 0 que exigia mais atenção dos pais. Ela era saudá-
vel e bem dotada,' o pai orgulhava-se dela e a estlmulava a t1r'ar no-
tas mais altas, a nm' de tomá-la apta a treqüentar uma universidade,
tonnando-se em medicm'a. ou advocacia. Betty começou a enxergar
sua vida de menina. através de outro prisma. Algumas semanas antes
de morrer. seu pai lhe dissez "Estou felíz por termos podido nos re-
lacionar como adultos”. A interpretação logoterapêutica do sonho de
Bctty, pennitiu que isso acomecessa
DlÁLOGO SOCRÁTICO 41

Frankl publicou diversos casos em que 0 sonho toi o régio caminho


para o inconscienta Tony. um compositor que compunha músicas
populares. para o cinema. sonhou que queria tazer uma ligação tele-
tônica, porém o aparelho era tão complicado que ele não conseguia
discar 0 número correto. Era o telefone de uma mulher para quem,
no verão passad0, ele havia composto uma música religiosa, que lhe
dera grande satisfação artística. Não havia nenhuma intenção ro-
mântica - o relacionamento deles fora puramente proñssionaL O so-
nho não revelava desejos sexuais repnm'idos; representava a voz de
sua consciência que parecia estar lhe dizendoz “Escolha entre ga-
nhar muito dinheu'0 compondo músíca popular, e ganhar menos mas
compor aquilo que realmente o satisfaz”. Não é de surpreender que
a escolha do número tenha sido difíciL Em alemão, a mesma palavra
- wa"hlen - tanto significa discm como escolher.

A interpretação logoterapêutica de um sonho pode revelar a mais


profunda razão de uma depressão ou neurose, as causas espirituais
de doenças físicas ou psicossomáücas, o caminho que de talo que-
remos seguu' numa situação cont11'tante. Os sonhos Lambém podem
nos trazer mensagens do inconsciente para o conscienle. Frdnkl" re-
lata o caso de uma mulher que sonhou ler colocado seu gato predi-
lelo, dentro da máqum'a de lavar roupa. Quando ela abriu a porta pa-
ra remar 0 gat0, ele estava morto. Ao submeter-se ao dial'og0 socrá-
tico, essa senhora interpretou o seguintez Seu gato favorito repre-
sentava sua tilha favorita, Joan. A mãe reprovava o estüo de vida de
Joan e constantemente a criticava mesmo diante de outras pessoas. O
sonho toi um alertaz “Não lave sua °roupa ínum'a' em pu'blico, ou
corre 0 risco de perder sua tilha!”

Os sonhos têm muitas funções na logoterapia. Podem ser u'teis para


iniciar um diálogo socrático ou para livrar-nos da apatia. Uma viúva
afastou-se do seu círculo de amizades. Num sonho ela viu um pro-
te'ssor do colégio. por quem sentia grande adm1r'açã0. Contudo,
_ g
ir.4-....';n.mru_..._.T._1_›.43DIÁLOGOSOCRÁTICOQuandoopacienteresponde,suficientementemotivadopelasper-gunLas,começamasurg1r'aspalavras-chave.Umjovemv¡u-secasa-do,comumacriança,trabalhandocomoentenneüonoberçdn"'odeumhospitaLOdiálogosocráticopôde,então,serorientadoparadc~termmadad1r'eção:dequemane1r'apoderiaesterapazaliarseude-sejodeconst1'tu1r'famfliaucomotremamentoqueelenecessitmapa-ratomar-seenfermeüdlNessaépocaeleestavatrabalhandocomovcndedor,serviçoquedetestava,eemboralhedessebomlucro,elequeñaabandonar.Estavagastandoboapartedesuarendaembaresecorridas.Pensou,então,emmamersuaindesejadaprofissãodevended0r,afun'deeconomizardmh'e1r'opmapodervoltaraestudareevemualmemeassumüaresponsabilídadedeconstituirfamflizLChegouàconclusãodequeestameta,alongoprazo,valiaessesa-critíciolemporar1"o.Umdramáticoexemplodediálogosocráticobaseadonumafantasianãocontrolada,f01'-nosfomecidoporumajovemuniversitán'a.Eladesejavatomdr'-sebib11'otecan"a.quandoperdeuavisãoemconse-qüénciadeumacidentecomumaarma.Umterapeutaajudou-aaen-frentarsuapreocupaçãocomacegue1r'a,maselaaindasemiaumprofundodesesperoemrelaçãoaoseuIquro.Numafantasianãoorientadaelaseviucomob1'blioteca.r'ia.Umcegoaproximou-sedelaepediu~lhequelesseparaele.Elarespondeu-lhequeLambémeracega.Essajovemdisculiucomseuorientadordiversaspossibilidadesqueelehaviapercebidoatravésdaspalavras-chave.encontradasnatan-tasianãoorientadazelaqueriaauxiliarpessoascegaseam'dadeseja-vatomar-sebibliotecan"a.0orientadorsugen'ualgumasidéias,nasquaisessasduasmetaspoderiamsercombinadas.Ajovemdecidíuserbibliotecar'ianumaescolaparacegos.Com0desatiodeumata~retaautotranscendente.essamoçasuperousuadepressão.temúnouataculdade.aprendeuBrailleefoiLrabalharcomobibliotecan"anumaescolaparacegos.5ãg
.
42 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

ticou desapontada quando ele citou um pequeno trecho da sabedoría


gregaz "Uma vida não avaliada não vale a pena ser vivida”. So-

.:-,~.j.:,._v._ _á
mente no dia seguinte ela percebeu que o professor, no sonh0, havia

~_~ › wsq
m'vertido a ídéia; o que na verdade ele estava dizcndo era: “Uma vi-
da não vivida não vale a pena ser ava11'ada". Podemos dizer que 0

_--«
próprio Sócrates ajudou eSsa viúva, que através do diálogo socráti-
co, conseguiu realizar-se e encontrar sua d1r'eção a segulr'.

FANTASIAS NÁO CONYROLADAS

Os sonhos têm duas desvantagcnsz pr1m'elr'o, não podemos criar um


sonho contorme nossa vontade; segundo, os sonhos apresentam~se
numa lm'guagem sun'bólic'a, düícil de ser interpretada, As famasias,
tanto conlroladas como incontroladas, podem ser mais u'teis.

Para penn1't1r' que as fantasias venham à tona, o paciente deve estar


tranqu"11'o, física e mentalmente relaxado, a f1m' de que as 1m'agens
possam brotm livremente do inconscíente. Qualquer tipo de medita-
ção - ou alguns minutos ouvindo uma fita de relaxamento, um p0e-
ma lido em voz muito calma - podem ser ulilizados para se conse-
guir um estado de quietude.

Uma não comrolada fantasia pode ser 0 ponto de partida para o


dial'0go socrático - para aqueles que não vêem sentido na vida, ne-
nhuma meta ou propósito, nenhuma tarefa, nada pelo que valha a
pena lutaL lsto pode ocorrer com jovens que ainda não descobnr'am
que rumo tomar em suas vidas, com pessoas enfrentando a cn'se da
meia-idade. com pessoas cujas possibilidades de realização pessoal
mudardm porque as circunstâncms de sua vida mudaram O 0n'ema-
dor pode estmlulm a fantasia pedindo ao paciente que 1m'agu'1e que
um ano se passou (0u d01's, ou cinco, etc.). Sem dar nenhuma outra
m'strução, dizer algo assu'n: segunda-te1r'a de manhã e você acaba
de acordar. Descreva onde está e o que vai tazer".
g
ir.4-....';n.mru_..._.T._1_›.43DIÁLOGOSOCRÁTICOQuandoopacienteresponde,suficientementemotivadopelasper-gunLas,começamasurg1r'aspalavras-chave.Umjovemv¡u-secasa-do,comumacriança,trabalhandocomoentenneüonoberçdn"'odeumhospitaLOdiálogosocráticopôde,então,serorientadoparadc~termmadad1r'eção:dequemane1r'apoderiaesterapazaliarseude-sejodeconst1'tu1r'famfliaucomotremamentoqueelenecessitmapa-ratomar-seenfermeüdlNessaépocaeleestavatrabalhandocomovcndedor,serviçoquedetestava,eemboralhedessebomlucro,elequeñaabandonar.Estavagastandoboapartedesuarendaembaresecorridas.Pensou,então,emmamersuaindesejadaprofissãodevended0r,afun'deeconomizardmh'e1r'opmapodervoltaraestudareevemualmemeassumüaresponsabilídadedeconstituirfamflizLChegouàconclusãodequeestameta,alongoprazo,valiaessesa-critíciolemporar1"o.Umdramáticoexemplodediálogosocráticobaseadonumafantasianãocontrolada,f01'-nosfomecidoporumajovemuniversitán'a.Eladesejavatomdr'-sebib11'otecan"a.quandoperdeuavisãoemconse-qüénciadeumacidentecomumaarma.Umterapeutaajudou-aaen-frentarsuapreocupaçãocomacegue1r'a,maselaaindasemiaumprofundodesesperoemrelaçãoaoseuIquro.Numafantasianãoorientadaelaseviucomob1'blioteca.r'ia.Umcegoaproximou-sedelaepediu~lhequelesseparaele.Elarespondeu-lhequeLambémeracega.Essajovemdisculiucomseuorientadordiversaspossibilidadesqueelehaviapercebidoatravésdaspalavras-chave.encontradasnatan-tasianãoorientadazelaqueriaauxiliarpessoascegaseam'dadeseja-vatomar-sebibliotecan"a.0orientadorsugen'ualgumasidéias,nasquaisessasduasmetaspoderiamsercombinadas.Ajovemdecidíuserbibliotecar'ianumaescolaparacegos.Com0desatiodeumata~retaautotranscendente.essamoçasuperousuadepressão.temúnouataculdade.aprendeuBrailleefoiLrabalharcomobibliotecan"anumaescolaparacegos.5ãg
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44 APLICAÇÕES PRÁTICAS L|.\ l ('L .U llRAPlA

Ana, a mulher de meia-idudc que dccidiu aiudar uma jovem que as-
pkava a ser baú'ar1n'a, b.1'scou-sc nu lumasia não orientada para des-
cobrü os meios de atm'g1r' sua metaz 1m'aginou-se percorrendo play-
grounds, conversando com as memn'as, travando amizade com suas
mae's, convidando-as a sua casa, avaliando seus talentos, selecio-
nando uma garota espec1'a1, contatando a escola certa e acompahan-
do essa menma - com apoio humano e f1'nance1r'o - através de sua
carre1r'a, até o dia em que ela subiu ao palco pela pn'me1r'a vez.

FANTASIAS ORIENTADAS

Depois do diálogo socrático ter percorrido caminhos sm'uosos e che-


gado a um ponto de parada, a fantasía orientada pode ser usada. O
emprego de símbolos e 1m'agens pode facilitar esta técnica. Os pen-
samentos m'dividuais sobre detenninado tipo de colocaça'o, começam
a ser defínidos em termos mais específicos.

Uma Iloresta pode representar uma fonna de enxergarmos nossa vi-


da. Escura, ameaçadora, contusa, ou luxuriante, perfumada, com
outeüos e tlores. Sem nenhum camm'ho, ou com um camm'ho clar0,
muitas biturcações, diversos arbustos. Raízes nas quais tropeçamos,
ou morangue1r'os com trutos para serem colhidos.

Uma montanha pode representar grandes esforços ou esperanças.


Precipícios, nenhum ca1mn'ho, aspereza, medo. Ser convidativa, com
amplos rochedos, rochedos que nos encorajam a galgá-los.

Um riacho pode representar o curso de nossa vida. Podemos segui-lo


partmdo de sua origem - nosso passado - ou acompahando-o até a
sua desembocadura - nosso futuro. Nele podemos nadar, remar, pe-
rambulm ao longo de sua extensa'o, sentar à sua margem e observar,
pescan Pode estar cheio de correntezas, ter represas naturais ou
DlÁLOGO SOCRÁTICO 45

construídas pelo homem. Pode Huir serenameme, correr com suavi-


dade, ser refrescante, atraente, assustadOL Pode serpentear através
de um prado tlorido ou de uma floresta sombria, deslízar sobre sei-
xos, chegar a uma planície. a um deseno ou a um pântano.

Uma construção pode representar nossa pessoa. Uma singcla casa de


fazenda ou um palácio. um grande prédio de apanamemos. uma frá-
gü choupana, uma encantadora casa de campo, construída por nós
ou por um arquiteto. À sua volLa pode haver um bem tratado jardm
de ñores e plantas, ou um capinzal abandonad0. Uma piscina, um
pequeno quintal ao fundo, uma ar'ea de laser. A conerução pode si-
tuar-se numa tavela, no centro da cidade, no subur'bio ou no campo.
Com um porão (o inconsciente). com poucas ou muitas dependêncías
(a vída consciente), e um sótão (a mente). com vista para um belo
jardim ou para um muro branco.

Muitas 1m'agens podem transnu't1r' signüicados simbólicosz um navio


em alto mar, um celeüo cheio ou vazio. amm'ais mansos ou t'erozes.
veículos (carros, aviões, navios, gôndolas). Podemos m'cluu' muitas
pessoas numa fantasia oriemada - pai, mãe, companhelr'o. cn'ança,
amigo, inimig0, chefe, estranhos.

Enquanto a Íantasia não orientada é usada mais etetivamente para


pessoas que não vêem signüicado na vida. a tantasia orientada é
mais u'til para aquelas que têm um problema específic0.

Exemplo l: Falta de autoconñança. 0 paciente é orientado rumo a


uma situação que 1r'á fortalecer sua auto-imagem. Para encoraja'-lo a
começar sua fantasia, o orientador faz sugestões:

“Você está de pé, num prado coberto de Hores; é dia de sol. o céu
está azuL há pássaros cantando. Você comcça a cammhar lemamente
pelo prado, em d1r'eção a uma casa. Ao chegar lá. percebe que a
46 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOPERAPIA

porta está trancada. Toca a campainha mas ninguém atende. Você


deseja entrar nesta casa. Anda à sua volta, buscando outras portas,
até tinalmeme encontrm uma que está abena. Entra c acha-se numa
sala cheia de gente conversando em pequenos grupos. Você conhece
todos, alguns são amigos, outros apenas conhecidos casuais. Você
sabe que eles não podem vê-lo. Surpreende-se ao perceber que lodos
estão talando de você, e talando coisas boas a seu respeito. Va1'pas-
sando de grupo em grupo e ouvindo. Que estão eles dizendo?” FÍ
As imagens são escolhidas pdr'a se adpatarem às necessidades do pa-
zl_
cieme. Neste exemplo, a pessoa desprovida de autoconfiança é colo-
cada num ambienle tavorável (1101es, pássar'os, dia de sol), num ca-
minho detinido em d1r'eção a um lugar na vida (a casa). Um esforço

m"”'", .'1§".1_
é necessar'1'o para que encomre um acesso (as portas estão tranca-

'T T-
das), mas o estorço é compensado (uma das portas está aberta). O

"'
restame das 1m'agens é baseado na premissa de que, nas protundezas


*
de nosso ser, conhecemos nossos pontos fortes que foram reprimidos
e que devem ser Lrazidos à tona.

""'.'F'7_
A mesma meta pode ser atingida através de outra fantasia orientada,
na qual se focaliza o tuneral do paciente, em que unicameme os as-
pectos positivos do falecido são mencionadosz

“lmagine que você está assistindo ao seu próprio emerro. Estão to-
cando sua música preterida. Seu guía espm"tual predileto (padre. ra-
bino. conselhelr'o) está louvando sua vm'udes,' pede depois aos pre-
sentes que se manüestem que digam o que lembram de você e por
que eslão Lristes com sua mortc."

Exemplo 2: Uma düícü decnsa"o que prec15a' ser tomada A resposta


está enterrada cm seu inconsciente. Você é conduzido através de
ambiemes agradáveis, e solicitado a enum numa ampla sala escura.
onde uma lígura é vagamente vísível a distdn"'cia.
DIÁLOUO socxÁnco 47

Você se aproxíma lemamente da figura, imaginando quem poderia


ser, mas certo de que é alguém 1m'portante em sua vida, alguém que
será capaz de fornccer a resposta que você está buscando. Você c0-
meça a pensar na pergunta que terá de ser respondida, à medida que
se aproxima da tigura. Sabe que só podcrá Iazer uma única pergun-
ta. Finalmente, você se encontra tão perto da figura que consegue
reconhece^-la. Olhe-a de frente, formule a pcrgunta e aguarde ansi0-
FÍ samente a resposta. A figura. enlã0, responde. Quem é essa figura?
zl_ Qual toi sua perguma? Qual foi a resposLa?

Nessa e noutras fantasias, a orientação não deve ser d1r'etiva. 0


orientador ao dizer “casa”, não especitica se é uma mansão, uma
favela, um prédio ou uma cabana. Usa “l'igura” mas não diz se de
m"”'", .'1§".1_

homem ou de mulher. Nem de' alusão à idade, ou se é reaL ou um


'T T-

ser ligado à religião ou literatura. A identificação da ñgura teita


"'

pelo paciente. fomece palavras~chave que podem ser utilizadas no



*

prosseguimento do diálog0. Alguns pacíentes vêem a si próprios


como sendo a figura. lsto mdica que no ínt1m'o eles já sabem a res-
""'.'F'7_

posta à sua pergunta. Outros vêem uma figura religiosa ou uma pes~
soa muito 1m'portante em sua vida - 0 paL o avô, um amigo ou um
professor. Um senhor viu a figura do avô, que ele costumava ajudar
na fazenda, quando era criança. O pacieme estava em dúvida se de-
via ou não abandonar a esposa. O avô lhe dissez “Se você plantar
um pessegueu'o, nâo espere colher cerejas". Esta resposta tez 0 ho-
g
.›_

mem analism o quanto ele poderia esperar que sua esposa mudasse,
e baseado neste argumento, 0 casm procurou resolver seus
problemas.

Um outro homem estava desesperado por ter perdido uma pema.


Que poderia ele fazer nessa nova situaçãdl Ele viu a figura de um
professor que ele admüava e que Iinha exercido grande íntluência
em sua vida. O protessor estava usando um longo casaco queele le-
vantou para revelar que ele também só tinha uma pema. O protessor
_ 4
_._.'nva_W--4.<e-w-›
.
48 APLICAÇÃO PRÁTICA DA LOGOTERAPIA

não disse nada, apenas sorriu. Esta fantasia abn'u o diálogo socráti-
co, contirmando que mesmo os m'válidos podem ser grandes profes-
sores. O paciente e seu orientador conversaram sobre o que um ho-
mem, mesmo sem uma pema, ainda poderia realizar, que to'sse› signi-
ticativo para ele.

Excmplo 3.' Conflilo dc valores. O fundador e proprietan"0 de uma


próspera empresa, estava sotrendo de fortes dores de cabeça e de-
pressa'o. Estava também com problemas matrimoniais. O orientador
suspeitou de algum conñito entre a devoção do empresan"o pelos
seus nego'cios, e a atenção que vinha dedicando a sua esposa e fi-
lhos. Numa fantasia orientada. o homem foi conduzido a um porão
escuro (seu m'consciente). Quando seus olhos se habituaram à escu~
ridão, o homem viu que a sala estava cheia de pacotes, uns grandes,
outros pequenos, alguns lm'damente embrulhados para presente e
outros em jomal e papelão. Foi-lhe pennitido cutucar e sacudü os
pacotes, adivinhar o que eles contm'ham, mas não lhe toi pennitido
abri~los. Depois de lê-los examinado por alguns momentos, ped1r'am-
lhe que escolhesse um deles. Agora poderia levar 0 pacote para uma
sala üumm'ada, no andar de c1m'a e abri-lo. Ficou desapontado ao ve~
rüicar que o embrulho cominha o busto de Richard Wagner. Não fa-
zia sentido para ele, porque não ligava muito para música e menos
amda para Wagner. Pedlra'm-lhe que novamente descesse ao porã0,
escolhesse outro pacote e Lrouxesse para c1m'a. Nova decepção - o
segundo pacote cominha o jogo de monopólio, uma coisa com a qual
não brmcava desde que seus tühos eram pequenos, e que sempre
consíderara uma perda de tempu. Pela terceüa vez pcd1r'am-lhe que
descesse ao porão e escolhesse outro embrulh0, mas toi advertido de
que esta seria sua úlnm'a oportunidade. Quando ele subiu com o pa-
cote e o desembrulhou. outra decepção. O terceu'0 pacote contm'ha
uma arv'ore de Natal de plástico, com enfeites baratos mas coloridos.
O Natal nunca tivera muito sentido para ele; sempre se arrependia de
DIÁLOUO souun |(f() 49

gastar d1'nhe1r'o com enfeites que só eram usados uma vez por an0.
ou até mesmo jogados fora.

No diálogo socrático que se seguiu o homem teve uma experiência


reveladora! Percebeu que a mensagem contida nos três pacotes era:
'“Brm'que. relaxe, divma'-se! Não scja um trabalhador tanático! Mu'-
sica (Wagner), jogos (monopólio). celebrações (árvores de Natal)”.
Ele seguiu o aviso de seu inconsciente e sua depressão desapareceu.

EXPERIENACIAS DOS OUTROS

Em diferentes épocas de nossas vidas, sempre conhecemos pessoas


que nos serv1r'am de exemplo. Experiências desses modelos podem
ser u'teis no desenvolvun'ento do diálogo socrático, especialmente
para pessoas que sotreram alguma perda ou se acham dentro de uma
armadüha da qual não vêem escapatón'a. Muitas pessoas insp1r'aram-
se nas vidas de Helen Keller e Franklin Roosevelt, que tiveram vi-
das signüicativas a despeito de suas deticiências físicas.

Leland SLanford, um construtor de estradas de terro da Calito"mia,


perdeu seu filho justamente na época em que o rapaz estava pde
entrar na faculdade. Stanford resolveu construk uma universidade,
para que outros jovens pudessem treqüemá-la, uma vez que seu tilho
já não poderia fazê-lo. Recemememe, esta história de Slanlord t*0i
contada a uma senhora que também acabara de perder o f11'h0, quan-
do ele ia m'gressar na faculdade. Ela não tinha, é cldr'o, condiçoe's de
fundar uma univers1'dade; porém, durante o diálogo socrático, deci-
díu que patrocinaria uma bolsa de estudos para que pelo menos um
estudante, por ano, pudesse cursar uma carreu'a un1'versitan"'a. Sentiu,
com isso, que administrar fundos e selecionar candidatos. trouxe
mais conforto e significado a sua vida.
50 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

As experiências de V1k'tor Frankl nos campos de concentração m'spi-


raram muita gente a encontrar significados em suas próprias expe-
riências análogas - situaçoe's que para eles eram armadilhas das
quais não podiam escapaL No dia1'ogo socrático é preciso muito cui-
dado para não menosprezar os problemas do paciente. Muitas pes-
soas, ao d1'scut1r'em sua situação, chegaram a conclusão de quez “se
Frankl pôde sobreviver aos campos de concentração e constm1r' uma
vida signüicativa, também posso encontrw sentido em mm'ha vida”. LÍ
L
Uma senhora, CUJO marido a havia abandonado bem na época em Ilá
que ela havia perdido o emprego, leu o livro de Frankl, “Man's fÍ
f
Search tor Meaning”. Mais tarde ela comentou2 “Frankl conscienti-
f
zou-me de que minha lam^pada-pílot0 espm"tual ainda estava acesa”.
0 dial'ogo socrático pode acender esta lam^pada e fazer com que a
vida volte a bnl'har novamente.

EXPERIÊNCIAS MARCANIEWS

Uma experiência marcame pode produzu' uma centelha de luz du-


rante o dial'ogo socrático. O orientador pode não fazer atlorar estas
experiências culmmantes duraule o diálogo. Mas cenameme pode

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_V._..74.~_,..._..«FV~4_V,7.51DIÁLOGOSOCRÁTICOfardo,esobre0qualnãofalaradurantetrêsanos.Suaesposahaviafalecidodecâncer,apóslongoperíododeente'm1idade.Nodiase-guinteaoenterr0,eleprecisoufazerumaviagemaérea.Duranleovôo,oaviãorompeuacamadadenuvenseatingiuocéuclaro.Aoveratravésdajanela0brühodaluzdosol,oviúvosentiuumasu'-bitaexplosãodealegria,masimediatamentesentiu-seculpadoporessesentun'ento.Trêsanosmaistarde,quandoeleestavaauavessan-doumafasededepressão,falouaumamigosobreessaexperiência,citando-acomoumaprovadequehavia“algoerrado”comele.Seuamigodisse-lheque,pelocontran"o,avidapoderiacstarquerend0,naquelemomentomemoráveLproporcionaHheumaprovadequehavia“alg0certo"comele,mostrando-lhequeosolbrilha.mesmoporLrásdasnuvens.Umoutrohomemfalousobreumincidentequeocorreuenquantoelcdm"giaporumaestradavazia,sentm'do-sealienado.Derepenteumaraposacomeçouaatravessaraestradaeentãoparounametade.Elepisounofreio,0carroestancouaalgunsmetrosdoanimaleambos.ohomemearaposaseencararamRelembrandoesseincidente,elecontouquenaquelemomentosentiu-seemharmoniacomtodaana~tureza,comouniversointelr'0.Umamulher,queestavacegahaviadoisanos,submeteu~seaumacuu'rg1'apararecuperaravisão.Quandoseusolhoscicatrizaramasatadurasforamretu'adas.Recordandoaquelemomento,eladescre-veu0júbüoquesentiuaoolharparabaixo,quandooúltimocurati~vofoiremovido,ever,pelapnm'eiravezemdoisanos,osveiosdamade1r'adoassoalho.Éextremamemedifícilconvencerumapessoa,comargumentosra~cionais,dequeavidatemsentidosobquaisquercu'cunstâncias,dequefazemospanedeumtodoequenãoeslamossós,oudequeexistemaspectospositivosem51'tuaçoe'sdcsotr1m'emo.Opacienle.1
V
mencionar as mensagens carregadas de sentido que acompanharam
as experiências, quando elas toram recordadas pelo paciente durante
o dial'ogo socrático. _V,. 4_.,«_.r,

0 on°entador deve manter o ouvido aguçado para tais episódios, os


quais são aludidos pelo paciente só de passagem, sem que ele reco-
nheça o valor dessas lembranlçasy em sua busca pelo significado.
Muitas experiências marcmtes passaram despercebidas quando ocor-
reram, mas sa'0, não obstante. eficazes para manter acesa a lâmpada-
piloto espm"tual.

As experiências marcames em geral acomecem em situações doloro-


sas. Um homem relatou um tato que carregara como um pesado
_V,. 4_.,«_.r, Mjãi__›.›v"$'yN'““IÉ.ÂHl
mxmarv'
:§.I”L
_V._..74.~_,..._..«FV~4_V,7.51DIÁLOGOSOCRÁTICOfardo,esobre0qualnãofalaradurantetrêsanos.Suaesposahaviafalecidodecâncer,apóslongoperíododeente'm1idade.Nodiase-guinteaoenterr0,eleprecisoufazerumaviagemaérea.Duranleovôo,oaviãorompeuacamadadenuvenseatingiuocéuclaro.Aoveratravésdajanela0brühodaluzdosol,oviúvosentiuumasu'-bitaexplosãodealegria,masimediatamentesentiu-seculpadoporessesentun'ento.Trêsanosmaistarde,quandoeleestavaauavessan-doumafasededepressão,falouaumamigosobreessaexperiência,citando-acomoumaprovadequehavia“algoerrado”comele.Seuamigodisse-lheque,pelocontran"o,avidapoderiacstarquerend0,naquelemomentomemoráveLproporcionaHheumaprovadequehavia“alg0certo"comele,mostrando-lhequeosolbrilha.mesmoporLrásdasnuvens.Umoutrohomemfalousobreumincidentequeocorreuenquantoelcdm"giaporumaestradavazia,sentm'do-sealienado.Derepenteumaraposacomeçouaatravessaraestradaeentãoparounametade.Elepisounofreio,0carroestancouaalgunsmetrosdoanimaleambos.ohomemearaposaseencararamRelembrandoesseincidente,elecontouquenaquelemomentosentiu-seemharmoniacomtodaana~tureza,comouniversointelr'0.Umamulher,queestavacegahaviadoisanos,submeteu~seaumacuu'rg1'apararecuperaravisão.Quandoseusolhoscicatrizaramasatadurasforamretu'adas.Recordandoaquelemomento,eladescre-veu0júbüoquesentiuaoolharparabaixo,quandooúltimocurati~vofoiremovido,ever,pelapnm'eiravezemdoisanos,osveiosdamade1r'adoassoalho.Éextremamemedifícilconvencerumapessoa,comargumentosra~cionais,dequeavidatemsentidosobquaisquercu'cunstâncias,dequefazemospanedeumtodoequenãoeslamossós,oudequeexistemaspectospositivosem51'tuaçoe'sdcsotr1m'emo.Opacienle.1
V
f
L

u

f

Ilá
52 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

ao nslanar suas experiências marcantes, pode descobm' mcsperados e


útcis discemlm'entos.

O diálogo socrático pode aLraü a atenção sobre esses mcidentes que


são desprezados no momento em que ocorrem, ou são logo esqueci-
dos. As mensagens Lrazidas por essas experiências, embora escondi-
das na d1m'ensão espm"tual, precisam ser ouvidas. Essas mensagens
podem ser evocadas durante o diálogo socrático, e podem ajudar o
paciente a voltar-se para as atitudes positivas.

RECUPERANDO ASPECTOS POSITIVOS

0 dial'ogo socrático sonda a natureza inconsc1'ente. É nesta d1m'ensão


que encerramos nossos reprimidos ou ignorados anseios por um sen-
u'do. nossos sonhos e esperanças, nossos objetivos enterrados, nossa
negligenciada auto-esnm'a, e muitos aspectos positivos do nosso eu

. . _.rm
que, em função de experiências m'felizes ou mal compreendidas no
passado._ foram represados. Durante o dial'0go socra'tico, pedaços
desses sonhos, objetivos e experiências emergem Cabe ao on°enta-
dor apanhar esses pedaços e devolvê-los ao paciente.

Hlstó'nco'dcumcaso

James Yoder é um logoterapeuta em Kansas City. Yoder fala-nos


sobre Fred, um talentoso profissionaL que vinha lutando contra suas
atitudcs de autocensura, sensação de culpa e problemas de pessi-
mismo. Eis um trecho do diálogo que mantiveram e no qual Yoder
apanhou frases at"1n'nau'vas que emerg1r'am do inconsciente de Fred,
devolvendo-as a tim de que ele se cunscientizasse delas:

Fred (dcpois de talar sobre sua vida. que ele descreveu como cheia
de tracassos e desaponmemos): algumas vezes simo medo de dar
oquo passo - não tenho certeza se dará certo.
DIÁLOGO SOCRÁTICO 53

Yoder: Vamos olhar para o seu passado. Se ele é uma leia te-
cida por uma aranha (Fred usara esta expressão), que
espécie de teia você teceu'? Sua vida parece ser rica
em realizações, experiências e relacionamentos.
Fred (chorand0): É, creío que sun'.
Yoder: Nm'guém pode t1r'ar de você aquilo que adqum"u. Que
aprendeu afm'al, olhando para o passado. de suas ri-
cas realizações?
Fred: Eu aprendi, mas mesmo assun' simo-me desanimado e
solitan"o. Uma pane de m1m° está descansando, apron-
tando-se para dar outro salto na vida, mais tarde.

Fred contou a Yoder que leu os relatos de Frankl sobre suas ex-
periências nos campos de concentraçãa

Fred: Desde que li sobre as expeñências de FrankL fiqueí


. . _.rm

pensando nisso a semana toda.


Yoder: E que pensamentos lhe passaram pela mente?
Fredz Pensamentos pessnn'istas, eu dm"a. Vejo-me como seu-
do, provavelmente, um daqueles que não teriam sobre-
vívido emocional e espm"tualmente, não obstante isto
não seja totalmente verdadeu'o. Tenho algumas espe-
ranças para m1m'. Vejo~me como um dos 99% que não
permaneceram espm"tualmente intatos... como um dos
que venderiam seus um'a'os para se manterem vivos...
mas 0 fato de Frankl ter demonstrado que alguns não se
comprometeram e ainda assun' permaneceram vivos.
prova que podemos sobreviver.
Yoder: Fale-me sobre esperança. Ouvi você dizer que am'da
tem esperanças.
Fredz Slm', eu me recuso a dar-me por vencido. Porém...
(Fred volta a falar sobre casos de rcjeiçãoe amxadllhas').
Yoder: Como d1z' FrankL todo o mundo tem seu próprio
54 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

campo de concentração. Fale-me sobre o seu, e sobre seus


anseios e esperanças. O fato de você estar hoje aqui, dis-
cutindo suas dores, sua liberdade de escolha... suas espe-
ranças, demonstra que você sobreviveu.
Fred (susp1ra' e sorri): Bem... acho que é verdade. Como eu con-
segui escapar? Certas pessoas cuidaram de m1m'.

Fred comentou então sobre um professor do colegial que teve um


interesse especial por ele, sobre um padre que o tratou com cann'ho
e compreensão quando o 1rma"o de Fred o levou à igreja e o apre-
SCHÍOU 30 padre COIHO um ment1r'oso.

Yoderz Ao invés de críticas e julgamentos você recebeu apoio.


Fred (chorando): É. Muito estranhamente, alguns colegas parece
gostarem de rmm'. lsso me aquece o coração.
Yoderz Que você acha que eles gostam em você?
Fredz Eu sou amáveL tenho um riso contagiame, sou sensível,
tenho senso de humon Há algo de sun'ples e m'gênuo em
m1m', algumas vezes. Não sou do tipo aproveitador (devo-
rador).
Yoder: Você está me dlz'endo 0 que não é - “Não sou do tipo
aproveitador”. Fale-me sobre alguma coisa positiva a
seu respeito.
Fred: Sou uma pessoa sensível às necessidades alheías.
Yoderz Pessoas ass1m'têm amigos.
Fredz Eu não sinto que tenho amigos... Tenho medo de receber
apoio e ajuda dos outrosj Tenho medo que me digam “vo-
cê está querendo muito' ”.
Yoderz Apesar dos semlmentos negativos que está me expondo,
houve gente que o ouviu, que foi gentil com você, que
compartilhou de seu sofnm'ento.

Numa outra sessã0. Fred contou um sonho no qual queria usar uma
serra elétrica.
ser eletrocutado.

sofnm'ent0 e de sua negligência no passad0.

;..¡m_njzrÊtrnle"~\'|'.
red(chorando):Umfiodeprataemergedomeucentroeatingeobosqueverdejante.Masestoucommedodeserumdestruid0r...Tenhomedodeserotuba-ra'o.Yoder:Talvezpeloprópriofatodedizerqueteme,quesetoma-rá0tubarãodevorador(medodeseraproveitador),mostraoquantovocêvalorizatratarosoutroscomama-bilidadeerespeito.Oseumedoatéexplicaovalordofiodeprata,queestálhemostrandocomodesejaviversuavida.FredzÉmesm'o.Eunãoconseguiaverissotãoclaramenteantes.Estefoiopontodecisivodasessão.Fredtomou-sereceptivoparaenxergar-seatravésdeumprismamaispositivaYodercomentouarespeitodessediálog0:“Osclientessempredemonstraramaexistên-ciadepontospositivosecorajososnomeiodeseusofr1m'emo.So-menteporessasessãoeusabiaqueFredsesam"abem.aolongodoseucaminhoparaarecuperação,transcendendosuasensaçãodeva-zioexistencialededepressão”.
F
'
DlÁLOGO SOCRÁTICO
55

d1r'eçã0 aos outros, e você se ergue acima do seu próprio


modo você tem uma energia tlumdo através de você em
nho, e embora você diga que sua máquina está velha,
bre reallz°açoe's das quais se orgulhou. Apesar desse so-
Yoder: Você me falou sobre pessoas que cuidaram de você, so-
roída por dentro. Fiquei com medo de tocá~la pois receava
cou a mão sobre o pcito). Estava toda enferrujada e cor-
Fredz Olhei para a minha própria “ma'quina de torça" (ele colo-

que seu “aparelho de força” está enferrujad0, de algum


56 APLICAÇÔES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

A DECISÀO 0CUL7A'

No diálogo socrático o orientador tem de ouv1r' verdadelr'amente, de


tal torma que cada palavra-chave - mesmo as que estão ocultas nu-
ma maré de declarações aparentemente m'sigmt“icantes - possam ser
ouvidas e usadas.

H|s'tón'co dc um caso
É
Eis aqui parte do dial'ogo entre Margaret e seu orientador. Margaiet í
chegou muito agitada à sessão. Estava preocupada porque a mulher í
com quem ela dividia o apartamento, disse-lhe que ela deveria Ê
mudar-se.
Ê
Margaretz Eu me mudei três vezes neste u'1t1m'o ano. É tão difícil É
encontrar um lugar onde eu me sinta feliz. Agora, que fr
fmalmente encontrei esse lugar, Ana não gosta de
mim. E é ela quem tem 0 contrato. Estou de mãos
atadas.
Orientadorz Que a faz pensar que ela não gosta de você?
Margaretz Nada do que eu faço lhe agrada.
Orientadorz Seja mais espec1ñ'ca. (Afmnações vagas devem ser
objetadas).
Margaret: Ela diz que eu deíxo a cozinha na bagunça, não gosta
que eu fume, d12' que Blackie (o gato de Margaret) ar-
ranha seus mo'vcis. Toco mmh'a vitrola alto demais
para ela, e não gosta que eu use a cozmha quando o
namorado dela está la'.
0rientador: Todas essas coisas signitícam que ela não gosta de
v0cê?
Margarelz Eu sei que ela não gosta. Eu lun'po a cozmha e até a
bagunça que ela taz, saio para tumar, mas não 1m'-
pona o que eu taça ela sempre encontra algo errado.
Ela sabe que eu gosto dessa casa mais do que qual~
quer outra coisa, mas ela quer que eu vá embora. Não
tenho escolha.
DIÁLOGO SOCRÁTICO 57

Orientadorz Você já fez sua escolha.


Margaret: (surpresa): Ein'?
OúentadorzOuça o que você disse: ditícil encontrar um lugar
onde eu me sinta te'liz... Agora que finalmente en-
contrei esse lugar... Amo essa casa mais do que
qualquer outra coisa..."
› Margaretz Isso é verdade, só que agora eu preciso me mudar.
Orientadorz Na'o, você só precisa pagar um preço para ficar.
É
í Margaretz Não é questâo de dm'he1r'o.
í OrientadorzEu não estou me refen'ndo a dinhelr'0. Na prun'e¡r'a
Ê sessâo você me disse que fugiu com seu namorado
porque não queria mais morar com seus pais. Depois
Ê largou do namorado porque ele ficava bruto quando
É bebia. Depois mudou-se de um lugar para outro por-
fr que não gostava de nenhum. Você não fez todas es-
sas mudanças porque não tinha escolha. Todas as
vezes a escolha foi sua.
Margaretc E agora estou de mãos atadas.
Orientadoerocê está aLada aos seus própños padroe's de com-
ponamento. Mas você tem escolha. Mudar esse pa-
drão ou continuar com ele.
MargaretzÉ claro que não quero passar o reslo da minha vida fa~

JSNÍ
Zendo mudanças. Que devo tazer? -r«~.

O orientador tinha condições de sugenr' soluções, pois ele ouvu'a


›IA.1_

Margmet dizer, sem que ela percebesse o que estava dizendo, que
ela queria ticar na casa - que estava disposta a pagar um preço por
iss0, e pronta para modüicar sua conduta. A pedido do 0rientador,
Margaret fez uma lista de coisas que ela poderia fazer para persuad1r'
a proprietan"a a deixá-la ficar. No fun' da sessão ela consegum en-
contrar oito opções.

- Eis sua lista de preços - disse o orientadon - Qual desses você


escolhe?
58 APLICAÇÕES PRÁTlCAS DA LOGOTERAPIA

Uma das opções era uma rigorosa tabela determinando que, em dias
anemados, todo o serviço da casa deveria ser teito por Margaret ou
pela propn'etar'ia. Cada uma, na sua vez, teria que tazer a hm'peza
mas podia, também, receber 0 namorado nesse dia. 0 “comrato”
dessa tabela contmha acordos sobre tumar, níveis de ruído, e outras
ar'eas de contlito.

- Ela jamais concordará - disse Margaret, no final da sessão.

- Tentc - recomendou o orientadon - E quando lhe mostrar a tabela


diga-lhe: Eu propus estas sugestões porque amo esta casa e amo
você.

Na sessão seguinte Margaret relatou que a proprietan"a havia feito


algumas modificações, mas que aceitara a proposta. Para celebrar o
contrato, deram uma festinha domm'go, convidaram os respectivos
namorados, e depois ambas hm'param a cozm'ha, juntas.

O dial'og0 socrático é geralmente usado em combmação com dois


métodos logoterapêuticos, que scxão discutidos nos próx1m'os dois
capítulosz desreflexão e mod1f'icação de atitudes.
Capítulo Três

DESREFLEXÃO

A desreñexão ajuda-nos a descobnr' o significado em situações onde


nos senum'os encurralados em vmude de nossa preocupação com um
problema. O problema pode ser de origem física, psicológica ou
existencial - isto é, um problema de viver no mundo Lal como ele é.
A desreñexão não 1r'a' solucionar um problema puramente t'1'sico, as-
SIm' como a surdez ou a artn'te, mas põde libertar-nos das preocupa~
ções adicionais que aparecem quando pensmos muito a respeito
dele.

Uma dificuldade em de01'd1r' de que forma podemos nos livrm de


uma situação m'desejada já dá ensejo a uma preocupação. Qualquer
situação se toma pior quando nos preocupamos Com ela em excesso.
Cena dose de preocupação é saudável: ela nos taz procurar o médi~
co ou outro tipo de ajuda. Mas se começarmos a acalentar um pro-
blema, eventualmeme nos sentu'emos vít1m'as indefesas de algo que
não podemos solucionan

Embora qualquer problema se tome penoso de agücntar se pensamos


muito sobre ele, é d1f'ícü dec¡'d1r' náo pensar. Quanto mais resolve-
mos não pensar a respeito de alguma coisa, mais pensamos ncla.
Lembram-se da história do homem a quem prometeram US$100,00
60 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

se ele conseguisse não pensar num camalcão? Apesar de nunca ter


pensado nessa estranha criatura, de repente ele não conseguia deixar
de pensar nela. Mas Lão logo Lhe disseram para pensar num eletante,
ele se esqueceu do camaleão.

Este é o prmcípio ao qual a desretlexão está subordinada. Se nosso


problema é causado por excesso de reklexão (o que os logoterapeu-
tas chamam de hiper-retlexão), o remédio é a desretlexão.

As pessoas hiper-retlexivas levam a si mesmas exageradamente a sé-


rio. Não apenas elas hiper-reñetem sobre seus problemas, com elas
também “hiperpretendem” - fixam-se demais na idéia de resolver
seus problemas pcla força de vontade. E é então que uma hiperpre-
tensão toma impossível a solução de um problema. A desretlexão
fortalece nossa capacidade de autotranscendência - nossa habüidade
de 1r' além de nosso autocenm'smo, em d1r'eção a outras criaturas ou
metas que sejam para nós, mais sign1f'1'cativas.

Uma hiper-reñexão doentia pode focalizar um um"co sm't01na, como,


por exemplo, uma perturbação do sono ou uma disfunção sexuaL Ou
pode ser uma atitude geml com mlaçao' à vida. Tanto num caso co-
mo no outro, a hiper-ref1exão pode const1'tu1r' um esforço para que
alguma mudança ocorra. Em ambas as situações a desreñexão pode
dar bons resultados. A desretlexão compõe-se de duas panesz um Si-
nal de parada que coloca um freio na hiper-ret1exão patológica, e
um guia que volte a mente para outros pensamentos. Esta nova d1r'e-
ção cria uma visão do mundo p'ositiva, orientada para o 51'gmf'icado
(e não pa.r'a o egocentrismo).

Nota: Se 0 problema tor de causa tísica, deve-se pensar em


ajuda médica e tarmacológica; a desretlexão pode ser então utilizada
como estratégia complementar. A maioría das dificuldades aqui dis-
cutidas são de origem psicológica, e podem ser beneficiadas pela
DESREFLEXÃO 61

desreflexã0. Contudo, é scmpre recomendável um diagnóstico


médico antes de se dar início ao planejamemo logoterapêutico.

Sintomas simples

DISTÚRBIOS DO SONO

Quanto mais atenção dermos aos distúrbios do sono, mais ditícil será
cura'-los. Se estivermos deitados na cama, dcspenos e preocupados
em adormecer, bloqueamos 0 mecanismo natural que conduz ao so-
no. Esta hiper-ret1exão é rapídamente acompanhada pela hiperpre-
tensão: queremos domnr', ficamos nervosos porque ainda estamos
acordados, e começamos a nos preocupar com os efeitos nocivos que
uma noite de insônia 1r'ão provocar em nossas atividades no dia se-
guinte. Quanto mais pensamos sobre isso, mais nos mantemos des-
penos e menores são nossas possibilidades de ca1r' no sono.

Conduta2 Como sm'al de parada, d12'emos ao paciente que nosso cor-


po consegue, sob quaisquer cu'cunstânc1'as, supnr' um mínimo de h0-
ras de sono que ele necessita. Em lugar de aborrecer-se por não po-
der dorm1r', o pacieme é aconselhado a pensar (usando uma espécie
de intenção paradoanz “É bom ticar acordado. AfinaL isto é uma
dádíva pelo fato de eu estar vivo. Eu me esqueço de um terço da mi-
nha vida enquanto durmo”. Como um guia, encorajamos 0 paciente
a pensar em outras coisas, como, por exemplo, fazer uma retrospec-
tiva sobre o dia que passou, planejar o próx1m'o t1m'-de-semana, ou
ler uma pequena história imerrompendo nas últ1m'as três págmas pa-
ra 1ma'gina: como a hístória vai termm'ar.

DISFUNÇÀO SEXUAL

Um homem que estiver apreensivo com sua ereçã0, díficilmente 1r'á


consegui-la. Nem uma mulher sentüá os apelos de seu corpo se o
<_
62 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

estiver constantememe observando. O prazer sexual não pode ser

_v7 .
torçado. Se tentamos caça'-lo. nós o afugentamos. As conseqüências
podem 1'nclu1r' a impotência psicogênica, a tnk'gidez e a insegurança
no desempenho sexual; isto tudo leva à tensão durante o encontro
sexual e é quando se instala a disfunção.

Condulaz Para esse problema não há sinal de parada mais efetivo do


que uma ordem médica que “proiba a relaça'o” por ceno espaço de
tempo. lsto anula a exigência por um desempenho sexual. A relação
sexual não gerando expectativas, toma sem sentido o esforço de
auto-observação. O paciente é persuadido a explicar ao seu parceüo
que o médico ordenou uma abstmência temporar1"a. por questões de
sau'de.

O guia, nessa situação. orienta o paciente a ser amoroso, gentil e


atencioso com sua pdr'celr'a, ajudando-a em suas experiências de
amor, ao m'vés de preocupar-se com ele mesmo. Este procedimento
automaticamente restaura a potência. Quando a disfunção desapare~
ceu, a prescrição de uma abstmência temporan"a já não é mais neces-
san"a nem observada. Esta mudança de atitude e componamento é
tão eticaz para a trigidez temmina como para a 1m'potência masculi-
na. Quando o orgasmo deixa de ser o objetivo da relaçá0, Iem mai0-
res probabüidades de ocoxren

OUI'RAS' DISFUNÇÓES FÍSICAS

Mecanismos similares de hiper-retlexào agem em distúrbios psico-


gênicos de atividades físicas autônomas como: falar, mover-se, co-
mer. Se prestarmos atenção na mane1r'a que formamos as palavras, se
tomarmos consciência de nossa língua e lábios, corremos o risco de
ficaI gagos. lgualmente pemiciosa é a excessiva observação dos
movun'entos de mastigar e engolü enquanto estamos comendo. ou do
4 Z
4..___..'._._..\___..4__63DESREFLEXÂOmovimentodospésquandodançamos.Somenteseesquecemosdospéseacompanhamosamúsicaautomat1'camente,pennaneceremosnoritmo.Conduta:Aquiosinaldeparadaretere-senãoàatividadeemsi,masantesàhiperpretcnsãodeagu'corretamentc.Nãoscpodedizeràspessoasqueparemdefalar,decomeredeandar,maspodemosdi-zer-lhesqueparemdeobservmsuasfunçõesÍísicas,quesãoauto-máticas,edeíxemque0corposeencarreguedelas.Atençãofocali-Zadanosguiaszosgagosdevemseraconselhadosaprestaratençãonaquiloqueestãofalandoenãocomoestãofalando-observm0sentidodesuaspalavras,oqueestãoquerendocomunicaraosseus0uvm'tes.Pessoascomdificuldadespsicológicasemalimentar-se,sãoinstruídasadeixarqueagargantaseincumbadadeglutição,en-quantoseconcentramnaconversaàmesa,ouassistemaoseupro-gramadetelevisãopreferidaDamesmamaneu'aéditoaosdançan'-nosansiosos,quedêemmenosatençãoaosseuspés,emaisaoseuparceüoouàmúsica.ElisabethLukas,d1r'etoradoSouthGermanlnstitute01Logotherapy,relata0casodeumameninaquenãoconseguiaapren-deranadar,poisprestavademasiadaatençãonosmovun'entosdeseusbraçosepés.Suamãelevouumgravadore,enquamoacriançaestavanaágua,fícavaouvindosuashistóriasdefadasprediletas.DentrodepoucosminutosameninatoicapazdenadaLaosomdasÍitas.Apamr'dessemomentoogravadortorn0u-sedesnecessar'io,porqueelaconseguiuromper0ciclodetracassoehiper-retlexão.Jánãomaisseviacomovítimaindefesadeseuproblema,mascomosenhoradasituaçã0.Adesretlexãonãoagetãorapidamenteemtodasassituaço'es.Pes-soasquegaguejmamoutiveramdistunçõesdealimentaçãoporlon-gotempo,devempraticaradesretlexãodurantecertoper1'odo,amesdeseremcapazesdesuperarsuadificuldade.Geralmenleaajudadeumprofissionalénecessan"a.
4
Z
4..___..'._._..\___..4__63DESREFLEXÂOmovimentodospésquandodançamos.Somenteseesquecemosdospéseacompanhamosamúsicaautomat1'camente,pennaneceremosnoritmo.Conduta:Aquiosinaldeparadaretere-senãoàatividadeemsi,masantesàhiperpretcnsãodeagu'corretamentc.Nãoscpodedizeràspessoasqueparemdefalar,decomeredeandar,maspodemosdi-zer-lhesqueparemdeobservmsuasfunçõesÍísicas,quesãoauto-máticas,edeíxemque0corposeencarreguedelas.Atençãofocali-Zadanosguiaszosgagosdevemseraconselhadosaprestaratençãonaquiloqueestãofalandoenãocomoestãofalando-observm0sentidodesuaspalavras,oqueestãoquerendocomunicaraosseus0uvm'tes.Pessoascomdificuldadespsicológicasemalimentar-se,sãoinstruídasadeixarqueagargantaseincumbadadeglutição,en-quantoseconcentramnaconversaàmesa,ouassistemaoseupro-gramadetelevisãopreferidaDamesmamaneu'aéditoaosdançan'-nosansiosos,quedêemmenosatençãoaosseuspés,emaisaoseuparceüoouàmúsica.ElisabethLukas,d1r'etoradoSouthGermanlnstitute01Logotherapy,relata0casodeumameninaquenãoconseguiaapren-deranadar,poisprestavademasiadaatençãonosmovun'entosdeseusbraçosepés.Suamãelevouumgravadore,enquamoacriançaestavanaágua,fícavaouvindosuashistóriasdefadasprediletas.DentrodepoucosminutosameninatoicapazdenadaLaosomdasÍitas.Apamr'dessemomentoogravadortorn0u-sedesnecessar'io,porqueelaconseguiuromper0ciclodetracassoehiper-retlexão.Jánãomaisseviacomovítimaindefesadeseuproblema,mascomosenhoradasituaçã0.Adesretlexãonãoagetãorapidamenteemtodasassituaço'es.Pes-soasquegaguejmamoutiveramdistunçõesdealimentaçãoporlon-gotempo,devempraticaradesretlexãodurantecertoper1'odo,amesdeseremcapazesdesuperarsuadificuldade.Geralmenleaajudadeumprofissionalénecessan"a.
4
4 _v7 . <_
64 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Atitudes gerais com relação à vida

Algumas vezes a hiper-retlexa'o não é focalizada num u'nico sintoma,


mas numa atitude geral negativa. Uma preocupação excessiva pode
ser provocada por algum acontecun'cnto, geralmente um tracasso,
porém pode não ter um motivo especiaL Não 0bstante, com ou sem
motivo a hiper-retlexã0 produz um demorado desconfono.

0 GATILHO DA HIPERREFLEXÁO

0 divórcio, a perda de uma criança, o rompnn'ento de um relaciona-


mento amoroso, a un'possibilidade de gerar um filho, o fracasso em
encontrm um trabalho satistatório - qualquer uma dessas causas p0-
de se transtormar no gatilh0. Um homem, por exemplo, que acaba de
se especialízar em determinada profissa'o, mas não consegue arrumar
emprego conveniente. Nada mais lhe m'teressa. Só sabe falar em co-
mo seria se conseguisse trabalhar no campo que escolheu. Culpa
Deus e o mundo pela sua situaça'o, mas nada taz para mudá-la.

0 pensamento desse homem está focalizado no seu desapontamento,


e assun' ele bloqueia sua própria flexibilidade, sua habilidade em
responder mais adequadamente à sua situação. Esse homem f1x'ou-se
no seu status quo, da mesma maneüa que o insone se fixa na sua di-
ficuldade em pegm no sono. O gatilho para tal hiper-reñexão não
precisa ser necessariamente uma graÀnde adversidada Até pequenas
diñculdades podem provocar conseqüências patológicas.

Condutz Quando o gaulh'o da hiper-reñexão é disparado, precisa-


mos determinar se ele pertence ao domínio do destino ou ao domínio
da liberdade. A desretlexão é aplicada no domínio da liberdade. O
homem do exemplo que citamos amen'ormente, talvez não tenha
condiçoe's de encontrar emprego por causa da situação do mercado
DESREFLEXÁO 65

de trabalho, o que sstá fora de seu controle, ponanto, no domínio do


destino. Nesse caso, a técnica de modüícação de atitudes (que será
discutida no Capítulo Quatro) será de grande ajuda.

Contudo, o homem desempregado também tem sua are'a de liberda-


de. O orientador d1r'eciona a atenção desse homem para esta ar'ea -
para qualquer que seja o potencial onde ele tenha livre escolha. Ele
é encorajado a parar de procurar oportunidades de Lrabalho num
campo que está fechado para ele e buscar guias nas ar'eas que estão
abertas - buscar atividades signükativas e soluções em lugares no-
vos. Isto não resolve seu problema principal (a necessidade de en-
contrar emprego), mas impede que ele mergulhe em extrema hiper~
retlexão ou em outros fracassos, e acabe por desenvolver uma atitu-
de negativa em relação à vida.

A HIPER-REFLEXÁO SEM GATILHO

Algumas pessoas hiper-reñetem sobre seu bem-estar. constantemen-


te. Isto faz com que essa hiper-ret]exão interfüa em seu bem-estar.
De manhã se preocupam se dormüam bem, se tiveram pesadelos, se
seu desjejum foi nutritívo, se devem ou não 1r' Lrabalhdr'. Quanto
mais pensam, menos vontade sentem de enfrentar o trabalho.

Essas pessoas provavelmente responderão a qualquer eventual ob-


servação, levando em conta se o interlocutor pretende insultá-las ou
d1m'1'nuí-las. Elas estão freqüentemente perguntcmdo a si mesmas se
estão felizes - e a resposta é que nunca eslã0. Esta atitude estraga a
verdadeka alegña de vivcr e toma o ambiente dessas pessoas o re-
tlexo do seu humor.

Condutzn Se 0 nosso problema for uma hiper~reílexão sem gati-


lho, somos orientados a não falar negativmente sobre nós mesmos
(sinal de parada). Uma mudança deste lipo ajuda a dissolver a
66 APLICAÇÕES PRÁTlCAS DA LOGOTERAPIA

a dcsafonunada mistura de hipcr-reflexão e egocenm'smo, que são


nonnalmeme a base de uma atitude negativa com relação à vida.
Como guia, nessa situação, somos encorajados a falar sobre os as-
pectos positivos que existem em nós e em nossas vidas. Se estamos
acostumados a nos lamemaL acharemos düícü assumu' essa conduta.
O diálogo socrático e a sinceridade podem est1m'ular ídéias positivas.
Muitos dos exercícíos desle livro podem ser utilizados para m'centi-
var pensamentos positivos, observações e autopercepções. Por
exemploz

Faça uma lista das coisas que você gosta em você


Faça uma lista de coisas que você gosta de fazer

Fantasias orienladas podem ser usadas para estlmular recordaçoe's


telizes e lembranças de experiências nas quais nos semimos insubs-
tituíveis numa atividade ou num relacionamemo. A exploração do
tator posilivo pode ser teita m'dividua1meme ou em grupos de desre-
tlexão, que está descrita no Capítulo Doze.

Ehz'abeth Lukas expandiu um estudo sobre a aplicação da desreñe-


xão. D12' elaz

A desretlexão sign1f'ica ignorar algo que pode ser ignorado,


mas que se toma pior pcla reílexão. Mas a desreñexão é mais
do que merameme ignorar e mais do que um amf'ício de distra-
ção. O 1m'p0rtame não é apenas examinarmos a nós mesmos de
longe, mas observar algo que finalmente amplie o h0n'zonte, e
1'nsp1r'e a autotranscendência e a descoberta de novos sigmf'ica-
dos e valores. A logoterapia não nutre a ilusão de que o mundo
está bem, porém busca honestamente 0 que am'da está bem, o
que é saudável num mundo ent'enno, e que pode ser transmili-
do aos inquietos, desnorteados e desesperados seres humanos
que anseiam profundamente por algo que csteja bem. 1

l Elizabcth Lukas, “Meaningful Líving", Grovc Press, 1984


l)!;SRL›l'L[:,\'Á() 67

Hipocondria

As pessoas excessivamente preocupadas com sua saúde em gcraL ou


com uma doença especítica, apresentam ccrto tipo de hiper-netlexão.
O cuidado com a saúde é nomlal e até necessán'o. pois isto nos im-
pele a agü quando surge um problema - consultar um médico, lomar
o remédio prescrito, mudar a dieta, pralicw cxercícios e assm por
diame. Contudo, quando nossos pensamcntos se t1x'am em nossa
saúde e passmos a nos observar com medo de adoccer. cmão nossa
hiper-reñexão toma-se uma eniermidade - a hipocondria

Para pessoas assun', o orientador se concentra na segunda partc da


desretlexão - 0 guia - uma meta positiva. O diálogo socrático enta-
tiza uma tarefa que seja importmte para o paciente, ou alguma coisa
que descja Iuer por alguém que lhe é quen'do, ou por uma causa
que lhe seja sign1'ficativa. ô
ü
g
.' §;
Quando assum1m'os um compromisso com alguém ou alguma c0isa,
r5
deixando de pensar em nós mesmos, a relevância da docnça. real ou
una'gm'an"a, dinúnui. Nós todos já ouvnm'os falar da mãc que se le-
vantou do seu lcito de docnte pma cuidm de um tilho enferrno. do
inválido que superou sua m'capacidade pma salvar do togo um ami-
g0. A escolha de mefas para um hipocondríaco não necessita se~r tão
dramática para ser eñcaL Deve ser compatível com os valores e pre-
ferências individuais.

A eficiência do contato de seres humanos com animais tem merecido


considerável atcnçã0. John que1x'0u-se por muito tempo de uma in-
disposição não d1'agnosticada. Como gostava muito dos ann'nais. toi
trabalhar como volu¡.*tar1"o na Sociedadc Protetora dos Anmla1"s.
Tanlo estes, como John, beneficiaram-se com esse procedimento.

Um outro senhor estava sentmdo medo provocado por pensamemos


68 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

relacionados ao envelhecun'ento. Fez uma viagem à lnglaterra para


recolher intormações sobre seus antepassados e, eventualmente, pu-
blicar um pequeno livro sobre sua tamília.

Uma senhora, cujos tilhos haviam saído de casa, só pensava na sua


solidão. Começou a apresentar todo 0 tipo de “simomas" f1'sicos.
Foi então que descobxiu que peno de sua casa haviam construído um
campo para refugiados viemamitas. Empenhou-se numa campanha,
junto a v12'1n'hos e amJ›'gos, para angariar roupas e brinquedos vclhos
que ela consertava para que os refugiados pudessem aproveitar.

O mundo à nossa volta está cheio dc criaturas com as mais variadas


necessidades. O trabalho voluntan"o pode ser o melhor remédio para
a hipocondria.

Preparar uma lista como substituto

Atualmeme a desrellexão tem um campo de aplicaçâo muito mais


amplo do que aquele em que toi on'gm'an'amente reconhecido. Uma
das razoe's pode ser porque pessoas com mais tempo ocioso, tem
mais tempo para a auto-0bservação. Anseím por prazer e sentem-se
magoadas se a vida lhes Lraz desapontamentos. Buscam seu “verda-
deu'0 eu” para auto-realizar-se e não percebem que se a auto-reali-
Zação não tiver como meta taretas significativas, 0 rcsultado scrá
uma excessiva auto-retlexão. Nestes casos, a desrcflexão não é usa-
da inicialmcnte com o m'tuit0 dc encontrar uma atívidade especifi-
camente 51'gn1t'icativa, mas antea para tentar afastar o indivíduo da
sua paralisante sensação de vazi0.

Para esses m'divíduos, Elisabeth Lukas desenvolveu a “preparaçã0


de uma lista como substituto”. Em seu livro “Meaningful Living”,
ela 11'ustra seu método com o caso do Sr. S., cuja esposa o havia
DLSREPLLXÀO 69

abandonado assim como ao seu füho Tom. de 15 anos. Duramc o


dia ele trabalhava, mas ao chegar cm casa, à noite, lamemavzbsc so-
bre o que acomecera e pensava no que poderia ter teito para evitar
que isso tivesse ocorrido.

A Dra. Lukas concluiu que o Sr. S. sotña não tanto pela pcrda da

› esposa (o casamento não tinha sido 1e*11'z), mas por uma atitudc ne-

í gativa genera11'zada, com relação à vida, provocada pela separação.


A Drar. Lukas, após explicar ao seu pacientc como a desrcllcxão
funciona, pediu-lhe que tentasse encontrar algumas atividades que
fossem signiticativas para ele, pois isso u'ia conuíbuü para aliviar
Í
sua preocupação. Embora o Sr. S., extremamente céu'co, não acre~
í
ditasse que o método tuncionaria. concordou em Iazer uma tcnlativa
í a cuno prazo - elaborou uma lista de coisas que há muito tempo ele
ÍF desejava fazer, mas nunca conseguu'a. Agora, tcndo mais tcmpo à
noite e nos fins~dc-semana, poderia fazê-las. (Aqui, a ênlase no ne-
gativo - perda da esposa - é substituída pelo positivo - ganho de

n4~
tempo). A Dra. Lukas disse ao Sr. S,, que a sua lista m"a ajudá-ln a

..'“_
desenvolver um programa terapêutíco, baseado em atividades que
in'am aliviá-lo de suas preocupações. Depois dc muito cogitur, cle
aprontou uma lista de quinze atividades que incluíamz consenm o
fogão, preparar saladas sotisticadas com maíonese teita em casa,
montar um trem elétrico, ajudm seu füho nos deveres de escola. gra-
var em tita seus progrmas prefeúdos de música.

A Dra. Lukas disse ao Sr. S., que todas as tmdes ao Chegm cm casa.
e nos fíns-de-semana, cle deveria sclecionm uma das atividades e
executa'-la, mesmo achando que seria bobagem E à noite. mtes de
deitar-se, ten'a que anotar, ao lado da atividadc daqucle dia, Lun com-
ceito de como se sentu'a a respeitoz (+2) para muito bem.' (+l) pma
médio; (0) para ind1'terente; (-l) pma mal e (-2) para muito mal. lsto
deveria ser feito durante duas semanas. A Dra. Lukas explicou-lhe
que as atividades que lhe haviam sido satisfatóúas sexiam usadas na
70 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

terapia. O Sr. S. mostrou~se extremamente pcssmn"sta, achando que


só anotaria (-2), mas concordou em “praticar esse jogo” por duas
semanas.

Quando as duas semanas tenmn'aram, ele ñcou surpreso ao perceber


que após os três pr1m'elr'os dias suas anotações começaram a oscüar,
com graduais mov1m'entos para os pontos positivos. Durante os u'lti-
mos cinco dias, ele anotou uma vez (+1) e quatro (+2).

O Sr. S. ficou orgulhoso em poder ajudar sua conselheüa a desen~


volver um programa terapêutico. Ficou evidente que montar e fazer
funcionar o Lrem elétrico foi sua atividade prefen°da (que ele assm'a-
lou com certo embaraço). Porém a Dra. Lukas lhe disse que 0 pro-
grama de terapia não era mais necessário - o que ele havia pensado
ser um preparo para a terapia, na verdade era a própria terapia. O
Sr. S. percebeu que não fazia a menor diferença 0 que ele tinha rea-
hz'ado - o trem, 0 foga'o, a datüografia e as anotações d1'ar1"as dos
seus sennmentos - o fato é que ele já não se sentia depnnn"d0, pois
essas atividades havíam varrido de sua mente a preocupação com a
perda da esposa. Seus planos toram tarefas significativas para ele,
que se trarwformaram na própria terapia. E esta, na sua forma tradi-
cional, já não era mais necessar1"a. O desafiante poder da força hu-
mana conseguiu erguê-lo e ajudá~lo a encontrar uma d1r'eçã0 signüíl
cativa em sua vida, como pai solteüa
' 71DESREFLEXÃOenm'guémserácapazdcnoscurarcompletamemc.Averdadeí-rafelicidadehumanaresidenacapacidadedeesquecermosdenósmesmos.Estaverdadeédifícüdesertransmitida,atual-mente,aoshomensemulheresqueestãovoltadosaoegoísmo.lstofazcomqueadesreílexãosetomeumdosmaisdüíceis,embora0mais1m'portantedosmétodosterapêuticos.
desretlexãounl'1'za-sedcumacapacidadeespeciñcamcntehumanazautotranscendência-nossacapacidadede1r'alémdenósmesmosemd1r'eçãoalarelasquetenhamscnlid0.ADra.LukascomentazAautotranscendênciaémaisdoqueumasimplesdesretlexâo.Elarepresenta0contrasted1r'etocomamaisd1f'1'c1l'dasdoençaspsicológicas-oegocentrismaSesópensarmosemnossobem-estar,estaremossempredetectandodistúrbiosesintomas,
A
Capítulo Quatro

MODIFlCAÇÃO DAS ATITUDES

Todos nós temos problemas, Cmregmos tardos c padecemos. Mas a


mesma d1f'iculdade que pode arrasw uma pcssoa. pode ser quase m-
d1f'erente pma outra, e para uma lerceüa ser considcrada um desa1›1'o.
Não é tanto a situação que é Lm'p0rtamc, mas a atitude quc assumi~
mos diante dela. Na verdade, com freqüência é a postura inadequa~
da, e não a situação em si. a causa da angústia. Uma mudançn de
atitude foi dramaticamente exprcssa por um jovem leuaplégíco. dc
17 anos, que quebrou 0 pescoço durante um mergulh0. “Eu quebrei
o pescoç0, não a m1m' mesmo”. Dcpois dc atravessar uma fase de
desespero, ele voltou à escola. terminou a taculdade e Íom10u-se em
psicologia. Está agora preparando-se para doutormcnto e planeja
devotar sua vida, como psicólogo, a ajudar outros deticiemes
Íísicos.

Uma mudança de atitudes impede que vejamos a nós mesmos como


vítimas indefesas (de inñuências, dos gens. do mci0-mnbiente. da
sociedade, do passado) e nos permite assumü o controle. na mcdida
do possíveL e dentro dos hm'ites de cada c1r'cunsm"ncia. Na mudança
de atitudes a ênfase é posta no potencial de cadu situaça'o, como
descrito nos pn°ncípios indicados a seguu':
74 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

. As opções sâo possíveís


. Fonnas de componamento podem ser modüícadas
. Podemos encontrar sentido em qualquer situação
A vída Iem sentido sob todas as c1r'cunstâncias
Algo de positivo pode ser descoberto em todas as situações
As oponunidades podem ser encontradas mesmo nos erros,
tracassos, doenças ou perdas 1rr'eparáveis.

A alenção é dm"gida para as metas, propósitos, taretas, valores, li-


berdade de escolha e responsabilidade, e não para a recompensa por
um estorço (com0 na psicanálise) ou para processos automáticos
(como na tcrapia componamemal). O toco da atenção mantém-se
atastado das portas trancadas; ele se posiciona diame de ponas
abertas ou que podem ser abenas.

Exerc1c1"o: Desenhe uma figura que represente você mesmo, dentro


de uma sala que contém muitas portas. Quais as que estão fechadas
para sempre? Rotule-as com palavras ou sun'bolos. Agora, rotule as
que a1n'da não se trancaram Que 6 necessário para abn'-Ias? Qual o
pnm'eLr'o passo que você daria para abnr' cada uma dessas portas
destrancadas?

Condutas

A modificação de atitudes é essencialmente aplicada em duas ar'eas


pnn'cipais:

1. mudm uma atitude doentia em relação à vida


2. buscar uma nova e signiticativa atitude em situações
aparentemente sem sentido, e que não podem ser mudadas.
MODlFlCAÇÁO DAS ATITUDES 75

AHTUDES DOENHAS

Essas atítudes estão sempre vinculadas ao negalivismo. resignação,


desespcro. estagnaça'o. indilerença e prcsscmimentos negaüvos
quanto à própria telicidade. As atitudes doentias podcm ser reconhe-
cidas através de comentar1"05 casuais. Uma mãe podc dizcr. por
exemploz “Com este menino eu só tenho problemas. Ele nasceu do
meu pnm'elr'o casamento; o pai dclc não era bom e o mcnino será
como cle”. ' Esta atitude negativa em relação ao pn“me1r'o man'd0 é
suficieme para transtormar o menino numa criança problemática. A

›-r.«.
WI
atitude desolada da mãe acorrenta scu 1ilho a uma siluação sem es-

-n¡
peranças. O c1r'culo vicioso é posto em mov1m'ento: a atiludc doentia
da mãe 1r'á reüetlr'-se no menin0, que passará a dcsenvolvcr proble-
mas reais de comportamento ~ problemas que irão coníum'ar' a cren-
ça matema de que seu füho é um desordeüa

Outro exemplo de uma atitude doentia é o caso dc um jovem que


após ser despedido de dois empregos, comcnta com dcscspcroz °°Não
s1rv'0 para nada. Meus um'ãos e 1rm'ãs são bem-succdidos, mas eu
sou um fracasso”. Seu sentimemo de derrota bloqucia scu csforço
por vcncer - mas apenas um 1n'tenso cxcrcício de força dc vontade
poderá libená-lo de seu dilema.

Um terceüo exemplo é o da esposa que se lamcmaz “Não adianta


talar com meu marido. Ele nâo me c01npreende". Esta atitude impc-
de um prm'cípio de comunicação entre a mulher c seu mar'id0.

A modificação de atitudcs redüeciona a atenção pma novos pensa-


mentos e percepções em relação a atitudes positivas e psicologica-
mente saudáveis. Na maioria das vezes é realizada através do

1 Excmplos dc Elisabeth Lukas, “Mcaningful Living". (irovc Prcss, WML


76 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

diálogo socrático. Quando o m'divíduo demonstra uma atitude doen-


tia com respeito à vida, o diálogo pode fomecer informações, pro~
porcionar ajuda prática ou uma perspectiva positiva.

lnformação

À mãe, que atribuía os problemas do füho à herança patema, toi ex-


plicado que o comportamento é influencíado pelos pais, mas não da
mane1r'a que ela Lm'aginava. Caracten'st1'cas, talentos e tendências
podem ser herdados, mas não como qualidades boas ou más. Cabe
aos pais a tarefa de moldar as 1n'clinaço'es naturais da criança, dentro
de um comportamemo socialmente desejáveL Foi-lhe claramente
moerado que a conduta m'adequada do menino não foi predetenm'-
nada por seu pai, e que era responsabüidade dela orientar a educa-
ção do Íilh0. A atenção da mãe foi substituída de uma dr"ea sobre a
qual ela não tinha nenhum controle (as características 1n'atas do me-
nm'o), por uma ar'ea na qual ela podia exercer controle (o compona-
mento do fi1h0). Isto mudou seu pressentun'ent0 de que “o menino
m"a tracassar”, para a expectativa de que “ele seria bem-sucedido".

Ajuda Prática

Ao Jovem que se considerava um tracasso por ter talhado duas ve-


zes, toram dadas mtomlações complementares como forma prática
de a3uda. Disseram-lhe: “Cada pessoa tem dons em certas ar'eas e em
oulras não. Você deve descobrlr', através de tentativas, em que ar'eas
seus talentos se manüestam; onde poderá encontrar o seu lugar.
Quando descobm isto, concentre sua energia em procurar um em-
prego no campo em que perceber que não 1r'á falhar”. Esta aborda-
gem reanima sua coragem e confiança. Novamente, a atenção foi
subslituída em d1re'çã0 a ax'eas mais positivas e promissoras.
MUDHJCAÇÃO DAS .›\TITUDES 77

Lista dc opções posilivas

A esposa que se queixava de que seu mmido não a compreendia. foi


encorajada a fazer uma lism das caractcñsticm posilivas de scu ma-
rido. Ela ficou surpresa com o númcro de qualidades que conseguiu
encomrarz “Ele não é paquerador, não bebe, brinca com as crianças,
não é esbanjador...” Passando os olhos pela lista, cla dissez “Pcn-
sando bem, acho que devo ficar comente dc tcr um mmido assu'n. É
claro que é quase impossível viver com ele, mas quando vcjo como
são os outros, devo semlr'-me grata.“ Esta nova alitudc prcpara, de
antemão, a base para 0 aconsclhamento.

Uma alitude é considerada saudável quando d1r'ige scus objelivos pa-


ra algo que nos seja signilicativo ou, pclo mcnos, quando mantém
aoeno o caminho para esses objetivos. lsso nos ajudmá a szur' de
uma crise e, o que é igualmcnte imponante. evitmá que cntremos
nela. Uma atitude saudável nos leva a ter uma visão positiva da vida
e da natureza humana, e é também uma boa medicina preventiva.

“OS GOLPES DO DES71'N0"

Quando um golpe do destino é rcsponsável por situaçõcs imutáveis e


sem scntido, a mudança de atilude é o principal mcio dc ajuda. Os
golpes do destino são sempre pcrcebidos como scm scntido. e é
exatamente assim que pareccm ser. A pcrdu de um ser amad0. a per-
da permanente da sau'de, as conseqüências de uma catástrotc, não
podem ser desleitas, nem elas, em si, contêm sentido algum Porém
as portas amda estáo abertas, c uma modificação de atitudes pode
ajudar-nos a encomrm guias pma essas portas.

As pessoas que estão sotrendo os golpcs do destino não podem


ser curadas por meio de medicamentmu PodenL não obsmnle, se'r
78 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

contortadas. Muitas dessas desgraças não são causadas por enfermi-


dades, mas pela perda de um valor. lsto ocorre quando uma amizade
é rompida, um casamemo tracassa, uma pessoa querida morre, uma
carre1r'a profíssional lermina. E então sent1m'os um grande desapon-
tamento, uma arraigada sensação de culpa ou uma substancial perda
materiaL

Quando nos encontramos numa situação caótica que tem de ser


aceita, a sinceridade é necessan"a para que possamos descobr1r' atitu-
des significativas. Frankl cita o caso de um velho médico que, Lrês
anos após a morte da esposa. aínda não havia superado sua depres-
são. Durame o diálogo socra'tico, Frankl perguntou ao médico, que
teria aconlecido se ele tivesse morrido antes da mulher. Ele respon-
deu que teria sido insuportável para ela. Frankl deu a entender ao
médico, que seu sofmn'ento teria sido o preço que ele tivera que pa-
gar para que sua esposa fosse poupada. Pela pnm'elr'a vez seu cliente
vislumbrou a possibilidade de um significado em sua tristeza. Essa
mudança de atitude capacitou~o a começar uma busca pelo sígnifica-
do de sua vida, como viu'vo.

Uma senhora estava desesperada porque seu marido lhe pedira o di-
vórcio. Ela havia convergido toda a sua vida em tomo dele. Durante
uma noite de m'sôm'a, ela se levantou, vestiu-se e foi dar um passeio
por um parque das redondezas. De repente semiu como se um en0r-
me peso tivesse sido t1r'ado de seus ombros. Respüou protundamente
o ar tresco da noite, ouviu o silêncio e percebeu que esta era uma
experiência que jamais tivera nos quinze anos que estivera casada.
Foi quando se deu conta de que muitas experiências novas se des-
cortmavam a sua tr~ente. Sua atenção naquilo que havia perdido foi
subslituída pelo que ela poderia ter ganh0.

Uma mudança muito comum de atitude é expressa numa frase que se


tomou um clichê. Muitas mães, ao casarem uma filha, sentem-se
MODIHCAÇÃO DAS ATlTl 'l)lah 79

tristes; porém, corajosamente se confonam dizcndo: “Não es-


tou perdendo uma f1l'ha, mas gmhando um tilh0". Susan
Schaub, aluna do lnstituto de Logoterapia. chama essa mudan-
ça de atitude de “redecomr' os móvcis de sua mcnte".

Alguém que tenha sofrido uma perda pode insplr"dr-s-c no


exemplo de outros - as vidas de Franklin Roosevell e Helen
Keller, por exemplo, para pessoas com deficiéncias tísicas se-
melhantes. E o significado podc ser encomrado, se nos propu-
sermos a servü dc exemplo. Um doente, intcmado numa ala
hospitalar dc pacientes com câncer, depois de saber que não
lhe restava muito tempo de vida, disse ao seu médicoz “Se o
senhor pensa que vou desperdiçar meus u'ltimos meses de vida,
está muito enganado". Esse pacieme passou a percomer leilo
por leito. conversando com oquos doentes que já não linhm
perspectivas de cura. Ajudando-os e ajudando a si mesmo, en-
gajou~se numa atividade que para ele tomou-se signiücat1'va.

Um adolescente comentou: “Acabamos de sepultm nosso avô.


Há meses ele vinha sotrendo de dores; mas quando o visitáva-
mos, ele nos amm'ava. Deu a nós, jovens, um grande presente -
mostrou-nos como moxrer com dignidade".

Esse jovem conhma o mgumemo de FrankL que uma atitude


valorosa provê um importante cmmh'o pma o signilicada Que
podemos encontrar significado em expcriências fáceis de ver.
O que é menos óbvio, e não obstanle amplamentc obscrvado
em psicologia, é a terceüa ar'ea apontada por Franklz podemos
encomrax significado, pela mane1r'a como suponamos um so-
frimento inevitáveL porque ainda Iemos uma escolha muito
importantez

Podemos nos perguntar por que tal tragédia aconteceu conosco


- uma pergunta que não tem resposta e, portanto, Ieva zndesespc'm.
SO APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Ou, depois de um período de tristeza, podemos aceitar 0 m'evitável e


nos perguntar o que poderemos tazer agora, na dolorosa situação em
que nos encontramos - uma pergunta para a qum podemos encontrar
nespostas e, além do mais, conduz à esperança.

Aqui estão alguns modelos de perguntas que podem contxibuk para


a transtormação do desespero em esperançaz

. Quem, numa situação dessas, necessita da mm'ha ajuda?


. Existe alguém, cujo sotrimcnto eu posso minun'izar?
. Qual a coisa mais importante que eu posso fazer no tempo de que
disponho?
Que tipo de coisa eu ainda posso fazer em benefício dos outros?
. A quem eu amo e desejo proteger nesta situaçãdl
. A quem eu dou amparo?
Exíste algum negócio com alguém, am'da não concluído, que eu
possa pôr em ordem?
Que conhecmlento ou percepções eu possuo, que podem auxüiar
os demais?
Existe alguma parte da minha dor ou da minha expedência que
posso compartühar para que outros se beneficiem?
Que tenho eu ainda, que me pemlite nutnr' uma profunda
esperança?
Quais os pr1'me1r'os passos que preciso dar para implementar
minha nova atitude?

A atenção substitui 0 que está perdido pelo que ainda pode ser recu-
perado; substitui o que está enfermo pelo que ainda é saudável;
substitui a ar'ea do “'destin0" pela ar'ea da "liberdade”.

Uma pessoa quimicamente dependente do al'cool, não tem liberdade


sobre essa dependência, mas é livre, após um tratamemo de desinto-
xicação, de tomar ou não o pr1m'e1r'o íatídico gole.
MODIHCAÇÃO DAS ATITUDES 81

Um m'divíduo que sotre de depressão cndógena (uma deprcssão dc


causa biológich que vem e vai sem motivo apmcntcL não tem liber-

nç ~c.:.
dade para lutar contra a aproximagão imediata dc um ataquc (exccto
tomando medicamcntos que diminuem a intensidadc da dcpressão).

l zsxàñymr
No entanto, essa pessoa é livre pdra' levar uma vida normaJ entre os

w-Híwu
períodos de depressão.

As pessoas idosas não podem ímped1r' o aparecimento inevitável das


conseqüências da velhice - a diminuição da audição, da visão, a
perda dos amigos que morreram, a aposentadoria forçada e o entra-
quecimento, por exemplo. Mas são livres pma usar seus recursos,
incluindo sua experiência e sabedon'a. 0 d1'dl"ogo socrático pode aju-
dá-las a imcressar-se por expen'ênc1'as e atividadcs significaüvas que
elas não tiveram tempo de realizar quando eram mais jovens. A mu-
dança de atitudes pode, em certos casos, ser aplicada juntamente
com a desreflexão, embora esses dois métodos apresentem diteren-
ças evidentes, contorme assinala a Dra. Lukas, e que relacionamos a
seguüz
Mod1f1'caçao' de Atiulde Dcsreílcxao'

A meta é corrigü uma atitudc A meta é rcduw a hiper-refle-


doentia em relação a um pro- xão doentia com respeito a um
blema sobre 0 qual não temos problcma que é auto-induzido
controle (d0ença incurável, pela hiper-ret1exão ou pela hi-
morte de cnte querido). pcrintenção (com0 a m'sôm'a ou
disfunções sexuais).
0 resultado esperado é o crcs~
cun'ento imerior, aLravés da 0 resultado esperado é 0 cnes-
autotransformaçã0. C1m'emo inteúor que é adqum"-
do através do auto~esque-
0 caminho é ajudar as pessoas cun'ento.
a ter uma perspectiva que lhes
possibilite enxergar algo velho 0 caminlw é ajudar as pessoas
82 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

através de outro prisma; a a encontrar algo novo que re~


aceitar 0 destino Com uma nova duza a 1m'portância do velho; a
atitude,' a buscar sentido na vencer 0 egocentrismo m'teres-
atual situação; a transformar o sand0-se por causas e pessoas
sofnm'ento inevitável num sigmf'icativas; a buscar o signi-
triunfo humano; a motivar a co- ficado que se encomra além da
ragem e dignidade pessoaL situação atual; a eliminar so-
frimentos evitâveis através da
autotranscendência; a motivar o
m'div1'duo a assum1r' um com-
promisso e executax tarefas.
Capítulo Cinco

GUIAS PARA 0 AUTOCONHECIMENTO

No pnmeüo capítulo falamos sobre dois üpos de signiñcados que po-


dem nos ajudar a dar senúdo às nossas vidasz “o SIgnmmdo supremo"
- quando nos conscientizamos dc que existe uma ordem da qual um-
mos parte, e “o signilicado do momento“ - quando peroebemos que
cada momento nos otereoe um sentido em potendal a que podemos
responder. Ambos estão inter-relaa'onados. Cbmo _|á dissemos. pode-
mos ter uma lüosoña de vida salutar (religiosa ou secular). quc nos
on°enta a responder aos slgmhcados do momento; e podemos aprender
a responder a esses sign1h"cados de tal xnan'eu'a. quc passaremos a da-
senvolver uma saudável hl'osoiia.

Os logoterapeulas acreditam que. nas prolúndems de nossa d1m'ensão


espm"tual, existe uma voz que pode nos diaer quais sño as respostas
sigmñcativas para as diversas situações, mas que muítas barreims (de
ordem h'sica, psioológica, educadonm, sodal e culturaD abatdm" essa voz
inten'or. A logoterapia to'meoe guias pma muitas ar'eas dc sigmümda
Este livro se conoemra cm cmoo ar'eas nas qums temos mais probabm-
dades de encontrar a fome do signmmda

A pn'meu'a é a ar'ea do autoconheamento. É de v1tal unportan^c1a


84 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

sabermos quem nós somos. Não quem parecemos ser por detrás das
máscaras que aprendemos a usar a fim de sermos amados, aceitos e
bem-sucedidos, porém quem verdadeiramente somos em nosso m'ti-
m0. Desde a m'tan^cia escutamos as vozes dos outros - de nossos
pais, protessores, amigos e de pessoas que amamos e adm1r'amos.
Tivemos que agü assun' para viver ou talvez até para sobreviver.
Contudo, também precisamos saber quem somos por detrás das ma's-
caras que usamos. Algumas máscaras aceitamos, outras rejeitamos,
em geral inconscientememe. Precisamos saber, quando estamos res-
pondendo ao signüicado que o momemo nos apresenta, se a resposta
é nossa ou, sem que tenhamos conscíência, a resposta foi aprendida
de nosso pai, mãe, anúgo ou de outra pessoa 1'mportame.

Caminhos para o autoconhecimento

_
..,_.._4-..-...«._.__..._"v._..-.-mm'.-v_4-'pvrmw85(¡UIASPARA0AUTUCONIllzClMliNTOestaremostendoumvislumbredosigniticada0euquepodcmospercebernãoémeramenteoeuquefoidescnvolvidonopassado,mastambémaquelequenosempurracmdircçãoàsnossasmclas.Muitosdessesvislumbressurgcmincspcradmentc-clcspodemaparecernomeiodeumaconversa,enquantocslamosassilindoaumapalestraoulendoumlivro.oudurantcumcontatocomanatwrezaoucomalgorelacionadoàartccnummomemodemcdilação.Odiálogosocráticopoderserumatcmativapluncjadadecaptares-saspercepçõesdonossoverdadeüoeu.Odiálogopodcscrumca-minhod1r'etoou1'nd1r'etoparaoautoconhccimento.CAMINHOSDIRETOSAlgumasvezesomeiod1r'et0trazrcsultados.Apergunta“Quemévocê?”éformuladarepetidasvezesatéqueasrespostas-depoisdosníveissuperficiais(“SouJoeBloke",“advogado".“marid0dcMary”)começamav1r'deníveismaisprotundos(“Souumapessoamuitovulnerável",“umfracassado,adespeitodepmeccrulmho-membem-sucedido”.“umetcmodc~›.'c0nti.1'do").Dcvezemqumdovoltamosàsrespostas“supert*iciuis"anteriores,eexplormnos0queseescondeatrásdelas:“Adv0gad0-queistosignificapamvocê'?DinheLr'0?Prestígio?Justiça?Ajudarosdesl'.1'vorecidos'?”Eisaquioutrocaminhodiretopara0autoconhecimentozFuçuumalistadeadjetivosquedescrcvamcomovocêsecnxerga.Ou.melhorainda,façaduaslistas-umacomascoisasquevocêgostacmvocé,eoutracomasquenãogosla.Olheaslistas.Estávcndoalgoqucosurpreende?Qual'dosdoisladostoimaistácildcescrever-oposi-tivoouonegativo'!Ficouespantadocomonúmcrodecoisasqueapreciaemvocê?Muitaspessoasticamadm1r'adas.jáqueanossasociedadenostomamuitomaiscientesdaquiloqueestáerrado
.
w
Não é fácü saber quem nós realmente somos. Temos um corpo com
suas fraquezas e suas forças. Temos uma psique com seus 1m'pulsos,
anseios e 1n'stim0s. Nascemos com determmado caráter que tcnde ao
ouml"sm0 ou ao pessun'ismo, que pode ser eerovenido ou introvem'-
do, guiado pelos pensamentos ou pelas emoçoe's. Temos também
uma personalidade que foi moldada através das experiências por que
passamos. E temos o espm"to que contém nossa essência e nos capa-
cita a assumk uma postura em relação às lmn"lações de nosso corpo,
psique, caráter e personalidade. Podemos decidü quem somos,
e quem gostanamo's de vir a ser, levando em conta nossos poten-
ciais.

Somos a totalúação de todos esscs aspectos, sendo que o mais 1m'-


poname é o espüita Devemos ticar atentos à voz que emana de
nosso espm"t0 e nos conduz ao signüicado.

Todas as vezes que tivermos um vislumbre do nosso eu verdadelr'o,


..,_.._4-..-...«._.__..._"v._..-.-mm'.-v_4-'pvrmw85(¡UIASPARA0AUTUCONIllzClMliNTOestaremostendoumvislumbredosigniticada0euquepodcmospercebernãoémeramenteoeuquefoidescnvolvidonopassado,mastambémaquelequenosempurracmdircçãoàsnossasmclas.Muitosdessesvislumbressurgcmincspcradmentc-clcspodemaparecernomeiodeumaconversa,enquantocslamosassilindoaumapalestraoulendoumlivro.oudurantcumcontatocomanatwrezaoucomalgorelacionadoàartccnummomemodemcdilação.Odiálogosocráticopoderserumatcmativapluncjadadecaptares-saspercepçõesdonossoverdadeüoeu.Odiálogopodcscrumca-minhod1r'etoou1'nd1r'etoparaoautoconhccimento.CAMINHOSDIRETOSAlgumasvezesomeiod1r'et0trazrcsultados.Apergunta“Quemévocê?”éformuladarepetidasvezesatéqueasrespostas-depoisdosníveissuperficiais(“SouJoeBloke",“advogado".“marid0dcMary”)começamav1r'deníveismaisprotundos(“Souumapessoamuitovulnerável",“umfracassado,adespeitodepmeccrulmho-membem-sucedido”.“umetcmodc~›.'c0nti.1'do").Dcvezemqumdovoltamosàsrespostas“supert*iciuis"anteriores,eexplormnos0queseescondeatrásdelas:“Adv0gad0-queistosignificapamvocê'?DinheLr'0?Prestígio?Justiça?Ajudarosdesl'.1'vorecidos'?”Eisaquioutrocaminhodiretopara0autoconhecimentozFuçuumalistadeadjetivosquedescrcvamcomovocêsecnxerga.Ou.melhorainda,façaduaslistas-umacomascoisasquevocêgostacmvocé,eoutracomasquenãogosla.Olheaslistas.Estávcndoalgoqucosurpreende?Qual'dosdoisladostoimaistácildcescrever-oposi-tivoouonegativo'!Ficouespantadocomonúmcrodecoisasqueapreciaemvocê?Muitaspessoasticamadm1r'adas.jáqueanossasociedadenostomamuitomaiscientesdaquiloqueestáerrado
.
w _
86 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

conosco, do que daquüo que está ccrto. Quais das características


negativas você gostaria de mudar? As qualidades indesejáveis tanto
aparecem no lado positivo como no negatív0. Algumas vezcs. o tra-
ço negativo é o pneço que temos que pagar por alguma coisa posiliva
da qual não queremos abnr' mão: Você não gosta de ser supersensí-
vel e vulnera'vel, mas gosta do seu talento artística Você se dá conta
de que para ser am'sta, precisa ter sensibilidade. Ou.' você se inco-
moda que as pessoas abusem de você, mas gosta de ser prestun'oso.
No emamo, alguns m'divíduos preferem abusar dos que são presti-
mosos. Uma coisa leva à outra.

CAMINHOS INDIREIÚS

Geralmente o caminho m'due'to para o autoconhecmento é 0 mais


et1'caz.

Memónas' da 1nf'anc“la.' Quais são suas memórias mais remotas? Elas


poderão ser dolorosas, felizes ou embaraçosas. Quais eram suas
histórias preferidas, quais os COntOS de tadas, filmes, programas de
rádio ou shows de televisão que mais apreciava? Quais as palavras
de sua mãe, de seu pai ou de pessoas 1m'p0rlantes que mais gostava
de ouvu'?

Por que você se recorda de episódios banais? Que 1m'portância eles


Í
l
tm'ham para você? Am'da são 1m'portames? Qum a sua 1m'ponância
l
nos dias dc hoje? Será que essas lembranças de¡x'aram vestígios im- '
portantes pma você ser agora 0 que é? Quais são seus valores? Seus
ã
anseios e esperanças toram prccnchidos? 1
i
Quais são atualmente suas esperanças? O que antes toi penoso e as-
sustador 41"nda o é? Alguma coisa de positivo emergiu de experiên-
cias negalivas? Você consegue enxergar sentido nessas antigas e
dolorosas experiências?
GUIAS PARA 0 AUTOCONHECthNTO 87

Excmploz
Quando perguntada sobre expcúêncius mstes da intdn^'c1'a. Ér'ica
contou esw histón'a: Qumdo tinha quatro anos. cla sabia que sua
mãe estava esperando ansiosamente uma cnrta dc scu avô. Uma ma-
nha', Érica viu 0 caneüo na calçada cm frcnte; atmvcssou correndo a
rua e o carteüo entregou-lhc a carta. Ao lcvar a carta para casa, sua
mãe castigou~a por ter atravessado a rua. Qumnla anos depois, En'”-
ca am'da sentia a decepção. a dor que vívcnciou ao ser punida quan-
do esperava ser elogiada. Tomou~sc uma mulhcr rcservuda e moso-
sa. 0 diálogo socrático revelou que ela culpava o incidenle com a
cana, pelo tato dc ter-se tomado pcssimista. '“Todus as pessoas são
imbecis” e “lsso pma você é grau'dão" ercm scus ditos prmuetos -
que ela ouv1r'a de seu pai. A “lição" do incidemc 1'nstaldr'd-se em
solo tértiL

Érica e seu oriemador olharam o incideme do ponto de visla do


adulto em que Érica se transtormara. Ela descobriu uma cxplicação
diferente, embora óbvia, sobre o que aconlccera naquelc tão longín~
Ê,. quo diaz A mãe dc Éñca a castigara como expressão dc umor. Alm-
vessar a rua correndo era perigoso. c a vida de Érica era muito mais
preciosa do que o receblmemo antecipado da cana.
Ê
Um incídente desses pode ser responsável por uma inlcliz mudança
de rumo. As emoções da iníância podem dcsviar nossa vida pan um
Í
l novo atalho, e a racionalidade adulw geralmentc não conseguc Lrazer
l
'-, nossa vida de volla aos caminhos lelizes quc lkorum na época. O cpi-
sódio com 0 carteiro provavclmente não Ioi a única mzão quc lcvou
ã
1 Éríca a tomar-sc uma mulher dcscon11'ada. mas ccnamcnlc toi par-
i cialmeme responsável pelas máscaras que usou pam proleger-sc. Por
trás dessas máscaras vivia uma mulhcr que há muito tempo ansiava
por relacionamentos humanos mais próximos. E não era tmdc dcmais
- nunca é tarde dcmais para dm u nós mcsmos a oportunidudc de er-
guermo-nos acima do abismo do desaponlmlcma
88 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOUOTERAPIA

As históñas e os contos de fadas favomos podem ser as chaves para


a descoberta do nosso verdadeüo eu, e eles podem nos revelar nos-
sas mais remotas aspiraçoe's. Qual é nosso conto preferido não é 1m'-
portante. O 1m'portame é como 0 interpretamos. Peguemos “C1n'de-
rela”, por exemplo. Que rcpresema cla para nós? Que algumas pes-
soas são exploradas? Que até as pessoas mais hum1l'des têm uma
chance'? Que o trabalho ar'duo e a vmude são rccompensados? Que
Lransformaçoe's surpreendentes são possíveis? Que milagres ocor-
rem? Que não devemos acreditm em m11'agres? Que seremos punidos
se ultrapassarmos o prazo estabelecido? Que o desaponlamento sur-
ge quando percebemos que o “baile da vida" não dura para sempre?
Que as madrastas são cruéis, mas que no fim acabam perdendo? Que
o príncipe encantado nos reconhecelá mesmo através das máscaras e
dos distarces? As m'terpretaçoe's que escolhermos nos darão algumas
vagas noçoe's sobre nosso eu oculto.

Um retugiado da Europa de Hitler foi aos Estados Unidos sem um


centav0. Este homem adqum"u autocontiança através da recordação
de seus livros predüetos, que lera quando jovem - Robinson Crusoe,
de Daniel Detoe, e A Ilha Misteriosa, de Júlio Veme. Quando ele
era criança, aprendeu com esses dois livros que, mesmo se perder-
mos tudo, poderemos reconstruü nossas vidas. Aqui, também, a
mensagem nào está nas histórias, mas na interpretação que damos a
elas. Quando o paciente e seu on'emador exploraram essas memórias
no dial'og0 socrático, procuraram f1x'ar-se no lado positivo, mesmo
no lado positivo de uma experiência negativa.

“Se você fosse um anun'al..." Uma outra maneüa de descobrü nosso


autoconceito inconsciente é tentarmos nos identificar com
i
lí89GUIASPARAUAU'l'()('UNIIL'(.'IML'NI^()correntezaimpetuosa'!umcm'1ploregato?Vocêpodcdeixarvoarsuaimagmaçãoedivem'r-se,1'dentrt'icando-acom:umac0r.umchelr'0,osabordeumsorvete,umtecido.umaconerução,umaobradearlc.Aidentilicaçãonãoémaisdoqueumpassoparascchegmaoauto-conheciment0.Odiálogosocráticoirátambémexplormosmotivosmaisprofundosquenoslevmlaessasidcmiticações.Suponhamosquevocêsejaumcamundongo.Quesignilicaistoparavocê'?Pe-quenez?Esperteza'?Timidez?Repugnân01'a?Umacorujapoderepre-sentarsabedoriaouumafaçanhanoluma.Umesquilopoderepre-sentarmoderação,economia,vivacidadeouv1'g11'ância.Podemosbn'ncardejogodc1'dent11'›ic.1'ções,emgrupo.Dizcmosco-movemososoutros(umamm'alouumallor)e,dcpois.comovemosanósmesmos.Estejogopropiciaaoponunidadeparaoautoconhe-cimento,eachancedeaprendercomoparcccmosaosoquos.Artureraumrapazquietoereservado.Osparticipmtesdeumgrupov1r'am-nocomoumatoupeu'a,umcamundongo,umporco~espinho.MasquandochegouavezdeArturidcnlíh'car'-sc.elcdissequeseviacomoumtigre,movendo-sefurtivamentcdcntrodaselva,prontoparaatacar.Querepresentaumnome'?Outramanciradeaprendermaisanossorespeitoéexplorarcomonossentimosemrelagãoaosnossosnomcs-pnm°elr'oesegundonomes,sobrenome,pseudôn1'mo.sobrcnomedesolteLr'a,mudançadenomc.Seunomesugereaosoutrosdequeon'gemvocêé'?Comovocêsesentecomrespeitoaessa“revelação"?Elesignüicaalgumacoisaemsualínguaouemoutralíngua?Seunomefoidadoemhomena-gemaalguém?Vocéseidentüicacomessapessoa?Vocése
í
um animal ou com um objelo m'amm'ado. Se você fosse um animal,
qual deles seria? Um camundongo? Um esqu1l'o? Um tigre? Uma
águia? Se você tosse uma Hor - seria uma rosa? uma violeta? um
cáctus? Se você fosse uma massa de água - seria um oceano? uma
lí89GUIASPARAUAU'l'()('UNIIL'(.'IML'NI^()correntezaimpetuosa'!umcm'1ploregato?Vocêpodcdeixarvoarsuaimagmaçãoedivem'r-se,1'dentrt'icando-acom:umac0r.umchelr'0,osabordeumsorvete,umtecido.umaconerução,umaobradearlc.Aidentilicaçãonãoémaisdoqueumpassoparascchegmaoauto-conheciment0.Odiálogosocráticoirátambémexplormosmotivosmaisprofundosquenoslevmlaessasidcmiticações.Suponhamosquevocêsejaumcamundongo.Quesignilicaistoparavocê'?Pe-quenez?Esperteza'?Timidez?Repugnân01'a?Umacorujapoderepre-sentarsabedoriaouumafaçanhanoluma.Umesquilopoderepre-sentarmoderação,economia,vivacidadeouv1'g11'ância.Podemosbn'ncardejogodc1'dent11'›ic.1'ções,emgrupo.Dizcmosco-movemososoutros(umamm'alouumallor)e,dcpois.comovemosanósmesmos.Estejogopropiciaaoponunidadeparaoautoconhe-cimento,eachancedeaprendercomoparcccmosaosoquos.Artureraumrapazquietoereservado.Osparticipmtesdeumgrupov1r'am-nocomoumatoupeu'a,umcamundongo,umporco~espinho.MasquandochegouavezdeArturidcnlíh'car'-sc.elcdissequeseviacomoumtigre,movendo-sefurtivamentcdcntrodaselva,prontoparaatacar.Querepresentaumnome'?Outramanciradeaprendermaisanossorespeitoéexplorarcomonossentimosemrelagãoaosnossosnomcs-pnm°elr'oesegundonomes,sobrenome,pseudôn1'mo.sobrcnomedesolteLr'a,mudançadenomc.Seunomesugereaosoutrosdequeon'gemvocêé'?Comovocêsesentecomrespeitoaessa“revelação"?Elesignüicaalgumacoisaemsualínguaouemoutralíngua?Seunomefoidadoemhomena-gemaalguém?Vocéseidentüicacomessapessoa?Vocése
í
i
90 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

idcnlüica com 0 seu nomc? De que maneu'a? Você gostaria de ter


oquo nome? Você mudou seu nome? Por quê? Qual é seu apelido
preterido? Qual deles corresponde melhor à sua personalidade? Co-
mo seus pais escolheram seu nome? Que achou você desse cn'tén'0?
Você satistez a expectativa de scus pais? Você tem seu monograma
impresso em papéis? Na cane1r'a? Nos lenços? Por quê? Como você
se sente quando assina cartas, cheques, documentos? Se pudesse
mudar seu nome com facilidade, que nome escolheria? Como você
se sente quando alguém se esquece do seu nome? E quando escre-
vem-no emido ou pronuncimmo mal? Estas e outras perguntas si-
m11'ares podem ajudar›nos a aprender algo sobre nossa personahdade'.

CAMINHOS NÁO VERBAIS

Todos os cammhos para se chegar ao autoconhecun'ento sugcridos


amcriormenle, lançaram mão de palavras. Outros caminhos igual-
mente úteis são os não verbais e a utilização das artes. A m'formaça'o
revelada pode ser por si só proveitosa, ou m'tensificada através do
diálogo socra'tico.
Fazendo mascams'. Faça uma máscma com papel e cola e pm'te-a a
seu gosto. Ou compre uma máscara de papel e adapte-a a sua vonta-
¡
de. Como se sente usando essa máscara? Gostaria de mudá-la? De Y
arrancá-Ia? Por alguns momenlos ou para sempre? Um homem tez íA
para si uma máscara de palhaço e depois rasgou-a em pedacinhos, ¡
l

d1'zendo: “T0da a rninha vida eu banqueí o palhaço para chamar a ›,


r
atenção ou ser bem recebido, e todos estes anos eu quis scr levado a
Í
LÊr'Ã91GlYl/\SPARA()AUT()(f()NHlLCH\1L'NTOAmcHeuatQPeguealgunslápiscreionsdedivcrsascoreseumafolhagrandedepapeLAgoradescnhescuretrato.Nãoumaqu-rc-Lrato.masumafiguraabstratadclinhas,corcscsímbolosquevocêvairabiscandonopapeLàmedidaqueelassurgcmdoseuincons-ciente.Nãopensc,apenasdcsenhc0quescmc.l)epoiscomemeosresultados.Apósdesenharumauto-rctratodcssetípo.umasenhoradiSSCZ"Es-touconíusa.Olheestamixórdiadclinhas.Sãotracasedcsbotadascnãolevamanada.Etantommomcprcto!EugostmndctcrIcítolinhaslortcs.quequisesscmdizcralgumac0isa,ccoresvivas-vermelhoeverde”.Ooricmadorsugeriuqueelalizesscumsegundodesenho.comaslm'hasecoresqueeladesejasse.“Agorapcndurcestcsdoisdese›nhossobresuacama“,disse-lhc0oricmad0r.“colhcpmaelesto-dasasmanhãs,antesdecomeçmseudia.Oprimcirorcprescnlasuaauto-xm'agemquelheIoiimpostacmfunçâodesuascxpcriênciaspassadas.Osegundoreprcsentaseupussadosubmersoquecstálu-tandoparav1r'àtona".Ojogodalmha.'Estabn'ncadc1r'aérealizadaentreduaspessous.Vocêpodejogarcomseuorientadoroucomquulqucroutrapessoa-Umparente,cônjuge,amigo.Vocêolhadctremcseuparwckoatra-vésdamesa.ondefoicolocadaumafolhadcpapclenlrczunbos.VocêsserevesamdesenhandoIinhas;umadccadavez.dcqualqucrtamanhoeemqualquerdireção.CadaumcomcçanoscuIadodopapeLOsscustraçossãoforteseagrcssivo.s"!Fracosctímídus?V'o-cêbuscaouevilaaoutrapessoa?GOSIariadeconduzirseupleCClIAOparaforadopapel?Atravésdasdiscussõcssubscqüentes,vocêpodedescobrümuitacoisasobrcsimesmo.“SouumobJelo'dentrodeumasala".Estcéumexcrcíciodcsenvol-vidonaterapiagestáltichVocêescolhcumobjclonumasala.
¡
sério.”

Pintar 0 rosto é uma variaçãolde tazer uma másca.ra. Pode~se usar


um creme tacial branco, batom. lápis de sobrancelhas (ou qualquer
oqua maquüagem) - bonito, engraçado, grotesco, assustador, do
jeito que você prelenr'. Se a pintura do rosto for teita em grupo, vo-
cê pode tazer a sua, de modo a mostrar'-se aos outros como você se
idemitich Será que isto o ajuda a saber o que você quer ser?
LÊr'Ã91GlYl/\SPARA()AUT()(f()NHlLCH\1L'NTOAmcHeuatQPeguealgunslápiscreionsdedivcrsascoreseumafolhagrandedepapeLAgoradescnhescuretrato.Nãoumaqu-rc-Lrato.masumafiguraabstratadclinhas,corcscsímbolosquevocêvairabiscandonopapeLàmedidaqueelassurgcmdoseuincons-ciente.Nãopensc,apenasdcsenhc0quescmc.l)epoiscomemeosresultados.Apósdesenharumauto-rctratodcssetípo.umasenhoradiSSCZ"Es-touconíusa.Olheestamixórdiadclinhas.Sãotracasedcsbotadascnãolevamanada.Etantommomcprcto!EugostmndctcrIcítolinhaslortcs.quequisesscmdizcralgumac0isa,ccoresvivas-vermelhoeverde”.Ooricmadorsugeriuqueelalizesscumsegundodesenho.comaslm'hasecoresqueeladesejasse.“Agorapcndurcestcsdoisdese›nhossobresuacama“,disse-lhc0oricmad0r.“colhcpmaelesto-dasasmanhãs,antesdecomeçmseudia.Oprimcirorcprescnlasuaauto-xm'agemquelheIoiimpostacmfunçâodesuascxpcriênciaspassadas.Osegundoreprcsentaseupussadosubmersoquecstálu-tandoparav1r'àtona".Ojogodalmha.'Estabn'ncadc1r'aérealizadaentreduaspessous.Vocêpodejogarcomseuorientadoroucomquulqucroutrapessoa-Umparente,cônjuge,amigo.Vocêolhadctremcseuparwckoatra-vésdamesa.ondefoicolocadaumafolhadcpapclenlrczunbos.VocêsserevesamdesenhandoIinhas;umadccadavez.dcqualqucrtamanhoeemqualquerdireção.CadaumcomcçanoscuIadodopapeLOsscustraçossãoforteseagrcssivo.s"!Fracosctímídus?V'o-cêbuscaouevilaaoutrapessoa?GOSIariadeconduzirseupleCClIAOparaforadopapel?Atravésdasdiscussõcssubscqüentes,vocêpodedescobrümuitacoisasobrcsimesmo.“SouumobJelo'dentrodeumasala".Estcéumexcrcíciodcsenvol-vidonaterapiagestáltichVocêescolhcumobjclonumasala.
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92 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

idemüica-se com ele e conversa como se você tosse esse objeto.


“Eu sou um livro na estame”. “Eu sou a parede”. “Eu sou um co-
p0". Em seguida, desenvolva seu tema. Por exemploz Como livro,
você pode ser bonito, encademado em couro, alinhado corretamente
- assun' como você se coloca entre seus companheüos de grupo -
apreciado, útiL 1'nsp1r'ador, intoxmativo; ou, você pode se sentu' me-
nosprezado, entadonho, cobeno de pó, pronto para ser jogado fora.
Como parede. você pode sent1r'-se 1m'portante - pode proporcionar
proteção, privacidade, ser um l_ugar onde as pessoas podem expres-
sar sua criatívidade decorando você; ou, sent1r' que é um obstáculo,
um lnm"te, algo que mantém os outros do lado de fora; 0u, sentü que
é um espaço, munido de ponas e janelas que pemlitem aos demais
ver e alcançar o mundo exterior. Como um cop0, você pode sent1r'-se
u't11', receptivo, aberto a todas as possibilidades; ou. ver-se como al~
go fra'g11', vazi0, comum e - dependendo da mane1r'a como se enxer-
ga - em pane vazio e em pane cheio.

Auto~rea|ização

Nos dias de hoje fala-se muíto em "conhecer-se a si mesmo".


Os exercícios ac1m'a e os dial'ogos socráticos, mostraram~nos
muitos dos nossos aspectos. Quais dos aspectos queremos pôr em
prática? É óbvio que desejamos aqueles que são saudáveis, positivos
e signü'1'cativos.

Não é suticiente descobr1rm'os quem realmente somos e sonhar com


essa 1m'agem. Temos quefazer algo a respeito disso. Somos capazes,
sozm'nos, de Lranstonnarmos 0 que somos no que podemos ser.
Algumas vezes, no emanto, uma pequena ajuda é necessan"a.
Uma torma deste tipo de ajuda é 0 método “com0 se”, desenvolvido
pelo logoterapeuta James Crumbaugh. Este método é descrito no
Apêndíce B. Ele nos ajuda a romper um modelo de comportamento
UUIAS PARA 0 AUTOCONlllíClMLNlU 93

1'ndeseJado, baseado numa auto~imagem empobrecida ou docntia. Se


pudermos quebrar esse modelo, nem que seja por um único momen-
¡o, poderemos nos convencer de que não somos vít1ma's indelcsas.
Nesse único momento seremos 0 que queremos ser, o que sabemos
que podemos ser. Esse salutar mstante de auto-real'ização pode ser o
ponto decisivo.

Digamos que você se comporta como um tímido. Todos sabem que


você é tímido e esperam que seja tímido. Os “jogos” que você prali~
cou com seu orientador mostrmam que, no íntimo, você é um ser
gregan"o. Então você assume um compromisso com seu orienmdor de
que, no mínímo em uma situução, você se mostrará audacioso, como
sabe que pode ser e nunca teve coragem dc sê-lo.

É claro que não conseguu'a' isso num único grande salto - esta ex-
pectativa 1I'á pred1'spó-lo a um desencorajador fracasso. Nem esse
salto deve ser tão pequeno que não chegue a const1'tu1r' um desafio.
Você deve 1r'-se expandindo em d1r'eça'o aos seus objetivos. Talvez
no contrato que fizer com seu orientador, você possa estipular que.
como pr1m'e1r'o passo, a próx1m'a vez que for a uma reunião socidl',
você Lr'á se apresentar a uma pessoa que não conhece. O segundo
passo poderia ser a escolha de um assunto sobre 0 qual' você m sen-
tm"a à vontade, ao talar com essa pessoa. O método “como se"
ajudá~lo-ía a convencer-se de que você tem capacidade de redl'lz'ar-
se naquüo que considera signiñcativo.

Se você tem medo de pôr à prova o método “como se". talvez tosse
necessan"o tazer antes um ensaio geral com seu 0rientador. Na segu-
rança da presença de alguém em quem confía, será mais tácü com~
portar-se, como gostaria de se comportar na pnesença de estranhos.
E uma pítada de humor ajuda. O humor lhe pennite perceber como é
ridículo componar-se como um camundongo. Por consegum'te, du-
rante o ensaio, exagere seu medo e seu heróico discurso bombáslico.
94 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Dcpois que aprendeu a nr' de si mesmo, você achará mais tácü en-
trcntax o mundo.

A auto-reahz'ação, tendo como objetivo um comportamento deseja-


do, também pode ser alcançada através do método “registro”. Supo-
nhamos que você tenha a reputação de ser arrogante. Talvez você
rcalmente use a arrogan^cia como uma máscara para ocultar sua fraca
auto-1m'agem, ou para esconder um 1m'pulso de dominan Você resol-
ve que quer mudar esse aspecto da sua personalidade - que não é
você, verdadeu'amente. Faça um trato com seu orientadon que todas
as noites, antes de se deitar, você escreverá duas listas com inci-
denles que ocorrcram durante o dia. A pr1m'e1r'a lista terá como mu-
loz “Hoje fui arrogante quando eu...” A segunda, “H0je não fui ar-
rogante quando eu...” Depois de executar essa tarefa durante alguns
dias, descobrüá uma forma de comportamento que você poderá
mudaL

0 papel do diálogo socrático

O diálogo socrático é a pane que mais m'11ui no processo de auto-


reallz'aça'0. O oriemador pode usar alguns desses exercícios e jogos
para esclarecer aos paciemes suas percepções sobre seu eu ocult0.
Essas percepçoe's podem auxüiar o orientador a encomrar brechas
que, por meio de pcrguntas, possam conduzü 0 paciente a níveis
mais protundos.

Quando 0 paciente sotre de u'lsegurança, ansiedade e desan^imo, o


dial'ogo pode ser abcno da seguinte maneüaz “Fale-me sobre um
tempo em que você semiu insegurança e conseguiu superá-la”.

Se não obtiver resposta, o orientador pode tentarz “E quando foi que


você sentiu insegurança e isso o 1n'comodou?” Provavelmente esta
_vvr-›v_.._.W95GUIASPARA()AIÍIOCUNlll:Cl\.H2N1()perguntapodeprovocararespostaz“Euscmpremcincomodciporcausadisso".Entãoo0n'entadorsetomamaiscspccíticoz“Dê-mcumexemplo”.'°Eumecandidatcíaumempregodecnlermcira.UmLrabalhoquccudesejavamuito.Éramostrêstinalistasceudeiumapéssmmimpres-sã0.Conheçoamulherqueconseguiuocmprcgo.Elanãoétáobemquahf'icadaquantoeu,masapresentou-scmelhor."Oorientadorcaptouosaspcctospositivosz“VocêIoiumatm'alistapwaumempregomuitocobiçado.Eliminouumaporçãodcconcor~rentes.Dissesermelhorqualificadadoqucamulhcrquevcnceu.ls-sosignificaquevocêtemmaisconfiançacmsimesmadoquead-mite?Ouseráquevocêpretendiasermelhorqualificadadoquerealmemeé?-eque.comefeil(),vocêmentiu?Foíainsegurançaouahonestidadequeaimpcdiudeconscguiraquiloqueal'¡ncjava?Houveincidcmesemsuavidaemqucahoneslidadel'oiresponsúvelporumavitóriaenãoporumfracasso'!Confonneessediálogovaiprogredindo,apacicntcpodechcgaraencontrararespostaàperguntainicialz“Jáhouveumtempoemquevocêsentiuinsegurançaeconseguiusuperá~la?"Entãoapaciemepodevoltar-separaumadireçãopositivaeestabeleccrumaauto-1m'agempositiva.lntroduçõesaosdial'0gossocráticospodemsertãovan"udasquuntoosão0númcrodepacienteseseusproblemmzAlgumasdcuimmdu~çõesquepodemlevaràauto-realizaçãosãozFale-medealgoquegostedefaz'cr,equetazbcmteito.Fale-mesobrealgumacoisaboaenovaemsuavída.Fale-mesobrealgoqueestáaprendendoequescjadüíciLFale-mesobrealgoquevocêdcscobn'urecentemcntea›e'urespeito.
_
-4<
96 APLICAÇÓES PRÁTICAS l)A LOGOYERAPIA

Fale-me sobre algo que lhe disscram que você não poderiaTfaze
mas que você fez.
. Fale-me sobre algo que eslá íazendo e obtendo progressos.
. Fale-me sobre uma época em que demonstrou não estar desam-
parado.
. FaJe-me de uma época em que alguém espcrava o máximo de
você.
Fale-me sobre algum sentun'ento que lhe foi muito duro aceitaL
Fal'e-me sobre uma experiência que o fez ver as coisas de ma-
neira diferente.
Fale-me sobre uma época em que você se sentiu mais vivo que
nunca.
FaIe-me sobre um tempo em que você conñava em si mesmo.
Fale-me sobre um tempo em que toi düícü pedLr' ajuda, mas
mesmo assun° você 0 tez.
Fale-me sobre um tempo em que você necessitava de ajuda e não
teve.
Fale-me de alguma atitude que você mudou para poder tomar-se
um amigo melh0r.
. Qual a sua máscara preterída'! Que você está escondend0?
Qualquer uma dessas pergunLas, qualquer um desses exercícios pro-
poslos neste capítulo, ou a combmação de ambos, poderá nos con-
du7.1r' a uma experiência almejada, a uma maior auto-realização que
abr1ra"o caminho ao novo signüicada
rw
en

Capítulo Seis

GUIAS PARA AS ESCOLHAS

A segunda ar'ea onde podemos esperar encontrar sentido é a escolha.


Nós sempre Iemos escolhas, mas geralmeme não nos damos conta
disto. Na situação em que não vemos cscolhas, onde nos sentimos de
mãos e pés atados, não enxergamos nenhum sentido. Sempre que
estivermos cônscios de que existem saídas, não mais nos senmcmos
como vítimas indefesas à mercê das circunstâncias, e seremos capa-
zes de perceber o signüicado à nossa volta.

Como mencionamos anter1'ormente, precismos d1'stingu1r' as silua-


ções que podemos muddr', das que devemos aceimr'. Como regra, se
não gostamos de uma situação que pode ser mudada. "0 scntido do
momento" é mudá-la. Mesmo numa situação imutávcl tcmos cacolhaz
podemos mudar nossa atitude dianlc do fat0. Aldous Huxlcy dccla-
rou que “A escolha é sempre nossa". Certameme islo se aplica à es-
colha da alitude.

Nem sempre é fácil distinguu' 0 que podemos, do que não podemos


mudar. A natureza fatal da cücunstância rcsultante da monc, de uma
doença incuráveL do divórcio, da aposemadon'a, é óbvia. Porc'm, su-
rá que um problema na família ou no trabalho podem scr mudados
w
98 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

_._
ou devem ser aceitos? As vezes o diálogo socrático pode-nos ajudar

k
a resolver esta questão.

O logoterapeuta japonês, Dr. H1r'oshi Takash1ma', distmgue as doen-


ças (e situações) que podemos dominar, daquelas com as quais pre-
cisamos aprender a conviver. A situação que podemos dominar é
como uma cobm venenosa que está presa conosco dentro de uma

«- _›. -«_. ~ñ._ , _. ñl


Jau1a. O sentido da situação é encontrado no ato de matar a cobra. A
situação da qual não podemos escapar é como estar trancado ao lado
de um boi lone e pacat0. O sentido da situação é encontrado quando
aprendemos a viver Junto ao an1m'al.

Situações que podem ser mudadas

Alualmente, em nossa sociedade opulenta e permissiva, muitas deci-


soe's que estão ao nosso alcance, já o estiveram para muitas gerações
atrás. Podemos escolher nosso colégio, nossa cane1r'a, nosso compa-
nheu'0, nosso estilo de vida. Slm'ultaneamente, o sentido vai mudan-
do no Lranscorrer de nossas vidas. O que parecia importante aos 18
anos, pode não sê-lo aos 40 ou 60. Continuar numa situação na qual
não vemos mais sigmf'icado, pode acarretar frustrações, neuroses,
depressão, doenças psicossomáticas, somatizações e até suicídi0. E
em muitas dessas situações am'da temos oportunidades de mudar.

O pnm'eu'o passo para a saúde mental é tomar consciência de que


temos escolhas. O segundo passo é detenninar o que é mais signüil
cativo para nós naquele momcnto de nossa vida.

A usm BAS'ICA

O meio mais d1r'et0 de tomzumos consciência de que temos escolhas


w

GUIAS PARA () AU FOCONI lliClMLNYO 99


_._
k

é elaborar uma lista de possibilidades. Dessa lista podemos selecio-


naI o que é, pma nós, mais significativa

Primeüo descreva seu problema em uma ou duas trascs. Faça dcpois


uma listagem das possíveis soluço'es. lnclua as possibilidadcs quc. à
pnm°e1r'a vista, parecem inviáveis, e mesmo aquelas que parecem ri-
dículas. Em seguida taça uma lista das conseqüências positivas e
«- _›. -«_. ~ñ._ , _. ñl

negativas de cada escolha, que representam as vantagens c as des-


vantagens. A lista nos mostrará que nâo estamos encurralados. e o
senso de humor em relação às possibilidades ridículns poderá ter
valor terapêutic0.

MlNHAS POSSlBlLlDADES

Meu problema é:

Minhas escolhas são:


Escolha 1
Escolha 2
Escolha 3
Escolha 4
Escolha 5
Escolha ó
Escolha 7 V

Conseqüênciasz
Vantagens Desvantagens
Escolha 1
Escolha 2
Escolha 3
Escolha 4
Escolha 5
Escolha ó
Escolha 7
100 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Passe os olhos pela lista e selecione a altemativa que lhe parecer


mais signiticativa. Você pode usar o dial'ogo socrático para auxi-
liá-lo nessa escolha. No dia'logo, considere as quatro ar'eas onde vo-
cê terá mais probabüidade de encontrar semido.

Amooonhecmnm Será que sua escolha representa o seu verdadei-


ro eu, ou está baseada na resposta “eu devo” - talvez m'consciente -
de uma exigência exterior (de sua ma'e, amigos, sociedade)? Não
rejeite automaticameme essas exigências extemas; examme cada
uma delas para certüicar-se de que concorda com a escolha.

Um'cidade. Reflita se sua escolha o coloca numa situação em que di-


ficümente você possa ser substituíd0.

Responsabmdada Pense no 1m'pacto que sua escolha poderá provo-


car nos outros.

Amnnansccndcnc^1a.' bembre-se de que sua escolha terá mais proba-


bilidades de ser signüicativa, se ela transcender seus m'teresses pes-
soais.

Exemplo
Max era um engenheu'o de 35 anos, casado, pai de duas crianças
com 8 e 10 anos de idade. Ganhava um bom salan"o, tm'ha chances
de progred1r' e obter benefícios que m'cluíam planos de saúde e pen-
são. Mas ele detestava seu emprego - a companhia fazia parte de
uma m'du'stria de armamentos e poluía o meio ambiente. A esposa
compamlh'ava a preocupação do marido sobre esses dois aspectos do
trabalho dele. Ulumamente ele começou a duvidar da escolha que fi-
zera em relação a sua carre1r'a. Lamcntava não ter sido professor,
pois agora ele poderia exercer uma míluência 1m'ediata no desenvol-
v1m'ento das crianças. Acabou tomando-se 1m"tado e depr1m'ido, pas-
sou a sofrer de m'sônia e começou a bebeL Tudo isso termmou por
afetar seu casamento. Depois de falar com o orientador, Max preen-
cheu sua listaz
GUIAS PARA O AUTOCONHECIMENTO 101

MlNHAS POSSlBlLlDADB

Mcu problema é: Mcu cmprcgo utual


Mínhas escolhas são2

Escolha I __________P__&__________Permanecer
no cmrcvo
Escolha 2 ____________B__L_____5____Encontrar
outro cmreo como cncnhciro
Escolha 3 T_______p___________§_______omur-me
rofessor dc cn'anas
Escolha 4 _______L______L______Minha
csosa trabalhará ara sustentar a fa-
mñia
Escolha 5 __E______Fazer
um emréstimo
Escolha ó _L_&___________Dar'
aulas ara enenheiros

.'
Escolha 7 T______L_cL______-rabalhdr'
meio eríodo enuanto cstudo

. _2~'
Escolha 8 _________p__Como
0 n-“ 7. mas minha csosu também terá
_q____p______ue
trabalhar meio eríodo

Conseqüênciasz

m
Vantagens Desvantagens
Escolha 1
Bom salário Connito de valores
Escolha 2 D__g______iminui'ão
Trabalho mais satis- do sulá-
fatório rio
Escolha 3
Trabalho satisfatório Ncnhum salário en-
5;__uanlo
cstudar
Escolha 4 _LR___Desesas
ma vívcr Tcnsão na famíliu
estarão cobenas
Escolha 5
_W'nhu
esosa toma- Assumir dívidas
_g_u_.s_rá
conwd45'cn'am"''
Escolha ó
___Lg_É
um emrco de Não exutamcnlc o
_&____maistério g___q__ue
eu UCIO
Escolha 7
_________g__Leva-me
ao ue _____<¡____RedU'ão
da renda

Letendo ser muiar ncssc meio


_p___temo
Escolha 8
________q__Leva-mc
ao uc Certa Lensão na

L________retendo
ser famflia
102 APLlCAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Max exammou a lista e optou pelo n°- 5. Contudo, após trocar idéias
com a tamília, decídüam pelo n-° 8. Max, sua esposa e f11'hos, fize-
ram outra lista, na qual div1'd1r'am os afazeres domésticos. Os resul-
tados dessas atividades não toram benéticos só para Max - que ago-
ra tu1h'a uma meta significativa - mas também para sua esposa, que
já estava entediada de ser dona-de-casa, e para as crianças, que ago-
ra teriam ocupações sigrúñcativas dentro da família.

A busca pelo significado não termina com a elaboração de uma lista.


Uma vez feita a escolha, é preciso dar os pn'me1r'os passos para que
ela se tome realidade. Outras listas foram adicionadas. Tanto Max
como sua esposa, fizeram listas que continham possíveis empregos
de meio período. As crianças ñzeram listas nas quais elas mesmas
escolkúam suas tarefas. Max procurou colegas para informar-se do
que necessitaria para tomar~se professor. Voltou a dorrmr' melhor e
parou de beber. “Eu não tive mais tempo para ficar depnnn"do”,
disse ele.

RECONSIDERANDO

Max percebeu que estava querendo e podendo fazer uma mudança.


Ele só não sabia por onde começ.1r'. Algumas pessoas pensam que
não têm forças suticientes para superar uma dificuldade. Estão con-
vencidas de que “na'o podem”. Se pensamos que “não podemos”, o
dial'0g0 socrático poderá nos condum a lembranças de experiências
passadas, quando “nós pudemos” mudar uma situação indesejada.
Uma tantasia não 0n'entada pode nos levar ao tuturo, onde nos ve-
remos numa situação desejada que nos motivará a tentar mudar nos-
sa atual situação. Depois podemols reconsiderar nossa postura nega-
tiva diante de uma cücunstância. enfatizando agora seu lado positi-
vo, como se segue:

. Não posso achar um novo emprego.


. Não quero encontrar um novo emprego.
GUlAS PARA o AUTOCONHECIMENTO 103

. Gostaria de achar um novo emprego.


. Posso achar um novo emprego.
. Encontrarei um novo emprego.

Neste ponto, é hora de dar o pn'me1r'o passo que nos leve da imen-
ção à realidadc. Eis a lista dos primeüos passosz

. Proourar emprego através de anúncios em jomais.


. Colocar meu próprio anúncio.
. Ir a uma agência de empregos.
. Perguntax a amigos e conhecidos se eles conhecem algum
emprego que me servm"a.
Candidatar-me a um emprego numa f1rma' promissora.
Enviar dados de minhas pretensoe's a empregadores em potenciaL

Agora chegou o momento de responder aos anu'ncios, escrever car-


tas, comparecer a entrevistas. Se nos sentimos apreensivos ou m'se-
guros, o método “c0mo se” (Apêndice B) pode ser usado. Em resu-
mo, é assim que o método “com0 se" funcionaz Durante o cuno pe-
ríodo da entrevista, agun'os como se estivéssemos tão seguros como
gostaríamos de estar - e, bem no ínt1m'o, estamos. A pnm'eu"a un'-
pressão que damos, transforma-se numa profética auto-satislação.
Quando se trata de autoconfiança, o entrevistador responde à nossa
autoconfiança, e esta resposta reforça esta nossa característica.

ENSAIANDO NOSSAS ESCOLHAS

Mesmo depois de termos feito nossa escolha, de estarmos dispostos


a dar os pr1m'eu"0s passos e haver aprendido o método “como se”,
talvez am'da nâo nos sintamos promos para entrentar 0 mundo, e
tentar. Se isto acontecer, um ensaio geral na forma de logodrama
(ver Capítulo Doze) é proveitoso. No logodrama 0 orientador
104 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

desempenha o papcl de um temível “bicho-papão". Por eTempl o


0n'entador assume o papel do entrevistador que possui todas as ca-
racterísticas que tememos - uma pessoa agressiva, descontiada, ne-
gativa e tria, alguém que tenta passar uma rasleüa em qualquer can-
didzto ao emprego. Se durante o ensaio agmn°os de mane1r'a errada,
podemos mudar nosso comportamento até que encontrcmos uma
torma adequada de atuaL Depois dessa experiência com o orienta-
dor, podemos usar nossa recém-adqu1n"da autoconfiança e enfrentar
a verdadeüa entmvista.

ESCOLHAS COM RESPONSABILIDADE

Quando fazemos escolhas em situaçoe's que podemos mudar, é pro-


vável que usemos nossa liberdade da maneira que melhor nos con-
vier. E é claro, isto está correto. Mas as escolhas significativas tam-
bém devem levar em conta as pessoas que sâo afetadas por nossas
escolhas. Se não pensannos nos demais, podemos gerar contlitos e

H
_ .;,".."vv:,.h
Siwaçao'd1f1"c11':Seeupedüodivórcioecasarcommeunovoamigo,quaisserãoasconseqüências?Conseque'^ncms'PositivasPessoasenvolvzdwEuMeumaridoTommy(filhode10anos)Sue(f11'hade8anos)Rod(meumorado)MeuspaisNegativasna-
____.____.________.ExemploUmasenhorade35anos,mãcdedoisfühos,toiaoconsullo'n'odaDra.Lukascomumproblemamuitocomumnosdiasdehojc.0ma-ridodelaeraumaboapessoa,mas0casmentodcleshavia-setoma-domonótono.Essasenhoraencontrouumhomemcharmosoqueprometeu-lheproporcionaravidaqueelasempredesejou.Depoisqueamulherconversoudetalhadmentesobresuasituaçãoeseusvalores,aDra.Lukaspediu-lhequelizesseumalistadcpessoaseconseqüências,comofoíacm'1aassinalado.
TT.__..___...._.._-.__w,-105GUIASPARA0ALÍl'()('()\.'llliCthNTO(,o'nsequc“m¡as'PositivasPessoasenvonas'Negatívas
_
adqumr“ sentimentos de culpa. Uma escolha signüicativa é livre e

4.-
responsáveL (Este aspecto de como tazer escolhas será amplamente
discutido no Capítulo Oito).

ver.4*â* "'fa
Elisabeth Lukas desenvolveu uma forma sun°ples para ser ut11'lz'ada
quando lidamos com situaçóes nas quais é 1m'portante levar em con-
sideração os sentlmentos clos outros.

Silmçab d1f1"cü:
.;,".."vv:,.h
Siwaçao'd1f1"c11':Seeupedüodivórcioecasarcommeunovoamigo,quaisserãoasconseqüências?Conseque'^ncms'PositivasPessoasenvolvzdwEuMeumaridoTommy(filhode10anos)Sue(f11'hade8anos)Rod(meumorado)MeuspaisNegativasna-
____.____.________.ExemploUmasenhorade35anos,mãcdedoisfühos,toiaoconsullo'n'odaDra.Lukascomumproblemamuitocomumnosdiasdehojc.0ma-ridodelaeraumaboapessoa,mas0casmentodcleshavia-setoma-domonótono.Essasenhoraencontrouumhomemcharmosoqueprometeu-lheproporcionaravidaqueelasempredesejou.Depoisqueamulherconversoudetalhadmentesobresuasituaçãoeseusvalores,aDra.Lukaspediu-lhequelizesseumalistadcpessoaseconseqüências,comofoíacm'1aassinalado.
TT.__..___...._.._-.__w,-105GUIASPARA0ALÍl'()('()\.'llliCthNTO(,o'nsequc“m¡as'PositivasPessoasenvonas'Negatívas
_
ver.4*â* "'fa 4.- _ H

mploz
106 APLICAÇÓES PRÁTICAS [)A LOGOTERAPIA

Depois de ter escrito as conseqüências positivas e negativas que in-


cidiriam sobre ela e sobre as outras pessoas - em cada um dos pos~
síveis atos - toi mais fácíl pam ela tomar uma decisão.

O diálogo socrálico é de vital un'portan^cia para ajudar pessoas que


estão Iazendo uma escolha, numa situação que compona diversas
soluçoe's. O dial'ogo auxüia o pacieme a explorm seus anseios mais
protundos. Aquí estão algumas sugestoe's para abr1r' e tacilitar esla
m'dagação:

. Quais são Mgumas das suas asp1ra'çoe's?


. Que taz com que você se sm'ta bem sobre si mesma?
Fale-me sobre alguma decísão düícil que você tomou.
De que maneu'a você o tez?
Fale-me de uma decísão que tomou e da qual se arrependeu.
Que tez a esse respeit0?
Você já precisou voltar atrás em uma decisão?
Fale-me sobre alguma decisão que tomou e que foi um desafio -
mas que nem por isso você recuou.
Falc-me de uma ocasião em que você não percebeu que havia
te'íto uma escolha, porém dcscobriu que havia.
Em que você gostan'a de scr bem-sucedida?
Que você gostaria de haver tentado?
Que você gostdn"a dc fazer um dia, mas até agora não fez?
Fale-me de uma época em que você adiou alguma coisa que
deven'a ter sido feita un'ediatamente.
Já houve alguma ocasião em que você quis dízer algo mas não
dísse?
Fale-me de alguma vez que foi-lhe difícil dizer “na'o” mas você
disse.
Fale-me sobre uma máscara que você escolheu mas não gostou.
Que você espera que sua profissão ta'ça por você?
FaJe-me se algum dia pane de você quis taz'er alguma coisa, e
parle quis tazer 0qua.
UUIAS l'¡\kA 0 AUTOCOh'HL'CI'\4llzN l'() 107

Algumas situaçoe's têm que scr aceitas. Ncsms casos, a cxolha que
está aberta para nós é não mudm uma situação scm sent|'du, e gcral-
mente dolorosa. Contudo, cenamente podemos dcscobrü uma uma-
de signüicativa com respeito a uma situação que, por si só, é doloro-
sa e absurda, como qualquer desígnio do dcstino.

O sentido que se esconde por detrás do sotruhcnto m°cvitávcl, nem


sempre é 1m'ediatamentc manifesto . Temos que pn'me1r'o passar por
um período de tristeza e aceitaçãa Só emão podercmos nos
perguntarz

- Que eu aprendi com isso?

- lsso me trouxe novas tarefas e desafios?

- Tomou-me uma pessoa mais tone, mais perceptiva?

...'
- Posso utilizar essa experiência pma ajudar outras pessoas que es-

.r
tão passando por situações similares?

- Será que a maneüa como supono minha situação poderá servk dc


exemplo aos demais?

- Será que essa experiência me fez dar valor a coisas que eu consi-
derava muito naturais?

- Que escolhas eu ainda tenho?

AR'EAS DO DESHNO E DA LIBERDADE

Em qualquer situação imutável existe uma ar'ea do destino que tcmos


que aceitar. Mas há uma ar'ea da liberdade onde ainda lemos
108 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Na ar'ca do destmo temos que encontrar sentido através de uma mo-


düicação de atitudes, como foi mencionado no Capítulo Quatro.
Aqui a escolha não é se devemos aceitar ou rejeitax uma situação
dolorosa, mas sÀe seremos aniquüados pela cruel realidade ou se po-
demos nos confonar com anuns aspectos positivos.

Exemplos

Uma mulher que sotria de um angustiante e m'curável enfisema falou


como sua doença lmu"tava sua panicipação nos seus afazeres domés-
Licos e nas brm'cade1ra's com as cn'anças. O on'entador perguntou-
lhe: “Se o destmo lhe desse a chance de escolher enLre ficar doente
e ter tilhos saudáveis, ou ter saúde e t11h'os que sotressem de enñse-
ma, por qual das duas altemativas você optaria?”

A um senh0r, que perdera a esposa depois de erta anos de casados,


toi perguntadoz “Se você pudesse escolher entre ter perdido sua es-
posa após Lrinta anos de casamento, ou nunca tê-la encontrado nem
ter casado com ela, que ten'a preterido?

Estas perguntas são hipoléticas, mas podem 11'um1n'a_r o significado


que se encontra obscurecido por uma situação de dor. Nos casos de
sotrlmentos m'evitáveis, o orientador não pode curar, no entant0,
pode confortar o pac1'entc.

Mesmo nas sítuaçoe's 1m'uta'veis, existem ar'eas de rea.1 liberdade, nas


quais as escolhas podem ser fe_itas e realizadas. Novamente os
exemplos são valiosos.

Exemplos

Í
Uma se~nhora taleceu de can^cer e deixou o man'do com duas ¡
tuh'as adolescentes, de 14 e 16 anos de idade. Sua morte toi um I
GUIAS PARA O AUTO(JONH['LCIN.lENTO 109

meversível revés do destm'o. A situação resultame desse acomcci-


mento acarretou problemas que apresemaram necessidades de tazzr
escolhas. O trabalho do viúvo não lhe de1x'ava muito tempo para
cuidm da casa. As tühas precisavam 1r' à escola, fazer compras. co-
zinhar e arrumar a cozm'ha. Eles se sentiam como ›c' tivessem que fl-
caI presos numa cadeia, durante os pro'xun'os anos. Pai e filhas scn-
tamm-se para discutlr' o assunto, e ñzeram uma listaz

Altemativas Consequc"ncias

Positivo Negalivo
1. Contratar uma Menos tIabalho Muno' caro
cozinheüa pm nós
Comer em Menos uabalho Muüo cam
restaurante paranos'
. Pai e filhas se Trabalho sena' Cada um tra-
revesaliam dlstn"buído balham sozr'
nas tarefas nho
Os três fariam 6 dlas' “liv¡es” Muito anbalho
compras aos sá- pammnso'd1a'
bados, cozi-
nhariam sete
reteições e as
congelariam
. Parar de comer Nenhum trabalm Moneporma-'
mç'ao'
6. Lo'nscgun" oonvite Pouoo tIadehO' Petdadosarm'
de armgo's 305

A lista contm'uou; os três divertiam-se pensando nas altemativas


possíveis e 1m'possíveis. Em pn'nc1'pi0 escolheram a opção n-° 4. 'l'0-
Í
¡ dos os sábados faziam o cardápio para a próx1m'a semdn'a. saíam para
I as compras, preparavam e congelavam seis refeiçoe's numa só tarde.
l 10 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Quando elaboraram a lisLa. m'cluindo até as altemativas ridículas.


eles se libertaram do sentun'ento de estar presos. E após terem feito a
escolha, a tüha mais velha comentouz “Nã0 precisamos mantcr este
esquema a vida toda. Sempre poderemos modüicá-lo”.

A cone negou a Melanie, divorciada, a cust0d'ia de seus tilhos. A


decisão era, num tuturo previsto, 1rr'eversível. 0 orientador explo~
rou, Junto com Melanie, suas ar'eas de 11'berdade. Durante o dial'0go
ele ouviu uma “palavra-chave”: Essa mulher amava seus tilhos, mas
0 alcoolismo tez com que se tomasse uma mãe 1'nadequada. A quí›
mica do seu organismo rejeitava o álcooL e uma única dose era da-
mais. Onde se encomrava nessa mulher sua dr"ea predestmada e onde
estava sua ar'ea de liberdadc? Ela não podia mudar seu 0rganismo,
mas podia decid1r' não tomar o pn'me1r'o fatídico gole. Estaria ela
preparada a nunca maís beber, a assumü essa poderosa mudança em
sua vida, de modo a aumentar a possibilidade de ter seus fühos de
volta? A separação das crianças a depr1m'ia mn'to, que ela buscava
consolo na bebida. Contudo, o amor que ela expressou sentü por
seus ñlhos permitiu que o oriemador ñzesse algumas sugestões. Ele
descreveu situações nas quais Melanie podia demonstrar seu amor
não só estando em comato com crianças, mas também provando à
cone que ela era capaz de tomar conta de suas pro'pn'as crianças.

0 orientador descreveu cenan"os onde Melanie poderia ajudar numa


creche, num hospital m'fantil, numa escola de dança, num jardim-de-
infan^cia, ser “babysitter” ou assistente de professora, com trabalho
remunerado 0u volumar'io. Melanie ouviu a descrição do on'entador
sobre 0 dia numa creche, onde ela poderia olhm as crianças, brincar
com elas, preparar 0 lanche e.observar a soneca desses pequeninos
em ídade pré-escolar (mais ou menos da ídade dos dela). Ela se en-
tusiasmou com essa idéia e toi encorajada a dar os pnm'elr'os passos
para pô-la em prálica. Dcsde então, conseguiu ticar longe da bebida,
e eslá agumdando um novo julgamenlo sobre a custódia de seus fi-
lhos. Este é um dos casos atortunados, em que o golpe do destino
tomou-se reversíveL
(¡UIAS PARA U AUTOCONHBCIMENTO lll

0 Passado Irreversível

Nosso passado é uma dr"ea em que tazer uma escolha é muito im-
portante. Os fatos que ocorrcram no passado são m'1utávcis. Não po-
demos refazer nossos pais, nossa educação. ncm os erros comctidos.
Porém o que padenws mudar é nossa at1'ludc. Podcmos considcm os
acontecimentos do passado como um fmdo às nossas costas. ou co-
mo uma bóia salva-vidas de expcn'éncias quc nos mantém à tona e,
am'da, como um desaf'i0 pma aprender c agü melhor.

Excmplos

Esta é uma história verdadeu'a sobre duas mulheres - uma era solilá-
ria e m'teliz, e a outra vivia rodeada de amigos e era muito alegrc.
Ambas tiveram um passado semelhantc. Ana contouz “Minha mãe
nunca me amou. Não tive um modelo em quc mc 1'nsp1r"ar. Não sci
como amar.” Mary relatouz “Minha mãe nunca mc arn'ou. Eu sei 0
quanto é Lriste não ser amada, por isso dediquci um csforço cspccial
para não prosseguir com este sentimento de desamor".

Mesmas experiências dn'teriores, mas com ditérentes resullados.


Tomar-se adulta sem scrr amada, tez de Ana uma mulher rctraída c
solitar'ia. O mesmo tato fez com que Mary se abrisse pcua os dcmais
e conquistasse amigos.

Ana foi apresentada a Mary, e tomou consciência de quc a Mta do


amor matemo no passado, ao invés de ser uma dcsculpa, podia
transtorrnar-se em desafio. 0 diálogo socrálico ajudou Ana a percc-
ber o que estava profundameme escondido em seu subconscienle -
as razóes para o componamento de sua mãe. Surgiu a oporlunidade
para um logodrama (ver Capítulo Doze). Ana pergumou a uma ca-
deúa vazia, na qua.l ela visualizava sua mãe (1alecida há muito tem-
po): “Por que você não me amou? Por que não passava mais tempo
comigo. como as mães dos meus amiguinhos faziam com eles?"
112 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Depois Ana trocava de cade1ra' e tazia o papel da mãe. Ela ouviu-se


a si mesma dúendoz “Seu pai toi morto durante a guerra, três meses
antes de você nascer. Eu criei vocês cm'co, sozm'ha. Durante 0 dia
eu Lrabalhava numa lábrica e de noitc Lrazia roupa para lavar a f1m'
de ganhar um dinheüo eera. Eu gostaria de passar mais tempo com
vocé, só que já não tinha mais t0'rças.”

Ana começou a chorar. “De fato, mamãe estava sempre cansada”,


disse ela. "Mas era porque nos amava que trabalhava tanto. Morreu
jovem Eu era pequena demais para entender”.

Uma mudança básica aconteceu no componamento de Ana e no seu


relacionamento com os outros. Os fatos que ocorreram no passado
não mudaram, mas sua atitude em relação ao passado mudou.

Quando eu visitei Viena, mmha terra natal, depois de 27 anos, fiquei


surpreso com a Huência com que meu antigo colega, Hennann, fala-
va m'glês, e amda mais surpreso como ele falava francês, italiano,
espanhol e russo, e estava aprendendo ar'abe. Ele era advogado e
não t1nh'a nenhuma necessidade especial de saber outros idiomas.
Ele lembrou~me de que nosso professor de francês freqüentemente
lhe dizia que ele não tinha talemo para aprender línguas. Este tipo
de experiência é, para muitas pessoas, um obstáculo ao seu desen-
volviment0, um engano que nào pôde ser desteito, cometido por al-
guém, no passado. Hermann - embora não conhecesse este termo -
usara seu “desatiante poder do espln"to". Durante 27 anos meu ami-
go havia trabalhado para provm que nosso protessor de trancês es-
tava errado, para provar que eldrealmente tm'ha talento para línguas.
Do mesmo mod0, muitos m'divíduos vivem suas vidas desejando
provaI aos seus pais - monos ou vivos - que o julgamento negativo
que t1z'eram estava enada Muitas dessas pessoas alcançam sucesso
precisameme na ar'ea em que seus pais haviam predito que elas m"am
tracassan
uums PARA o AUTOC()\.'HL'ClMl:N'l'0 113

FAZENDO UM M05A1'C0 DE SUA VIDA

Para ver com clareza quais as panes de sua vida que são m'1utáveis e
quais aquelas em que você ainda lem escolhas, desenhe um mosaico
de sua vida. Não um mapa da sua vida passada. mas um mosaico da
sua vida como você a vé agora. Resuma sua vida com símbolos e
cole figuras que representem situaçoe's e pessoas. Com crciom ou
canetas hidrográticas de diversas cores, descnhe nos pcdaços dc ma-
saicoz suas primeüas lembranças, scus anos escoldr'es, fatos que lhe
causaram impacto. Quantos desses pedaços você desenhou cm cor
escura? Quantos em cores vivas'? As cores escuras estão aglomera~
das como nuvens tempestuosas? Seus contomos são claros? Dê a
cada pedaço de mosaico um nome, uma recordação. Você vê algum
tipo de padrão realçando sua vida'! Você coloriu anuns episod'ios de
escuro porque sempre os considerou negativow Eles amda estão
realmente escuros? Gostaria de usm outra cor'! Você não pode mu-
dar a posição que eles ocupam em sua vida, mas pode mudm suas
cores. Veja que ainda há espaços vazios cm seu mosaico que podem
ser preenchidos. Estes são sua ar'ea de liberdadc. Você não pode re-
fazer o quadro 1'nte1r'o,' mas é bom observar 0 que ainda pode tazeL

A SACOZA DO SEU PASSADO

Pegue uma sacola e encha~a com tiras de papel nas quais vocé mas-
creveu tr'ases curtas, signilicando Iatos que ocorrcrml no seu pussa-
do, assim como:

episódios Lristes da inlância


momentos telizes
pr1m'elr'as recordações
experiências atuais que o fazem lembrar seu passado
algo de que você se orgulha
114 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

algo que nunca contou a nm'guém


um grande desapontamento
um sofrun'emo, um medo, uma esperança, um prazer
momemos decisivos

Você pode acrescentar qualquer coisa que lhe pareça 1m'portante.


Pode, também, dramatizar este exercício, grudando t1r'as de papcl em
pedras aproptiadas - há pedras que são grandes, pequenas, lisas, ás-
peras, preciosas, comuns.

Pegue dcpois um papel (com sua respectiva pedra) de cada vez, e


Iale (ou pense) a respeito do episódio, e dos seus atuais sentlmentos
em relaçâo a ele. Sua avaliação sobre o episódio mudou? Algo de
bom toi extraído de uma experiência negativa? A un'ponância do
tato dunm"uiu? As sensações boas intensificaram-se? Uma experiên-
cia ru1m' perdeu o ar de tragédia? O que você veio mantendo em se-
gredo am'da vale a pena ocultar? Você vai notar que, no passado,
você mudou suas at1'tudes, que pode se surpreender com atitudes que
ad0t0u, e que aLn'da tem ar'eas de liberdade para suas atitudes em re-
lação aos eventos do passado.

Se você está disposto a buscar sigmf'icad0 numa mudança de atitude,


talvez necessite acompanhar essa mudança com uma ação. Quem sa-
be você não consiga esquecer, mas pode perdoaL Fazer as pazes
com um antigo imm1"go. Quebrar um velho padra'o. Começar algo
novo que jamais você pensou que consegum"a fazer. Escolhas - em
ação ou atitudes - geralmente são um risco a ser assumido.

É bom retletü sobre o passado de vez em quando, e ver onde estão


hoje suas escolhas. Como Shakespeare fez Hamlet dizerz “O passa-
do é o prólogo”.
Capítulo Sete

GUIAS PARA A UNlCIDADE

0 Significado Através da Unicidade

A unicidade é a terceüa ar'ea onde podcmos encontrm signüicada A


busca do signüícado através da unicidade é diterenle daquela que

» ata
conduz a reveladoras experiências de auloconhecm'1ento. Nossa um-
cidade toma-se evidente não tmto pclo que somos, como pelo
que representamos de imponantc para outras pessoas ou em cenas
situações.

Uma situação como um emprego, por exemplo, ondc nos sentimos


facilmente substituíveis por outra pessoa - ou até por uma máquina
- não nos parecerá signiücativa. Nós encomrmemos sentido em si-
tuações em que nos sentimos únicos. É clmo quc ninguém é com-
pletamente insubstituíveL mas existem c1r'cunstâncias em que o tato
de exisumos ou não, taz ditérença

CR1A71'VIDADE

Uma das ar'eas onde mostramos nossa'unicidade é a na cn'atividade.


Somente nós podemos cn'ar um poema, um quadro, uma mu'sica,
lló APLlCAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

uma colagem, do nossa jeito. Nossas criações podem não ser obras-
pnm'as nem venccdoras de prêmios, emretanto são nossas, unica-
mcnte nossas. Um protessor de zoologia expressou a certeza de sua
um'cidade, quando colegas lhe perguntaram por que ele “perdia" seu
tempo colecionando pedaços de madeka e couro, com os quais ele
confeccionava pequenos amma'is, ao m'vés de dedicar seu tempo a
pesquisas séúas em zoologia, publicando depois suas descobertas.
Ele respondeuz “Qualquer projeto de pesquisa que eu fizer, poderá
ser feito por outros zoologistas. Mas eu sei que se não juntar estas
pequenas criaturas de madenr'a, ninguém mais o fa:á, exatamente da
maneüa que eu faço.”

Um número cada vez maior de pessoas estão tentando superar suas


frustraçoe's e sensação dc vazio, escrevendo, pm'tando, fazendo ce-
ram^ica e executando outras tarefas am'sticas. Essas pessoas voltam-
se instmtivamente para a ane, como uma auto-un'posição, visando a
cura de suas neuroscs provocadas por nossa sociedade opulenta, se-
quiosa de prazeres e poder.

Nossa criativa unicidade não precisa, 0bn'gatorimeme, expressar~se


aLravés da ane. Existem alguns empregos que podem nos oferecer a
oportunidade de ser cn'at1'vos. Estes se referem a protessores, cien-
tistas, guias espm"tuais, médicos e a m'div1'duos que propiciam ajuda
através de sua protissão. Eles podem ser (embora não necessaria-
mente) criativos. Se exercemos nossa protissão com criatividade, te-
remos maiores possibüidades de nos sentlmos u'n1'cos, e nosso tra-
balho será mais gratificame. Por outro lado, quando Lrabalhamos só
em tunção do dinheüo ou do prestígio que o trabalho nos confere,
nossa unicidade pode evaporar-se e nos conduzu' à insatisfação. Di-
v
nheüo e prestígio são motivações poderosas. Entretanto, se eles com- 5
F
ñguram a meta que pretendemos alcançar, e não os meios de que
í
l›rll7(¡l'|¡\.\'PARAAl'Nl(ll)¡\l)l'W11'l,umsenhorde80anos.quehaviaacumuladoumalortunaemsuastransaçõescomerciais,expressoudúvidasse'suavidalinhava-lidoapena.Elesempremenosprezaraosmislaseagora,seuúnicotilhoqueselomarapoetaemborasemgrandeêxilo,eraobviamentcfeliz.Entãoumamigomostrou-lhcqueelcloracn'au'voemseupró-pn'ocampo-eleconstruüaseunegóciousandoauna'gínação,pro-porcionaratrabalhoparacentenasdepessoaseprodu21ra'bensdepnm'e1r'anecessidade.EnquamoWillcscutavaseuanu"go.suavidatoiretroativamenteinundando-sedesigniticadosquealéentãoelcnãcsehaviadadoconla.0significado,atravésdaunicidade,podese'rencontradoemqual'-querLrabalho.Sevocêforcorretordeimóvcis.podeencontmrsigni-ñcadoestorçand0-separavendcraoseuclienleacasaquemelhorseadapteàsnecessidadesdele.0mesmoseaplicaaqualquertipodevenda,desdesegurosatésapatos.Sevocêtormecânicoouencana-dor,suaunicidadepodesituar-scnosseusestorçoscn'ativospmiser0rrlehoremseuramo.Scvocêtemumtrabalhoenfadonhonumes-critório,podeacharsuaunicidadcnoseurelacionamenlocomse'uscompanhelr'0s,ounotatodesabcrqueéemtunçãodesseempregoquevocêsustentasuaíamíh'a.Acriatividadeéaguiaparaaunicidadeepmaosigniticado.Temosquetomarconsciênciadestariquezaeusá-la.RELACIONAMENTOSHUMANOSOsrelacionamentospessoaissãooulratontedesigniticadoatravésdaunicidade.Ninguémpoderelacionar-secomseusIilhos,paisoumigos,damancu'aquevocêotaz.Umavócomentou:“Levei60anosparavercomclarezameurelacionamentoespccialcomoutroserhumano.Desdequeminhanetanasceu.elametezse'nt1r'queeu
[
lançamos mão para aling1r' objetivos sigmf'icativos, podem redundar
em sensação de fracasso.
l›rll7(¡l'|¡\.\'PARAAl'Nl(ll)¡\l)l'W11'l,umsenhorde80anos.quehaviaacumuladoumalortunaemsuastransaçõescomerciais,expressoudúvidasse'suavidalinhava-lidoapena.Elesempremenosprezaraosmislaseagora,seuúnicotilhoqueselomarapoetaemborasemgrandeêxilo,eraobviamentcfeliz.Entãoumamigomostrou-lhcqueelcloracn'au'voemseupró-pn'ocampo-eleconstruüaseunegóciousandoauna'gínação,pro-porcionaratrabalhoparacentenasdepessoaseprodu21ra'bensdepnm'e1r'anecessidade.EnquamoWillcscutavaseuanu"go.suavidatoiretroativamenteinundando-sedesigniticadosquealéentãoelcnãcsehaviadadoconla.0significado,atravésdaunicidade,podese'rencontradoemqual'-querLrabalho.Sevocêforcorretordeimóvcis.podeencontmrsigni-ñcadoestorçand0-separavendcraoseuclienleacasaquemelhorseadapteàsnecessidadesdele.0mesmoseaplicaaqualquertipodevenda,desdesegurosatésapatos.Sevocêtormecânicoouencana-dor,suaunicidadepodesituar-scnosseusestorçoscn'ativospmiser0rrlehoremseuramo.Scvocêtemumtrabalhoenfadonhonumes-critório,podeacharsuaunicidadcnoseurelacionamenlocomse'uscompanhelr'0s,ounotatodesabcrqueéemtunçãodesseempregoquevocêsustentasuaíamíh'a.Acriatividadeéaguiaparaaunicidadeepmaosigniticado.Temosquetomarconsciênciadestariquezaeusá-la.RELACIONAMENTOSHUMANOSOsrelacionamentospessoaissãooulratontedesigniticadoatravésdaunicidade.Ninguémpoderelacionar-secomseusIilhos,paisoumigos,damancu'aquevocêotaz.Umavócomentou:“Levei60anosparavercomclarezameurelacionamentoespccialcomoutroserhumano.Desdequeminhanetanasceu.elametezse'nt1r'queeu
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F
5
v
í
l 18 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

sou especial, que posso daI-lhe o tempo e a atenção completa que


nem mesmo seus pais puderam dar-lhe.”

Uma verdadelra' relação de amor é sempre baseada na unicidade do


outro. Frankl define o amor como sendo a habilidade de enxergar a
unicidade de outra pessoa, m'clum'do os potenciais que ela não per-
cebe que tem, e ajudando-a a desenvolver esses potenciais.

Estádios da Unicidade

OS PRIMEIROS ANOS

A base de nossa unicidade é cn'ada na juventude. Nosso pnm'e1r'o - e


talvez o mais importante -- relacionmento especial é estabelecido
com nossa mãe. Os outros vêm em seguida com o pai, 1rma"os, pa-
rentes e migos da íamüia. Na m'fância somos naturalmente criativos
e abertos ao relacionamento com os outros. Num lar acolhedor nossa
unicidade é realçada, sentimo-nos amados por nossas qualidades es-
pec1'íicas. Senum'os que somos especiais.

Mas logo as m'tluências entram em jogo, pondo em risco nossa uni-


cidade. Mesmo as tamílias mais morosas, passam a esperar que cor-
respondamos às suas expectativas. É então que colocamos as másca-
ras. A escola dá um notável valor à submissã0. Durante a adolescên-
cia lutamos por nossa uniu'dade. Somos apoiados então pelo nosso
grupo de dm'igos. Mas também eles querem nos submeter aos valores
deles. A sociedade nos pressiona - sobre 0 que “devemos” tazer, o
que “devemos” estudar, a carrelra que “devemos” segu1r', com
quem “devemos" marcar encontros e ter como amigos e com quem
casar. As contradições entre os van"os “devemos” confundem nossa
busca pelo signüicado, e a adolescência se caracteriza pela crise do
singicada
GUlAS PARA A UNICIDADE 119

Nos idos de 1930. Frankl adveniu que a crise dos signüicados pode
levar o jovem a adotar crenças perigosas e açoe's pen'gosas. Entre as
crenças sobre as quais Frankl se refen'u estãoz

lesmo"": A vida não tem sentido.

Hedomsmo': A vida é curta. Por que perder tempo procurando signi-


ficados? Vá em busca de prazeres.

Pandetermmsmo": Cenas forças - gens, impulsos psicológicos, mcu


passado, a predestinação, as estrelas - detenninam minha vida e seus
significados. Não há razão para lutar por um significado porque algo
está me controlando.

Reduciomsmo': Eu não passo de um animal que pode ser Lreinado,


uma coisa que pode ser mam'pulada, categorizada e previsíveL

Conformlsnn': Eu não lenho capacidade pma encontrar signüícados;


por isso, faço 0 que os outros querem que eu faça - rendo-me aos
cultos. aos gurus, aos dogmas.

Fanansmo': Só o sentido do meu cwninho é certo, e eu faço tudo que


posso para torçar os outros a seguu' 0 meu cmúnha

Os jovens não são os únicos que adotam essas crengas, mas são os
que mais treqüentemente expressam essas idéias. E essus idéias. que
geralmente são ditíceis de combalex. bloqueiam' 0 descnvolvimento e
a percepção da unicidade pessoal.

Perceber a unicidade do outro é um presente inestimávcl quc contere


sentido às vidas de duas pessoas envolvidas num relucionmenta
Muitos indivíduos, em nossa sociedade alienada - principalmeme as
crianças - crescem semmdo que ninguém se importa com eles, e islo
120 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

é o que represema o oposto da sensação de unicidade. Muitas orga-


nizações tais como: "Os Avôs Adotivos”, “Os Grandes lrmãos” e
“As Grandes Ixmãs”, tentam restabelecer as relaçoe's humanas que
se deterioram, ou criar novos relacionamentos que antes não
existiam

ELABORANDO LISTAS

Talvez não tenhamos idéia da extensão da nossa unicidade. Se nos


pedissem que tizéssemos uma lista de nossas qualidades únicas,
muito provavelmente não consegum"amos pensar em nenhuma. Res-
ponder ao segumte questionan"o, talvez nos ajude a ter consciência
de nossa unicidade.

Quem, em sua vizínhança, sentiu sua talta quando você se mudou


na u'lt1ma' vez? Que havia em você, que eles lamentaram perder?
Alguns dos seus arnigos de m'fan^cia, colegas de escola, antigos
colegas de trabalho ou companhelr'os, ainda mantêm contato com
você? Por quê?
. Quem, no passad0, o procurou numa emergência?
Quem já fez algum sacnf'1'cio por você? Deram-lhe dinhelr'o?
Tempo? Que fez com que agisscm assim?
Quc você já fez pelo seu pai (mãe, compahelr'o, f11'ho, amigo) que
L
nm'guém mais poderia ou teria te'it0? ã
Quais as aptidoes que você mencionou quando se candidatou a
um emprego? É
Quais das suas aptidões você acha que convenceram seu chefe a
contratá-lo? *
. Quais os motivos que levaram sua companhem a escolhê-lo?
. Por que as pessoas 0 convidam para passar algum tempo com
elas?
Que há em sua carte1r'a ou bolsa? Esvasie-a. Que diz seu
-
_ .-

(¡U|A\.' PARA .-\ lWllClDADl 121

conteúdo sobre os valores. prioridades c hábitos quc você pos~


sui? Que coisas você carrega com vocé, que a maioría das pcs-
soas não carr'egam?

UM GUARDA-ROUPA DE ADJETIVOS

Se voeê gosta de repr-csentar, invente um “guarda-roupa de adjctí-


vos”. Imagme que você tem um arrndn"'o cheio de adjetivosz orgulho.
modéstia, alegria, Lristeza, ansiedade, coragem e assun' por diante.
Escolha um desses como se to'sse uma peça de vcstuar1"o, e destile
pelo quarto. Corno você se sente vestindo-se assim? Como isso ale-
taria seu relacionamento com os outros? E adequado? Em que oca-
siões você gostaria de usar esse traje? Tente um adjetivo após o
outr0.

Esses estados negativos podem ser neutralizados pelo sistema básico


de crença da logoterapiaz que os seres hummos são cn'aturas em
busca do signilicad0; que as pessoas querem que suas vidas lenhum
semido a despeito do aparente absurdo que nos c1r'cunda.' que, ao
descobnT senlido em nossas vidas, podemos nos aprox1m'ar' da com-
preensão do todo do qual somos parte; que bem no ínt1m'o sabemos

L› quem somos, o que queremos ser e o que é significativo para nós. c


que cada um de nós possui o desafiante poder do esp1'n'to, através do
ã qual podemos superar nossas 11m'itações ou aprender a viver signifí-
cativamente dentro dessas limitações.
É
A maioria das pessoas está inclinada a aceitar os Lrês primelro's ca-
minhos para o significadoz descobrir seu verdadeko eu, determinar
suas próprias escolhas e sentu' sua unicidade. (Muitas pessoas cm
gcral resistem mais à idéía de responsabilidade e autotranscendên-
cia). O diálogo socrático concemra nossa percepção de unicidade
por meio das técnicas descritas no Capítulo Dois. A seguu' há
4.,.:1
122 .\PLlCAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOYERAPIA

WV
algumas sugestoe's que podem ser usadas em qualquer idade, para

.-,.
aprendermos sobre nossa unicidadez

rvrw1
. Relembre um momento em que você sc sentiu bem consigo mes-

.~«
v r-
mo e com 0 mundo, que as coisas tinham sentid0, embora

w-
houvcssem motivos para que você estivesse confuso ou sentisse
dor.
. Faça uma lista dos tatos pnn'cipais de sua Vida (0u um desenho
de sua vida com seus altos e baixos). Você vê algum padra'0, ou

A-P-: _ - A-y.
tudo o que vivenciou foi obra do acaso?
. bembre-se de fatos que lhe trouxeram satistação, embora você
estivesse passmdo por uma experiência dolorosa como, por
exemplo. permanecer acordado ao lado de um amigo durante uma
crise.
. Recorde episódios em sua vida, em que você se surpreendeu
agindo de modo difereme do usuaL diferente do que os outros
espcravam que agisse.
Em que modelos você se m'spira? Quc qualidades eles possuem
que você adm1r'a? Que você prccismia fazer paxa adqumr" essas
qualidades?
Você tem algum sonho para 0 futurdl Qual 0 obstáculo que o
está impedindo de reah°za'-lo? Que pode você fuer para torná-lo
realidade?
Fale-me de alguma habilidade que tenha e que no passado pen-
sava não ter.
Fale-me de uma situação em que você se sentiu parte do tod0.
Fale-me de algum momento em que você despiu sua máscar'a.
Fale-me de uma época em que Íoi rejeitado por ser diterente.
Fale-me das coisas que você e seus pais ou amigos enxergam de
maneüa d1'Ierente.
. Fale-me sobre algo que Iez pela pr1'me1r'a vez.
. Faça uma tantasia sobre 0 tuturo como acha que ele será, e uma
segunda lantasia de como gostaria que tosse. (()u desenhe uma
4.,.:1

(¡UIAS PARA A UNICIDADh 123


WV

figura que rcpresenle sua vida futura c depois modüiquc-a de


.-,.

forma que cla reprcsente 0 que você qucr).


. Diga-me qual foi o clogio mais agradávcl que rccebeu.
rvrw1

. Fale-me de alguém que confia em você.


.~«
v r-
w-

A ME1A-IDADE

Na meia-idade provavelmente nos sentkemos mais seguros sobrc


A-P-: _ - A-y.

nossos relacionament05, mctas c valores. Tommos dccisões impor~


tantes sobre nossa carrcu'a. status matrimoniaL cslüo dc vida e lugm
que ocupamos na soc1'cdadc. No entanto. é na idadc madura que gc~
ralmente ocorrem a maioriu das mudanças nos rclacionamenlos u'ni-
cos (protissional e pessoaD que um dia loram signiticativos. Nosso
cmprego ou carreira, cscolhidos anos atrá.s', podcm Icr-se tomado in-
sossos. O mesmo lalvez aconleça com o casmncnto. Nossos filhos
cresceram e se toram. Eles nos subslituíram até certo ponto. por
seus próprios amigos e cônjugcs. Passmos a duvidar das remgócs
em que um dia fomos u'nicos, e começamos a ímaginar se iremos
passar 0 resto de nossu vida, talvcz uns 30 ou 40 anos. cm siluaçócs
em que nos senumos subslituívcis. Qucm sabe sc não dcvcríamos
procurar novos vínculos que expreswsmn nossa unic1'dade, assím
como: um novo companheüa uma nova car'relr'a. um hubby'! A crise
da meia-idade instalou-se. É uma Cúse de valores.

Um meio de selecionar nossos valores é a lista dc au'vidades.

Faça uma lista das coisas que você gosla de tazen Não coisas que
apenas quer tazer. mas atividades que rcalmentc aprcciax Usc essa
lista para avaliar sua unicidadc.

. Se você se sente de alguma torma único. execumdo uma ati-


vidade. escreva a letra “U" ao lado dessa atividade.
124 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

. Se você gosta de exercer determinada atividade sozm'ho, coloque


a letra "S". E a letra “O” ao lado da atividade que gosta de
Íazer com os outros. Alguns itens podem componar o “S” e o
O” ao mesmo tempo.

. Coloque um cifrâo ao lado de cada item que tem um custo.


. Escreva um “E" ao lado do item relacionado a emprego.
. Use o para designar atividade ligada ao companheüa
. Coloque um ao lado do item que se refere à famüizL
. Utüúe as leLras “M.A.” para indicar meio-ambiente ou
sociedade em que vive - amigos, turma, colegas.
. Escreva “AT"' ao lado da atividade cn'ativa.
. Escreva um “P” junto a atividades que você não teria men-
cionado três anos atrás.
. Um '°SP” para atividades que você realmente executou na
semma passada.
. Coloque “N" Junto ao item que não pretende realúar daqui a
Lrês anos.
. Então selecione cmco atividades que mais o atraem e numcre-as
de l a 5.

Quc aprendeu você neste exercício sobre sua unicidade? Que foi que
o surprecndeu? Quantas de suas atividades preferidas estão relacio-
nadas com seu cônjuge, famñia, companhelr'os? Com seu emprego'?
Quantas são criativas? Você prefere executa'-las sozinho ou com ou-
tras pessoas'? Elas são caras? Seus gostos mudaram nestes últ1m'os
três anos'? Gostaria que eles mudassem nos próximos três? Você
realmente faz aquilo que quer fazer?

Como sc sente a respeito da lista que elaborou? Que gostaria de mu-


dar? Você caiu na rotina? Que você poderia fazer para sa1r' fora de-
Ia? Enumere as vantagens c desvamagens de possíveis mudanças.
(Casais casados ou nã0) podem usar esta lista para ver o quanto eles
conhecem sobrc a unicidade um do oulro. Você adivinharia que
(¡UlAS PARA A UNlClDADL 125

itens seu companheu'o 1r'ia cnumerm de l a 5? Se acha que sim, co-


mo se sente a respeito? Se você estivcr crrado, como isso o fmia
sent1r'-se? Como se sentiu seu parcciro quando vocô acertou? E
quando errou? Algumas pessoas sc scmem bcm quando scus compa-
nhcüos adivinham suas preferências. Outras prefercm resguardar
certa m'timidade ocultando-a de todo o mundo.

Outro exercício que explora a unícidade (é útil para m'divíduos dc


qualquer idade, mas principalmcnte para aqucles quc cstão no augc
da idade adulta) é o que se utiliza do antigo conto dc fadas, sobre os
1rês desejos. Se você tivcsse Lrês descjos, quais seriam eles'?

Que anseios cada um desses desejos exprimc'! Que rcrvelam esses


dCSCjOS sobre onde você se situa cm sua vida? Sobre scus valorcs,
metas e relaciondrn'cntos'! Sobrc 0 quanw você se scntc rcalizudu
ho_¡e'! Sobre suas espcranças no tuturo'!

Que meios práticos você adotaria para translormar seus desejos em


realidade? Qual seria o primeüo passo a ser dudo em cada um dos
casos? Você se sente prepmado pdr'a dm esses prhneiros passos'?

A IDADE AUVANÇAD'A

Na velhice, os aspcctos da vida, relativos ao scnlido de unicidade,


oterecem novos desalios e oponunidaades. Já vivemos uma longa
vida, tivemos muitos rclacionmmmos que nos Iizeram pcrder 0 sen-
t1m'ent0 de unicidade, ainda que apenas de manemt inconsciente.
Muitas pessoas idosas sentem que suas vidas não lêm mais sentido.
126 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Consideram-se m'úteis, tratadas como objetos e não como seres


humanos únicos.

Muitos idosos. que vivem em casas de repouso ou m'stituições simi-


lares. sentem-se como que postos de lado, à espera da morte. lsto é
verdade, embora pareça menos óbvio para os que vivem sozm'hos.
Esses indivíduos podem ser viu'vos, ou seus contemporâneos estão
morrendo ou monos. Seus ocupados fühos tazem rápidas visitas,
lembram de seus aniversar'ios e comemoram as testas com gestos ro-
un'elr'0s que demonstram pouco reconhecimento pela unicidade de
seus velhos pais.

A decadência dos idosos é um tenômeno novo. Há duas geraçoe's, a


unicidade dos velhos era reverenciada. Eles eram procurados pelo
tesouro que acompanha a velhice - experiência, sabedoria e tempo
pma se dedicar aos outros. Durantc séculos, cn'anças e jovens que se
sentiam magoados ou contusos, apelavam para seus avós ou tios
idosos. Atualmente, os jovens com problemas vão a psiquíatras e
pagam uma fortuna por hora. E 0 vovô está em casa sozm'ho, semin-
do-se ínu't11'.

Uma das razões que faz o velho sentlr'-se inútil é o empobrecun'ento


do sistema de valores de uma sociedade materialista, m'dustrial e
farta. O valor do ser humano é considerado em função do seu di-
nheLr'o, preslígio e poder. Muitos aposentados ficam privados de
suas fontes de renda, prestígio e poder. E a sociedade passa a consi-
dera'-los u'nprestáveis, e eles mesmos passam a sentlr'-se un'prestá-
veis. Uma mod1f'icação de atitudes é necessan"a, para que se trans-
forme a aut0-avaliação baseada no que tem0s, para a auto-avaliaçã0
baseada no que somos - dos bcns e poderes materiais, ao
significado.

O signmCad"o na aposentadom' A aposentadoria quando chega traz


uma condição que tem de scr aceita. Contudo, essa situação também
ULIAS PARA A UNlClDADlz 127

proporciona muitas escolhas. Em lugar de se lamentar pelo que per~


deu, 0 aposemado deve pôr em evidência 0 que ganhou. Podemos
nos perguntaxz

Que eu sempre quis fazer e nunca tive tempo?


Que habilidades eu adquirí que agora posso usar onde tor
necessan"o?
. Que amizades eu negligenciei e posso agora retomar?
. Que atividades criativas eu deixei para Lrás c às quais posso
agora dar atenção?
Que conhecmentos especiais eu adquiri e posso transmitü
aos outros? (Esta pergunta rele're-se à hislória da famí1ia, iden-
tificação de pessoas através de antigas lotografias, coleções
pessoais, áudios e videoteipes, rcceitas cu11'nán'as, habilidades
pessoais, etc.).

Nossas respostas a essas questões podem lcvar~nos a muitas ativida-


des signiticativaa

O lazer com signlñ'cado. Muitas pessoas, enquanto estão ainda tra-


balhando, comentam esperançosas, sobre o dia que irão aposentar-
se. Quando perguntadas sobre o que lmão qumdo esse dia chegar,
elas respondem que vão se deitar numa rede, pescar', ler, viajar, jo-
gar bridge ou golfe. Todas essas são legítmlas alividadcs dc laZ'er.
mas - ao meuos que elas expressem alguma coisa única sobre 0 in-
divíduo, não serão suficientes para preencher 0 tempo. a longo pra-
zo. A unicidade nesses tipos de atividades pode ser cncontrada nos
relacionamentos com os demais, enquanto estivennos pescdmdo ou
jogando bridge ou golfe. Podemos satisfazer uma necessidade u'nica
nas viagens ou leituras que enfatizem um interesse ou assunto parti-
cular há muito tempo adiado, ou no trabalho voluman"o.

A 1m'portância do lazer significativo não está no lazer, mas no signi-


ficado que ele representa. Podemos utilizar nosso mlplo tesouro de
expen'ênc1'a, sabedoria e tempo, em trabalhos voluntan"0s que são
128 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LO(JOT¡:'R.›\PIA

signifícativos porque sa"o necessar1"'os. Algumas dessas atividades se-


rão discutidas no capítulo sobre autotranscendência. Mas o Lrabalho
voluntar1"o é satisfatório porque nossa experiência é propriedade um'-
camente nossa. Agora temos tempo para dedicar aos outros e pôr em
prática a sabedoria que v1m'os acumulando. Podemos nos tomarz

. a pessoa habüidosa da vizmh'ança.


. o guarda-livros, tesoureu'o ou publicitarl"o de nossa organização
tavon'ta.
o protessor do conhecmento que adqu1r'1m'os em nosso Lrabalho.
um voluntário numa sociedade beneticeme (mesm0 que tenhamos
que aprender novas tareías).
um colaborador jumo a causas nas quais acreditamos ou junto
a m°divíduos com quem nos 1m'portamos.

Muitos aposentados não querem assumu' essas atividades, a menos


que sejam remunerados. Eles devem ser persuadidos a mudar de
idéia pma que consigam perceber que o valor que têm, não é medido
em termos materiais, e sun' humanos. E 0 1r'ônico da coisa é que no
f1m', muitos velhos levam vidas vazias porque se recusam a executar
suas aptidões gratuitamente. Outros, que se dispõem a trabalhar co-
mo voluntan"os, acabam por receber ote'rtas de serviços pagos por
meio período e até mesmo por período m'tegral.

Velhos am$'las. D1'z-se que sempre há um artista em cada criança, e


uma Vovó Benta em todas as pessoas de idade. Esse potencial cn'a-
tivo é geralmente enterrado, ignorado 0u repr1m'1'do, durante os cha-
mados anos produtivos. Muita gente tem passatempos criativos ao
longo de toda sua vida. Há os que não se perguntam se existe algum
impulso criativo, à espreita, dentro deles. O obstáculo poderá ser
uma desintormação de valores -'a ane do aposentado mamente dá
dm'helr'o e com trbqüência traz despesas.

Um número cada vez maior de idosos estão aprendendo a p1'ntar,


criaI mosaicos, trabalhar com ceram^ica, costurar, escrever, tazer Ior-
rações, tn'cotar', momar biJuterias e outros tipos de arte.
(v'l JIAS l'¡\R/\ /\ líNl('ll)/\l)l; 129

Eles tomam aulas pma aprcnder ou aperlciçoar suas habilidadcs.


Escrevem d1'.1r1"'os, histórias da tamñizn poesia, ensaios, pcqucnas
pcças teatrais. cadcmos de rcccilas culinárias. lcmbranças dc
seus sonhos e inscrevcn1-se cm muitos lipos dc cursos.
Pmicipam como volunmrios em grupos dc leatro mador ou
profissiondl'.
Tomam-se gourmets c prepmam pralos cspeciais.
Desenham e conteccionml suas próprias roupas.
Fazem Lricô. crochê. bordam e costurum pma scus taJn'íliarcs.
amigos e bazares de car1'dade.
Fabricam marionetes e divertem scus umigos.
Organizam e rotulwn as lotos da tamília em álbuns.

A lista de atividadcs acessíveis aos aposenmdos pode 1'nc]u1r' qual-


quer coisa que se consiga imag1'nar'. A criatividade não necessim ser
expressa em desempenhos art'ístiC(›s. Elcs podcm ajudm no cslabele-
cimento de negócios, dc clubcs, podem promover eventos, editar
folhetos informativos. organizm malas dlr'etas. pulcstras. banquetes.
ajudar candidatos políticos ou causas nas quuis acredilam

Os vclhos estão mais propensos a rCSpondcr a sugeslõcs com o m-


gumento “sim, só que...” Elcs podcm scntir que são vclhos demais,
muito fr'acos e doentes, semir que já não conwguem ver e ouvir
bem, que não podcm caminhm ou düigír um auto. A maior pmc dos
velhos na verdade têm 11'mitaçóes, mas tôm lambém mcas dc libcrda-
de nas quais podem Iazer cscolhas. É muito dilícil dizer às pcssoas
em que áreas elus são criulivas. Eassas idéius dcvem emcrgir do imc-
rior de cada uma, através do diálogo socrálico que rcvclu as pula-
vras~chave. Ocasionalmenle um indivíduo podc encomrar soluçolzs
sem nenhuma ajuda.

Ruth tinha 87 anos e vivia num asilo de vclhos. Era quase ccgu
e mal podia andar. Mas ela não solria lunlo por causa de suas
130 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

incapacidades, como pelo tratamento que recebia dos atendentes.


Durmte toda a sua vida ela tinha sido uma dona de casa ativa e ne-
cessán'a. Via-se agora reduzida a uma coisa - “o quadril quebrado
do quarto 27”. Ruth sentia grande neccssidade, aliás como todos
nós, de ser alguém, de sentlr'-se u'til. Pediu que lhe arranjassem lã e
agulhas de crochê - ela conseguia fazer crochê sem olhar. Começou
tazendo gorros com os quais presenteava as enfermeu'as.

Dentro de alguns dias, Ruth passou a ser “a pacieme do quano 27


que faz gorros para nós”. Uma das enfermeüas pediu a Ruth que lhe
tizesse botinhas pma o seu bebê. Outra sugeriu que Ruth deveria ter
uma mesa no hall do asilo para expor e vender a mercadoria que
produzia. Ela se recusou a vender o que tazia, mas aceitava enco-
mendas de gorros, echarpes e sapatmh'os, do pessoal que trabalhava
1á. Na mais triste das cu'cunstânc1'as, Ruth encontrou sua unicidade.

Preparandmse para a aposenladona.'0 logoterapeuta Robert Leslie


disse que a melhor época para nos prepararmos para a aposentadoria
é no colegiaL O que ele estava reahnente querendo dizer, com esta
espantosa declaração, é que nunca é cedo demais para planejar uma
aposemadoria signüibativa Cenmente não podemos esperar que,
depois de termos devotado tmtos anos de nossa vida a um trabalh0,
de repente, aos 65 anos, tenhamos capacidade de mudar para outras
atividades signiticativas. Muito antes da hora de nosso afastamento
devemos expandu' nossos relacionamentos e ocupaçóes - nunca é
cedo demais para adqumr" passatempos, divertir-se com a família e
os amigos, jogar, viajan praücar esportes e desenvolver atividades
anísticas. Então, quando nosso 659 aniversar'i0 chegar, já estaremos
absonos numa 1m'cnsa variedade de tarefas significativas.

Olhnndo para tms'. Quando os velhos começam a ter dúvidas sobre


sua servemia, é que chegaram a uma fase da vida que pode acarre-
tar-lhes um n'sco extra - 0 de olharem para trás e começar a duvidar
UUIAS PARA A UNICIDADÍL 131

se de fato a existência que levarm teve algum sentido. Essas du'vi-


das conduzem facilmente à depressão.

Numa situação dessa natune2a, uma mudança de perspectivas é ne~


cessar'ia. A colheita da vida está posta em nosso 1'nten'or. Frankl ad-
verte contra o perigo de olhar para o passudo como um “campo dc
restolh0”, onde as coisas que crescim já não cstão mais la'. Au
comrário, sugere que ao olharmos pma trás, busquemos ver “os ce-
le1r'os tartos” da colheita de nossa vidzL A morte do compunheiro
não pode apagar os momentos tdizes que passmos juntos. A ap0-
sentadoria não destrói nossas realizações. Nossa fraqueza atum não
anula os resultados de nossa antiga I*orça.

Franld taz outra comparaçãoz Uma pessoa podc olhar o “Calendan"o


de parede” de sua vida, Lrêmula e amedrontada. Percebc que cada
dia ele se torna mais 1ino, à medida que suas tolhas são mrancudasu
Uma outra pessoa, ao arrancar as tolhas dc seu calendar"1'o, anota em
seu verso as atividades executadas em cadu dia e as amontoa numa
pilha; esta pessoa, em lugar dc observm que o calcndar'i0 remanes-
cente está cada veZ mais Íino, nota 0 quanto eslá crescendo seu
monte de experiéncias.

O diálogo socrático, estabelecido com pessoas de idade. concentra~


se no pólo significativo e positivo, procurando cntatizar a unicidade
do m'div1'duo através de uma retrospectiva. O dial'0go podc scr esti~
mulado por fotografias de família, amigas cartas c anolaçóes. Per-
guntas penmenles podem inclum

. 'Quem foram as pessoas significativas em sua vida?


. Que você admüava nelas? De que mancu'a elas o ajudwam a
tornar-se o que você é hoje'!
. Para quem tazia diferença você exism ou não? Como se mani-
festava essa diíerença?
132 APLICAÇÓES PRÁTICAS I)A LOGOILRAPIA

. A exístência de quem, foi importame para você?


. Quais Ioram seus momentos felizes? Quc aprendeu com eles?
. Para quem você serviu de exemplo - pelo que você fez, como se
componou. pelo que disse?
Quais as qualidadcs que aprecia em si mesmo?
. Quc considera o lema de sua v1'da?
Que trase gostaria que fosse gravada em seu tu'mulo'?

A unicidade não desaparcce com a idade. Sua manifestação pode fi-


car restrmgída pela traqueza tísica ou psicológica - incapacidade de
andar, ver, ouvir ou pela depressão. Mas existem oponunidudes em
dr"eas ainda intactas. Os relacionamentos são possíveis até 0 u'lum'o
instame de vida. 0 logoterapeuta James Crumbaugh tala do relacio-
namemo em lrês seloresz sub~human0, humano e supra-humano.
Qualquer pessoa pode encontrar unicidade num desses três am^bítos.
No nível sub-human0 as pessoas - e não apenas os velhos - encon-
Lram relacionmnentos únicos com animais de estimação; no nível
humano pode-se estabelccer rclacíonamentos com os outros, tanto o
que orienta como o que busca; no nível supra-humano muitos en-
comram relacionamemo com o divm'o. Em qualquer um desses pa-
tamares podemos numr' a unicidade existente em cada um de nós.
Capítuio Oito

GUIAS PARA A RESPONSABILIDADE

Responsab1h"dade. a quarta 4r"ca onde o sigmñwdo pode ser enoontra-


do. é menos aceita do que as três que discuümos até enlã0. Nós
queremns encontrar senüdo em escolhas pessoms que expresssem nos-
so verdadeiro e u'nic0 eu. Porém. se essas escolhas não Iorcm Icntas
com res*ponsab111"dade. não 1r'ão nos saústazen Assim como 0 pramr
sem senúdo é vaa"o, 0 poder sem propósito é corrupto. assim a escolha
sem responsabüidade não tem sigmticada

Lamentavelmeme estamos em meio a uma cdse de rcsponsabmdade.


Embora nas sodedades ocidemais usutruímos de H1d.l"S libcrdadc de es-
colhas que nossos ancestraís, ela não caminhalado uludo com a liberu-
ção. Frankl sugeriu que complementássemos nossa Eslátua da Libcrda-
de, na costa leste. Com a Estátua da Responsabüldade, na cosla oesm

As pessoas estâo livres para “tomar suas própúas dccisoe's" sem se


preocuparem wm os outros - ou se›¡a- sem responsabüdada 'l'ocm'n
músm em sons altísmmos através de janelas abenas, promovem u.l'ga-
wras nas praias, lambumm os prédlos com slogunsz d1n"gem embna-
gadas, furtam bolsas, assmtam postos de gasolma pma sustentm us
drogas que consomem, aterronzam a vmnhançzL Sem üSSllmlr
134 APLICAÇÕIzS PRÁIICAS [).›\ L()(J()'l<liR:\Pl.›\

compromisso casam e se divorciam, geram crianças e se submetem a


abonos ou as negligenciam, arranjm empregos que em seguida lar-
gam, mudam de protissão, contratam c despedem, abandonam os
idosos. Liberdadc sem responsabilidade gera vazio, frustração, de~
sespero, vícios, violência, neuroses. suicídio.

Existem Lrês vias para encontrar significado através da responsabüi-


dade: respondendo ao significado do moment0; fazendo escolhas
responsáveis onde existem escolhas; e nâo se sentindo responsável
quando não há escolhas.

Responsabilidade

A responsabilidade pode ser entendida quase literalmente como a


habilidadc de responder, a habilidadc que todos temos de responder
ao sentido que nos é oterecido em cada nova situação. As guias para
esta torma de responsabüidade podem ser achadas na tilosotia geraL
como Ioi descrito no Capítulo Um. Essa tilosotia at1rm'a que, na
maior pMe das c1r'cunstâncias. u resposla signilicativa é seguu' os
valores que a sociedade detemúna - o que outros já descobrüam ser
a resposla adequadav Em situagócs em que esses valorcs não se en-
quadram, devemos ouvu' atentameme a voz de nossa consciência -
mcsmo que ela contlite com os valores estabelecidos.

Exemplo _
Um exemplo surpreendente de recusa aos valores sociais para en-
contrar 0 signiücado do momeuto ocorreu em março de 1938, quan-
do as tropas de Hitler marchmam sobre Viena. Naquela noite. doís
comediantes judeus, Karl Fdr'kas e Fritz Gru"nbaum, embarcaram
num Lrem para a Checoslováquia. Quando o trem, que levava pes-
soas que corriam perigo, chegou à fromeira checa. um oficial decla-
rou quc a fronteira estava fcchada e que cles teriam quc retornar a
(¡l TIAS P1\RI\ A RlePON'\.'Al$ll.ll)/\Í)L 135

Viena. Enquanto os outros passageüos permaneciam scnlados em


terrívcl silêncio. Farkas aproximou-se do oíiciaL esbolcteou-lhc 0
rosto e chamou-o de idiota. Farkas toi prcso c rcur'ado do Irem, quc
retomou a Viena. No dia scguinlc o govcmo chcco anunciou oti-
cialmente quc a Ír'ont61r'a cstava techada, mas decrclou quc os es-
trangeiros que já se encontravam cm solo ChCCO podcriam pcrmanc-
cer. Farkas, que cstava na prisão. pôdc Um. Mais tmdc clc imigrou
para os Estados Unidos e dcpois da guerru vollou a Vicna e nova-
mente se Consagrou um cómico populan Seu Compaheko Gru"nbaum.
seguindo os valores da sociedadc (taça como lhe toi ensinado), não
bateu no oficiaL mas acabou seus dias num campo dc concentraçãa

A história demonstra que existem momcntos e situações em que de~


vemos buscar nosso inconsciente cspirituaL para encomrm respostas
específicas para situações inesperadas. É verdade quc o quc ocorrcu
na fronteüa checa é bastante incomum Mas é mm'bém verdude que
um fato desses merecia uma respostu insólitax

0 TOQUE DE 7A'MBOR DA CONSCIÊNCIA

Vivemos numa época de mudanças de valores. Cada vez mais en-


frentamos situaçõcs em quc os indivíduos dcscobrcm quc as respos-
tas tradiconais já não servem; situuçócs ondc as pcssous prccism
estm atcntas a sua rcsponwbilidade paru ousar ir contra os valores
sociais. Nesses momentos é quc dcvcmos ficm alcnu à voz du nossu
consciência. Os discorduntcs conscicnlcmcntc resistcm uo tradicio-
nal Chamado às ann'as. As mulhercs rejcitam os mandumemos dc
sua lgreja. usam anticoncepcionais c pralicum ubonos. I\11'm)ri._\'sv
mulheres e jovens_ rebelam-sc comru os valorcs lradiconuis; clcs
marcham, contOrme disse Henry 'l*horcau hú muis dc um século, ao
som de diteremes tambores - ao loquc dc tmbor de suas próprias
consciências.
'___*7'””

136 APLICAÇÓES rkÁnCAs DA LOGOILÃRAPIA

Como saber se o toque que ouv1m'os provém de nossa consciência ou


de nosso CgOísde Podemos encontrar a resposta, explorando as
conseqüências de cada escolha:

Quais as conseqüências de seguu' os val'0res sociais?


Quais as conseqüências de Jutar comra esses valores'! Podemos
explom as conseqüências com o diálogo socrático, elaborando
listas ou através da tantasia não orientada.
Quais as conseqüências de cada escolha para você e para os que
são atelados por sua crscolha?
Você está preparado pwa assunnr' as conseqüências de sua
escolha?
Como se seme em relação e cssas conseqüênciaü Como os
outros se sentu'a'o?
Como você vê sua vida daqui a um ano, se obedecer aos valores
uadicionais? E se for contra eles?
É possível assum1r' compronússos'? Relacione-0s numa lista. Eles
oterecem soluçóes com as quais você pode conviver? Qual deles
escolheria?

Estamos vivendo na era de Lradigões em decadência e de maior


quantidade de transtonnaço'es. Cada um de nós deve, de tempos em
tempos, optw entre os valores tradicionais e a consciência indivi-
duaL '1'm's contlilos poderm mas nâo devem conduzü a neuroses.
Como você responderia a cada uma das situações abaixo dispostas? g
'
quersermista.Vocêvivecomsuacompanheu'aenenhumdosdoisquerse'Algunsfatosrevelaramque,maisoumenosnessaépoca.amãede1Mayperguntou-lheseelanãoplanejavamandarascriangaspma11l~EscolaDominicaLMayeommdoerammembrosdcumuigrcja.Noentanto,elepreferiapassarossábadoscomamulher.lilhoscm111-g0s,velejando,esquiandooupasseand0.Mayticoudivididaentreoscasar.DeseJamterumtilho,masnãosãocasados..Vocêécasadoeapa1x'on0u-seporoutrapessoa.*SeumaIidOqucrquevocêcuidedacasaedascrianças.Vocêiquerlrabalhmtora.'e-.
ament0,tinhadoisIindosfilhoscumaboucasa.Suusdorcsdccu-SeupaíquerquevocêIomecomadosnegóciosdatamília.Você;Íbeçacomcçaramquandoseufilhomaisvclhotinhacercadclrôsanos.
s
(.*L'1A5PARA ARIzSPUN5AHH.ll)¡\I›I-. 137

. Você tem um emprego scguro c é bem rcmuncrado. mas descja


começar nova cmeira ganhando menos, porém oblcndo maior
satisfação.
. Sua mãe idosa mora com você c comcçou a ticm muito entra-
quecida. Você a colocmá numa clínica pwa vclhos?

UM NOVO 71'P() DE NEUROSE

Anos atrás Frankl descobriu que um contlito dc responsabilidadcs


pode resultar em novo tipo dc neurosc. 'l*radicion.11'menlc, pcnsou-sc
que a neurose era 0 resultado dc traumus rcprimidos ou contlitos no
passado. As neuroses produzidas por conllitos de rcsponsabilidadc
têm origem d1'1'erentc, c nâo respondcm aos Lratamcntos psicoterápi-
cos convencionais. Uma ampla pesquism documcntadu pela literatu-
ra logoterápica, mostrou que ccrca de um quinto dos utuuis pucicntes
neuróticos sotre de um conflilo dc responsabilidadc rcprimidu ~ dc
um conflito entre dois conjuntos dc valores, ou um contlilo cnlrc
valores sociais e consciência individuuL Esse lipo de contlito pode
gerar doenças psicossomáticas.

Exemplo. May sofria de cnxaquccas nos lins-de semanu c não huvia


nenhuma razão de ordem tísicu ou psíquica que justilicussc csse
problema. Ela tinha sido criada por puis curinhoso.s'. cra tcliz no ca-
g
'
quersermista.Vocêvivecomsuacompanheu'aenenhumdosdoisquerse'Algunsfatosrevelaramque,maisoumenosnessaépoca.amãede1Mayperguntou-lheseelanãoplanejavamandarascriangaspma11l~EscolaDominicaLMayeommdoerammembrosdcumuigrcja.Noentanto,elepreferiapassarossábadoscomamulher.lilhoscm111-g0s,velejando,esquiandooupasseand0.Mayticoudivididaentreoscasar.DeseJamterumtilho,masnãosãocasados..Vocêécasadoeapa1x'on0u-seporoutrapessoa.*SeumaIidOqucrquevocêcuidedacasaedascrianças.Vocêiquerlrabalhmtora.'e-.
ament0,tinhadoisIindosfilhoscumaboucasa.Suusdorcsdccu-SeupaíquerquevocêIomecomadosnegóciosdatamília.Você;Íbeçacomcçaramquandoseufilhomaisvclhotinhacercadclrôsanos.
s
138 APLlCAÇÓhS PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

valores de seus pais e os de seu marido. Sua dor de cabeça aos do-
mmgos era resultado de um conñito de valores. Ao se dar conta des-
se problema, tomou consciência de que deveria responder ao “senti-
do do momento”, da manem como ela o via. May encomrou a solu-
ção para o seu dilema. m'do conversar tanlo com scus pais como com
seu marido, a respeito do que sentia. Sua enxaqueca desapareceu.

Geralmente, o passo mais importame é perceber que nós temos 0


“desatiame poder” de assumü uma posição, de não mais nos sent1r'-
mos como vít1m'as, mas snn', como donos da situação.

Escolhas Responsáveis

0 mgmhcado emana quanuo assumimos a responsabmdade de uma


snuação que podemos controlar, e quando não assumlmos essa res-
ponsabmaaue em s1tuago"es 1mutávels. Esta é uma disúngúo importante,
que, com Ireqüência, FranKl atava aos seus alunos. lüe também lhes
contou o caso de Naomi, uma senhora que soma de obesidade. Ela vi-
vw oom depressão e estava com idéias su1'cidas. Recusava-se a smr' de
casa porque se envergonhava dc seu excesso de peso.

Framcl1'nteu'ou-se, através dos relalónos médicos. de que a obesidade


de Naomi era causada por uma disfunçâo glandular que não ünha cura
E Framd passou a oonversar com sua diente, não sobre to'rça de voma-
de, dietas, exercícios íísicos, mas sobre suas atividades ta'von'tas- ouv1r'
mu'sica. ler biograíias, oozinhar e manter conversas intelectuaís com
seus am1'gos. Depois ele lhe dissez

“Vooê nâo é responsável por seu estso de peso. Este é um problema


do seu corpo. Mas vooê é responsável pela mane1r'a como vive uma
mulher CUJO iísico a 0bn'g0u a ser ObCSZL Galgar montanhas e dançar
balé são atwidades que nào pode exercer - tem que aceitar isto.
UUIAS PARA A RlíSPUNSABILlDADL 139

Contudo, todas as coisas que disse gostar de íazcr, você pode lazcr
mesmo pesando 120 k.” Mais tmdc Naomi comentou que cssm pou-
cas lrases a ajudmam mais do que muitos anos de tcrap1'a.

Este princípio - é louvável assumir responsabilidadc em situações


que podemos controlar. e insensato assumu responsubilidade em si-
tuações que não podemos modificm - pode scr aplicado cm muitas
c¡.r'cunstâncias. As pessoas gcralmenlc sc scntcm rcsponsávcis até
por situações sobre as quais não lêm nenhum domínio. lsso conduz à
frustração. depressão c~ sent1m'ento de culpa desncccsstm"o. Outros.
que não assumem responsabilidadcs cm .s'ituaçõcs que pudem com-
trolar, sentem-se insatisfeitos. e com justiticável (talvcz em nível in-
conscieme) sensação de culpa.

Não podemos mudar nosso Código gcnético. nossos impulsos psic0-


lógicos, nosso cmáter inato, nossa sociedadc ou nosso passada Po-
rém podemos mudar - e tomar-nos rcsponsáveis por - como vivc-
mos com nossas limitações genéticas, nossos impulsos. nosso passa~
d0. Podemos assumir uma poslura responsávcl diantc dcstcs Ialos, c
até contra o nosso destín0. Nossa saúde memm dcpendc de nossa
habilidade em distinguir entrc as ar'eas do dcstíno (0nde cstorços pa-
ra assumü responsabilidades podem causar doenças) c us ar"cas dc
liberdade (onde não assumü responwbilidadcs pode cuusar descon-
forto esp1r'itual e, na presença dc contlilo dc valorcs. aló possíveis
enfermidades.)

DESCULPAS

Vivemos numa sociedade toleramc. Tornou-se moda culpur 0 passa-


d0, o meio ambienle, as traquezas genéticas c psicolo'gicas, pclo fra-
casso e condutas impróprias. Um estudame violento é perdoado por~
que as condigóes de vida em seu lar são desastrosas; o alcoólatra,
140 APLICAÇÓES PRÃTICAS DA LOGOTERAPIA

por causa do seu código genético; o marido que bate na mulher, em


tunção do seu caráter agressivo. De fato, não podemos moditicar
nosso passado, nossos gens. nossos instintos. Mas podemos contro-
lar a maneira que vivemos denLro de nossas linútações. O estudanle
violenlo deve saber que é sua responsabilidade de não Uanstenr' as
brigas de cão c gato de seus pais, pma o meio que 0 rodeia. O alco~
ólatra deve perceber que é sua a responsabüidade de não tomar 0
pnm4e1r'o gole que dcsencadeará uma resposLa genética ao álcooL O
marido que bate na mulher deve saber que talvez ele não seja res-
ponsável por senm impulsos agressivos, mas que é responsável pclo
que Iaz com eles.

Quando o espüito não está bloqueado, quando as fontes do espírito


estão de certa torma acessíveis, somos capües de recorrer aos nos-
sos anseios pelo sígnilicad0, através de escolhas responsáveis. Nos-
sa sociedade toi longe demais, desculpando a m'esponsabilidade
prmcipalmente dentro da tamília. Os pais são responsáveis por scus
filhos pcquenos. Os Iilhos maiores são responsáveis pelo envelheci~
menlo de seus pais. Os casais são responsáveis um pelo outr0. Mui-
tas pessoas atribuem sua infelicidade e má conduta, aos “'erros co-
metidos por seus pais”. Elizabeth Lukas fala sobre o complexo dos
“maus pais" que são uma desculpa pdr'a que muitos adultos não as-
sumam responsabilidades diante de problemas que devem enfrentdrm
Ela escrevez “Os pais são culpados por serem muíto n'gidos, muito
auton'tdn"'os, muito ind1'ferentes, muito intolerantes, muito protetores,
muilo cxigenles, muilo democráticos, muito m'seguros, muito íncon-
gruentcs”. Quase nunca encomraremos um comportamento paterno
que não sirva como desculpa. Quando os filhos jogam a culpa nos
pais. eles parecem sentu'-se aliviados da responsabilidade que cabe
unicamemc a eles.

UMA PALAVRA DE ADVERTÊNCIA

O desatiante poder que nos capacita a mudar uma situação que


podemos controlar', para assum1r' responsabilidades no momento
(¡l ílz\S PARA ;\R|LSP()\A'S/\“1|,“)1\l)h 141

adequad0. reside na nossa dimensão esplrÀítual que pode ser blo-


queada por umu enfcrmidadc lísica ou psíquicu. Quando isso ac0n-
teccr, um oricntador - mais cspccilicamemc um protissionm - dcvc
remover ou reduzk a barreira de torma que nosso cspímo sc tome
acessíveL Uma ajuda médica. lzmnacológiw ou psicotcrápica podcrá
ser necessária.

PREPARANDO LlS 1'A'S

As listas podem ajudmmos não só a aclarar nossas cscolhas como


também nossas responsabilidadcs. A lista .s'ugcrida no Capílulo Seis,
por exemplo, esclarece cspeciíicameme nossas responsabilidades. E
em outras listas mencionadas neste livro. chamamos a atcnção, no
mínímo ind1r'etamente, pma a responsabilidadc.

Os cinco passos que Elizabeth Lukas propóe pma lacililar a soluçâo


de problemas incluemz

l- Qual é seu problcma?


2- Onde se cncontra sua árca de libcrdade? (Este passo re-
quer que você enumere os aspectos sobrc os quais você tem
controlc e os aspcctos que você devc accitdr').
3- Especitique as escolhas quc ebtão dcmro dc sua ar'ca dc
liberdade.
4- Qual dessas escolhas é mais signilicalivu pma você?
5- Qual 0 pereko passo que vocô dmia em dircçâo à cscolha
que fez'?

Esse exercício dos cinco passos ubrangc Us Irês aspcclos du sua bus-
ca do significado. através da rcsponsabilidadc. () segundo pusso
elímina as áreas onde Você não necesma scnt1'r~.sc rcspons.1"vcl. 0
terceiro passo se concentra nas ar'cas em que você pode Iazer csc0-
lhzxs responsáveis. O quart'o passo localiza sua “'rcsponsa-hubilida-
de" pdr'a com 0 signiticado da siluaçàu
142 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

LOGODRAMA

Uma das mane1r'as de despenar soluções que estão adormecidas em


nosso inconsciente é o logodrama. Este processo é útü nas situações
em que sent1m'os que a responsabüidade nos foi 1m'posta por agentes
exleriores (como, por exemplo, a mâe ou pai - que talvez já nem
estejam vivos. mas cujas vozes ainda ecoam um “você deve”, dentro
de nós).

Para explorar seus “você deve”, selecione algumas atitudes de


“pessoas 1m'por1antes" que ainda exercem impacto sobre você; tal-
vez essas atitudes não foram bem compreendidas ou foram mal in-
terpretadas.

Suponhamos que a pessoa 1m'portante seja seu pai. Pegue duas ca-
deu'as - uma para você e outra para seu pai invisível - e coloque-as
trente a frente. Sente-se em sua cadeu'a e conte ao seu pai qual é o
seu problema. Troque então de cadeüa e (como se você fosse seu
pai) diga a si mesmo o que você "deve” fazer. Depois torne a voltar
à sua cadeüa e diga ao seu pai quais os meios com que concorda e
quais os meios de que discorda. Com essa mudança pma frente e pa-
ra trás, você logo perceberá quais suas verdadeüas intenções a res-
peito daquilo por que deseja ser responsáveL e pelo que não se sente
responsáveL Algumas vezes surgem soluções “óbvias” que o pa-
ciente não conseguia enxergar, antes de submeter-se ao logodrama.
Jill sempre desejou ser tigurinista. Mas ela se casou quando estava
no segundo ano colegial, e logo teve três t'11'hos, sendo que o menor
esLava com apenas dois meses. Ela amava seu marido e as crianças,
porém se aborrecia por ter de passar 0 tempo todo cuidando deles e
da casa. Recentemente, começou ass¡st1r' a desfiles de moda com
uma amiga, negligenciando o trabalho doméstico, o que ocasionou
conIlitos com seu marid0. Ele dizia que ela não deveria ficar saindo
com as amigas, pois o lugar dela era em casa. Jül argumentou que
(;UI.›\51'AI<AA RLSPUNSÀ-\li|l.ll).\Í)l-. 143

não pretendia cometer o mesmo erro que sua mãe, “que sc matou dc
trabalhar” cuidando da famüia.

Jill foi buscar ajuda na logoterapia pwa resolver o contlito cntrc 0


que deveria ou não fazer. Durante o logodrama sua mãe, (através de
insights do inconsciente de Jíll) fcz Jill perceber que a siluação dela
era diferente da de Jill, e que os “eu devo" e a rcbeldia conlm
aqueles “eu dev0”, deviam ser reexaminados nos termos da situação
de J1l°l. Jill fez uma reavaliação e se deu conta de que seu pai vivia
doente e desempregad0. Coube à mãe 0 encargo de criar a fam1'lia.
Jill tinha_uma ar'ea de liberdade que sua mãe não teve - cla tinha
condições financeüas de contratar uma empregada para ajudá-la. No
entanto, durante o “d1'a'logo" com sua mãe, no logodrama, ticou du-
ro para Jül que, enqumto o tühinho menor fosse bebê, o lugar dela
era dentro de casa - embora durante csse tempo cla pudesse planejar
a carreüa de figurinista que prossegu1r'ia depois que a crimça ca-
trasse para a escola. Após haver definido suas ar'eas de liberdade c
responsabilidade, Jill conseguiu fazer planos para cuno e longo pm-
zo que puderam satisfazer tanto o compromisso assumído com a m-
m1'lia, como consigo mesma.

SONHOS E FANYASwlAS DIRIGIDAS

As interpretações do Vsonho, como vimos no Capímlo Dois, podem


conter sugestões do nosso inconsciente. As fantasias podem ser di-
recionadas para as áreas onde, bem no nosso ímimo, achamos quc
nossa responsabilidade reside.

0 DIALO'GO SOCRÁTICO

_ O diálogo, por si só ou combinado com outros métodos, tem um


Valor crucial para a exploração de nossos insights sobre
144 APLILHÇÕES FKÂTICAS D.-\ LOGOTERAPIA

responaawmdadà A ›e*gu¡r' enconua-se uma hs'ta de tópicos que


podcm sxr u›a“dos no dial'ogo. que ajudam a esclarecer a respon-
sanm”daoe'.

. Todo o mundo espera que eu aja de detennmado modo, mas eu


escolho outro.
. Eu nz> aquuo que esperavam que eu nz'esse. e me senti bem
. Eu m o que esncrmvam dc m1m'. e me .~e'nti maL
. Eu me Iürüi a mer algo. e depois me senti bem
. Eu me torcei a Iazer ano. e dspois me semi maL
. Eu assumi uma rcsponsabüidade e tiquei contente.
. Eu assumi uma responsabüidade e mc arrependL
. Eu _anrendi uma ligào de um emo que comeIL
. \.'m'*u__~ém tem de dlze'r-me o que devo Íazcr. Tenho que dec1'd1r'
~o:zmh'o.
. Eu exolhi algo pelo que valeu a pena econonnzar'.
. Eu exwlhi uma COL~a'“ pela qual \'aleu nru sacrüícia
. Eu apmnm algo por rmm mesma
. Eu rui bem-sucedido. ape›ar' das dmmculdades.
. Eu nz' aigo de que me orgulho.
. Eu tcrmmei algo que foi d1f'ícü começaL
. Eu usei mmh'a raiva de manem positiva.
. Eu ñquei com raíva de uma pessoa. mas descaneguei cm outm
. Eu comive mínha raiva.
- Esta é mmha' desculpa predüeta.
. Eu assumí uma nova responsab1h"dade.
. Eu nz' uma promesw e cumpri.«

ts"tes tópicos .xa*'o. naturalmnte. apenas pontos de pam'da. mas cada


um ucles podc dm 1m"cio a um valioso dial'ogo para descobnnn'os
areas' de responsabüdade que contenham guias para o signüicada
Cap|t'ulo Nove

GUIAS PARA A AUTOTRANSCENDE NCIA

A autouanscendência é a capacidade genumameme hurmna de 1r'


alérn de nós mcsmos, agmdo pelo bem de alguém de qucm gostamos
ou pelo bem de uma causa que nos sensibll'1za'. A autotranscendência
é a qumta are'a onde o signüicado pode ser encomrado. Para 0bjeti-
vos terapêuticos, é talvcz a condição mais un'ponante. mas lambém a
mais d1t'íc11' de aUn'g1r'.

A autotranscendência é 1m'portame porque engloba todas as áreas~


onde exista sentido (autoconhec1m'ento, escolha, unicidade e respon-
sab1h"dade), e porque proporciona sigmñcado justamente nas area's
em que nos sentun“os fmcassadosz transforma a derrota em vitórizL
Contudo, há uma d1ñ'culdade subjacente - como nos motivarmos pa-
ra tmnscender nosso egocênlríco instm'to? Por que devo fazer coisas
pelos outros, se a vida foi tão cruel comigo?

Pense num homem que tcnha sofn'do um grave acidenle automobi-


lístico. Seu carro ñcou arrebentado por culpa de um moton'sta bêba-
do. Sua esposa morreu no acidente e ele sofreu lesoe's que o obn'-
garam a aposentar-se ames da hora. Todos os relacionamentos.
atividades e condiçoe's, que davam sentido e conteúdo à sua vida.
146 ¡\l'l.l(_'.›\ÇÓliS PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

desmoronaram - seu casamento, seu Lrabalho, sua saúde. Ele se


sente amargurado, triste, 1r'ado e deprimjda E com razão. Como po-
de esse homem sent1r'-se motivado a encontrar signüicado ajudando
os outros, num mundo que lhe toi tão impiedoso?

Motivação

O orientador deve usar de muita franqueza no diálogo socrático,


mostrando ao pacicnte que não espera quc ele esqueça seus próprios
interesses, mas que o_s transcwzda. para que possa m'clu1r' os outros,
no seu c1r'culo de m'teresses pessoais - tdl'vez, pam começdr', uma
única pess0a. Deve-se mostrar ao paciente que ajudar os outros é, de
cena forma, uma espécie de “egoísmo”, pois isso tará bem àquele
que ajuda. Estas são algumas maneu'as de procurm motivaço'es.

ARGUMENTOS LÓGICOS

Os argumentos lógicos servem às pessoas que estão abertas a este ti-


po de argumento. Uma discussão do ponto de vista da logoterapia
pode ser um torça mot1'vad0ra,. assim como outros pontos de vista
posilivos, religiosos ou não. A Golden Rule*, de uma maneüa ou de
outra, tem sido um verdadeiro (mas nlt"ellz'mente rar'o) método para
se alcançar a saúde mentaL
ÉL
E

O EXEMPLO DOS OUTROS


Ff
I

O exemplo dos outros pode scr outra fonte de motivação. Quais E


as figuras da História ou da Litcratura, ou de seu conhecmento pes- Ê
soal que você admxr'a'? Que qualidades você adm1ra' nessas pessoas?

* Goldcn Rulc - conccito moral - fazer uos oulros 0 quc gosluríamos quc fizessem
a nós. (n.t.)
"'-.v=_«-rf*-' ›~
›,-':_
(il'l.\5 l'¡\|<¡\ A Al IUI RAB'S('l:'\k'I)l;..\'('|.-\ 147

As pessoas quc você admira provavelmcnte possuem qualidadcs dc


autotranscendência. O exemplo delas pode scr a primeüa inspiração
para suas atitudes de autotranscendônc1'a.

EXEMPLOS DO NOSSO PASSADO

Relembrar exemplos que ocorreram no pussado. quando um dia aju-


damos outra pessoa e nos sentimos muito bcm. Esscs incidcnlcs po-
dem abranger uma escala quc vai dcsdc o mais simplcs dos alos (de-
sistlrÚ de um fim-de-semana para ajudar um amigo na mudança) alé
os mais profundos (um profcssor tratou-nos mal quando éramos
crianças; fomos capazes de transccnder cssc rcsscmimemo e Lruns-
formar o incidentc num incentivo para nos tomw protcssorcs com
conhecimento da psicologia infantil - o que nosso mtigo prolessor
não teve). Ao explorar expcñências passadas podcmos nos
perguntmz

Foi uma revolta contra a injustiça que nos molivou a lazcr


alguma coisa positiva para corn'g1r' uma situação?
Será que aprendemos algo de um episódio doloroso. que agoru
nos permite ajudm alguém numa situação semelhuntc'!
Fizemos algum trabalho, remuncrado ou não, que scrviu de ajuda
a alguém?
ÉL Será que já ajudamos alguém, apcsm de não tcr vontade de
E
Ff fazê-lo?
Já nos esforçamos para fazer algo especial em tavor de alguma
I
causa em que acreditamos?
E Teríamos ajudado alguém que precisava de nós. embora essa pes-
Ê
soa não nos livesse pedido nada?
Já assunumos algum risco para ajudar alguém. e nos sennm'os
bem com o resultado?
Numa época em que estávamos desesperados. alguém compamlho'u
"'-.v=_«-rf*-' ›~
›,-':_
148 APLZCALjÓES Pkáncm m urxnikuma

de nosso sofnmcnto por uer viv1dc'› c supcrzáo er ax


wmelhamú
. Scrá quc zprendemos a aceM" cmviver com uzz pmima vemiv
outras pes.<›oas wnvivendo com pmbécmaa mm_"2 me rmvní
. Alguém já .se mmtrou comprcemivo cmmca W* dc actar*-
mos que mo' merecxanw's em comprm'?

FAWASIAS 0RIEN7ADAS

Quando no du"'10gr› y.›cr4x"1a*› surgk urrz palzumchzva càtz podc


levar'-n(.›s a zàmsias oncmams para aí prmávzws ."'2Cfn'h4'1. A pab
vra-cn4"ve podc csm wntiáa nu.:|'2 9.¡',W'¡":. Lm horruczm er em
plo., que pcrdeu sua csposa e suz Ajdei" mm dcmue dz mrjnd
causadw por um motoñstz quc mn'g;a crrh-_nazgdo›'-, podc mwc a 3i
pmp'rí0:

. orcnnv'u4n"'do uma lch'slaLao_\'-' contra rmtrmsm beà4d0"s,


. m'¡L'w" um grupo dc viúvos c VIÚVd$' mfredorcs, peza a
enfreman wmpmzlhm c curar suaa mgütràa
. micm um grupo ou uma rxgarnlwñ quc ajude 442 pcamaa quc
roram Jbrn'gadav'< a aposenw'-<r.' muito ML
. hl'iar-sc ou co_mccar uma organ'¡7')4car"~› qut Âaudc aa pwm f¡-"
s1c'amente dc§1c'1c'ntz.<›, a erumrar um trzhalíw em qx ae glw^
independentes.
. cxercer mcrumaD au'v1'dade' que acja xrrdponame para cicz c que ck"
havia neglx'gcncwd0" pct Ia'iLa de Y.CT-›çí).

só RESTA IEWAR

Atgurms vazs a rrrm'vaçar'› wrge do CÍC.'<,CE'WO, que "J.'w"


rm m fundo do poço; Lenmrm wdo e m' ms Erm›' Wm
sm: "bu' sci que essa t40" ralm au.-r*xr4.'usczrr'.der'w” wü

r,,“_'› Lfijj ^.. L .'Z',',"r“.".?' ¡.':-,m,4_'.~r;.› m

mdam_crzm,a"Jncmffnxpmmhmh-3m.n=w
m mm ergcmmya vam qzz m
pama oz uzz -.zu-'*u.* waún uzn .sc;nl-ma:-' _:.uc rz
mua t Cfu .' ymw xw_,' .v"n::r, z 4.2:z-7'
Eskcm z mU - t j.."m-* zmz m yne ur "-',-..z-
bdeÕymz Ew';as›v.:m_'w_2m1hm
m RAJC szrj .r:" hez .n.."›'”m'z -.r':.* zzimvak
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_""m'(”YLQ _DS-'$-."5 scrm aossc Dihri c mm -::m
púdez a m”"x'àaa'n_. ::2..›~ 33593 mh 0 c.._r~ qac csná 5cn$3
150 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

transcendido é n055a part'e mentc~corpo. 0 eu que transcende é nos-


so espín'to. A autotranscendência nos Íaz conscientes de que aquilo
que somos (nosso espín'to) pode suplantdr' aquüo que temos (nosso
corpo e mente). Essa consciência nos mostra os signüicados em po-
tenciaL

A 1'IV'IDADES

Muitas pessoas sentem r'i1iculdade em molivar~se através da ajuda


ao próximo ou temando Autar por uma causa, quando estão em busca
do signüicado de suas vidas. Muitas dessas atividades não sâo re-
muneradas, pelo mcnos no início, porquanto uma mudança de valo-
res se faz necessar'ia para que essas pessoas consigam panicipar de
atividades dessa natureza. A mulher que dedica seu tempo a criar
uma legislação contra motoristas bêbados, ou o homem que, lamen-
tando a pcrda da esposa, dccide fundar um grupo de apoio para viu'-
vos. não serão pagos por seus esforços. Ocasionalmente esse traba-
lho voluntan"o pode transformaI-se num emprego remunerado mas,
pagas ou não, essas tarefas preenchem satisfatoriameme o anseio do
ser humano.

As ocupações autotranscendentes abrangem os signüicados de todas


as ar"eas anteriormente mencionadas. Promovem o autoconhecimento
lazendo emergir nossas melhores quaúidades inatas - qualidades que
talvez não chegássemos a descobnr' se tivéssemos seguido os cmi-
nnos do prazer e sucesso, de acordo com os ditames de nossa socie-
dade. A escolha é, naturalmente, tundamental e a que possui maior
signíticado porque ínclui os dóis outros camínhos para o sentidoz
a unicidade e a responsabilidudc.

A tragédia que vívenciamos nos toma os únicos qualificados para


ajudar pessoas que passaram por problemas semelhantes. Um famoso
médico pode tentar convencer sua paciente,que está numa cadeu'a de
GUIAS PARA A AUTO 1'R/\NSCENl)Él\'Cl;\ 151

rodas, de que ela lem condiç0c's de cnconLrar sentido em sua vida.


Porém, uma pessoa numa cadeira dc rodas ou de mulctas, que íor
capaz de dizer: “Eu sei como você se senle - cu mcsma já passci por
esse Irauma e encontrei 1orças que jamais supus que tcria". scrá
muito mais convincenlc que o médico. Um chraplégico disscz "Não
quero ser chamado dc tisiwmcnle incapuL Sou alguém que foi lisi-
camente desajiado”.

Os alcoólatras anônimos há muilo que se convcnccrml do talo de


que poucas pessoas são capazes dc ajudm tão bem um dl'coólalru.
como aqueles que resistiram uo primeiro gole. Da mcsma lorma os
cegos podem zqudar os que perderam a visão. c os ponadores de
doenças incuráveis. os que estão na mcsma siluução. As organiza-
çóes de volunlar"ios e associagócs dc apoio cstão rcpletus de indiví~
duos que ajudam pessoas acomctidas dos mcsmos mulcs que os seus.
Eles podem ler sido discrimilwdos por sua cor, raça, rcll'gião. scxo.
ou por terem perdido enles queridos dc câncer. cntisemu ou AlDS.
A escolha da atividadc auloLransccnente deve ser lcita por uqucle
que busca. O orientador podc otbreccr sugcslócs dcpois que o pa-
ciente deixou aHorar uma palavra-chavc. Os scrcs humunos sãu cu-
de'CS de apresenlm componamentos surprccndentcs. tanto pluneja-
dos como espontâneos. Todos nós já ouvimos lalur de casos como o
de um assassino, na prisão, que mriscou sua vida para salvm do fo-
go um companhelr'o, ou da mãe que pcrdeu 0 íilho num acidcnlc e
doou órgãos dele para salvm a vida de oulra criança. Logotcrupculus
relataram taçanhas que nínguém jamais ousmia sugerir. mus que
seus pacientes escolheram O dr. 'l*akashima. dLr'elor do Instituto de
Logolerapia dc Tóquio. descrcve o caso da mcnína quc nusccu scm
braços, aprendeu a pintar com os dcdos do pé. c inspirou uulms
crianças com o mesmo dct'eito. Viktor Frankl escreve sobre divcrsas
pcssoas que Lranscenderm suas tragédias translornmdo suus cxpc-
riências em triuntos. Aqui cstão mês incídcnlcs mencionados por
Frankl em suas palestrasz
152 APLICAÇÕIES PRÁTICAS l)A LOUOTtRAPlA

Um detento numa cadeía da Flóñda enconLrou o livro dc FrankL “O


Homem em Busca de Scntid0". na biblioleca da pn'são. Depoís de
ler 0 livro, 0 pn'sioneLr'o cscreveu a FrankL dizcndo que gostaña de
organizar grupos de auto-uJuda dentro da prisão, de maneu'a que
oulros detcmos pudcssem comcnw o livro e planejar suas vidas para
quando saíssem da cadeia. Frankl cncorajou esse homem que, supe-
rando as dúvidas e as dcscontiadas perguntas de seus companhe1r'os,
lommu um grupo de reincidentes (com0 elc). 0 grupo C0ntinu0u
manlendo esses encomros, mesmo depois de terem sido postos em
liberdade. Como consequ"énc1'a, todos os pr1'sione1r›os, com exceção
de um deles, nào rctomaram à pn'são.

Uma mulher judia usava uma pulseua teita com os denlínhos de leile
de seus tilhos. “Este é o de Míriam”. dizia ela. "Este 0 de Samuel e
este 0 dc Sarah." Ela guardava um dcnte de cada um dos seus nove
filhos que haviml mom'do num campo dc concenlração. Quando lhe
perguntaram como ela linha comgem de usar um bracelete assim, a
mulher respondeu com sun'plicídade'. "Eu agora sou d1r'et0ra de um
orfanato em Isracl."

Um homem que não possuía famüía trabalhava como lixeüo numa


cidade relatívamcnte pequena. Sua situação certamente parccia li-
mitar suas p0551'b11'idades de encontrar significado em sua vida. Mas
ele encontrou Do lixo que recolhia, ele separava os brinquedos
quebrados e passava as noites restaurando-os. Depois ele levava os
brm'quedos para uma íavela e os distribuía às cn'anças - lomou-se
Papai Nocl o ano m'te1r'o.

A autouanscendéncia, que podc scr denominada simplesmente am1'-


zade ou boa-vonlade, embora inconsciente, é um aspecto muito im-
portante na vida de muila gente. Uma mulher, que víve numa casa
de repouso pwa idosos. sotre de aruítismo mas tem condiçóes de di-
rigú automóveL Ela transpona outros idosos, que moram nessa casa,
UUIAS PÀRA A Al Í'I'0TRANSCL'NDÉNCIA 153

até a igreja. o médic0. 0 supcxmercada Uma viúva rccentc prccnchc


se*u tcmpo 0cioso, cuidando da criunça de uma mãc soltciru quc pre-
cisa trabalhdr'. Um homcm. dcitado num lcilo hospiwlm Com uma
doença incuráveL rcccbc scpurudamcntc a visim dc scu mclhor ami-
go e do Iilho deste. Pai c lilho. por cuusa dc uma n'xu, não sc lalam
há anos. 0 amigo doenle dccidiu lomm cm suas mãos a larela dc rc-
conciliá-los. Um professor dc nmrccnanu aposentado. Cujus mãos já
não cstavam bastame 1'm'ncs pmu quc pudcssc cxcrccr sua prolissão.
_fez de suas lbrramenlas c olicina. um locul paru quc as criunças da
vizinhança pudessem aprcndcr scu olício.

Não são somcmc as pcssoas quc solrcmm rcvcscs do dcsu'no. as quc


encontram 0 semido da vida através da auloLransc*c.ndência. Tcm
crescído o grupo de pcssoas que sc scntcm vazias * em nossa opu-
lema sociedade - não porquc pcrdcram algo, mas porquc possucm
demais. São “pa'ssaros cm gaiolus dc 0uro" prcsos nu arnmdilha dc
sua própria riqueza. Alben Schwcilzcr lala do pn'ncípio morul quc
ele denomina de “os devedorcs atortunad0'.s” ~ as pcssoas quc têm
tudo, têm obrígação de ajudar os que têm pouco ou nadu.

Elizabeth Lukas aplica esse princípio em sua IempizL Ela ilustm 0


fato, relatando um episódio com dois moloristas numu estrada. Um
dcles solrc um acidcnlc. cai numa vulu, mcbcnta o cmo c sui tcn'-
d0. O 0qu0. quc nada sofrcu, lcm obrigução dc ujud4r'. Nestc caso, a
responsabilídadc e a autolranscendência caminhan'1 juntus.

Muita gcnte que não prccisa trabulhm ~ indivíduos ricos ou aposen-


tados - senlem-sc inútcis, vazios. dcprimidos c neuro'u'cos. embora
tenham condiçóes dc prcslar auxíli0. Esta siluação desmia tuis indi-
víduos a se compromctcrem 0 mundo cslá chcio dc Criaturus quc
precisam ser ajudadas. e de Causas a scr dclendidas. não apenus no
'l'erceiro Mundo, como também no Primcüo Mundo.
154 \\l)l.JC›.\Ç(-)I;S 1'RÁ1~1C1\S DA L.Q(J'()1L¡R.v\l'l:\

FranKl concluiu uma palcstra com esta 1rase: “Dependendo da im-


ponância que o Primeko Mundo conler1r' a sua Lmela de combater a
lome no Terceüo Mundo, ele ajudará a si mesmo a superar sua cn'se
de signiticadoz nós lhes damos pã0, eles nos oíerecem sentido - não
é um mau negócio." 0 signiücado através da autotranscendência
não é geralmeme tão dramático como nos exemplos aprescntados.
Podem ser pequenas coisas da vida d1'a.r1"a c ao alcance de grupos em
qualquer faixa ctdr"ia.

Alé pouco tempo atrás, as crianças ajudavam seus pais em casa. na


fazenda, na oticina. Esta ajuda lem se tomado desnecessúria e até
1m'possível. Consequ"entemcntc. as crianças sc semem dispensáveis e
entediadas. Assistem passivamcnte à televisã0, entrelêm-sc com
brinquedos mecânicos comprad05. atividades quc satisfazem o de-
sejo de prazer, mas não a necessídade de sentido. As crianças ainda
poclem ajudar seus pais. especialmente aquelcs que trabalham I'ora_
ajudando a tomar conta de um 1rm'ãozínho pequeno, por exemplo.
Podem fazer companhia aos avós ou a algum vizinho solitar'1'o. Po-
dem. mbém executar pequenas taretás domésticas que consomem
um tempo precioso, comoz arrumar a mesa. varren passar aspkadon
lavar roupa.

Elizabeth Lukas relata a experiência que tez com um grupo de


criangas rebeldes. Geralmente essas crianças distraíam-se com seus
brm'qucdos comprados, que rapidamente desembrulhavam, qucbra-
vwn e Jogavam 10ra. Ela pediu-lhes quefizessem os brinquedos. Elas
desenhavam e construíam máquinas simples, esculpiam barcos em
blocos de madelr'a. Faziam bonucas de pano, pimavam suas faces,
cosluravam suas roupas e teciam seus cabelos com tios de la'. Essas
crianças não quebravam os brinquedos que elas mesmas taziam e or-
gulhosamente os pmilhavam com os outros.

No outro extremo da vida. os velhos podem utilizar sua tripla habi-


lidadez expeúência, sabedoria c tempo dísponích para encontrar
(il'l.'\.\' l'x\R.\ /\ ›\l HJI l(4\'\;'.\('|'l\l)| '\('l¡\ 155

alividades e relacionamentos .s'igniticau'vos. Criunçus cntcd'i.1'das.


adultos que persegucm dinhciru c prucn c idosos "inu'tcis". podcm
descobnr' sentido intercswndwsc pelos denmi5, dcnlro c tora dc sua
família.

A autotranscendência. como um cauninho pmu o 51";_1111'1icad0, cslá ao


alcance de qualquer pessoa, cm qualqucr c1r'cuns1ância c cm lodus us
idades. Seu valor é mais poderosamunc cvidcnciudo cm pcssuua quc
estão sotrendo pela dor e tristezu da auséncia dc scntido cm .suas
vidas.

A autotranscendência também podc scr oblidu por quulqucr pcssou


que, por exemplo, passe uma noite acordada cuidando dc um mnigo,
levc um vizinho ao hospituL visilc um docmc. convidc um vizínho
novo para tomar calé, ou laça qualqucr umu dcssus gcnliluw quc
surgem naturalmente.
Capítulo Dez

VALORES

Os valores são os sinais de tráfego em nossa jomada através da


existência. Eles dizem “pare” ou “siga” e “permitido“ ou “proibi-
do”. Eles advertem quando a estrada tem uma “Curva perigosa",
“criangas atravcssando”, “pista escorregadia”. Os valores, como as
placas sinalizadoras nas estradas, são úteis, salvam vidas e cm gcral
são obedecidos automaticamente. São o que Frankl denomina valo-
res de “sentido universal” - nos quais as criaturas, em situaçóes
convencionais, conseguu'a1n obter respostas signifícativas. Esses
valores fazem com que se tome desnecessar"io para nós, decidk o
que é signiticativo, numa situação específica. Apenas nos guiamos
pelas “placas sinal1z'adoras" estabelecidas pelos pais, protkessorcm
guias esp1r'ituais, líderes secular'es, govemantes, arn'igos. sociedade.

Contudo, essa comodidade tem um preço. Os valores podem ser


Contraditórios. Os valores dos pais podem dizer "sex0 anles do ca~
samento, nã0”. Nossa roda de amigos d1r'á “esperar até o casamemo
é bobagem”, ou até. “casament0 é bobagem”. Podemos ouv1r' at'1r'-
mações contraditórias a respeito do lugar da mulherz se deve ticar
em casa ou trabalhar. Opiniões incoerentes sobre controle na nalali-
dade, aborto, homossexualismo, profissão, participação na comuni-
dade e obrigações cívicas.
158 .-\I*L1CAÇÕES PRÁTICAS D.›\ LOGOTERAPIA

Existe também a possibilidade de que nossa consciência nos trans-


mita mensagens conllitmtes numa situação incomum. Suponhamos
que vocé esteja conduzindo sua esposa'. que está em trabalho de
parto, ao hospital', por uma estrada vazia. Você poderá tanto passar
com o sinal vennelho, como parar diante do sm'al verde porque um
idoso manco está atravessando a eerada. Um anista que se recusa a
tomm conta dos negócios de seu paí, está atendendo aos seus valo-
res e ignorando os valores de seu pai. Um homem que se deita
diante de um trem canegado de armas nucleares está claramente ex~
pressando seu repúdio aos valores de sua sociedade. O homem que
sc recusa a pagar m'1postos porque desaprova a maneüa como seu
dinheüo é gasto (Henry Thoreau, por exemplo, não queria que seu
dm'heu"o tosse utüizado para manter a escravidão), está 11'npondo
seus valores em oposição aos do seu govemo.

Os indivíduos que seguem suas consciências ao invés de aceitar os


valores da tamília, sociedade ou govemo, devem assumir as conse-
qüências de suas deciso'es. O artista que não quis tomar conta dos
negócios de seu pai talvez tenha que viver na pobreza. O homem
que se deitou diante do trem, talvez seja atropelado, ferido ou morto
por esse trem. Thoreau passou um bom tempo na cadeia por ter-se
recusado a pagar 1m'postos.

Também existem riscos psicológicos quando nos detrontamos com


valores contlitantes. Os n'scos mais amplamente conhecidos são os
que Frankl denomina dc neuroses “noogênicas” - a neurose que se
origina na d¡m'ensão noética ou esp1r'itual do ser human0, onde as
decisões são tomadas. A neurose hoogênica é o resultado de dois
valores atraídos para d1r'eções dlterentes. A cura logoterapêutica
para a neurose noogênica (que pode causar depressão ou doenças
psicossomáticas) é decidü qum dos valores conflitantes é o mais
signiticativo para nós. Para se descobrLr' isto são necessarl"as
mês coisas:
VALORES 159

l- Qual dos valores se situa na posição mais elevada dentro dc


nossa hierarquia de valorcs'!
2- De onde vieram esses valorcs'? (Dos pais, da socicdade ou
dos amigos?)
3- Qual dos valores conñitantes é mais coerente com aquüo
que nossa consciência nos lala?

Nossas respostas a essas qucstões não indicam quc nossos valores


são melhores ou piores no sentido moral; nem querem signiticm que
é melhor ou pior, se vêm de inñuência exterior ou de dentro de nós
mesmos. Mas nossas respostas revelml que é saudável sabennos de
onde vêm nossos valores e, se acaso vieram de fora de nós, se esta-
mos de acordo com eles. Aceitar valores externos podc gcrm conse~
qüências prejudiciais, se não estivermos conscicntcs de que cslmnos
repr1m'indo nossos próprios valores - que estamos tazendo alguma
coisa porque “precisamos” tazê-la, sem nos dmmos conta de que
estamos cmegando este “precisamos", de uma adverlência há muito
tempo esquecida, mas que aínda está cochilando em nosso m'cons-
ciente. Esses conñitos de valor e consciência podem causar traumas
psicológicos e até mcsmo eniermidades tísicas. Eles dcvem ser es-
clmecidos e resolvidos.

Tornando mais claros nossos valores

PARYE 1 .' LISM DE VALORES

Na página seguinte relacionamos uma lista comendo vinte valores.


Leia-a e assinale os cinco itens que lhe pmecem de maior importân-
cia e os cinco que lhe parecem de menor 1'mportânciu. (Esta lista
foi t1r'ada do trabalho do logoterapeuta Jmes C. Crumbaughz
Logotherapy - New Help for Problem Drinkers, Chicagoz Nelson-
Hall, pág. 107).
160 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Quadro 1: Valores

Para mim um grande valor é:

l- Ser rico
2~ Ter amlz'ades duradouras
3- Ter relações sexuais
4- Ter bom nome
5- Deixar boas lembranças após a morte
6- Viver um amor româmico
7- Ser um grande líder
8- Ter saúde
9- Ser um herói ou uma heroína
lO- Ser uma pessoa útil aos outros
ll- Ser tamoso
12- Ser tisicamente tone (homcns) boníta (mulheres)
l3- Ser um gênio intelectual
l4- Ter aventuras e novas experiências
15- Ser teliz
16- Compreendcr o mistério da vida
l7- Satistazer metas religíosas
18- Ter paz de espm"to
l9- Fazer parte de um ambiente social e ser bem aceito
20- Ser portador de uma ídemidade pessoal

PARTE 2.' NOSSA HIERARQUIA DE VALORES

Na página no- 162 você encontrará uma folha de seleção. Os números


nessa folha relerem-se aos valores relacionados na Parte l (1= ser
n'co, 2= ter mlizades dmadouras, ctC.). As colunas na folha
de seleção lhe dmão oportunidade de comparar cada valor com
todos os outros valores que constam da lista. Em cada um dos pares
VALORES 161

escolhidos, faça um c1rc'ulo em volta do valor que, entre os dois


apresentados, Lhe parece o mais alto.

Na pr1m'e1ra' coluna, por exemplo, a pnm'e1r'a lm'ha lhe pede que es-
colha emre l e 2; entre ser rico ou ter amigos. Se você considera ter
dm'he1r'o mais 1m'p0rtante do que ter amigos, faça um cu'culo em
volta do número 1,' se os amigos forem mais un'portantes. c1r'cunde o
número 2. Faça essa escolha e essa comparação com todos os pares
de círculos, em todas as colunas. As colunas vão-se tomando mais
curtas porque os mesmos valores já foram previamente corr.parados.
A última coluna consiste de apenas um par (19 - pertencer e ser
aceito dentro de uma classe social, contra 20 - ser ponador de uma
identidade pessoal).

Agora, examine toda a lisLa, some todos os círculos n-° 1 e coloque o


total emba1x'o da pr1m'elra' coluna. Note que todos os números 1 es-
tão nessa coluna. Isto, porém, não acontece com os outros nu'meros.
O número ll pode estar na coluna 11 e também em colunas anterio-
res. Some todos eles e coloque o total embaixo da coluna ll (a que
indica 0 quanto você valonz'a a fama). Quando chegar à úluma' co-
luna, deverá percorrer todas as colunas precedentes em busca dos
num'eros 20 que você c1r'cundou. O total da soma deve ser posto em-
baixo da coluna 20.

Olhe os números obtidos nos vinte resultados que você anotou na


toxlha de seleção. Eles estão lhe mostrando sua hierarquia de valores.
Que lhe parecem quando comparados com os resultados obtidos na
Parte l, quandoÀvocê selecíonou seus valores sem pensar muito a
respeito? Que o surpreende nessa avaliação7 Quais os cm'co valores
mais altos e quais os cm'co mais baixos na Parte 2? São compatíveis
com os valores da Parte l? Essa hierarquia lhe dá alguma pista de
quem você é? Existe alguma coisa que você gostaria de mudar? Que
você gostaria de mudar em seus hábitos ou estüo de vida que refle-
tissem uma mudança na sua escala de valores? Você está preparado
para uma mudança ou seme-se satisfeito com seus hábitos e atual
maneüa de viver? Cada uma dessas perguntas pode ser usada para
dar início ao diálogo socrático.
162 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

QUADRO 2.- FOLHA DE SELEÇÕES


3-4 4-5 5-6 O-7 7-8 8-*)
IQ

1-3 3-5 4-6 5-7 6-8 7-9 8-10

l-4 3-b 4-7 5-8 6-)° 7-10 8-ll

1-5 3-7 4-8 5-9 6-10 7-ll 8-12

3-8 4-() 5-lO 6~ll 7-1'7~ 8-l3

1-7 3-9 4~lO .5-ll 6-12 7-l3 8-l4

l-8 3-10 4-ll 5-]2 ›(-l3 7-l4 8-lí_

1›9 .3-ll 4-l2 5-13 6-l4 7-15 8-Ib

1-10 3-l°~ 4-l.3 5-l4 6-15 7-10 8-17

l-ll 3-13 4-l4 .5-15 6-16 7-l7 b'-18

l-12 3-I4 4-15 5-ló 6-17 7-18 8-19

l-l3 3-15 4'-16 5-l7 0-18 7-l)4 8-20

l-l4 3.-16 4-l/' 5-18 6-l9 7-7.0

1~15 3-17 4-18 5-1() 6-20

1-lÓ 3-18 4-l9 3'-20

l-l7 3-l9 4-20

l-18 3-20

l-19

l-20

*)-10 10-ll ll-12 12-l)” l3-l4 l4-15 Ií.-ló ló~l7

9-ll l()-l7. 11-l3 l°L-l4 l3-15 l4-16 15-l7 16-18

9-l2 10-13 ll-l4 l.7-15 l3-16 14-l7 15-lb* 16-l9

()-l3 10-l4 ]l-15 12-ló 13-17 l4-18 15-l9 16-20

9-14' 10-15 ll›16 12-l77 l3-18 l4-l9 15-20

)(-15 10›16 ll-17 l.°-18 l3-l9 l4-20

9-16 10-l7 ll-18 ll-lJr l3-20

9-17 l0-18 ll-l') 12-°.0


9-IS 10-l9 ll-7_0 l7-I8
9-19 l0-.70 l7-19 lS-l9
9-20 l7-20 18-7g0 l()-20
\'z\l.)(RE'S' 163

PARYE 3: DE ONDE VÊM SEUS VALORES?

Os vm'te valores do Quadro 1. e as selc possíveis 0n'gens dcsscs


valores, estão relacionados no Quadro 3. Ao lado de cada valor.
m'dique com uma cruz o que imagina quc seja a fonte ou as fontcs
desse valor.

Quadro 3: Origens dos Valores


Eu mesmo

Educação

Ser rico
Ter amizades duradouras
Ter relações sexuais
Ter bom nome
Deixar boas lembranças após
a morte
Víver um amor romântico
Ser um grande líder
Ter saúde
Ser um herói ou uma hcroína
Scr uma pessoa útü aos outros
Ser famoso
Ser fisicamente forte (homens) bonita
(mulheres)
. Ser um gênio intelectual
Ter aventuras e novas experiências

. Ser feliz
Compreender o mistério da vida
Satisfuer metas religiosas
Ter paz de espm"to
Fazer pane de um ambiente social e ser
bem aceito
Ser portador de uma identidade pessoal
-I I-I-I I -I I
-I -I I I- I
164 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Essa lista também pode ser usada para dar m'ício ao diálogo socráti-
co. Que o surpreende com relação às suas respostas? Como se sente
quando percebe que em geral, (ou raras vezes) você segue os valores
de seu pai ou mãe? Que geralmeme (ou raramente) segue seus pró-
pn'os valores? Que sua escolha com treqüência (ou quase nunca)
comcide com valores que têm origem extema a você? Você gostan"a
de mudar? Em que' d1r'eção? Que você teria de fazer para que Laís
mudanças 0c0rressem? Que o 1m'pede de fazer essa mudança?

O que é un'ponante para a sua saúde mental não é tanto uma mudan-
ça em sua hierarquia de valores, mas que tome consciência de onde
esses valores lhe chegaram Muita gente passa a vida m'te1r'a carre-
gando desagradáveis e inconscientes “eu dev0”. Esses “eu devo”
cúam sensações de culpa e conñitos que não podem ser superados, a
menos que 0 indivíduo possa vê-los claramente e ser capaz de fazer
algo por eles. Lembrem-se que os conñitos podem, am'da que náo
necessariamente, conduzk a problemas - que dependem de seu po-
der para serem resolvidos. Mas para que isto aconteça você precisa
saber qual a origem de seu conflilo de valores.

Exemícios

Os valores são expressos em atívidades e experiências. Quando você_


passa por essas atividades e expen'ênc1'as, as düiculdades surgem
dos conililos enLre seus próprios valores e aqueles que vieram de
seus pais e que você am'da carrega consigo (em geral a nível m'cons-
ciente).10 exercício no Quadro 4 cxplora essa colisão com certa pro-
tundidada Leia o Quadro 4 e depois responda às perguntas.
VALOR ES 165

Quadro 4: Conflito de Valores

Relate três episó- Você concorda Sc “não", quais os


dios durante a u'l- com os valores ex~ valores que prefe-
um'a semana, nos pressados nessas re?
quais você agiu Lrês atitudes?
como se Íosse seu
pai.

Relate três episo-' Você concorda Se “não", gostaria


dios durante a úl- com os valores ex- de mudar?
tlma' semana, nos pressados por es-
quais você agiu sas ações?
como se tosse sua
mãe.

De maneu'a geral, Sente-sc bem, as- Se “nã0”, como


em que você age 51m'? gostaria de mudar?
como seu pai?
166 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Em que cicunstãn- Seme-se bem as-


Se “na'o”, como
cias vocé age c0- sun"! goslar1a' de mudar'!
mo sua mãe?

___.__-_

_..____

Em que vocé é di- Sentc-se bem, as- Se “não”, como


Iereme de seu pai? sun"? gostaria de mudar?

Em que vocé é di- Sentc-se bem as- Se “na'o”, como


terente de sua 51m'? goslaria de mudar?
mac'.'

Exercm"o 4

Detenmn'e ar'eas em sua vida nas quais vocé sente satistação, e de-
senhe uma Íigura mostrando como essas ar'eas preenchem o c1r'culo
de sua v1'da.
.
\-'›
~
VALORBS 167

Por exemplo:

. Quanto essas ativídadcs e expen'êncnas' precnchcm sua vúa"!


Onde c quanto elas sc sobrcpoe'm?
Como vocé se scmc com rclaçao' ao lamanho mlaúvo (mponan-"
cna') de cada uma dcssas areas' em sua vida'!
Como vocé precnche o espaço vazio?
Que ar'eas vocé gostana' de dmnn"uu°'. clxmma:?" expandm
acrescentar?
Desenhe outra ñgura de sua vida como vocé tcna' desenhado dez
anos atras'. Considera-a melhor agora? pior? igual?
Desenhe uma ñgura de sua vida como vocé gostana' quc ela fosse
daqui a dez anos.
Que vocé podc íaze'r para mudar a ñgura que hok é. pela que
gostana' que fosse?
Qual sena' o pnme'1r'o passo em due'ção a essa mudança?

Excrcm"5

Que vocé preczs'a tazer na próxuna' semna (més ou ano)?


Que vocé gostana' de fazer durame esse tcmpo7
Quais os benefícios que obtzúa das coisas que gostarzh de ta-
zer?
Suponha que possa subsu'tuu' uma coisa quc precisa tazer por
uma que quer tazeL Como sen'a sua vida?
Escreva cm'co experiências sn'gmñ'cau'vas em ›ua” vidzL Por que
elas sobressaLr'am? Por que amda são vah'osas? Que valores elas
representam? Na época foram negaüvas ou positivasi7 Seu
conceito a respcito delas mudou? Que vocé aprendeu com elas?

Todos esses exercícios fomecem material para ser d1$c'uud'o. Outros


tópicos que podem ser proveitosos m'cluem:
168 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

. Nomeie dois valores que são 1m'p0nantes para você e que sejam
contrad1'to'rios.
. Lembre-se de uma época em que você assumiu uma posição por-
que acreditava nela.
. Lembre-se de algum incidente em que você foi criticado por algo
que disse ou te'z. . Como você se sentiu? Que você fez?
Que qualidades você espera de um amigo?
Que qualidades suas só recentemente você descobriu que tm'ha?
. Cite algumas pessoas que exerceram mñuência sobre você. Quais
as razões que 0 intluenciaram?
. Qual a melhor coisa que aconteceu durante este últ1m'o ano entre
você c um amigo (um mcmbro da família, chefe ou professor)?

VALORES HORIZONTAIS

O logoterapeuta cneco, Stanislav Kratochvü, descreve dois valores


em extremas dlr'eçoe's opostasz um é p1r'arm'dal e o outro, honz'ontal.
Na eerutura de valor p1r'amidal, determm'ado valor está no topo da
pu'ânn'de e é domm°ante, enqumto os outros valores são menos 1m'-
portantes. O homem que vive unícamente para sua profissa'o, e a
mulher que vive unicamente para a família - ambos têm valores de
orientação p1r'amidal. O homem preenche seu tempo com o trabalho
e a mulher, com a família. Mas o que acontecerá quando o trabalho
do homem termmar com a aposentadoria, quando a ta'mília da mu-
lher já não for a mesma, os fühos crescerem e pamre'm, quando o
divórcio ou a morte romperem os_ laços que a uníam?

Cada uma dessas pessoas viveu ccntrada num úníco foco de interes-
se. Cada um correndo o risco de perder esse foco. Quando isso
acomece, a estrutura de valores de cada uma dessas vidas entra em
colapso; e suas vidas passam a ser vazias. Então é difícil para o
VALORES 169

m'divíduo com uma estmtura p1r'amidal de valorcs, encontmr novas


áreas de satistação. Esse vazio repentmo pode conduzu' à doença e
até à morte prematura.

O m'div1'duo que tem uma orientação horizontal de valores possui di-


versas ar'eas de valores que coexistem paralelamente - carreu'a, ta-
mília, amigos, passatempos, atividades cn'ativas, interesscs espe~
ciais, té. Se um valor desmorona, oquos permanecem O homem
cuja carreüa termm'a, a mulher cujos laços lamiliares se rompem du-
rante a crise da meia-idade, podem encontrm sentido em outras ati~
vidades que representem oquos valores de 1m'portan^cia sinu'lar. Os
valores honz'ontais são o seguro contra a vida vazia.

A maior parte das pessoas tem seus valores estabelecidos entre os


dois extrcmos. Uma terapia preventiva é aconselhável para ampliar 0
círculo de m'teresses durante a juventude, principalmente se temos
uma estrutura p1r'amidal de valores. Uma reon'entação horizontal nos
capacitará perceber amplas possibüídades de sentido, 1m'pedindo-nos
de desenvolver a cegueüa espm"tual.
Capítulo Onze

0 SENTIDO NO CASAMENTO
E A VIDA FAMILIAR

O sentido do momento é diferenle para cada pessoa c cm Cada silua-


ção. Portanto, não existe signíficado para uma twnñia intelr'a, como
um grupo. Existe, no entanto, 0 signíficado para cada membro da
famflia, íncluindo 0 sentido do relawionamcnto quc há cntre uns e
outros.

0 Sentido para os Membros da Família

A maior parte dos métodos c excrcídos mcndonados ncsle livro - dia'-


logo socráüco, desreñexão, modilícação de autudes, elaborando listas,
logodrama, tantasias, exploragão de vdores - podem ser usados pelos
1'nd1víduos, membros de uma tamília

O casamemo e o aconselhamento tam111"dr' olerecem oponumdades para


métodos adicionai5. Na claboraçâo de lislas, p0r' exemplo,
toi pedido ao esposo que relacionasse uma séúe de wisas de quc
ele gostava e ooisas de que não gostava em si mesmo; à esposa, pcdj-
ram que ñzesse o mesmo a seu respeito. Então pediram a mda
um que temasse adivinhar 0 que oominha a lista do oulro. As
172 APLlCAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

adivinhações eram depois comparadas com o que cada um havia es~


crito. A maior parte das suposições estavam cenas? Erradas? Até
que ponto marido e mulher de tato se conhecem? Como se sente o
cônjuge quando seu parceüo adivmh'a corretamenle? E quando está
errado? Os casais reagem de mane1r'a diferente. Alguns se sentem
bem quando um paxceiro demonstra conhecer bem o outro. Outros se
sentem descontortáveis. Há casos em que num mesmo casal, um se
sente bem, o outro maL Que signüica isso para o seu relacionamen-
to? O diálogo socrático, primeüo entre 0 parceko e o orientadon
depois entre os dois parceu'os, ajudá-los-á a ver o que suas reaçoe's
representam em seu relacionamento.

Esta lista mútua também pode ser temada entre pais e filhos, entre
1rm'ãos ou entre quaisquer membros da famflia como avós ou tios
que vivam sob o mesmo teto, ou tenham relacionamentos muito che-
gados. Como se sente um filho se ele não é compreendido ou não é
“muito bem” compreendido? De que maneüa a avó interpreta o pa-
pel dela dentro de um lar?

Como foi discutido no capítulo anterior. o jogo de adívm'hação tam-


bém pode ser jogado entre os membros da família, para estabelecer
valores hierar'quicos. O casal e os outros membros da família não
precisam ter os mesmos, nem mesmo parecidos, valores de preferên-
cia. Mas é muito bom para todos, que cada um saiba o que é 1m'por-
tante para a pessoa com quem eles vivem.

Outro método útü ao aconselhaménto famüiar é o logodrama, que


tacüita aos membros da tamília, a oportunidade dc falarem uns
aos outros. É melhor escolher um problema de cada vez. Quando 0
dial'ogo começa a enveredar para um rumo perigoso e a colisão
parece m'evitável, pede-se a um dos parceüos que troque de lugar
com o outro e passe a responder da forma que ele gostaria que lhe
0 SENTIDO NO CASAMENTO E A VIDA FAMlLlAR 173

estivcssem falando. A seguu' exempliticamos o caso dc um diálogo.


onde um atrito está prestes a ocorrer:

Ela: Eu já estou cheia do seu trabalho até altas horas da noile.


Ele: Você acha que eu estou me divertindo?
Ela: Obviameme você deve prelerü trabalhar a passar a noilc ao
meu lado. Com certeza tem uma namorada.
Ele: Você está louca. Eu trabalho, Lrabalho e você cu"nda mc acusa
de estar tendo um caso.
Ela: Tenho meus motivos. Já 0 apanhci com a Susan.
Elez E que me diz de você com 0 Harry'!
Ela: lsso só acomeceu porquc você me deixava sozinhu lodas as
noites.

As acusaçoe's mútuas têm a tendência de rolar como uma bola de ne-


ve numa avalanche. O orientador sugcrc que os pm*e1°ros Lroquem
de cadeüas e que o marido, sentado na cade1r'a da espos.1'. responda
por ela.

Elez (falando pela esposa) Sinto muito que você tenha que Lrabalhar
até tão taIde. Gostan'a de poder passar mais tempo com você.
Elez (mudando de novo de cadeka c falmdo por si mesmo) Eu um-
bém gostaria de ficar mais tempo com você. Mas não me m'co-
modo de fazer horas extras, pois é em tunção delas que tcremos
condições de passar umas férias juntos.
Elez (tr0cando outra vcz de cadelr'a e falmdo por ela) Fico contcme
com isso, querid0. As 1e*'n'as signilícam muito para mm'1.
Ela: (falando por si mesma) Férias realmcnte significwl muito pma
mim. Concordo que se você não Lrathasse tdn'to não teríamos
oportunidade de gozar esse descanso.

O atrito foi evitado. O casal agora pode talar de outros problemas.


174 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Elez O caso com Susan foí uma exceçào. Você saiu de férias por sua
conta e eu me sentia muito solitar1"o.
Ela: Eu sei o que você quer d12'er. Foi o que me aconteceu com o
Harry. Fiquei tamas noites sozmh'a...
On'entador: Que vocês poderiam fazer para que as coisas deste tipo
não voltassem a acontecer no futuro? Quais as possibüi~
dades que vocês enxergamí7

O casal preparou uma lista:

. Abrk mão das férias e passar as noiles juntos.


. A esposa passa a tazer algum curso notumo, que lhe m'teresse,
enquanto o marido trabalha.
. A esposa arruma um trabaJho de meio período para juntar dm'hei-
ro para as térias e outras despesas extras.
. Deixam as coisas como estão e cominuarão a brigaL
. Pedem divórcio.
. Tentam reduzu' cenas despesas para não precisar procurax
trabalho eera.

As vantagens e desvantagens de cada uma das opções são discuti-


das. Decidem sobre o curso noturno da esposa. Há muito tempo ela
vem querendo fazer um curso dc cerâmica. Ela também expressa m'-
teresse em trabalhar meio período em alguma coisa que a satisfaça -
não quer trabalhar só peIo dmh'e1r'o.

Em geral os problemas matrimoniais e famüiares parecem difíceis de


resolver porque os parceüos falam contra o outro ao invés de falar
para o outro, ou porque suas conversas se desintegram em acusa-
çoe's e defesas que bloqueiam a comunicação. Quando a pessoa fala
contra o outro a tec'nica “eco-diálogo" pode ser empregada. O “e-
co-dial'ogo” é uma técnica simples que consiste no segumtez um dos
parcekos só pode responder, depois de haver repetido a af1rm'ação
de seu con1panhe1r'0, até que ele se sm'ta satisfeito.
U SENHDO NO CASAMbNÍO E A VIDA l"/\\.1ILIAR 175

Ela: Você é um cabeçudo c torce tudo que eu digo da manem que


lhe convém.
Elez lsso é menlLr'a. É você mesma que...
Orientadorz Pare! lsto é contm a regra. an'eu"o rcpita o que sua
esposa falou.
Elez Você é um diabo de um cabeçudo e sempre tem quc lcr mzão.
Ela: Não loí isso que eu disse.
Ele: Mas toi o que quis dizer.
Ela: Como você sabe o que eu quis dizer'?
Orientadon Você se lembra do que sua esposa disse?
Ela: Claro! Não sou nenhum idiola. “Vocé é um tolo cabeçudo que
torce tudo que eu digo para que lhe convenha."
Ela: De fato eu disse que você é cabcçudo_ mas não o chame'i dc
tolo. Você não é tolo.
Elez Bem, obrígado. Pelo menos alguma coisa de bom eu tcnho. (Ele
n').
Ela: Ah. você tem mesmo pontos positivos.
Orientadorz (para o man'do) Qual a sua resposta por ter sido cha-
mado de cabeçudo?
Elez Eu tenho mmhas opiniões próprias. sim, mas não lico torcendo
as coisas.
Ela: Torce, sim. Você se lembra...
Orientadon Eco, por favor.
Ela: “Eu tenho mm'has 0pinioe's próprias. mas não Iico torcendo as
coisas”.
Elez Certo.
Ela: Você se lembra no ano passado. quando eu estava adxmran'do
um colar de pérolas numa vim'ne, você disse que eu ia levá-lo
à ruína?
Elez "Lcmbra o ano passado, quando eu estava adnur'ando um colm
de pérolas numa viLrine e você disse que eu ia levá~lo
à ruína?"
Ela: Ceno.
176 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Elez Bem, se isso é tudo que voce se lcmbra... Uma vez por ano não
faz mal torcer as coisas, taz'? (Eles nram')

Agora eles começaram a se entender. Já não discutem um comra o


outro; riem juntos. O caminho para o diálogo está aberto.

A técnica da lanterna é usada quando a discussão começa a tornar-


se agressiva. Elisabeth Lukas desenvolveu algumas regras para esse
método. O casal e o orientador sentam juntos. O orientador não par-
ticipa da conversa e é meramente um controlador automático que se-
gura uma lantema. Todas as vezes que um dos particípantes díz algo
ofensivo ao outro, ele accnde a lantema. Ao ver a lantema acesa, a
pessoa que está falando deve repetü o que disse, mas desta vez sem
hostüidade, sarcasmo, xm'gamento, acusações ou negatividade. En-
tão a discussão conünua. Só uma pessoa pode falar por vez, e a re-
gra com a lantema é igualmente aplicada a todos. Eis um exemplo
de uma discussão em que a técnica da lantema foi utüizadaz

Ela: Você é um cabeçudo e torce tudo o que eu digo da mane1r'a que


lhe convém (A lantema acendeu).
Ela: Você tem suas própúas opm'iões e não ouve o que eu estou
d12'endo.
Elez Eu ouço, mas geralmente você fala beste1r'as que não me
interessam (A lantema acendeu).
Elez Eu ouç0, sun', mas não estou 1n'teressad0 em suas fofocas. (A
lantema acendeu).
Elez Muito bem. Você cm geral fala de coisas que não me m'te-
ressam
Ela: Emão me diga isso. Não posso ler seus pensamentos, Senhor
Professor. (A lantema acendeu).
Ela: Não posso ler seus pensamcntos.
Elez Está bem. Daqui para frente eu digo. Mas você não precisa
pular em cuna' de m1m'. do jeíto que você faz todas as vezes que
eu... (A lantema acendeu).
o SENTIDO NO CASAMENTO E A VIDA FAMILIAR l77

Elcz Não fique magoada.

Suavemente a atmosfera toma-se menos cnvenenada c um diálogo


verdadcüo se faz possíveL

0 JOGO DO QUAMESI *

Outro método para manter as discussões mauimoniais num plmo


mais efetivo, evitando que se encaminhem pma o terreno das cm0-
çoe's, é baseado nas técnicas de aconselhamento maLrímonial usadas
pela pnm'e¡r'a vez pelo padre Gabriel Calvo, da Espanha. Seu méto-
do foi adotado por terapeutas de linhas de pensamcnto muito diver-
sas, e também pode ser usado pelos que têm inclinação pelo método
logoterapêutico. Esse método é chamado o jogo do QUAMESL As
letras que formam esse acrônimo signiíicamz Quais Os Meus Senti-
mentos Sobre lsso? Este jogo é de especial utilidade como uma fcr-
ramenta de auto~ajuda para casais que detectam os pnm'eu"os sínais
de uma tormenta que se aproxima e desejam evitar um naufrágio; e
para casais que vivem bem e querem viver ainda melhor.

Uma sessão do jogo de QUAMESI leva mais ou menos meia hora.


Pode ser pratícado todos os dias como um exercício para o espm"to,
ou pode ser reservado para ocasiões em que problemas especiais
aparecem Se decidimos jogar todos os dias devemos selecíonar um
problema para cada día. Um dia pode ser dedicado a pequenas desa~
venças do casame.nt0, (QUAMESI quer que eu ande atrás de você
catando as coisas que deixa pelo can'1inh0?) a contlitos mais sérios
(QUAMES[ você eslá recusando tazer amor comigo quando estou
querendo?) ou a tópicos gerais, raramente discutidos (QUAMESI
nosso amor um pelo 0L'Lro?) O jogo tem quatro partes que podem ser
resumidas na sigla ETDS, que é o acrômm'o paraz

* WAMFA (w1m arc my fcelings ahout'!).


178 APLICAÇÓES PRÁHCAS DA LO(¡O'1'ERAPIA

hhcreva por dez minutos sobre o tópico escolhido.


Troque o que você escreveu, e cada um lê as palavras escritas
pelo outr0.
Dialogue com seu pwceüo por dez m1n'utos sobre 0 que cada
um escreveu, e como se sentüam a respeito do que
leram.
Selecione um tópico pma o dia seguime.

O método QUAMESI/EI'DS focaliza a atenção nos sentimentos


atuais ao invés de explorm problcmas com causas enraizadas (“Sua
mãe costumava hm'p4r' tudo que você sujava; não sou sua escrava.
Arrume sua própria bagunça”. Ou “Se você grita comigo 0 día tod0,
não tenho vontade de fazer sexo com você à noite”).

Cada um dos parceüos expóe claramente 0 problema. Que sente o


marido quando sua esposa deixa as meias dele no chão? Que sente a
esposa quando o marido resmunga porque ela nào limpou d1r'eito a
casa? Que sente o mazido quando sua esposa vem com desculpas
(“Estou muito cansada, estou com dor de cabeça”)? Que sente a es-
posa quando ela não consegue supcrar o ressentimento pelas recla-
mações do maúdo e recusa suas m'vestidas românticas?

Cada parceko escreve sobre seus sent1m'entos não ultrapassando dez


minutos. Especüique somente como você se sente sobre 0 compor-
tamento do seu cônjuga Use os adjetivos - “raiva", “desaponta-
mento", “trustração”. E não esmaeça o colon'do da descrição da-
quilo que você realmente está sentmdo - “lsso me dá vontade de
sub1r' pelas paredes" ou “Eu podia te agarrar pelos ombros e te sa-
cud1r'.” Ataste~se de julgamentosÇ As palavras “Eu ach0” são em
geml mal usadas para expressar um julgamento - “Eu sinto que você
não está sendo honesto comigo”. Sempre que puder, substitua “Eu
acho” por “Eu sinto”. Expressamos nossos verdadeüos senmnentos
dizendo “Eu est0u...” Não se pode dizer “Eu acho raiva”, unica-
mente “Eu estou com raiva”.
O SENTIDO NO CASAMENTO li A VIDA l-/\'\¡1ll.l/\R 179

Os sentimentos são espontâneos. Não são bons ncm maus. Contudo,


podem ser positivos ou negativos. Não hcsitc em compwilhar scus
semimcntos negativos, mas evite descarregar “lixo desnccessário".
Não teme justificar seus sentimcnlos, apcnas tomc conhccimcnm dc
sua existência. Todas as vezes que você disscr “Eu sinto... porquc,"
está demonstrando que não aceila scus senliment05. Eslá tentandu
prová-los e just1'fic.1"-los. Aceilar seus sentimcntos não signitica quc
você não tem controle sobre os atos que dcles brotam. As açõcs po-
dem ser prejudicíais ou provcitosas para você c para os denmis.
Quando se enfrema com lealdade uma emoça'o, novos caminhos po-
dem ser abertos para se lidm com ela. Um diálogo tr'anc0 com seu
parceüo será sempre bom. O diálogo ETDS cntre cônjugcs é guiado
por estas regrasz

. Fique com seus semun'entos. lsto evita discussões desneccssán'as.


Se a esposa disser, "Se você largar suas meias no chão eu vou
ficar furiosa”, 0 marido não poderá discordar dizendo, “Não, is-
so nâo tará você ficar fun'osa.”
Evite contra-atacar. Não diga: “Bem, c qumto a você'?
Você larga a louça suja dentro da pia”.
. Evite deixar que o diálogo se estenda além do que está sendo
Lratado, ou que se reporte a eventos passados: “A semana pas-
sada você fez isso, o mês passado você te'z aquüo... Quando suu
mãe nos visita você fica cheia dc exigências, c é clu qucm deixa
tudo na maior desordem.”
. Evite ataques pessoais. Não diga: “Baguncelr“os como você mc
põem furiosa”, mas: “Quando alguém larga as coisas espmramu-
das por aí, fico furíosa.” Descrcva sua raiva da maneira muis real
que puder, e, se possíveL com humor.
Lide com um problema de cada vez. Os pratos sujos e as visitas
da mãe podem ser discutidos em diálogos postcriores.
Discuta ações altemativas. Depois de cxpressar abcrumlente c
tomar conhecimento de suas emoções, você pode discutir atitudes
que são possíveis, em vez dos sentimentos que cada um tem.
180 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPlA

0 DIALO'G0 DE AUTO-A.IUDA

O Jogo do QUAMESI inclui o diálogo de auto-ajuda. Pcrguntas rele-


vantes num dial'0go emre marido e mulher podem mf'luenciar um
componamemo positivo. Elas podem m'clu1r':

. Qual toi a pnm'e¡r'a coisa que a aLraiu em m1m'?


. Quais das suas qualidades tizeram com que eu quisesse casar
com você?
Quais das suas qualidades eu aprecio hoje?
Que nós tcmos em comum?
. Em que ponto não nos compreendemos 1'nte1r'ameme? Que
poderemos tazer paxa que isto aconteça?
. Como você se sente quando não estou aberto para você, quando
não a escuto?
. Como você se sente quando xedmente eu a ouço e escut0?
. Descreva seus sentimentos em três ocasioe's em que você se
sentiu perto de mim.
. Como você se sente quando eu não demonstro confiar em você?
. Como você se sente quando eu demonstro confiar em você?
. Quais são seus sentimcntos sobre o compromisso que assumun'os?
Meu compromisso com você? Nossas relações sexuais? A comu-
nicaçâo entre nós dois?
. Quais são seus sentimentos a meu respeito neste momento? (Esta
pergunta pode ser tratada como canas que vocês trocam entre si,
e que colocam no correio uma semana depoís de escrevê-las, a
ñm de reacender os senum'entos que brotaram do dial'ogo.)

O Significado nos relacionamentos familiares

Elisabeth Lukas considera uma tam'1'lia saudáveL aquela cujo's mem-


bros cxercem uma função signüicativa. Famílias assim, não têm
U SENTIDO NO CASAMENTO li A VlDA l'AMll.l/\R 181

distanciamentos funcionajs nem amlos tuncionais. Como a própria


vida, a família exige de cada membro uma larcía quc dcvc scr
executada. a flm' de que os relacionamemos lmiliares sejam signi-
ficativos.

Uma jovem mãe, por exemplo, lem uma tunção rclativamente ampla,
em razão de seus filhos e das cn'anças pequenas. Sc ela buscar a
realização pessoal através de uma camu'a ou de atividades sociais,
um distanciamento funcional poderá 0c0rrer. O dislanciamento po-
derá ser preenchido por outra pessoa, como uma avó que viva com a
família. Quando as crianças crescen1, a função matema du'ninui. Sc
ela continuar a exercer o papel de proletora como nos pn'mcu'os
anos, e tratar seus filhos como se eles ainda tossem bebês. 0 alrito
funcional poderá acontecer.

Numa família saudáveL cada membro está consciente dc sua tunção


dentro da família, embora essas funções mudem com o corrcr do
tempo. Ter em mente essas funções é especialmentc difícil em c'po-
cas de crise (desemprego, doença, um novo filho, velhícc, morle) 0
que poderá requerer que alguns membros assumam respons.1'bilida-
des adicionais, ou renunciem a certos privilégios. Uma famñia sau-
dável precisa estar atenta a duas situaçoe's que colocm em n'sco seu
bem~estarz

l- Quando um membro dá ordens que devem ser etetuadas


pelos outros. Isto pode conduzir ao atrito funcionm e
excesso de aut0n'dade.
2- Quando cada membro da Iaml"lia vive sua própria vida scm
se 1m'portar com os outros. lsto conduz ao distancimento
funcional e falta de autoridade.

Quando os membros da família têm um relacíonamemo saudável.


cada indivíduo está ciente do papel que desempenha e se csforçu
182 APLICAÇÕES PRÃTICAS DA LOGOTERAPIA

para executar seu papeL dentro da situação cambiante da vida fami-


liaL Para realizar essa conscienüzação, cada membro deve mobilizar
duas capacidadcs humanas: o autodistanciamento e a autotranscen-
dência.

0 autodistanciamemo nos perrnite atastaxmos de nós mesmos (men-


Ialmente) e ver onde estão acontecendo os distanciamentos e os
am'tos. Sem esse atastamento, estamos mais propensos a prestar
atenção unicameme em nossas necessidades e provavelmente não
nowemos a necessidade dos demais. A autotranscendência nos per-
mite, alravés de nossa preocupação com os outros membros da fam1'-
lia, assumk atúbuições que na verdade não queremos, ou abr1r' mão
de tunçoe's que gostan'amos de manten Conselheu'os matr1m'oniais e
tanul'iares desenvolveram numerosas técnicas que se utüizam de
princípios logoterapêuticos. Duas delas, que facüitam o autodistan~
ciamento e a autotranscendência são “as esculturas” e “a folha de
jomal”.

ESCULTURAS

Esculpü é 0 autodistanciamento em ação. Toda a família fm'ge que é


feita de barro e que pode ser moldada à vontade. Pede-se a um
membro da famflia que agrupe seus famüiares da maneka que ele os
vê. 0 marido, por exemplo, pode formar um grupo no qual a esposa
está isolada, de pé, numa pose de desafio, as pemas bem afastadas,
os braços cruzados. Ele está deitado no chão, indefeso, enquanto
seus mhos o puxm em todas as d1r'eçoe's. A esposa pode formar um
grupo diterente. Ela pode ver-se ag'achada, enquanto seu marido fica
empenigado Com o pé no pescogo dela; todos os f11'hos, exceto um,
eslão momados nas cosm dela - esse um está num canto, alheio ao
resto da tamília. As crianças podem tormar var1"'as esculturas, cada
uma dücreme da oulra. Um mho pode esculpü o pai tacitumo,

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wL1830SL¡N'l"lD0NOCASAMENHJL"AVll)AFz\\¡1lLlARameaçador,naposiçãodeumurso,ouisolado-talveznemíazcndopartedogrupo.Amãepodeestmabraçand0,pregandoumsermãocomodedoemristeoulapandoosouvidoscomasmãos.Oum'ãopodesermoldadocomoarrogante,ea1rm'ãmostrandoalínguanumaexpressãodeinsolenterebeldia.CadamembrodaÍamíliatemsuavezdeser“escultor”ea1am'liatodadeveconcordaremsegu1r'asinstruçõesdo“an'ista”sobreasposeseexpressõesfaciaisqueeleinventar.0quadroiráentãomos-trmcomocadamembroenxergaafamíliaeosrelacionamemos-asduplas,osLrian^gulos,asalianças,osisolamentos,oscontlitos,asprovocaço'es,osdesafios,osmedosedependências.Depoisquccadaparticipante“esculpiu”osmembrosfanlilimes.ca-daqualéentãosolicitadoaformarumsegundomranjodcesculturasquemostrecomocadapessoagostariadeversuafamüia.Depoisquetodaafamíliatomouconhecnn'entodecomoévistapelosparti-cipantesedecomogoslariamquefosseorcmcionamentoenLreeles.entãoaperguntabásicaénovamenteformulada:Qualseria0pn'mei-ropassoaserdadoparaqueaatualsituaçãopudesscserrevertida?Nestemomentoaautotranscendêndaétrazidaparaojogo.Asper-guntassãozquepoderiamosmembrosdafamíliafazerparaencurtarosdistanc1°amentos,edequeelesestariamdispostosaabrirmãopamevitarosatritos?Quemestan"apreparado,paraobemdosdcmais.amudarseucomportament0?AesculturapoderomperumCírculovi-cíosoqueestavasufocandoafamflia,eumnovociclopodcscrco-meçado.Aesculturapodetomarmaisíácilparaosparticipmtesconversaremunscomosoutros-nãosóatravésdcsuasprópriasperspectivas,masatravésdeumavisãomaisobjetivaealécomhumor.
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184 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

A FOLHA DE JORNAL

Este “j0go" também usa a capacidade humana de autodistancia~


mento. E empregado para explorar 0 relacionamento emre duas pes-
soas - marido e mulher, pai com tilho, 1rma"o com uma"o.

Uma tolha de jomal, bastante grande para que duas pessoas caibam
ncla, é colocada no cha'o. Pede-se, emão, a duas pessoas que se
aproxun'em da tolha, vindo de d1r'eçõcs opostas, e se coloquem sobre
ela. A maneüa que elas respondem dá algumas idéias de como “se
semem uma em relação à oqua”.

0 marido, todo pomposo e cheio de si, pode colocar-se sobre a folha


como se estivesse dlz'endo: todmha mmh'a”. A esposa pode achaI
Lranqüüamente um lugar no canto. Ou lutar pelo seu lugaL Ou pode
encomrar seu lugar abraçando amorosamente o marido. Ou ticar de
pé, cautelosa, de to'rma a não toca'-lo. Existem inúmeras possibilida-
des. E as possibilidades são igualmente numerosas para as outras
duplas - e igualmente reveladoras.

Na segunda parte do exercício o par é solicitado a sa1r' do jomal e


voltar a pisar nele como to'i feito na pnm'e1r'a vez. Mas só que agora
eles devem ter consciência dc seus movimentos. Devem prestar
atenção a cada passo, cada hesitação, resistência, acordos. Num
dial'ogo socrático subseqüente, eles d1'scut1r'a'o suas ações - como fo-
ram vistas de fora; a observação consciente de um comportamento
m'consciente. Podem falar a respeito dos sent1m'entos que tiveram
enquamo tomavam posição sobre o jornalz de provocação, culpa,
temura, m'unfo, tr'aqueza.

Na terceu'a pane do exercício, voltam a se colocar sobre a folha de


jomaL Mas nessa terceüa vez, eles assumem posições que reHitam o
relacionamenlo que gostariam de ter.
O ShNTlDO NO CASAMENTO li A VIDA PAMILIAR 185

Esse exercício pode ser cxecutado pelo par, sozmh'o, ou diantc


do resto da tamília que fica obscrvando. Qumdo a Iamília obsc*rva.
ela pode partühar das anal'ises comentadas pelo par que cxe-
cutou o exercício. Este procedimento retorça o cfeilo do autodis-
tanciamento.

Todos os exercícíos que exploram os signiñcados do relacionamemo


famüiar intluenciam o lado positivo da relaça'o. Os aspectos negati-
vos não devem ser menosprezados, mas as observaçoe's a respcito
deles devem sempre ser acompanhadas pela pcrguntaz “Quc pode-
mos fazer para que as coisas melhorem?” Onde as emoçoe's podem
automaticamente dizer “não", o espírito ainda pode dizer “sim". Os
obstáculos que impedem um bom relacionamento podcm ser removí-
dos, e novas possibüidades são possíveis.
CAPÍTULO DOZE

GRUPOS DE COMPARTILHAMENTO

Sendo a busca pelo signiñcado um zmsunto pcssoal', mgumcntowsc


que terapias de grupo não são convenientcsn No entamo, os logole-
rapcutas desenvolveram um númcro dc técnicas em grupo, com
muito sucesso.

Quando se trabalha com grupos. a precaução é uma das condiçóes.


A logoterapia é bascada na confiança cntrc o oricntador e o pacicn-
te. Essa confiança se cstendc a todos os mcmbros do grupo. 0 “en-
comro" nesses grupos não é agrcssivo, mas cautcloso e positiv0.
por esse motivo que 0 termo “grupo dc coxanilhmwnto" é usud0.
Cada panicipwtc companüha a busca individual pelo signiücado,
scm scr pressionado. Todos devem saber que cles têm o dnr'~cilo de sc
recusm a responder alguma pergunta ou dc pmicipm dc qualquer
exercíci0. Porém eles também devem sabcr quc suu pmticipação é
bem-vm'da e Lr'á contr1'bu1r' para o sucesso do grupo. Cada qual dcve
estar cieme de que qual'quer coisa que tor dita ou teila denuo do
grup0, não será comentada tora dele.

A busca pelo signüicado deve permanecer pessoaL e dcve-se lomer


cuidado para evitm que um amigo excrça pressão sobrc mgum
188 APLICAÇÕES PRÁTlCAS DA LOGOTERAPIA

membro do grupo. O diálogo socrático toma~se um “multiálogo”. O


› orientador deve 1m'ped1r' que os participantes tentem resolver os pro-
blemas uns dos outros. A descoberta do signüícado permanece sob a
responsabilidade do indivíduo. As sugestões são bem aceitas, mas
não na fonna denconselhos que m'duzam a uma reação “sim,
As experiências dos membros do grupo são mais eficazes quando
apresentadas como exemplos, prm'cipalmente depois que uma pala-
vra-chave emergiu. Os panicipantes podem dizer: “Slm', uma vez eu
passei por uma situação semelhante e f12' tal e tal coisa”. A decísão
ñca a critério do paciente; os outros membros do grupo sun'ples-
mente ajudaram o paciente a encontrar altemativas.

Determinações gerais

Robert Leslie e outros logoterapeutas esboçaram algumas determina~


çoe's para os grupos de compartúh'amento:

. Criar uma atmostera de apoio, na qual a comunicação entre os


indivíduos possa etetuar-se com a mais ampla liberdade, com
total desm'ibiça'o e pemútmdo a manifestação de sent1m'entos
pessoais.
. Conscientúar os participantes dos recursos do espm"to humanoz o
autoconhecnn'ento, a líberdade de escolha, a unicidade, a respon~
sabilidade e a autotranscendência.
Ajudá-los a enxergar que eles possuem o poder para utüízar esses
recursos, a ñm de encontmr metas significativas.
Ajudá-los a descobnr' onde se enclontram, aonde desejam lr' e
como chegar lá, passo a passo.
Focalizar sua atenção naquilo que é certo para eles, e como
podem aprender através daquilo que pensam estar errado em suas
vidas.
GRUPOS DE CO\.1PARTIUIAME'NTO 189

RESPONSABILIDADES ASSUMIDAS
PELOS MEMBROS DO GRUPO

Cada membro aceita a responsabilidade pela vida do grupo. Todos


participam e interagem sem esperar que o on'entador resolva as difi-
culdades.

A comunicação é estabelecida num nível mais profundo do que


aquele mantido nos relacionamentos sociais. Permanece no nível
pessoaL Quando se dicute sobre livros, cinema ou sobre as expe-
riências de outras pessoas, expr1m'a como você se sente a respeito do
que está sendo dit0.

Faça da situação presente o foco da sua atenção, mas sem ignorar o


passado. Não recorra ao passado como explicação ou desculpa pelos
fracassos atuais. Tente, ao comran"o, t1r'ar proveito tanto dos erros
como dos acertos que o passado lhe proporcionou.

A ênfase do grupo deve estar mais voltada para o companilhamento


do que em determinar diagnósticos. Permaneça na dr"ea na qual
você é 0 maior conhecedor do mundo: seus sentm'1entos e suas expe-
riências.

As observações são bem-v1n'das, porém os ataques devem ser evita-


dos. Em lugar de dizerz “Você tem uma mane1r'a 1m"tante de m'ter-
romper-me”, diga: “Eu me sinto 1m"tado todas as vezes que sou m'-
terromp1'do' '.

AS RESPONSABILIDADES DOS ORIENTADORES

As características mais 1m'p0rtantes do orientador são: cmpatia, cor-


dialidade, suavidade, autenticidade e o cuidado para não falar de-
mais. Os orientadores têm oito funções principaisz
190 APLICAÇÓ<LSPR›.\'T1C,\SI)A L()(j0'l'-L'R~.\PIA

l- Esuu"t1uar. Começar e termmar a sessão dentro do prazo es-


tipulado, dar apoio às colaborações de cada participante, proteger os
pacíentes de críticas destrutivas.
2- Anallsar': Fazer observações sobre 0 que está acomecendo,
detectar incoerências entre pmavras e atitudes, apontar padrões de
comportamenl0.
3- Cenüahmr.' Ajudar 0 grupo a Lranstonnar o bate-papo in-
íormal numa conversa mais profunda. na qual os debates 1m'pessoais
e supcrficiais se concentxcm em envolvun'entos pdrt'icularcs, de con-
tcúdo mais significativo.
4~ Compamlhar.' Participar ativamcnte como membro de grupo,
dc acordo com as regras estabelecidas.
5- lnccntivan Encorajar os pacientes a transfonnar-se: “Para
onde você vai, ao sair daqui'?" “Que pretende fazer?”
6- Umñ'car. Amarrar pensamentos dispersos e recuperar tarefas
não terminadas.
7- Pam'c1par'. Tomar parte nas discussóes dc grupo e permit1r'
que os indivíduos auxiliem os outros membros do grupo.
8- Viglar.' Ficar atemo para que o grupo não se desagreguq em
função do comportamento individual de um dos participames.

Notaz Num grupo que está se saindo bem, as funções do orientador


podem ser adotadas pelos participames. Estes podem ser tão impor-
tames como o próprio orientadon

Exemplos

O JOVCIH Fred quase não pmicipava do grup0. Diversas vezes, du-


rante a sessão, ele saía da sMa e retomava após alguns minutos. Um
dia, um dos membros 1m"tou-se e perguntou a Fred: “Afinal de com-
Las, por que você vem aqui'? Nunca diz uma palavra e freqüente-
mente nos perturba, entrando e saindo da sala.” Outros panicipantes
(¡RUI'()S Dli ('O\¡1l':\Rl Il_.H.›\'\.H.N l*() 191

tdn'1bém condenavam o comportamcnto dc Frcd. e antcs quc o


orientador interv1'esse, 0 seguime diálogo se passou:

Fredz Eu tcnho um pastor alemão nu mcu carr0. c prcciso sau'


muítas vezes para ver se ele cstá bem.
Membro do grupo: Você íncomoda o grupo só por causa de um
cachorro?
Fredz Ele está sozinho.
Membro do grupo: Ele é mais importantc para você do que
nós?
Fred: Eu amo meu cão.

A maneüa de Fred expressar-se prcndeu a atenção do grupo. Foi a


primeüa vez que Fred deixou transpmecer uma emoçâo. Na d1'scus-
são que se seguiu, uma scnhora conlou a Frcd que ela e o marido
também tinham um cão que amavam muito. Disse que dctestou tcr dc
colocar 0 cachorro num canil enquanto viajavanL porque com certe-
za ele se sentiria 1'nte'liz. Estavm plancjando sa1r' no tim-de-scmana
- será que Fred não se imponmia dc tomar comu do cuchorro dclch
Ela dísse isto porque como Frcd amava os animais. podcria dar'-lhe
um atendimento mais pcssoal do que aquele quc clc rcccbcña no ca-
nil. Disse que ela e o marido ücmiam contemes cm pagar a Fred a
mesma coisa que pagariam ao caniL Fred espantou~se com a pro-
posta, mas depoís de algumas cutucadas dc cslímulo dccidiu accitar'.
Durame as conversaçoe's subseqücntes que o grupo n1anteve. h'c0u
claro que, pela primeüa vez em sua vida, Fred 1r'1'a rcccber d1'nheu'0
para tazer alguma coisa de que rcalmentc gostava.

A panir desse dia, aumentou a panicipação de Fred no grupo, e os


outros membros passaram a considerá~lo como sendo um dclcs. Na
úllima sessão íoi solicitado aos parlicipantes quc dessem sua
opinião a respeito da cada companheüa Um dos panicipunles
disse a Fredz “A pnm'exr*a vez que 0 vi. pensei que vocé tossc um
192 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

vagabundo. Mas agora vejo que é uma boa cn°atura. Você ama os
amma'is. Espero que um dia encontre alguém, talvez uma garota, a
quem aprenderá a amar.”

Fred deu ao grupo algumas palavras-chave. Pedlr'aJn-lhe que flz'esse


uma lista das atividades que fossem 51'gn1t"1'cativas para ele. Não foi
nenhuma surpresa saber que os amma'is eram importantes dentro das
atividades que ele escolheu. Fred optou por um item da lista de al-
temativasz decidiu ser voluntan"o numa clínica veterm'an"a. Como
pnm'eu'o passo para atm°g1r' sua meta, Fred pôs um anúncio no jomal
e encontrou um trabalho não remunerado numa loja de an1m'alz'1nh'os
de estimaça'o, que ele se propôs colocar em ordem. Voltou à escola,
formou~se e foi contratado por uma dessas lojas para cuidar de ani-
mais. Mais taIde ele encontrou trabalho numa clínica veterinar1"a e
recomeçou a estudar, na esperança de tomar-se eventualmente vete-
rinário. Nessa mesma época passou a sa1r' com uma namorada. Essa
mudança convertida num fehz° desenlace começou com um desagra-
dável incidente num grupo de terapia.

Em grupos dessa natureza, um m'cidente embaraçoso que seria aba~


fado numa reunião social, pode transformar-se no pnm'e¡r'o passo pa-
ra um entendun'ento verdade1r'o. Rohen Leslie relata que durante
uma sessão, uma Jovem chegou atrasada e, desculpando-se, disse
sentlr'-se enjoada por estax grávida. “O pior é que eu não queria en-
gravidar enquanto meu marido am'da está estudand0.”

Uma mulher que participava do grupo exaltou~sez “Que houve com


você?” gritou. “Como pôde ser tâo boba? Nunca ouviu falaI em
controle de natalidade?” '

Pa1r'ou no ar um silêncio constrangedor. Numa -reunia'o social alguém


teria uned'iatamente mudado de assunto. Mas essa não era uma reu-
nião social; era um grupo de compam'lhamento. O orientador "
(›'RUPOS Dlí COMPARTILI lAMENTO 193

perguntou ao grupoz “Como vocês se sentüam quando Sue (a mu-


lher que agrediu) falou com a Polly (a esposa grávída)?" Muitos dos
panicipantes expressaram raiva de Sue, pela maneüa conlundente
com que ela agrediu a companheu'a. O orientador permiliu que a
discussão se prolongasse por mais alguns momentos e então per-
guntou: “'Agora, como vocês acham que Sue está se semindo?"

Sue falou em voz alta, dizendo ao grupo como ela se sentiaz “Há
anos que desejo engravidar, e por alguma razão não consigo.”

De repente, o estado de espüito do grupo mud0u. Ao 1n'vés de lidar


com um ataque de raiva, eles perceberwn que tinham ouvido a an-
gústia de uma jovem sofredora - que se expressara de torma inade~
quada, infeliz, comudo reaL Os panicipantes aprenderam uma boa
lição desse simples incidente.

A Sessão de Abertura

Dentrov de um grupo, a confiança e as atitudes positivas compam'-


lhadas, precisam ser cultivadas desde o início. Os participantes scn-
tam em círculo, em cadeüas confortáveis ou sobre almotadas. Sen-
tem-se provavelmente um pouco ansiosos, mas o comporumentc
descontraído do orientador e certo bom humor ajudam muilo. Oa
participantes são solicitados a dizer algumas palavras sobre si mes-
mos, 0 que esperam ganhm com a experiência adqunr'ida no grupo e
comentm sobre algo positivo que esleja acontecendo atualmentc em
sua vida. O orientador participa desse exercício de apresentação as-
sim como de todas as atividades do grupo.

Esses momentos de aprescntação podem ser dmalizados e alegres


dependendo da situaça'o. O orientador e os participantes podem
" formar um c1'rculo, enquanto todos ainda estão de pé. O 0n'entador,
194 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

segurando um novelo de la', apresenta-se dizendo alguma coisa de


positivo a seu respeito e então - segurando a ponta do ño - aura' o
novelo através do c1r'culo, para um dos pam'c1'pantes.

A pessoa que agarrou 0 novelo repete o que o orientador acabou de


d12'er: “Você é Fred Jones, professor do ensmo secundarl"o e está fe-
liz porque acaba de se tomar pai.” Então ela se apresenta, comenta
algo de bom a seu respeito e, segurando a linha, joga o novelo para
outra pessoa do cu'culo. Esta seqüência se repete até que todos
tenham pam'cipado. O novelo de lã vai tícando menor, à medida
que os tios entrelaçados vão estabelecendo um vm”culo entre os
m'divíduos.

Cada pessoa repete o que seu antecessor disse. Esse “jogo” de-
monstra a m'terdependência que se torma entre eles e os motiva a
ouv1r'em com atenção o que foi dito.

A seguü a seqüência se revemL A últ1m'a pessoa que recebeu a bola


de la', devolve-a para aquela de quem recebeu, tentando lembraI-se
do que ela disse. Novamente o exercício é repetido por todos. A re-
de de tíos desaparece, o novelo fica maior, cada paxticipante apren-
deu alguma coisa sobre seus companhelr'os, todos se d1'vert1r'am e o
grupo relaxou.

Se os participantes parecem tímidos e nervosos, falam pouco ou na-


da (o que eles têm todo o d1r'eito de fazer) durante a apresentação, a
prnn'elr'a sessão pode começar de mane1r'a diferente2 cada pessoa de-
verá escolher um compahe1r'o (de preferência um desconhecido e não
um anu'go) com quem manterá um' dial'ogo por vm'te minutos.

Nos pn'rne¡r'os dez minutos “A” ouve “B”, e nos outros dez minutos
“B” ouve “A”. Depois todos se reúnem em c1r'culo e relatam o que
foi conversado entre as duplas. “A” relata o que “B” disse, e “B"
GRUPOS DE COMPARTILHAMENFO 195

deve intertem se alguma coisa não está correta ou se talta mgo a


acrescentar. Em seguida “B” comenta 0 que “A" disse, c “A” tam-
bém terá a oportunidade de com'g1r' ou adicionar alguma coisa. Isso
tomece m'tormações ao grupo, o que provavelmente eles não conse-
gum"am obter, se todos falassem diretamente ao grup0. Outra tm'ali-
dade desse exercício é aprender a escutar, o que é muito 1m'poname
nos trabalhos deste tipo.

Durante a pnm'61r'a sessão, os participantes permanecem num nível


superficial; contudo, a comunicação já se estabeleceu.

A Conduta nas Terapias de Grupo

As idéias que formam a base do processo logoterapêutico não devem


ser apresentadas ao grupo em tbrma de palestras. Ao comran"0, essas
idéias devem ser fomecidas gradat1'vamente. através de pequenas
ajudas, sempre que o momento se mostrar apropriad0. A informação
básica pode v1r' de livros que foram lidos pelos membros do grup0.
Todas as idéias, exercícios, jogos e técnicas que foram discutidos
nesta obra podem ser adaptaclas ao processo de terapia cm grupo.

ELABORANDO LISTAS

Pessoas que pamcípam de grupos podem conseguü 0 autodistancia-


mento. Quando um pmicipante panilha uma experiéncia com os
companheüos de grupo, ele se enxerga através dos olhos dos 0utros.
O exercício 1n'tr0dutório de elaborar listas pode tacüitar esse'
processo.

Pede-se aos pmicipantes que façam duas listasz uma com as coisas
que eles gostam em si mesmos, e outra com as' que não gostam. O
196 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGO'l'ERAPIA

autoconhecimento que resulta da elaboração dessas listas é reforçado


pelos comcmar'ios dos demais participantes. Mesmo aquelas pessoas
que pennanccem quietas durame as discussões têm probabilidades
de tomar consciência de alguns de seus aspectos imeriores.

"Ah.' É assun' que eu também me sm'to" d1r'ão elas, expressando sur-


presa ao perceber uma característica própria na resposta de um dos
membros do grup0. Ao ser discutida abertamente a lista de todos,
o leque de opções amplia~se. Alguém poderá dizerz “Nunca me ha-
via ocorrido essa possibilidade”, em reação a alguma observação
feila por um partic1'pante. Outra pessoa poderá dizerz “Então eu não
sou a u'm'ca criatura que vive adiando suas decisões”, aliviada ao
perceber com que treqüência os adimentos aparecem nas listas das
coisas que não gostamos em nós mesmos. Parlilhar os gostos e des-
gostos pode ser muilo confortantm

0 oriemador nào deve permim que as conversas dentro do grupo se


deteriorem num compz|rt11h'ar' de angústias. Isto não signitica que os
problemas devam ser uegligenciados, mas que se devc dar mais
atenção às soluções O bom humor é sempre de grande valia. Uma
senhora, após ouv1r' a longa lista de coisas que um dos membros não
gostava em si mesmo, citou um escritor de comédias. austríacoz
“Ninguém é totalmente inu'ul'. Sempre pode servü como um péssimo
cxemplo.”

O orientador lenta mantcr todo 0 grupo atuante. lsto requer sensibi-


lidade. Se a pessoa não se mahifesta porque é tírnida, deve ser enc0-
rajada ou dcixar que fique sossegada7 O orientador deve agir com
caulela antes de fonnar um Julgmenta Alguém do grupo fala de-
mais. Será quc esta pessoa deve ser refreada para que não tome
conta das discussões, ou cla está passando por um sérío problema e
seme nccessidade de scr ouvida?
0 SENTIDU NO CASAMENTO E A VIDA FAMILIAR 197

Em qualquer caso é desaconselhável dar excesso dc atcnção a de-


terminado participante. Este pode não senur'-se bem. e os outros. ne-
gligenciados. Quando um dos participantcs tcm um problcma muito
sério, é bom que marquc uma hora em pmicular com o orientador.
Ou o grupo como um todo pode ser díretamente incluido para va-
balhar na solução do problema.

LOGODRAMA

Uma das maneüas de envolver todo 0 grupo num problcma apre-


sentado por um dos participantes é pmü pma 0 logodrama. O logo~
drama dá ao indivíduo a oportunidade de rcprcsemm sua situação
problemática, tazendo o papel das diversas pessoas com as quais cle
está tendo contlitOS (cônjuge, pais, amigos, chete, etc.).

Quando 0 logodrama é adotado num grupo, não há necessidade de


uma cadeka valia. A própria pessoa que tcm o problema represcnta
a si própria e se toma o “d1r'et0r" do logodrdn'la, no qual os mem~
bros do grupo são o elenco, representando os diversos papéis - de
esposa. amante, fílha adolescente, sogra. O d1r'etor esboça a situação
e o problema, e dá instruções aos outros atores sobre os pcrsonagens
que eles 1r'ã0 1'nterpretar.

Se o comportamcnto de um dos atores não corrcsponde ao persona-


gem que ele está interpretand0, 0 díretor pára 0 espetáculo e dá no-
vas instruções. Os membros do grupo que não estào no “clenco" ti-
cam como observadores e podem participar como dublês. Se um dos
membros do grupo pensar em alguma coisa que um dos pcrsonagcns
poderia dizer, o rcserva se aproxima por trás da pessoa que esxá re~
tratando o personagem, coloca a mão em seu ombro e diz o que ele
acha que aqucla pessoa devcria dizer. A pcssoa que cslá represem
tan'do pode emão repetü a sugestão do dublê.
198 APLlCAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Por exemploz Jack está tendo um problema com seu irmão que vive
causando encrencas e depois, com muito jeit0, manobra a situação e
a culpa acaba recaindo sobre Jack

Jack (para a pessoa que está representando seu 1rma"0): Você.


mmm, não devia ter feíto isso. Mamãe ficou louca da vida
cornígo e, bem, eu não podia provar nada. Não foi culpa
minha, mas a mamãe ficou brava corm'go.
Membro do grupo (colocando-se auás de Jack, pondo a _mão
em seu ombro e gritando ao “1rma"0” de Jack): Seu
maldito mentlr'oso. Você vive me 1errdn'do!
Jack (gritando): Seu maldito mentlr'oso. Seu hipócrita. A vida
m'te¡r'a você vem me “terrando”!

Durame a discussão que se seguiu, o membro do grupo que repre~


sentou 0 dublê explicou que ele sentiu que o problema de Jack era
ele não conseguu' expressar sua raiva. Jack concordou. Se ele não
tivesse concordado, poderia ter dito que não aceitava as palavras
que o dublê usara. O logodrama ajuda as pessoas a enxergar que
elas não conseguem expressar amor, que usam máscaras para enco-
br1r' suas verdade1r'as personalidades (t›azend0 papel de palhaço, de
otan"o, de garota sexy, de macha'o). A dublagem pode abnr' as ponas
para novos insíghts.

Excmplo

Vema tr'equ"entava um grupo de compartilhamento com alunos do


curso secundan"o que haviam deixado a escola. Ela vivia com os pais
numa tazenda. participava ativamente do Clube 4 local e era uma
das primeüas alunas da classe. De repente sua mãe morreu num
acidente. Vema assumiu as tarefas da mãe na fazenda, além de
continuar seus estudos e suas atividades no clube. Pouco tempo da-
pois ela estava exausta. Largou a escola e deixou de freqüentar o
O SENTIDO NO CASAMENTO E A VlDA FAMILIAR 199

Clube 4. A tia de Vema - irmã de sua mãe - queria que cha fosse
morar com'ela na cidade. Vema e os membros do grupo enccnaram
um logodrama sobre essa situação.

“Tía”: Venha morar comigo. Você é jovem e tem que lcvar


a vida normal de uma mocinha de 17 anos. Mesmo que
você não me ame, será que não ama a si mesma?
Vema: Eu a amo. Mas papai precisa de mim. (Pa_ra a pcssoa
que interpreta o papel de pai de Vema): Eu gostaria de
ñcar na fazenda. Gostaria mesmo.
“Tia”: Você dlz' que está cansada demais para marcar um
encontro e até mesmo para 1r' ao cinema. O Clube 4 se
refere a quatro coisasz cabeça, coração, mãos e sau'de.
Você só está usando as mãos e arrum'ando sua sau'de.
“Pai": É por pouco tempo; someme até que eu lcnnine de pa-
gar mm'has dívidas.
Vema: Papai, estou cuidando da sua contabüidade; am'da esta-
remos em apuros por muito tempo.
Membro do grupo como dublê de cha: Papai, você é um
homem 1r'responsável e egoísta.
Vemaz (a0 dublê): Na'o, eu não diria isso.
Dublê: Bem, 0 que você diria então?
Vemaz Talvez ele devesse ser mais responsáveL mas ele não
é egoísta. Ele me ama e eu o amo.
Oriemadorz Diga isso ao seu pai.
Vema (dep0is de longa hesitação): Papai, quero ficar com
você. Eu o amo. Não me 1m'porto com o Lrabalho.
Mas... eu de fato sinto talta da escola, dos meus mi-
gos, de me divertü de vez cm quand0. Eu não quero
viver na cidade, mas tia Hilda tem rdz"ão... b0m, mcia
razão. Estou usando minha cabeça c mm'has mãos. Meu
coração está apenado e minha saúde não está bozL Às
vezes preciso tomar um comprimido estimulame para
ficar acordada para apromar o jantar.
200 APLICAÇÕES vRÁTICAs DA LOGOTERAMA

Dublêz Papai, você precisa dispensar-me de algumas responsa~


büidades. Eu quero trabalhar, mas também quero marcar
cncontros e 1r° ao cinema.
Vema: Papai, você precisa dispensar-me de algumas responsabüi-
dades. Temos que resolver este problema.

O problema não foi resolvido - não é esta a tunção do grupo de


compdrt'1'lhamento. Mas as portas toram abertas.

0 EFEITO FEEDBACK

Nos grupos de compam'lhamento, 0 eteito jeedback pode proporcio-


nm benetícios adicionais, quando usado com qualquer um dos exer-
cícios descritos neste livro, incluindo os logodrmas.

Quando os pacienles desenham os mapas de suas vidas, que apre-


semm mtos e ba1x'os. ponlos críticos, relacionamentos e ar'eas claras
c escuras, cles podem revezar-se, Íixando seus mapas na parede e
discutindo seus aspectos com os demais participantes. O jeedback
dos membros do grupo a respeito dos mapas da vida pode abrü no-
vos horizontes.

Uma mulher, que exercia uma atividade prof1'ssional', desenhou o


mapa de sua vida e foi pega de surpresa quando lhe perguntaramz
"Onde eslá sua tamília nesse quadro?” Outro membro do grupo fi-
cou animado ao ouvir este comentahoz “Fico contente ao ver que em
cada mancha preta e marrom você colocou um ponto verde - é como
se cnxergasse uma nova vidà brotando de cada situação sem espe-
runça." A um senhor, que sc lamentava sobre o caos em que sua vi-
da se encontrava. toi ditOL “Observe as linhas azuis em toda essa
mixórdia que você dcsenhou - elas têm o tonnato de uma estrela.”
Um outro senhor surpreendewse com esta análisez “Engraçado você
ter usado a mesma cor laranja para pintar seu divórcio - que disse
0 SliNHDO NO CASAMENTO L4 A VIDA FAMILIAR

ter sido a pior coisa que já lhe aconteccu - c ao Ler encomrado sua
Igreja - que você disse lcr sido a mclhor coisa que lhc aconlcceu.
Que existe de comum entre as duas?" Após alguns momentos de rc-
tlexão, ele respondeuz “Creio que am'bos me tizeram crcscer.”

O jogo °°com0 se” (ver Apêndice B) também pode comribuk com


uma dimensão suplementar através dojtwdbuck do grupo. Num gru-
po onde o ambiente é seguro e todas as pessoas contiáveis, uma jo-
vem sem atrativos pode comporlar'-se como a mulher sensual que ela
seme que é, e ouv1r' as reaçócs e as críticas construtivas dos seus
companheüos.

O feedback pode ser usado de muitas man'eiras. Um senhor acredita-


va que nada que ele dissesse valia a pena ser ouvid0. Pediram-lhc
que se sentasse no meio do c1r'culo e exigísse atcnção a cada palavra
que ele pronunciasse. Uma senhora toi educada na crençu dc que
auto-elogiar-se era uma atitude arrogante e indelicada. Pcdlr'am-lhe
que se sentasse no centro do cüculo e proclamassc em voz dl'td' todas
as suas boas qualidades, enquanto os pmicipantes adicionavam ou-
Lros aspectos positivos que eles acreditavm ainda exisnr'em dentro
dela. Uma das pessoas tomou nota de todas us qualidudes quc tormn
mencionadas. Essa senhora lcvou pwa casa a lista e retletiu a res-
peito do que toi comentado.

0 SIGNIFICADO AI'R'AVÉS D()S LJVROS

Robert Leslie e outros logoterapeutas utilizam livros nos grupos,


como guias para o significado. As leituras são usadas não pma dis-
Cussões intelectuais, mas como um Lrampolim pma imiglus indivi-
duais. A história de Jó pode conduzü a 1'nd.1'gações pcssouisz ”Dc
que maneu'a posso lidar com 0 solrimcnto que não mcrcço?" A his-
tória de José e seus 1r'mãos evoca a contcmplação sobre os proble_~
mas com um mn'ão. A História de Adâo e Eva pode lcvar'-nos a
202 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

retleur' sobre o que significa dizer “na'o” a uma autoridade, até


mesmo a Deus, e o que sigmf'ica enfrentar as consequ"ências.

Leslie, em seu livro Jesus as Counselor, 1 explora onze histórias das


Escn'turas, que podem serv1r' de base para discussões em grupo. Elas
m'cluem a hístória de Zaqueu, Lucas 19:1-10 (m0bü1z'ando o desa-
fiante poder); a para"b^la do jovem monarca rico, Marcos 10:17-22
(encontrando uma tareía pessoal na vida); e o conto do jovem para-
lílico, Marcos 2.'2-12 (solucionando conñitos de valores).

Leslie também faz uso da modema literatura para discum problemas


pessoais: O livro “0ur Town”, de Thomton Wll'der, para explorar
relacionmentos m'dividuais; Cor Purp'ura”, de Alice Walker, pa-
ra connmar que se consegue descobm' signüicados em c1r'cunstân~
cias absurdas, quando nos elevamos ac1m'a dessas cücunstâncias;
“Todos os Meus Filhos” e “A Morte do Caixe1r'o Viajante”, de
Arthur Müler, para retleumlos sobre nosso próprio relacionamento
entre paí e t'11h'0; ou “O Este do Edlen”, de John Stem'beck, para
penm't1r' que os panicipantes do grupo conversem a respeito de uma
escolha que tizeram, depois que esta escolha tom0u-se 1rr'eversível.

Grupos de Desreflexão

A Dra. Lukas “diploma” seus clientes de aconselhamento pessoal,


através dos grupos de desreñexão. Quando os antigos pacientes re-
tomam a sua estafante vida rotm'elr'a, as perspectivas positivas que
cada um desenvolveu nos grupos de aconselhamento precisam ser
tortalecidas.

0 grupo de desretlexão tem uma regra que o distingue dos outros


grupos de compartilhamento. nos quais a ênfase recai sobre os
problemas. Nos grupos de desreñexão, unicamente os aspectos

l
Jcsus como Consclhciro N.T.).
0 SENTIDO No CASAMENTO E A va FAMlLlAR 203

positivos da vida de cada pessoa podem ser discutidos. Se um dos


participantes m'siste em deter-se em pontos de vista ncgativos, o
grupo o adverte sobre a violação da regra básica da reunião. Se o
indivíduo pessimista tem um problema não resolvido, ele am'da deve
ser trabalhado, e o orientador providenciará para que tenha sessoe's
particulares.

A maioria das pessoas dá mais atenção às dificuldades sem un'por-


tan^cia do que às experiências agradáveis. Estão atentas às diticulda-
des e as notam quando estas aparecem Nos grupos de desretlexão, a
atenção é d1r1"gida para os m'cídentes positivos, mesmo para os maís
m'significantes - alguém que som'u para nós, o canto de um pássaro,
o encantador contomo de uma nuvem. Todos os panicipantes devem
manter um dian"o sobre experiências e encontros agradáveís, e lodas
as noites antes de donmr' reler os falos que anotaram No dia da reu-
nia'o, cada paciente 1r'á relatar três acontecun'emos positivos que vi-
venciaram ou 0bservaram, desde a últ1m'a sessa'0. O centro das aten-
ções está voltado para as afum'ações otimistas.

O grupo de desretlexão também utiliza assoc1'açoe's positivas (signi-


ficativas). Após um breve exercício de relaxamento, pede-se aos
participantes que se sentem em süêncio e com os olhos techados. O
orientador pronuncia, de tempos em tempos, palavras ou trases tais
como: “noite” ou “verã0” ou “brincando com crianças”. Pede-se
aos pacientes que, em silêncio, associem essas palavras com qual'-
quer coisa que lhes venha à mente. Estas associaçoe's são depois
comentadas no grupo.

A Dra. Lukas descobriu que o que um participante pode considerar


positivo e significativo, pode em prmcípio não parecê-lo a um ob~
servador de fora. Ela cita, como exemplo, a resposta de uma jovem à
frase “o último verão”. Essa mulher havia te'ito uma linda viagem
pela Grécia no verão anterion Porém, quando a tr“ase “u'llim0 verã0"
204 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

foi pronunciada, ela pensou num gato morto. Como explicação,


comou ao grupo a segumte históríaz

No verão passado ela havia 1ido uma briga, pelo teletone, com seu
namorado. Mais tarde ela resolveu 1r' à casa dele para censura'-lo se-
veramentc. Porém, durame o percurso, ela viu um gato morto na rua.
lsso 1ê-la pensar no quanto é cuna a vida, e ela se deu conta de quc
não queria perder mlomentos preciosos, brigando por m'vialidades.
Ao chegar à casa do namorado, seu estado de espírito era outr0. Em
vez de brigarem novamente e se separar, eles se reconciliaram Esse
Ioi o episódio que veio a sua mente, assun' que ouviu as palavras
“o u'lnm'o verão”.

Grupos de Meditação

Este tipo de grupo é também utüizado pela Dra. Lukas como


“diplomaça'o" da terapia m'dividual. E tem múltiplas aplicações. O
grupo de meditação Iança mão de histórias e de parábolas que esti-
mulam as discussões meditativas. Essas podem ser t1r'adas da Iitera-
tura logoterapêutica. da literatura universaL das Escrituras Sagradas,
dos contos de fada ou da mitología. Frankl recorre a muitas metáfo-
ras e comparações quc se prestam a esse tipo de exercício de medi-
tação (algumas delas já foram mencionadas neste livr0).

. O calendário de parede, do qual você arranca uma folha cada dia,


está descrito no Capítulo Sete. Pode-se observar, tristememe, que
cada dia que passa restam menos tolhas e menos dias. Ou se
pode observar', alegremenlc, que a pilha crescente de folhas
arrancadas representam eventos que se vivenciou e que ninguém
pode ura"~los de nós.
. A cn'ança que sotre a dor de uma mjeção não pode compreender
que essa injeçãO 1r'a' 1'mped1r' quc ela comraia uma doença.
O SENTIDO NO CASAMENYO li A \'IDA l”^/\Mll.l.›\R

. As qualidades únicas de um avião só são conhecidas depois quc


o avião decolou - assim como os atributos espccilicamcme
humanos só são evidenciados dcpois que a pcssoa “dccolou”
para dentro da dimensão do espírito.
. A Bíblia contém m'u'meras histórias quc se prestam a discussoc's
meditativas - desde a luta de Jacó com o anjo. alé a pmábola do
Filho Pródig0.
. A literatura secular é mm cm hislórias apropriadas - quc vão
desde a busca de Fauslo por um sígnificado, alé a busca de
Hamlet por justiça, e a busca dc Dom Quixotc por amor.
. Todos os contos de fadas e lcndas mitológica5, desdc “O Patinho
Feío" até “Safo" podem servu' de tema para os grupos de
meditação.

Concluindo os Exercícios

Todos os grupos de compartühamcnto devcm lcrminar num clima dc


oum'ism0 e esperança, de modo quc os panicipames. ao relornmem
tortalecidos a sua vida diária, continuarão a pensm em sua busca por
um semido. A autoconliança toi relorçada. Na últmla sessão do
grupo, os membros podem panicipar dc um cxercício quc entatiza
os aspectos positivos da cxperiênciu compmilhada na busca do
sigm'ficado.

Em um exercício, o grupo sema em Círculo e cada membro diz algo


sobre os outros companheüosu Dcpois de havercm passudo tunto
tempo juntos, é praticamemc desnecessax'i0 salienmr que os comcn-
tar'ios devem ser agradáveis. Algumas críticas podem ser úteis dcsde
que, quando transmitidas, mdiquem claramenle que 0 Julgamento toi
construtivo.
206 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Num outro exercício, cada membro do grupo recebe uma quantidade


de tüas de papel que correspondem ao número de participantes. To-
dos deverão escrcver alguma coisa positiva sobre cada companhelr'0.
As tu'as são dobradas, ficando do lado de fora o nome do destm'atá-
n'o. 0 orientador recolhe os papéis e os distribui às pessoas a quem
foram endereçados. Cada um dos participantes recebe uma coleção
de af1r'mações positivas que 1r'ão guardar.

Quando a últ1m'a sessão termína, o,s membros do grupo ficam de pé,


formam um círculo, e passando os braços em volta dos ombros dos
companhelr'os, têm a últ1ma' oponunidade, como grupo, de expressar
seus senüm'entos - sobre o que aprenderam e o que estão levando
consigo para casa. Nos grupos de companilhamento que são bem
sucedidos, geralmente as anúzades que se estabeleceram contmuam
depois que o grupo tenmn'a.
APENDICE A

ENCONTRANDO O
TODOS 0 S

O grupo de compartilhamento equipa seus membros com lerramenlas


que reestruturam suas vidas da maneu'a que íor mais signüicativa
para eles, a f1m' de que seus componamentos dian"os se aproxm'1em
cada vez mais da expressão de seus valores. O plano para oíto ses-
sões de um grupo de compartilhamento destaca estes tópicosz

Introdução à Logoterapia
. Nossa Hierarquia de Valores 4
O Tratamento das Tensões
As Mudanças Signiücativas na Vida D1'dn"'a
Como Lidar com as Crises
Como _Lidar com a Falta de Signiticado
. Como Lidar com a Depressao~
. Que Você Aprendeu para pôr em Prática na Vida Dian"a?
wxlçnshabmw r

Uma das considerações fundamentais da logoterapia é a de que. nas


profundezas do nosso m'consciente espm"tual, sabemos que tipo
de pessoa nós somos e 0 que poderemos v1r' a ser; em que d1r'eção

Adaptado do artido de John M. Quick, Vancouvcn Bñlish Columb1'u, publicado no le


Imernational Forumfor L(›gorhempy, 2 (2), l979.
208 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

queremos ir; e qual o comportamento que é mais signnicativo pma


no's. 0 quc sobrepomos a esse conhecímento m'ato é o eu que proje-
tamos para assegurar nossa autopreservação e aceitação. Sempre que
CSSCS dois "eus”' se chocam, perdemos a sensação de harmonia.

Quando desejamos efetuar mudanças visando ao signiticado, prova-


velmente talaremos em termos gerais - sobre querer ser “mais
prudente” ou "mais positiv0" ou “não estax sempre adiando pro-
blemas a resolver". Bssas são metas, e é importantc ter metas. En-
Lretanto, as mudanças só ocorrerão quando dermos passos reais em
d1r'eção a essas melas.

Se deseJamos ser mais Carinhosos, devemos nos perguntarz “Durante


a semana quc passou, o que eu Iiz para expressar meu carinho? Será
que eu não podia ter teilo mais?” Ou: “Durante a semana que
passou, quais as atitudcs que cu assumi e que não expressarm meu
carinh0, e o que eu poderia ter te'ito para evitm ldl' tipo de
componamento'?“

Exemploz A sra. B., uma mulher límida que estava tendo problemas
em seu casamento, disse quc gostaría de ser mais amorosa, melhor
esposa e melhor mãe. Embora ela ficasse repisando todas cssas af1r'-
maçôes, na verdade não estava interessada em fazer mudanças reais.
Quando lhe pedi que fosse mais específica, ela disse que gostaria de
ser mais compreensiva com seu maúdo e sentir-se mais próxun'a das
cn'anças. Como ainda não estava sendo bastante específica, eu lhe
pergumeiz "Que a senhora fez durante 0 u'ltm'10 mês, que dcmonstra
que a senhora nâo é o tipo de esposa que quer ser, nem a mãe que
quer ser e. o mais importante de tudo, nem o tipo de pessoa que quer
ser?"

Sugeri à sru. B que escrevesse em seu diar'io todas as semanas e mi-


ciasse cada página com a lrasez "Eu não tui compreensiva esta
líNCUlNVTRMVDU o 510NH:1CAD(› TODOS os DlAb 209

semana quando...” e incluísse alguns exemplos espccíticos. Na nos-


sa quarta reunião do grup0. a sra. B dissc quc havia ajunlado uma
lista de atitudes quc cla podcria nmlhomr', tendo em visla 0 signiti-
cado quc ela conscguiu obscrv4r'.

Por exemploz seu marido gcralmentc chegava em cusa à uma hora da


madrugadzL Ele cra arquitcto c lazíu muitos projclos à noite. Assim
que Chegava, ia à Cozinha pegar 0 sanduíchc que ela havia prepam-
do e deixado na geladeu'a. Dcpois ele enlrava no quarto. ligava a
televisão e Iicava ussistindo a algum progruma por uns quinze mi-
nuvtos antes de ir para a cama. A sra. B disse que isto “u Íazia subk
pelas par'edes.”

0 grupo deu lratos à bola pma buscm uma soluçào quc quebrasse
esse ritual nolumo. Todas as mulhcrcs deram sugcstões sobre o quc
tariam se estivessem na mesma situaçãa

“Se ele tosse meu marid0". dissc uma delas, "eu lcvantuúa da Ca-
ma, senlaria ao lado dele para assistü à telcvisão até que elc sc seu-
tisse suticientememe relaxado pma dcitar-sc".

A sra. B achou quc esta ulividadc não tinha muilo senlido, mas m-
solveu tentar durantc lrês vezcs. Quando ela retomou ao grupo na
semana seguinle. era uma mulher completamemc modilicada. Ela
havia leito o quc uma das participantcs sugcriu. E como mãc. fez
ainda mais - três vezc-s, na úllima scmanzL cla abraçma loncmcnte
seus dois tilhos, ames de eles 1r'em à escola. Ela havia. agora. expe~
rimentado dois padrões de comportamento dilerentcs. “L"u realmente
me semi carinhosa na última semana". disse ela. A mudança quc se
operou em seu semblanle cra de tato evidente.

Esses fatos toram de pequena 1'mportânc1'a, mas tiveram valor para


a sra. B porque permil1'ram-lhe perceber quc ela cra capaz de scr
210 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

“mais can"nhosa”. A pamr' dessa momemo, ela pôde estruturar sua


vida com base em comportamentos díterentes, os quais possibilila-
ram~lhe alcançar relacionamentos mais significativos. Esse processo
não podia ter-se m'iciado com tatores generalizados. Se a sra. B ti-
vcsse começado a refletü sobre o que seria uma rclação signüíbativa
cntre marido e mulher, teria chegado a conclusões vagas como:
“Nós dois deveríamos passar mais tempo juntos" ou “que devería-
mos ser. um para 0 outro, a pessoa mais 1m'poname do mundo”. E
ela teria comparado esses ideais com sua própria situação m'feliz.
Esse fato a conduzm"a a sentlm'entos ainda mais 1m'próprios e à ina-
b11'idade de atuar concretamente nas mudanças da sua vida.

A atenção dedicada a cücunstâncias específicas é dada durante as


oito sessoe's.

Primeira Sessãoz Introdução à Logoterapia

Depois da m'troduça'o, o orientador comunica ao grupo o que eles


1r'a'0 tazer Jumos. No quadro-negro há uma relação dos tópicos que
serão discutidos durante as oito semanas. O grupo logo se apresenta,
mas ames o orientador quer saber como cada um está se sentmÀdQ O
orienlador pede aos membros do grupo que taçam uma avaliação so-
bre si mesmos, numa escala de l a 5 (sendo que 5 signüica sentlr'-se
muito bem, e l signüica senür'-sc depnrru"do) e m'diquem em que di-
reção estão carmn'hando.

lsto é teito no começo de cada sessa'o; os participantes declaram co-


mo esLão se sentmdo e em que d1r'eção estão m'do. Por exemplo, al-
guém díz: “Est0u no 3 e mantendo-me” ou “Est0u no 2 e subindo”
ou “Est0u no 5 e bem lá em cinm; tenho que me cuidar para que de
repente, numa descida, eu não caia num precipício." Um indivíduo
com depressão talvez não queka dizer mais do quez “Estou no l e
pendurado nele.”
ENCONTRANDO 0 SIGNIFICADO TODOS l)\.' UIAN 211

Essas auto-avaliações permitem que o orientador adapte cada scssão


de acordo com as necessídades do grup0. Se a maioria dos membros
estão entre l e 2, provavelmente o orientador 1r'á se concemrar nos
problemas que os estão atligindo no momcnto. Quando a maior parte
está no 5 ou perto dele, o orientador pode dar um cunho mais m'tc-
lectual e talar sobre a logoterapia - quando as pcssoas esláo se sen-
tm'do bem, é mais fácil que entendam e aceitem os pn'ncípios da lo-
goterapia, e os apliquem às suas próprias situaço'es.

Os primeüos vinte minutos de cada sessão podem ser sobre a discus-


são dos conceitos básicos da logoterap1'a, salientando as três dLn'1en-
sões - a somática (tísica), a psicológica c a noética (espiritual). É
também importante que os participantcs compreendam o conceito da
d1m'ensão noética e qual é a ar'ea do eu essenciaL Nós lemos um cor-
po e uma mente, porém nós somos nosso noõs (esp1'r1'to). É lambém
1m'p0nante realçar que o espm"t0 humano não está reservado a pes-
soas com tendências religiosas, mas que é uma dm'1ensão humana
merente a todas as pessoas. Não se pode compreender o ser humano
em sua totalidade a menos que o observcmos em seu conjunlo tridi-
mensionaL

O pnm'elr'o exercício que o oriemador dá ao grupo, já ajuda os pdrt'i-


cipantes a distinguü as três d1m'ensões. Eles são solicilados a mla-
cionar, em seus cademos, os momentos em que se sentkamm sat1'ste'i-
tos, e indicar se o significado dessa satisfação originou-se na dimen-
são somática, psíquica ou noética. Escrevem ahmações tais quaisz

Mmh'a vida tem significado quando pratico exercícios (somán'co)


Mm'ha vida tem significado quando recebo clogios (psicológico)
Mm'ha vida tem sigmf'icado quando estou com meus nctos (noélwo')
Mm°ha vida tem signiticado quando Lrabalho com ceram^1ba(noeüc"o)
Mm'ha vida tem significado quando jogo bridge (psicológico)
Minha vida tem signüicado quando taço uma reteição goslosa
(somático)
212 APleçóLs PRÁTICAS l)A LOGOIERAPIA

Minha vida tem signiticado quando estou com meus amigos(noeuço")

Esse exercício força o indivíduo a pensar sobre as diferenças entre


as dimensóes, e a aprender a dislingui-las. É imponame que as pes-
soas conheçam a on'gem de seus prazeres. Ter uma relação amorosa.
por exemplo. pode ser significativa nas três dimenso'es. As pessoas
têm cena díficuldadc em perceber a difercnça entre a dimensão
psicológica e a noélica. Eis aqui um guia quc ajuda a notar essa
dislinçào:

Psicológica Noética

Fazemos as coisas porque Somos nós que conduzimos;


somos conduzidos. tomamos decisões, assumimos
responsabilidades e aceitamos
compromissos.

Respondemos a uma “neces- Expressamos uma escolha


sidad6". pe ssoaL

Motivação é prazer, poder, Molivação é signilicado.


prestígio.

Atuamos pela auto-realização. Atuamos pela autotranscen-


dência; agimos pelo bem de
alguém ou de alguma coisa.

Após csse exerc1'01'o. é a hora dos membros do grupo fazerem uma


breve apresentação de si me<m05. Até então. eles estavam pensando
em termos gcrais sobre 0 quc é significativo em suas vidas. 0 resto
dcssu sessào é ocupado com fatos mais cspecífícos. Os membros do
grupo devcm anotm em seus cadcmos as respostas às seguintes
qucstóesz
IÍXCON l'R¡\NUO () SKiNIHCADU 'l'()D()S OS l)lx\\ 213

. Que acomeceu na semana passada quc tomou minha vida signili-


cativa em cada uma das três ar"eas?
. Que aconteceu na semana passada em que mjnha vida não tcvc
sentido em nenhuma das três ar'cas'!

Os participantcs Íormam pequcnos grupos dc Lrês ou qualro pessoas.


Cada um desses grupos discutc as atinmçócs que os indivíduos de-
sejam compartilhar. Notaz Os logogrupos luncionam com uma rcgru
geral - cada paciente pode. a qualqucr momentO, recusapsc a revc-
lar intoxmagões ou a rcspondcr perguntas: entrctanto. as resposlus
dadas e as inloxmações companilhadas devcm scr us muis honcstas
possíveL

Liçao' de Casa'

Como um trabalho para a segunda sessão, pcde-se aos participames


que preparem uma lição de casa:

l. Desenhe um mapa de sua vida. dcsdc o começo ató 0


presente, com seus altos e baixos c scus evcmos pr1'ncipuis.
Projete esse mapa para o 1utur0. Não sc prelcndc ncm é
necessário que vocé possua habilidade místicau Não sc
pleocupe em desenhm bcm.' permita quc as lormas. 1igurus.
símbolos e corcs, cmcrjw1 do scu incomcicmc noétiw.
Não planeje antec1'padamente. Dcixe as coisus acontcccran
Use uma IOIha grandc de papeL lápis dc cor ou crciom.
2. Responda a estas Lrês pcrgumasz

Ouem eu penso que sou'?


Quem minha tamñia quer quc eu sejaV
Quem eu quero serY
214 APLICAÇÓILS 1›R.›\"I'ICA5 DA LOGQTERAPIA

Segunda Sessão: Nossa Hierarquia de Valores

Os membros trazem à sessão os mapas que fizeram como lição de


casa. Novmente os panicipantes formam pequenos grupos de três
ou quatro pessoas, e discutem os mapas. O exercício de desenhar os
mapas, e as discussões em grupo, auxiliam os indivíduos a tomar
consciência de onde eles vêm, das intluências que atuam sobre a
hierarquia de seus valores e do signiticado de episódios que ocorre~
ram no passado e que agora eles podem ver através de uma nova
perspecl1'va.

0 signüicado de um evenlo que outrora pareceu signüicativo pode


haver mudado ou desaparecido Ou um evento que não parecia sig-
nüicativo quando ocorreu pode agora, num exame retrospectivo, pa-
recer relevante. Os participantes são encorajados a continuar acres-
centando dados aos seus desenhos, tanto nesta sessão como nas sub-
seqüentes, à medida em que novos pensamentos vão surgindo. São
também aconselhados a prestar atenção às cores, símbolos e a outros
meios que utilizam, conforme vão-se conscientizando das mensagens
enviadas pelo inconscíente.

Uma mulher desenhou sua formatura na 1a'culdade (que ela assinalou


como um evento teliz), com a mesma cor que ela usou para o seu di-
vórcio que veio a seguu' (que a mergulhou em terrível Lristeza). Ho-
je, decorridos oito anos, ao observar esse fato, ela percebeu que seu
mconsciente noético reconheccu no significado do seu divórcio, um
elo comum com o 51'gn1f'icado de sua to'xmatura - uma maturidade
tendo em vista a m'dependência.

Depois que os membros do grupo d1'scut1r'am os traçados de seus


mapas, eles são solicitados a escrever em seus cademos as segumtes
questões, e a respondê-las:
l:I\'('()Nl'RANI)()05K¡NH'1C.›\[)OTODOS US DIAS 215

Quais os valores que aprcndi com a núnha tan'u'lia?


. lndique três aspectos em que sou parecido com mcu paí.
lndique três aspectos em que sou parecido com minha mãc.
Indique Lrês aspectos em que sou ditercnle dc mcu p.u".
lndique três aspectos em que sou dítemntc dc minha mãe.
. lndique Lrês atitudes em que na semana pussadu cu agi como mcu
pa1'.
. lndique Lrês atitudcs cm que na semana passada eu agi como
minha mãe.
. lndique três atitudcs em que na scmana passada agi dc modo
ditereme de meu pai.
. lndíque três atitudes em que na scmana passada agi dc modo
difereme de minha mãe.

Agora o orientador faz um breve relato sobre a dislinção que Frmkl


iaz entre os signilicados e os valores, pma orientar nosso comporla-
mento diar'io. Apoiar esse relato é o princípio básico da logoterapíaz
que a vida nos oierece senltidos em cadu momcnto e em cada situa-
ção. Reconhecer o “sentido do momcnlo", e a ele responder, equi-
vale a levar uma Vida sign1'ticativa. 0 indivíduo que assume essa
responsabilidade “resposta-habilidade" às demandas do momento.
em geral precísa fazcr cscolhas diííceis.

Neste ato de escolher somos ajudados por nossos valores - pclos


quais muitas gerações enconumam senlido em situaçcks sm'1ilan.'*s.
no passado. Quando confiamos nos valorcs dos demais, poupamos
nossa busca pessoal pelo signiticud0. Mas os comlitos podem surg1r'.
quando uma situação evoca valorcs conflilames.

Como exercício, pede-se ao grupo que escreva exemplos de comu-


tos de valores que tenham expen'enciado, e que exemplitiquem si-
tuações em que tiveram quc contrariar 05 valores recomcndáveis.
Durante esta segunda sessão, o orientador estimula os panicipantes
216 APLIÇAÇOLS |'RÁTICAS DA LOGOPERAPIA

a descobnr', observando os Lraçados de seus mapas, de onde vieram


seus valores, qual a torça que esses valores contêm. e que mudanças
goswidm de realizan Os panicipantcs são Iambém estímulados a de-
senvolvcr c relacionm suas próprias hiermquias de valores. O
oriemador podc pedu' aos membros do grupo que expressem valores
que consideram importantes. Estes serão anotados no quadr0-negr0 e
poderão ser usados pelos demais, enquanto estiverem elaborando
suas próprias listas.

Lição de Casa

Esboce uma mistura de suas atividades diar'ias que demonstre quanto


tempo você gasta em média, por dia. nessas atividades.

Escreva duas at1rm'ações:

. O melhor dia da semana é...


. 0 pior dia da semana é...

Use a Escala de Avaliação no Reajustamento Social (no Apêndice


H) para aval'iar seu estado alual de tensão. E complete os testes
ODV e AMN (Apêndice F e ü respectivameme). LO oriemador t1r'ou
cópias desse material e distribuiu-as aos membros do grupo.J

Terceira Sessã0: Controlando a Tensão

Os panicipantes devem reavaliar os traçados de seus mapas e acres-


centar mais intormações. se desejarem Onde estariam os pomos com
e sem signiticado? Onde estarim os pontos críticos? É comum
aparecerem pontos críticos em períodos de estrcsse. O grupo então
discute esses pontos.
¡«r~'('oNrR›.\r~'noUsmmrlmno Ionosos mAs 217

A teoria dc Franld sobre o cstresse. quc taz distingão cntre 0 cslrcs-


se provocado por tensõcs físicas ou psicológicus. c o cstrcsse noéti~
c0. é agora cxposta pclo oricntador. A lcnsão advinda dc lalorcs lí-
sicos ou psicológicos é prejudicial c dcve scr supcrada uu reajusta~
da. O estrcsse noético ocasiona uma lcnsão salutm que laz panc do
crcscimenlo e da busca do signiíicudo. Não prccisu scr muada ncm
amainada. Frankl detine o estrcssc noélico como a lcnsão cmrc 0
que nós somos e o que quercmos VLr' a ser - nossa cxpunsão rumo
àquilo °°para o que tomos destinados a ser".

Os membrus do grupo obscrvam u Escalu dc Avaliução no Rcajus-


Iamento SociaL que medc as lensócs íkicus c psicolo'gicas. E im~
ponante nolar que as lcnsóes caumdas por acomecimcnlos telize.s
produzem tanto estrcssc como as causadas por awomceimcntm inle~
lizes. O estresse ocorrido na época do casamcnlo é apcnas 15 ponlos
mais baixo do que o que ocorre no momcnto da scpar'aç.1"o. Mudan-
ças aparentemente neutras - numa posiçào cconómica, por cxcmplo
- provocam estresse, quer a mudança seja para melhor ou para pior.

Os participantes são encorajados a precncher a Escala de Avaliação


no Reajustamento SociaL pelo menos uma vez por mês duruulc um
an0. Alguns estrcsscs podem ser conlroladosn Tomar consciência
deles pode ajudar-nos a evitar tcnsõcs dcsneccssáriasn É dcszwonsc-
lháveL digamos, depois de uma mortc na fwnliau pedk divórcio uu
mudar de casa ou de emprcgo. () mclhor para todos nós é cvitzu Cs-
tresses que totalizem mais que 150 pontos na cscala. Sc prcenchcr-
mos a escala todos os meses, conseguimos pcrceber quundo cslwnos
atravessando um período de tensócs que cslão se ucunullando, c pla-
nejar quais podem ser adiadas c quando.

Para detenninm a tensão na dimensão noética, a Compmagão cmre


218 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

os testes ODV (Objetivos de Vida) e AMN (Aspu'an'do a Metas


Noéticas) dá bons resultados. *

O teste ODV mede em que grau você encontrou sentido e objetivo


em sua vida. O teste AMN mede a torça da sua motivação para bus-
car sentido. Estes dois lestes também deverão ser revistos uma vez
por mês durante um an0.

O uso combinado de ambos os testes revela a tensão enlre a orienta-


ção que imprim1m'os à busca pelo significado (ODV) c a força de
nossa motivação para encontrá-lo (AMN). Aqueles que alcançam um
escore baixo no ODV e allo no AMN podem beneficiar-se da logo-
terapia, porque eles cmeccm de significado e serão motivados a ob-
tê~lo. Os que conseguem um escore baixo no AMN precisam ser
motivados a usar a vontade, no anseio por um sentido.

Novamente em grupos de três ou quatr0, os panicipantes discutem


de que forma eles poderão reduz1r' seu atual estresse físico ou psi›
cológico, ou pelo menos tomá-lo mais comroláveL e como poderão
manter a molivação pma continuax usutru*1'ndo do saudável estresse
pela busca do signiticada Para tanlo, deverão anotar em seus cader-
nos, exemplos de experiências que ocorreram na última scmana,
quando se senur'am motivados a:

tuer uma escolha signiücativa


tomar uma decisão com responsabüidade
assumk uma tareta de própúa escolha
responder às demandas do momento
tazer algo por alguém ou por alguma causa

Esacs lcsles furum cluborudos pclo logolcrnpcum Jamcs C. Crumbaugh e podcm scr
oblídoa no lnstitulo dc Logotcmpia, P.O. Box 2852, Saraloga. Califómia 95070 -
USA (0 teslc com munual por USIS4.0(); 25 cópias dn tcstc scm manuaL US$4.75.)
L5NCONTRAND0 0 SIUNIFICADO TODOS OS l)l¡\S 219

Uçao'chasa

Descreva cínco componamemos que são signilicaüvos para


você.
Descreva cínco comportamentos que não são imponantes para
você.
Descreva dez coisas que você prccisa tazcr no próxmo mês.
Descreva dez coisas que você quer fazer no próximo més.
Revise sua pilha de ativídades diárias, se necessári0.

Ouarta Sessão: Mudanças Significativas


nas Atividades Diárias

Agora os membros do grupo estão prontos para talm sobre as mu-


danças práticas e signüicativas dc suas atitudes nas aúvidadcs diá-
rias, já bem distante das teorias. No início desta scssão, 0 on'entador
pede aos panicipantes que escrevwn suas mctas a longo pmzo. para
os próx1m'os cm'co anos. São reservados para essc exerc1'cío, mais ou
menos vinte minutos.

Então cada membro reúne um pacole dc papéis que contém suus


mais recentes lições de casa - as cínco atitudes mais signüic.1'u'vas,
as cínco menos significativas, as dez coísas que elc deve tazer no
próxxm'0 mês e as dcz coisas que ele quer tucr no próximo mês. Ca-
da pessoa acrescenta uma lista dc metas a longo prazo. Dcpois colo-
cam uma mar'ca no pacote e jogam-no um cest0.

O passo segumte é pedir que cada participantc apanhe um dcsses


pacotes do cesto. Cada um deles lerá a estrutura completa dos cam-
portamentos diários de oqua pessoaz uma detenninação dc metas. o
que é e o que não é significativ0. uma lista de coisas que prccisam
ser feitas e de coisas que desejmn fazer. e as atividades dian"as.
220 APLICAÇÓES PR¡\"TICAS D¡\ L()C()›l'-LNR¡\P1A

Após todos terem lido o material' do pacole que ret1r'aram do cesto, é


solícitudo a cada um que atue como “consult0r" - estabelecendo um
plano de como 0 “cliente” desconhecido deveria estrulurar sua vida
pma o próx1m'o mês, ou mesmo para os próximos seis meses, para
conseguu' atmgir suas metas.

Esse cxcrcício é útil tanto para o consultor como para o cliente. Ao


mantcr distância dos problemas, os consultores têm condições de ver
as mudanças práticas que podem ser sugeridas - mudanças que eles
não seriam capazes dc propor a si mesmos ou a alguém de seu rela-
cionament0. E os clientes ouvem sugestóes para escolhas de com-
portamentos d1'ar1"os que, talvez sozinhos, não lhes teriam 0corrido.
Durame esse exercício, tica claro para todos que as escolhas e mu-
danças são meras sugestões, e que depende do cliente decid1r' quais
as propostas que resolvem aceitar e ag1r' de acordo. Armadilhas rom-
peram-se, portas abriram-se e novas opçóes despontam

Em seguida. cada participante - pela característica da mdr'ca coloca-


da no pacote que ret1r'ou do cesto - tenta reconhecer a pessoa a
quem o pacote penence, a pessoa cujo matenal ele leu e para quem
elc cscreveu uma sugestão de como estruturm uma nova vida. Com
treqüência os consultores se sentem surpresos, até amedrontados, ao
descobm a vida de quem eles reestruturaram

Durante minha primeüa panicipação nessa sessão. uma jovem tímida


selecionou o meu materiaL Era evideme que se eu lhe houvesse pe-
dido d1r'etamente que me desse sugestões pma a minha vida, ela se
senmia constrang1'da. No entan't0, eu considerei extremamente úlil o
que ela me propôs. E ao perceber como haviam sido proveitosas
suas sugestões, sua auto-1magem moditicou-se, causando~lhe
grande benetíci0.

O consultor e os Clientes dicutem as mudanças de compoxtamento


L5¡\'('()1\'TR/\Nl)() 0 SIUNIHCADU TODOS OS l)l/\S 221

sugeridas. Os clicntes decidem quais das sugcslões são passívcis dc


serem praticadas e os ajustes que podem ser 1'mr0duzidos. Dcpois Os
clientes escrevem suas versões a respeilo de sua nova atitude signi-
Iicativa - pma 0 próximo mês e para 0 próximo ano. Lxcvum cntão
pdr'a casa sua vcrsão bascada na proposta do consullon e usam-nu
como fundamento para avaliar quào perto elcs chcgar'.1n1 dc tomm
consciência de seus próprios propósitos. Os membros do grupo sào
encorajados a escrcvcr em seus cadcmos ou diar"ios. digmws uma
vez por mês, um enunciado que comece assimz “Eslou muis pcrto
das minhas metas porque..." A pr1'mc1ra' dessas rewaliaçócs podc scr
feita antes do término das oito semanas dc rcuniã0.

É naturalmente aconselháveL mamcr nossa cslrutura ílcxíveL c rcvi~


sá-la em tennos práticos e não apenas Iilosófic05. conslantemenle. É
imponante que essas estruturas sejam nossas. buseadus em nossa
crença de significados, valores e prioridadesx Necessitamos de uma
estmtura maleável pois, cmbora nossos valores pcnnancçam ubsolu-
tamente estáveis. nossas prioridadcs podcm var1'dr'. assim como us
Cücunstâncias podem variw e o sentido do momento - por dcíiniçào
- é também submctido a variações constantcs. É prudenlc não es-
quecer a êntase que Frankl coloca no "dcsatiantc poder do espírí-
t0”, que nos capacita assumir uma postura de rejeição. mcsmo diunlc
de valores amplamente aceitos e de vulores nos quais há muito tem-
po vínhamos acreditando. Assumü uma posição contmr'ia uos valo-
res adotados, só deve ser te'ita em novas c excepcionais c1r'cunstân-
cias, e jamais lev1'anamente.

Liçao' dc Casa

Escreva sobre sua crença - suas convicções básicas a respcito do


signitícado da vida. Dcscreva~a como uma soma de alimmçóes que
começm comz “A vida é mais signiticativa quando..."
222 .›\PLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Quinta Sessãoz Como Lidar Com As Situações Críticas

Os traumas e as situaçõcs críticas, em geral são conseqüências de


contlítos cntrez

. a maneüa que nós gostañamos de ser, e o modo como nos


comportmos d1'dn"amente.
. nossas metas pma longo prazo, assun' como nossas neces-
sidades cotidianas (físicas e psicológicas), e nossas rea-
ções ao significado do momento (noéticas).
. nossos próprios m'teresses. e nosso desejo de ajudar as
pessoas por quem nos preocupamos.

Pede~se aos panicipantes que anotem Lrês exemplos de cada um des-


ses três conflitos. Aquí estão anuns:

Gostaria de tazer trabalhos manuais, mas gasto todo o


meu tempo limpando a casa e tomando conta da tamília
. Sou mesquinho, mas gost4r1"a de comportapme como um santo.
Quero ser um bom marido. mas de vez em quando preciso dar
umas escapadas.
. Goslaria de passar mms tempo com mínha ma'e, mas
tenho mmh'as própúas ocupaço'es.

Esses conflitos podem pelo menos ser m1n'mu"zados quando:

. pcrcebemos melhor nossas metas e ambições reais, admi-


tindo~as a nós mesmus, mesmo que elas não sejam
socialmente aceitas.
. Começamos a adquirü transformações m'teriores que nos penm'-
tam atingir nossas metas a longo prazo.
. Sentimos cmpatia por outra pessoa.
L~NCONTRANDO 0 SIUNIHCADU TODOb us DIAS 223

De novo os panícipantes se reúncm em pequenos grupos. Utihzam o


assunto sobre o qual escreveram nas sessóes antcúorcs cr db" liç0e's dc
casa, como tema para discutüem as mudanças que scr1'dn'1capazcs de
realizan nos moldes descritos nas trés proposiçõcs ac¡m'a citadas.
Pegam uma situação connitante que os prcocupa no momento, e
tentam ver de que modo poderiam amenizm o contlit0, baseando~sc
numa das três perspectivas. Ouvem o_/e'edba<:k de scus companhei-
ros e o anadisam para ver se podem aperfeiçom um padrão de
comportamento que se adapte ao scu caso. Os membros do grupo
não devem dar conselhos. E as sugestõcs serão dadas dc maneu'a
cautelosa:

Alguém poderá dizerz “Passei por uma situação semelhmte há cinco


anos, e sei como você se sente. 0 quc cu tiz para superm a crisc
f01'..." Outro pam'cipante, utilizando a lrase “se eu tosse você", po~
derá dizerz “Eu nunca passei por uma situação iguaL mdw creio que
se tivesse passado eu...”

Outro caminho seria “ag1r' como se” - como sc cle tosse a pcssoa
que gostaria de ser. lsso funciona quando o conllito está entrc 0 que
queremos ser (e no íntimo acreditmos que podwnos ser) e o padrão
de componamento que v1m'os adotwdo há muitos anos. Com peque-
nos passos e, no início, em siluações seguras, começmxos a agü co-
mo se fôssemos a pessoa que queremos ser. Essa atitude “como se"
pode ser praticada demro da reunião, ames de ser tenlada no am-
biente exlerior. (Ver Apêndice B).

lA'çao'de(,asa'

Considere por que sua vida parece cheia de semido no momcmo.


e em seguida enumere todos os motivos que você acredita serem
os causadores deste fato. Selecione os cm'co mais 1m'portanles e
relacione-0s de l a 5.
224 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA l.0(i0'l'l:l<.›\l”l.›\

Descreva cinco situaçÕCS nas quais. agora. você se sente m'subsu'-


tuíveL

Indiquc cinco pessoas para quem, agora, vocé é insubstituíveL

Sexta Sessão: Como Lidar Com A Ausência De Significado

A crise cxislencial pode ser o resullado dez

situações que consideramos sem sentido


nosso vazio existencial
um senlimcmo dc descsper.'1nça. de não ler saída

Esoreva em scu caderno um cpisódio que ocorreu há mais de cinco


anos e que lhe pmeceu sem scntida Comentc-o com o grup0. Que
lições você aprendeu com aqucla experiência7 Rcsullou cm algo de
Dom'? De que modo vocé se beneticiou desse tal0'! Olhando para o
passado, você conscguc cnxcrgar Mgum sentido hojc, naquela antiga
situagãdZ Permita que seus companheiros o ajudcm sugcrmdo possí-
veis signiticados relativos àquela C1r'cunstância: Que terim encon-
trado eles dc proveitoso naquela situação? Que eles considcrmam
51'gn11'icativo cm experiências sirru'ldr'es? Pmilhc com 0 grupo a lista
de pessoas e as siluações nas quais você se sente insubstiluích e
exprcsse scus sentimentos a respeito.

Em seguida, descreva uma situação em que, no momemo. você não


vê saída. Fuça uma lista de todas as escolhas que puder imaginw pa-
ra cssa siluuçã0. incluindo as 1m'praticáveis c até as ridículas. Com
os membros do seu pequeno grup0, discuta suas listas pois, através
das sugestões olerecidas, pode aparecer uma escolha que neste ins-
tante lhc seja plausíveL
l›\('(),\' l R,\\.'I)()L)›\lh'\¡'l| l( 4\|)U I()I)()\.().\ HIAS m
Dcpois. novumemc com 0 uuxílio dos 0ulros. Icnlc dccidir quaJ' a
pn'melr'u providênciu prálicu que você tcria quc tomun pma rculiw
a cscolha pcla qual uplmL

Agora o oricmador lulu uu grupo. rcsumidauncntc. sobrc 0 lcma


principal du lu,_:«otcrupiu - quc '“u vidu lcm scnlidm sob qumsqucr
CLr'cunmâncias”. Essu crcnçu lmísicn nu signiticado da vidu podc scr
tomada como umu advcnéncia dc quc, u dcspcilo dc wdo cuos apa-
renle e das 1'njustiçus. cxiMc umu urdcm no univcrsm c cada um dc
nós é purtc dcssu ordan A vidu lcm scnlido nos momcnlm cm quc
nos scmimos cm comunhüo, unidm - nào upcnus cm nosau inlcri0r.
mas com o rcslo do Inund0. Lisscs são mmncnlos rurua c prcci0505. c
dcvemos esuu alcntos a csscs v1'.slumbrcs.' dc .s'ignilicado. No diu-u-
dia, o .s*ignilícado ó ulamçzldo ulruvéa dus rcs¡)m.tu.s' que dumos uo
sentido quc 0 momcnlo nos upl'cscnlu. Podcmos cncunlrur scmido
em lrôs árcass nus ulividadcs quc cxcrcunuag nus c.\'pcriêncius que
vivcncianws c nus alitudcs quc assunmnos cm 's.iluaçoc's quc, em
princípim nos pmcccm scm scnlida

Após cssa uprcscmação dus idéias búsicus du logotcmp1a, os p.'¡rt1'ci-


pantes companilham suas crcnças quc loraun cxprmms cm scus dc~
veres de Cd'Sd'. Cada pcssou escrcvc umu atinnuçüo no quadro~ncgru.
e então o grupo dcsenvolvc umu crcnçzL acciw por todos. que comc~
ça com a lrascz "A vidu tcm signilicado quzu1do..."

Liçao' de(,asa'

Finju scr ulguém muito chcgado u vocô. Como sc você lossc cssa
pessoa, escrcva umu c.u1'u a um umigo ou pwcnlc cm comum. com-
lando que você morrcu. Dcscrcvu na curta, quc tipu dc pcssoa vocé
10i. o que cra unportanle cm voccÀ u diícrcngu quc mrá ao mundo
o talo dc você tcr morrido c o que mais valc u pcnu lcmbrur u scu
respeito.
226 APLKÍALÚliS PRÁHCAS l).›\ L.()(¡()'l~líl<¡\Pl/\

Sétima Sessão: Como Lidar Com A Depressão

A dcpressão podc orig1'ndr'-se em qualquer uma das três dimensões -


na somática, psicológica ou noética ~ ou numa combinação das três.

A depressão que tem origem tísica pode ser atenuada. senão curada,
por medicamemos. A depressão que tem origem memal podc ser mi-
norada através da psicoterapia. Os indivíduos portadores de depres-
sões severas devem ser encaminhados a psiquiatras. princípalmente
àqueles que levam em consideração a dimensão do cspírito humano.
Os logoterapeutas podem trabalhar com psiquiatras e psicoterapeutas
Lradiconais. para ajudar pacientes deprimidos. Os logoterapeutas po-
dem utilizar o método dos quatro passos. desenvolvido por Elisabeth
LuKas.

O primeüo passo é ajudar 0 paciente deprimido a mamer distância


entre ele próprio e sua depressa'0, ou se_1'a. lazer com que se perceba
- não como um m'divíduo depnnu"do - porém, como um ser humano
completo, que tem depressões, mas lem também a capacidade de en-
contm signiticad0, apesar de suas dcpressões.

O segundo passo é ajudar o paciente a adqu1r'ir uma atitude nova e


positiva - usar medicamentos e submeter-se à psicoterapia para su-
perm a depressão sempre que possíveL e aprender a viver dentro de
suas limílações, desde que estas sejam m'evitáveis. O terceu'0 passo
é o resultado do êxito dos outros dois ~ a depressão toma-se supor-
táveL diminui e pode até desaparecer por completo.

O quarto passo é a busca, pelo terapeuta e pelo paciente, de uma


nova e significativa estrutura comportamentaL Métodos práticos de-
vem ser encontrados para refazer a vida do paciente - mesmo du-
rante seus períodos de crise depressiva.
|*.I\›('()\¡' I'R:\\¡'I)O () SIUNHJFADO TUDOS ().'i l)l.-\S 227

Não podemos ignorar a exislênciu da deprcssão, ou tuzcr dc conta


que ela não existe ou simplcmente qucrcr quc cla desapareçax Dizer
a uma pessoa deprimida que se contcnth ou quc há casos piores do
que o dela, só contribui para exuccrbar a dcprcssão. lucndo com
que se sinla culpada por não lcr condiçóes dc vcnccr scu problcma.
A depressão dcve scr encarlada como uma situação quc auavcsmos
e, quando possíveL superamos. Os simomus podcm scr aliviados
com medicação. e uma mudunçu dc aliludcs podc scr adquir1'da.

Eis um método prático pma rompcr com um pudrão dcpress¡'vo. To-


me nola do que você fez no dia anterior, hora por horzL Essa rcca-
pítulação 1r'á revelar que você não pcrmancccu lortcmcntc deprimido
durante as 24 horas duquele dia. Nu rcalidadc. a muioria dos pa-
cientes deprimidos agem nomlalmcnte uma pMc do temp0. Prcpa-
ram 0 desjejum, convcrsam com o canciro, levam o cachorro para
dar uma volta, atendem as chamadas Iclclónicas e até a pcquenas
emergências da vida d1'ar"ia - esquccem sua depressão e mum nor-
malmente por curtos intervalos dc lcmpo. Essas são conquistas quc
devem ser observadas. De que maneíra você podc amplim os pcrío-
dos em que age normalmente? Como pode encontrar significado nas
atividades e experiências que alastam de sua mcmc a dcprcssão? Os
membros do_ grupo procuram respostas u essas questõcs. listundo
cinco meios nos quais os significados têm maior probabilidade de
tomar~se conscientes:

(l) aprendendo a verdade sobrc nós mcsmos


(2) tendo escolhas
(3) semind0-se único
(4) agindo com rcsponsabilidadc
(5) pensando c agindo de mmeüa autotransccndemc
228 Amcxxuõus PRÁTICAS m LOGO l”L-RJ\PIA

Exercício

Os panicipanles devem preparar uma relação de atividudes para o


dia segu1'nte, e rel.1'c1'oná-las com as cinco proposlas aprcsentadas na
página amerior. Por exemploz

Prcciso levm as crianças à escola. (4)


Eu poderia ticar na carn'a, mas ao invés dislo, vou preparm o
cuté do mcu marido c das crianças. (2) c (5)
Não vou telcíonm para minha mãe porque isto me deixa
mais deprimida. (l) e (2)
Vou lazer uma surpresa para Sue. arrumando suas roupas. (2)
c (5)
Vou visitar Mildred. pois sei que ela gosta da minha
companhia. (3)
Vou locar piano. porque isto me Iaz semir bem. (l)
Vou passar pela Casa de Peggy e ajudá-la a preparar a Íesta de
aniversar"1'o dc Bobby. (5)

Dentro do gmpo. cada pessoa pnde tazcr uma lista. e todos colabo~
ram dando palpites - então os panicipames podem adotm idéias ti-
radas da lista de seus companheu'os.

O exercício proposto acima é uma aplicação da desreflexão, usado


para Combater a hipcr-reilexão que é o excessivo acúmulo de alen-
ção sobrc si mesmo. Os paciçmes deprimidos são encorajados a
aceitar as incumbências díárias. e com isso desviar sua atenção, pelo
menos tempordr'ian1mne, de suu depressão. Este é um excmplo do
primeüo passo. dc Elisabeth Lukas - manter distância de seus sin-
tomas. Quando esscs pacienles tiverem provado, em pequenus doses.
que não são vitimas indelesas da depressa'o. eles conseguem rec0-
nhecer o podcr do espírito human0.
|:\¡'(*()\¡' l l<.\Nl)U() SIUNIHLWHU HJDUS l)\. l)lx\'\. 2 29

Nos casos dc dcprcssão scvcru. os rccur.sos noélicos do indivíduo


podcm cslar hloqucadus. Ao sc trabulhur com cssus pcss.ms. lulvu
scju neccssário recorrcr a mcdicumcnlos ou à psicolcrapia tradicio~
nuL puru rcmovcr as bmrciraxs quc cslào bloqucandu os rccursm
noéticos. Mas mcsmo pucícntcs com dcprcssüo scvcra. são capum
dc accitur pcqucnus tarclas dcmtllcctivas. tào logo u nuvcm cscuru
da dcprcssão comccc a dcsvuneccr-.s'c. chucnas mudunças no c0m-
porlamcnto colidiano podcm momrar uma saídau ondc umcs havia um
obstáculo intranspouích

Lição de casa

Em pcqucnas tirus dc puch cscrcvn umu Irusc cndcrcçadu a cadu


um dos mcmbros do grupo. Comcce Com a scnlcnçuz “Eu goalci
muito quc vocô tcnhu panicipudo do grupo porquc..." Nào assinc
essas notus.

Oitava Sessãoz Que Você Aprendeu para Usar


em seu Dia-a-Dia?

Esta é a úllimu rcunião do grupo. Quc acuntccu com 05 pzmicipun-


les? Pcla última vcz, os mcmbros do grupo inicimu u .s'css.1"o u'1dicun-
du cm quc posição sc cncontram nu cscula dc l u 5. Agoru é o mu-
mcnlo dc considcrm o quc aconlcccu ncssus oito scmunas quc mu-
dou u posição pma u que sc cncontram ugoru nu cswla. c rcllclü sn~
brc 0 quc sc podc aprcnder com us mudanças vivcnundusx

. Anotc cm scu cadcrmx c partilhc com o grupo. duas coisus que


você aprcndcu c duus coisas quc 0 surprccndcmn
. Quc você aprcndcu com a suu unicidudc'! Escrcva c rclalc cinco
molivos por quc você lmiu laltu sc morrcssc amanhã.
230 APLICAÇÓES PRÁTICAS DA LOGOTERAHA

O chete do grupo recolhe as anmações de apreço que cada membro


escreveu como lição de casa, e as dístribuí aos participantes a quem
toram endereçadas. Agora, cada indivíduo tem diversos bilhetes
anônimos, contendo as razões por que sua presença no grupo toi
valiosa.

O orientador pede uo grupo que use as lerrdmentas da logoterapia,


que continue a praticar muitos dos exercícos e que cominue a escre-
ver em seus diar'ios (entatizando as Cinco dr"eas de sentido em poten-
cial e anolando as experiências ocorridas diariamente, semanalmen-
te. mensalmente e anualmeme).

Todas as noites, escreva o que toi signiticativo para você durame


esse dia, e o que não Ioi. Todas as semanas, escreva o que toi signi~
Iicativo durante essa semana. e o que não foi. Faça esse exercício
uma vez por mês e uma vez por ano, relembrando o que toi e o que
não toi signiticativo durante o mês ou o ano que passou. Sua noção
individual do que é significativo c das atividades que não são signí-
ñcativas 1r›ão surg1r' à medida que praticar esses exercícios.

Devemos aprender a dizer adeus. não apenas no sentido amplo. a


épocas passadas às quais tivemos que renuncíar porque jamais pode-
ríamos rctomar a elas, mas também no senlido restrit0, aos episódios
do dia-a-dia. Viver sígnitícativamente é responder às exigências do
moment0; é viver o presente. terlndD lições do passado e planejando
metas para o futuro. Para viver o presente, é necessário ser capaz de
dizer adeus a apegos signiticativos que pertencem ao passado. O
sentído das atividades específícas não pode ser capturado e mantido
em algcmas para sempre.

Excmplo

Quando nos dln"gimos do trabalho (que é signiticativo das 8h da


man'nã às 5n da tarde) para casa (que é signilicaliva das Sh da tarde
¡-.Nco\1"1'RAM)UU Sl(¡Nll<l(';\l)() runos os l)lA.S 231

até as 8h da manhã), é necessar'io lranstenr' o Ioco dc nossa atcnção.


de uma alividade à outraL 'l'alvcz seju importamc saír da avcnida
principaL estacíonm 0 Carro numa ruazinha c mcditdr'. alé que este-
jamos prontos para as oportunidudcs signiticalivas que nos csperm.
Só então nos duigimos paru casa. pma junto da íamília.

. Quais são as atividadc.s' mais signilicativm no seu cotidiano?


. Que você taz para mudm sua atcnção quundo sai de uma au'vida-
de e entra em outra'?
. Como você se despede dc um signiticado antcs que oulro
comece?

Durante esses poucos minulos finais da última reunião, os membros


do grupo lomm um Círculo, dc pé, cada qual apoiando os braços
nos ombros de seus companheirosu Cada panicipame lcm scu passa-
do e 0 cademo de notas que acumulou durante as sessões. Cada um
tem seu futuro e os planos que idculizou para continum manlendo o
propósito de encontraI sentido todos os dias.

Agora dizem adeus e seguem suas próprius vidas.


APENDICE B

0 MÉTODO “AGlR-COM0-SE"

O método "a__21r°-como-se" é usado pde quc sc udquu~'a conliança no


trato com outras pessoas. Elc nos pcnnilc lradum cm agão 0 pcnsa-
mento de um desej0. Esse mélodo não prctcndc pcrsuadümos a tcr
qualidades que não devcn'aunos ou não podcrímlos Ier. Simplcs-
mente ajuda-nos a aperlciçom nossa pcrsonulidudc c a descnvolvcr
nossos polenciais, para que nos lomcmos a pcssoa quc queremos
ser.

Quando agmos como se. chegamos logo a acredim que somos a


pessoa que estamos represcntando. A única razão que nos impediu
de ser essa pessoa até agora loi não acrcdim que const'guirímnos. o
que nos levou a atuar bascados nessa conxúcçãa

Quando começamos a utilizar 0 mélodo agukcomwsa prcc1'›dnm*'s


estar preparados pma um período iniciul - que podc scr dcsc¡1com-
jador - durante 0 qum aindu nào cslamos pronlos parux acrednm cm
nós mesmos. Durante esse períod0. devemos dcpcndcr do pmccsso

.-\duptndu do hxmz l.u,'mllu'm/u .\ur Hvlp rur Pmlvfun Ihmáw \. Jc .|.1mc~


C. CrumbuuglL \\'. .\l. \\'oud. c \\'.C. \\ uud t.\clwn HulL l~)\.l›
234 APLICAÇÔES PI<A"¡'1C.-x.s' m LOUO HiRAPlA

pdr'a alcançar a crença em nossa capacidade de chegar a ser a L


que desejwos ser. Não podemos mudar nossos sentímentos à vonta-
de, mas podemos mudm nossas atitudes. Continuamos a agk como
se Iôssemos a pessoa que gostaríamos de ser, mesmo que, a prin-
cípi0, não acreditemOS 1'nte1r'amente que seremos bem sucedidos.

Esse método pode ser mais eñcazmente aplicado, seguindo~se os


cinco passos. Cada um desses passos requer apenas cm'co minutos
dian"os. Somente um passo pode ser dado por vez.

Passo n°- 1: Sozinho

Comcce numa circunstância totalmente isenta de perigos, na qual se-


rá praticamente impossível que você fracasse. Escolha uma situação
em que, nos próximos cinco minutos, você não terá Contato Com
ninguém Se alguém aparecer cie repente. pare e comece maís Lar'de,
novamente, quando não houver nm'guém por pert0. (Durante os pas-
sos sucessivos, se algo m'esperado ocorrer, pare e recomece mais
ta.r'de.)

\
Um passeio sozinho é uma boa maneüa de dar o primexr'0 passo. A
medida que Ior camínhando, você deve pensar, sent1r' e agir, por
cinco minutos, Como se você fosse aquela pessoa segura e autocon-
Iiante que sempre quis ser; uma pessoa que fosse bem~sucedida em
qualquer coisa que tentasse. embora amda não tenha decidido ou
pensado em tentar algo. De que ma_ne1r'a essa pessoa andaria? Como
seria sua postura ao camm'har'? Balançando os braços, ou assobian-
d0? Olhando pma 0 cha'0, ou com a cabeça erguida? Nesses Cinco
mínutos, porte'-se como você imagina que essa pessoa se ponaria.

As chances são de que você dará esse pn'me1r'o passo sem nenhum
problema. na pn'me1r'a vez que tentar, e estará pronto para dar o
m112mno-',\<¡H<.u›x.1<›.s1;“ 35

IU
segundo passo no dia scguintc. Comudo, se por qualqucr motivu vo-
Lssoa
cê não se sentü scguro ou à vomadc. rcpila esse primeüo passo nu
próximo dia. e tantas vezes quantas íorcm ncccssárias, alé que sinla
f1rm'eza.

Passo n-° 2: Com um Estranho

Escolha hoje, para praticm duranle cinco minulos. um lugur onde


você terá contato com pessoas desconhecidas. Um passcio num par-
que, onde há estranhos, pode olereccr as condigócs necessa'n'as.

Enquamo estiver caminhand0. ao passm por um dcsconhccido. atuc


como se você Íosse a pessoa segura c autocontianle que gostaria dc
ser, a pessoa que seria bem-succdida cm qualqucr ramo de atividade
que tentasse. Como essa pessoa sc ponana ao cruzar com um estra-
nho? Não tomaria conhccimento nem erguería os olhos? Olharia pa-
ra 0 desconhecido? Trocaria um cumprimcntdf Scja essa pessoa, por
cinco minutos, ao caminhar pelo parque.

Se dec1'd1r' trocar um cumprimento, talvez scja rcjeitado pelo cstra-


nho que preferiu não corrcsponder ao cumprimcnta lsso pode ubor~
recê-lo. Se este fato ocorrer. repita 0 passo As chanccs são de que
você não terá pr0_blemas nesse segundo passo. Sc tiver. pare e repi-
la-o no dia seguintc e alé que você sc sinta contorlável com cssc
componamento, nesse amb1'enle.

Se você tor rejeítado e isto não o incomodan significa que já c0n-


quistou o passo n'-' 2 c está pronto para u' adiante. sem repelíçãa Po-
rém, assegure-se de que não está racionaüzando. quundo disscr a si
mesmo que a rejeição não o preocupou - lenha ccneza dc quc é ilS-
31m' mesmo que você se sente. Não tente e11gan.1r'-sc, indo prcmalu-
ramente para o passo seguinte.
236 v\l'l.lC.\Ç(-)L.S PRÁ l IC›\\\. I).\ l.()(i()l |'.R;\l›ll\

Passo n°- 3.' Com um Conhecido

Pwa pralicm duramc cinco minutos, escolha um Iugar onde você


possu tcr Contato com alguém quc conhece dc vista. Novamcnlc um
passeio é rccomendáveL se você puder dar um Jeito de passar por
alguém que SCJa um mero conhecid0. 'l'alvez deva 1r' à livraria do
ba1r'r0, ou a uma lea em quc costuma tazer compras regulmmenm

Mais uma vcz, assuma as atiludes que íoram descrilas anten'orrnente.


Como se comportaría a pessou segura e autocontiame que você
gostaria de ser, nessa situaçãdZ Ela pararia para baler um papo, ou
simplesmeme acenaria com a cabcça e continuaria andanddf Se este
passo lhe Causm ansicdade ou qualquar oulro lipo de perturbaçã0,
repita-o nos dias subsequ"entcs, até se sent1r' à vontade.

Passo n°- 4: Com um Amigo Íntimo

A menos que você possa planejm um enconlro casum com um amigo


íntimo cnquanto esliver dando um passcio, o cenário desse exercício
lem dc ser mudado no passo n-“ 4. Sc você lcm muilos amigos que
moram nas rcdondezas, e sabe em que momento pode deparar-se
com um deles na rua, então um passeio pode scr novameme um
ambicme propíci0.

Se 0 amígo que encontrm é aqucle Com quem se sente bem, você


poderá tcr segurança neste passo. Porém cstá assumindo um n'sco,
pois você cstá agíndo como uma pessoa autoconlíante, o que não
condiz com a imagem que seu amigb tem de você. '

O ob_¡etivo destc passo é controntar aqueles quc o conhecem, com


a sua nova imagcm, e lazer com que comecem a accilar esta nova
1m'agem. lsto pode levm alguns dias, durante os quais você
(›\.Hll'u1)0'^¡\(;lk-C(J\¡|0›5L“ 237

represenmá seu novo pach com pcr.s*cvcrança. Nestc caso, seria


bom repetir csle cxercício cum amigos d1'tcrcntcs. cm ditcrcnlcs dias.

À medida quc lor progrcdi11do. dcscobrirá quc cada surprcsa quc


seus umigos dcmonslrarem scrá provavclmcnlc uma agradável sur~
presa para você. Assumindo uma utitudc muis posiliva cm rclaçâo a
si mesmo, você suscitmá uma rcspostu cquivalcmc cm seus amigos c
eles o lratmão como sc você 1ossc uma pcssou scgura. lslo lhe dará
eslímulo pma agü com muior autoconliiumçu uinddx 0 que cnlão vo-
cê passará a cxpressar' cm scu ugimlo mmo .s'('. li gradualmemc
deixará de rcpresemar ~ scus scnlimcnlos dc autocontiança scrão
reais, c seu componumenlo irá nalurulmcnlc rcIletir~sc sobre seus
semimenlos.

Passo n°- 5: Numa Situação de Conflito

O último passo do mélodo ag1'r-como-sc é Colocar~se. por cinco mi-


nutos, diante dc alguém que, dc ceno modo. é uma amcaça a vocô -
allguém com quem vocô leve algum conílim Novamcme você dcvc
agir como se estívesse intcüamcntc contianle c scguro em sua habi-
lidade em c011du21r' essa interação, de mancira sutistutória. Você laz
qualquer coisa que imagina que uma pessoa segura c autoconthnlc
Iar'ia.

Quando liver conseguido conlrolar Com succsso essc pusso. terá al-
Cançado o que se propós lazcrz terá aprendido a acrediwr cm sí pr0'-
prio ao interagir Com os oulros. c podcrá lunçur mão dcssu autocon~
íiança para estabclecer novos relacionanmnlos.

Terá de repetir esse passo diversas vezcs. cm divcrsos dias, antes


de haver alcançado plenamcnte seu 0bjctivo. Mesmo que você tenha
se semido salisteito com csse passo quasc imediutamcnlc. dcvcrú
238 ¡\l'l.lCAÇÓlíS PRÁ HCAS l)¡\ |,()(;()T'L'RAP|:\

repeti-lo pelo menos uma vez, para certificar-se de que seu senti-
mento scrá correto. Provavelmemç. em situações futuras. você 1r'á se
dclromm com C1r'cunslâncias que enfraquecerão sua aulo~est1m'a;
quando isto acomecen terá que rever e até repetü esta série inteüa
de passos.

Esse exercício dc agir-com0-se pode constituir um valor Contínuo


pma que você manlenha a autocontiança que necessita e para pros-
seguü obtendo êxito em seus relacionamemos e batalhas.
APENDICE C

Endercçoz ....................... Tclctonc ............


Cusado . . Scparudo . . Divorciudo . . .
Viuvo ........ Númcro dc czmuncntos .........
Filhosz Quamos ........... ldudc dos mcninoa ............
ldadc das mcnínus. . . . ........
Nível de lnstwçàoz Cursos quc complclow
Primcíro Grau -
l-” 2-” 3-” 4-” 52 69 72 39
chundo (irau - l-” 29 32
Faculdade -
1“- 2“-' 3-” 49 5“-' 6*-' 72
Faculdadc quc cursouz .
Alé quc anoz . . . . ..
ldade dos un'1ãos mais velhos ..... das innãs mais velhas ......
ldade dos 1r'mãos mais novos ..... das irmãs mnis novas. .
Saúde do pai .............. Saúde da mãc. . . . . . . . .
Se um delcs tor íalecido, dm ano e causa da mortcz .

Corlcsiu dc '\¡lipnun Í;I's.unhcrg. ¡'ILI).. Mld“c\l lnslllulc ol Logulhcr.'lpy. 520 N.


Michigun Avunum ('hiu.ngu. llhnuls hllhll
240 x\l*l.l(_'z\(jÓl-:S PRÁ HCAS 1›..\ l.()G()'1'liR/\P1A

Que seu pai sempre dizia'? ..... . .......... . . . . . . . . . . . . . .


Sc tudo corrcr bem, como será sua vida daquí a cinco anos? . . . . . .
Que 0 taz sentir-se mais teliL amado, bem-sucedido e contente por
estmviv0? ................. . .......
Quc o m scnur'-se mais 1'nt'eliz. não amado, deprimido, Zangado,
aborrecido. ctc.'! .....................................
Sc pudesse mudm alguma coisa em você apenas desejando, que de-
se_|4r'ia'? ............... . .................... . .......
Qum o pcrsonagem Iamoso que você mais gostaria de ser'? . . . . . . .
FORMULÁRIO SOBRLJ o IllSTÓRICO PEswAL 241

Com quem você briga a maioria das vezes? . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Quais são geralmente as causas de suas brigas'? . . . . . . . . . . . . . . .
Qual asuamúsicapredileta? .....
Qual a palavra mms bonita que você conhece'? . . . . . . . . . . . . . . .
Qumamaisteia?............... ......... . .....
Em sua úll1m'a cana, ou conversa com seus tilhos, qual o melhor
conselho que lhes deu? ........................... . . . . .

Se tosse teito um tilrne sobre sua vida, qual sen'a o t1'tulo? . . . . . . .

Quando você era pequeno, a quem recorria nos momentos mais dití-
ceis? ......... . . ...... . ...........................
Por quê? . . . ......... . ............................ . .
Quando você era pequeno. sobre 0 que sua famñia costumava con-
versarquando sesenlavamàmesa?

Que hádeerradoemsuavida? . . . . . . . . . . . . . . . .. ..........


De que maneu'a poderia rcsolver esses problemas'? . . . . ....... . .

Qual' o pnm'e1r'o passo que dan"a pma tentm melhorar sua vida?

Como está se sentindo agora, cuquanlo preenche este formuláridl . .


APENDICE D

LEILÃO DE VALORES

Este “jog0“ é utüizado pela logoterapeuta Mignon Eisenberg, em


seus grupos em Chicago. Cada parlicipante tem $10.000 para gasLaL
0 dinheko só pode ser usado no leilão de valores. Não adianta eco-
nomizá-lo para outra coisa. Cada lance começa com $100 e só pode
ser aumentado em $100 por vez. A oferta max'ima é de $4.000. Dê
uma olhada na lista de valores e assinale os lances que deseja daI, e
até quanto está disposto a pagar por cada valor que assinalou. Você
não está amarrado às suas estimativas preliminares, podendo mu~
dá-las à medida que os lances forem feitos.

O “leiloelr'o" é como o destíno - ele pode cometer erros ou decidü


injustamente - mas as decisões são detinitivas.

Lls'ta dc valores a ser leüoados


Primeiras Lance
Valar Esíwwzvas" Atual

l. Umbomcasamento
2. Liberdade para Iazer o que
você quiser
3. Poder de exercer domínio so-
bre os outros
244 APLICAÇÓ~L'SPR.›\"1*ICAS DA LOGOTERAPIA

4. Ser amado e admüado pelos


amigos
5.~ Ilun'itadas chances de viajar
Ter autoconfiança e uma ati-
.°*

tude positiva
Uma famñia txeliz
Reconhecimcnto do seu valor
Uma vida longa e feliz
.~o.° .\l

10. Uma biblioteca completa para


você
ll. Uma té autêntica
12. Passar um mês de Íérias como
lhe aprouver
13. Uma longa vida com segurança
econômica
l4. Uma linda casa, bem locali-
zada
15. Um mundo sem preconceito
16. Um mundo sem doenças e sem
miséria
l7. Fama intemacional e popula-
ridade
18. Compreender 0 sentido da yida
l9. Um mundo sem corrupção nem
menur'as
20. Autonomia no seu trabalho
21. Uma verdadelra' e satistàtória
relação de amor
22. Sucesso na cc1r'reLra'

Questocs' para perguntar após o le11ao"

Você está satisfeito com 0 que comprou?


LEILÃO DE VALORES 245

Por que você queria aquilo que comprou?


Até que ponto pode comparar com o que você tem hoje?
Alguma coisa o surpreendeu?
Será que suas expectativas são realislas?
Como você se sente (ou age) quando não consegue o que quer?
Você tica com raiva daqueles que conseguu'am o que você queria?
Você está com raiva do leiloeiro (destino)?
Faria um estorço, agora, para adquirir em sua vida o que comprou
no leilão?
Que deveria fazer para consegui-lo?
Gastou todo o seu dinhelr'o? Sc na'o, por quê? Economizou uma
parte para alguma coisa? Que coisa?
Goslaria de ter tido mais dinhe1r'o? Como se sentiu ao ver que não
adqum"u o bastante?
Gastou seu dinheüo muito depressa e sentiu-se trustrado porque não
sobrou nada'?
Seguíu suas estimativas preliminares ou deu os lances espontanea-
mente?
Você é agressivo? Seguro de si mesmo? Conseguiu o que queria?
Quanto estorço você despendeu pma obter o que desejava'?
Planejou bem? Você se considera uma pessoa tlex1'vel?
Aprendeu algo sobre si mesmo? E sobre os outros?
APE^NDICE E

AUTO-ESTIMA

Quem sou eu? (Descreva como você se enxerga realisticamente)

Que mmha' famíha' dese_¡a' quc eu se_¡a'? (P0de dar uma resposta sepa-
rada para cada membro da tamflia)

Quem eu quem ser?

Qums' os mcus potcnc1ms"?


248 APLICAÇÕES PRÁTICAS DA LOGOTERAPIA

Quansu os meus obstáculos?

Quc posso fazer pam mahzar' mcus potencnals"?

Qualsena'mcupnmcuo"passo?

5
Í Qmeupossotazerpamnanspormeus obstac'ulos?

Qual sena° meu pnmc'1m' passo?

+
3
Í
APENDICE F

OBJETIVOS DE VIDA (ODV)

TESTE (0DV) *

Este teste, desenvolvido por James C. Crumbaugh. PH.D., e be0-


nard T. Maholick, M.D., mede o quanto de signitiwdo vocé vê em
sua vida atualmente. Responda a cada queslão numa escala de l a 7.
As respostas a essas 20 perguntas pertmão 20 números. Some esses
números. Você obterá um total enlre um mínimo de 20 e um max'imo
de l40. Uma conlagem de 92 ou menos. mostra baixa inclinação
pelo signiticada A contagem de 112 ou mais, mostra um significado
definido e um propósito de vida. Entre 92 e 112 demonstra incene-
za. Faça 0 teste ODV uma vez por mês, enquanto estiver praticando
os exercícios de Aplicações Prálicas da Loguterapia, e você desco-
bmá que sua orienm§ão está mais voltada ao significado.

l. ls"lou gcmlmcnlc:
l
IJ

4 5 6 7
u

Iolznlmcnlc
cnlcdiado unimudo
nculro
cnlusiasmndo
2. A vida mc pamoc:
7 6 5 4
3 2 I
scmprc
cxcitunlc complcla
nculro
rolinu

* (PlL) Tesl~ Purposc in Lifc.


250 .-\I›L1(:Aço'us PRÁTICAS DA L000TL<RAPIA

l Tcnho nn villaz

ru
l ohpquoscmm
5
ncnhum ohjcm U nlnbcm
ÍBUEO
ou unscm

4_ Mmha' cxnstc"ncn' pcmoal7é: 7


l ..
mujlo singmüva c
ubsolulzmwnlc dth dc murxñlm
TDUHU
wm scnudo ou
propósilu

5. Cada dh é: l
7

IQ
scmrxc
consmnlcmcnlc
nmo c difurcntc
mulm ígual
6. Sc pudlmc mmlhcn alz 7 7
l ..
gmmnh dc lcrnms
prc fcrcria novc vianigmmSa
ÍBUIID
nuncu CSÍZJ
tcr nascido

7. Quzndo mc aposcmnn cgz 7


l ... Ó
ñsmí odosu purd
goslarm de famr o msw da vi'd.¡
rmlm
umus coisas cm~
polgunles quc
scmprc quis faLcr

8. Pm aun'gjr mclas na vidf, cu:


l A. 7
pmgwdj ulé
nãu li1. ncnhum
IÉUÍID ümr luulmcnlc
pmgrcsw
sms"fciu)
9. Mmha' vida éz
4 7
N

I
rcpkm de
\'aziu, c.\ccu› pclo
TDUUU dlMIÀ'1IS'l'K)
dcscspcm

10. Sc cu moncsc hOJc”, scnuna" quc ?mha' vidaJ


7 0 4 I
IJ

dc nwlcxr'u algunm
mlcu muilo a
IWITU vnlcu a pcnu
pcnu

ll.Quzndopcnscwmn1ulllaq'vida,¡:u:3
l ... 7
scmpxc dcscubm
inmg1'nu, com
ncutm umu mzzb pnm csmr
Írcqüêncim por
aq'ui nnxw munnk>
quc scrá quc cu
cxislo.'

12_ Considem1do o mjundo cm mlaçã30 à nunha' vida. n mundo:


l _ 4 7
dci.\u-mc luta¡- oomblm .s'í,gu'11a¡'u'-
mcnlc cunfuw IDUUU vamcnw oom mmhd"
wdzl
13.Lu"souunnpc$oa;
I 7
lJ

muilo mtsmmücl liJUlIU


muiw mmívcl
()HJl; I I\'()S Dli VIDA <T|LSTIL ODVJ 25|

l4. l)c aoonio com a lihcnladc do homcm dc Íalcr uoolhas, cmio quc o homcm éz
7 (| í 4 3 7 l
uhsolulumcnlc lumlmcnlc
livrc pam luLcr llCllllU dcpcndcntc du›
c>collm cm suu limiluçócs da hcrc-
vidu dnmricdudc c
mcio amblcnlc

15. Ço'm ntlaçao' à mor1c, cu cslou.'


7 (› 4 l
prcpurado c dcaprcpurudo c
scm mcdo ncutru com mcdu

I6. (.0'm rclaçao' ao sm'cídio, cu:


l 2 4 6 7
pamJ, _x*n.n"n:nnc, jumuis mc pusou
quc ó umu suídu ncu ÍÍO pcln wbcçn

l7. Lo'nsidcm a pimibilidadc dc cnconlnr um scnu'do, um pmpósilo. unn lmsao" cm


minha vida comm
7 (› 5 4 3 2 l
muilo gmndc pralicamcnlc
nculru mcxialenlc

18. Mmha' vida tsli


7 6 l

IQ

cm minhua mãm foru dc minhu
c pusso conlro- nculru màos c conlmludu
lá-lu por fulorca
cxtcrnos

19. lànfmmar mmhas' mfas dlánas" é:


7 (› S 4 7 1
umu fontc dc pra~ umu cxpcrünciu
zcr c s.1'lisfação ncutro dolurosu c
aborrccidn

20. Eu dcsoobñz
7 4 l
ncnhumn missão metus bcm dcñ~
ou propósilo na nculro nidn c um pro-
vída pósilo dc vidu
wlisfmóriu

Rcimprcsso com a pcrnussão dc Psychomclric Affilialcs, Murfrccaborm 'l'cnnc›scc.


APENDICE G

ASPIRANDO AMETAS NOÉTICAS


(AMN)
TESTE (AMN)*

Este tesle, desenvolvido por Jamcs C. Crumbaugh. PH.D., mede a


lorça de sua motivação para encontrar semido e propósitos na vida.
Para cada ahm'1ativa, C1r'cunde um númcro que mais Iielmenle repre-
sente seus verdadeiros scntimenlos. Somc os vinte números marca-
dos. Se o lolal lor 73 ou menos. você não eslá muito motivado em
sua busca pelo sentido. Se a conlagem Ior 87 ou mais. você está
bastante motivad0. Uma contagem cntre 73 c 87 denola incenezax

l. Pcnso a rcspcilo do singlmdo major da vidaz


I 2 3 4 5 (› 7
Nuncu Rurunmuc ()cuxm- ¡\I_'Llln)'.1\ Cnm Com Conslxur
nulmcnlc wlus lxcqüúnuu muilu lcmcmc
frcqüênua

2. Já tivc a scnsaçao' dc quc uilou dcsúnado a almnw algo imponanlc, mas nao~ consigo
aunar cxalamcnlc oom o quc
l 2 3 J 9 0 7
Nuncu Kurunlcnlc ()ç;mn- ¡\lgunm› üml Cmn Cunslaur
nulmcnlc x ulcx Iruliiôncm nmitu lcmcnlc
|rcqu"i^ncin

3. Tcmci novas alividadcs ou acas" dc inlcrcwug mas clas logo pcrdcram 0 alnlivm
7 (› 5 4 3 2 I
Conlunlw Com Cum Algumns ()c.'¡.sm- Rurmncnlc Nuncu
mcnlc muíla lrcqu"c.^'m;1.'1 \c¡c› nulmcnlc
lrcqüônuu

* (Song) Tcsl - Sccking olÀ Nuclic (iual.s.


.

254 APLICAÇÕES PRÁTICAS I)A L()(¡(_)'l'liRAPlA


4~1n-›. .¡,_: -.4_

4. S'm'lo quc algum clcmcnlo, quc nao~ poso dcñmr'. cslá fallando an mmln' vida:
l ñ 3 4 S 6 7
Nunu R.1'rumcnlc Oc.1'›io- Al gumas Com Cum Conslan-
nulmcnlc vczca Írcqüência muiw lemcnlc
frcqüência

5. Sou impacicnlc:
7 6 5 4 3 2
Conslam Com Com AIgumus Ocasio- Ruramente Nunca
lcmcnlc mui la frcqüênciu VL'1.L'.S nnlmcnle
frcqüénciu

6. Sm'lo quc a maionealuaçao" da mmha' vidatstá no fu|um:


7 6 5 4 3 7

Consmm Com Com Algumus 0c.1.'s|0- Raramenlc


lc- muita frcqüência \'c1.c.s nulmcnlc
mcnlc frcq üência

7. lspc"m quc algo cmociomnlc aoonloça no Íuuuo:


l 2 3 4 J b 7
'\."uncu Rununcntc Ocusiu- ¡\lgunm› Com Com Constan-
nulmcntc \'c7.cs Ircqüônciu muilu lemcnlc
frcqüência

8. Sonho cm cnoonlrar um novo lugar pam vivcr c uma nova ídcnüdadc


l 1 3 4 5 6 7
Nuncu Rurumcnlc 0cu5i0- Algumus Com Com Constam
nulmcnlc vcws frcq u"énciu muiw lcmcnlc
frcq u"ênc¡'a

9. Sinlo a falla - c a noocsidadc de cnoommr - um signiñcado c um pmpósito vcrdackuo':


7 6 í 4 s 1 1
Conslum Cum Cum .›\I,__<'um'.Ls ()L'L¡3iu - Rurauncntc N uncu
lcmcnlc muilu frcq üênciu vç'/.ç'› nalmcnlc
l'rcqu"ênriu

lO. Pcnso oonscguk algo novo c difcrcnlez


I ° 3 4 ' 5 6 7
Nuncu Rmumcnlc 0casl0~ Algumas Cnm Cum Cunslun-
nulmcnlc chcs frcqüénciu muitu lcmcntc
frcqüênciu

ll. Tcnhoa un'prcssa0” dc cslzr mudmdooobpu"vopnnc'ipal dc nunha' vidaz


l 7 3 4 5 6 7
Nunca Rurnmenlc ()cusi0- AJ gunms Com Com Cons.1.1n-
nalmcmc \ ucs frcqüênciu muiw lC mcn IC
frcqüênciu
.-\§l'lR›.\\.l)(J A lelAS NOÉTICAS ÚESTE AMNJ 255

l"'__ O nnsÁléño da vida m'm'gz~mc c pcruubadncz


7 0 5 4 3 7
(,'onsmn- Com Cum Algumus Ocasio- R ummcn lc Nunca
lcmenlc muim freqüénciu VCLCS nalmcnlc
frcqüênclu

l3. Sm'toadadcdelcruma novzvidaz


7 6 5 4 3 7 I
Conslnm Com Com Algumus Ocz1510- R aramentc N unca
lcmcmc muitu frcqüêncxu vczcs nalmcnlc
frcqüêncm

l4.Anlcsdcaun'gu'ummcla,conncmbuscadcouut
l 2 3 4 5 Ó 7
Nuncu Rurumcnlc Ucusw- Algumus Com _ Cum Conslnn~
nulmcmc \c/c\, trcqüêncm muilu lcmcnle
frcq u"ênc1a

15. Sm'lo ncocsidadc dc avcnmms c dc “novos mundos a


7 0 5 4 3 w l
Conslum Com Com ¡\lgumus Ocuaur Rurumcmc N u ncu
lemcnlc mu1 tu Ircq u"ênc1u \ c1cs nulmcmc
frcq üênc lu

16. Dummc lnda a minlm vida, scmj um fonc apclo pam dcsoobñr qucm sou cuz
l “ 3 4 5 (› 7
Nuncu Rurumcnlc Ucumm Algunm Cum Com Cunslun -
nulmcnlc xc1cs. lrcqüênuu munlu lcmcnlc
lrcqüêncxu

l7. Dc vcz un quzndo pcnso lcr dcsamcrln o quc procurava na vida, porém mms' htdc
csc pcnnmcnlo dmapazuxx
l 7 3 4 D () 7
Nuncu Kammcmc 0cusm- Algunm ('om Cnm Cunslum
nulmcnlc wIcs lrcqüénuu munu lcmcntc
lrcq üênc l.'l

18. Tcnho csudo- bcm oonscicmc dc um pmpósilo ñrmc pam 0 qual mmha' vida Íoi
dimcionada:
7 h í 4 3 ') l
('0n.slun- ('om ('nm x\lgumus ()cu.s|u- Rurumcntc Nuncu
lcmcntc muilu lrcqüünuu \ 'L/c.\ nulmcnlc
lrcqüônuu

l9. Tcnhoscnlidoa falladc um uzbalhoquc valmc a pcnascr fcimcm mmh' vndL"


I “ 3 4 i (› 7
Nuncu Rurumcnlc ()L'o|'5lU- Algumus Cum Com Conslnn-
nulmcnlc vclcs írcqüênclu muitu tcmcnlc
Írcqüônciu
256 APLICAÇOLS PRMICAS DA LOGOThRAPlA

20'. Tcnho scnúdo a dclcnnmaço" dc alançar algo quc atcp alún do comumz
7 6 5 4 3 2 l
('omlun- Com Com A l gumas Ocusio~ Ruramcnlc Nuncu
lcmcmc muitu lrcqüência vucs nalmente
írcqüênciu

Rcimprcsso cum a pcrmissão do Px.\_cumctric Affiliatcs., Murfrccshoro. ›l'cnnc.x'scc.


APENDICE H

ESCALA DE AVALIAÇÃO
NO REAJUSTAMENTO SOCIAL

Cada íato quc vivenciamos pode ser avaliado dentro das "unidudcs
de crises exislenciais". 0 quadro abuixo cspecitica esscs Iutos,
classiíica-os numa escala dc l a 43 c estabelece um valor a cadu um
deles.

Some os valores das unidadcs de crises cx1'stenciais. correspondenles


aos fatos que você vivenciou nesles úllimos dois anos. Delennine
agora 0 número de pontos teiIos, de acordo com a escala que se
seguez

150 a 199 - Cnlscs cxislcnciaús bnmdus (33'/'r” dc chanwc dc ..xl'occcr)

200 u 299 - ans cxistcnciaús nxxicmdus (5()S(' dc chzmw dc aukicwn

300 ou 111u".s' -Cn'.scs c.\'ix.'tcm'm's .\CVC[1L\ (8()% dc chzmoc dc udooccn

Alguns dos eventos abaixo dcscmos podcm scr evitados ou adiud05.


E aconselhável programar sua vida de maneira a não acumulm mais
de 150 de uma só vez.
258 APLICAÇÓILS PRÁHCAS DA LOUOIERAPIA

Evento Unidadcs
z
no

dc cm
emmm

1 Morte do Cônjuge 100


2 Divórcio 73
3 Separação matr1m'onial 65
4 Período na cadeia 63
5 Morte de tamiliar ínnm'o 63
6 Prquízo ou doença pessoal 53
7 Casmcnto 50
8 Perda de emprego 47
9 Reconcüiação mamm'oniaJ 45
10 Aposemadoria
ll Doença na tamília
12 Gravidez

Éàâà
13 Problemas sexuaís
14 Nascimenlo de um tilho 39
15 Modificação nos negócios 39
16 Mudança no status tinanceüo 38
l7 Morte de um amigo íntimo 37
18 Mudança de rmo no trabalho 36
19 Moditicação na quantidade de discussões com cônjuge 35
20 Hipoteca acima de US$25.000 31
21 Execução de hipoleca ou empréstlmo 30
22 Mudança de responsabilidade no trabalho 29
23 Filho ou filha saíndo de casa ' 29
24 Problcmas com parentes por atinidade 29
25 Realizações pessoais em evidência 28
26 Esposa começa ou pdr"a de trabalhar 26
27 lnício ou término de estudos 26
28 Mudança nas condições de vida 25
29 Revisão nos hábitos pessoais 24
líVCALA 1)L:A\'AI.1AÇA'0 NO RL~AJL'STA1\IL¡K\"I'O SOCIAL 259

í 30 Problemas com o patrão 23


' 31 Mudança nas condiçõcs ou homr'io de trabalho 20
32 Mudança dc residência 20
33 Mudança na escola 20
34 Mudança na recreação 20
35 Mudança de atividades relígiosas 19
' 36 Mudança nas atividades sociais 18
37 Hipoteca ou empréstüno abaixo de US$25.000 17
38 Mudança nos hábitos de dorm1r' 16
39 Mudança no número de reuniões tamiliwes 15
40 Mudança nos hábitos alimentares 15
41 Férias 13
42 Natal 12
43 Pequenas transgressões da lei 11

lmprcsm com u pcrmissão do .Inurnul anAyvllonwlric Rcsmrrh V (l l) Holmes und R.1'hc.


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