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Filial do Rio de Janeiro

SETOR DE INFORMAÇÃO E PREPARAÇÃO

ASPIRANTE: VANESSA FERREIRA MENDONÇA DE CARVALHO

PREPARADORAS: ROSEMARY MOREIRA E ROSA CERQUEIRA

OBJETIVOS DA LOGOSOFIA EM TEMPOS DE PANDEMIA


Parte 1 – Evolução consciente em meio às adversidades
“Como bons navegantes, devemos todos enfrentar os furacões e as grandes ondas,
porque enquanto todas as coisas passam, permanece tão somente o que é real, o que é
eterno. E nesse eterno, nisso que permanece, devemos todos afirmar o melhor de nossas
vidas. O eterno e permanente é a parte de Deus que cada um leva consigo, parte que faz
florescer, até nos momentos mais amargos, a esperança de dias melhores. Essa parte é
imortal e Quem criou a vida e lhe infundiu alento jamais a destruirá, porque é a sua
própria Obra. ” (PECOTCHE, Introdução ao Conhecimento Logosófico, pág. 474).
Rio de Janeiro, abril de 2020. Quem escreve é Vanessa. Sou uma, dentre as bilhares de
pessoas no mundo, que nesse momento estão tendo que se adaptar a uma nova rotina
decorrente das ações de distanciamento social adotadas em várias partes do planeta,
para tentar frear a velocidade de propagação do vírus COVID-19 que provoca a doença
conhecida atualmente como Coronavírus. Segundo o site do Ministério da Saúde,
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente
do coronavírus, descoberto em 31 de dezembro de 2019 na China, é quem provoca a
doença conhecida pelo mesmo nome.
Em resumo, para achatar a curva de contaminações e garantir que os leitos atendam
não só os novos casos de Coronavírus, como também as doenças e emergências de
sempre, é preciso reduzir o volume de pessoas circulando nas cidades, o que implica em
escolas fechadas, empresas operando quando possível com planos de contingência
acionados (funcionários em sua maioria trabalhando em homeoffice ou operações em
escala, antecipações de férias, cancelamentos de viagens etc.), autônomos vivendo de
reservas financeiras ou buscando se reinventar para sobreviver financeiramente e uma
vida diferente para todos, inclusive para aqueles, que por trabalharem na área da saúde
ou em segmentos relacionados à indústria ou ao comércio de itens de subsistência estão
trabalhando a todo o vapor.
Se há meses atrás me dissessem que as escolas fechariam, que minha ajudante e meus
pais precisariam se preservar e não poderiam me ajudar, que eu precisaria ter ainda
mais energia no trabalho e ainda guiar meus filhos nas atividades escolares, estar bem
emocionalmente para também apoiar meu marido, cuidar da casa e que a vida haveria
de continuar, bem, com um sorriso no rosto, porque as crianças ficariam meses sem
poder sair de casa e eu como mãe ia querer que o impacto social disso fosse o menor
possível para elas, eu acharia a maior loucura e completamente improvável que isso
acontecesse...
Justo eu, que sempre fui da rua, da natureza, das viagens, dos esportes ao ar livre e vinha
criando meus filhos ainda pequenos (com 4 e 7 anos) assim, passaria também por esse
desafio sem aviso prévio, sem preparação, assim mesmo de uma notícia em uma sexta
à noite para uma segunda de manhã sem aulas. Justo eu que adoro um abraço, um beijo,
um carinho e muitas comemorações, passaria um aniversário com contato físico restrito,
sem festas, pelo menos não no modelo tradicionalmente conhecido.
Mas justo eu que tenho me preparando há alguns meses para me tornar uma
neodiscípula da Logosofia (ciência cuja força renovadora e construtiva do método auxilia
no cumprimento das realizações conscientes que o processo de evolução exige), venho
percebendo em mim uma série de recursos para superar os desafios que o momento
traz.
Dito isso, relendo mais uma vez os objetivos da Logosofia destacados no livro Curso de
Iniciação Logosófica, páginas 16 a 18, percebi que eles me tocaram de uma forma
diferente nessa leitura.
Como a Logosofia é o estudo da prática, da vivência, é natural que diante de diferentes
experiências, minha interpretação vá ganhando outros olhares.
E o que toda essa mudança na forma de viver nas últimas semanas com a chegada do
COVID-19 aqui no Brasil está trazendo de experiência para mim? O que essa experiência
combinada com cada um dos objetivos da Logosofia pode trazer de bom no meio do
aparente caos?
O primeiro objetivo da Logosofia destacado no livro Curso de Iniciação Logosófica, pág.
16, está relacionado à evolução consciente do homem, mediante a organização de seus
sistemas mental, sensível e instintivo.
”A evolução consciente implica em mudar de estado, de modalidade e de caráter,
conquistando qualidades superiores que culminam com a anulação das velhas
tendências e com o nascimento de uma nova genialidade” (PECOTCHE, Logosofia –
Ciência e Método, pág. 38)
A verdade é que o momento atual traz uma série de inquietudes e diante delas, pude
perceber três caminhos: o primeiro deles é permanecer inerte a tudo o que está
acontecendo à sua volta, o segundo é de reagir negativamente a tudo o que está
acontecendo (com desespero, nervosismo, tristeza, desânimo, etc.) e o terceiro é o de
buscar no processo interno (porque no externo as notícias são realmente
desanimadoras) o pensamento que incita a mente e o ânimo à realização de um bem
maior, conquistando essas qualidades superiores e contribuindo para o nascimento
dessas nova genialidade como proposto por Pecotche.
Na Logosofia, um dos primeiros ensinamentos que aprendemos, ainda na Infância, é que
podemos controlar os nossos pensamentos (aprendi com os meus filhos que estudam
no Colégio Logosófico). Nesse momento que o nosso país vive, com pandemia,
isolamento social, notícias tristes na televisão, conflitos políticos, ânimos exaltados e
brigas pela janela, crise econômica, pessoas com fome, ter esse olhar interno de como
estamos sendo individualmente afetados por tudo em volta, de que pensamentos
precisamos combater e com quais defesas mentais e quais pensamentos precisamos
estimular, de quais as escolhas precisaremos fazer para retomar o governo da própria
vida e de como levar o bem para as pessoas parece de fato a alternativa mais acertada.
Sim, porque esse também está sendo um momento de testemunhar uma onda de
solidariedade de um tamanho nunca antes mensurado, um momento de se reconectar
com o que é realmente importante, de fazer com que o progresso de fato possa
contribuir para um processo real de evolução, um momento de todos nós, seres
humanos, entendermos a força dos aspectos transcendentes e a fragilidade da nossa
matéria física (porque nessa hora não importa o quão rico ou esteticamente bonito você
é, estamos todos diante da nossa fragilidade perante a um novo vírus e de todos os
problemas que ele vem trazendo com ele).
“Sendo, pois, o processo interno o meio natural para a realização consciente de uma
evolução que se cumpre em virtude dos conhecimentos transcendentes que se adquirem,
fácil será admitir que nossos mais qualificados pensamentos hão de ser postos a serviço
dessa evolução, em cuja efetiva realização a inteligência há de participar de forma ativa
e constante, como força essencial que impulsiona e concretiza cada passo, cada ato em
favor da perfeição. ” (PECOTCHE, Logosofia – Ciência e Método, pág. 41).
Focar nos pensamentos de colaboração, de afeto, de compreensão, de alegria, descobrir
novas possibilidades de acesso gratuito à cultura e à arte, aproximar-se de outras
maneiras das pessoas importantes para nós, criar novas formas de entretenimento e
lazer, esforçar-se para aproveitar melhor o tempo e evoluir de forma consciente, ser
útil, buscar um propósito maior nas ações (nas vidas pessoal e profissional), e filtrar um
pouco os momentos e a forma de se atualizar em relação às notícias, são alguns dos
recursos que tenho procurado utilizar no meu dia-a-dia nesse momento.
Parte 2 – O re-conhecimento de mim mesma
Esse também é um momento que a leitura do segundo objetivo da Logosofia – o
conhecimento de si mesmo – que implica o domínio pleno dos elementos que constituem
o segredo da existência de cada um (PECOTCHE, Curso de Iniciação Logosófica, pág. 17)
– me permite re-conhecer a mim mesma sob outro olhar.
“A Sabedoria Logosófica quer que todas as obras de valores permanentes para a alma
humana cheguem, se não à perfeição – pois são muitas as deficiências que o ser humano
tem -, pelo menos a um alto expoente de beleza; e quer também, que cada um dos traços
que apresente seja natural, que não exista nada artificial ou postiço. Eis aí o grande
segredo. ” (PECOTCHE, Introdução ao Conhecimento Logosófico, pág. 324).
É... Permita-me explicar um pouco melhor. No último dia 19 de março, eu completei 37
anos aqui. Pela primeira vez nessa vida, sem festas, sem a presença física de pessoas
muito importantes na minha vida. Mas com uma força nas palavras, que eu nunca tinha
sentido antes... Era como se as pessoas tentassem compensar a falta do beijo ou do
abraço que estavam acostumadas a me dar em dias como esse com as lembranças e
imagens do que eu representava para elas... Palavras como “leveza” e “simplicidade”
foram usadas para me descrever, o som da minha gargalhada ecoou por muitos lugares
(mesmo eu estando “isolada”) e foi motivo de sorriso e lembrança em muitos amigos,
que fizeram questão de destacar essa característica e, pela primeira vez, eu pude
reconhecer fortemente a minha essência nas mensagens escritas e faladas de outras
pessoas.
Nesse momento que estamos vivendo, com toda a pressão, todo o medo, toda a
incerteza, leveza e simplicidade para encarar os problemas e trazer soluções me
parecem elementos essenciais. Diante de tudo isso, tenho de fato um papel importante.
Para minha família, para os meus amigos, para o lugar onde eu trabalho e para as
milhares de pessoas impactadas por ele. Sim... Lavar louça já virou brincadeira, buscar
oportunidades de redução de despesa e energia com o que não é importante nesse
momento para poder doar mais virou meta e, diante de todas as incertezas e
inquietudes que o momento traz, a minha gargalhada vai continuar ecoando. E justo eu,
que adoro viajar e ter contato com a natureza, estou aprendendo a admirar as
montanhas que consigo ver lá longe de dentro da minha casa, a reparar em como as
estrelas estão brilhando mais lá no céu, em como a lua está cada dia mais linda e como
o sol entra gostoso por dentro das redes de proteção.
O isolamento social encurta distâncias e flexibiliza os horários e permite, por exemplo,
que eu me reencontre há 20 anos atrás dançando ballet com as minhas amigas e
professoras queridas por meio da tecnologia. Estar em casa aproxima meus filhos um do
outro (que amizade bonita de ver). O momento atual me torna ainda mais útil no
trabalho, com a missão de ajudar na viabilização de entregas dos nossos produtos a
milhões de consumidores que não podem sair de casa, de reinvenção de tarefas e
criação de novas oportunidades para funcionários de lojas fechadas que assim são
melhor aproveitados (e garantem não só os seus empregos, mas também um propósito
no momento em que estamos vivendo), de reduzir ineficiências operacionais para poder
doar mais, de participar de um projeto incrível chamado “Juntos Somos Mais Solidários”
e até de uma roda de conversas com outras mães da Companhia sobre os desafios da
maternidade nesse momento, trazendo recursos para conciliar filhos e carreira com
mais amor, mais propósito e menos culpa...
E eu que achava que era impossível seguir trabalhando com energia total, com as
crianças sem poderem ir à escola, sem ajuda em casa que não seja delas mesmas e do
meu marido e sem compartilhar da presença física de familiares e amigos tão queridos,
estou descobrindo, em mim mesma, novas possibilidades. Controlando o cansaço,
tornando a minha vontade o meu maior combustível, buscando ter mais paciência e
tolerância com todos à minha volta, porque o momento é de adaptação para todos não
só pra mim e redefinindo ou confirmando minhas prioridades, sigo procurando
aprender, evoluir e ensinar com cada descoberta interna.
Esses dias, cheguei em casa muito cansada do trabalho, corri em direção ao banho para
todo o processo de higienização necessário antes de poder abraçar meus filhos, jantei,
mas ainda tinha roupa para lavar e estender, louça para lavar e olhar as atividades
pendentes das crianças na escola. Cheia de sono, só queria minha cama quentinha e os
meninos me pediram insistentemente para brincar de “guerra de travesseiro”. Tirei
força da alma e fui com tudo. Para minha surpresa, uma leveza enorme tomou conta de
mim e mais uma nova descoberta nesse momento foi alcançada por mim: A alegria
descansa. E aqueles 15 minutos de “guerra de travesseiro” me renovaram para uma
noite de sono mais relaxada e um dia seguinte ainda mais desafiador e incrível em casa
e no trabalho.
Maestro me guiou e encontrei dentro de mim mesma, do meu processo interno, do
meu espírito, da minha consciência. Pronto! Já sei o que eu quero agora e estou cheia
de energia para continuar o meu processo de evolução consciente e superar as
adversidades lá fora e, por que não, aqui dentro.
“Cada um deve cultivar o bem dentro de si mesmo; este é o maior bem de todos os bens,
por constituir-se em uma fonte capaz de prodigalizar ao semelhante o de que ele
necessita. ” (PECOTCHE, Introdução ao Conhecimento Logosófico, pág.316).
Parte 3 – Aproveitando os valores originados em minha própria herança
O terceiro objetivo da Logosofia está relacionado à Integração do Espírito para que
possamos aproveitar melhor os valores originados em nossa própria herança.
“... ao cessar a vida física, o espírito recolhe e leva impressa na célula mental, hereditária
ou genética, a síntese histórica que extrai da consciência do ser físico que a integra, cujo
valor depende das oportunidades que este lhe foi oferecendo para manifestar-se e
governar a vida quanto a formas superiores de existência. Se as atuações anteriores
concorreram para realizações elevadas, o espírito entrega, em cada nova etapa da
existência, o que delas ficou, as reservas acumuladas, o que o homem mesmo foi capaz
de fazer e não mais.” (PECOTCHE, O Espírito, pág. 69).
Isso quer dizer que eu trago como herança algumas reservas acumuladas. E quais seriam
elas? Certamente, precisarei de bastante estudo, para identifica-las com mais precisão
e amplitude, mas, como parte desse processo de conhecimento de mim mesma, tenho
pensado muito sobre características que percebo com muita força em mim desde muito
pequena.
Do ponto de vista de propensões, de fato, como os meus amigos descreveram, acho que
eu sempre tive uma perspectiva mais positiva na minha forma de enxergar a vida, talvez
por um lado sonhador, talvez por uma certeza lá dentro de que eu posso fazer dar certo.
Da mesma forma, sempre tive um espírito maternal muito forte (nunca fui de brincar de
Barbie, nem de modelar com as bonecas, mas sempre tive “filhos” bonecos que levava
para passear, dava banho, colo, conversava e colocava pra dormir). Lembro também de
minha mãe ter alguns papos de “gente grande” comigo quando eu ainda era bem
pequena e lembro de ter uma maturidade emocional grande para uma criança da minha
idade. Tanto que muitas dessas conversas continuam na minha cabeça até hoje como
grandes ensinamentos. Mas desde muito pequena também sempre entendi que não
existia superação sem esforço e sempre me planejei para alcançar aquilo que eu queria.
É algo realmente muito meu, e de forma natural, me pego sempre planejando as
próximas etapas.
Por outro lado, lembro que se tinha algo que me tirava do sério era o que eu classificava
como injustiça, cheguei a brigar feio com coleguinhas de classe por achar que eles não
estavam agindo da melhor maneira com outros colegas. E depois disso fiz juízo de valor
de muitas pessoas que passaram por mim ao longo da vida, embora, mais madura, não
apontasse o dedo e nem guardasse mágoas. No fundo, era como se eu estivesse certa e
aqueles que pensavam ou tinham comportamentos diferentes dos meus estivessem
errados. Isso me perseguiu por bastante tempo até eu entender mais recentemente que
o que eu fazia com isso não era ser legal para proteger os injustiçados, mas era um
julgamento. Um julgamento daqueles bem injustos, conhecendo só um lado da história.
Um julgamento daqueles que se baseava no certo a partir das minhas experiências de
vida e não considerava as dores do outro.
Estudando Logosofia, entendi mais claramente que verdades absolutas são tão frágeis
quanto a cegueira do crente. E que há muito que a gente não conhece para afirmar tão
veemente.
Cada dia mais, tenho exercitado mais a tolerância. E a pandemia tem potencializado esse
exercício, afinal no meio de tantas incertezas, as reações das pessoas têm sido de todos
os tipos, e tantos comportamentos ruins tem aparecido, que me esforço para
questionar: “Quais as dores dessa pessoa? Qual o lado que eu não conheço e que faz
com que ela aja assim? O que eu posso fazer para ajudar? Que reflexões posso provocar
para chegarmos a um caminho melhor”. E diante disso tudo aumenta a minha certeza
de que jogar a capa de justiceira fora me ajuda a ser uma pessoa melhor, mais harmônica
e a trazer qualquer bem que tenha se perdido no caminho, de volta. Ter força e energia
para mobilizar as pessoas em torno do bem é maravilhoso e um ideal a ser conquistado
todos os dias. Mas ter força e energia para brigar de forma incisiva pela minha verdade
absoluta não vai me levar a lugar nenhum. Eu não preciso anular essa herança tão
marcante, mas direcionar essa força e energia para atingir de fato os propósitos.
Nessa pandemia, tive a oportunidade de assistir sozinha (depois que todos dormiram)
um filme chamado “A Cabana” (estória de William P. Young, direção de Stuart
Hazeldine). Apesar do final feliz, eu não párava de chorar depois que o filme acabou.
Crenças e religiões à parte, o filme ficou na minha cabeça por semanas (na verdade,
ainda está). Não conseguia parar de pensar no filme. E resolvi me dedicar a entender o
porquê de tanta inquietude, no porquê daquela estória (de ficção ou não) ter mexido
tanto comigo. E percebi então que, dentre inúmeros outros conceitos e reflexões que
ela provoca, ela me aproximou do Criador como mãe, porque ela me fez pensar em
pessoas que cometem erros cruéis demais (na minha capa de justiceira) como filhos,
como crianças que por maior que fosse o erro, eu não conseguiria lhes tirar a vida ou
torcer por qualquer maldade, nem deixa-las à margem de tudo e de todos e, por isso,
eu chorei. Chorei de amor pelos meus filhos, mas muito mais de amor pelos filhos de
Deus. Chorei porque o amor era tão grande, que foi maior do que todo o ódio que eu
podia sentir pelo mal. Porque o filme me tocou lá no fundo com imagens tão
representativas do que é a sabedoria, do que é o perdão, do que é olhar além das nossas
próprias verdades e afastar julgamentos para me aproximar de Deus. Porque reforçou
em mim ainda mais a importância de ter um propósito e de seguir em frente sem olhar
para baixo. Porque há muito a ser feito por uma humanidade melhor, mas que somos
nós que precisaremos fazer. Cada um de nós. Essa é a nossa missão.
“Tudo o que vive no Universo está movido por uma mesma e única fonte de energia. Em
âmbito menor, também o homem conta dentro de si com essa mesma fonte, que se ativa
ao pôr-se em contato com a vida universal. Essa fonte de energia é a consciência, única
capaz de mover todo o mecanismo psicológico humano e, com isso, os canais do
sentimento, o que torna os homens grandes, abnegados e nobres. ” (PECOTCHE, O
Espírito, pág. 87).
Que eu, por meio do meu processo de evolução consciente, lembre-me sempre desse
amor.
Parte 4 – Conhecimento das Leis Universais
Falamos na Parte 3 sobre o Espírito e os valores originados na nossa própria herança.
“É próprio do homem inquietar-se com o além-mundo, com o seu destino ultrafísico,
inquietude que se aguça de vez em quando por efeito de algum padecimento ou por
encontros com enigmas que a humanidade tem procurado em vão desvendar. O espectro
da morte o aterroriza. Contempla seu ser físico e se estremece pensando que pode perdê-
lo, que o perderá irremediavelmente; e pergunta a si mesmo, com insistente ansiedade,
se lhe seria possível escapar dessa imaginada voragem que o vai levando
inexoravelmente para a desintegração total de sua existência.” (PECOTCHE, O Espírito,
pág. 23)
No cenário atual de pandemia, com o número de mortos, vítimas do COVID-19,
aumentando a cada dia no Brasil e no mundo, é natural que esse medo da morte venha
a aterrorizar. Não só pensando em nós mesmos, mas nos nossos familiares, amigos e
pessoas queridas. Nesse momento, precisamos manter a calma, pois as notícias
contribuem para o aumento desse temor. Nesse sentido, tenho buscado obviamente
seguir os cuidados recomendados pelos médicos e especialistas, mas sem deixar que as
estatísticas me paralisem em relação a seguir em frente. Afinal, há muito o que ser feito
nesse momento e precisamos nos adaptar para uma nova realidade que ao que tudo
indica vai demorar mais a passar do que imaginávamos inicialmente e talvez nem volte
mais a ser exatamente o que era antes.
E é aí que o conhecimento das Leis Universais é fundamental para nos ajudar a seguir
em frente, buscando cumprir o nosso papel nesse momento tão importante, que exige
superação.
Nesse sentido, tenho procurado criar uma rotina, acordando cedo para estudar e fazer
algum exercício físico e acordando as crianças na sequência, a fim que eu possa ajuda-
las nas tarefas escolares logo pela manhã antes de ir para o trabalho. Tenho chegado
um pouco mais tarde no trabalho do que chegava antes, mas procurando focar e ser o
mais produtivo possível nas entregas que me proponho a fazer.
À noite, dedico tempo a conversar com o meu marido, enquanto jantamos, lavamos a
louça e damos um jeito na cozinha. E depois parto para as brincadeiras com as crianças,
que muitas vezes começam estendendo roupa no varal e regando as plantas,
desenvolvendo esse senso de colaboração nelas, e entrando em conversas cada vez mais
interessantes com elas. Como é bom ter filhos questionadores e que se sentem livres
para intercambiar reflexões, dúvidas e aprendizados. Como eles me ensinam...
“Dominar o tempo, fazendo com que ele seja fértil ou produtivo é ter conquistado uma
das chaves da evolução.” (PECOTCHE, Exegese Logosófica, pág. 104).
De fato, se eu não tivesse me organizado dessa forma para aproveitar melhor o tempo,
não conseguiria dar conta de tudo e me sentiria mais sobrecarregada e frustrada por
não conseguir me dedicar da forma como eu gostaria. Nesse exercício de domínio do
tempo, a sobrecarga abre espaço para um certo orgulho e admiração (pode parecer
meio egocêntrico da minha parte falar isso), mas uma certeza de que estou buscando
fazer o meu melhor e tenho conseguido bons resultados (não sei se os melhores
possíveis, mas bons resultados) com isso. E ao invés de pensar em quando vai acabar
toda essa loucura, penso em como essa loucura (virando um novo normal) pode
fortalecer os meus propósitos e me impulsionar para fazer mais e melhor a cada dia.
A verdade é que um grande aliado do tempo é também o movimento. E essa rotina
estabelecida vem me ajudando bastante a manter o movimento. Com o pensamento de
ser útil e buscar as realizações desejadas, sigo firme, contornando a vontade de
encontrar meus pais, familiares e amigos com reuniões animadas por vídeo conferência
com eles, buscando também estimulá-los ao movimento e a pensamentos positivos.
A lógica aqui não está associada a ignorar o momento difícil que estamos passando, mas
em focar as energias em superá-lo ao invés de lamentar.
Mais do que nunca, fica marcada a nossa fragilidade física diante do vírus e isso exige
um fortalecimento mental para superação. E, nesse momento em que as pessoas mais
precisam de ajuda, além dos movimentos de doação de alimentos, de itens de limpeza
e de proteção individual tão necessários, é preciso também doar afeto, formar redes de
apoio e ajudar as pessoas à nossa volta a entenderem que precisamos nos adaptar à
nossa nova realidade. Brigar e esperar que tudo volte a ser como antes é só ampliar o
sofrimento diante de algo que não vai acontecer, nem mesmo quando a vacina ou o
medicamento for descoberto. O mundo está se transformando e precisamos reorganizar
a nossa vida para evoluir. Com amor, afeto e gratidão, tudo fica mais fácil. Como diria
minha docente Rosemary Moreira, “os sentimentos têm mais força do que mil
pensamentos juntos”.
Sigamos em frente movidos por esses sentimentos.
“Quando as lutas que a vida lhe oferecer forem duras, suavize-as. Não aumente a dureza
tornando-se pessimista ou deixando que o seu vigor decaia.” (PECOTCHE, Bases para sua
conduta, pág. 37).

Parte 5 – Conhecimento do mundo mental, transcendente ou metafísico


O quinto objetivo da Logosofia está associado ao conhecimento do mundo mental,
transcendente ou metafísico. Pecotche, na obra “O Espírito”, pág, 34, coloca que
enquanto os conhecimentos transcendentes regulam as forças que colaboram na ação
dos pensamentos e dos sentimentos, engrandecendo as almas e permitindo que se
manifestem as luzes da inteligência, os que não são transcendentes se ajustam às
limitações da mente humana, sendo necessários para atender à subsistência e contribuir
para os descobrimentos que melhorem essa mesma subsistência, mas nada além disso.
Nesse sentido, quando falamos desse quinto objetivo, precisamos ter em mente que
não podemos nos limitar no pensar e no sentir. Por que não pensar sob outras
perspectivas? Por que não estimular as novas ideias? Por que não se reinventar? E nesse
momento em que estamos vivendo, o objetivo pode ser muito maior do que sobreviver
à pandemia. O objetivo ao conhecer o mundo mental é evoluir, é ser melhor, é fazer
melhor, é alcançar propósitos de bem e para o bem. Pensar “fora da caixa” pode trazer
uma grande evolução nesse momento. Devemos pensar nas adversidades como um
importante estímulo para a superação, como o que nos tira da zona de conforto e coloca
à nossa mente obstinada a solucionar problemas de maior complexidade em prol de
uma humanidade melhor.
“Quando não se sente dentro de si, profundamente, a imanência do conhecimento
transcendente, não se pode experimentar a sensação de possuí-lo; quando esse
conhecimento não consegue iluminar de forma permanente o cenário da razão
individual, sua luz se apaga e desaparece na penumbra do esquecimento, como
desaparece um fugaz raio de luz depois de nos iluminar por um instante.” (PECOTCHE,
Logosofia – Ciência e Método, pág. 131)
Quando olhamos o cenário atual como uma oportunidade para nos aperfeiçoarmos e
combatemos a paralisia gerada pelo medo numa onda de positividade, geramos um
ambiente favorável para que as pessoas à nossa volta se contagiem e acrescentem força
e energia a esse movimento de superação coletiva.
Nesses dias, Luiz Felipe, meu filho mais velho, desenhou em um papel o que poderia
fazer para tornar o mundo melhor. Ele desenhou o seu rosto e desenhou muitos outros
rostos com características diversas à sua volta; em comum, todos os rostos eram
sustentados por grandes e coloridos corações e, em cima do desenho, escreveu a
seguinte mensagem como resposta ao questionamento inicial: “Espalhando alegria por
aí...” Com apenas sete anos, ele já percebeu como a alegria pode ser poderosa, como
ela ilumina as pessoas, contagia e as une.
João Guilherme, meu filho mais novo, no mesmo dia resolveu desenhar o que lhe fazia
feliz e registrou momentos tão simples, únicos e grandiosos de conexão entre a nossa
família, que além da gratidão enorme que senti por conviver com um serzinho tão
especial, refleti sobre como as crianças entendem a transcendência de um beijo de mãe
(capaz de curar qualquer machucado), o valor de uma boa risada com os amigos, aquele
orgulho de uma boa atitude do pai e do irmão, com quem tem vontade de aprender
tantas coisas...
E são esses momentos, são essas compreensões e externalizações que as crianças fazem
com tanta facilidade que não podemos deixar se apagar diante dos problemas não
transcendentes que pairam a sobrevivência.
Sendo assim me aproximar dessas reflexões nesse momento tem sido um recurso tão
importante quanto me afastar sempre que necessário de qualquer onda de pessimismo,
seja nos noticiários, redes sociais ou falas de amigos e familiares em conversas remotas
ou ao vivo, não de forma permanente, apenas temporária, para que eu possa voltar mais
forte a fim que essa onda de positividade cresça dentro de mim até transbordar por
todo o entorno.
E, iluminada por essa positividade, os conhecimentos transcendentes se fortalecem,
mostrando pra mim em vários momentos que muitas coisas que pareciam impossíveis
antes da pandemia estão se provando totalmente possíveis. Que bom é saber que eu
posso ir até onde eu quiser mesmo dentro de casa. Que bom é ter o domínio da minha
própria vida. Que bom ter essa consciência para não me limitar.

Parte 6 – Edificação de uma nova vida e de um destino melhor


Superando ao máximo às prerrogativas comuns, por que não fazer do ano de 2020 um
ano de muito desenvolvimento, esforço e realizações? O que tudo isso que está
acontecendo pode contribuir para um futuro melhor?
O sexto objetivo da Logosofia preza pela edificação de uma nova vida e de um destino
melhor. E esse é um momento em que podemos lamentar as mazelas pelo mundo,
permanecer inertes buscando apenas a sobrevivência ou nos aperfeiçoar na arte de
esculpir um novo “eu”, melhor. Bom, como já trago na minha herança a opção de
sempre preferir ser feliz, vamos virar artista!
Virou meta esculpir um novo “eu” que pode de inúmeras maneiras contribuir para
formar uma humanidade melhor, seja como mãe de dois filhos, esposa, filha, irmã, tia,
líder de equipes de trabalho, amiga e até mesmo me redescobrindo como escritora
(como eu gostava de escrever quando criança e como eu nunca mais escrevi) e como
palestrante (convites felizes nessa quarentena no meu trabalho para compartilhar
aprendizados).
Para isso é preciso que eu esteja aberta a ouvir, aprender, experimentar, compartilhar
experiências e intercambiar reflexões com quem estiver ansiando por isso. Logo, 2020
também pode ser um ano simbólico para eu finalmente ingressar na Fundação
Logosófica como neodiscípula. Por que não? Falta de tempo? Ah, o tempo... Como ele
vem se mostrando elástico... Falta de vontade? De jeito nenhum, vontade demais de ser
melhor.
Então, vamos de meta novamente. É preciso muito esforço, quero a obra mais bonita
que eu puder construir e para isso vou precisar paulatinamente aprender mais. Preciso
ter certeza de que sempre haverá algo a mais para aprender e melhorar. E que a cada
nova experiência, que a cada novo dia, que a cada novo intercâmbio, que a cada nova
pessoa em meu caminho, eu serei capaz de desconstruir pedaços e refazê-los com os
novos aprendizados, tantas vezes quantas forem necessárias para que eu possa de fato
ajudar a melhorar mais e mais o mundo.
“Trabalhar, trabalhar sempre: eis o lema de toda a vida grandiosa. Trabalhar para que
a mente esteja constantemente preparada para iluminar o caminho escolhido. ”
(PECOTCHE, Coletânea da Revista Logosofia, Tomo III).
Parte 7 –Aprender, pensar e realizar
Difícil listar tantos aprendizados que esse ano de 2020 vem me trazendo. Mas nesse
trabalho procurei com a ajuda dos objetivos da Logosofia relembrar e registrar para não
mais esquecer alguns deles.
Entendi que não existe felicidade sem gratidão e que os limites que eu achava que
existiam, simplesmente não existem mais. Conheci uma força dentro de mim que não
imaginava que tivesse e aprendi também que preciso direcionar toda essa energia da
forma mais estratégica possível para alcançar propósitos maiores. Que a tolerância, o
equilíbrio e a paciência são muito importantes para que eu possa agir cirurgicamente na
disseminação de soluções, de leveza, de alegria e de superação. Aprendi que o simples
é melhor que o complicado. E transformei aquela crença de que o bem sempre vence o
mal em convicção.
Nessa pandemia, redefini prioridades, assumi projetos novos no trabalho, aumentei
minha conexão com a minha família, tomei a decisão de ingressar na Fundação, voltei a
dançar ao acordar e a brincar de “guerra de travesseiro” antes de dormir, tornei o
impossível, possível e vejo um caminho de muita luz pela frente, com muito esforço,
conquistas e realizações. Agradeci todos os dias por cada passo e sou feliz, não como
meta, mas como estado de espírito.
“Em cada novo dia que a vida penetra, o ser deve encontrar um incentivo para vive-la
melhor e, também, algo que lhe dê inspiração sobre o que deve fazer para que os dias
vindouros superem os atuais, e para que, ao vivê-los, esses lhe proporcionem o benefício
de sentir-se cômodo, seguro e pleno de felicidade. ” (PECOTCHE, Mecanismo da Vida
Consciente, pág. 53).
Vamos em frente!
Rio de Janeiro, junho de 2020.

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