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São Paulo
Julho de 2022
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família e especialmente à minha mãe, Sibele Bonomi, e ao meu pai, Sérgio
Almeida, dos quais recebi, junto com seu afeto, uma imensa vontade de mudar o mundo.
Aos meus amigos e amigas da Fundação Logosófica que, ombro a ombro, caminham comigo
investigando os mistérios da existência humana.
À minha orientadora, Ariadne Lopes Ecar, pela confiança, paciência e estímulos, além da
inspiração de professora que um dia eu quero ser.
Ao Caio Ades, meu companheiro e amor, que, com sua confiança, sensibilidade e vocação
pelo conhecimento, me inspira a ir além em todos os sentidos e cujas contribuições foram
fundamentais para a realização desta pesquisa.
Sumário
1. Introdução 3
2. Objetivos 4
3. Metodologia 4
8. Considerações finais 29
Referências Bibliográficas 30
1. Introdução
O argentino Carlos Bernardo González Pecotche projetou, através de sua obra e seus
pensamentos, o ideal de que as gerações vindouras fossem mais felizes que as da época em que
viveu. Como pensador e humanista, propôs, àqueles e àquelas responsáveis pela educação de
tais gerações, a missão de não só preparar um futuro melhor para a humanidade, mas também
de preparar a humanidade para forjar um futuro melhor. Para que se possa conceber a
profundidade desse ideal, é preciso compreender que, para Pecotche, a felicidade almejada não
consiste na alegria fugaz das conquistas materiais ou do acúmulo estéril de conhecimentos,
mas sim na consequência da aquisição de valores humanos fundamentais, sendo o principal
deles a liberdade de pensar.
Apesar de ter sido bem elucidada precisamente por Freire e outros intelectuais a questão
da liberdade humana, a busca por torná-la uma realidade muitas vezes parece esbarrar em um
inexorável obstáculo. A imagem de um ideal dificilmente exprime, com toda a didática, o
caminho concebido para torná-la uma realidade, principalmente se não capacita o seu
interlocutor a identificar em si os elementos que permitirão realizar tal ideal primeiro em sua
pessoa. Tendo isso em vista, pretendemos explorar a didática de Pecotche em busca de sua
visão em relação a uma nova dimensão causal do ser humano, sobre a qual são por ele propostas
ações e estudos que culminam com o encontro de meios para concretizar a liberdade de pensar.
Como pensador nascido no século XX, González Pecotche sofreu com os horrores de
duas guerras mundiais, o fortalecimento de governos ditatoriais, a insegurança econômica e a
incerteza do futuro global. Diante desse quadro desalentador, assim como outros pedagogos e
pedagogas contemporâneos a ele, buscou produzir e compartilhar conhecimentos que
pudessem contribuir com a esperança da formação de indivíduos mais felizes e conscientes e,
consequentemente, de uma humanidade melhor.
2. Objetivos
Esta pesquisa teve por objetivo investigar e refletir sobre o que ensina Pecotche em
relação ao combate à opressão que, cíclica e historicamente, vem afetando as mentes humanas.
Buscou-se compreender, a partir da perspectiva da Pedagogia Logosófica, alguns de seus
conceitos e práticas que auspiciam a promoção de uma educação que possibilite, desde a
primeira infância, o desenvolvimento livre e pleno das faculdades humanas, tendo em vista
serem estas a base para a verdadeira felicidade.
Por fim, sendo notória a ideia de Paulo Freire, no âmbito da Educação, de que a
educação libertadora é o meio para combater a opressão, foi proposto, também, um diálogo
entre esses pensadores, cujas ideias confluem em muitos aspectos. Tal diálogo, dessa forma é
muito oportuno, já que Pecotche oferece mais uma faceta para o conceito de opressão e
liberdade, ao considerar a pior opressão como a opressão mental, que priva o ser humano de
seu livre arbítrio. Consequentemente, considera a maior libertação a ser alcançada a soltura dos
grilhões mentais que acorrentam o homem aos preconceitos e às correntes sectárias que limitam
seu pensamento.
3. Metodologia
Sua busca por colaborar para a formação mais livre e feliz dos indivíduos levou o autor
a criar, também, a Pedagogia Logosófica, que é base para estudo e aplicação dos conhecimentos
logosóficos, tanto para crianças como para adultos. González Pecotche mostrou grande
preocupação com a infância, criando um setor de dedicação específica às crianças dentro das
instituições, chamado “Setor Infantil”.
1
Nomenclatura adotada pelo autor em sua literatura.
2
Site oficial da Fundação Logosófica do Brasil – Link: https://logosofia.org.br/. Acesso em 1 de novembro de
2021.
3
Dados obtidos em: https://logosofia.org.br/fundacao-logosofica. Acesso em 1 de novembro de 2021.
Além do Setor Infantil, pensado para os filhos dos estudantes regulares das instituições
logosóficas, ele idealizou também a criação de colégios que ensinassem o currículo comum
utilizando como base a Pedagogia Logosófica. O primeiro colégio Logosófico foi fundado em
Montevideo em 1963, pouco antes do falecimento do autor em 4 de abril do mesmo ano.
Imagem 3: Começo do ciclo letivo na primeira Escola Primária logosófica de Montevidéu (1963)
Aos 29 anos, González Pecotche, reagindo contra a rotina dos conhecimentos e sistemas
culturais usados para a educação e a formação do ser humano em sua época, criou a Logosofia,
uma ciência humanística que visa proporcionar recursos para investigação, conhecimento e
aperfeiçoamento de si mesmo, sobre a qual publicou uma vasta bibliografia e pronunciou
inúmeras conferências. Como exemplos de livros publicados do autor podemos mencionar
“Exegese Logosófica”, “Logosofia Ciência e Método”, “Curso de Iniciação Logosófica -
Técnica da formação individual consciente” e “O Mecanismo da Vida Consciente”,
originalmente escritos em espanhol e com traduções para outros idiomas como português,
inglês, francês, italiano e alemão.
Descrita pelo próprio autor como “ciência e cultura ao mesmo tempo” (2017-a, p. 11),
a Logosofia propõe uma capacitação ativa do próprio indivíduo para adquirir competência na
descoberta de mistérios humanos essenciais, dentre eles, o conhecimento de si mesmo.
Pecotche a sintetiza da seguinte maneira:
Dessa forma,
Para tanto, a Logosofia institui como meio natural de realização de tais ideais o
“processo de evolução consciente” (PECOTCHE, 2017-a, p.35), um encadeamento consciente
de ações obedecendo a um método de capacitação logosófico e a um ideal de superação. Por
meio dele, conhecimentos são captados e postos em prática em prol do desenvolvimento de
aptidões e de virtudes que habilitem o sujeito a colocar-se com maior autonomia perante a vida,
tornando-se capaz de beneficiar grandemente a si e ao coletivo com seu exemplo e seu saber.
Infere-se, pois, que, a uma maior capacitação logosófica, mais livre o indivíduo se
torna, e, quanto maior a liberdade, maior é a sua capacidade de criar pensamentos e soluções
fecundas para si e para a humanidade.
Por sua vez, os conhecimentos que “servem de ponte” entre o indivíduo e a mencionada
realização, são, segundo o autor, de cunho “transcendente”, o que significa que buscam apontar
as reflexões para a realidade que está além da física, qual seja a mental, psicológica e espiritual.
Ilustra, portanto, sobre uma configuração do ser humano que transcende a sua condição física,
constituindo, pois, seu campo de trabalho. Reconhece-a como uma conformação
“biopsicoespiritual" (PECOTCHE, 2017-b, p. 61), na qual uma dimensão espiritual é
adicionada à análise do indivíduo, além das esferas biológicas, psicológicas e sociais estudadas
pelas demais ciências. A partir dessa visão, desenvolve-se, portanto, uma docência que busca
as causas das ações do ser humano tanto em sua psicologia superficial como na profunda,
desenvolvendo ações pedagógicas a partir delas.
Por fim, um adendo importante há de ser feito para a compreensão da base conceitual
da ciência Logosófica: a criação da Logosofia visou oferecer novos conteúdos a conhecidas
palavras e conceitos, apresentando, portanto, concepções próprias das palavras que emprega,
tais como “consciência”, “espírito”, “evolução”, sendo seu estudo uma das competências do
processo logosófico. Isto posto, o conceito contido em tais termos serão oportunamente
elucidados para melhor compreensão das ideias do autor.
González Pecotche dedicou sua vida a compreender as razões pelas quais, apesar do
irrefutável avanço científico e tecnológico que a humanidade obteve ao longo dos séculos, o
mesmo não era possível constatar em relação ao avanço de sua vida moral e espiritual. Tal fato,
evidenciado no elevado grau de desorientação, violências e injustiças que podem ser
observadas ao redor do mundo, demonstra, segundo ele, a ausência de conhecimentos capazes
de dar aos sujeitos consciência de suas falhas, bem como recursos para promoverem uma
verdadeira transformação interna e externa. Segundo o autor:
4
Quimera (s.f.): fig. produto da imaginação, sem possibilidade de realizar-se; absurdo, fantasia, utopia
(Dicionário de Português Oxford Unity Press). Segundo o autor, o “quimérico” é constituído por toda uma gama
de objetos mentais (conhecimentos, pensamentos, conceitos, etc.) que, através de imposição de crenças cegas,
levam à alienação do indivíduo das questões que lhe conferem autonomia e liberdade interior, como a própria
constituição de indivíduo, a qualidade da existência que o rodeia, sua capacidade de melhoramento, etc. O autor
coloca entre eles dogmas religiosos, crenças obscurantistas, ideologias alienantes e mistificações de todo tipo.
(PECOTCHE, 2012, p. 10-11). Sempre se buscou, ele afirma, produzir mentes que aceitassem
o fácil, o ilusório e sedutor, com a finalidade de "facilitar a conquista de adeptos para uma ou
outra seita religiosa, [...] tendência filosófica ou ideológica extremista, nas quais o ser depois
fica enjaulado atrás das grades dos inúmeros preconceitos que a credulidade infunde"
(PECOTCHE, 2012, p. 10).
O saber real, em oposição a este falso saber, seria, então, aquele que "não endurece a
mente, não a fanatiza nem a submete a farsas dogmáticas; ao contrário, propicia as
manifestações do livre-arbítrio e desperta a consciência individual" (PECOTCHE, 2012, p. 10).
Dessa forma, conforme ensina Pecotche, apenas pode ser denominado um verdadeiro saber
aquele conhecimento capaz de libertar as mentes, contribuindo para uma conformação que
possibilite o aperfeiçoamento humano e o cumprimento de suas elevadas prerrogativas. Tendo
isso em vista, de sua parte o autor declara como
[...] inoperantes e sem consistência os métodos ensaiados até aqui com vistas
ao aperfeiçoamento humano, por não conterem os conhecimentos básicos
sobre a estruturação mental, psicológica e espiritual que caracteriza cada
indivíduo, nem tampouco o domínio dos fatores que governam a vida interna.
(PECOTCHE, 2012, p. 10-11)
Foi com vistas a contribuir para suprir esta lacuna fundamental da formação humana
que González Pecotche criou a preceptiva logosófica, fundamentada na didática de seu método,
e instituiu uma pedagogia própria que começa a ter efeito nos indivíduos adultos que se
propõem a cultivar em si os pensamentos dessa ciência. Nesse sentido, a Pedagogia Logosófica
vai muito além de um método ou de uma série de recursos passíveis de serem memorizados e
mecanicamente aplicados, configurando, na verdade, uma nova forma de entrar em contato e
relacionar-se com os conhecimentos, visando que estes não apenas permaneçam na superfície
da mente como uma ilustração, mas sejam de fato incorporados à consciência de quem os
pratica, possibilitando, nesses indivíduos, favoráveis transformações das mais diversas
naturezas5.
Não obstante essa indistinção etária, ressalta-se que a Pedagogia Logosófica ocupa-se
especialmente da infância, pois a mente das crianças, ainda não afetadas pela "psiqueálise"7 –
"paralisação de uma zona mental, afetada por preconceitos dogmáticos" (PECOTCHE, 2017-
a, p. 58) – deve ser protegida do contato direto e indireto de tudo que possa obstruir o pleno
5
Ao apontar os "Resultados da realização logosófica nos aspectos mais proeminentes da vida humana"
(PECOTCHE, 2017-a, p. 73), o autor menciona resultados "No individual", "No psicológico", "No moral", "No
espiritual", "Na família", "No social" e "No econômico", e, em seguida, apresenta também os "Efeitos da
Logosofia sobre o temperamento humano"(PECOTCHE, 2017-a, p. 93) indicando seus inúmeros benefícios.
6
"Muitos leitores de obras logosóficas, inclusive os que receberam alguma informação eventual sobre a nova
ciência, formulam a seguinte pergunta: Como se estuda e como se pratica a Logosófica? Sabemos muito bem que
esta pergunta surge como consequência de haver tropeçado, quem toma em suas mãos algum de nossos livros,
com dificuldades para compreender a fundo o conteúdo dos ensinamentos. Suas dificuldades se produzem pela
generalizada tendência a realizar estudos de um ponto de vista meramente teórico. Os tópicos são
memorizados e tratados como um aporte a mais para a ilustração e cultura, mas sem que esse estudo
constitua uma contribuição real para o conhecimento de si mesmo." (PECOTCHE, 2017-a, p. 15, grifos
nossos)
7
"A Logosofia [...] declara que é precisamente na mente das crianças onde se produz a psiqueálise, ou seja, a
paralisação de uma zona mental que altera a faculdade de entender, que é, justamente, a que o homem deve usar
para discernir a respeito do delicadíssimo problema de sua inibição espiritual." (PECOTCHE, 2017-a, p. 58)
funcionamento necessário à compreensão de suas amplas prerrogativas. Assim, segundo
Pecotche, é na infância onde se estruturam as bases psicossociais para a operação de maiores
mudanças positivas na sociedade a partir do próprio indivíduo. Para tal fim, pois, a Pedagogia
Logosófica apresenta princípios capazes de nortear a condução consciente de quem pratica a
Logosofia e que devem, posteriormente, ser ensinados às crianças em todo seu processo de
formação.
A realização da plena liberdade é tema que há tempos gera inquietude e discussão entre
os pensadores de todo o mundo, cujos estudos, observações e reflexões buscam descrever e
materializar o significado deste valor fundamental da vida humana. O conceito de liberdade
individual, levando-se em conta suas diversas facetas, sempre aparece em íntima relação com
a possibilidade de o sujeito mover-se segundo sua própria vontade, de ir e vir conforme queira,
de decidir sobre si e sobre seus bens, além de expressar suas ideias e opiniões sem censura de
qualquer natureza; nesse sentido, os Estados Democráticos visam assegurar, através de suas
legislações e políticas públicas, a concretização de tal direito. Entretanto, González Pecotche
observou que a garantia legal da liberdade, embora fundamental, não é suficiente para
assegurar seu pleno exercício, visto que há fatores internos que, se ignorados, cerceiam as
possibilidades humanas tanto ou mais que as opressões observadas na sociedade.
Assim, em sua obra, o autor promove reflexões sobre situações que ilustram a ausência
de uma total possibilidade de conduzir livremente as próprias atuações, indicando, dentre elas,
os momentos em que se atua “sem querer”, e, através das palavras, se ofende uma pessoa
querida, arrependendo-se no momento imediatamente posterior; ou então, as situações em que
o indivíduo se compromete a realizar algo para si ou para terceiros e, apesar do senso de
responsabilidade, procrastina até o último momento, acabando por fazer às pressas, ou — para
a própria decepção —, tendo que reconhecer que não foi possível realizar algo para o qual é
plenamente capaz; e, ainda, quando chega ao ponto de afirmar que “pau que nasce torto morre
torto” (PECOTCHE, 2012, p. 14), tamanha a dificuldade de mudar características pessoais das
quais não se admira, mas que, se realmente fosse livre para decidir, com certeza eliminaria.
Diante de tais circunstâncias presentes, com maior ou menor frequência, na vida de todas as
pessoas, é possível afirmar que estas não dispõem do pleno domínio de sua vontade e de seu
livre arbítrio, mesmo que estes sejam externamente garantidos.
Em todas essas situações, e em tantas outras, embora disponha da mais plena liberdade
física para mover-se, para ir e vir, a incapacidade que o sujeito experimenta frente a sua própria
limitação interna o faz sentir-se no mais profundo cárcere. Algo o impede de realizar o que
mais deseja, seja tratar com respeito a si e aos próximos, honrar compromissos consigo mesmo
e com outros, ou realizar mudanças em prol da própria felicidade.
O autor ressalta que, quanto mais rígida a mente e a psicologia do sujeito se encontram
em função da repetição dos caminhos mentais equivocados realizados ao longo da vida, mais
8
Metafísica/metafísico: (adj.) que transcende a natureza física das coisas (Dicionário Oxford Unity Press). O
autor utiliza este termo como sinônimo do que jaz para além da configuração física do ser humano, o que
compreende desde os pensamentos individuais e manifestações psicológicas mais próximas, até os grandes
arquétipos já propostos por Platão ao se referir ao “mundo das ideias”. Pecotche busca, sempre com visão
científica, demonstrar certa objetividade nestes fenômenos que comumente julgam-se serem puramente
subjetivos.
esforço deverá ser empenhado para transformá-la, flexibilizando-a para que possa ser modelada
segundo sua vontade. Com isso em mente, o autor fez conhecer também a Pedagogia
Logosófica de modo a oferecer aos docentes e educadores conhecimentos e recursos capazes
de proporcionar às mentes infantis a possibilidade de se desenvolverem com o máximo de
liberdade, e, concomitantemente, capacitar a criança para, pouco a pouco, assumir as rédeas de
sua própria vida interna.
Segundo o autor, portanto, toda a tentativa de pensar sobre a formação de sujeitos, como
ocorre, por exemplo, no caso dos que estão voltados para a área da educação, deverá,
necessariamente partir do pensar a própria formação; toda investigação relacionada à estrutura
psicológica e mental do ser humano, portanto, inicia-se através do conhecimento de si mesmo,
para, posteriormente, ser utilizada na reflexão sobre a formação dos demais. Dessa forma, com
vistas a tornar possível o autoconhecimento de forma científica, passível de ser realizado por
todos e discutido objetivamente, González Pecotche criou um método para o conhecimento,
capacitação e adestramento das aptidões internas. Em sua vasta bibliografia abordou diversos
aspectos da constituição metafísica do ser humano e indicou, como etapa inicial, a
compreensão e observação da estrutura mental individual, destacando-se que
Assim, elevando a mente humana à categoria de "sistema", o autor afirma que o mesmo
encontra-se configurado por duas mentes, "a superior e a inferior, ambas de igual constituição,
mas diferentes em seu funcionamento e em suas prerrogativas" (PECOTCHE, 2013, p. 43),
pois:
Por sua vez, a mente denominada "superior" se organiza em função dos conhecimentos
transcendentes, cuja finalidade essencial é pôr em atividade a consciência. Ressalta-se que o
esclarecimento desses dois vocábulos, "transcendente" e "consciência", é requisito basilar para
compreensão da distinção entre as duas mentes apresentadas por Pecotche, bem como da
natureza e da finalidade dos conhecimentos que o autor considera fundamentais para a
formação de um sujeito verdadeiramente livre. Assim, segundo o autor, a consciência
9
Na concepção de Pecotche, o "espírito" e o "espiritual" aparecem desprovidos de caráter religioso ou
moralizante. Ao contrário, são por ele considerados conceitos objetivos, cuja acepção denota uma dimensão causal
da psique humana, o cerne da própria individualidade que comanda e condiciona os demais mecanismos da
psicologia do ser humano. Isso se evidencia em suas palavras: “As vagas e arbitrárias referências que se tinham
sobre o espírito levaram o homem a considerá-lo quase que uma abstração, algo fora do alcance de sua razão e
sentir. Incorreu, além disso, no erro de admitir como verdades certas hipóteses absurdas, que nada têm a ver com
a essência mesma do espírito e com sua realidade perfeitamente comprovável. […] Para a Logosofia, o espírito
assume o papel mais importante e fundamental: a) no desenvolvimento das aptidões humanas; b) no
funcionamento regular e firme das faculdades da inteligência; c) na proliferação de idéias e pensamentos de alto
valor; d) no enriquecimento da consciência pelo constante aporte de conhecimentos de ordem transcendente; [...]”
(PECOTCHE, 2017-b, p. 68)
[...] é algo mais que uma mera expressão filosófica ou literária. É uma
realidade da qual está alheia a imensa maioria dos seres humanos. E está
alheia porque a ninguém ocorre que, para ser verdadeiramente consciente em
todos os instantes da vida – isto é, quando se pensa, quando não se pensa,
quando se trabalha ou não se faz nada, quando se estuda ou não –, bem como
em todos os movimentos que executamos durante o dia – quando andamos,
nos sentamos, comemos, bebemos, lemos, rimos ou estamos de mau humor –
, é necessário que nossa consciência esteja atenta e nos recorde que, para nos
constituirmos em autênticos donos de nossa vida, devemos fazer dela uma
sucessão de fatos felizes, que aumentem o valor de seu conteúdo. Para isso, é
de todo importante que nada escape ao controle imediato da mesma. Esse
controle é acionado quando nossa faculdade de pensar e nossos pensamentos,
atuando sob a direção inteligente de um grande propósito, como é o de evoluir
conscientemente, não omitem esforço algum para alcançar as alturas do saber
transcendente, que é aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo, invulnerabilidade
mental, moral e espiritual. (PECOTCHE, 2017-a, p. 35/36)
Para ilustrar mais profundamente esse conceito, é importante pensar também sobre o
que González Pecotche diz sobre seu oposto, a “inconsciência”, afirmando tratar-se de um
estado de "flutuação" dos fatos, coisas e pensamentos na "superfície do mundo individual, sem
penetrar em seu interior" (PECOTCHE, 2013, p. 28). Nessas condições, portanto, o indivíduo
se torna vulnerável a influências externas e suscetível a perder a própria capacidade de
conduzir-se com liberdade.
Sendo assim, sugere-se que, não estando a inteligência ativa em reconhecer e comandar
os pensamentos que sobre ela influem, a vontade do sujeito pode ser comandada por influências
alheias à sua própria volição, produzindo-se, a partir daí, os movimentos inconscientes e a
perda de liberdade, ambos já descritos anteriormente. Consequentemente, o contrário também
é passível de ocorrer: se a inteligência munir-se de conhecimentos que facultem sua libertação
e capacitação, pode-se atuar consciente e livremente.
Transposto este princípio ao âmbito pedagógico, afirma o autor que, quando a criança
é ensinada a distinguir os pensamentos da sua função de pensar, experimenta o que ele
denomina de “princípio consciente”10, possibilitando a esta o exercício da condução de sua
própria mente, através da seleção dos melhores pensamentos e eliminação daqueles que afetam
negativamente sua psicologia (como preconceitos, por exemplo), e, consequentemente, sua
vida.
10
"Precisamente el principio consciente de la enseñanza logosófica radica en eso: En que una vez que el ser
humano sabe discriminar los pensamientos de la función de pensar, en ese momento empieza a funcionar el
principio consciente, ya sea de la criatura o en el mayor, porque es capaz en ese momento de percibir dentro de sí
los movimientos de los pensamientos como entes autónomos que antes dominaban la mente - incluso parecía
como si pensaran […]”. (Trecho extraído de Conferência proferida por Carlos Bernardo González Pecotche às
estudantes membros da comissão docente da Escola Primária Logosófica em 22 de julho de 1961).
capacidades de seleção, atração, coordenação e criação, valendo-se, para tanto, das demais
faculdades mentais como a observação, o entendimento, a razão, a intuição, etc. Em suma, é o
que permitirá ao indivíduo trabalhar sobre seu próprio conteúdo mental, extirpando os
pensamentos que o condicionem a padrões inconscientes e formando pensamentos construtivos
à luz de conhecimentos, elaborando, assim, suas perspectivas conscientes de liberdade. Dessa
forma,
Diante de tal fato, Pecotche propôs uma "Educação para a vida", afirmando que
Ao dar a conhecer seus ensinamentos, a Logosofia deixa claro que existe uma
imensidão desconhecida para o homem, na qual ele deve penetrar. Dá a
conhecer, além disso, que enquanto se interna nessa imensidão, que é a
Sabedoria, isto é, enquanto aprende, pode também ensinar. Porque a arte de
ensinar consiste em começar ensinando primeiro a si mesmo, ou, dito de
outro modo, enquanto por um lado o ser aprende, por outro, aplica esse
conhecimento a si mesmo e, ensinando a si mesmo, saberá depois como
ensinar aos demais com eficiência (PECOTCHE, 2019, p. 260, grifo nosso).
Tendo isso em vista, Pecotche alerta para o fato de que "todo ensinamento moral não
avalizado pelo exemplo de quem o dita, atua em sentido contrário na alma de quem o recebe"
(PECOTCHE, 2017-a, p. 78), o que, em síntese, significa que é preciso ser bom para ensinar a
ser bom, pois, da mesma forma que não poderá o analfabeto introduzir a outrem no mundo
letrado, não poderá o ignorante de si ensinar o conhecimento de si mesmo aos demais. O
próprio exemplo daquele que ensina é, portanto, um dos mais importantes recursos desta
pedagogia.
11
"A Logosofia chama assim ao pensamento negativo que, enquistado na mente, exerce forte pressão sobre a
vontade do indivíduo, induzindo-o de modo contínuo a satisfazer seu insaciável apetite psíquico. É o pensamento
tipicamente dominante ou obsessivo, que, ao mesmo tempo que cumpre uma função totalmente prejudicial, tem
tanta influência na vida do ser humano e se evidencia de tal maneira que este é apelidado por seus semelhantes
com o nome do pensamento-deficiência que o caracteriza. Por isso mesmo é que, em alguns casos, o indivíduo é
chamado de vaidoso, rancoroso, egoísta, teimoso, intolerante e, em outros, de presunçoso, hipócri- ta, fátuo,
intrometido, obstinado, néscio, etc." (PECOTCHE, 2012, p. 17)
Outra coisa é quando, por meio da palavra de quem ensina, coincidente com
seus atos, vão se descobrindo qualidades relevantes; e outra coisa é também
quando se vai manifestando a capacidade de assimilação naquele que escuta
e aprende; então, quem aprende, aprende de verdade, e quem ensina, ensina
conscientemente (PECOTCHE, 2019, p. 260-261).
Dessa forma, um ensinamento pode ser transmitido bem ou mal por quem o ensina,
mas, no caso de fazê-lo mal, isso não implica má intenção ou má vontade, pois segundo
Pecotche, "comumente é transmitido de forma errônea por não ter sido bem entendido, vivido
e incorporado a si mesmo" (PECOTCHE, 2019, p. 261). O ensinamento não incorporado à vida
não se torna conhecimento próprio de quem com ele teve contato, permanecendo apenas em
teoria na superfície da consciência, e, embora se possa falar dele, não é possível praticá-lo com
a naturalidade que o exemplo diário exige para o docente determinado a ensiná-lo.
Quando do momento do seu nascimento, cada sujeito abre seus olhos ao mundo físico
e busca, pouco a pouco, compreender o que existe nele. Identifica sua mãe, seu pai, irmãos e
irmãs, conhece seus brinquedos, sua casa, seus parentes. Através das experiências da vida,
conhece a natureza, o céu e o mar, explora os limites do seu próprio corpo e conhece os perigos
que o mundo oferece, classificando-os, segundo a orientação dos maiores, como "bons" e
"maus", "seguros" ou "perigosos".
A Pedagogia Logosófica vem apresentar mais uma faceta à vida da criança que, ao
nascer, tem a oportunidade de não apenas conhecer a realidade externa a si, material que a
rodeia fisicamente, mas, também, a de ser apresentada de forma prática e objetiva à sua própria
psicologia, que, desde o instante de seu nascimento — em verdade, desde a sua gestação — é
afetada por estímulos da mesma natureza psíquica, fatores preponderantes — e muitas vezes
negligenciados — na vida individual e coletiva de todas as pessoas. O rol dos objetos psíquicos
que atuam sobre a vida dos indivíduos — quais sejam, estímulos, pensamentos, ideias,
sentimentos, paixões, emoções e impulsos etc. — constitui, com efeito, um "outro mundo", um
mundo psíquico onde cada um deles tem atuação, causa e efeito, não como algo imaginário ou
distante, mas sim como algo tão presente e intrínseco à realidade humana, que praticamente
passa despercebido à maior parte das pessoas, sendo enormes os esforços necessários aos
estudiosos da vida e das culturas humanas para qualificá-lo.
Esta pedagogia, portanto, dirige-se à criança desde a mais tenra idade para dar-lhe a
conhecer sua própria vida interna, para que possa reconhecer suas tendências e aptidões, bem
como aprender a defender-se de tudo que possa afetar-lhe negativamente, constituindo, assim,
um fator de grande autonomia na própria autorregulação e desenvolvimento, que corrobora,
por fim, com os esforços dos educadores. Vale-se, para tanto, de analogias e imagens que,
naturais e adequadas à sensibilidade infantil, ilustram à criança sobre o que ela deve observar
em seu mundo interno, para que possa surpreendê-lo e descobri-lo ao longo de seu crescimento
e de suas experiências, exatamente como faz com o mundo exterior.
A primeira imagem analógica que os docentes apresentam aos pequenos para ilustrar-
lhes sobre a existência e funcionamento da mente, é que estes possuem dentro de si uma "Casa
Mental" individual, na qual, à maneira como ocorre na casa de cada um, moram os
pensamentos, habitantes internos que nos movem a pensar e agir conforme suas naturezas:
Esse exercício, realizado em princípio quase como uma brincadeira que se incorpora
naturalmente ao dia a dia da criança, trata-se, em verdade, de uma introdução e um ensaio de
uma importantíssima etapa da realização do método logosófico que, depois, o sujeito haverá
de realizar conscientemente ao longo de toda a sua vida: o processo de "observação",
"individualização", "classificação e seleção de pensamentos", bem como a prática da
12
Ver nota nº 8.
13
Ver nota nº 7.
"disciplina mental", "que tem por objetivo assinalar tudo quanto se relaciona com a atividade
do sistema mental" (PECOTCHE, 2013, p. 58-61).
Em sua vasta bibliografia fica evidente que Paulo Freire propõe a construção de uma
educação que transcenda a função utilitária que recebe da concepção neoliberal, propondo um
meio para formar sujeitos livres para pensar a si mesmos e o mundo de forma crítica, reflexiva
e consciente. Por sua vez, em sua literatura, Pecotche preconiza uma profunda investigação da
natureza humana e de seus recursos, através de um método que ensina cada sujeito a conhecer-
se enquanto, concomitantemente, nutre sua consciência de conhecimentos capazes de libertá-
lo de influências opressoras e limitantes, visando, assim, a busca pela felicidade individual e
coletiva.
O combate a toda forma de opressão é foco central tanto na Pedagogia Logosófica como
na pedagogia crítico-humanizadora de Paulo Freire, de forma que, para ambas, a liberdade só
pode ser considerada um valor plenamente exercido quando tem sua origem na libertação
interior do indivíduo, decorrente do livre pensar e sentir. Nesse sentido, Paulo Freire concebe
a categoria do "pensar certo" como um horizonte de uma nova educação, que "[...] requer a
formação de um novo ser humano através da luta por libertação de tudo o que caracteriza
e mantém a opressão [...]" (STRECK; REDIN; ZITKOSKI, 2010, p. 312, grifos nossos)
Pecotche, de forma dialógica, traz uma nova faceta ao que se pode compreender como
"fatores de opressão", apresentando o conceito de pensamentos como entidades autônomas
que, quando provenientes de uma cultura opressora, governam as mentes de forma despótica,
limitando e, por vezes, impedindo, o exercício do livre-arbítrio. O aprofundamento na
investigação dos recursos e dos personagens que configuram a vida interna individual,
possibilita ao sujeito, pouco a pouco, conscientizar-se das causas de suas condutas e atitudes e,
consequentemente, das causas de condutas e atitudes de seus semelhantes, abrindo para ele a
possibilidade de intervir com mais segurança sobre si, sobre o mundo e sobre a educação,
colocando-se, portanto, de forma mais crítica e construtiva.
Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a
indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, à suas inibições; um ser
crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não
a de transferir conhecimento. [...] Ensinar não é transferir conhecimento [...]
nas suas razões de ser — ontológica, política, ética, epistemológica,
pedagógica, mas também precisa ser constantemente testemunhado, vivido
(FREIRE, 1996, p. 21).
"É na inconclusão do ser, que sabe como tal, que se funda a educação como processo
permanente" (FREIRE, 1996, p. 24) e é a consciência de que se encontra em constante processo
de aprendizado que permite à professora ou ao professor manter a flexibilidade mental
necessária para aprender sempre. Segundo Pecotche, o cuidado com a flexibilidade da mente
mantém afastadas deficiências psicológicas como a rigidez (PECOTCHE, 2012, p. 155), a
teimosia (PECOTCHE, 2012, p. 138), a obstinação (PECOTCHE, 2012, p. 49) e a veemência
(PECOTCHE, 2012, p. 129), que aprisionam e entrincheiram os sujeitos em seus próprios
juízos, opondo resistência a todo processo de aprendizado e aperfeiçoamento.
Freire considera a pergunta um "jogo intelectual" que deve ser estimulado pelos
educadores, de forma que possam, na prática, ir criando com os alunos o hábito, como virtude,
de perguntar, de "espantar-se" (FREIRE; FAUNDEZ, 1985, p. 24). O "espanto" com o mundo
e com a vida, os questionamentos que dele surgem, são o que move a criança intelectualmente,
fazendo sua mente buscar respostas que satisfaçam sua compreensão de forma lógica e
sensível. Esse movimento didático de interiorização, em busca de respostas para o
desconhecido, ajuda, desde a infância a romper o padrão mental inercial da mente inferior, que,
conforme já dito, "tende em geral para o conhecido, para o exterior, e, salvo exceções, funciona
sem intervenção direta da consciência" (PECOTCHE, 2013, p. 45).
Nesse sentido, Pecotche orienta que, quando for oportuno, o adulto ao invés de
responder diretamente à pergunta feita, ofereça à criança uma "repergunta" com a intenção de
estimular o movimento das suas faculdades mentais, pois "a pergunta sempre faz com que a
criança tenha de pensar para responder."14 Da mesma forma, Freire (2006, p. 103) pontua que
8. Considerações finais
14
Livre tradução de trecho extraído de Conferência proferida por Carlos Bernardo González Pecotche às
estudantes membros da comissão docente da Escola Primária Logosófica em 22 de julho de 1961.
foram abordados sob a ótica da Pedagogia Logosófica, em cuja prática os processos descritos
são aplicados à dinâmica de ensino de adultos, jovens e crianças.
Escolheu-se dar destaque à realidade da educação de crianças e jovens, por ser esta,
segundo os conceitos logosóficos pesquisados, o terreno ideal para o cultivo de qualidades
necessárias à construção de sujeitos mais livres para pensar e criar as bases de uma nova
cultura. Mais do que elaborar de uma forma teórica, objetivou-se concretizar os princípios
pedagógicos expostos com exemplos práticos, como visto na dinâmica em que o próprio
exemplo avaliza ou invalida as palavras daquele que ensina. Além disso, buscou-se demonstrar
a importância, para o pensamento Logosófico, do despertar do indivíduo para a observação e
entendimento da própria realidade interior, psicológica e espiritual, que influi intimamente em
seus processos e atuações.
Foi, portanto, oportuna a investigação dos princípios pedagógicos logosóficos, uma vez
que serviram de substrato ao diálogo com alguns pontos-chave da pedagogia de Paulo Freire.
Entre os pontos pesquisados, destacou-se a semelhança entre o "pensar certo" freireano e o
adestramento psicológico proposto pelo método logosófico, bem como a convergência no
sentido de valorizar o exemplo consonante com o conhecimento que se ensina e também o
respeito à pergunta como fator primordial para a aquisição do conhecimento. Por fim, como
fio condutor de tais aspectos, ressaltou-se o destaque que ambos os autores dão à educação
como forma de combate à opressão de qualquer natureza.
Dessa forma, o singelo diálogo com o pensamento de Freire aqui ensaiado, representou,
também, um desafio à pesquisadora, uma vez não terem sido publicados trabalhos
comparativos com esta temática até o presente, o que suscita novas e fecundas oportunidades
de futuros estudos.
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma Pedagogia da Pergunta – Rio de Janeiro:
Ed. Paz e Terra, 1985. Livro virtual - Link: https://cpers.com.br/wp-
content/uploads/2019/09/15.-Por-uma-Pedagogia-da-Pergunta.pdf. Acesso em 10 de janeiro
de 2022.
STRECK, Danilo R.; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José (Orgs.). Dicionário Paulo
Freire. – 2ª Edição – Belo Horizonte: Autêntica, 2010. Livro virtual - Link:
https://territoriosinsurgentes.com/wp-
content/uploads/2021/03/Danilo_R._Streck_Dicion_rio_Paulo_Freirez-lib.org_.epub_.pdf.
Acesso em 10 de janeiro de 2022.
PRÓ-REITOR DE PESQUISA
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