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INTRODUÇÃO
1
Na obra não consta a indicação numérica das páginas.
Na obra, embora o regional da história do amor
do menino pelo rio ganhe tom universal, pois tanto o rio
quanto o menino não têm nomes próprios, a elaboração
do espaço representado é feita por elementos singulares
de uma cultura ribeirinha e que podem ser identificados
no contexto regional amazônico.
A obra Menino do rio doce é uma expressão
artística de linguagem que traz em sua narrativa um
imaginário coletivo construído em torno da representação
de um contexto ribeirinho. A densidade simbólica da
narrativa se sobressai na representação de um espaço
com especificidades culturais para o personagem menino
desfrutar a infância. O tom de lirismo que perpassa a
história harmoniza a temática com o momento que o
personagem vive. O espaço encenado é marcado pelo
contraste entre a amplidão do mundo e a limitação da
vida da sua aldeia centrada no espaço rio. O rio é o palco
infinito das grandes aventuras e descobertas, mas
também o espaço onde se constituem medos e
frustrações. A relação que o menino mantém com o rio
marca a sequência na narrativa, no suceder dos
acontecimentos e acompanha o personagem durante todo
o seu processo de amadurecimento. Na proposta temática
da obra é encenada a história do amor do menino pelo
rio, dimensionada ao colorido e matizes dos fios dos
bordados que ilustraram o texto.
Os fios que constituem os bordados unem-se ao
enunciado verbal e resgatam de forma lírica o tecer e o
contar tão presentes na narrativa. Sob essa configuração,
o texto escrito e as ilustrações são dois fios que se
misturam na composição de uma única tessitura, de
forma que a história contada não confere privilégio
apenas à linguagem escrita, as imagens também contam.
Logo, o enunciado imagético tem sua atuação marcada na
produção de sentidos responsáveis pela interação entre a
obra e o leitor. Sobre esse papel, Laura Sandroni destaca:
Agora é a canoa
que leva o menino...
O remo leve ia
tocando
a líquida pele do rio
Que sorria, marulhento,
a cada toque do remo.
E a canoa ia
- do jeito que mão
cheia de carinho
desliza afagos
na água companheira
indo e vindo
pelo corpo do rio (ZIRALDO, 1996).
E o menino aprendeu
que a água – em gotas – da chuva
era a refeição do rio
e quando chove muito
eis que o rio
engorda e engrossa
e, guloso, engole
a margem
e vai levando a cerca
e vai levando a casa
e vai tragando a arvore
[...]
Se o sol porém castiga
a terra onde o rio corre,
o rio fica triste
e seca sua água doce,
inventando praias (ZIRALDO, 1996).
Em suas fases o rio se revela para o menino. As
secas e as cheias do rio mostram-se como tempos de
descobertas, tempo para o menino compreender as
mutações do rio no ciclo da natureza. Conforme analisa
Loureiro: “Os rios da Amazônia são relógios da vida na
região. É no ritmo das vazantes e das enchentes que os
rios se constituem no relógio e no calendário regionais. A
vida olha o rio, os homens regulam seu cotidiano pelo
movimento das águas” (2001, p. 221). Nessa perspectiva,
o conhecimento racional não é a única forma de reger as
relações do homem com seu mundo. Sua capacidade de
conhecê-lo também se vale da imaginação e do impulso
imaginário. Resulta dessas vivências, uma cultura
entendida como expressão da relação do homem da
Amazônia com os rios, evidenciando assim, em que
medida as pessoas são constituídas como sujeitos pelas
formas e práticas culturais que por sua vez, revelam,
interpretam e criam sua realidade.
Contrariando concepções que consideram o
imaginário como desvio da razão ou fase imatura da
consciência, Durand (1994) faz uma interessante reflexão
ao aproximá-lo do plano da consciência, vendo-o como
base da “cultura válida, ou seja, aquela que motiva a
reflexão e o devaneio humano” (DURAND apud
LOUREIRO, 2001, p. 47). Nessa perspectiva, temos
evidenciado uma visão não redutora do imaginário, ao
contrário, atribui-lhe o papel de elemento essencial da
cultura.
Essa atmosfera de devaneio propiciado pelo rio
também é reproduzida por Bachelard:
Considerações finais
REFERÊNCIAS