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HISTÓRIA DA PSICOLOGIA-INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS

PARTE 2 erikagelenske.psi@gmail.com
Profa. Erika Gelenske
INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS
Objetivos desta aula:

Objetivo 1 Compreender as principais influências filosóficas para o surgimento da Psicologia


O Cristianismo estabelece-se sofrendo muitas perseguições.
Gradativamente o número de conversos foi crescendo e por volta
do quarto século já era uma religião com muitos adeptos. Atraiu
inicialmente as camadas mais pobres da população. Contudo, por
volta do século IV já era grande o número de adeptos entre as
classes altas e também entre as tropas do Império Romano.
INFLUÊNCIAS DA FILOSOFIA X
IDADE MÉDIA
“Às vésperas da era cristã, surge um novo império que iria
dominar a Grécia, parte da Europa e do Oriente Médio: o Império
Romano. Uma das principais características desse período é o
aparecimento e desenvolvimento do cristianismo — uma força
religiosa que passa a força política dominante.
Mesmo com as invasões bárbaras, por volta de 400d.C, que levam
à desorganização econômica e ao esfacelamento dos territórios, o
cristianismo sobrevive e até se fortalece, tornando-se a religião
principal da Idade Média, período que então se inicia” (BOCK,
FURTADO e TEIXEIRA, 2009).
INFLUÊNCIAS DA FILOSOFIA X
IDADE MÉDIA
Nesse sentido, dois grandes filósofos representam esse período:
Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1225-1274).
Santo Agostinho, inspirado em Platão, também fazia uma cisão
entre alma e corpo.
“Entretanto, para ele, a alma não era somente a sede da razão, mas
a prova de uma manifestação divina no homem. A alma era imortal
por ser o elemento que liga o homem a Deus. E, sendo a alma
também a sede do pensamento, a Igreja passa a se preocupar
também com sua compreensão (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2009).
SANTO AGOSTINHO (354 - 430)
Santo Agostinho (354-430) nasceu na costa do Norte da África (atualmente Argélia) filho de mãe
cristã e pai pagão. Estudou retórica e foi muito influenciado pela leitura do Tratado Hortensius
de Cícero. Ele disse que depois de estudar Cícero compreendeu que deveria estar sempre em
busca da verdade. Foi durante algum tempo um adepto de uma seita persa chamada
maniqueísmo. Esta seita pregava o princípio da dualidade entre o Bem e o Mal e aconselhava a
vida ascética. Logo depois tornou-se cético pois não conseguia conciliar as contradições
doutrinárias dos maniqueístas. Por volta de 384 Agostinho vivia em Milão onde lecionava
retórica. Nesta cidade conheceu o neoplatonismo e influenciado por Santo Ambrósio converteu-
se ao Cristianismo.
“O neoplatonismo viria a ser a ponte que permitiria a Agostinho dar o grande passo de sua vida,
pois constituía, para os católicos milaneses, a filosofia por excelência, a melhor formulação da
verdade racionalmente estabelecida. O neoplatonismo era visto como uma doutrina que, com
ligeiros retoques, parecia capaz de auxiliar a fé cristã a tomar consciência da própria estrutura
interna e defender-se com argumentos racionais, elaborando-se como teologia.” (PESSANHA,
1999, p.8).
SANTO AGOSTINHO (354 - 430)
Santo Agostinho esforçava-se muito para conhecer e entender a vontade de Deus. O
modo escolhido para concentrar-se neste seu objetivo foi estudo da mais importante
criação de Deus: o ser humano.
Foi um meticuloso observador da natureza humana fazendo algumas observações que
são descrições de estágios de desenvolvimento psicológico. Por exemplo, sua descrição
do crescimento da capacidade de se concentrar da criança e de sua habilidade de
comunicar o que ele considerava ser muito mais uma força interna do que o resultado
do ensino dos pais.
Deu muita importância ao conhecimento de si mesmo com o argumento de que
somente a alma era capaz de conhecer a própria alma. É interessante notar que esta
sua reflexão aparece em sua autobiografia e em suas confissões.
Ele dizia que a alma era capaz de comandar o corpo sem muitas dificuldades, por
exemplo, se a alma manda o braço movimentar-se ele movimenta-se. No entanto, a
maior dificuldade da alma era obedecer a si mesma. Esta obediência só era possível
através da graça de Deus. (GOMES, 2020).
SÃO TOMÁS DE AQUINO ( 1225 –
1274)
São Tomás de Aquino viveu num período que prenunciava a ruptura da
Igreja Católica, o aparecimento do protestantismo — uma época que
preparava a transição para o capitalismo. Essa crise econômica e social
leva ao questionamento da Igreja e dos conhecimentos produzidos por
ela.
Dessa forma, foi preciso encontrar novas justificativas para a relação
entre Deus e o homem. São Tomás de Aquino foi buscar em Aristóteles a
distinção entre essência e existência. Como o filósofo grego, considera
que o homem, na sua essência, busca a perfeição através de sua
existência. Porém, introduzindo o ponto de vista religioso, ao contrário de
Aristóteles, afirma que somente Deus seria capaz de reunir a essência e a
existência, em termos de igualdade. Portanto, a busca de perfeição pelo
homem seria a busca de Deus (TOMISMO). (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA,
2009).
Décadas após a morte de São Tomás de Aquino, tem início uma época de
transformações radicais no mundo europeu. É o Renascimento ou
Renascença. O mercantilismo leva à descoberta de novas terras (a América, o
caminho para as Índias, a rota do Pacífico), e isto propicia a acumulação de
riquezas pelas nações em formação, como França, Itália, Espanha, Inglaterra,
por exemplo. Na transição para o capitalismo, começa a emergir uma nova
forma de organização econômica e social. Dá-se, também, um processo de
valorização do homem (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2009).
Essa foi uma fase de rejeição às verdades absolutas implantadas pela igreja e
de questionamento sobre o pensar humano. A racionalidade se mostrava
como traço preponderante do pensamento da época.
As ciências também conhecem um grande avanço. Em 1543,
Copérnico causa uma revolução no conhecimento humano
mostrando que o nosso planeta não é o centro do universo.
Em 1610, Galileu estuda a queda dos corpos, realizando as
primeiras experiências da Física moderna. Esse avanço na
produção de conhecimentos propicia o início da sistematização
do conhecimento científico — começam a se estabelecer
métodos e regras básicas para a construção do conhecimento
científico.
René Descartes (1596-1650), filósofo,
físico e matemático francês, que viveu
durante esse período, ficou fascinado
pelas máquinas.
Sua filosofia influenciou diretamente a
psicologia moderna, tendo sido
responsável por renunciar os rígidos
dogmas teológicos, representando a
transição para a tendência científica,
aplicando a ideia do mecanismo do
relógio sobre o corpo e a natureza
humana.
Retrato de René Descartes, por Frans Hals. Fonte: Domínio
Público
RENÉ DESCARTES
Acreditava que a ciência deveria ser prática e não especulativa. O
Discurso sobre o Método, obra de 1637 de Descartes, é um
tratado filosófico e matemático que lançou as bases do
racionalismo como a única fonte de conhecimento.
RENÉ DESCARTES
Para Descartes, o caminho para o conhecimento da verdade baseava-se na
capacidade humana de raciocinar.
Cogito, ergo sum é, em geral, traduzida para o português como "penso, logo
existo“, embora para alguns tradutores seria melhor "penso, portanto sou”.
Uma das importantes implicações do racionalismo cartesiano (derivado das
ideias propostas por Descartes) é a de que a capacidade de raciocinar seria
inata ao homem e alguns tipos de conhecimento não se baseariam na
experiência do indivíduo, mas sim dessa nossa capacidade inata de
raciocinar. Em função dessa capacidade, o homem traria consigo também
algumas ideias inatas (por exemplo, a ideia de Deus, do eu, de algumas
verdades matemáticas básicas). Em contraposição às ideias inatas, aquelas
que resultariam de nossa experiência seriam denominadas ideias derivadas.
RENÉ DESCARTES
As famosas quatro regras do método cartesiano (presentes em
“Discurso do método”):
1) ser cético e não tomar nada como certo até que haja
evidência de que seja certo;
2) dividir os problemas em dificuldades menores;
3) ordenar os problemas do mais simples ao mais complicado,
até que não existam mais problemas, e sim evidências,
conclusões;
4) enumerar e revisar as conclusões.
Esse dualismo mente-corpo torna possível o
O DUALISMO DE estudo do corpo humano morto, o que era
RENÉ DESCARTES impensável nos séculos anteriores (o corpo
era considerado sagrado pela Igreja, por ser
a sede da alma), e dessa forma possibilita o
avanço da Anatomia e da Fisiologia e,
consequentemente, da própria Psicologia.

Pintura: A Lição de Anatomia do Dr. Tulp. Rembrandt - 1632.


RENÉ DESCARTES

Pouco antes de sua morte, Descartes publicou um tratado sobre as emoções


humanas, tentando caracterizar o que hoje conhecemos como sendo os reflexos
(reações automáticas do organismo frente à estimulação ambiental).
Dessa forma, ele se estabelece como sendo um pioneiro tanto da Psicologia
quanto da Fisiologia. Por conta de seus estudos sobre Fisiologia, Descartes
atribuiu à glândula pineal a função de promover a interação entre a mente e o
corpo.
EMPIRISMO
A Filosofia, notadamente após Descartes, e especialmente no
continente europeu tem, muitas vezes, se posicionado de forma
racionalista. Porém, surgiu, na Inglaterra, outra tradição filosófica
denominada empirismo, baseada na ideia de que nosso
conhecimento de mundo é construído a partir das experiências
pessoais do indivíduo. Note que racionalismo e empirismo vão se
caracterizar como sendo abordagens filosóficas contrárias para
explicar o mesmo fenômeno. Esse conhecimento adquirido pelo
indivíduo seria enriquecido pelas associações entre as ideias.
Assim, o empirismo britânico encontra-se estreitamente
vinculado ao associacionismo.
EMPIRISMO
O início da história do empirismo
britânico tem influente filósofo:
John Locke (1632- 1704).

Pintura de John Locke, por Sir


Godfrey Kneller. Foto: Domínio
Público
EMPIRISMO
Locke é importante para a Psicologia em função de suas ideias sobre a
aquisição do conhecimento.
Locke rejeita a ideia cartesiana de que existam ideias inatas, admitindo que o
ser humano possua “faculdades” inatas, como a capacidade de raciocinar -
0que seria o pré-requisito para a aquisição do conhecimento através da
experiência.
Para ele quando o indivíduo nasce seria como uma folha de papel em branco
pronta para ser escrita pelas experiências de vida que ele for tendo, e as
ideias teriam exclusivamente duas fontes: deriva dos processos de sensação
ou dos processos de reflexão. A sensação se refere a todas as informações
provenientes dos órgãos dos sentidos e a reflexão se refere ao
processamento dessas informações para o qual o ser humano utilizaria o
raciocínio (CAMPOS, 2016)
JOHN STUART MILL (1806 – 1873)
foi um filósofo e economista
britânico. É considerado por muitos
como o filósofo de língua inglesa mais
influente do século XIX.
Filho de James Mill

John Stuart Mill em 1870


Foto: Domínio público
JOHN STUART MILL
John Stuart Mill influenciou a criação da Psicologia que, além de
contribuir imensamente nessa área do saber, contribuiu
também para a causa feminista. Tal influência aconteceu em
especial por sua intensa relação com sua esposa Harriet Taylor
Mill e, posteriormente, pelo apoio a sua enteada Helen Taylor,
que publicou um ensaio feminista (A sujeição das mulheres) no
qual defendia (em 1869) a igualdade de direitos das mulheres,
inclusive com o direito ao voto.
JOHN STUART MILL
Sendo também um empirista, Mill defendia a ideia de que todo
conhecimento provinha da experiência e que, com adequada
estimulação e oportunidades, qualquer um poderia ser culto -
lutando assim pelo incentivo do governo à educação. Nesse
contexto, ampliou as ideias empiristas ao defender que a mente
é uma força ativa na síntese e associação das experiências,
afirmando que todas as ideias complexas são mais do que a
mera combinação passiva de elementos.

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