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ÉTICA
SÃO PAULO / SP
2022/2 – CAMPUS PARAÍSO / NOTURNO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................01
1. UMA BREVE CONSIDERAÇÃO SOBRE A LOUCURA.........................................01
1.1 A Loucura como Doença......................................................................................02
2. A LOUCURA À BRASILEIRA................................................................................03
2.1 As Ideias Higienistas............................................................................................04
3. A REFORMA PSIQUIÁTRICA..............................................................................06
3.1 A Luta antimanicomial no Brasil...........................................................................07
4. CONCLUSÃO....................................................................................................... 10
5. REFERÊNCIAS......................................................................................................11
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INTRODUÇAO
Nem sempre a loucura esteve no campo do patológico, como objeto exclusivo
da ciência médica. O ‘louco’, por consequência a loucura, ocupou diversos lugares no
imaginário e na dinâmica das sociedades durante o percurso da história ocidental.
Para Vieceli (2014, p. 46): “ [...] o conceito da loucura é, antes de tudo, uma construção
social, e tem sua definição permeada por aspectos culturais que se transformam ao
longo das épocas. ”
Assim, a fim de discorrer sobre a luta antimanicomial foi feito, a partir de uma
pesquisa bibliográfica, um pequeno recorrido sobre a história da loucura, bem como o
papel hegemônico da psiquiatria e a relação do louco com os pensamentos de cada
época.
Como uma pesquisa bibliográfica de análise qualitativa, foi feito um primeiro
levantamento de textos e estudos em sites e revistas científicas acadêmicas. Pela
extensão da investigação foram apenas pontuados os fatos considerados como os
mais relevantes para um entendimento global sobre o tema. Assim, iniciamos a
investigação discorrendo sobre a história da loucura, os pensamentos de cada período
que foram conformando o seu significado, a importância da psiquiatria, por
consequência da psicologia na institucionalização do louco, e por fim, nos movimentos
que levaram à reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial no Brasil.
O alienado como doente mental a partir desse momento poderia ter assistência
médica e cuidados terapêuticos; que conformaram um certo ‘ganho’ em relação ao
tratamento recebido anteriormente. Porém, o colocou definitivamente excluído do
espaço social, já que este, destituído de razão perde seus direitos de cidadania,
necessitando de controle e interdição.
A loucura desde a Idade Média era objeto de segregação em prol da norma
social e do bem-viver, já que o louco era visto como destituído de moral, vítima de
paixões exageradas. Assim, a reclusão era a maneira de evitar o contato de tais
paixões que estavam no mundo real, para então, tratar a mente alienada e enferma.
(AMARANTE, 2016)
Nesse mesmo período e durante o século XIX, inspirado pelo Iluminismo, o
pensamento ocidental predominante e ditado pela Europa, era de inspiração
Iluminista, tendo como seu objeto de estudo a raça humana. Tais naturalistas,
estabeleceram uma escala de valores entre as chamadas raças, relacionando o
biológico, como os traços morfológicos como cor da pele, largura das narinas e
formato do crâneo, e as qualidade psicológicas, morais, intelectuais e culturais.
Portanto, forjaram uma justificativa científica para “ [...] a dominação, segregação e
aniquilamento material e subjetivo da população não branca”. (GODOY, 2022, p. 22).
Assim, a psiquiatria, apoiada na epistemologia cientificista de análise do
fenômeno - a qual, o objeto de estudo deve ser isolado do sujeito envolvido e que
compreendia a raça como característica hierarquizante - tem como técnica de
tratamento o Hospital Psiquiátrico que em tese isolaria o doente do ambiente que o
influenciava.
2. LOUCURA À BRASILEIRA
No Brasil, desde 1543, existia o isolamento de indivíduos considerados loucos
nas chamadas Santas Casas de Misericórdia, porém, os manicômios exclusivamente
para estes serão efetivamente criados durante o segundo reinado (1841-1889). O
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primeiro foi o Hospício D. Pedro II em 1852 no Rio de Janeiro, seguido de São Paulo.
Assim, acompanhando a tendência das ciências na Europa, até 1884, Pernambuco,
Bahia, Rio Grande do Sul e Ceará inauguram as suas instalações exclusivamente
para os alienados (LIMA, 2010).
No ano de 1892, em São Paulo, o médico convidado pelo governo para orientar
sobre a assistência aos doentes mentais, o doutor Franco da Rocha, elaborou um
projeto que resultou na construção do Hospício Juquery, em 1893. No mesmo ano é
criada uma lei que somente permitia a internação do sujeito mediante um teste para
avaliar seu estado mental. Tal lei também visava a criação de mais hospícios com o
objetivo de separar alienados comuns e alienados criminosos; pois, até então, todos
os ‘desajustados’ sociais, incluindo os loucos, eram encarcerados; ou na prisão ou
nas alas especiais das Santas Casas. (POSTEL e QUÉTEL, 2000).
No final do séc. XIX e inicio do XX o Brasil entrava no processo de urbanização,
resultante dos efeitos da abolição da escravatura, bem como da decadência das
velhas lavouras. Também, os portos passaram a receber uma considerável
quantidade de imigrantes que além de fugirem da pobreza de seus países, também
eram uma mão de obra para o progresso da nação. Assim, um grande número de
pessoas passou a viver nas metrópoles que não possuíam estruturas e saneamento
básico para a maioria. Portanto, decorrente do processo de urbanização e da
consequente necessidade de manutenção da ordem das cidades em crescimento,
houveram pressões sociais exigindo restrições à circulação dos alienados. (ODA e
DELFALARRONDO, 2004).
raça superior a partir do acasalamento de pessoas consideradas intelectuais e que a intelectualidade era passada
de geração em geração. (MANSANERA e SILVA, 2000).
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3. A REFORMA PSIQUIATRICA
Após a Segunda Guerra, o mundo passou a questionar a visão romântica do
homem erigida pelo Iluminismo, bem como, o tal ideal de sujeito de razão, provocando
uma ruptura nas crenças que sustentavam as relações humanas até aquele período.
Também, pela repercussão das terríveis experiências nazistas, a bomba atômica e
todas as barbáries ocorridas, a visão e o poder dado a ciência é questionado, incluindo
aí, o papel da Psiquiatria.
Para redimensionar a cultura e o passado fragilizado pela Guerra, surgem, a
partir de diversos saberes, tentativas de construção de uma nova ordem social,
política e econômica. Também, fez-se necessário o surgimento de meios de
acolhimento daqueles que foram aprisionados, de veteranos de guerra e aqueles com
sequelas de diversa ordem. Neste instante histórico que surge os primeiros métodos
de Aconselhamento Psicológico, da Fenomenologia e do Existencialismo. (ALVES et
al, 2009).
Na Inglaterra, na década de 50, são criadas as Comunidades Terapêuticas,
implementadas primeiramente pelo psiquiatra Maxwel Jones que enxergava no
modelo do Hospital Psiquiátrico, seu isolamento e exclusão, ineficaz. Assim, o médico
inglês baseado no ideal democrático, dá ênfase no envolvimento não somente da
equipe hospitalar com o paciente, mas, também neste com a comunidade. A França
também teve experiências parecidas; como a Psicoterapia Institucional e a Psiquiatria
de Setor, que visavam a reinserção do portador do transtorno mental à sociedade,
tendo na internação apenas uma etapa do tratamento terapêutico. (ALVES et al, 2009;
AMARANTE, 1998).
Já na década de 60, nos Estados Unidos, desenvolveu um movimento
denominado de Psiquiatria Comunitária que almejava a aproximação da Psiquiatria
da Saúde Pública.
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No Brasil, nos anos 60, a psiquiatria pública passa por um grande declínio,
enquanto surge o crescimento da psiquiatria privada em convênio com o Estado 3.
Paralelamente a esse cenário, assim como emergia em outros países, os profissionais
brasileiros começavam a observar os movimentos da Psicoterapia Institucional, da
Psiquiatria de Setor, Psiquiatria Preventiva entre outros, iniciando-se assim, um
processo de questionamento ao modelo manicomial predominante.
(AMARANTE,1998).
Foi apenas em 1978, que de fato iniciou a reforma psiquiatra brasileira, como
marco inaugural a fundação do Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental, o
MTSM.
No ano de 1979, Basaglia veio pela terceira vez ao Brasil participar de uma
conferencial onde falou brevemente sobre o controle que a psiquiatria exercia sobre a
população, sobre o uso perverso do discurso científico sobre as classes miseráveis
por meio da instituição manicomial a qual fazia a gestão dos indesejáveis econômica,
social e politicamente. Nessa mesma visita, conheceu o Hospital Psiquiátrico de
Barbacena, em Minas Gerais; o que o deixou horrorizado e profundamente deprimido
com o que viu, descrevendo posteriormente como um lugar pior do que um campo de
concentração. A sua crítica radical ao manicômio inspirou profundamente os
movimentos antimanicomiais no Brasil.
Nos anos de 1980, após duas décadas de ditadura Militar, o país é marcado
por um processo de redemocratização. Neste contexto, inicia o Movimento pela
Reforma Sanitária que lutava pela abertura e livre acesso da população à assistência
à saúde; culminando em 1988 na inclusão da Constituição Federal do artigo 196,
considerando a saúde o direito de todos e dever do Estado. Em 1990, a Lei 8.080,
institui o Sistema Único de Saúde; o SUS, garantindo o direito universal de todos no
território brasileiro, de forma gratuita, a atenção integral aos serviços de saúde. Assim,
a partir desse momento, observa-se o movimento de estruturação de uma rede pública
de atenção à saúde mental. (LUCHMANN e RODRIGUES, 2007).
Em 1987, inspirada pela Psiquiatria Democrática Italiana, o MTSM lança a
bandeira “ Por uma Sociedade sem Manicômios”. É nesse contexto que surge a Lei
4Centros de atenção psicossocial como o CAPSi, voltado ao atendimento infantil, o CAPSad, voltado para ações
de prevenção e tratamento ao uso indevido de drogas e as residências terapêuticas voltadas exclusivamente,
para pacientes psiquiátricos de longa permanência em instituições asilares fechadas e sem possibilidade de
restituição dos vínculos familiares.
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4. CONCLUSÃO
O que foi percebido nesta breve trajetória sobre o lugar da loucura e as formas
de relações entre o sujeito dela e a sociedade, foi as diferentes configurações que se
deram no decorrer da história. O louco foi se ressignificando para a sociedade à
medida que mudavam os interesses e as ideologias dominantes de cada época.
Assim, através do nascimento da Psiquiatria no ambiente revolucionário
francês do final do século XIII, o louco passa a ser não só o inadaptável social de
outrora, mas também, o objeto de ser da nova medicina, portanto, também o doente.
No Brasil, o pensamento eugenista predominante norteou, entre outras áreas
de saber, o nascimento e desenvolvimento da Psiquiatria e por consequência da
Psicologia no país. Tal lógica excludente, violenta e manicomial, ainda hoje tem nos
profissionais de saúde mental alguns fervorosos defensores. Como afirma Dimenstein
(2009, p. 08):
Somente seria possível superar a lógica manicomial se assumíssemos a
subversão da própria concepção de instituição psiquiatra como saber
hegemônico. Isso requer assumir radicalmente um projeto de
desinstitucionalização que ultrapasse as fronteiras sanitárias e se transforme
numa luta política, teórica e prática que visa articular uma rede comunitária
de cuidados, englobando diferentes serviços substitutivos ao manicômio.
REFERÊNCIAS