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SÓCRATES E PLATÃO

• Sócrates (470 -399 a.C) nunca deixou nada escrito, pois dizia que
escrever seria o mesmo que aprisionar o pensamento.

• Apesar das polêmicas sobre sua existência, o que sabemos de Sócrates


deve-se, principalmente, aos seus discípulos e adversários, por meio dos
seguintes textos:

Platão (428-347 a.C.) - obras mais conhecidas: A República, A apologia de


Sócrares, O Banquete, Fédon – principal discípulo, apresenta a filosofia de
Sócrates.

Xenofonte (430-355a.C) – discípulo, escreveu a obra Ditos e Feitos


Memoráveis de Sócrates, apresentando dados de caráter biográficos do
pensador grego.

Aristófanes (447- 385 a.C.), poeta crítico de Sócrates, escreveu a primeira


comédia do Ocidente, As nuvens, obra em que acusa Sócrates de subverter
a democracia, as tradições e a religião. Apresenta Sócrates como inimigo da
cidade de Atenas.
• Sócrates trouxe novos questionamentos ao pensamento filosófico.
Enquanto os pré-socráticos se perguntavam essencialmente pela
arché, Sócrates inova com os seguintes elementos:

- Teoria do conhecimento que supõe uma rígida separação entre corpo


(mythos) e alma (logos).

- Teoria política – elaboração de um regime político por meio da razão, e


não mais por meio dos mitos. Tal modelo subverte as tradições gregas.

- Elaboração de uma pedagogia (paideia) e uma teoria estética (a noção de


belo).

- Sistemática oposição aos mitos, aos sofistas e à democracia ateniense.

- Elaboração formal de um método filosófico, a dialética.

- Primeira formalização monoteísta para filosofia.


Mundo Inteligível
eo
Mundo Sensível
DEUS, BEM, BELO, JUSTIÇA,
VERDADE (SOL)
MUNDO INTELIGÍVEL
(MUNDO DAS IDEIAS)
IDEIAS (eidos), FORMAS ORIGINAIS
RELACIONADO AO LOGOS E AO (ETERNAS, PURAS, PERFEITAS E
CONHECIMENTO VERDADEIRO
IMUTÁVEIS); ESSÊNCIAS –
NÚMEROS E FORMAS
GEOMÉTRICAS (REALIDADE FORA
DA CAVERNA)

OBJETOS CONCRETOS; O MUNDO


FÍSICO, CORPÓREO E MATERIAL;
HÁ CÓPIAS DAS IDEIAS
ORIGINAIS, SÃO IMPERFEITAS
MUNDO SENSÍVEL TRANSITÓRIAS, DEGENERADAS
RELACIONADO AO MYTHOS, AOS SENTIDOS,
(CAVERNA)
ÀS APARÊNCIAS, ILUSÕES , ERRO E
IGNORÂNCIA..
CÓPIA DAS CÓPIAS DAS IDEIAS
ORIGINAIS; SOFISTAS, POETAS,
MITOS, ARTES, APARÊNCIAS,
SIMULACRO (SOMBRAS) +
(MIMESIS)
Exemplos: O que é o número?
O que é a verdade?
O que é o bem?
O que é justiça?

Com essas questões, percebemos que tais


concepções apenas podem ser compreendidas
por meio da razão, ou seja, apenas existem no
mundo das ideias. Dessa forma, o que vemos
na vida sensível não passa de cópias.
“Alegoria”
(agoreuein)
ou “mito” da caverna?

(presente no livro VII de A República de Platão – adaptado por Marilena Chauí em


Convite à filosofia)
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à
geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos
pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são outros o que viu e tentaria libertá-los.
forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros
para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não
lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo
penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o
que se passa no interior. que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam
Entre ela e os prisioneiros — no exterior, portanto — há um caminho ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem
ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse sair da caverna rumo à realidade. O que é a caverna? O
a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta- mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas?
palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o
seres humanos, animais e todas as coisas. prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo
prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira
das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o
estatuetas, nem os homens que as transportam. Como jamais viram qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O
outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as que é a visão do mundo real iluminado? A Filosofia. Por que os
próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão
podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela
outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem assembléia ateniense)? Porque imaginam que o mundo
saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e sensível é o mundo real e o único verdadeiro (Mito da Caverna
imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna. de Platão, adaptado por Marilena Chauí)
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros?
Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a
caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a
fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a
caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o
caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro momento, ficaria
completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele
ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a
claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e,
prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo
que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as
sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que
somente agora está contemplando a própria realidade.
• Dualidade entre o Mundo
Sensível e o Mundo Inteligível.
Mundo Inteligível ou das
Ideias
• Apenas é acessível pela Razão.
• Nesse mundo estão as verdades, também
chamadas de essências, formas ou ideias.
• A verdade é eterna, imutável e universal. Não se
transforma jamais, o que a difere das aparências
presentes no mundo sensível.
• A Razão, por conduzir o homem à verdade,
produz as virtudes e guia a vida para o bom
caminho, e não para os vícios.
Mundo Sensível
• Tudo que pertence a este mundo, o mundo material, está
em transformação, ou seja: é transitório e muda.
• Somos guiados pela sensibilidade (os sentidos).
• Os sentidos, muitas vezes, nos enganam, pois somos
guiados pelas emoções (é o que faz a poesia e o mito).
• O mundo sensível, portanto, é dominado pelas
aparências (o que, por sua vez, lembra as sombras da
“Alegoria da Caverna”).
• Para Platão e Sócrates, tudo o que é transitório, tudo o
que muda não pode corresponder à verdade.
• As aparências podem produzir os vícios, pois acomodam
o corpo. Os vícios são então as paixões produzidas pelos
sentidos, fazendo do homem escravo do prazer produzido
pelo corpo.
• Relaciona-se ao simulacro (sombras e aparências) e é
promovida pelas paixões e desejos.
• Dessa forma, no mundo inteligível estão
nossas ideias originais. É o que se chama
de Logos (razão, ciência, conhecimento,
discurso racional que nos leva à verdade, ou
seja, trata-se da atividade do filósofo);

• No mundo sensível (ou das aparências),


por sua vez, apenas vemos as cópias das
ideias, ou seja, sombras. Esse mundo
corresponde ao Mito (Mythos significa um
discurso sensível, como as narrações do
poeta ou do sofista que podem enganar,
conduzindo ao erro).
Filosofia vs Sofistas
- Os sofistas são identificados como educadores
profissionais que davam instruções a jovens e exercícios
públicos de eloquência, por pagamento. Eram bons oradores e,
na esfera política, conseguiam convencer a maioria dos
cidadãos a seguirem os seus desejos. Os sofistas, por isso,
podem ser comparados aos demagogos, pois utilizam-se do
discurso sensível para enganar os homens. Passou-se, assim,
para a história, a imagem do sofista como educador
empenhado, sobretudo, em lucrar com seus conhecimentos.

- Contra essa postura, Sócrates e Platão inventaram a


Dialética, que é um debate, uma discussão e um diálogo
feito por meio de sucessivas perguntas do filósofo, o qual
questiona as opiniões das pessoas comuns, principalmente
dos sofistas. A dialética expõe ideias contrárias e contraditórias
para que o pensamento e a linguagem passem da contradição
entre as aparências à identidade de uma essência. A dialética
se opõe à doxa (senso comum ou opinião, guiadas pelas
paixões e que conduzem ao erro e à ignorância).
A política na Politeia
(República) de Platão.
POLIS POLITEIA
(MYTHOS) X (LOGOS)
Acrópole – Atenas:
designação: Polis

Roma Antiga:
designação Urbes
A cidade antiga como altar sagrado
• Com a veneração dos antepassados, dos
ancestrais [e também divindades] [...] a
terra era vista como um ente sagrado,
depositária dos deuses. Sagrada era a
terra; sacra, a casa [...]. Tudo era sagrado
para o homem antigo. Desde o levantar, o
alimentar-se, o deitar-se era um ato
divino. O mundo estava povoado de
deuses. (Coulanges. A cidade Antiga)
• Enraizaram os povos, unificando-os em
torno do mesmo ideal: ora em torno de um
totem, ora em torno de um deus, ora em
torno de um sacerdote, chefe e outras
autoridades ou fetiches. A urbes [ou a
cidade – Pólis para os gregos] surgiu
como um santuário, local de reunião,
quando as famílias, as fratrias e as tribos
convencionaram unir-se e terem o mesmo
culto comum. Segundo Coulanges, a
fundação da urbe [a cidade] sempre foi
um culto religioso.
• As urbes ou as pólis tinham um caráter
sagrado e consequentemente eram
criadas para serem eternas. (Coulanges
– A cidade Antiga)
A Ágora e o bem-comum

• Com o passar do tempo, houve o


aumento populacional, a necessidade de
sobrevivência e distinção entre o espaço
público e privado. Na Grécia antiga,
veremos surgir a ágora, local de reunião
pública e local para a discussão política. É
nesse cenário que se desenvolve a
política por meio do discurso ou da
linguagem, sobretudo em Atenas.
O conceito de cidadania na Grécia
Eram considerados cidadãos todos aqueles que estivessem em
condições de opinar sobre os rumos da sociedade. Entre tais
condições, estava a de que fosse um homem totalmente livre, isto
é, não tivesse a necessidade de trabalhar para sobreviver, uma
vez que o envolvimento nos negócios públicos exigia dedicação
integral. Dessa forma, era pequeno o número de cidadãos, (a
maioria proprietária de terras, ou seja, dotada de oikos —
economia — administração do lar). Esse sistema excluía, além
dos homens ocupados (comerciantes, artesãos), as mulheres, os
escravos e os estrangeiros. Praticamente, apenas os
proprietários de terras eram livres para decidir sobre o governo. A
cidadania grega era compreendida apenas por direitos políticos
exercidos por meio do discurso e das decisões políticas. A
cidadania identificava-se com a participação nas decisões sobre a
coletividade.
• Na cidade antiga, não se concebia o
conceito de liberdade individual, de modo
que a liberdade era apenas entendida no seu
sentido coletivo: atuar na Ágora e possuir a
mesma religião da cidade.

• Sócrates foi morto por se opor à religião e ao


modelo político da cidade de Atenas, ou seja,
não existia a noção de direito individual que
temos hoje.
Sócrates e Platão contra à democracia ateniense

• No século IV a.C., em data imprecisa, surgiu, em


Atenas, a primeira concepção de sociedade perfeita
que se conhece. Tratou-se do diálogo A República
(Politeia), escrito por Platão, o mais brilhante e
conhecido discípulo de Sócrates.

• Platão foi um dos maiores críticos da democracia


do seu tempo — pelo menos daquela que era
praticada em Atenas e que ele conheceu de perto.
• O diálogo platônico ou socrático orientou-se no sentido
de determinar como constituir uma sociedade justa.

• Como tal não existia na realidade, os participantes se


ocuparam, então, de imaginá-la, bem como determinar
sua organização, governo e a qualidade dos seus
governantes. Trata-se de uma cidade que apenas existe
no plano ideal, formulada pela sabedoria da razão
(mundo das ideias).

• Para Platão, a educação (paideia) seria o ponto de


partida e principal instrumento de seleção e avaliação
das aptidões de cada um. Sendo a alma humana
(psikê) um composto de três partes:
FILÓSOFO(A)S-
REIS/RAINHAS

GUERREIRO(A)S

ARTESÃOS
• Se cada indivíduo ocupar o espaço que lhe é
devido, a justiça estará feita. A Justiça (dikê), dessa
forma, é entendida não como uma distribuição
equânime da igualdade, como modernamente se
entende, mas como a necessidade de que cada um
reconheça o seu lugar na sociedade segundo a
natureza (ou aptidão natural) das coisas e não tente
ocupar o espaço que pertence a outro.

• A intenção foi reformar o sistema de classes


estabelecido pelas diferenças de renda e patrimônio
(ricos, pobres e remediados), comuns na maioria das
épocas históricas, substituindo-o por um outro,
baseado nas atribuições naturais com que cada um
é dotado (razão, coragem, apetite).
• A sociedade ideal, perfeita, só é possível quando se suprime a
desigualdade entre os seus cidadãos, cabendo ao Estado
confiscar toda a riqueza privada fazendo dela um fundo
comum utilizado somente para a proteção coletiva.

• O ouro, não sendo de ninguém em particular, existindo enquanto


tesouro estatal, não poderá ser usado para provocar a discórdia
e a inveja, tão deletérias à paz social.

• O casamento monogâmico entre os guerreiros e guerreiras, por


sua vez, base em que se apóia o poder dos ghénos, o poder das
famílias, deveria igualmente ser abolido, fazendo com que
fossem substituídos por cerimônias nupciais coletivas — o
himeneu coletivo, cujo objetivo é meramente reprodutivo. Os
filhos desse tipo de casamento seriam todos considerados,
indistintamente, filhos da comunidade.
• A sociedade ideal deveria ser governada
pelos filósofos, ou pelo filósofo-rei,
porque somente o homem sábio tem a
inteira ideia do bem, do belo e da justiça.
Consequentemente, ele terá menos
inclinação para cometer injustiças ou de
praticar o mal, impedindo os governados de
se rebelarem contra a ordem social.

• Platão defendeu também a participação


das mulheres em seu modelo político.

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