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APOSTILA

DE
FILOSOFIA
(2º ANO - ENSINO MÉDIO)

ALUNO (A):

TURMA:

ESCOLA ESTADUAL SINVAL RODRIGUES COELHO


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PLATÃO (427-347 a.C.) E O MUNDO DAS IDEIAS

Alegoria da Caverna de Platão

Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea desde que
nasceram estando todas de costas para a entrada da caverna e acorrentadas pelo pescoço e pés,
de sorte que tudo o que veem é a parede ao fundo da caverna. Atrás delas ergue-se um muro
alto e por trás desse muro passam outras pessoas carregando objetos que se elevam para além
da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam
sombras na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é
este “teatro de sombras”. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram elas acham que
as sombras que veem são a única realidade que existe. Imagine agora que um desses habitantes
da caverna consiga se libertar das correntes que o aprisionam. Primeiramente ele se pergunta
de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da caverna. E o que acontece quando ele se
vira para as figuras que se elevam para além da borda do muro? Primeiro, a luz é tão intensa
que ele não consegue enxergar nada. Depois, a precisão dos contornos das figuras, de que ele
até então só vira as sombras, ofusca a sua visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo
fogo para poder sair da caverna, terá mais dificuldade ainda para enxergar devido à abundância
de luz. Mas depois de esfregar os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá
cores e contornos precisos; verá animais e flores de verdade, de que as figuras na parede da
caverna não passam de cópias. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde
vêm os animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores
e aos animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver
as sombras refletidas na parede. Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente
pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que
ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar e à
medida que vai adentrando na caverna, sua visão desabituada à penumbra lhe traz dificuldades
para enxergar, até que se acostume novamente à escuridão. Assim que chega lá, ele tenta
explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade.
Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo
que veem é tudo o que existe; é a única verdade que existe; é a realidade. Por fim, acabam
matando aquele que retornou pelo fato de estar dizendo um monte de "mentiras", tentando
desvirtuá-los e confundi-los.
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MUNDO SENSÍVEL VS MUNDO INTELIGÍVEL

Platão afirmava que tudo no Mundo Sensível são "cópias" imperfeitas da Ideia presente no Mundo Inteligível.

TEORIA DA REMINISCÊNCIA OU ANAMNESE

Para explicar a teoria da reminiscência, Platão narra o mito de Er:


O pastor Er, da região da Panfília, morreu e foi levado para o Reino dos Mortos. Ali chegando,
encontra as almas dos heróis gregos, de governantes, de artistas, de seus antepassados e
amigos. Ali, as almas contemplam a verdade e possuem o conhecimento verdadeiro.
Er fica sabendo que todas as almas renascem em outras vidas para se purificarem de seus
erros passados até que não precisem mais voltar à Terra, permanecendo na eternidade. Antes
de voltar ao nosso mundo, as almas podem escolher a nova vida que terão. Algumas
escolhem a vida de rei, outras de guerreiro, outras de comerciante rico, outras de artista, de
sábio, etc.
No caminho de retorno à Terra, as almas atravessam uma grande planície por onde corre um
rio, o Lethé (que, em grego, quer dizer esquecimento), e bebem das suas águas. As que bebem
muito esquecem toda a verdade que contemplaram; as que bebem pouco quase não se
esquecem do que contemplaram no Mundo das Ideias.
As que escolheram vidas de rei, de guerreiro ou de comerciante rico são as que mais bebem
das águas do esquecimento; as que escolheram a sabedoria são as que menos bebem.
Assim, as primeiras dificilmente (talvez nunca) se lembrarão, na nova vida, da verdade que
contemplaram, enquanto as outras serão capazes de lembrar e ter sabedoria, usando a razão.
Por isso, “Conhecer”, diz Platão, é recordar a verdade que já existe em nós; é despertar a
razão para que ela se exerça por si mesma. É com esse objetivo que Sócrates fazia perguntas,
pois, através delas, as pessoas poderiam lembrar-se da verdade e do uso da razão. Se não
nascêssemos com a razão e com a verdade, indaga Platão, como saberíamos que temos uma
ideia verdadeira ao encontrá-la? Como poderíamos distinguir o verdadeiro do falso, se não
nascêssemos conhecendo essa diferença?

TEORIA DAS ALMAS

A noção que Platão tem de justiça é reforçada pela sua teoria das almas. Para ele,
assim como na cidade há três classes distintas, também a alma humana possui três partes, cada
uma encarregada de uma função específica:
* Parte concupiscente ou apetitiva: concupiscência é sinônimo de "cobiça de bens materiais",
desejo de "prazeres sensuais". Situada no baixo-ventre (abdomen), é a parte da alma
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responsável pela busca da bebida, da comida, do sexo, dos prazeres, enfim, de tudo quanto é
necessário à conservação do corpo e à reprodução da espécie. É irracional e mortal (morre
juntamente com o corpo).
* Parte colérica ou irascível: irascível é quem se irrita ou se enraivece com facilidade.
Localizada no peito (tórax), sua função é defender o corpo contra tudo o que possa ameaçar
sua segurança. Também é irracional e mortal (morre juntamente com o corpo).
Parte racional: é a função superior da alma, o traço divino que há em nós. Situada na cabeça, é
responsável pelo conhecimento. Apenas essa parte é imortal (não morre junto com o corpo).

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TEORIA DO CONHECIMENTO

A teoria das ideias de Platão está diretamente ligada a sua teoria da alma. Na parte IV do seu
livro “República” Platão concebe o homem como corpo e alma. Enquanto o corpo modifica-se
e envelhece, a alma é imutável, eterna e divina. A alma, presa ao corpo, um dia foi livre e
contemplou as idéias, mas as esqueceu. Conhecer para Platão está ligado à
simples anamnese (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) da alma. É uma forma de
recordação do que já existe desde sempre na alma humana. Dessa forma, APRENDER para
Platão é tão somente o RECORDAR da Alma Racional sobre as IDEIAS contempladas quando
esta habitava o Mundo Inteligível.

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ARISTÓTELES (384-322 a.C.) – AS BASES DO PENSAMENTO LÓGICO E
CIENTÍFICO

- Nascido em Estagira, na Macedônia, Aristóteles – principal discípulo de Platão, por volta do


ano 335 a.C. fundou em Atenas a sua própria escola filosófica, que ficou conhecida como
Liceu, em homenagem ao deus Apolo Lício.
- Divergiu de Platão ao abordar a realidade reconhecendo a multiplicidade dos entes
percebidos pelos sentidos como reais. Com isso rejeitava a Teoria das Ideias do seu mestre,
que dizia que tudo o que é captado pelos sentidos não passa de sombras, cópias da verdadeira
realidade existente no mundo inteligível.
- Para Aristóteles, a ciência deveria sempre partir da realidade empírica, ou seja, sensorial
(captada pelos sentidos).

Platão e seu discípulo Aristóteles discordavam em alguns assuntos: Platão aponta o Mundo das Ideias como
o real e verdadeiro enquanto Aristóteles aponta para o Mundo Sensível como a verdadeira realidade. Essa
divergência vai fundamentar a "eterna" oposição entre Racionalismo e Empirismo.

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A “FILOSOFIA PRIMEIRA” OU METAFÍSICA

- No conjunto de obras denominado Metafísica, Aristóteles buscou investigar o “Ser enquanto


Ser” (= Ontologia). Significa que buscou compreender o que tornava as coisas o que elas são.
É preciso investigar as condições que fazem as coisas existirem, aquilo que determina “o que”
elas são e aquilo que determina “como” são (a essência das coisas).
- Metafísica(em grego antigo: Μετά τα φυσικά, ou seja, "depois dos livros de Física", "além
das coisas físicas") é uma série de tratadosescritos por Aristóteles(séc. IV a.C.), organizados
em um conjunto de quatorze livros após a morte do filósofo, por Andrônico de Rodes, que
também deu o título deMetafísicaao conjunto. O termo “metafísica” jamais foi empregado por
Aristóteles: ele usa a expressão “Filosofia Primeira”, que significa ciência das causas
primeiras, dos primeiros princípios e da finalidade de tudo o que é, enquanto é.

Principais conceitos da Metafísica Aristotélica


a) Matéria e Forma
- Tudo o que existe compõe-se de matéria e forma:
. matéria (hylé, em grego): o princípio indeterminado de que todos os seres e entes existentes
são feitos, sendo determinável pela forma.
. forma (morphé, em grego): o princípio determinado em si próprio e que individualiza e
determina uma matéria, fazendo existir as seres e entes particulares.

b) A Teoria das Quatro Causas


- Essa teoria expõe as causas primeiras de todas as coisas existentes:
. causa material: aquilo de que um ser ou ente é feito, sua matéria. Ex.: a argila.
. causa formal: a forma dada a essa matéria, constituindo assim a essência do ser ou ente, ou
seja, aquilo que define a sua identidade, diferenciando-o de outros entes. Ex.: o vaso de argila.
. causa eficiente: a força ou processo empregado para dar forma à matéria. Ex.: o oleiro.
. causa final: o objetivo, a razão de ser ou a finalidade para a qual alguma coisa existe. Ex.:
colocar flores, enfeitar.

c) Ato e Potência
- Aristóteles também se manifesta a respeito da permanência e da mudança (polêmica entre
Parmênides e Heráclito). Segundo ele, o movimento existe e não se encontra fora das coisas. O
que gera esse movimento é a possibilidade constante e infinita de algo poder vir a ser. É o que
está exposto nos conceitos de:
. ato: é a manifestação atual e presente do ser, ou seja, a forma como o ser se manifesta no
momento atual. Ex.: uma semente.
. potência: é a possibilidade de ser que está presente na matéria e que proporciona o vir a
existir, se for atualizada por alguma causa. Ex.: se plantada e regada, a semente pode vir a ser
uma planta.

d) Substância e Acidente
- E se pensarmos numa árvore frutífera que, por certas condições climáticas (clima seco, falta
de chuvas), não dê frutos (contrariando sua potência de dar frutos). Aristóteles classifica esses
casos ou qualidades do ser como acidentes, ou seja, algo que pode ocorrer no ser, mas que não
faz parte de seu ser essencial. Dessa forma é preciso distinguir em todos os seres e entes
existentes o que em cada um é:

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. substancial: propriedade estrutural e essencial do ser; aquilo que mais intimamente o ser é e
sem o qual ele não seria.
. acidental: propriedade circunstancial e não essencial do ser; aquilo que ocorre no ser não
sendo, porém, necessário para definir a natureza própria desse ser.

e) Teologia aristotélica – o “Motor Imóvel”


- Aristóteles também refletiu sobre a questão da origem do mundo. Para ele, o mundo é eterno,
isto é, nunca teve um princípio e nunca terá um fim, pois as noções de princípio e fim
contrariam a sua concepção de movimento.
- Se o movimento é tão somente a passagem da potência ao ato (em que varia apenas a forma,
mantendo-se a matéria), isso implica que existe sempre um algo antes (do qual se parte) e um
algo depois (ao qual se chega). Portanto, é impossível conceber, sem contradição,
o “começar” do mundo, pois faltaria o ponto de partida do movimento, ou seja, o algo antes
que possibilitaria o início do movimento (ato – potência). E é igualmente inconcebível
o “terminar” do mundo, pois faltaria o ponto de chegada do movimento. Assim, Aristóteles
concluiu que o mundo é regido por um movimento eterno, sem começo, nem fim.
- Porém, tudo que se move deve ter sido colocado em movimento por algo, um agente motor
(motor, do latim, “aquele que faz mover”), que, por sua vez, foi movido por outro agente, e
assim por diante, infinitamente. Mas, isso é inconcebível, pois precisa-se chegar à causa
primeira do movimento. Assim, ponderou Aristóteles: “tem de haver algo que seja eterno,
substância e ato, e que mova sem mover-se”. É aqui que ele propõe a doutrina do Primeiro
Motor ou Motor Imóvel, a causa primeira de todo movimento.
- O Primeiro Motor precisa ser imóvel, porque, do contrário ele necessitaria de algum outro
motor que causasse seu mover, e este precisaria de outro para iniciar o seu movimento, e assim
ao infinito. Portanto, para ser o primeiro, deve ser necessariamente imóvel, apesar de causador
de todo movimento.
- Mas, como é possível algo imóvel iniciar o movimento universal? Segundo Aristóteles, o
Primeiro Motor inicia o movimento por atração para si de todas as coisas. Todas as coisas
tendem àquilo que é bom, belo ou inteligente, e o Primeiro Motor – que é ato puro, ou seja,
não submetido à potência – é tudo isso: Inteligência Universal e Perfeição. Dessa forma, o
Primeiro Motor funciona como causa final do mundo, pois atrai para si todas as coisas, se
tornando a finalidade última de todas as coisas existentes.

PSICOLOGIA ARISTOTÉLICA

Diferentemente de Platão, Aristóteles afirmava que todo ser vivo tem apenas uma alma,
embora esta apresente diversas faculdades, pelas quais se dão atos diversos:
* Alma vegetativa – presente nas plantas em geral e suas características essenciais são
a nutrição e a reprodução.
* Alma sensitiva – presente na vida animal e suas características essenciais são
a sensações (visão, audição, tato, paladar e olfato) e a locomoção.
* Alma intelectiva – presente na vida humana, suas características essenciais é a racionalidade,
a inteligência e o pensamento.
Segundo Aristóteles a alma intelectiva cumpre também no homem as funções da vida
vegetativa e sensitiva, pois, para ele o princípio superior cumpre sempre as funções do
princípio inferior. Ainda de acordo com o filósofo, o corpo não é prisão para a alma, mas
instrumento pelo qual a alma intelectiva se manifesta. O homem é uma unidade substancial de
corpo e alma, em que o corpo constitui-se da matéria e a alma cumpre as funções de forma.

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CIÊNCIAS PRÁTICAS: A ÉTICA E A POLÍTICA

As Ciências Práticas, segundo Aristóteles, são aquelas cujo princípio é o homem como agente
da ação que tem por finalidade o próprio homem. Como a causa ou o princípio da ação é a
vontade racional, as ações verdadeiramente racionais e refletidas são aquelas que se realizam
para alcançar um fim, o Bem.
As ciências práticas são:
* A Ética – estabelece os princípios racionais da ação virtuosa, isto é, da ação que tem como
finalidade o bem do indivíduo enquanto ser que vive em relação com os outros.
Para Aristóteles, o agir humano deve ter como finalidade o bem e este só pode coincidir com
a eudaimonia (felicidade). Portanto, a eudaimonia só pode ser atingida pelo homem virtuoso.
Aristóteles define felicidade como “atividade da alma de acordo com a virtude”. A felicidade
consiste em se ter uma boa vida e esta somente pode ser conduzida de acordo com a virtude.
Para Aristóteles, as virtudes são adquiridas através da repetição sucessiva, fazendo surgir o
hábito: é praticando que aprendemos, e é praticando as virtudes que nos tornamos virtuoso.
Tornamo-nos justos não por sabermos o que é a Justiça, mas por praticarmos a Justiça. E tanto
mais justos seremos quanto mais a Justiça praticarmos. Por isso é tão importante contrair bons
hábitos desde a mais tenra infância. Se é fazendo que aprendemos a fazer as coisas, da mesma
forma, “realizando ações justas, tornamo-nos justos; ações moderadas, moderados; ações
corajosas, corajosos.” Assim, as virtudes tomam-se como que “hábitos”, “estados” ou “modos
de ser” que nós mesmos construímos.
Muitos são os impulsos e os apetites humanos a serem moderados pela razão, pois tendem ao
excesso ou à falta. Somente a razão pode impor a “justa medida”, que é o “meio caminho”
entre os dois extremos. Portanto, a virtude é uma espécie de mediania, porque, pelo menos,
tende constantemente para o meio. O excesso e a falta são próprios do vício, enquanto a
mediania é própria da virtude.

* A Política–estuda a ação dos homens enquanto seres sociais, procurando estabelecer os


princípios racionais da ação política, cuja finalidade é o bem comum, ou seja, da coletividade.
Na Política, Aristóteles afirma que o homem é por natureza um animal político
(zoonpolitikon), e que a vida na cidade é uma característica própria da natureza humana, pois
por ser naturalmente carente, o homem necessita de outras pessoas para alcançar a sua
plenitude. Isso faz do homem, um ser social.
Para Aristóteles, o homem é um animal político na medida em que se realiza plenamente no
âmbito da pólis. Para ele a “cidade ou a sociedade política” é o “bem mais elevado”. Por isso
os homens se associam em células, da família ao pequeno burgo, e a reunião desses
agrupamentos resulta na cidade e no Estado. Assim em sociedade, o homem poderá realizar a
sua potência mais elevada – a vida política. Devido ao fato de o homem poder ser o melhor ou
também o pior dos animais, dependendo de como faz uso de sua inteligência, a Justiça,
segundo Aristóteles, é o alicerce da sociedade – sua aplicação garante a ordem na comunidade.

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A finalidade da Ética e da Política

Contudo, ainda que seja natural o viver em comunidade, o que leva o homem a realizar
efetivamente a sua natureza política, é o bem viver, ou seja, ser feliz. A construção da boa vida
na cidade é obra da virtude cívica (política), na medida em que cabe ao bom cidadão escolher
deliberadamente uma mediania (ética), que visa ao bem comum, à eudaimonia.
A felicidade é um bem a ser alcançado pela comunidade, pois, segundo Aristóteles, a
cidade que é feliz é a melhor e a mais próspera, não sendo possível ser próspero sem agir bem.
Por isso, a coragem, a justiça e o bom senso quando presentes numa cidade geram o mesmo
resultado que indivíduos têm quando possuem essas qualidades morais.
Embora a Ética seja diferente da Política, pois a primeira possui como objeto o indivíduo e
a segunda a coletividade ambas se encontram interligadas, pois tanto virtude cívica (cidadão –
política) quanto virtude moral (indivíduo – ética) tem como finalidade a eudaimonia, através
da escolha deliberada do meio termo (virtude ética – areté). Assim, Ética é uma doutrina moral
individual, e a Política é uma doutrina moral social.
Por fim, como a felicidade da cidade depende da felicidade individual dos cidadãos que a
habitam, seria necessário tornar cada cidadão o mais possível virtuoso, mediante uma
adequada educação.

O PERÍODO HELENÍSTICO E AS SUAS ESCOLAS FILOSÓFICAS

No Mediterrâneo, por volta do século XVII a.C., uma relevante civilização tomava forma. Seus
cidadãos se autodenominavam “helenos”. Entretanto, acabaram ficando conhecidos, mundo afora,
como gregos.

Na mitologia helênica (grega) conta-se que um tal de Heleno teve três filhos e que deles se originaram
as principais civilizações que viriam a compor a região que, posteriormente, ficaria conhecida como
Grécia.

O que foi o Helenismo?

O período Helenístico é o contexto histórico no qual a Filosofia Helenística se insere. Ele começa
com a expansão do Império Macedônio, no século IV a.C., e termina com a conquista das cidades
gregas pelos romanos, no século II a.C. Contudo, a Filosofia Helenística continuou até a cristianização
do Império Romano.

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Os macedônios conquistaram as cidades gregas no século IV a.C., liderados pelo rei Filipe II. Seu
filho, Alexandre, continuou o processo iniciado por seu pai, na direção do Oriente, conquistando os
territórios da Mesopotâmia, Egito e Índia.
No império construído por Alexandre, O Grande houve o encontro de diversas culturas até então
distanciadas. Isso levou à mescla de práticas e conhecimentos, sendo a língua grega usada para a
comunicação comum.
Contudo, apesar do enriquecimento cultural mútuo, a dominação macedônica trouxe muitas
transformações para o mundo grego, gerando crises, inclusive de identidade cultural. Foi um período
conturbado em que o homem deixou de ser o componente mais importante de uma comunidade restrita
para se tornar simples cidadão de um vasto império. A perda da importância política individual fez
muitos se dedicarem cada vez mais à busca da felicidade pessoal. Substituiu-se a vida pública pela vida
privada como centro das reflexões filosóficas. As principais correntes filosóficas desse período
trataram da intimidade, e da vida interior do ser humano.
Em momentos assim, de transformações, os helenos geralmente voltavam-se para a Filosofia.
Porém, a própria palavra “Filosofia” teve seu sentido alterado. De busca da verdade, passou a
significar a atividade que busca a vida feliz, ou a arte destinada a reger a vida.
A Filosofia deixou de ser vista como um saber e ganhou características de fundamento da vida. Os
filósofos passaram a pedir mais do que a verdade e colocaram a Filosofia como substituta da religião,
das convicções políticas e sociais, inclusive da moral.
As principais escolas filosóficas do Período Helenístico procuravam, basicamente, estabelecer um
conjunto de preceitos racionais para dirigir a vida de cada um e, através da ausência do sofrimento,
chegar ao bem-estar e à felicidade.
Assim, a Filosofia Helenística é o repertório de saberes que dão uma moral mínima e de
resistência para a vida em tempos duros, de intensa transformação. A principal preocupação dos
autores do helenismo é com a Ética e de como viver uma boa vida, uma vida feliz.
A começar pelas coisas que as unem, as escolas do Helenismo possuem uma forte
influência socrática, uma vez que foram fundadas após a morte de Sócrates, filósofo que ganhou
bastante notoriedade com suas investigações acerca da vida. Foi justamente nessa onda de investigação
sobre a vida que as escolas do período Helenístico ficaram vidradas. Ora, a Filosofia começou tentando
desvelar os mistérios acerca do mundo a sua volta com filósofos como Tales, Heráclito e Demócrito,
que tentaram explicar o cosmos, isto é, de que forma e do que esse mundo e todas as coisas nele são
feitos. Todavia, Sócrates acabou mudando um pouco o foco do assunto. Ele acabou ganhando
notoriedade por trabalhar outros assuntos mais ligados à vida cotidiana na sociedade grega.
Na esteira socrática de como viver a vida, as escolas do Helenismo cultivaram em suas
características uma Filosofia da boa vida. Isto é, elas investigaram como nós podemos viver as nossas
vidas de maneira que a angústia da existência não seja um fardo a ser carregado. Todas elas
partilhavam de um amor incondicional pela sabedoria, entendendo que é só pela sabedoria que
encontramos a harmonia com o cosmos.

As escolas do Helenismo

As principais escolas do Helenismo, ou, ao menos, as que ganharam mais notoriedade, foram:
Cinismo, Estoicismo, Epicurismo e Ceticismo.

a) O Cinismo

O Cinismo é uma corrente filosófica que foi fundada pelo filósofo Antístenes de Atenas (445 –
365 a.C.), que foi discípulo do grande Sócrates.
Cinismo vem do grego kynos, kynismós, que significa “cão”, ou “viver como um cão”. Designa
assim a corrente dos filósofos que se propuseram viver como os cães da cidade, sem qualquer
propriedade e conforto. A ideia é fazer referência à maneira como devemos viver para alcançar a
felicidade.

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O Cinismo idealizava uma vida simples. Para eles o exercício da Filosofia rimava com cultivar
essa vida simples, desapegada das coisas materiais.
Mediante a aversão pelas riquezas, o desprezo pelo conforto e a busca pelo desapego das coisas
materiais, os cínicos levavam uma vida livre das convenções sociais.
Basicamente uma pessoa adepta da filosofia cínica defende que o ser humano não precisa se apegar
aos bens materiais ou a vaidades criadas pela sociedade para ser feliz. As vaidades da sociedade dizem
respeito às posições sociais que adquirimos com o nosso trabalho ou à qual pertencemos desde o nosso
nascimento.
O grande expoente da filosofia cínica foi Diógenes de Sinope (412 – 323 a.C.). Diógenes morava
em um barril, vestia apenas um pedaço de pano e uma de suas únicas posses era um cajado; animais
viviam e circulavam ao seu redor. Como bom adepto do Cinismo, Diógenes levava uma vida simples,
rejeitando os confortos materiais, bem como o fizera Sócrates. Porém, Diógenes levou ao extremo essa
ideia de simplicidade: rejeitou os valores mundanos e passou a morar num velho barril de vinho feito
de argila.
Dizem que Diógenes andava por Atenas carregando uma lamparina em plena luz do dia, dizendo
estar à procura de uma pessoa honesta, mas só encontrava pessoas mesquinhas, hipócritas e cheias de
si.
Plutarco narrou em sua obra “Moralia” que, certa vez, Diógenes, já velho, estava em seu barril
tomando um banho de sol, como era de costume. Eis que apareceu em sua frente Alexandre Magno, o
imperador de toda a Grécia. O conquistador disse que estava admirado em conhecer o filósofo e que
ele poderia pedir qualquer coisa e este pedido seria realizado. Diógenes simplesmente teria respondido:
“Senhor, não tire de mim o que não podes me dar, quero apenas que saia da frente do sol”.

A estátua de Diógenes e Alexandre Magno, em Corinto. Dizem que após ser “trolado”
Alexandre partilhou do bom humor cínico e respondeu: “És sem dúvida um sábio. Se eu
não fosse Alexandre gostaria de ser Diógenes”.

Diógenes foi bastante reverenciado no meio filosófico, principalmente pelos Estoicos, outra escola
do Helenismo. Sendo inclusive considerado um ideal de filósofo. Enfim, segundo o Cinismo a pessoa
mais próxima da felicidade é aquela que vivem em harmonia com a natureza, saciando suas
necessidades ao passo que elas surgem, livre das convenções impostas pela sociedade e se satisfazendo
com o mínimo.
Assim nasceu a filosofia cínica, que contesta os apegos materiais e as pompas da sociedade, ou seja,
as ambições pela riqueza, os luxos e a ostentação. Assim, para os cínicos a felicidade significa o desapego
aos bens materiais e aos títulos sociais. Este desapego conduz o homem à liberdade e à felicidade.
Principais representantes do Cinismo:
- Antístenes (445 – 365 a.C.)
- Diógenes de Sinope (412 – 323 a.C.)

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- Crates de Tebas (365 – 285 a.C.)
- Menipo de Gadara (300 – 260 a.C.)
- Demetrius (10 – 80 d.C.)

b) O Estoicismo

Após a morte de Aristóteles, duas grandes escolas do Helenismo surgiram: o Estoicismo e o


Epicurismo. Embora tivessem bastante em comum, essas escolas divergiam em alguns pontos.
O Estoicismo foi uma doutrina filosófica fundada por Zenão de Cítio (333 – 263 a.C.), um
discípulo de Diógenes de Sínope.
O nome Estoicismo vem da expressão grega stoà, que significa Pórtico, nome do local onde Zenão
ensinava os seus discípulos em Atenas.

Tudo começou quando o barco de Zenão, que até então era um mercador, naufragou e ele perdeu
toda a sua riqueza. Zenão acabou chegando em Atenas e lá teve contato com as ideias de Sócrates,
através de seus discípulos. Foi a partir daí que o fundador do Estoicismo percebeu que o mundo não
material (das ideias, do intelecto, do conhecimento) era mais agradável de se viver do que aquele em
que a sua versão mercantilista vivia. Assim, decidiu se dedicar ao estudo da Filosofia, o que
eventualmente o levou à fundação da escola estoica.
Zenão buscava uma abordagem mais prática para a Filosofia, falando de coisas como a morte, a
felicidade e outros aspectos da vida cotidiana. De maneira simples, o Estoicismo pregava que a
Filosofia nos ensina a agir, não a falar.
Esta corrente filosófica partia da ideia do direito natural. Zenão acreditava que todas as pessoas são
um tipo de “micro-cosmo” e que todos fazem parte de um cosmos maior ainda, o universo ou “macro-
cosmo”. Pensar assim significa retirar de todos os seres humanos as suas diferenças, ou seja, somos
todos, em natureza, iguais: homem, mulher, brancos, negros, cristãos, não-cristãos, escravos, livres,
etc.
Partindo da premissa que diz que o cosmos é um todo ordenado, ideia provavelmente inspirada na
Filosofia de Aristóteles, o modelo Estoico sugere que exista um Logos. Isto é, uma estrutura racional
do cosmos composta por relações de causas e seus efeitos. Ora, é possível observar, e por meio da
razão, entender essas causas e efeitos, pois, suas manifestações no mundo são cognoscíveis
(compreensíveis, perceptíveis) a nós.
Os estóicos ainda acreditavam que tudo o que acontece conosco é algo que de algum modo já estava
estabelecido pela própria natureza. Assim, não devemos nos preocupar, nem sofrer com os
contratempos que nos afligem, pois não podemos controlar as leis do universo.
Assim, o Estoicismo afirmava que não é possível controlar todas as relações existentes no
macrocosmo, mas, é possível controlar como decidimos lidar com essas relações, ou seja, não
podemos mudar as coisas a nossa volta, mas é possível mudar a forma como lidamos com elas.

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Exemplo:

Imagine que você está planejando uma viagem há muito tempo. Então, finalmente chega o dia e
você sai de casa feliz da vida rumo ao seu destino. No meio do caminho, o tempo muda abruptamente.
Nuvens de chuva surgem e seu passeio pode estar comprometido. Do ponto de vista do Estoicismo,
você tem duas alternativas: desistir da sua viagem e voltar pra casa, arruinando com tudo o que você
planejou ou compreender que a chuva é um fenômeno da natureza que não está no nosso controle, mas,
que tal fenômeno vai cessar e nem por isso, você precisa acabar com sua viagem. Um estoico
analisaria a situação e escolheria a segunda opção. Pois não há sentido racional em deixar que algo,
que você não tem controle algum, acabe com um passeio que você programou.
Em suma, o Estoicismo busca agir de acordo com a natureza. Aceitar o que está sob o nosso
controle (mudar o que dá para mudar) e aceitar também o que não está sob o nosso controle (nesse
caso, mudar a forma com que lidamos com aquilo que não é possível mudar). Isso é uma espécie
de indiferença frente ao mundo e ao que não está sob o nosso controle, o que os gregos chamavam de
ataraxia, – um estado de imperturbabilidade da alma ante os sofrimentos e os males do mundo. Seu
ideal de vida era alcançar uma serenidade diante dos acontecimentos da vida, fundada na aceitação das
"leis universais do cosmos", que regem toda a vida.
Isso tudo pode ser feito a partir de uma vida centrada no auto-aperfeiçoamento, que se desenvolve
ao praticar uma conduta ética fundamentada em quatro virtudes elementares: sabedoria, temperança,
justiça e coragem. Este seria o caminho para a felicidade. Assim, quando uma pessoa consegue atingir
um grau de consciência e autocontrole, ela consegue inspirar a mudança nas demais pessoas.
No estoicismo, a ética também se funda na ideia de autossuficiência. O indivíduo deve se bastar a
si mesmo e buscar a felicidade, que é identificada com a virtude. No caso, a virtude é viver segundo a
natureza. Deste modo, se busca a libertação das paixões, o desapego das coisas materiais e a aceitação
do destino, o que nos leva a ataraxia, ou seja, a não permitirmos que nada perturbe a nossa
tranquilidade e nossa paz interior.
Principais representantes do Estoicismo:
- Zenão de Cítio (333 – 263 a.C.)
- Cleantes (330 – 230 a.C.)
- Crisipo (280 – 208 a.C.)
- Diógenes da Babilônia (240 – 150 a.C.)
- Panécio (185 – 110 a.C.)
- Posidônio (135 – 51 a.C.)
- Catão (95 – 46 a.C.)
- Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.)
- Epiteto (55 – 135)
- Marco Aurélio (121 – 180)

c) O Epicurismo

O Epicurismo recebeu esse nome por causa de seu fundador Epicuro de Samos (341-270 a.C). Ele
nasceu na cidade de Samos, mas era um cidadão ateniense. Fundou uma escola num jardim, para onde
iam homens e mulheres, em busca de seus conhecimentos.
Essa corrente filosófica, bem como as demais escolas do Helenismo, abordou um pensamento
mais voltado aos indivíduos e suas aflições cotidianas; ao seu viver prático, sempre em busca do bem
viver. O Epicurismo busca a paz de espírito, para assim alcançar o objetivo das nossas vidas: a
felicidade.
Segundo Epicuro, o prazer é o verdadeiro bem, mas não qualquer prazer. Tem de ser um prazer
sem dor, duradouro e estável, que permita ao homem ser dono de si mesmo. Isso implica que o prazer
é menos físico e mais espiritual. Ele permite ao indivíduo a serenidade e a temperança, que o deixam
livre da inquietude e das preocupações.

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Epicuro propunha a ideia de que o ser humano deve buscar o prazer da vida, pois, o prazer estaria
vinculado a uma conduta virtuosa. No entanto, distinguia entre os prazeres: aqueles que são
duradouros e que encantam o espírito, como a boa conversação, a contemplação das artes, a audição da
música, etc. E aqueles mais imediatos, muitos dos quais são movidos pela explosão das paixões e que,
ao final, podem resultar em dor e sofrimento. Para desfrutar dos prazeres do intelecto é necessário
dominar os prazeres exagerados da paixão.
Para Epicuro, o supremo prazer seria de natureza intelectual e obtido mediante o domínio das
paixões. Os epicuristas procuravam a ataraxia, termo grego que usavam para designar o estado em que
não havia dor, sendo um estado de quietude, serenidade, imperturbabilidade da alma.
Faz parte do discurso epicurista aquele acerca da morte: se o objetivo da vida é ser feliz, devemos
analisar o que causa nossa infelicidade.
Para Epicuro, a nossa infelicidade se dá por conta dos nossos medos. Ademais, nosso maior medo
é o medo da morte. Ora, ao superarmos o medo da morte, tiraríamos um imenso obstáculo de nosso
caminho rumo à felicidade.
Contudo, como é que se supera o medo da morte? Bom, se a morte é o fim das sensações
corpóreas, logo, ela não pode ser dolorosa. Ademais, ela também é o fim de nossa consciência, logo,
tampouco ela pode ser mentalmente desagradável. Portanto, não há nada a temer na morte. Ou como
Epicuro certa vez disse: “a morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e
quando existe a morte, nós não existimos mais”.
Essa racionalidade do Epicurismo culminava na busca por um comportamento sempre moderado.
Para os adeptos dessa corrente filosófica a vida deve ser marcada pela busca do prazer moderado,
nunca em excesso. Assim, estaríamos sempre em harmonia, pois, com tudo na medida certa, a
felicidade se torna sempre presente.

As ideias de Epicuro se tornaram populares no século XVIII,


aparecendo nas teses dos filósofos Jeremy Bentham e John
Stuart Mill.

Principais representantes do Epicurismo:


- Epicuro (341 – 270 a.C.)
- Metrodoro de Lâmpsaco (330 – 277 a.C.)
- Colotes (320 – 268 a.C.)
- Hermarco (325 – 250 a.C.)
- Lucrécio (99 – 55 a.C.)
d) Ceticismo

Para finalizar nossa jornada por entre as escolas do Helenismo, vamos agora falar sobre o
Ceticismo. O seu fundador se chamava Pirro de Élida (360-270 a.C.).

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A palavra Ceticismo vem do grego sképsis, que em tradução livre quer dizer “capacidade de
examinar, investigar”. O Ceticismo é uma corrente filosófica que questiona todas as formas de
conhecimento sobre as coisas, a natureza, o próprio ser humano e o mundo.
Com o domínio de Alexandre, O grande – imperador macedônico – sobre a Grécia, a política
grega ficou estremecida. A democracia não mais respondia aos anseios do povo grego e, assim, governos
autoritários tomaram conta das Cidades-Estado. Esta instabilidade contribuiu para o surgimento da
filosofia cética, uma vez que muitas dúvidas surgiram sobre a capacidade de governo dos sistemas
políticos.
Outro fato que contribuiu para o surgimento do Ceticismo foi a participação de Pirro em uma
campanha até a Índia, como soldado no exército de Alexandre Magno. Lá teve contato com a cultura
Oriental, sendo influenciado pelos sábios gimnosofistas. Estes defendiam um modo de vida ascética
(místico/contemplativo), contrário à busca por riquezas, poder, fama e posses materiais: tais coisas são
distrações para a alma, trazendo perturbações à mesma. Todas essas influências contribuíram para a
formação do Ceticismo.
Essa viagem até a índia deixou marcas profundas e decisivas no pensamento filosófico de Pirro. O
contato com a grande diversidade cultural daquele povo parece ter lhe convencido de que a vida feliz
só seria possível se abandonasse os ideais de alcançar a verdade e os valores absolutos.
De maneira resumida, o Ceticismo é a escola que rejeita a existência de verdades absolutas e o
conhecimento pleno sobre qualquer coisa, se guiando pela atitude de colocar tudo em dúvida. Tudo é
parte de um emaranhado de teorias que impossibilita se chegar a uma conclusão. Para isso, mantém
sempre uma postura neutra em relação aos acontecimentos do mundo, de maneira que não seja
possível emitir qualquer opinião ou posicionamento sobre os mesmos.
O ceticismo se caracteriza como uma escola filosófica que se posiciona da seguinte forma em
relação ao conhecimento: nenhum conhecimento é seguro, qualquer argumento pode ser contestado,
tudo é incerto. Diante de dois argumentos contrários e ambivalentes, o melhor que temos a fazer é
suspender juízo [epoché] e desistir de afirmarmos a verdade ou a falsidade de uma ou outra das teses.
O ser humano deve se contentar com as aparências das coisas, desfrutar o imediato captado pelos
sentidos e viver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena, pois seria
impossível ao homem saber se as coisas são efetivamente como aparecem. Assim, o ceticismo professa
a impossibilidade do conhecimento e da obtenção de uma verdade absoluta.
A raiz do ceticismo é a pluralidade de opiniões. Segundo Pirro, para tudo o que determinado povo
acredita e afirma, existem, em outro lugar (cultura), crenças e afirmações opostas, que são tão
legítimas quanto às primeiras. Uma vez que muitas coisas foram ditas sobre algo e que muitas pessoas
acreditaram nelas, acaba-se perdendo a confiança de que uma verdade absoluta seja alcançada.
Diante da inexistência de um padrão de racionalidade para orientar o conhecimento e,
consequentemente, a conduta, resta somente aceitar o mundo fenomênico (e toda a relatividade que o
cerca), como o modelo sobre o qual iremos organizar nossa vida. Sendo assim, diante do permanente
fluxo de mudanças que se manifesta no plano fenomênico, Pirro recomenda que abandonemos a
clássica pretensão de perseguir a verdade e aceitemos os costumes e as práticas presentes em nosso
mundo cotidiano.
O abandono da verdade e de seus pretensos valores para a conduta, proposto pelo ceticismo,
repercute positivamente para os homens do período helenístico. Perante a incerteza do presente, o
homem helenístico vislumbrou na doutrina cética a possibilidade de abandonar as preocupações com o
futuro, pois como poderiam interferir em coisas distantes de seu alcance? A mensagem de desfrutar o
presente, negligenciando as especulações em torno do futuro, torna o ceticismo uma doutrina
extremamente atraente para o homem desse período.
Para Pirro a razão e os sentidos são ferramentas inoperantes para se afirmar a verdade ou a
falsidade de algo. Para o cético não podemos jamais afirmar que algo é verdadeiro, assim como
também não podemos afirmar que algo é falso. O que resta fazer? Responde o cético: suspender o
juízo (epoché) e nada afirmar, não emitir nenhuma opinião ou posicionamento.
Para Pirro, o verdadeiro sábio deve encerrar-se em si mesmo e optar pelo silêncio, pois só deste
modo alcançará a imperturbabilidade da alma (ataraxia) e, com ela, a autêntica felicidade. Ser

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indiferente a tudo (pretensas “verdades” e às coisas externas) e aos juízos sobre elas é o ensinamento
máximo do Ceticismo.
A filosofia cética parte de três questões básicas, que são:
1) Qual é a razão de ser das coisas? A resposta a essa pergunta é a seguinte: nem os sentidos, nem o
intelecto são capazes de nos permitir conhecer a verdade das coisas ou como elas são em si
mesmas. Por isso, a constante dúvida acerca de tudo.
2) Como reagir em relação à realidade que nos cerca? Os céticos respondem: já que não podemos
conhecer a verdade sobre as coisas e o mundo, devemos evitar nos posicionar acerca de qualquer
opinião ou argumento (afasia, ou seja, não expressar opinião nenhuma).
3) E quais consequências resultarão desta atitude? A resposta a este questionamento é o seguinte:
manter-se distante de posicionamentos leva-nos à tranquilidade da alma (ataraxia) e,
consequentemente, à felicidade.
O ceticismo desempenhou e ainda desempenha importante papel dentro da filosofia. Afirmando
que nenhum discurso é superior a outro e convencido de que as coisas existentes escapam ao poder da
razão recomenda suspender os juízos sobre o que existe e deixar que a sensação de imperturbabilidade
invada nossa mente, permitindo experimentar a plena sensação de liberdade, distante da perigosa
exigência de encontrar a verdade.

Principais representantes do Ceticismo:


- Pirro de Élida (360 a.C. – 270 a.C.)
- Tímon (325 a.C. – 235 a.C.)
- Arcesilau (316 a.C. – 241 a.C.)
- Carnéades (214 a.C. – 129 a.C.)
- Enesidemo (século I d.C.)
- Agripa (século I d.C.)
- Sexto Empírico (160 – 210)

Enfim, os filósofos das quatro escolas helenísticas deixaram valiosas lições sobre as maneiras
como podemos levar a vida e conviver em sociedade. Muitos foram aqueles que fizeram uso da
Filosofia produzida nessa época, para a condução de suas vidas. Cabe a nós agora, rever nossos
conceitos acerca da vida numa época tão materialista como o século XXI, na qual as pessoas são tão
pobres que a única coisa que muitas delas têm é o dinheiro, ao qual estão extremamente apegados e
dão a máxima importância.

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