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REVISÃO UFPR – SOCIOLOGIA PROF: DANIELA CARNEIRO DATA: 09/02/2021

Referência bibliográfica natureza estrutural e as condicionantes


LEBRUN, Gérard. O que é poder. São Paulo: macrossociais do poder que orientam os
Brasiliense, 2004. indivíduos à ação social.
b) as diferentes enunciações do conceito de poder
Questões
01. (UFPR 2019/2020) O filósofo Gérard Lebrun, presentes na obra de Foucault devem levar em
consideração a situação dos trabalhadores
em seu livro intitulado O que é o poder, discorre
sobre diferentes abordagens do conceito de novecentistas em países de Terceiro Mundo; do
contrário o poder só pode ser entendido como
poder. Na apresentação da obra, tece
considerações sobre o binômio poder/dominação, narrativa dos opressores.
c) o poder é um fenômeno que prescinde das
tendo como referência a obra de Michel Foucault.
Escreve Lebrun: Quando a questão é compreender instituições políticas e sociais para que se
manifeste e, conforme Lebrun, toda forma de
como foi e continua sendo possível a resignação,
quase ilimitada, dos homens perante os excessos poder é uma manifestação da domesticação e do
adestramento do indivíduo para a ação coletiva,
do poder, não basta invocar as disciplinas e as mil
fórmulas de adestramento que, como mostra tendo como princípio a vigilância e a punição.
d) a explicação oferecida por Foucault possui
Foucault, são achados relativamente recentes da
modernidade. Sua origem e seu sucesso talvez se limitações e não corresponde à realidade das
relações de poder existentes no mundo moderno
devam a um sentimento atávico dos deserdados,
de serem por natureza excluídos do poder, e contemporâneo, sobretudo quando se destaca a
análise do proletariado do Terceiro Mundo.
estranhos a este – talvez derivem da convicção de
que opor-se a ele seria loucura comparável a e) as relações de poder serão compreendidas em
profundidade se assumirmos como parâmetro de
opor-se aos fenômenos atmosféricos. Ainda que o
poder não seja uma coisa, ele se torna uma, pois é nossas análises os processos de colonização no
século XIX e a opressão ao proletário do Terceiro
assim que a maioria dos homens o representa. É
preciso situar a tese de Foucault dentro de seus Mundo.
devidos limites: o homem condicionado,
adestrado pelos poderes, é o privilegiado, o 02. (UFPR 2018/2019) Escreve Gerard Lebrun:
“Com efeito, o que é política? A atividade social
europeu. Não é o colonizado, não é o proletário
que se propõe a garantir pela força, fundada
do Terceiro Mundo (assim como não era o geralmente no direito, a segurança externa e a
proletário europeu do século XIX). Estes, o poder concórdia interna de uma unidade política
não pensa sequer em domesticar: domina-os – e particular (conforme descreve Julien Freund em
muito de cima. (LEBRUN, Gérard. O que é poder. São Paulo: Qu’estce que la Politique). Não é dogmaticamente
Brasiliense, 2004, p. 08.) que eu proponho esta definição (outras são
Com base na reflexão desenvolvida por Lebrun, é possíveis), mas simplesmente para ressaltar que,
correto afirmar que: sem o uso da noção de força, a definição seria
a) o conceito de poder tem a possibilidade de ser visivelmente defeituosa. Se, numa democracia,
um partido tem peso político, é porque tem força
interpretado a partir de noções como “disciplina”
para mobilizar um certo número de eleitores. Se
ou “adestramento”, construídas no próprio um sindicato tem um peso político é porque tem
sujeito, considerando ao mesmo tempo a força para deflagrar uma greve. Assim, força não
significa necessariamente a posse de meios poucos as posturas; lentamente uma coação
violentos de coerção, mas de meios que permitam calculada percorre cada parte do corpo, se
influir no comportamento de outra pessoa. A assenhoreia dele, dobra o conjunto, torna-o
força não é sempre (ou melhor, é raríssimamente) perpetuamente disponível e se prolonga, em
um revólver apontado para alguém”. (LEBRUN, Gerard. silêncio, no automatismo dos hábitos. (FOUCAULT,
O que é poder. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 04.) Michel. Os corpos dóceis. In: FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir.
Qual é a relação entre força e política expressa Petrópolis: Vozes, 1999, p. 162.)

pelo autor nesse excerto? Levando em conta essa passagem e a obra em que
a) Não há relação direta entre força e política, pois está inserida, é correto afirmar que, para Michel
nenhuma se apresenta como componente Foucault, instituições como escolas, quartéis,
essencial que permita explicar as diferentes hospitais e prisões são exemplos de espaços em
formas de exercício do poder. que, a partir do século XVIII, os indivíduos:
b) A política e a força anulam-se enquanto a) são educados de modo a se tornarem
categorias que pretendem explicar as diferentes autônomos.
noções de poder hoje existentes. O poder, por sua b) aprendem a conviver uns com os outros.
vez, é formado exclusivamente pela força, seja c) encontram as condições de segurança e bem-
militar ou civil, pois ele é manifestação simbólica estar.
das estruturas de repressão. d) se tornam mais vigorosos e valentes.
c) Significa afirmar que as estruturas de poder e) se fazem objeto do poder disciplinar.
instrumentalizam a força e a política como forma
de manter um determinado modelo de 04. (UFPR 2019/2020) Para os filósofos
governança. A relação entre elas se dá nessa contratualistas, o Estado é pensado como tendo
condição: força e política só existem, de fato, por origem um contrato entre os indivíduos.
quando as estruturas de poder, ou seja, o Segundo Thomas Hobbes, “é como se cada
governo, considera tais estruturas necessárias homem dissesse a cada homem: autorizo e
para a manutenção de uma determinada ordem transfiro o meu direito de me governar a mim
institucional repressiva. mesmo a este homem, ou a esta assembleia de
d) Força e política não são conceitos excludentes homens, com a condição de transferires para ele o
ou contrários. Para que a política seja exercida, é teu direito, autorizando de maneira semelhante
necessária uma capacidade de mobilização, todas as suas ações”. (HOBBES, T. Leviatã, cap. 17, In:
MARÇAL, J. CABARRÃO, M.; FANTIN, M. E. (org.) Antologia de textos
consentimento e construção de hegemonia por filosóficos, Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 365.)
quem deseja agir politicamente. Assim, a força A partir do enunciado, é correto afirmar que
implica o poder de que se dispõe na construção de Hobbes recorre à ideia do contrato com o fim de:
maiorias políticas. a) descrever como os Estados nacionais surgiram
e) A relação entre política e força se expressa na na história.
destituição do poder e na construção das b) calcular os deveres e direitos dos indivíduos em
resistências nos movimentos sociais e nos relação ao Estado.
sindicatos. A política e a força física são c) convocar os homens a resistirem ao poder do
instrumentos usualmente presentes na militância Estado.
partidária como forma de questionar o exercício d) mostrar que os homens agem na esperança de
do poder. contrapartidas.
e) provar que os homens não sabem governar a si
03. (UFPR 2019/2020) Eis como ainda no início do mesmos.
século XVII se descrevia a figura ideal do soldado.
O soldado é antes de tudo alguém que se 05. (UEM 2019) “Em uma de suas principais obras,
reconhece de longe; que leva os sinais naturais de A república, ele [Platão] desenvolveu ideias sobre
seu vigor e coragem, as marcas também de seu um Estado ideal. Em outras palavras, refletiu
orgulho: seu corpo é o brasão de sua força e de sobre a melhor maneira de chegar a um Estado
sua valentia. [...] Na segunda metade do século perfeito, no qual imperasse a justiça para todos. O
XVIII, o soldado tornou-se algo que se fabrica; de Estado perfeito e justo só poderia ser atingido por
uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a meio da educação dos cidadãos. Platão acreditava
máquina de que se precisa; corrigiram-se aos que os sucessivos fracassos dos regimes e
governos em Atenas eram decorrentes 16) O Estado (politeia) está sujeito ao
principalmente do despreparo dos governantes e perecimento, à corrupção e, por isso, para cada
da falta de respeito pela ordem natural das classes regime político há o seu contrário.
sociais.” (MELANI, R. Diálogo: primeiros estudos em Filosofia. São
Paulo: Moderna, 2013, p. 369). 07. (UEM 2019) Para o filósofo francês Michel
Acerca da filosofia política de Platão, assinale o Foucault (1926-1984), as sociedades modernas
que for correto. são compostas por instituições disciplinares cujo
01) Segundo Platão, o governo da cidade justa objetivo maior é o controle social e político dos
deve ser exercido por aqueles que alcançam a indivíduos. Sobre a concepção de poder disciplinar
excelência em suas respectivas profissões, como o em Foucault, assinale o que for correto.
mercador, o artesão, o filósofo. 01) As prisões possibilitam o aprisionamento dos
02) A autoridade dos governantes da cidade ideal indivíduos para que sejam controlados no espaço
pensada por Platão é derivada de sua capacidade e disciplinados por meio da vigilância e do
e de sua preparação para servir e aplicar leis monitoramento constantes.
justas. 02) A escola é um dos instrumentos de controle e
04) No diálogo A república, de Platão, a de dominação que visa suprimir e disciplinar os
personagem Sócrates procura refutar a tese do comportamentos divergentes.
sofista Trasímaco de que a justiça é aquilo que 04) O poder central é responsável pela garantia da
convém ao mais forte, pois essa concepção leva a liberdade, da autonomia, da criatividade dos
um governo injusto. indivíduos nas sociedades modernas.
08) Platão propõe que a estrutura da cidade ideal 08) A disciplina é uma tecnologia que torna os
é análoga à estrutura da alma humana. corpos dóceis e controlados para que obedeçam a
16) Porque o governante da cidade ideal se determinações emanadas do poder central.
dedica ao Bem, os seus desejos particulares 16) A vida social é constrangida por um poder
devem se sobrepor àqueles dos demais cidadãos, hierárquico centralizado que se impõe sobre os
pois expressam os interesses mais justos. indivíduos

06. (UEM 2019) “Vemos que toda cidade é uma 08. (UFPR 2019/2020) Referindo-se a Alexis de
espécie de comunidade, e toda comunidade se Tocqueville (1805-1859), o filósofo Gérard Lebrun
forma com vistas a algum bem, pois todas as afirma que “a expressão mundo livre sem dúvida
ações de todos os homens são praticadas com tem um sentido quando a opomos a mundo
vistas ao que lhes parece um bem; se todas as totalitário. Mas não nos enganemos: até mesmo
comunidades visam a algum bem, é evidente que nos países ditos livres, do Ocidente capitalista, a
a mais importante de todas elas e que inclui todas liberdade declina – tanto como realidade jurídica
as outras tem mais que todas este objetivo e visa quanto como ideal político. E a visão premonitória
ao mais importante de todos os bens; ela se de Tocqueville em 1840 está a caminho de
chama cidade e é a comunidade política.” realizar-se lentamente. Assistimos ao advento de
(ARISTÓTELES. Política. Livro I, cap. 1, 1252a. Trad. Mário da Gama
Kury. Brasília: Editora da UNB, 1985). um ‘novo despotismo, menos tirânico que
Com base no texto acima e no pensamento administrativo’”. (LEBRUN, Gerard. O que é poder. São Paulo:
Brasiliense, 2004, p. 36).
político de Aristóteles, assinale o que for correto.
Seguindo a linha de argumentação de Lebrun,
01) O bem próprio almejado pela comunidade
como podemos relacionar o declínio da liberdade
política é o bem soberano.
no Ocidente capitalista com o surgimento de um
02) O homem é um animal político por natureza,
“novo despotismo”?
isto é, é de sua natureza buscar a vida em
comunidade.
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04) A comunidade política se distingue da família e
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da aldeia (vida social) pelo tipo de poder próprio a
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cada uma delas.
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08) Para Aristóteles, o tema da felicidade humana
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não faz parte da reflexão específica da
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comunidade política.
09. (UFPR 2019/2020) Gérard Lebrun escreve que _________________________________________
“o liberal é um homem de quem se deve ter pena, _________________________________________
porque está às voltas com um problema insolúvel:
determinar até que ponto pode serrar o galho no GABARITO
qual está sentado, sem correr o risco de quebrá- 01: A
lo. É também, por princípio, um cidadão 02: D
insatisfeito. [...] Uma posição tão incômoda bem 03: E
poderia decorrer de uma ilusão fundamental. Esta 04: B
me parece consistir num profundo 05: 02+04+08=14
desconhecimento da relação moderna entre o 06: 01+02+04+16=23
social e o político representada como um 07: 01+02+08+16=27
antagonismo entre os indivíduos, por um lado, e o
poder enquanto mando, por outro. Como uma
partida que opõe dois times. Se,
espontaneamente, o leitor assim pensa a coisa
política, não tenha dúvidas: ele é liberal, sem o
saber”. (LEBRUN, Gerard. O que é poder. São Paulo: Brasiliense,
2004, p. 32.)
Para o autor, por que o social e o político devem
estar correlacionados nas análises sobre o
liberalismo e suas ilusões de liberdade?
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10. (UFPR 2018/2019) Politizar o homem não


consiste mais em educá-lo moralmente, mas em
introduzi-lo num maquinário que o vergará a fins
(a paz e a segurança) que, apenas por suas
disposições naturais, ele não poderia alcançar. O
modelo político é, assim, mecânico – e nada mais
significativo, a esse respeito, do que a imagem do
autômato que Hobbes emprega no início do
Leviatã, ou a linguagem do equilíbrio das forças,
que retorna constantemente no Contrato Social,
de Rousseau, ou, ainda, a metáfora newtoniana:
como no universo, também na cidade a ordem
virá da compensação entre atrações e repulsas.
(LEBRUN, Gerard. O que é poder. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 20.)
Se, para Gerard Lebrun, a politização não consiste
mais numa “educação moral”, que tipo de
indivíduo a política é capaz de engendrar na
modernidade?
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