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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS – 2023/2

Letícia Catarino Libório

2023086269

RESENHA

O texto a seguir é uma resenha crítica com a abordagem dos textos de Giovanni
Sartori, Max Weber, Hannah Arendt e Norberto Bobbio, trabalhados na disciplina de política
I. Esse trabalho tem como objetivo central abordar as relações e noções de poder com o passar
do desenvolvimento das formas de governo, suas características e seus impactos na
contemporaneidade.

I. A compreensão da construção acerca da ideia de política

Para a devida compreensão do que é considerado “Poder”, é fundamental,


previamente, a contextualização do que seria considerada política. Na concepção grega, G.
Sartori levanta que a concepção de ciência política – ou de ciência ou política, separadamente-
não se dissociavam da visão filosófica e social (cap.7, p.157), pois a vida coletiva nos limites
da cidade grega, polis, inferia-se, automaticamente em uma vida política, referenciando a
ideia do “animal político” de Aristóteles, em que cidade e indivíduo vivem em uma plena
simbiose e de modelo horizontal, como apresentado no trecho a seguir:

Além disso, durante todo o desenvolvimento do discurso até então, a política e a


politicidade nunca foram percebidas verticalmente em uma projeção de poder,
liderança e, em última análise, de um Estado subordinado à sociedade. A
problemática da dimensão vertical é estranha ao discurso baseado na nomenclatura
grega e latina e ao seu desenvolvimento medieval. (Sartori, p. 158)

Levando em conta o exposto, é evidente a alegação de a sociedade grega ser


caracterizada como uma organização livre de relações de poder muito discrepantes ou de uma
estratificação, enfatizando uma dimensão horizontal focada no bem comum. No entanto,
Sartori não destrincha a questão do conceito de cidadania e de política não ser acessível a
todos os habitantes da pólis, somente uma parcela mínima que estava situada nos requisitos
básicos para operar na atividade política da administração e tomada de decisões públicas
podia exercer a vida política que conhecemos, construindo assim, uma noção de inferioridade
àqueles que, nas palavras do autor, não se encontravam em simbiose a polis, sendo
exemplificado no recorte a seguir:

Em contrapartida, o homem "não político" era um ser defeituoso, um "idion", um ser


carente (o significado original de nosso termo "idiota"), cuja insuficiência consistia
precisamente em ter perdido, ou não ter adquirido, a dimensão e plenitude da
simbiose com a própria polis. Resumidamente, um homem "não político" era
simplesmente um ser inferior, um "menos que homem". (Sartori, p. 158)

II. Primeiras noções de poder

Em “Política como Vocação”, Max Weber reúne um apanhado de conferências


realizadas na Alemanha do século XX, através de uma abordagem teórica focada na
perspectiva da ação social – visão voltada para a ação dos indivíduos e seus impactos no todo,
deixando de lado um posicionamento direcionado às instituições – traça o desenvolvimento e
a construção do poder e seus impactos na política.

A política, nesse enquadramento, apresenta enfoque na visão de Estado, que para


Weber, “Estado não se deixa definir a não ser pelo específico meio que lhe é peculiar a todo
agrupamento político, ou seja, o uso da coação física” (Weber, 2011, pp.37). Em tempos
antigos as relações de poder eram delimitadas pela família - poder tradicional - entretanto,
com o desenvolvimento do Estado contemporâneo acompanhada da noção de limite
territorial, reivindica-se o direito de uso legítimo da violência, se sustentando pelo argumento
de que outros grupos e indivíduos não podem se basear nesse meio, somente em casos
tolerados pelo Estado, sendo este o que se localiza pelo monopólio da violência. Ou seja, o
conceito de Estado se entrelaça ao conceito de poder, pois se o instrumento supracitado
estivesse ausente, o conceito de Estado não existiria, sendo categorizado no que é conhecido
como “anarquia”.

Porém, não eram todos os pensadores que defendiam a tese de a violência ser a
manifestação do poder. Hanna Arendt nega essa afirmação em “Sobre a Violência”
levantando tal argumento:

O consenso é muito estranho, pois equacionar o poder político com a “organização


dos meios de violência só faz sentido se seguirmos a consideração de Marx, para
quem o Estado era um instrumento de opressão nas mãos da classe dominante.
(Arendt, 1994, p.31)
Acompanhado do questionamento acerca do fim do poder em caso de desaparecimento
da violência nas relações entre Estado. Assim, a definição de poder para Arendt é a habilidade
humana de agir em consenso, “(...) é o apoio do povo que confere poder as instituições de um
país e este apoio não é nada mais do que a continuação do consentimento que trouxe as leis à
existência.” (Arendt, 1994, p.34) e a violência vai se particularizar pelo caráter instrumental e
requer orientação tendo em vista um fim.

III. Tipos de poder

Em meio a tantas organizações sociais e políticas, Norberto Bobbio, em sua obra


“Teoria Geral da Política”, elucida e classifica o poder em três modos: econômico, ideológico
e político.

a) Poder político

O poder político é a organização da coação. “Supremacia da força física como


instrumento de poder sobre todas as outras formas de poder.” (Bobbio, 2000, p.165), mas a
força não é vista como condição e sim como um meio não suficiente. Para o poder político se
suceder, é fundamental o monopólio dos meios materiais de gestão, expropriando dos
funcionários a administração e dispondo-os de todos os meios políticos para reunirem-se em
mão única, sendo abordado, também, por Weber, no seguinte trecho:

De modo geral, o desenvolvimento do Estado moderno tem por ponto de partida o


desejo de o príncipe expropriar os poderes “privados” independentes que, a par do
seu, detêm força administrativa, isto é, todos os proprietários de meios de gestão, de
recursos financeiros, de instrumentos militares e de quaisquer espécies de bens
suscetíveis de utilização para fins de caráter político. (Weber, 2021, p.41)

Nessa forma de poder, estão presentes alguns efeitos da monopolização, sendo elas:
exclusividade, universalidade e inclusividade. O primeiro entende-se por pela ausência de
permissão na formação de grupos armados independentes, visando evitar o desenvolvimento
de uma possível força que possa, futuramente, ir contra o Estado. A universalidade é marcada
pelo monopólio que os detentores do poder têm em tomar decisões e aplicá-las na
comunidade, estando relacionada à distribuição de determinados recursos e seus locais de
entrega, e por fim, o conceito de inclusividade que demonstra o poder de influência em todas
as esferas de atividades dos membros do grupo.

b) Poder Econômico
O poder econômico é marcado como a soberania dos bens, organização das forças
produtivas, onde existe uma discrepância entre os que possuem os meios de produção,
detentores de um poder muito grande, e os que não possuem esse poder. “(...) qualquer um
que possua abundância de bens é capaz de condicionar o comportamento de quem se encontra
em condições de penúria, através da promessa e atribuição de compensações.” (Bobbio, 2000,
p.162). Weber também abordara tal modo de poder ao classificar administrações, tendo
enfoque na que segue o princípio do estado-maior, privando os funcionários e proletários de
deter os meios de produção em uma empresa capitalista, tornando-os dependentes do detentor
do poder. (Weber, 2021, p. 40)

c) Poder Ideológico

O poder ideológico se enquadra na categoria de organização do consenso. Baseia-se na


influência de ideias formuladas e distribuídas sobre a ação dos que estão expostos a esse tipo
de discurso, cumprindo sua função principal de socialização e integração do pensamento de
um grupo.

IV. Conclusão

Segundo as alegações supracitadas, é possível inferir que o poder é um apanhado de


ações que visam manter os mecanismos de organização social em prol de interesses –
havendo como base a perspectiva teórica de conflito – em razão de determinado momento
histórico. O desenvolvimento do Estado e seus mecanismos criam uma gama de poderes, que
em cada área da vida, tanto no cotidiano quanto na produção, passam a ser manipuláveis por
quem está no centro do monopólio. O poder não é o fim, e sim, um meio para estabelecer uma
dominação e se estabelecer na expropriação da administração, das decisões e da organização.

V. Referências Bibliográficas
 SARTORI, Giovanni. A política: Pensamento Político. 1. Ed. Brasil: Universidade
de Brasília, 1981 p. 157-167.
 WEBER, Max. Ciência e Política. Duas vocações. 18. Ed. Brasil: CULTRIX,
2011. p. 37-85.
 ARENDT, Hannah. Sobre a Violência. 3. Ed. Brasil: Relume Dumará, 2001. p.
31- 44.
 BOBBIO. Norberto. A Teoria das Formas de Governo. 10. Ed. Brasil: UNB,
1997. p. 39- 44.
 BOBBIO, Norberto. A Teoria Geral da Política: A filosofia política e as lições
dos clássicos. 14. Ed. Brasil: Campus, 2000. p. 159-177.

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