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recordar que o próprio funcionamento do campo científico produz e supõe uma forma específica de
interesse
A luta pela autoridade científica, espécie particular de capital social que assegura um poder sobre os
mecanismos constitutivos do campo
luta em que cada um dos agentes deve engajar-se para impor o valor de seus produtos e de sua
própria autoridade de produtor legítimo, está sempre em jogo o poder de impor uma definição da
ciência que mais esteja de acordo com seus interesses específicos.
A definição mais apropriada será a que lhe permita ocupar legitimamente a posição
dominante e a que assegure, aos talentos científicos de que ele é detentor a título pessoal ou
institucional, a mais alta posição na hierarquia dos valores científicos
Existe assim, a cada momento, uma hierarquia social dos campos científicos − as disciplinas − que
orienta fortemente as práticas e, particularmente, as "escolhas" de "vocação".
O poder simbólico embuí agentes de legitimidade social e determina quais práticas serão aceitas ou
reprovadas no convívio social. O mesmo se aplica à comunidade de Estados e como autoridade e
poder são legitimados através de práticas ou de instituições
Juntos, os conceitos até agora apresentados trazem importantes implicações para as RI:
demonstram que as estruturas que regem as relações internacionais são amplamente
modificáveis pelos agentes e, portanto, não são a-históricas
É na tentativa de capturar essa complexidade de atores e percepções nas relações internacionais que
Bourdieu oferece subsídios interessantes. Onde se situaria, no entanto, o Estado nesta miríade de
campos e agentes? Bourdieu aponta que a gênese do Estado moderno é “inseparável do processo de
unificação dos diferentes campos sociais, econômico, cultural e político” principalmente pela
paulatina (quasi)monopolização da violência simbólica.
A gênese do realismo como um libelo da prudência contra o idealismo é nada mais que um mito
fundador
Essa característica fica explícita em O homem, o estado e a guerra de Kenneth Waltz (2004) em
que, segundo o autor, o único caminho para a construção da paz é o entendimento da guerra. A
paz torna-se, par excellence, um binômio com a guerra. São por razões como esta que
determinadas obras continuam a ter um apelo quase irresistível e são despersonalizadas de seu
poder simbólico para serem elevadas a um nirvana do pensamento puramente filosófico, ou seja,
neutro
Bourdieu, na verdade, revela as contradições da ciência e da sua produção sem desbancar no abismo
pós-moderno da relatividade absoluta.
Podemos inferir que a gênese das RI, associada ao “Primeiro Debate” e À suposta vitória do
Realismo é um mito fundador necessário para que um novo campo do conhecimento se estruture.
As RI surgem como campo do conhecimento de vocação interdisciplinar, recebendo influências da
ciência política, da sociologia, da economia e do direito, mas precisava se auto-afirmar enquanto
ciência autônoma. Assim, estrutura-se uma autoridade científica capaz de definir o que é o campo
de RI e como se legitima um pensamento científico nessa área do conhecimento, assim como sua
suposta vocação dedicada à compreensão do fenômeno da guerra entre as grandes potências.