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Steve Smith - Auto-Imagens das RI

Horkheimer e Adorno defendem em “Dialética do Esclarecimento” (1979), que o Esclarecimento


(Iluminismo, Modernidade) não é necessariamente condutor do progresso, possuíndo contornos
negativos. A experiência fascista seria um indicativo dessa questão.

Essa interpretação é corroborada por Bauman, em: “Modernidade e o Holocausto” (1989): Discorre
sobre como a sociologia tende a interpretar o holocausto como um evento excepcional, um último
resquício de uma barbaridade pré-moderna. Bauman, por outro lado, interpreta o holocausto como
uma manifestação pertinente à modernidade Ocidental e seu culto à razão e à racionalidade. ACHO
MELHOR NÃO TOCAR NESSA DISCUSSÃO, USAR SÓ A ANTERIOR

Podemos puxar um gancho aqui com os argumentos de Quijano sobre como a Modernidade possui
um caráter racista, a partir da experiência particular europeia, dotada de colonialismo.

O mundo Moderno foi feito de escolhas que posam como verdades absolutas.

Positivismo envolve um compromisso com uma visão unificada de ciência e a adoção de métodos
das ciências naturais para explicar o mundo social.

O Positivismo como único método legítimo de construção do conhecimento científico. Somente


sendo construído a partir da experiência Moderna, e, portanto, somente por Europeus.

Steve Smith usa esses exemplos para refletir sobre o silêncio de determinadas disciplinas, nos
levando a questionar quais são as vozes silenciadas nas RI?

Existem vozes dissidentes nas RI que são silenciadas, em diversas dimensões de subalternidade,
seja via recortes geográficos (inerentes ao Sul Global), raciais ou de gênero.

A formação das RI adotou um corpo teórico racional que buscou se desvencilhar de questões éticas
ou morais, a partir da compreensão que a figura do Estado, enquanto ator central das RI, não
deveria obedecer aos mesmos parâmetros de moralidade que os indivíduos, em uma clara influência
de Maquiavel e Hobbes. Como se teorias como o Realismo não fossem pautadas por um conjunto
específico de elementos éticos e morais por si só.

“A ética seria aplicada somente a um tipo de comunidade que a sociedade internacional não poderia
ser”

O próprio Estado-Nacional é tido como um ator natural. Ignora-se as heterogeneidades entre os


Estados e, principalmente, seus processos de formação e consolidação. Adota-se o modelo
burocrático weberiano como se fosse regente de todas as experiências estatais.

A Sociologia Histórica de Mann e Tilly reflete sobre isso. Apontam que o Estado é resultado das
interações entre forças internas e condicionantes externos. Muito diferente do Estado Caixa-Preta
realista, que só reage aos estímulos da anarquia internacional.

A racionalidade do pensamento moderno atribuiu às RI a aceitação de discursos violentos, que


normalizam fenômenos como corridas armamentistas e pautam seus princípios de estabilidade a
partir de um equilíbrio nuclear e sua MAD.
Steve Smith reflete acerca das auto-imagens das RI, ou seja, das histórias e narrativas que esse
campo do conhecimento desenvolve acerca de sua trajetória. Uma trajetória de dominação de um
eixo eurocêntrico e anglo-saxão que se pautou de métodos positivistas para supostamente produzir
uma ciência universal a partir de práticas discursivas comuns. Isso é uma clara forma de dominação,
que reflete as assimetrias políticas e sociais das próprias RI.

Na construção das RI determinados temas, como as Guerras entre grandes potências foram
priorizados em detrimento de outras questões menos sensíveis àqueles que detém o monopólio de
determinação de práticas e discursos. A exclusão, dispersão e silenciamento de temas fundamentais
das RI foi flagrante nesse processo, formando um cânone das RI desvinculado de temas sensíveis
como raça e gênero.

A narrativa de que as RI se desenvolvem a partir de Debates ajuda a contruir uma cronologia


didática da formação do pensamento teórico do campo, porém, traz consigo uma série de lacunas.
Esses espaços são formados por temáticas, autores e questões excluídas das dinâmicas do debate,
seja por apresentarem métodos distintos ou por trabalharem temas que não se inserem no suposto
debate. A própria dinâmica de um debate implica que há um vencedor, ajudando a consolidar a
dominação de teorias que já passaram previamente por um filtro. O debate Neo-Neo é um claro
exemplo disso, opondo teorias que apresentam tantas convergências quanto divergências, a partir de
um viés metodológico positivista em comum.

Mesmo dentro dessas correntes dominantes há distintas interpretações, como evidenciam as obras
de Morgenthau, Waltz e Mearsheimer no Realismo.

Quando se estabelece um chamado debate inter-paradigmático, entre Realistas, Liberais e


Marxistas, ainda assim estamos lidando com abordagens positivistas, ou seja, três versões do
mesmo mundo sob uma mesma epistemologia.

Além disso, a dinâmica de debates - e, consequentemente, vencedores dos debates - sugere que as
teorias de RI seguem uma dinâmica de progresso similar às leis da física, como se fosse possível
suplantar as leis de Newtons pelas leis de Einstein nas RI. Ou seja, o Realismo teria suplantado o
idealismo no Primeiro Debate e tornado, assim, as concepções idealistas ultrapassados e inúteis para
as RI, o que não é o caso.

As RI são um empreendimento masculino, ocidental, branco e conservador, e as teorias de RI são


um componente fundamental da consolidação, manutenção e propagação dessas características e da
marginalização de vozes dissidentes.

Mesmo quando o mainstream das RI assume que há uma diversificação em curso no campo, ele não
deixa de demonstrar seu conservadorismo acerca dessa perspectiva. Paradigmático nesse sentido é o
discurso de Keohane na abertura da ISA, em 1988, enquanto ocupava a presidência desse órgão, em
que ele aponta a existência de uma corrente reflexivista em oposição aos paradigmas tradicionais
racionalistas, como Neorrealismo e Neoliberalismo. Keohane então sugere que essas novas
perspectivas, de caráter meta-teórico e pós-positivistas, deveriam ser testadas empiricamente com
relação a seus programas de pesquisa - na abordagem lakatosiana - a fim de não se restringir às
margens das RI, ou seja, Keohane sugere uma abordagem positivista para legitimar teorias que
questionam os princípios positivistas.

Quais critérios são utilizados para determinar o que compõe uma teoria de RI? Por que não
podemos considerar as teorias cepalinas e a teoria da Dependência como teorias de RI? Uma vez
que incorporam, sob o ponto de vista da economia política internacional e da sociologia, temáticas
fundamentais como reflexões sobre a pobreza e a desigualdade de um ponto de vista internacional.

O silenciamento de outras interpretações torna as RI basicamente um empreendimento teórico no


qual o Realismo é o parâmetro fundamental de comparação, e as teorias tem sua efetividade ou
qualidade mensuradas a partir do grau de convergência ou divergência que estabelecem com relação
aos principais marcos conceituais realistas. Assim, o fenômeno da Guerra entre Estados se torna o
objeto fundamental e único das RI, o que evidencia os desafios contemporâneos ao próprio campo
das RI, uma vez que a natureza das guerras contemporânea dificilmente é composta apenas pela
rivalidade entre Estados.

Autoras feministas importantes na década de 1990: Enloe e Sylvester, apontando que há aspectos de
gênero que marcam a formação das RI.

Pós-Modernos como R.B.J. Walker e Der Derian questionam as noções positivistas de realidade e
verdade, enfatizando a conexão da produção do conhecimento como relação de dominação, sob
influência foucaultiana. (Walker questiona a dimensão das fronteiras e da soberania como
constitutiva das RI)

O que unifica essas perspectivas que Smith chama de “críticas” e Keohane de “reflexivas” é sua
refuta ao positivismo, o que Lapid (1989) chamou de “Era Pós-Positivista” das RI.

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