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Naeem Inayatullah e David Blaney trazem elementos em IR and the Inner Life of
Modernization Theory que são próximos à abordagem teórica pós-colonial, pois partem
da premissa de que o desenvolvimento da teoria da modernização, ou seja, a formação
de um discurso, e a agregação dessa teoria/discurso nas relações internacionais é
mantenedora das desigualdades entre os países. Além disso, os autores evidenciam
como a teoria da modernização nega ou evita a história e as diferenças culturais, de
modo a definir o que é tradicional ou moderno, civilizado ou bárbaro. Nesse sentido,
Naeem Inayatullah e David Blaney trazem o termo “neomodernização” para explicar
como a teoria da modernização vem se reinventando ao longo do tempo nas teorias de
RI em forma de paz liberal, sociedade civil global ou governança global. Essas teorias
universalizantes estão em prol de uma homogeneização mundial para conquistar a paz,
mas camuflam um ordenamento – hierárquico intencional.
Robert Walker, por sua vez, traz uma estrutura de pensamento teórico diferente
dos outros autores em Lines of Insecurity: International, Imperial, Exceptional, com
uma estrutura teórica voltada para o pós-estruturalismo. Walker trabalha a ideia de
soberania dos Estados como autodeterminação jurídica dos países e a partir daí aborda
uma linha tênue de força vertical que é a imperial. A força horizontal seria a segunda
linha tênue que é o Internacional. Ambas as linhas normalmente se confundem, a força
internacional inclusive desaparece quando Walker se utiliza da modernização para
mostrar como a ideia universalizante, traz uma perspectiva europeizada de convergência
para uma sociedade global padronizada. A terceira linha de insegurança é o
excepcionalismo. Walker estrutura seu texto com base nos conceitos de “estado de
emergência” ou “estado de exceção” de Carl Schmitt. Enquanto, as duas primeiras
linhas tendem a se confundir, a exceção tende a predominar no ambiente que transcende
dos Estados soberanos para o sistema de Estados soberanos. É através da exceção, que o
sistema global limita os direitos soberanos das nações em prol do desenvolvimento da
civilização, da ruptura do que é “bárbaro”. A relação dos países nesse sistema se dá pela
noção de amigos e inimigos, ou seja, a exceção é permitida entre estados amigos,
enquanto a ameaça inimiga é uma situação continuamente latente de defesa, relacionada
ao propósito das intervenções do que é hegemônico e de quem está no topo da
hierarquia. Nesse sentido, o autor infere que apesar das tentativas de uma política global
modernizadora, o contexto parece criar mais exclusões e fronteiras que o idealizado.
Cada autor trouxe premissas distintas para falar sobre como as diferenças estão
sendo utilizadas para a manutenção da hegemonia e das desigualdades. Apesar da
abordagem mais rebuscada de Walker em trazer uma ideia jurídica da desigualdade e de
considerar que o excepcionalismo de Carl Schmitt anula o espaço e o tempo, o autor não
se preocupa em desenvolver mais sobre a história. Naeem Inayatullah, David Blaney,
Geeta Chowdhry e Sheila Nair, ao contrário, priorizam a análise do discurso que forma
diferenças de raça, gênero e classe como inferiores e me parece ser uma análise
fundamental para a compreensão das desigualdades, pois rompe com as abordagens
eurocêntricas e se coloca como símbolo de resistência e reconhecimento. A abordagem
de Gill, também é interessante, pois traz o aspecto cultural de dominação tão
negligenciado ou intencionalmente evitado pelas abordagens econômicas clássicas.