Você está na página 1de 4

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH


Colegiado de Ciências Sociais
Disciplina: Introdução à Ciência Política
Prof.: Fabiano Oliveira Souto
Aluna: Erika Souza Silva

Painel de Conceitos

Poder
STOPPINO, M. “Poder”. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário
de Política. 11ª [ed. Brasília: Ed. UNB, 1998.

Norberto Bobbio, filósofo político italiano, insere o Poder como a afinidade entre o
“Estado” e a “Política”, uma vez que o todo processo político se define como a formação, a
distribuição e o exercício do poder (Lasswell, Kaplan, 1952 apud. Bobbio, 1986, p.77).

Partindo disto, é possível definir o Poder a partir de uma análise psico-


comportamental, como a capacidade do homem de exercer controle sobre outro homem, no
qual “o homem não é só sujeito, mas também o objeto do poder social” (1993, p. 933), ou
seja, o Poder se dá numa relação entre sujeitos, em que o primeiro exerce ou, mais
atualmente, influencia o comportamento do segundo, seja por meio da força ou da coerção,
da coação ou do poder econômico, ou da ideologia (doutrinas, conhecimento, informação ou
propaganda) intencionalmente, no interesse de obter algum efeito.

O exercício do Poder pode ainda ser dividido entre Poder atual, aquele em que o poder
relacional é efetivamente exercido e o Poder potencial, em que existe uma possibilidade de
que esse poder se configure em ato. No poder em ato, o comportamento de um indivíduo ou
grupo é modificado por um outro indivíduo ou grupo, que detém o poder e o coloca em
prática, determinando o comportamento daqueles que estão subordinados ao poder daquele
que modifica tal comportamento em função de seu interesse. O comportamento daqueles que
estão sob influência do sujeito que detém o poder pode ser voluntário, ainda que não
necessariamente consciente, ou ainda ser modificado por meio da força ou da coerção.
Quando relação entre sujeitos, a noção relacional de Poder está estritamente ligada ao
conceito de liberdade, onde os dois conceitos podem então ser definidos um mediante a
negação do outro: “O poder de A implica a não-liberdade de B”, “A liberdade de A implica o
não-poder de B” (Bobbio, 1986, p.78).

Em Duverger, a legitimação do poder é descrita como o consenso, o acordo por meio


da crença na autoridade constituída e na aceitação da conformidade deste poder. Em Bobbio,
a legitimação é também admitida pela crença na autoridade de quem detém o poder por
aqueles que sofrem o poder, mas observa-se que esse poder deveria ser justificado moral e
legalmente. Quanto à dominação, esta não se dá, para Duverger, entre governados e
governantes, mas antes entre os governados através de grupos sociais que se impõem a outros
grupos dentro da sociedade por seus aspectos “materiais”, que podem ser de ordem física,
econômica ou intelectual.

Referência bibliográfica:

BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. 13º ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2007.

DUVERGER, Maurice. Ciência política: teoria e método. Rio de Janeiro: Zahar, 1962.
Estado

SCHIERA, P. "Estado moderno". In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G.


Dicionário de Política. 11ª ed. Brasília: Ed. UNB, 1998.

Schiera analisa o Estado contemporâneo a partir da análise da “coexistência”


conflituosa entre Estado de direito e Estado social, onde o direito exerce papel definidor, em
que os direitos fundamentais garantem as liberdades pessoais, políticas e econômica da
sociedade burguesa no Estado de direito, enquanto que “os direitos sociais representam o
direito de participação no poder político e a distribuição da riqueza social produzida” por
aqueles que produzem essa riqueza.

Para ele, Estado de Direito e Estado social só podem se dar a nível legislativo e
administrativo, mas não em nível constitucional, uma vez que, na sociedade burguesa, os
direitos fundamentais garantem a separação entre Estado e sociedade burguesa, mantendo do
estado das coisas na sociedade capitalista. Os direitos sociais, por sua vez, funcionam como
meio pelo qual a sociedade adentra e modifica o Estado.

O Estado de direito ou burguês em seu formato contemporâneo estrutura-se no


sistema jurídico, na estrutura material desse sistema jurídico, que visa permitir a concorrência
de mercado; na estrutura social do sistema jurídico e na estrutura política do sistema jurídico
(F. Neumann, 1973). Toda esta estrutura jurídica que regula o Estado de direito burguês
contemporâneo está constituída de modo a favorecer o capital. Observa-se um sistema de
sustentação de um anarco-capitalismo do mercado financeiro, capaz de influir na política
interna a ponto de determinar a política econômica do Estado, que tem por objetivo proteger
o monopólio do capital, onde a intervenção do Estado se dá, paradoxalmente a toda ideologia
liberal burguesa, para valorização do capital, modificando não só a política econômica como
também o próprio Estado de direito.

Para o autor, em princípio, o legislativo funcionaria como freio a esta modificação,


onde os interesses de proteção do monopólio capitalista chocam-se com a diversidade de
interesses e correntes políticas, tais quais os partidos representativos das classes
trabalhadoras, que se opõem aos partidos que defendem os interesses do capital contra o
trabalho, concepção esta presente em Marx em toda sua refinada ironia.
Em retaliação a este suposto equilíbrio, o autor revela o esvaziamento das funções
legislativas, ao mesmo tempo em que o poder concentra-se no Executivo, onde decisões são
tomadas por meio de decretos, e no Judiciário, quando revisa decisões jurídicas de atos que
buscam proteger os interesses e direitos de interesse trabalhista. Podemos dizer que há nessa
descrição um afrouxamento dos freios e contrapesos estabelecidos na disposição dos poderes
constituídos para o funcionamento harmonioso do Estado que se queira democrático em
nome dos interesses da sociedade do capital em sua máxima, o Estado de viés neoliberal que,
ao contrário do que se possa pensar num primeiro momento, é altamente dependente do
Estado, havendo uma inversão intervencionista: não é mais o Estado que intervém na
sociedade e na economia, mas sim, a economia capitalista a intervir na sociedade através do
Estado.

Para designar o poder no Estado de direito contemporâneo do capital, Schiera, utiliza


o conceito weberiano de poder legal-racional, em que acredita-se na validade e na
legitimidade do ordenamento legal e no direito dos representantes políticos escolhidos para
representar aqueles que os escolhem.

Em oposição à liberdade do capital, surge em meados do século XIX, um Estado


social que intervém em prol do bem-estar na população, por meio do financiamento estatal,
público, de programas de seguridade social e de redistribuição de renda.

Você também pode gostar