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Resumo
Para o ser humano, o ato de morrer, além de um fenômeno biológico natural, contém
em si uma dimensão simbólica, relacionada tanto à psicologia como às ciências sociais. Esse
valor simbólico é apresentado de diferentes modos dependendo do contexto histórico e sócio-
cultural.
Willian Osler, um dos pioneiros nos estudos sobre a morte, abordou, em 1904, os
aspectos físicos e psicológicos da morte buscando amenizar o sofrimento das pessoas no
processo de morte. No pós segunda guerra a tanatologia desenvolveu-se mais; foi um marco
importante a obre de Feifel, meaning of death (sentido da morte: tradução livre), que buscou a
conscientização das pessoas sobre o tema em um contexto no qual o tema da morte era
proibido. Em 1969, Kübler-Ross, psiquiatra, em sua obra Sobre a Morte e o Morrer faz uma
análise dos estágios pelos quais passam as pessoas no processo terminal: negação e
isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Kübler diz que a externalização dos
sentimentos pelo paciente e a compreensão destes afetos pelos que o acompanham são
fundamentais para a sua aceitação. Mesmo assim, nesse processo de terminalidade a autora
ressalta a esperança, que dá sentido e faz suportar; o que não faz com que os profissionais
mintam, mas compartilhem o mesmo sentimento.
Até mesmo os ritos religiosos mais tradicionais, deram lugar às organizações funerá-
rias; a presença dos familiares, amigos e vizinhos junto ao moribundo foram substituídos pelo
ambiente frio e isolado do hospital.
O profissional evita contato com a morte do ouro e com suas próprias emoções. Se o
mesmo não estiver preparado, estará sujeito à síndrome do esgotamento, ou burn out.
2 Desigualdade na Morte
A duração de vida e a maneira de morrer são diferentes; dependem da classe
socioeconômica à qual pertence. Até o séc. XVIII, pessoas importantes eram enterradas perto
dos santos ou dos mosteiros com cortejos fúnebres e processos religiosos, enquanto que os
pobres eram jogados em valas. Atualmente vemos a diferença entre os mortos na configuração
geográfica, no tipo de caixão, na qualidade das sepulturas e no tipo de cortejo.
3 Morte em Vida
Nas experiencias vivenciadas ao longo do desenvolvimento humano são apresentadas
algumas analogias com a ideia de morte: separação, desemprego, doença e até mesmo,
acontecimentos que trazem alegria, mas que provocam algum tipo de ruptura.
Segundo Bowlby (1970/ 1997) há quatro fases do luto, que se dão de diferentes nos
indivíduos: (1) fase do torpor ou aturdimento (pode durar algumas horas ou semanas,
desespero e raiva podem acontecer); (2) saudade e busca da figura perdida; (3) fase de
desorganização e desespero ( choro, raiva, acusações, sentimento de que nada mais tem
valor); (4) fase de organização (aceitação, iniciação de “uma nova vida”), nesta fase podem
retornar a saudade, a necessidade do outro e a tristeza. Um processo de luto é gradual e nunca
totalmente concluído.
São determinantes desse processo: identidade e papel da pessoa que foi perdida; o
vínculo (tipo); causas e circunstancias (tipo de morte); idade, gênero, religião e personalidade
do enlutado; contexto sócio-cultural e psicológico (do enlutado); estresses secundários.
4 A Ciência e a Morte
Depois do contributo metodológico de Descartes, a medicina, que antes do mesmo,
preocupava-se com a interação corpo e alma, passa a se concentrar no corpo, agora
comparado a uma máquina, descuidando dos aspectos psicológicos, sociais e culturais da
pessoa.
Uma alternativa a esse modelo são os cuidados paliativos, que têm como objetivo: (1)
promover o alívio da dor e outros sintomas de angustia; (2) afirmar a vida e considerar a
morte um processo natural; (3) não apressar nem postergar a morte; (4) integrar os aspectos
espirituais e psicológicos no cuidado do paciente; (5) oferecer um sistema de suporte que
ajude o paciente a viver ativamente tanto quanto possível até sua morte; (6) oferecer um
sistema de suporte para ajudar no enfrentamento da família durante a doença do paciente e (7)
utilizar uma equipe profissional para identificar as necessidades dos pacientes e suas,
incluindo a elaboração do luto, quando indicado.
Segundo Pessini (2004), esse cuidado deve promover “o bem estar global e a
dignidade do doente crônico e terminal e sua possibilidade de não ser expropriado do momen-
to final de sua vida, mas viver a própria morte”.
5 Considerações Finais
O estudo mostra que a morte é um fenômeno complexo. Em cada tempo e cultura
existe uma forma de lidar, uma cultura e um significado atribuído a ela. Quando discutimos
sobre a dificuldade dos profissionais da saúde em lidar com a paciente terminal em sua
integralidade, devemos analisá-la na sua historicidade e na sua essência. É também preciso
entender que significado a morte teve na cultura do profissional e quanto ele foi influenciado
por ela na sua formação pessoal e profissional.
No caso mais específico do morrer, tendo em vista este novo paradigma, caberia à
psicologia reintroduzir, através de uma aproximação científica, os aspectos emocionais e
simbólicos presentes na manifestação desse fenômeno.