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Faculdade Uninassau – Jóquei

Curso: Psicologia – Bloco IV


Professor (a): Thayz Morais
Atividade: Resumo Expandido

Discentes:
Brena Estela G. da Silva
Carlos André Cardoso
Gabriel Silva Sousa
José Ribamar S. Santos Filho
Laércio Alves Barbosa
Layane Sousa da Silva
Lívia Raquel P. Cunha
Lorena Maria de S. B. Soares
Ricardo M. do Nascimento

Morte e Luto: um breve estudo sobre a vivência da perda e a


contribuição da Psicologia

Teresina, 08 de novembro de 2023


1. INTRODUÇÃO

Ao longo da história da humanidade enquanto civilização, a morte sempre se fez


presente em tudo que detinha vida e expressava uma ideia de finitude. O homem
atravessou o tempo acompanhado por um medo real e latente - a morte e o morrer,
como algo desejavelmente distante e fortemente rejeitado, porém, consciente da sua
inevitável ocorrência. A morte, compreendida pelo mundo ocidental como uma vivência
dolorosa experienciada no processo chamado de enlutamento, é uma condição
historicamente estabelecida, que envolve a recusa de um evento natural da vida,
limitando esse acontecimento à experiência meramente perceptiva e não reflexiva
(Freitas, 2013).

Em uma sociedade construída sobre tradições e ritos, o indivíduo soma-se a um


corpo de concepções culturalmente constituídas e fortemente amparadas, cujas
representações ajudam a formar uma consciência coletiva que envolve a esquiva de
temas como a morte, e, ao mesmo tempo, a necessidade de um amparo social ofertado
por instituições vocacionadas. Bromberg (2000) afirma que a religião auxilia no
processo de aceitação da perda quando oferece amparo e justificativas confortantes para
ajustar o indivíduo à nova realidade posta. Para a autora, as religiões possuem um papel
fundamental ao pregar a validação de sentimentos manifestados por pessoas que
experimentaram a perda, ao mesmo tempo em que as inserem num contexto de
vivências comuns à coletividade.

Considerar aspectos relacionados à vivência e aceitação da morte, provocará


uma reflexão positiva sobre questões existenciais, sobre os fenômenos que envolvem o
seu acontecimento e sobre o encerramento de um ciclo. A perda de um ente e o
consequente fim de uma história vivida e compartilhada com alguém que fora arrancado
bruscamente da rotina de quem a experimentou, representa também a morte diluída na
vida daquele que conviverá com a ausência diariamente (Michel & Freitas, 2019). Para
a psicologia, a morte deve ser compreendida como um processo contínuo, vivenciado
em diferentes fases da vida, através da “ausência” sentida. Nesse contexto, a perda,
enquanto processo consciente, onde alguém próximo deixa de existir fisicamente, é
representada pela vivência da finitude e experimentação de sentimentos percebidos no
processo denominado luto.

O luto consiste em uma reação natural e esperada diante de um rompimento, que


vai além do perder entes queridos. Durante o processo de luto, são manifestadas
respostas emocionais, físicas, comportamentais e sociais que diferenciam da perda de
algo ou alguém. Tem um caráter subjetivo, pois cada pessoa vivencia de uma maneira,
em seu tempo particular, sendo permeado pelo contexto social, cultural, pelos valores,
crenças e tradições familiares.

Aspectos da personalidade, experiência anteriores de perdas e suas


circunstâncias também são relevantes nesse processo, assim como a forma como se deu
a perda (se a pessoa falecida estava sozinha, em casa ou no hospital, se foi um acidente),
e o tipo de morte (repentina doença crônica, suicídio). Para Bromberg (2000), quando se
discute sobre as “fases” do luto dentro de um processo individual e perceptivo, há uma
rígida e equivocada e classificação relacionada à experiência da perda. Porém, ao
avaliar casos manifestamente patológicos, faz-se necessário o estabelecimento de fases
elaboradas a partir de avaliações, a fim de conhecer a real condição emocional e
psíquica do enlutado para definir um possível diagnóstico.

Diante disso, a psicologia desempenha um papel fundamental na compreensão


do luto e na assistência às pessoas que o vivenciam. Ela oferece suporte valioso sobre
como os indivíduos processam o luto, os estágios emocionais que frequentemente o
acompanham e as estratégias para lidar de maneira saudável com a perda. Segundo
Seligmann-Silva (2003), a psicologia exerce um papel decisivo ao promover reflexões
sobre processos e vivências que envolvem perdas, levando o indivíduo ao
reconhecimento e compreensão de fenômenos percebidos com a experiência da morte e
elaboração do luto.

Assim, a psicologia trabalha o luto de forma acolhedora, valorizando a


singularidade humana necessitando de disponibilidade interna do profissional para
acolher as angústias humanas, recebê-las com interesse e trabalhar sua elaboração com
o paciente, traduzidas em ações que implicam um importante investimento psíquico. O
papel do psicólogo é fundamental na medida em que ajuda a pessoa enlutada a lidar ou
encarar a perda de forma adaptativa e ajustada, propiciando uma reorganização das
crenças acerca de si mesmo e do mundo. Pretende-se que o indivíduo estabeleça um
novo equilíbrio que lhe permita não propriamente superar a perda, mas aprender a viver
com ela (Weiss, 1988, cit. por Shapiro, 1994).
2. OBJETIVOS

2.1 Geral

 Analisar os aspectos relacionados à morte e processo de enlutamento, bem


como descrever o fazer psicológico e seus métodos de intervenção.

2.2 Específicos

 Expor de forma contextualizada as diferenças socioculturais acerca da morte


e vivência do luto;
 Investigar os impactos sofridos com a perda de um ente querido;
 Discutir a importância do acolhimento ao cliente/paciente;
 Conceituar as técnicas e abordagens da psicologia frente ao fenômeno
estudado;
 Analisar a importância da psicoterapia no processo do luto.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Representações e Expressões do Luto

O luto é um processo que envolve a vivência de perda e pesar, sendo fortemente


influenciado por fatores culturais e sociais. Dessa forma, é possível observar diferenças
na forma como o luto é experienciado em diferentes contextos. Na Idade Média, por
exemplo, a relação com o corpo era aberta, com rituais distintos para cada região, muito
diferente da relação fechada, contida e individualizada do mundo burguês, que
transformou o corpo humano em instrumento de produção e de trabalho. Na cultura
ocidental, o processo de luto segue uma tradição observada pelo uso de vestimentas
pretas e distanciamento temporário da vida social. Já em outras culturas, como a
japonesa, o luto é vivenciado de forma mais discreta e silenciosa, evitando demonstrar
emocionais públicas.

3.2 O Rompimento de um Vínculo e a Condução para a Ressignificação

Falar sobre a morte e suas implicações mentais na vida de alguém requer uma
análise profunda de diversos fatores, dentre eles, o impacto psicológico provocado pela
perda e suspensão permanente de um vínculo construído e partilhado, etapas,
experiências e realizações de uma vida interdependente. A vivência da morte pode ser
responsável por novas e decisivas mudanças, que demandarão do enlutado um
direcionamento para a construção consciente e compreensiva de fenômenos que
passarão a integrar áreas da vida pessoal e relacional dessas pessoas. Para Freitas
(2018), esse abrupto rompimento ocasionado pela morte de alguém amado desfaz
idealizações futuras e remete o enlutado ao estado de coexistência, tornando-se
necessária a compreensão sobre a percepção e tomada de consciência desse inevitável
processo.

O acolhimento do profissional de saúde mental é de extrema importância para


pacientes que estão em processo de luto. O profissional deve estar preparado para lidar
com possíveis manifestações patológicas e oferecer o suporte necessário para o paciente
superar esse processo. Kübler-Ross (1998) discute a importância do suporte profissional
na compreensão sobre o processo pelo qual o paciente está passando. É necessário que o
profissional esteja atento aos sinais de alerta, como isolamento social e alterações no
sono e no apetite, que podem indicar a presença de transtornos mentais associados ao
luto.

Nessa perspectiva, o acolhimento possibilita a criação de um vínculo de


confiança e empatia entre o paciente e o profissional, o que pode ajudar o paciente a
lidar com o luto e superar esse processo. O cuidado em saúde mental a partir da reforma
psiquiátrica é partilhado entre família e serviços de saúde, e a relação da família com o
portador de sofrimento psíquico é um tema importante na área

3.3 Métodos Interventivos

No que tange às principais técnicas aplicadas por diferentes abordagens da


psicologia no enfrentamento do fenômeno do luto, merecem destaque a psicoeducação e
a dessensibilização sistemática. Ambas propõem desenvolver no paciente/cliente uma
maior capacidade de resposta diante de momentos tão difíceis, considerando o a
participação e engajamento sistêmico para melhor gerenciamento e vivência do luto e, a
partir daí, aprender a lidar com a perda, evitando agravamentos futuros.

A psicoeducação é compreendida como uma intervenção pedagógica que visa


habituar o paciente/cliente ao tratamento. Trata-se de um processo de esclarecimento e
familiarização, levando ao paciente/cliente conhecimentos relacionados à prática
profissional e metodologia utilizada na psicoterapia (RANGÉ, 2011). Bastante utilizada
na abordagem TCC (Terapia Cognitiva - Comportamental) a dessensibilização
sistemática consiste na exposição controlada e gradual do paciente a alguns estímulos,
como medos ou fobia. A exposição não necessariamente precisa ser física e fora do
consultório/clínica, devendo ser realizada de forma hierárquica.

Tratar de temas como a morte e luto, cuja construção social e cultural tem se
tornado cada vez mais objeto de estudos e análises, em especial no campo da psicologia,
leva à reflexão sobre a imperativa necessidade de discussão de temáticas tão presentes
na vida das pessoas, devendo estabelecer uma melhor relação entre indivíduos que
certamente serão alcançados ou atingidos por questões que envolvem a perda de entes
queridos. A importância dessa abordagem e sua relevância sustentam-se na forma sobre
como a quebra e rompimento de vínculos provocados pela morte impacta negativamente
na vida das pessoas.

Diante disso, o apoio psicoterápico, torna-se necessário para evitar


consequências mentais sérias, dando suporte para a estruturação das emoções. É
conveniente retomar o processo do luto no momento em que ocorreu a distorção e
proceder com o desenvolvimento ordenado na lógica natural da sua evolução emocional
(REBELO, 2005).

4. METODOLOGIA

O presente estudo consistiu em uma pesquisa bibliográfica, onde se buscou


livros e artigos científicos com temas relacionados ao assunto explorado neste resumo
expandido. Para isso, buscaram-se publicações disponíveis nas principais bases de
dados para trabalhos acadêmicos, a saber: CAPES, Scielo, PNS, BDTD e BVS. O
acesso e consultas junto às referidas bases, ocorreram no período de agosto a outubro de
2023, utilizando-se como palavras-chave: vivência do luto, morte e luto, psicologia e
luto e enlutamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BROMBERG, M. H. P. F. (2000). A psicoterapia em situações de perdas e lutos


Campinas, SP: Livro Pleno.

FRANCO, M. H. P. (2014). Luto antecipatório em cuidados paliativos. In M. H. P.


Franco & K. K. Polido, Atendimento psicoterapêutico no luto (pp. 27-35). São Paulo,
SP: Zagodoni.

FREITAS, J. L. (2013). Luto e fenomenologia: uma proposta compreensiva. Revista da


Abordagem Gestáltica.

KOURY, C. J. (2014). O luto e suas vicissitudes. Revista Brasileira de Psicanálise,


48(4), 597-603.
Freitas, J. L. (2018). Luto, pathos e clínica: uma leitura fenomenológica. Psicologia
USP.

KUBLER- Ross, E. “Sobre a morte e o morrer”: 8ª Ed., Martins Fontes. São Paulo,
1998.

KUBLER-Ross, E. (1969). Acolher a Morte: Enfrentando a dor com consciência.


[Título original: On Death and Dying]. (J. T. Cunha, Trad.). Editora Martins Fontes.

KUBLER-Ross, E. (2013). Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm


para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. Editora
WMF Martins Fontes.

Luto e perdas repentinas: contribuições da terapia cognitivas comportamental:


http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1808-
56872011000100007&script=sci_arttext.

MICHEL, L., & Freitas, J. (2019). A clínica do luto e seus critérios diagnósticos:
possíveis contribuições de Tatossian. Psicologia USP.

Revista Farol / Faculdade Rolim de Moura – Terapia do luto: Intervenções clinicas na


elaboração do processo de luto. (Daiane Ferreira Azevedo; Alessandra Cardoso
Siqueira).

RANGÉ, 2011 Contribuições da teoria cognitiva comportamental diante de pacientes


enlutados:https://estacio.periodicoscientificos.com.br/index.php/saberesfappimentabuen
o/article/view/1691.

REBELO 2005 A importância da psicoterapia no processo do luto:


https://revistas.brazcubas.br/index.php/dialogos/article/view/633.

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