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Cultura e religião

- A religião e a cultura estão entrelaçadas, sendo a religião muitas vezes um aspecto


central que molda os valores, tradições e sistemas sociais de uma sociedade.
- Enquanto a religião reflete o reconhecimento de um poder superior e influencia o
comportamento humano, a cultura abrange uma gama mais ampla de elementos
compartilhados, desde a história até os artefatos distintivos de um grupo
Perda
- estado de privação que desencadeia reações afetivo-cognitivo-comportamentais e o
processo de luto
- relacionais: pessoa, animal, divórcio
- físicas: saúde, membro, órgão, função, sentido
- materiais
- transicionais: infância, adolescência, adulto, idoso
- emprego/projetos
Luto
- reação à perda de uma conexão emocional significativa, manifestando-se como uma
condição de ausência ligada à natureza e intensidade da ligação com um objeto
simbólico
- Processo de luto: conjunto de mudanças psicossociais (emoções, representações e
comportamentos relacionados com a perda, a frustração e a dor)
- Elaboração do luto: conjunto de processos e tarefas para lidar ativamente com a
perda e encontrar significado da experiência
Bereavement
- condição de ter sofrido uma perda
Mourning
- expressão social de luto moldada pelas práticas de uma determinada sociedade ou
grupo
Luto em diferentes culturas, o significado de morte
- O luto é uma experiência culturalmente construída e expressa de maneiras
diversas ao redor do mundo (e.g., expressão somática do luto, importância do luto
pelos mortos).
- A categorização do luto varia entre culturas, sendo algumas propensas a considerá-lo
como uma interligação inseparável entre sentimentos e pensamentos. Essa
interconexão molda as práticas de luto, variando a forma e o momento em que as
pessoas experimentam o luto (e.g., enlutados podem ser marcados ou isolados,
limitando o apoio e as oportunidades para narrativas de luto).
- A forma como as diferentes culturas enfrentam e classificam a morte varia
significativamente, influenciando o significado atribuído a esse evento, indo desde a
cessação da respiração até interpretações de afastamento temporário devido à
feitiçaria. Compreender essas variações é essencial para oferecer apoio adequado a
indivíduos enlutados
- Além disso, as narrativas culturais em torno da morte, classificações de mortes como
"boas" ou "não boas" e as explicações para o falecimento contribuem para a
diversidade de experiências de luto em sociedades ao redor do globo.
O espírito dos falecidos
- Muitas culturas têm crenças na continuidade dos falecidos de alguma forma, podendo
eles manter contato com os vivos como presenças benevolentes ou assustadoras. A
natureza desse contato varia entre culturas, algumas acolhendo e outras temendo.
Essas crenças influenciam significativamente o processo de luto, e a natureza das
ações dos espíritos pode refletir fatores subjacentes, como o nível de liberdade nas
escolhas sociais das pessoas
Contexto cultural
- Contextos culturais, como a pobreza, guerra e discriminação racial, exercem um
impacto significativo no processo de luto, sendo os rituais importantes para facilitar o
processo de luto e aceitação da morte
Compreensão transcultural do luto
- A compreensão transcultural do luto = observar, escutar e indagar, considerando tanto
a cultura do enlutado quanto a própria.
- A morte = transição para outro estado, exigindo rituais culturalmente determinados
para assegurar essa passagem.
- Em sociedades de pequena escala, o luto é encarado como uma jornada com
comunicação contínua entre os mortos e vivos, culminando → cerimónia fúnebre
final.
A procura de generalização/universalidade no luto e diferenças
- A busca por universalidades no luto oferece insights sobre experiências
compartilhadas entre culturas, reconhecendo as perdas associadas à morte; no entanto,
na perspectiva pós-moderna, essa busca pode negligenciar a importância de detalhes
específicos, contradições e variabilidades culturais, destacando a complexidade na
tradução e interpretação emocional entre diferentes contextos.

Perdas antecipadas: Luto preparatório


- processo vivenciado por pessoas que estão a morrer, abrangendo alterações físicas e
emocionais associadas à doença avançada e antecipação da morte.
- momentos de transição: diagnóstico/impacto emocional/crise → tratamento/tomada
de decisões → agravamento dos sintomas/crescente dependência/dor total → final de
vida/astenia/redução do nível de consciência/entrada na agonia → morte
- Cuidados paliativos: cuidados biopsicossociais e espirituais preparados a doentes em
situações de intenso sofrimento decorrente de doença incurável em fase avançada e
rapidamente progressiva em que o principal objetivo é promover tanto quanto
possível e até ao fim o seu bem estar e qualidade de vida
- pilares: controlo sintomático, comunicação apropriada, apoio à família e
trabalho em equipa
- modelo convencional: diagnóstico → tratamento curativo → evolução da doença →
cuidados paliativos → morte- apoio no luto
- modelo preconizado: diagnóstico → tratamento curativo/cuidados paliativos →
evolução da doença → morte/apoio no luto
- As perdas associadas à fase terminal abrangem aspectos emocionais (e.g., projetos,
sonhos), físicos (e.g., funções corporais), sociais (e.g., vida familiar), cognitivos (e.g.,
memória curto-prazo) e espirituais (e.g., confiança/desconfiança na entidade divina).
- Diferentes tipos de orientação para a morte incluem lidar construtivamente (procurar
compreender e aceitar ativamente a realidade da morte), lidar indiretamente
(negociação, adiamento, rezar), evitamento e desânimo.
Perdas antecipadas: Luto antecipatório
- processo no qual os sobreviventes assumem o papel de enlutados, elaborando as
mudanças associadas à morte iminente.
- Esse processo, que tende a aumentar à medida que a morte se torna mais próxima,
envolve luto, coping, planeamento e reorganização psicossocial.
- Pode mitigar a intensidade da reação ao luto após a morte, tornando os sobreviventes
menos vulneráveis a respostas não adaptativas.
- Os cuidadores enfrentam dilemas, como reforçar o vínculo ves deixar partir, investir
na recuperação vs seguir com a própria vida, exigindo equilíbrio entre diferentes
necessidades e responsabilidades
Perdas antecipadas: Luto prematuro
- processo pelo qual os sobreviventes iniciam mudanças e sociais num momento
precoce em relação à possibilidade de morte
- pode determinar sentimentos de culpa (por abandono, etc)
Transição Psicossocial (Colin Parkes)
- eventos de vida podem desencadear perturbações mentais devido à necessidade de
uma revisão significativa nas suposições do mundo, ocorrendo rapidamente e com
pouca preparação.
- Luto como transição psicossocial: a perda desafia as bases do que se considerava
firmemente estabelecido, levando a uma sensação de caos e tornando o mundo
familiar (“mundo assumido”) em desconhecido.
- O sentido de identidade do enlutado pode precisar de ser redefinido, e o trabalho de
luto é essencial para uma adaptação saudável, que envolve a preocupação persistente
com pensamentos sobre a pessoa perdida, a recorrência dolorosa da experiência de
perda para aceitar sua irrevogabilidade e a tentativa de atribuir sentido à perda,
modificando ou adicionando aos pressupostos do mundo, ou seja, ao "mundo
assumido".
- A resistência contínua à mudança pode inibir a adaptação adequada.
Modelo Grief Work (Freud)
- descreve um processo de desvinculação do enlutado em relação ao falecido,
envolvendo libertação da "escravidão" emocional, reajustamento à nova vida sem o
falecido e investimento em novas relações.
- A função psicológica do luto é retirar a energia emocional do falecido para realocá-la
em novos relacionamentos.
- Este processo gradual exige o reconhecimento e expressão de emoções dolorosas,
revivência de memórias do falecido e, eventualmente, o desprendimento e
reinvestimento emocional.
- A falta de envolvimento no processo de luto → complicações e aumentar o risco de
perturbações mentais e doenças físicas.
Luto (Erich Lindemann, 1944)
- identificou sintomas e indicadores de manutenção do luto agudo, incluindo
perturbações somáticas, preocupações persistentes com a imagem do falecido,
distância emocional dos outros, culpa, hostilidade e dificuldades nas rotinas diárias.
- Os critérios para distinguir o sofrimento "normal" do "patológico" baseiam-se na
duração, intensidade e alterações no funcionamento social.
Modelos de fases/estádios de luto:
Teoria da vinculação (Bowlby)
- abrange o processo de perda em fases sobrepostas, incluindo choque, anseio,
protesto, desespero e recuperação, enfatizando a importância do trabalho de
luto para reorganizar as representações da pessoa perdida e do self.
Estádios de adaptação à doença (kubler-ross)
1. negação e isolamento
2. revolta
3. negociação
4. depressão
5. aceitação
- Crítica aos modelos: imposição de uma ordem linear num processo complexo, a
universalização da experiência de luto, a dificuldade em captar a complexidade e
diversidade dessa experiência, e a ênfase na aceitação como estádio final, sugerindo
uma recuperação completa e encerramento emocional.
Modelo Two-Track (Rubin, 1981, 1999)
- Track I: concentra-se no funcionamento biopsicossocial pós-perda, avaliando vários
aspectos da vida do enlutado (e.g., problemas somáticos, depressão, ansiedade).
- Track II: foca na relação contínua com o falecido, explorando a transformação do
vínculo e a formação de uma nova relação.
- Este modelo compreende um paradigma de eixo duplo, integrando abordagens para
entender a complexidade do luto
Modelos de coping intrapessoal
Modelos de tarefa
- definição mais precisa dos stressores que precisam ser trabalhados
Modelos de processo
- envolvem uma definição mais precisa dos mecanismos subjacentes ao coping
(mal)adaptativo
Os 6 R’s de luto (Therese Rando, 1991, 1993)
- Evitamento
- Reconhecer a perda
- Reagir à separação (experienciar a dor da perda)
- Confrontação
- Recapitular e reviver o falecido e a relação
- Renunciar antigas ligações, reinvestir na vida, criar novos interesses e
relações
- Acomodação
- Reajustar ao novo mundo
- Reinvestir a energia emocional em novos projetos
Task Model
- Tarefas:
- aceitar a realidade da perda,
- experimentar a dor gerada pela perda,
- adaptar-se a um meio em que o falecido está ausente,
- reposicionar em termos mais emocionais a pessoa que faleceu e
continuar a vida - muitas pessoas têm medo de investir numa nova
forma de viver, pela perceção de traição à pessoa falecida (fidelidade)
ou pelo medo de nova perda
Modelos de coping interpessoal
Modelo de luto incremental (Cook & Oltjenbrun, 1998)
- uma perda muitas vezes desencadeia outra, resultando numa amplificação do
luto a cada perda adicional
- A "dessincronia do luto" destaca estilos discrepantes de coping, levando a
assimetrias e incongruências no luto
- + assimetria/incongruência → + dificuldades no processo de luto
- + congruência → + adaptação à perda
Modelo de reconstrução de significado (Neimeyer, 1998, 2001, 2002)
- abordagem construtivista social ou narrativa, que reconhece a perturbação do
"mundo assumido" por perdas significativas.
- O processo interpessoal de construção do significado envolve reflexões
internas e compartilhamento de histórias, apoiado por rituais e cerimônias.
- Ancorada no contexto cultural, considera significados tácitos e explícitos,
resultando em compreensão mais profunda da identidade, aceitação da perda e
crescimento pessoal e espiritual.
- As "tarefas" do luto tornam-se "desafios", incluindo reconhecer a realidade da
perda, abrir-se para a dor, rever o mundo de significados, reconstruir a relação
com o que foi perdido e reinventar a si mesmo.
Modelo duplo de processamento do luto (Stroebe & Schut, 2001)
- coping orientado para a perda envolve o processamento da experiência de
perda, luto ativo, ruminação sobre o falecido e vínculo emocional, sendo mais
prevalente no início do luto, especialmente em períodos de afeto negativo.
- coping orientado para a restauração concentra-se em stressores secundários
relacionados a mudanças de papéis, nova identidade e desenvolvimento de
atividades.
- O modelo reconhece a dinâmica entre essas orientações ao longo do tempo,
permitindo ajustes através da oscilação entre confronto ativo e evitamento.
Modelo Continuing bonds
- representa uma nova perspectiva do luto, afastando-se do "deixar ir" para valorizar
manter o vínculo com o falecido.
- Estratégias incluem atribuir uma localização, vivenciar, procurar e objetos de ligação.
- Tipos de relações envolvem ver o falecido como um fantasma, preservar memórias,
viver a relação passada e internalizar o falecido como um legado vivo
- O Modelo de Luto de Walter destaca que esses vínculos podem ser positivos,
influenciando o enlutado como um modelo e parte significativa da vida,
manifestando-se em formas como fotos, identificação (imitação de comportamentos),
ilusões perceptivas (ouvir o falecido) e lidar com situações não resolvidas.
Padrões do processo de luto

Padrão Operações Subpadrões Funções Resultados Manifestações

I. Evitamento Choque Anestesia Estabilização Negação, embotamento afetivo,


dissociação
Negação Proteção Segurança

II. Assimilação Desorganização Reconhecimento Consciencialização Probs afetivos (choro,


depressão); cognitivos
Integração Contacto Mentalização (reexperiências de memória,
dificuldade de concentração);
existenciais/espirituais
(desespero); comportamentais
(isolamento, solidão); somáticos
(palpitações, cefaleias)

III. Acomodação Reformulação Transformação Maturação renúncia ao “mundo assumido”;


reinvestimento identitário;
Reorganização Crescimento Desenvolvimento reajustamento ao “novo mundo”

Modelo de tripla integração do processo de luto (níveis e operações)


Níveis de Operações
vivência
Evitamento Assimilação Acomodação

Intrapessoal: entorpecimento dor emocional reexperiência do prazer


Trauma sem culpa e medo

Interpessoal: procura reexperiência de integração simbólica na


Separação memórias relacionais memória
Relacional

Transpessoal: negação desespero reconstrução de


Rotura significado
Existencial
Este modelo de integração contempla a consciencialização e a interligação de três
tarefas: aceitação da perda, adaptação à vida sem o objeto perdido e
aquisição de significado
Critérios de luto integrado
1. Irreversibilidade assumida. aceitação clara, direta e expressa de que o que se perdeu
não pode voltar, “princípio do fim”
2. Alusividade sintónica: capacidade de falar com qualquer pessoa de todos os aspetos
da perda, “referência ajustada”
3. Existência fluída: vida determinada pelo atual, “prioridade do presente”
4. Ressonância significativa: alegria e prazer sem culpa, “vibração existencial”
5. Legado incorporado: o que o falecido deu, ajudou, proporcionou, “sedimento
integrado”
6. Conexão tranquila: sentimento agridoce pacífico, “saudade”
7. Recordação valorativa: pensar sem dor/desprazer intenso, “fica qualquer coisa de
bom”

Luto complicado
Luto traumático
- relacionado a perdas inesperadas, envolve a exposição a eventos traumáticos,
desencadeando respostas como desligamento emocional, confusão, desamparo
e paralisia
- Tríade do trauma: repetição contínua de memórias intrusivas, hiperativação
com reações exageradas e evitamento através de amnésia, isolamento e
comportamento de fuga
Luto inibido
- reação emocional à perda é insuficiente, resultando na supressão ou inibição
das expressões de luto, manifestando-se através de um funcionamento
aparentemente normal, tentativas de minimização, repressão, pensamentos
intrusivos, perturbações do sono, sintomas físicos, tensão muscular e
dificuldades relacionais.
Luto crónico
- duração excessiva e estático, onde os níveis de tristeza, irritabilidade e culpa
permanecem inalterados
- superação da situação parece inatingível
Luto ambíguo
- Presente fisicamente, mas ausente psicologicamente (e.g., doentes com
demência)
- Presente psicologicamente, mas ausente fisicamente (e.g., situações de rapto)
Luto exagerado
- comportamentos autodestrutivos para aliviar dor emocional (e.g., drogas)
Critérios de luto complicado/prolongado
Afetivos
- dificuldade em falar do objeto perdido, tristeza injustificada em certas
circunstâncias, irritabilidade persistente, entorpecimento, etc
Cognitivos
- recalque/dissociação; comportamento “seco”, como se nada fosse
Físicos
- Fobia de doença ou de morte; evitamento desproporcionado de rotinas e
contacto com pertences do falecido, etc
Comportamentais
- comportamentos autodestrutivos
Interpessoais
- evita relacionamentos; solidão; etc
Transpessoais
- sentimento de vida insatisfatória; sem futuro; diminuição de sentimento de
identidade
PLP vs. Depressão vs. Ansiedade de separação vs. P. Psicótica
- PLP está focado em sentimentos de perda e separação em vez de refletir um humor
deprimido generalizado
- PLP relaciona-se com sofrimento em relação à separação da pessoa falecida enquanto
PAS é relativo a figuras de vinculação atuais
- PLP tem alucinações sobre o falecido mas sem psicose, pensamento desorganizado ou
sintomas negativos, não é P. Psicótica
Preditores de luto complicado
- antes da morte: perda anterior, exposição ao trauma, histórico psiquiátrico anterior,
etc
- associados à morte: morte violenta; proximidade conjugal/familiar; preparação; etc
Fatores de risco
- circunstâncias da perda: súbita, traumática, estigmatizada
- características do objeto: mãe, filhos
- apoio familiar e social: disfunção familiar, isolamento
- vulnerabilidade pessoal: perturbação psiquiátrica; personalidade e estilo de coping
- natureza da relação: excessivamente dependente; ambivalente; exclusivista
- contacto problemático com serviços de saúde: falta de controlo de sintomas;
dificuldades diagnósticas
Mediadores de luto complicado
Fatores situacionais
- circunstâncias da perda (inesperada, traumática, etc)
- condições de cuidados (satisfação) (falta de controlo de sintomas;
comunicação com profissionais; etc)
- condições do cuidador (excesso de responsabilidades; condições materiais;
etc)
- stressores concorrentes/perdas secundárias (problemas
financeiros/laborais/familiares; etc)
Fatores intrapessoais
- características demográficas do enlutado: idade, género
- antecedentes psiquiátricos: história pessoal/familiar de perturbação
psiquiátrica
- personalidade, estilo de vinculação
- estilo de coping, locus de controlo
- mecanismos de defesa: imaturos; eu frágil
- experiência de perdas anteriores: perda precoce de progenitores; acumulação
de perdas “não resolvidas”; trauma cumulativo;
- espiritualidade: crença, sentido, propósito
Fatores interpessoais (objeto de perda)
- características demográficas: idade, género (mulheres), estado (viuvez,
divórcio/separação)
- grau de parentesco: filhos, irmãos, pais
- qualidade da relação anterior: excessivamente dependente (relação de
segurança); exclusivista; ambivalente (irritado e inseguro com problemas de
alcoolismo, etc); conflituosa
- questões pendentes, projetos truncados: financeiros, laborais, sociais,
familiares
Fatores interpessoais (relação com o exterior)
- funcionamento familiar: disfunção familiar (e.g., má comunicação e coesão,
elevado conflito) ou famílias funcionais
- suporte social: isolamento (e.g., migrantes, recente mudança de residência);
alienação (e.g., perceção de fraco apoio social, dificuldade de encontro com
familiares e amigos, etc);
- contexto cultural e religiosidade: crença; sentimento de pertença; não
possibilidade de realização de rituais religiosos ou outros

Luto nas crianças


- Os adultos evitam falar sobre a morte com as crianças devido ao desconforto, medo
de assustar, falta de preparação, e a percepção de que não é apropriado.
- As crianças enfrentam perdas diárias, desde objetos queridos até mudanças familiares
(divórcio)
- Reflecte a capacidade da criança desenvolver relações
- Processo activo que ajuda as crianças a expressar emoções e a criar novos
significados
- Dinâmicas familiares facilitam ou inibem a expressão emocional
Compreensão do conceito de morte
- universalidade: acontece a todos
- irreversibilidade: não se volta atrás
- não funcionalidade: corpo deixa de funcionar
- causalidade: há uma causa que está associada à morte; é importante haver causalidade
para a criança para evitar atribuição de culpa a terceiros e para mitigar as “fantasias” e
questões ruminativas
Manifestações de luto na criança
● Tristeza profunda e períodos de choro excessivo ou birras frequentes e prolongadas
● Choque prolongado e incapacitante para retomar a vida
● Negação da realidade da perda
● Apatia, falta de interesse e insensibilidade pelas coisas
● Sentimentos de culpa persistente pela morte e autocensura
● Ansiedade e medos excessivos e persistentes em relação ao próprio e aos outros
● Explosões de raiva inexplicáveis e zanga manifestada de forma agressiva
● Perda de interesse prolongada pelas atividades que costumava gostar
● Isolamento
● Comportamentos regressivos e infantis face à idade
● Agitação e irrequietude motora
● Comportamentos de risco e ilegais
● Desobediência e oposição a figuras de autoridade
Processo de luto na criança
1. Aceitar a realidade da perda
2. Experienciar a dor da perda
a. confrontar-se com o sofrimento da perda
b. lidar com ressurgimentos periódicos da dor
c. sentimentos ambivalentes (“porque é que me deixaste?”; culpabilização)
d. modelo do adulto
e. promover a expressão de sentimentos (e.g., tristeza, raiva, culpa, ansiedade)
(reguladores da ativação)
f. imaturidade dos mecanismos de coping da criança influenciam certas
respostas de luto
g. à medida que a criança cresce podem reviver um luto precoce
3. Ajustar-se a um ambiente no qual o falecido já não pertence
4. Reposicionar emocionalmente o falecido na própria vida e encontrar formas de
lembrar a pessoa
a. ao longo do tempo as crianças usam várias estratégias para manterem a
conexão com o falecido
b. significado da morte e um sentido do que representou o falecido para a sua
vida
c. reavaliar a relação com a pessoa falecida, em que surgem novos significados
d. encontrar um lugar que permita prosseguir com a vida
e. transformação/crescimento pessoal
f. manter uma relação interna com a pessoa falecida
g. desvinculação vs. continuing bonds
h. retorno às tarefas desenvolvimentais apropriadas à idade
Fatores mediadores do processo de luto nas crianças
● Relacionados com a morte
○ tipo de morte (antecipada, violenta, grau de dor, etc)
○ contacto com o falecido (ver o corpo, visitas ao cemitério, etc)
○ despedida
○ relação com o falecido (grau de dependência, sentimentos ambivalentes,
significado da morte, etc)
● Fatores individuais
○ idade, desenvolvimento emocional e cognitivo, temperamento
○ estilo de vinculação
○ experiências anteriores de stress e perda
● Fatores familiares
○ reações e sistema de significados da família nuclear e alargada
○ relação com membros sobreviventes
○ mudanças
○ novo relacionamentos
○ etc
● Fatores de comunidade
○ escola (reconhecimento do luto; amigos/colegas/profs)
○ associação/coletividades
○ religião (crenças sobre a morte, participação nas cerimónias)
Que coisas não devemos dizer
● Explicações que inibam a expressão emocional (não te preocupes, agora tens de ser
forte, etc)
● Explicações que levam a uma preocupação excessiva com os cuidadores (que a tua
mãe não te veja a chorar, fazes-me lembrar tanto o teu pai)
● Eufemismos (o avô está de viagem, a mãe está a dormir profundamente, etc)
● Explicações complexas e abstratas (teológicas ou científicas) (cessamento de
atividade cerebral, separação do corpo da alma, etc)

Luto desautorizado
● embora a pessoa esteja a vivenciar uma reação de luto
○ não há reconhecimento social de que a pessoa tem direito ao luto
○ não recebe os mesmos “direitos” ou papel de enlutado
○ não beneficia de compensações (dias por falecimento) ou diminuição de
responsabilidades sociais
○ não reclamam a empatia ou apoio social
● Falha empática: integra as dimensões sociais e intrapsíquicas do luto desautorizado;
falha em manifestar empatia e prestar apoio suficiente
○ Ex: ambivalência em relação a um filho com deficiências que rompem com as
expectativas dos pais → falha empática no contexto familiar ou rede de
socialidade
● Acontece em situações que:
1. A relação não é reconhecida (e.g., amantes, vizinhos, sogros, padrastos, cuidadores,
etc)
2. A perda não é reconhecida
a. não envolvem morte - perdas significativas cujo objeto de perda permanece
fisicamente vivo;
b. “morte social” - pessoas em coma;
c. “morte psicológica” - morte cerebral;
d. “morte psicossocial”/perda ambígua - ausência psicológica com presença
física em que a personalidade mudou devido a doenças, síndromes, etc;
e. perdas secundárias face à doença terminal como mudanças no estilo de vida,
intimidade relacional, etc;
f. perda de relações amorosas na infância e adolescência;
g. reação de luto à infertilidade e perdas gestacionais/perinatais;
h. perda de emprego
3. O enlutado está excluído
a. enlutado não é socialmente definido como sendo capaz de fazer o luto (e.g.,
pessoas com demência, deficiência intelectual, etc)
b. quando a família não aceita o parceiro sobrevivente ou quando aceita, mas
pretendem que essa relação não seja revelada publicamente
4. Circunstâncias da morte/perda
a. perdas estigmatizadas (HIV, suicídio, etc)
b. Perdas que geram grande ansiedade (e.g., mutilação, suicídio)
c. perdas que provocam embaraço (e.g., asfixia auto-erótica)
d. perdas em que o falecido é desvalorizado (e.g., alcoólatra)
5. A forma como o indivíduo sofre
a. maior aceitação por estilos mais expressivos
b. menor aceitação por estilos mais instrumentais (expressão mais física,
cognitiva ou comportamental)
Experiências pessoais de luto desautorizados
● Dimensões pessoais e sociais
● Falhas empáticas
● Normas sociais
● Limitações na ritualização
Luto profissional em psicólogos clínicos
● Suicídio
● Morte natural ou por doença
● Dropout
● Alta clínica

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