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PSICOLOGIA DO

LUTO
25h
Formadora Joana Alves
joanabritoalves@gmail.com
▪ Conteúdos
Compreender as fases de um luto e conhecer as reações típicas a uma
perda.

Compreender processos do luto.

Compreender Luto adaptatico vs Luto complicado

Luto - fenómeno universal

Luto por homicídio, suicídio, doença prolongada, parental, o luto e as


crianças, perda de animal de companhia

Estratégias
Avaliação

■ Tarefas;
■ Questionário final de avaliação.
O Luto (dinâmica de grupo)
Luto enquanto fenómeno universal e
cultural

“A morte é um fenômeno universal, mas o luto é singular ”


Mayara Prado

A palavra luto deriva do latim Luctus que significa dor, mágoa. Apesar da dor
emocional em que se encontram as pessoas em luto, o seu sofrimento tende a
ser uma resposta normativa a um fenómeno natural. Esta é a visão do luto na
sociedade contemporânea.
No entanto, nem sempre foi assim.
■ Na idade média, o luto manifestava-se de forma violenta. Por
exemplo, os prantos e as lamentações públicas, as agressões auto
infligidas e o abandono da higiene e do cuidado pessoal.
■ Estes comportamentos tinham como finalidade fomentar o próprio
sofrimento.
■ Para além disso, devido à forte influência da Igreja Católica, existia a
crença de que a expressão pública do sofrimento era necessária para
Deus proporcionar a vida eterna à pessoa.
■ Carpideiras.
■ Com a chegada da idade moderna, e do pensamento humanista, a
morte passou a ser analisada como “a vontade de Deus em colocar a
pessoa num lugar melhor” que devia ser respeitada e aceite, sem
lamentações.
■ Assim, o luto passou a manifestar-se através do vestuário e dos
rituais fúnebres.
■ Crescente auto controlo das emoções.
■ A visão contemporânea envolve a neutralização do luto., bem como
uma tendência para atribuir uma natureza patológica a todos os
comportamentos ou rituais a que as pessoas recorrem para gerir a
dor ou a perda.
■ As dificuldades do ser humano em lidar com o sofrimento do outro
são, em parte, fruto da dificuldade em lidar com a morte.
■ O estudo do luto enquanto elaboração psicológica, foi iniciado com a
publicação de Freud (1917) Luto e Melancolia, que introduziu o
conceito de “trabalho de luto”.
■ A partir daqui surgem os primeiros modelos teóricos do luto.
Modelos mais antigos vs. Modelos
contemporâneos

SUJEITO

Papel ativo Papel Passivo


■ Atualmente, várias teorias do luto destacam o processo do luto como
precisamente um processo em que não têm de existir fases
estanques e ordenadas.
■ Existem sim, tarefas como por exemplo a aceitação da realidade da
perda, processar a dor da perda, adaptar-se a um mundo sem a
pessoa perdida ou encontrar uma relação contínua com a pessoa
perdida.
■ Uma das mudanças mais significativas nos modelos mais
recentes, foi a descoberta da atribuição de significado à
perda, enquanto tarefa facilitadora de um luto adaptativo.
■ Como em muitas áreas da Psicologia, o espaço para o luto ser discutido – a sua avaliação,
consequências, fatores de risco - nasce em resposta às consequências psicológicas das
guerras, catástrofes ou de perdas de figuras públicas como por exemplo a Princesa Diana ou
Kurt Cobain.
■ O ano de 2020 foi um ano cientificamente favorável a todos os que têm interesse na área do
luto.

As caraterísticas das vivências da pandemia criaram uma rede de fatores associada a


complicações no luto.
A pandemia e o luto...
■ O contexto da pandemia exigiu uma gestão diária da ansiedade.
■ A sociedade esteve em luto pelas perdas individuais e enquanto
comunidade.
■ Uma perda num contexto pandémico tende a integrar um risco
elevado de luto prolongado. Aqui as perdas tendem a ser vividas com
intensa raiva e revolta, dada a sensação de impotência, ausência de
controlo e desamparo.
■ Para além disto, o contacto constante com a morte (estatísticas
diárias, notícias).
■ Os medos provocados durante a pandemia pela pandemia dificultam
a elaboração das emoções durante o processo de adaptação à perda.
Fatores de risco de luto prolongado

■ Ausência de rituais fúnebres;


■ Incapacidade de atribuir um significado à perda;
■ Sentimentos de culpa e raiva;
■ Existência de questões pendentes;
■ Suporte social reduzido;
■ Sensação de ser invadido por questões acerca da morte.
Luto normal vs Luto complicado
■ A morte de alguém querido é um dos eventos mais significativos na
vida de alguém.
■ Após uma perda, são comuns manifestações a vários níveis
(cognitivo, somático, emocional, comportamental,…) e é natural por
um período de tempo a pessoa sentir-se inundada pelo seu luto e dor
emocional associada.
■ Porém, a literatura é consistente na ideia de que a maioria das
pessoas tem recursos internos e externos suficientes para integrar
esta experiência e progressivamente ajustar-se à vida sem a pessoa
perdida.
■ Por outro lado, há casos em que o luto é complicado:
■ O luto crónico é o que habitualmente chega às consultas.
De um modo geral, têm a perceção de que não estão a
conseguir integrar o seu luto e que o seu processo se
mantém estático no tempo. Prevalecem sentimentos de dor,
choque, atordoamento, confusão. Tendem a manter-se
durante anos sem conseguirem prosseguir o seu dia a dia
ou investir em atividades prazeirosas, evidenciando
disrupção social e ocupacional.
Luto por homicídio

■ Enquadrado nos crimes contra a vida, o homicídio está enquadrado


no código penal português à luz de várias classificações.
■ Em Portugal, grande parte dos homicídios acontecem no contexto de
intimidade.
■ Muito embora os estudos científicos demonstrem que após algum
tempo após a perda, o indivíduo consiga retomar o seu
funcionamento social, o mesmo já não parece acontecer no luto por
homicídio, uma vez que existem elevados níveis de luto complicado.
Especificidades do luto por homicídio

■ Natureza repentina e inesperada do acontecimento.


■ Associação de processos judiciais muitas vezes morosos.
■ Natureza pública do evento.
■ A natureza violenta da morte por homicídio diferencia esta experiência de
outras nomeadamente das mortes naturais e não violentas.
■ Os familiares e amigos da vítima reportam com frequência pensamentos
ruminativos acerca dos últimos momentos de vida da pessoa.
■ Muitas vezes, só quando se finaliza o processo judicial é
que a pessoa inicia o seu processo de luto.
Caso prático

■ Helena tem 40 anos, é gestora bancária, casada e tem dois filhos menores.
Aquando do início do processo terapêutico, encontrava-se de baixa médica, há
cerca de 16 meses. A família reside numa zona rural e ambos os elementos do
casal mantêm relações próximas com a sua família alargada. Helena foi
encaminhada para o serviço de psicologia, pelo médico de família, após a morte da
sua irmã, Telma, por homicídio em contexto doméstico. Em consulta, Helena
reporta uma dor como nunca sentiu, chora o dia todo, não consegue trabalhar, Fez
ainda referência a sentimentos de medo, impotência, culpa, dificuldades de
concentração, problemas de sono, sintomas de depressão. Helena refere que vê e
revê o momento da morte da irmã vezes sem conta, mesmo não tendo presenciado
o evento. Evita visitar a campa da irmã mas diz que a vê em todo o lado. Refere que
nunca se perdoará por não ter percebido sinais...
Luto por suicídio
■ 2 ª causa de morte entre os 15 e os 29 anos de idade (OMS, 2017).
■ Em Portugal, morrem anualmente, cerca de 1000 pessoas por
suicídio.
■ No caso de luto por suicídio, as reações de choque e trauma podem
ser mais frequente, associados também a sentimentos de abandono,
rejeição, culpabilidade e incompreensão.
■ A perda por suicídio tem a especificidade de aumentar os porquês
daqueles que estão em processo de luto.
■ Existe maior probabilidade no luto por suicídio de sintomas de stress
pós-traumático, sobretudo naqueles que tiveram o confronto de
encontrar o corpo (mais ansiedade, pensamentos intrusivos do corpo
e seus danos).
■ O suporte emocional mostra estar francamente comprometido nestes
casos, por receio e pelo estigma associado ao suicídio.
Apoio no luto por suicídio

■ Psicoterapia
■ Grupos de auto ajuda
■ Ativação da rede de suporte informal
■ Terapia familiar
■ Escrita terapêutica
■ Investigações recentes demonstram que quando comparadas as respostas
emocionais relativas ao luto pela perda de uma pessoa e de um animal de
companhia são muito semelhantes.
■ Este luto pode ser uma experiência uma vez que pode não ser bem entendido.
Luto parental

■ A perda de um filho é considerada uma das perdas traumáticas


vivenciadas pelo ser humano. Segundo as investigações, a perda
mais dolorosa.
■ O luto parental é definido como um processo intenso, complexo e de
longa duração, dada a natureza incompreensível e devastadora da
perda.
■ A complexidade deste luto deve-se, em parte, às tarefas que são
exigidas aos pais num contexto de sofrimento extremo.
■ Novas identidades, reorganizar dinâmicas familiares e de casal,
necessidade de comunicar sobre a perda num contexto em que o
suporte social é reduzido.
■ Uma resposta adaptativa e construtiva perante esta perda exige a
descoberta de novos significados, objetivos e motivações para
continuar a viver.
■ Envolvimento em rituais adaptativos, manutenção de uma relação
vinculativa com o filho, recurso a mecanismos de coping funcionais e
atribuição de um significado à perda.
■ Mudança gradual de um estado de emoções intensas para um estado
de integração da perda.
■ A perda de um filho envolve a perda de identidade, enquanto figura
parental e enquanto pessoa.
■ Ausência física da pessoa e desorganização da identidade.
Luto parental face a uma perda
gestacional
■ Perda menos falada e menos valorizada (aborto espontâneo, morte fetal, morte
neonatal, interrupção da gravidez).
■ As perdas súbitas e imprevistas envolvem a quebra da relação vinculativa que tinha
vindo a ser construída durante o período de gestação.
■ A sociedade tende a silenciar e minimizar o sofrimento da mulher o que acentua os
sentimentos de incompreensão.
■ A relação com o filho imaginado começa a ser construída antes do nascimento. O
bebé nasce na imaginação dos pais. Quando este vínculo é rompido, inicia-se um
processo de luto e sofrimento.
Luto na doença crónica e cuidados
paliativos
■ A experiência do confronto com a morte constitui uma crise na vida do
doente.
■ Problema sem resolução que leva à resignação.
■ Pode despertar assuntos pendentes do passado ou presente.
■ O "luto preparatório", a ameaça de morte ou separação em relação a uma
pessoa significativa é indutora de reações de luto.
■ Este termo foi descrito por Kubler-Ross como o processo através do qual o
doente se prepara para a sua separação em relação ao mundo.
■ Os familiares e amigos podem vivenciar o luto antecipatório. Confrontam-se
com a degradação da imagem do doente, as alterações na qualidade da
relação: perceção da ausência futura do outro.
■ Perante o sofrimento do outro, ambivalência entre não querer perder a
pessoa, mas também não querer vê-la sofrer.
Luto por um animal de companhia

■ Ao longo dos anos, o papel do animal de companhia tem sofrido


mudanças. Atualmente, na nossa sociedade, uma das principais
funções destes é o afeto e conforto emocional.
■ A comunidade científica tem vindo a mostrar que a relação entre os
humanos e os animais é uma relação de vinculação.
■ Esta transmite segurança, proteção, aceitação, amor incondicional
mas também envolve medos, inseguranças e ansiedade de
separação.
■ Providencia uma série de benefícios para a saúde mental e também a
redução do risco de doenças cardíacas, por exemplo.
As crianças e a morte
■ Os adultos subestimam a importância da informação para as crianças, para que
estas consigam compreender e processar a morte.
■ É importante uma comunicação honesta e aberta.
■ Preparação, estar bem informado, abraçar e confortar a criança, evitar frases
vazias, reforçar que apesar de as coisas parecerem caóticas, a vida retomará e
voltará ao normal.
■ É importante informar a escola do sucedido, para que tenham conhecimento da
situação.

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