Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SILENCIADA
Choque
De modo geral, reagimos com surpresa e espanto frente a um suicídio.
Em muitos casos, o risco de suicídio sequer fora percebido. Isso pode
levar algumas pessoas à descrença em relação ao suicídio e à procura
de uma explicação para a morte. Sentimentos de vergonha reforçam
1
essa atitude e pode-se criar, em torno da morte, uma aura de mistério
e incerteza que atravessa gerações.
Culpa
A culpa costuma ser acompanhada de constante ruminação e
autorrecriminação: “Como eu não percebi?”, “Eu deveria ter feito
alguma coisa, eu poderia ter evitado.”, “E se...?”. A culpa costuma ser
mais intensa quando, justificadamente ou não, um familiar sente que,
de alguma forma, entre ele e o falecido havia conflitos não
solucionados.
2
Raiva
A culpa transformada em raiva precisa ser suportada secretamente,
ou, então, expressada abertamente contra o falecido ou contra
outrem. Em um contexto de procura por culpados, pode-se imputar a
culpa ao psiquiatra, ao psicoterapeuta ou à equipe assistencial, os
quais passam a representar o papel do bode expiatório1. Essa
circunstância não costuma acometer o profissional com uma postura
que preza pela boa comunicação, disponibilidade e − notadamente
após um suicídio − humildade.
Desamparo
Os sentimentos de tristeza e de vazio são difíceis de suportar.
Costumam vir acompanhados de uma sensação de abandono e de
desamparo que o falecido impôs aos que aqui ficaram.
Questionamentos como “Será que ele não pensou em mim, nos
nossos filhos?” ou “O senhor não acha que houve muito egoísmo da
parte dele?” são comuns, entre tantos outros que procuram dar
significado a um suicídio.
1
Essa expressão originou-se de um ritual hebraico realizado no Dia da Expiação, Yom
Kippur, descrito na Bíblia no livro de Levítico. Dois bodes eram levados a uma celebração em
que um deles era sorteado e sacrificado. O outro, o bode expiatório, era tocado na cabeça por
um sacerdote que confessava todos os pecados dos israelitas. Posteriormente, o animal era
deixado ao relento, na natureza selvagem, levando consigo os pecados nele depositados.
3
passa a ser visto como a única maneira de aliviar o sofrimento não
apenas de si, mas também das pessoas próximas.
4
do papel de um genitor, ou uma conduta oposta, com reações
agressivas e desproporcionais, difíceis de serem inicialmente
compreendidas. Podem recusar-se, por exemplo, a participar de
celebrações religiosas, de visitas ao cemitério e, mesmo, de conversar
sobre o falecido. É comum, também, a recusa diante da sugestão de
auxílio psicoterapêutico. Na verdade, na maioria das vezes, algumas
dessas condutas, além de uma forma de expressão de revolta e raiva,
são tentativas de chamar atenção para si, para seu sofrimento
(Fukumitsu, 2013; WHO, 2008).
5
Logo após a morte, algumas sugestões podem ser passadas aos
familiares quanto a alguns procedimentos que poderão, futuramente,
facilitar o processo de luto (Clark e Goldney, 1995):
6
aconselhável ficar atento a reações de aniversário (épocas de
aniversário de morte de uma pessoa querida, paciente aproximando-
se da idade em que um ente querido morreu por suicídio), deve ser
enfatizado que uma história de suicídio na família não implica a
inevitabilidade de novos suicídios.
Posvenção
A fim de evitar a morbidade psicológica em pessoas que enfrentam as
consequências do suicídio de um ente querido, recomenda-se o que
se convencionou chamar de posvenção – várias medidas que
favoreçam a expressão de ideias e sentimentos relacionados ao
trauma, bem como a elaboração do luto. Nesse sentido, a posvenção
também pode ser considerada prevenção de suicídio.
7
e de instituições não governamentais, por doações ou pelos próprios
integrantes. Estes últimos são sua principal força-motriz (WHO, 2008).
Uma dissertação de mestrado revisou o assunto e fez sugestões para o
contexto brasileiro (Scavacini, 2011).
8
A recuperação psicológica do profissional que perdeu um paciente
por suicídio envolve a gradual elaboração de sentimentos
ambivalentes, de lembranças de diálogos e de ocorrências ao longo
do tratamento. De alguma forma, o vínculo outrora mantido com o
paciente precisa ser desfeito ou, mesmo, transformado, ao longo de
um processo de luto. Isso requer tempo, e o processo pode ser
incrementado por psicoterapia, discussões clínicas, conversas com
colegas e supervisão.
9
REFERÊNCIAS
Clark SE, Goldney RD. Grief reactions and recovery in a support group
for people bereaved by suicide. Crisis. 1995;16(1):27–33.
10