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OSTEOPATIA
no ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Tradução:
Juan Alejandro Fernando Gomes
2020
Copyright © 2020 Eric Robinson
1ª edição ∙ França, Agosto/2017
ISBN: 979-10-699-0984-7
www.sport-osteo.com
TÍTULO ORIGINAL
L’ostéopathie, un sport de haut niveau?
TRADUÇÃO
Juan Alejandro Fernando Gomes
REVISÃO
Cândida Gonçalves Dias Moreno
REVISÃO CIENTÍFICA
Bruno Gonçalves Dias Moreno
Thiago Lopes Barbosa de Morais
Ivan Luiz Pavanelli
REVISÃO TÉCNICA
Georges Domingos
DIAGRAMAÇÃO
Cia Das Ideias | @cia.das.ideias
FOTOGRAFIA
Acervo do Autor
1ª EDIÇÃO ∙ Brasil
A meu pai, a minha mãe,
A meus filhos, Yéléna, Andy e Elie
E a todos aqueles que acreditaram em mim
Atletas e profissionais da saúde.
agradecimentos
Um percurso atípico..................................................................................23
DEFINIÇÕES ................................................................................................66
1. O Potencial Vital Original ...............................................................66
2. O Potencial Vital Atualizado ...........................................................66
3. Lesões irreversíveis e P.V.A. ............................................................67
4. Lesões reversíveis ..............................................................................67
5. Domínio de Funcionamento Fragilizado ou D.F.F. ......................67
6. Domínio de Funcionamento Habitual ou D.F.H. .........................67
7. Domínio de Funcionamento Eventual ou D.F.O. .........................68
8. Variáveis de estado ou Variáveis de Regulação
sistêmicas, ou V.R. .................................................................................68
9. Variáveis de entrada ..........................................................................68
10. Variáveis de saída ............................................................................68
11. Cadeias ascendente e descendente ................................................69
O MATERIAL ..............................................................................................111
AS TÉCNICAS .............................................................................................146
1. Sacroilíaca ........................................................................................147
2. Lombares .........................................................................................152
3. Sacro..................................................................................................155
4. Ilíaco..................................................................................................158
5. Dorsais .............................................................................................160
6. Transição cervicodorsal .................................................................165
7. Cervicais ...........................................................................................168
8. Pé ......................................................................................................174
9. Joelho ...............................................................................................177
10. Navicular.........................................................................................179
11. Ombros ..........................................................................................183
12. Cotovelo .........................................................................................185
bibliografia......................................................................................................189
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
A tradução desta obra para a língua portuguesa representa mais uma possibilidade
de evolução nos tratamentos de Osteopatia.
No início deste livro Eric descreve partes de sua trajetória como criança, filho,
adulto, até se tornar Osteopata. Como na maioria das histórias de sucesso, descreve
dificuldades e obstáculos superados, até conseguir uma oportunidade de apresentar
seu trabalho a uma lenda do Surf mundial, Wayne Bartholomew.
Apesar de todo o conhecimento e experiência conquistados em uma longa
carreira atendendo desde pacientes comuns, até atletas de alto nível, consegue
expressar-se de forma simples e direta, permitindo que outros colegas e profissionais
possam aprender e reproduzir uma parte desta trajetória em seu trabalho.
Além disso, é notável sua concentração, humildade e respeito aos pacientes
durante seus atendimentos. Quem o assiste tem a impressão que Eric cria um
tipo de conexão especial neste momento, que lhe permite uma notável precisão e
destreza em suas técnicas.
Os leitores desta obra poderão perceber a riqueza de detalhes em conceitos
e descrições de técnicas de manipulação, dificilmente percebida em trabalhos de
outros autores de Osteopatia. Na prática, esta forma de entendimento permite ao
Osteopata trabalhar com técnicas mais equilibradas, precisas, seguras e de excelentes
resultados para qualquer tipo de paciente.
O trabalho clínico desenvolvido por Eric Robinson, somado ao conteúdo desta
obra, contribuem para o constante crescimento da Osteopatia e Osteopatas, pois
reforça que a sensibilidade e o conhecimento do profissional são instrumentos que
o mantém atento e preparado, para poder ajudar atletas e pacientes a encontrar
conforto, saúde e uma melhor performance.
“Em 1996, após uma “ pubalgia” maltratada, estudei e experimentei diferentes técnicas
médicas à minha disposição. Foi assim que descobri e entendi o interesse pela osteopatia.
Todavia, a colaboração com Eric só começou em 2000, na época em que jogava no Bayern
de Munich. Através de um acompanhamento regular, foi um dos meios que me permitiram
permanecer no topo do meu desempenho evitando lesões e otimizando minha recuperação.
A osteopatia é uma ferramenta médica extraordinária quando é bem aplicada. Eric faz
parte daqueles em quem confio.”
Bixente Lizarazu
“Sou Alexandre o Grande liderando seus cavaleiros na planície de Sidônia. Sou astuto
como Rommel dirigindo seus tanques para surpreender o inimigo no deserto. A força e
a glória correm nas minhas veias.
As grandes profecias ressoam no fundo da minha alma.
Sou o herdeiro de todos os antigos guerreiros e reis.
Atravessei os sombrios abismos do medo, sobrevivi aos ataques da dor e farto de
experiência, meu talento está prestes a voar sobre as falésias e derrubar as montanhas
se for.
Namoro com as belas flores do dia. Pego um punhado de areia e sinto cada grão rangen-
do no meu punho como as dunas da civilização.”
Track’s big book of surfing 70
(Wayne Rabbit Bartholomiew descrevendo seu preparo
antes de uma sessão no 2º reef de Pipeline)
Um percurso atípico
O surfe
Chegou uma hora que de tão cansado pensei:
se algum dia consigo beneficiar alguém, ficarei satisfeito.
Aconteceu.
Nasci em Bordeaux. Meus primeiros anos foram tranquilos: fui para a escola
como deve ser, certo sucesso no início, pois como aluno no primário e no colégio
era muito bom, mesmo se meus professores, às vezes, me cobravam pela falta de
atenção. Tudo corria muito bem então, pelo menos na escola, pois em casa era outra
a questão. Digamos para resumir que o clima era difícil. Meus resultados acabaram
sofrendo por causa disso e se degradaram. Fui admitido no ensino médio, mas
devido a minhas notas baixas e o que vivia em casa, acabei jogando a toalha e parti
para o serviço militar com dezoito anos, na Polinésia, o que não foi desagradável,
para falar a verdade. Gostava de esporte e por lá achei para satisfazer meu gosto
pela atividade física. Praticava surfe, jogava rugby e futebol também, só que menos
frequentemente, e amava a música.
Já de volta na metrópole após o tempo no Pacífico - não sabia ainda que
retornaria em várias oportunidades para cuidar de grandes nomes do surfe e praticar
pessoalmente esse esporte que é minha paixão - precisei achar um trabalho. Nada
fácil para quem não tem diploma, porém, naquela época ainda existiam brechas
para jovens na minha situação. Hoje o quadro seria outro. Consegui uma vaga em
24 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Sabia o que queria fazer e tinha a intenção de achar os meios. Tinha ciência
do tempo e das dificuldades na minha frente até alcançar o objetivo. Não tinha
concluído minha formação e precisava de uma fonte de renda para viver, alimentar
a família e pagar a formação. Durante os quatro anos que duraram essa primeira
formação, arranjei todo tipo de bicos entre os períodos de curso e de estágio.
Quatro anos depois, me instalei. Sou um “nem nem”, isto é, nem médico,
nem fisioterapeuta, e sabe-se o que é começar uma carreira de osteopata como
“nem nem”, sendo que na época era a maior batalha entre médicos/osteopatas/
fisioterapeutas. Não era simples. Era recomendável não chamar muito a atenção.
Contudo, sentia-me seguro de mim mesmo e das minhas competências. Achava
que sabia tudo. Era o melhor do mundo! O número de pacientes aumentava e não
tinha dúvida da minha capacidade.
Como tinha recebido uma boa formação, quando queria saber como intervir
comparava, assim como tinham me ensinado, o lado afetado ou ferido com o
oposto supostamente sadio: se o paciente sentia dor no punho esquerdo, para
saber se existia lesão pegava o pulso direito e comparava. Procurava diferenças.
Todavia, essa técnica apresenta limites: como saber se o pulso direito é uma boa
referência? Existem tantas normalidades quanto indivíduos e numa mesma pessoa
há diferenças entre articulações teoricamente idênticas. Em função do histórico do
sujeito, pode haver deformações associadas a antigas fraturas por exemplo, mas
que nada têm a ver com uma lesão osteopática. Em poucas palavras, achava que
era muito complicado.
Um dia recebo uma ligação.
– O senhor cuida de entorses?
Mas é claro que sabia cuidar de entorses, que pergunta! Humilhante.
Contudo, quando chegou o paciente, que surpresa! A pessoa só tinha uma perna...
Horror!!! Foi muito revelador. Percebi que tudo o que tinham me ensinado não servia
de nada. Fiquei totalmente devastado pela impossibilidade de tratar esse paciente.
Tinha aprendido posições, isto é, a comparação de um osso com seu homólogo,
do lado lesado com o lado sadio... E se não houvesse lado sadio, o que fazer?
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estruturais permitem uma recuperação bem mais rápida do que as técnicas funcionais.
Pude comprovar que os “tensionamentos” costumam ser muito importantes.
Por definição o termo é totalmente inadequado, pois tensiona-se uma articulação
lesada, a qual perdeu sua mobilidade. É evidente que na hora de tensionar uma
articulação com pouca mobilidade ou nenhuma, provocaremos rapidamente um
impacto nela e assim teremos um bloco uniforme. Pelo contrário, mediante um
thrust, provocarei um movimento acima e (ou) embaixo da lesão, sem ser no centro
dela. É necessário que o escasso jogo disponível no centro da estrutura sirva para
pressionar o tecido local lesado, com perda de elasticidade. Tomei conhecimento
das noções de energia cinética, massa e velocidade. Tirei as seguintes conclusões:
não se trata um atleta da mesma forma que se trata um paciente comum, também
existem geralmente enormes diferenças físicas, fisiológicas e psicológicas, conforme
atuem nacionalmente ou internacionalmente. Por tal motivo devem ser tratados
concomitantemente por um trio complementar formado por um médico, um
fisioterapeuta e um osteopata, trabalhando em sinergia. Em 1997, o destino me
enviou mais um sinal na pessoa do australiano Wayne Bartholomew, o Pelé do surfe,
várias vezes campeão do mundo. Eu tinha oferecido meus serviços no tour pró
de surfe que acontecia em Lacanau. Mesmo tendo vários quiropratas à disposição,
os organizadores me aceitaram. Tive a sorte de bater de cara com Bartholomew.
Sem vacilar lhe ofereci meus serviços e contra toda expectativa - eu sabia da minha
ousadia e tinha certeza de que recusaria - me deu uma oportunidade no dia seguinte.
– Aí você me mostra o que sabe fazer, ele me disse, em inglês, claro.
Virei a noite sem dormir de tanta ansiedade, sabendo que teria que mostrar
todos meus conhecimentos recentemente adquiridos a esse monstro sagrado que
já tinha passado pelas mãos de pessoas bem mais experientes do que eu ao longo
de sua extensa carreira (ele tinha quarenta e três anos na época). Chegou pontual
na consulta. Dei início ao trabalho. Fiquei suando frio, só de encostar nele. Quando
a sessão encerrou, em lugar de se levantar permaneceu um instante na mesa,
pensativo. O que iria me dizer? Fiquei tremendo de medo. Após um tempo que
pareceu interminável, se pronunciou, sempre em inglês, lógico:
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– Quero que você faça parte do tour profissional de surfe o quanto antes....
Fiquei pasmo, pasmo para valer. Persuadido de ter entendido errado, fui procurar
um amigo que falava inglês melhor do que eu. Era isso mesmo, não tinha me
enganado: confirmou a proposta.
Dois meses depois me achava no Havaí e as competições começaram a
suceder-se na Europa e na Polinésia. A grande aventura só estava começando.
Alguns meses depois, em setembro de 1999, recebi uma ligação de um jogador de
futebol internacional, de Bordeaux:
– Estou ligando para você porque sofro demais do joelho. Um membro da
família que você tratou com êxito me deu seu número.
Dois dias depois encontrei com ele. Fiquei muito impressionado pela sua
qualidade mediática. Contudo, minha satisfação pelo fato de ter sido convocado
por esse craque do futebol durou pouco, quando descobri três ou quatro dias
depois no jornal do Sul Oeste que o jogador tinha sido operado, afinal de contas.
Foi um balde de água fria. Passei uma semana abominável e então, mega surpresa!
Uma semana depois, o telefone toca. Reconheço imediatamente a voz do meu
paciente. Engasguei.
– Acabei de perceber que você deve ter ficado muito desapontado quando soube
que tinha sido operado. Queria te tranquilizar: a intervenção não teve nada a ver
com o problema do joelho pelo qual te consultei. Por sinal, a sessão me ajudou
muito e gostaria de te apresentar à equipe médica e técnica dos Girondins.
Respirei aliviado.
– Ainda bem. Você não imagina tudo o que passou pela minha mente...
Talvez você fique surpreso pelo trato familiar com tal celebridade do esporte
que tinha acabado de conhecer. Era tão espontâneo quanto a minha prática: esses
jogadores faziam parte do meu cotidiano desde a Copa do Mundo, durante a qual
tinham sido onipresentes nas telas, a tal ponto que só podia me dirigir a eles como
se fossem amigos ou membros da família.
A proposta foi confirmada pouco tempo depois, fui oficialmente contratado
para acompanhar o time de primeira divisão dos Girondins. E como o sucesso
Um percurso atípico | 29
chama o sucesso, em julho/agosto desse mesmo ano de 1998, fui procurado quase
simultaneamente por outro famoso jogador francês de futebol, que atuava então no
Bayern de Munique e queria que o tratasse. Tudo aconteceu muito rápido: ele me
pediu que fosse uma vez por mês a Munique para tratá-lo, e isto sem eu ter sequer
o diploma, que só obtive em 1999. Afortunadamente, como estava concluindo o
curso devia passar menos tempo estudando e conseguia gerir minha agenda bem
preenchida e na qual pesavam os deslocamentos.
Aos poucos ia conhecendo cada vez mais desportistas de todas as áreas: aos
surfistas, jogadores de rugby e futebol se juntavam os boxeadores, dançarinos,
tenistas.... As recomendações funcionavam bem e era melhor assim, pois não
podíamos fazer publicidade, além do mais a especialidade ainda não era muito
conhecida.
Apesar do sucesso crescente, não deixei de ser prudente e fiquei com o emprego
de dia no camping até 2000, porém reservando o horário da noite para as consultas
no meu consultório, agora oficial.
Todavia, estava cedo para cantar vitória. Nunca tinha sido respaldado
verdadeiramente no meu roteiro, se não fosse pelos encontros acontecidos e pela
mãe dos meus filhos, que acreditou em mim e me ajudou muito cuidando das
crianças para que pudesse efetuar a formação.
A especialidade não era conhecida e alguns a reputavam como seita até, o que
posso entender, porém era totalmente falso. É humano duvidar daquilo que a gente
desconhece. No meu entorno muitos acreditavam que estava sendo manipulado
(o cúmulo, pois como osteopata, o manipulador era eu!) Assim sendo, quis aprender
mais e efetuei outras formações para tentar entender o que passava pela mente das
pessoas, de forma que pudesse oferecer respostas. Fui atrás de abundante literatura,
descobri a radiestesia, a bioenergética, as vibrações, os corpos sutis, coisas que
naquela época para mim eram charlatanismo, até bruxaria. Eu queria “saber” a
qualquer custo, porque temia errar quando ouvia o que me diziam.
Minha vida mudou no dia que pratiquei radiestesia médica, mas reconheço
que não é minha praia. Acho muito subjetivo, é um domínio onde errar é fácil
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tinha me dito um dia que me viu desenhando. Eu tinha por costume fazer tudo
rápido, o mais rápido possível.
– Toma teu tempo: quando se faz alguma coisa, não é proibido fazê-la bem....
É engraçado como algumas frases voltam com toda força, inclusive muitos
anos depois. Era uma pessoa extremamente brilhante e que me impressionava
demais por isso. Contava muito para mim. No dia que falou aquilo, entendi outra
coisa. Quando estou fazendo reparos, penso frequentemente nele, e pensei de
novo quando decidi aceitar a proposta da escola. Talvez seja isso a imortalidade....
Eu me tornaria docente, porém um docente digno dessa apelação. E assim sendo,
recomecei os estudos.
Ia para Genebra dois ou três dias no mês. Já não ia com medo. Conheci pessoas
extraordinárias. Passei do outro lado da barreira. Desde então recebi outras propostas
de várias escolas francesas e estrangeiras, até o dia em que cansei de ver estruturas
privadas lucrando com a experiência que tinha adquirido através do tratamento de
atletas. Falei: “Acabou!” Decidi ir além na reflexão, otimizando o que fazia para
venda. Percebi que dispunha de algo novo para oferecer, conhecimentos e uma
prática que não dominava ainda completamente, mas que podia aperfeiçoar. Criei
então meu próprio organismo de formação com uma secretária que tinha conhecido
nos estágios. Durante dois anos trabalhei muito com ela e um sócio para criar os
suportes de aula de uma formação específica Esporte-Osteo.
Em pouquíssimo tempo tinha uma carteira de pacientes fisioterapeutas,
osteopatas e outros não especialistas, que queriam aprender as bases da terapia
manual para trabalhar com esportistas. Foram dois anos de trabalho árduo com
meu sócio e minha secretária para criar o material do curso: era necessário tirar
fotos, efetuar pesquisas. Não imaginei que seria tão difícil. Acontecia, às vezes,
que só concluíamos o material dois ou três dias antes do início do estágio, o que
era muito estressante.
Hoje, o que me outorga mais satisfação é ajudar as pessoas, não tratá-las, pois
tratar é subjetivo. Ensinar é agradável também. Não é motivo de orgulho, de forma
alguma, apenas sou feliz compartilhando técnicas que permitem aliviar as pessoas.
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Até 1999, tinha pouca noção de peso e velocidade. Quando se fala em peso
entende-se o peso do corpo do terapeuta. Inicialmente manobrava com macas
bastante altas, assim como tinham me ensinado, até o dia que precisei tratar
dançarinos do Grande Teatro de Bordeaux. Como são pessoas hiperflexíveis,
percebi que as manobras que tinha aprendido eram impraticáveis neles.
Na escola você aprende que na hora de manipular duas peças ósseas, antes
de aplicar energia na peça a manipular, é necessário reduzir o jogo articular ou a
barreira motriz. Porém, reduzir o jogo em pessoas hiperflexíveis era impossível.
Quando aplicava a técnica lumbaroll na L3, por exemplo, com o paciente deitado
sobre o lado direito, na parte alta o ombro esquerdo que empurrava encostava na
maca e, na parte baixa, o joelho esquerdo também encostava. Impossível atingir
a famosa barreira motriz, exceto compensando mediante uso de força, o que é
incompatível com a osteopatia.
Para mim é inaceitável mexer nos pacientes com uso de força. Tentei, portanto,
compensar mediante o uso de velocidade. Pude observar que ao aplicar peso, as
pessoas se levantavam fazendo caretas e massageando as lombares; porém, aplicando
velocidade, o resultado era melhor e menos agressivo. Mais à frente descobri que
os dançarinos sofriam bastante menos efeitos indesejáveis e curvaturas induzidas
pela manipulação, em comparação com outros desportistas que tratava aplicando
as técnicas antigas. Foi a terceira etapa.
Na época também trabalhava com jogadores de futebol, de rugby e alguns
surfistas, pessoas bem menos flexíveis e que, portanto, sentiam menos a diferença
na manipulação. Isso mudou progressivamente há uns quinze anos: alongam muito
mais e caminham para a hiper flexibilidade também. Afinal, simplesmente apliquei
a famosa equação Ec =1/2 mv2, ou seja, a energia cinética é igual à metade do
produto da massa pela velocidade elevada ao quadrado. Foi uma revelação. Dessa
hora em diante considerei que devia adaptar todas minhas técnicas privilegiando
a velocidade por sobre a massa.
Um percurso atípico | 33
Para se obter uma modificação tissular local, não é o movimento gerado pelo
osso, mas a energia conservada no seio da articulação, ou seja, do tecido conjuntivo,
que vai modificar a densidade tissular. Deve se entender por densidade tissular
a capacidade de deformação do tecido conjuntivo. Em caso de lesão osteopática
(também designada como lesão tissular reversível), o líquido intersticial do tecido
conjuntivo, que no tecido sadio se acha em forma livre, se torna localmente viscoso.
A partir daí, modifiquei meus gestos e senti a necessidade de entender por
que uma manobra era eficiente ou não, por que alguns pacientes padeciam efeitos
colaterais e outros não. Tive a possibilidade de conhecer um médico que me abriu
as portas das salas de dissecção. Aquilo não foi fácil, sendo que não pertencia à
categoria, mas finalmente pude observar o que manipulava: os planos articulares
e de deslizamento, no seio dos tecidos. Isso me permitiu comprovar que faltava
precisão no que tinham me ensinado nas formações prévias: os planos articulares
não se situavam perfeitamente.
Primeiro, que devemos entender por normalidade? Só se é “normal” em relação
à própria pessoa. Uma articulação é normal ou anômala em relação a ela mesma.
Existem tantas diferenças entre os indivíduos! Por isso não é possível tratar todos
os pacientes da mesma forma: o que serve para um pode não servir para outro.
A palpação é o único meio eficaz para determinar se existe uma lesão. Permite
“sentir” os limites objetivos dos planos de deslizamento, a qualidade do tecido
conjuntivo, a mobilidade do fluído intersticial… A articulação dói, mas se mexe?
Dói e está bloqueada? São situações bem diferentes.
Finalmente, mesmo quando conhecemos bem a técnica teórica, o sucesso não
está garantido. Fazer estralar uma cervical é teoricamente muito simples. Trata-se de
um gesto de alta tecnicidade e não há margem para o erro, principalmente quando
o paciente é um atleta, pois percebe instantaneamente o alívio.
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visão osteopática da lesão
1
A anamnese, do grego “lembrança”, é a história antecedente. Em medicina, a anamnese, sinônimo de
história da doença, retrata os antecedentes médicos e o histórico da queixa presente do paciente, junto com
os resultados de diversas análises efetuadas previamente e os tratamentos aplicados.
36 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
chamo de “palpite” para achar seu caminho: irá perceber que as circunstâncias
de surgimento da dor conforme seu ponto de vista são incoerentes, enquanto do
ponto de vista do paciente a dor é bem real.
Quais os riscos e as consequências para o paciente caso nada seja feito? Como
sofre essencialmente em repouso, sem dúvida continuará correndo e sentindo
uma dor leve, talvez consultará um fisioterapeuta que o aliviará um pouco após
uma dezena de sessões. Nesse caso, podemos até nos perguntarmos se a melhora
dever-se-á à intervenção do fisioterapeuta ou a uma simples questão de tempo.
No longo prazo, o transtorno poderá levar a um problema real de postura
e, na primeira falta de atenção, poderá atingir um ligamento no local da dor,
provocando uma tendinite, ou um músculo, provocando um rompimento. Assim
sendo, com o tempo, tal congestão da pequena bacia, indolor e, portanto não
evidente a priori, poderá conduzir a uma lesão osteopática. Para efeitos de
otimizar o restabelecimento do paciente e não deixar esse tipo de lesão passar
despercebida, claramente também será necessário analisar o joelho para verificar
se não existe uma lesão osteopática resultante de um trabalho fora do eixo
devido à dor. Afinal foram as más variáveis de regulação visceral que criaram
o problema do joelho! Se formos compará-lo com um problema mecânico,
diríamos que o motor aqueceu por conta de um sistema de resfriamento com
defeito.
O leque de causas (chamo de “plots”) por trás de uma lesão constituem uma
legião: podem ser mecânicas, emotivas, psicológicas, neurológicas, vasculares,
energéticas, e podem inclusive estar ligadas ao entorno ou aos costumes do paciente.
Além disso, segundo os indivíduos, o limiar da dor muda em função da experiência
de vida, da idade, do estado de saúde geral. O limiar pode ser ultrapassado se
um plot chega à saturação. A saturação pode inclusive depender de vários plots
diferentes, se cada um estiver mais ou menos saturado segundo a experiência de
vida do paciente. Nesse caso acontece então um fenômeno de acúmulo. Se a pessoa
estiver cansada, com um entorno momentaneamente desfavorável e hábitos de vida
que não forem dos melhores, o menor inconveniente pode revelar um problema
38 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
nas costas, enquanto nada aconteceria se a mesma pessoa estivesse passando por
um período favorável.
Falei previamente do paciente que reclamava de dor no joelho associada a um
problema de congestão da pequena pelve. Tive outro paciente que apresentava o
mesmo tipo de dor, muito intensa, porém sem elemento disparador. A palpação
revelou alguns problemas mecânicos locais menores, que não poderiam justificar
a intensidade da dor. Pequena causa, grande dor: era totalmente incoerente. Em
compensação, o paciente sinalizou durante a consulta que tinha acabado de se separar
do parceiro. Na verdade, a causa essencial radicava nessa importante perturbação
emotiva, que se expressava através de uma dor insuportável no joelho.
Vimos assim dois casos aparentemente idênticos, porém apenas em aparência: a
expressão pode ter sido a mesma, todavia, as causas foram radicalmente diferentes.
O sucesso de um tratamento fica estreitamente atrelado à rapidez de sua
aplicação. Enquanto o paciente tem boa saúde, os sinais de disfunção podem ser
triviais e uma pequena lesão osteopática pode passar despercebida2.
Isso é particularmente verdadeiro no caso das pessoas sedentárias. Porém, o
atleta acha a menor lesão insuportável, pois conhece perfeitamente seu corpo e
percebe imediatamente qualquer anomalia, a qual irá reduzir logo o desempenho
do membro ou articulação atingidos. Por tal motivo, na minha opinião, a osteopatia
é indispensável para o atleta. Costumo dizer que é a mesma coisa que consertar
um carro sem recorrer a um mecânico. Imagine um motor que esteja funcionando
sem óleo: com pouco tempo irá bater, porém um mecânico competente pode
detectar o problema pelo ouvido antes que se torne irreparável. Assim acontece
com o trabalho do osteopata: ele detecta a lesão antes que se manifeste através de
sinais objetivos.
Uma lesão osteopática será inevitavelmente irreversível? É difícil prevê-lo,
todavia, é provável. Eu penso que sim. Quando um paciente reclama de uma dor
que evoca um rompimento muscular, procuro uma lesão que coincida - sendo perto
2
Lembrete: a lesão osteopática é espontaneamente silenciosa.
visão osteopática da lesão | 39
ou longe - com o local e que possa explicar a dor, e talvez a encontre, pois quando
se tem certeza de achar uma lesão, as chances de achar são grandes. Contudo, jamais
poderei saber se tal lesão tem relação com o sintoma. Vi casos de pacientes que
apresentavam uma ciatalgia e queixavam-se concomitantemente de uma dor no
pé, sem que ambos estivessem ligados.
Após o tratamento osteopático, normalmente o paciente irá se sentir melhor
e se restabelecer, mas serei eu o responsável disso indiscutivelmente? Não tem
como saber. Ainda não existe uma ferramenta de pesquisa que permita medi-lo,
permanecemos no campo empírico.
Estes exemplos deveriam nos ajudar a compreender melhor o tratamento dos atletas.
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Que jovem desportista nunca pensou em se tornar atleta? Como não ficar
admirado perante a imagem desses homens fora do comum que aparecem na mídia:
Zinedine Zidane, Serge Blanco, David Douillet, Kelly Slater, e atualmente Teddy
Riner, Johnny Wilkinson e outros tantos…
Muitos são os que sonham com sucesso, medalhas, glória e… dinheiro. Contudo,
pouquíssimos terão direito às honrarias e louvores.
Os atletas profissionais costumam ser pagos por clubes, marcas de roupas,
calçados e acessórios diversos. É o que a gente vê na televisão e na Internet: belos
carros, belas mulheres, mansões, tudo aquilo que faz sonhar o público ávido de
sucesso. Mas qual o preço disso tudo?
O lado B costuma ser sombrio e penoso. Para tentar se tornar atleta, é necessário
começar bem jovem, entre onze e treze anos, e aceitar viver uma adolescência difícil.
Os jovens desportistas geralmente perdem o entorno familiar e ficam totalmente
isolados na paixão deles. Seu treinamento é uma sequência de sacrifícios: zero
saídas, zero tolerância alimentar, zero almoços em família, zero chance de curtir um
McDonald’s, o que constitui a Meca da gastronomia para os adolescentes,
geralmente.
No programa: treinamentos cotidianos longos, difíceis, cansativos, sofridos
para o corpo e o ânimo. Nesses períodos a dúvida toma posse, claro, e o apoio
familiar faz falta.
A perseverança, a obstinação, a abnegação, a dor, fazem parte do cotidiano,
pois só depois de muitos anos os esforços começam a render frutos.
O desempenho é o resultado de vários fatores, principalmente genéticos, mas
também psicológicos, fisiológicos e técnico-táticos.
Nem todos se tornam atletas destacados. As qualidades individuais são testadas
e somente os mais fortes, fisicamente, tecnicamente e mentalmente, têm futuro
no esporte.
visão osteopática da lesão | 41
É bom notar que o entorno próximo do jovem desportista pode também ter
efeitos nefastos sobre seu estado mental e expô-lo a um desempenho fraco, a lesão
e inclusive ao desgosto puro e simples pelo esporte.
Todos os pais de crianças desportistas já ouviram outros pais berrando para
os filhos: “Vai! Para cima dele! Machuca ele!...” e por aí vai.
Nos vestiários, os conceitos dos treinadores e educadores podem levar a
criança a se ultrapassar além da conta. Ao colocá-la em xeque na frente dos
outros, sem medir sua moral, podem obrigá-la a agir para salvar o time (o que
não deixa de ser legítimo no esporte, evidentemente), até mesmo quando a
criança não está em condições de agir... (ROTELLA e HEYMAN, 1986).
De fato a quantidade e frequência dos treinamentos e jogos expõem os
jovens desportistas a riscos de lesão devido ao crescimento (discordância
entre o crescimento ósseo e o crescimento dos tecidos moles), treinamento
excessivo ou “síndrome de esgotamento”. Tais lesões são comuns nos centros
de formação esportiva.
44 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
de dúvida, nos quais uma ajuda psicológica será imprescindível para acelerar a
recuperação.
Finalmente, não devemos esquecer que o ferimento pode levar a outra
consequência psicológica, ao lançar certas pessoas dentro de um círculo viciado
de queda de motivação, perda de autoconfiança, o que levará por sua vez a uma
queda do desempenho, certamente inaceitável. É chegada a hora do balanço geral, o
destino torna-se repentinamente incerto. Fica difícil sair dessa engrenagem infernal,
daí a necessidade de treinar a parte mental e não somente a física.
Um atleta deve possuir uma mente altamente treinada. A parte mental é trabalhada
como um músculo, deve ser mantida e treinada, permitindo assim dissipar o medo
e as dúvidas, expulsar tudo o que for negativo e focar nos objetivos definidos.
Algumas técnicas comportamentais e cognitivas, como a sofrologia, a ioga, a
respiração e outras, podem ajudar o indivíduo a reforçar sua mente de forma que
adquira uma convicção e vontade quase impermeáveis às emoções, pelo menos na
prática esportiva. Aumentar o poder de concentração equivale a reforçar a mente.
Assim fazendo, o desportista estará em condições de limitar os ferimentos e
colocar todas as chances do seu lado para projetar uma longa carreira.
A lesão é uma expressão do corpo, uma mensagem que convém escutar, decodificar e entender.
46 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Percepção, palpação e manipulação
3
A propriocepção designa o conjunto de receptores, vias e centros nervosos involucrados na somestesia
(sensibilidade profunda).
48 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
A visão
A audição
o garçom quando chega anunciando o prato, porque o tom da voz dele difere,
é mais forte e mais clara, pois ele quer ser ouvido por todos.
O tato
Se deslizarmos o dedo sobre uma folha de papel sob a qual foi colocado um
cabelo, perceberemos uma diferença de relevo, mesmo que a espessura do
cabelo seja ínfima.
O olfato
O paladar
Na cozinha, a associação entre doce e salgado exacerba o gosto, pois são dois
sabores radicalmente diferentes.
A sensação de movimento
3. Percepções enganosas
Entre...
O que eu penso,
O que eu quero dizer,
O que eu acho que digo,
O que eu digo,
O que você quer ouvir,
O que você acha que ouve,
O que você ouve,
O que você quer entender,
O que você crê entender,
O que você entende,
Há dez chances de termos dificuldade em dialogar.
Porém tentemos mesmo assim...
(Bernard Werber - A enciclopedia do saber relativo e absoluto)
As percepções que nos enviam nossos sentidos são úteis e até indispensáveis.
Contudo, é necessário aprender a duvidar delas, pois podem ser enganosas.
A visão
A audição
O tato
Nenhum indivíduo, mesmo sendo terapeuta, pode sentir o que o outro sente .
Não possuímos receptores na pessoa que temos em frente. Na melhor das hipóteses,
só podemos sentir nosso corpo.
O certo é que estamos sozinhos em nosso mundo sensorial. O exterior, o
entorno, os outros, entram em colisão com nosso universo, o que nos permite
sentir e assim ter uma ideia do que nos rodeia, a partir de fenômenos químicos e
energéticos que recebemos de nosso contexto e de outrem.
Partindo dessa base, falo com frequência que inclusive o que o paciente fala,
pouco interessa: as palavras que utiliza não designam obrigatoriamente as mesmas
coisas que representam para mim. Se alguém me fala: “Minhas costas doem, lá
embaixo”, isso pode significar que tem um problema de mobilidade ou, talvez,
um câncer, porém não estou no lugar dessa pessoa e não posso sentir o que ela
sente. Existe uma barreira intransponível entre nós. Quando encosto em alguém,
não o sinto, apenas percebo as mudanças que agem sobre a minha pele. Por esse
motivo devo me abster de qualquer interpretação de seus dizeres e permanecer o
mais neutro e presente possível, pois a única referência na qual posso confiar sou
eu mesmo. Sou eu quem deve determinar se o paciente apresenta as condições
necessárias e suficientes para expressar uma dor que eu poderei tratar, ou se seu
Percepção, palpação e manipulação | 57
mais uma vez – expressou muito bem o que acontece nessa hora: quando não
queremos mais uma coisa, é bem nessa hora que a coisa se produz. Só no instante
presente tudo pode acontecer…
Para comunicar sutilmente com o outro e ser capaz de analisar as reações que o
paciente provoca nele, o terapeuta deve eliminar toda empatia e toda perturbação
do meio externo, e medir seus gestos.
Pessoalmente, foco minha atenção na área a manipular e não desgrudo até que
essa parte do corpo do paciente faça parte de mim, sem perder um ápice da minha
própria identidade. Autorizo essa parte a coabitar comigo apenas durante a manobra.
O que entendemos por “focar nossa atenção”? É isolar a área sob análise e
concentrar nossa percepção absoluta nela, se abstraindo de todos os estímulos
externos (acompanhantes, fone, música, barulhos…).
sentir bem para trabalhar corretamente: um osteopata doente não poderá tratar
adequadamente. Mas essa é a minha opinião e entendo perfeitamente que outros
terapeutas possam opinar o contrário.
É muito difícil achar as palavras para explicar essa percepção osteopática.
Por isso, quando devo transmitir aos alunos o que sinto, peço que descrevam o
cheiro de uma rosa e a diferença entre esse cheiro e o de outra flor. Imaginem a
surpresa deles! Costumo outorgar alguns minutos de reflexão, porém os alunos se
sentem totalmente impossibilitados de ultrapassar o patamar de: « cheiro bom...»
No melhor dos casos consigo algumas comparações com outras fragrâncias, e
podem até opinar que o cheiro de determinada flor é superior ao da maioria.
Declaro então:
– Vocês estão vendo a dificuldade para frasear o problema que levantei? Pois
é, acontece a mesma coisa comigo quando devo explicar-lhes o que sinto na
percepção osteopática.
Uso da propriocepção
Partindo do princípio de que não posso sentir pelos outros, devo me limitar
às percepções da minha mão. Todavia, o contato do pisiforme ou indicador,
frequentemente utilizados, é inconveniente pois o movimento de preensão utiliza
músculos e saturará totalmente meus captores, sendo que são precisamente
poucos nesse ponto. Assim sendo, se for o número de receptores o que definirá
minha escolha da ferramenta de percepção, deveríamos então ir ao extremo de
passar a língua na área a explorar, devido à sua inervação superior. Evidentemente
não dá para fazer isso.
Instintivamente, quando desejamos tocar alguma coisa utilizamos a polpa
dos dedos, mas na osteopatia existe outra forma de agir. Para detectar lesões,
podemos utilizar todo nosso corpo como receptor. O mesmo se torna
assim um tipo de amplificador neurológico. Para tal efeito, vou utilizar toda
minha propriocepção, todos os captores do meu corpo como amplificador
Percepção, palpação e manipulação | 61
Percepção fina
Vou alinhar meus ossos desde o ponto de contato, subindo para o punho e
logo para o cotovelo. Afasto o cotovelo do meu corpo para impactar a cabeça
umeral na glenóide e fixar os ombros em posição baixa contra minha caixa
torácica, de maneira a obter um contato permanente, sem nenhuma ruptura
da cadeia óssea e rígida, desde a área metacarpofalangeana até minha coluna.
Logo após, realizo uma rotação partindo da pelve, ao redor da coluna vertebral,
conservando rigorosamente essa rigidez óssea para permanecer indeformável.
Dessa forma posso sentir a compressão óssea se manifestando no local onde
vou focar (antebraço, braço, segunda ou terceira costela, coluna…).
Podemos trabalhar exatamente da mesma maneira com o crânio. Em lugar
de colocar as mãos no crânio e aguardar que os movimentos venham a nós,
é melhor ir na direção deles, efetuando uma continuidade óssea da mesma
5
Chamamos isso de sintonia.
Percepção, palpação e manipulação | 63
DEFINIÇÕES
4. Lesões reversíveis
Corresponde a uma lesão reversível. Surge após uma baixa demanda primária
em relação ao P.V.A., como foi evocado no parágrafo prévio, ou a uma baixa
demanda após uma demanda excessiva em relação ao P.V.A. (traumatismo ou uso
excessivo). Nesse caso, é o estado da estrutura que muda, não sua natureza (como
no caso de uma lesão irreversível).
Não é uma lesão, pois não é estável no tempo e espaço. É redutível se a função
for relançada, em cujo caso volta a ser D.F.H.
9. Variáveis de entrada
O TECIDO CONJUNTIVO
Primeiras conclusões
• Microscópicas:
∙ redução das necessidades energéticas,
∙ redução das trocas intersticiais,
∙ redução dos fluidos livres,
∙ aumento da viscosidade,
∙ redução do estímulo dos receptores neurológicos, logo acúmulo
de neurotransmissores nos elementos pós-sinápticos,
∙ redução da vascularização,
∙ perda dos radicais hidroxilo no tropocolágeno, logo perda de
elastina.
• Macroscópicas:
∙ O tecido se torna grosso: sua densidade aumenta, por redução da
hidratação, junto com sua viscosidade.
∙ O tecido se torna duro: sua capacidade elástica e de deformação
diminuem, junto com sua capacidade de mobilidade e motilidade.
A forma não se adapta mais à função.
∙ O tecido torna-se sensível: a sensibilidade aumenta pelo acúmulo
de neurotransmissores pós-sinápticos e o influxo com o menor
dos estímulos.
Alguns princípios fundamentais | 73
• Mecânicas:
∙ Estáticas: as estruturas subjacentes e sobrejacentes se compensam
atrás do equilíbrio
∙ Dinâmicas: uma demanda excessiva acarreta no longo prazo uma
demanda reduzida
• Neurológicas: a modificação do influxo nervoso na área intermédio
lateral traz repercussões no conjunto do metâmero.
• Neurovasculares: a redução do influxo na cadeia simpática acarreta
uma redução:
∙ do influxo simpático,
∙ das capacidades vasomotoras,
∙ da vascularização.
6. Estrutura e função
7. Natureza e estado
A estrutura pode ser alterada no seu estado sem por isso sê-lo em sua natureza.
Vejamos o caso da água, por exemplo: por natureza, sempre será água. Todavia,
poderemos achá-la em diferentes estados: líquido, sólido quando estiver congelada,
ou sob forma de gás após ebulição.
• A natureza de uma estrutura é definitiva, porém seu estado pode
mudar.
Alguns princípios fundamentais | 75
1. A cadeia ascendente
6
Atenção! Para algumas escolas, o sacro pode fazer parte da cadeia descendente.
76 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
2. A cadeia descendente
• as patelas
• as fíbulas
• todas as fáscias e músculos
Todos os elementos ósseos desse sistema procuram perpetuamente apoio na
cadeia descendente, portanto se movimentam constantemente.
Como as emoções são integradas pelo cérebro e se expressam descendo pelos
músculos, podem gerar tensões musculares ou viscerais.
Quando são utilizados fórceps ou espátulas no parto, podem impactar os
temporais, estrutura que aloja o ouvido interno, sede do equilíbrio. Uma restrição
de mobilidade dos temporais pode consequentemente incidir no equilíbrio da
criança.
Haja vista que os músculos constituem o principal elemento da cadeia descendente
e ficam em exercício, podem sediar inflamações do tipo tendinite, por excesso de
trabalho ou falta de repouso. Na fábrica, se duas pessoas na cadeia de montagem
participarem de uma mesma operação e uma delas vier a diminuir o ritmo pois está
doente, a segunda pessoa, sadia, deverá aumentar seu desempenho para compensar.
Essa pessoa por sua vez sentirá dores associadas à exigência excessiva de sua
estrutura e a impossibilidade de obter o repouso necessário. As lesões da cadeia
descendente provocam dores muito intensas e todas as patologias finalizadas em
“ite” (inflamatórias) ficam sediadas nela (a epicondilite, por exemplo).
Aparentemente as lesões da cadeia descendente podem decorrer de lesões da
cadeia ascendente, mas existe instalação direta na cadeia descendente nos seguintes
casos:
• traumatismo direto de um dos elementos da cadeia descendente
• lesão dos temporais se forem utilizados fórceps no parto (exemplo
acima)
Em compensação, nos recém-nascidos sem apoio concreto só ocorrem lesões
na cadeia descendente (dores estomacais, problemas otorrinolaringológicos,
regurgitação…)
78 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Ombro
O Ilíaco
As vértebras
1. Objetivos
uma dor localizada em determinado lugar a uma disfunção que poderia parecer
totalmente desligada do problema a priori, pois muito distante, independentemente
do nível de complexidade: uma dor no tornozelo pode ter origem óssea como
também circulatória, neurológica e até emotiva, psicossomática etc.
No caso dos transtornos funcionais, como acontece frequentemente com a
lesão tissular reversível (lesão osteopática), a mudança de estado é tão sutil que
costuma ser imperceptível ao olho nu. No tocante aos atletas, isso é particularmente
evidente: eles conhecem tão bem seus corpos e sentem de tal forma que percebem
a menor disfunção. Ciclistas, corredores e outros não deixam de pedalar, correr,
dançar ou nadar, e globalmente isso funciona bastante bem. Porém, sentem que há
alguma coisa que não bate, e essa pequena coisa é tão ínfima que resulta impossível
diagnosticá-la através de meios tradicionais. Apenas a consideração do problema
desde uma perspectiva totalmente diferente permitirá torná-lo objetivo.
O terapeuta limitar-se-á assim a uma aproximação no tocante à estrutura, no
caso de uma dor aguda que impeça a mobilidade do paciente e nem permita efetuar
testes da mesma. Aprimorará seu exame:
• pela análise da elasticidade e mobilidade, qualidades dinâmicas fundamentais;
• pela exploração da função.
Se não puder explicar a disfunção, explorará sua expressão: dores, limitação de
movimentos, vermelhidão…
2. Anamnese
disso (também o veremos nos atletas): não iremos tratar da mesma forma um
pedreiro e uma dançarina, mesmo se ambos exercerem ofícios físicos.
Qual é a queixa principal na hora de receber o paciente? Devemos tentar lembrar
sempre disso pois os pacientes costumam voltar para a era do gelo e se afastar
do tema. A pergunta que devemos formular é: “Onde está doendo hoje?
O que lhe incomoda mais no seu cotidiano?”
Depois é preciso deixar o paciente falar, permitir que conte sua história com
suas palavras (evitando na medida do possível, quando se tem um casal na
frente, que o homem fale no lugar da mulher quando é a vez dela), e sempre
canalizando o discurso para evitar, mais uma vez, falar indiscriminadamente.
Nunca devemos esquecer que os pacientes costumam ignorar o sentido exato
dos termos médicos, podendo utilizá-los de forma errada: ciática no lugar
de ciatalgia ou claudicação intermitente, úlcera gástrica com dor na cavidade
epigástrica no lugar de cólica hepática, hérnia de hiato no lugar de úlcera…
Quando um paciente utiliza um termo médico, devemos perguntar de onde
ele procede: foi seu médico que falou? outra pessoa?
Havendo múltiplas queixas, é necessário:
• Hierarquizar os problemas: deve-se canalizar o paciente com tato e
pertinência, e analisar seu histórico, o que levará à estrutura que deve
ser pesquisada e/ou manipulada. O paciente pode estar com lesões
irreversíveis múltiplas, que não são da competência do osteopata, e
apresentar ao mesmo tempo uma lesão osteopática no meio dessas
lesões irreversíveis. O terapeuta poderá cuidar dessa lesão, para tornar a
vida do paciente bem mais confortável, independentemente das outras
lesões (irreversíveis), o que acontece muito.
• Estabelecer a cronologia dos problemas. Perguntaremos: há quanto
tempo você sente essa dor? Apareceu em que circunstâncias? Uma lesão
recente diferirá de uma lesão antiga, a qual provavelmente apresentará
um caráter irreversível em parte.
86 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Os antecedentes
3. Detalhar a dor
Quando tivermos deixado o paciente contar sua história com suas próprias
palavras, deveremos formular algumas perguntas para detalhar vários pontos:
Qual é o ritmo da dor e o tipo? Perguntar: que posição traz alívio? Que posição
agrava a dor? O paciente sente-se melhor sentado, em pé, deitado? Sofre durante
o dia principalmente? Ou à noite? Pela manhã?
Há uma irradiação nervosa, radicular (relatada) ou músculo-tendinosa (projetada)?
Qual o sentido de propagação da dor? Do aparelho locomotor em direção às
vísceras ou o contrário?
Qual é o fenômeno gerador (o qual não deve ser confundido com o fenômeno
disparador)?
O fenômeno disparador é uma informação procedente do meio exterior que
se torna insuportável para a estrutura no instante T. Ocorre uma demanda
excessiva espacial ou temporal em relação ao P.V.A.
9
Como no caso anterior, não devemos esquecer que se trata de uma demanda excessiva temporal (desgaste)
em relação ao P.V.A., há uma modificação definitiva da estrutura que não é da competência do osteopata.
88 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Caso particular dos pacientes que procuram o terapeuta quando a dor está
sumindo
São pacientes que não se apresentaram antes pois não dava para encostar neles,
ou porque alegam que em casos prévios idênticos melhoraram espontaneamente.
O terapeuta deve então se perguntar se é pertinente intervir ou não, e
“acessoriamente” se deve cobrar a consulta sem haver necessidade. Não deve
esquecer a máxima: o ótimo é inimigo do bom, principalmente quando se lida
com um paciente difícil, desses que voltam para reclamar do terapeuta por ter
acordado uma dor antiga que não sentiam mais antes da consulta, tornando-o
assim responsável dela.
um burocrata que passava a maior parte do dia sentado e não precisava usar
o joelho além demais, o que teria tido uma repercussão totalmente diferente.
Avaliação do contexto
• Estado geral
Mediante perguntas a respeito do apetite, uma eventual perda de peso, fadiga,
transtornos do sono, estresse, um desequilíbrio psicoafetivo. É a intuição do
terapeuta a que lhe permitirá descobrir o pequeno detalhe que fará a diferença
e que (talvez) o coloque na trilha.
• Costumes presentes e passados que permitem avaliar o estado de
saúde em relação ao P.V.A.
Alguns indivíduos funcionam no limite de seu P.V.A. É o caso típico do
desportista de 40 anos que se recusa a envelhecer e faz de tudo para se manter
jovem. Funciona no limite de seu P.V.A., portanto tem poucas lesões mas seu
potencial é frequentemente colocado em xeque e apresenta mais risco de lesão.
Pelo contrário, tem aqueles que fizeram muito esporte, que cansaram e
subitamente não fazem mais nada. Apresentam diversas lesões osteo-páticas
associadas a essa demanda reduzida. Devem ser enquadrados e reformular
seus costumes.
E também, assim como já foi dito, não devemos esquecer de considerar todos os
elementos afetivos, emotivos e ambientais que podem ter provocado uma lesão.
• Não esquecer de procurar eventuais lesões “extra somáticas”.
Avaliação do estado do paciente | 91
QUESTIONÁRIO RESUMIDO
4. A palpação
O teste de resistência
O teste de penetração
O teste do gelo
As leis de Fryette
CONCLUSÃO
O PARTICULAR E O GERAL
1. Axiomas
Representam as reações gerais que várias lesões têm em comum. Podem também
decorrer de um conjunto de lesões com um eventual desenvolvimento microbiano,
ou de uma única lesão que atinja uma estrutura com repercussão geral. Podem
envolver febre, emagrecimento, fadiga, insônia, transtornos psíquicos, digestivos
ou circulatórios…
• O particular pode levar ao geral ou revelá-lo
Exemplo: uma entorse pode provocar dor na coluna e (ou) revelar
uma depressão latente.
• O geral pode levar ao particular ou revelá-lo
Exemplo: o cansaço pode revelar um problema na coluna.
Exemplo: Vou correr na praia: é uma atividade geral que faz intervir quase todo
o organismo. Essa atividade pode gerar várias situações:
• Dói por toda parte, estou cansado, sem fôlego, meu coração está
acelerado, transpiro: ainda estamos no domínio do geral (o geral
acarretou o geral).
• Não estou particularmente ofegante nem cansado, mas sinto
repentinamente uma dor no joelho direito: é uma dor peculiar. O fato de
correr (do domínio geral) revelou uma fraqueza particular no joelho.
• Não estou nem cansado nem ofegante, mas começo a sentir dor no
joelho. Na verdade, acontece que não estou pisando bem pois estou sem
calçado adequado. Nesse caso, o particular (uma questão de calçado)
gerou uma dor particular no joelho, o qual de outra forma não teria dado
qualquer problema.
98 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
No primeiro caso a dor foi revelada, no segundo caso a dor foi gerada.
Enxaquecas catameniais
Eczema
1. Sistema simpático
2. Sistema parassimpático
CONCLUSÃO
1. O agudo
designar a zona dolorida. Duas hipóteses: uma hiper demanda após uma demanda
reduzida à proximidade ou à distância, ou esforço demais para uma estrutura
que não está acostumada ou que não teve suficiente tempo de repouso. Nesse
caso, recomendaremos repouso em primeiro lugar e na frente uma reorganização
do cotidiano no retorno à normalidade.
Outro exemplo: alguns anos atrás, um vizinho bem idoso me deu seu carro.
Por fora o veículo estava novo, mesmo tendo quarenta anos de uso, conforme
o documento. O dono sempre o tinha utilizado uma única vez por semana
para rodar menos de um quilômetro. Até aí tudo bem. Agradeci e fui embora.
Porém, a dois quilômetros de distância, o motor pegou fogo. Na verdade, mesmo
a lataria estando impecável, a mecânica que não tinha costume de percorrer
mais do que um quilômetro por vez não aguentou o tranco. Enquanto não
exigissem dela que fosse além de uma certa distância, ainda iludia no tocante
à sua capacidade real. Ao ir além da exigência habitual do motor, coloquei em
evidência que a mecânica, apesar das aparências, já não estava em condições.
Quer seja uma hiper exigência espacial ou temporal, o terapeuta deve enviar
uma única informação: chegar perto da área onde existe supostamente uma
lesão e realizar um thrust muito curto com uma tensão bem leve, muita rapidez
e principalmente sem peso. O contato será ao mesmo tempo denso e leve,
reduzindo o crédito da pele. É necessário, se for possível, efetuar um trabalho
funcional próximo e (ou) à distância (craniano ou visceral suave), breve (quanto
maior for a dor, menor o trabalho). Também recomendaremos repouso e
aconselharemos o paciente em relação a seus costumes diários: beber mais
(água…), alongar, praticar uma atividade física…
2. O crônico
mediante teste de resistência, sendo que quanto mais testes houver, maior será a
modificação da qualidade tissular local por conta do movimento. Por isso os testes
não devem se multiplicar. Idealmente a palpação e a manipulação serão simultâneas.
No caso crônico, não estaremos perante uma única lesão, mas perante uma
somatória de lesões: uma lesão ou DFF vertebral + uma lesão ou DFF craniana
+ uma lesão ou DFF visceral + … que descompensam. Uma patologia sempre é
multifatorial, com uma parte mecânica, neurológica, vascular, psíquica, energética,
ambiental e rotineira. Em função do momento, o patamar da dor sobe: é a gota
que revela que a garrafa d’água está cheia.
Na figura, dois ossos, A (ou A1, A2, segundo o estado do paciente) e B, B
sendo fixo.
No caso crônico (em vermelho na figura), A pode se mexer em relação a B
desde o D.F.H. e até o limite D.F.O./DFF (lesão).
Em subagudo (em azul na figura), a mobilidade será reduzida: A1 se encontra
bloqueada no D.F.O., o movimento será direcionado ao D.F.H., menos doloroso,
e não ao DFF, muito doloroso.
A = Crônico
A1= Subagudo
A2= Agudo
Avaliação do estado do paciente | 109
M = mecânico M
............limiar da dor
N = neurológico N
V = vascular V
CONCLUSÃO
• No caso agudo, podemos afirmar que se mexe um osso em relação a outro osso
• No caso crônico, efetua-se a manipulação em todas as direções ao redor
da lesão para modificar a qualidade do tecido conjuntivo local e recuperar as
capacidades de deslizamento, giro e rolamento.
O MATERIAL
1. O slack
11
A transferência de apoio consiste em transferir mediante as cadeias ósseas a expressão do corpo do
terapeuta através da lesão. É um exercício realizado abundantemente em sala de aula e que permite trabalhar
praticamente sem ação muscular, de forma que a lesão possa ser sentida o máximo possível. Vide o que foi
dito acima: “Quanto mais agirmos, menos sentiremos”.
As dez etapas da manipulação | 113
2. O kick
Primeira opção:
a partir da mesma posição, o terapeuta alivia seu apoio patelar na face interna
da coxa do paciente, transfere seu peso à peça que será manipulada (lombar
ou sacroilíaca), fixando-a na maca e efetuando um retrocesso da coxofemoral
com uma leve descida do joelho, podendo decoaptar as apófises articulares
subjacentes (zigoapofisárias) mediante a utilização de um pouco de peso.
Excelente técnica para trabalhar nos casos crônicos, pois podem ser aplicados
peso e verticalidade.
Segunda opção:
o início sempre é o mesmo, porém o terapeuta alivia depois seu apoio patelar
na face interna da coxa do paciente e avança seu joelho paralelamente à mesa.
Essa ação vai levar o sacro em direção à borda da maca, mediante deslizamento
e abertura da sacroilíaca. Essa técnica também permite trabalhar nos casos
crônicos.
Observação: Veremos mais na frente que a utilização do kick, o qual
mobiliza um elemento distante da lesão, deve ser utilizado nos casos
crônicos e banido nos casos agudos, tais como uma artrose pronunciada,
ou em presença de prótese. Nos casos subagudos, o uso dependerá da
intensidade da dor.
Nunca devemos esquecer que:
• quanto mais indireto o terapeuta for, maior será o uso do seu braço de
alavancamento e menor sua precisão (e evidentemente será mais global),
o que implicará uma resposta neurovegetativa nem sempre adaptada ao
efeito desejado.
• quanto mais forte descer o pé, mais tensão colocará na sacroilíaca.
Todavia, sempre é necessário deixar um pouco de jogo para poder
manobrar.
116 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
3. O thrust
Mecanismo
A técnica do thrust
Não pode haver qualquer equívoco nesses termos. Trata-se apenas de imagens para colocar em palavras
12
uma sensação.
118 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
1. O princípio
2. A técnica
IMPORTANTE
Não devemos esquecer que os gestos são importantes, mas
agem diferentemente conforme a intenção aplicada, de
forma que um gesto técnico pode não ser necessariamente
terapêutico.
Acontece que alguns pacientes não conseguem relaxar. Devemos então mudar
as ferramentas, procurar outras técnicas que levem a uma resposta neurovegetativa
equivalente. Para tal efeito, será suficiente estimular um dos elementos do metâmero,
As dez etapas da manipulação | 123
1. Definir o objetivo
2. Ajustar o objetivo ao plano articular
3. Escolher uma direção
4. Escolher a ferramenta de trabalho
5. A ferramenta de trabalho e o plano articular devem combinar
6. Pegar A em três pontos fixos
7. Mobilizar A (ou seja, redução do slack)
8. Fixar a nova posição obtida, a qual torna-se a referência
9. Organizar os segmentos sobrejacentes e subjacentes em relação à
referência
10. Efetuar a manobra
1. Definição do objetivo
Antes de mais nada, devemos lembrar que podemos manipular o que for,
mas não de qualquer jeito. Tenho dois ossos, A e B. Em primeiro lugar, devemos
definir qual é A e qual é B.
Se quisermos mexer o osso A em relação ao osso B, devemos começar fixando
o B em três pontos invariáveis entre eles.
A posição do terapeuta
Deve ficar:
• em pé,
• com o quadril em leve rotação interna,
• o queixo para dentro,
• as coluna reta,
• o vértex alto, como querendo crescer,
• as cinturas pélvica e escapular bem paralelas entre elas,
• as escápulas devem ficar baixas e travadas sobre o gradil costal de
forma isométrica.
Na manipulação, o terapeuta não deverá se limitar a inclinar-se para a frente,
pois deslocaria seu centro de gravidade, podendo perder o equilíbrio. Deverá
cuidar de recuar simultaneamente os glúteos de forma que possa conservar o
equilíbrio no polígono de sustentação.
Devem permanecer paralelos entre eles para que não haja resistência e para
garantir uma ótima eficácia.
A mão
• Vantagem:
Sua grande adaptabilidade morfológica que permite contatos bem
diferenciados, independentemente dos que acabamos de ver (indi-
cador, pisiforme, metacarpofalangiana, polegares):
∙ contato da interfalangeana proximal
∙ contato da interfalangeana distal
∙ contato da polpa digital
∙ contato tenar
As dez etapas da manipulação | 129
∙ contato hipotenar
Seja qual for o contato escolhido, deve ser preciso, ósseo e indolor. A fixação
do segmento deve ser a mais ampla possível e os pontos de fixação devem ser
invariáveis entre eles.
Organização da manipulação
thrust. Como veremos adiante, o ideal é efetuar todo o preparo no tempo expiratório
(vide parágrafo sobre a respiração).
Regra imperativa: o gesto de manipulação deve ser efetuado rápido o
suficiente para que o paciente não esteja em alerta, de forma que as fibras
de grosso calibre transmitam a mensagem terapêutica antes da intervenção
das fibras de calibre menor, as quais transmitem a informação nociceptiva.
Se não for o caso, o tratamento deve ser adaptado…
Objetivo da manipulação
Técnicas
Exemplo de manipulação.
FINAL DO THRUST /
INÍCIO DA LESÃO
Este esquema apresenta as três áreas que abrangem o P.V.A. de uma articulação
(D.F.H., D.F.O., D.F.F.). O thrust ocorrerá no fim da redução do jogo articular,
isto é, no fim do D.F.O. e início do D.F.F.
Observação: Geralmente, os estudantes lidam com a zona média do D.F.F.
CENTRO SENSÓRIO
VOLUME DE AR
RESIDUAL
O leitor atento poderá ficar surpreso por achar neste capítulo algumas
definições que já constavam no capítulo prévio. Achei importante relembrá-
las rapidamente, para que sejam totalmente assimiladas.
da estrutura.
Tecido conjuntivo: constitui a malha de todos os órgãos: os abrange, aglomera,
reúne e amarra ao esqueleto. Fora os fibrócitos, fibroblastos, as fibras de colágeno
e elastina, e as substâncias fundamentais, está formado principalmente por água
no estado livre, que tem a particularidade de se transformar em gel em caso de
lesão osteopática.
14
Para usarmos peso, trabalharemos na vertical, e para usarmos velocidade, na horizontal.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 139
• A velocidade parece ser mais adequada. Haja vista que Ec =1/2 mv2 (onde
“E” designa a energia, “m” a massa e “v” a velocidade), sendo que “v” é
elevada ao quadrado, sua incidência é primordial na produção de energia.
É, portanto a informação gerada pela velocidade a que vai modificar o
tecido conjuntivo.
Quando a manipulação parte do D.F.H. e para no D.F.O., os diferentes captores
não são solicitados além do normal, ou então só um pouco. A solicitação permanece
dentro da margem aceitável para a estrutura, pois limita-se à zona de uso imediato,
habitual e cotidiano.
Durante o tratamento com técnicas estruturais, utiliza-se o thrust, o qual é uma
mistura de velocidade e peso. O peso serve para normalizar o tecido conjuntivo
muito congestionado, uma lesão antiga ou uma lesão articular da cadeia ascendente,
envolvida no empilhamento ósseo passivo.
Começar no final do D.F.O. e parar no início do DFF, é fácil só na teoria.
O mais delicado é avaliar a zona e trabalhar antes da lesão (DFF), para que a
energia acumulada dentro do tecido “mexa” com a mesma ao afetar o estado tissular
local, devolvendo a mobilidade e transformando a água intersticial bloqueada sob
forma de gel em água livre.
A vantagem de trabalhar dentro do D.F.O. é que os tecidos são solicitados, no
lugar dos captores nociceptivos, e assim sendo não dispara a inflamação. De fato,
quando a manipulação é realizada com muita rapidez, as fibras rápidas são solicitadas
sem a confirmação da mensagem pelas fibras lentas. A resposta é instantânea e não
implica penalidades em termos de curvaturas; pois não há como dizer a um atleta:
“Descanse. Em dois ou três dias você vai se sentir melhor”! O atleta não pode
“parar”, sob pena de se atrapalhar com uma redução de seu nível de treinamento.
De modo geral, cede ao terapeuta cinco a dez minutos, quinze no máximo, pois
não pode diminuir sua atividade. Sua agenda fica definida nos menores detalhes e
não há qualquer vaga para fantasias ou improvisações: deve respeitar os horários
de treinamento, de almoço, até de descanso obrigatório! Um descanso reparador
necessário para recomeçar à tarde ou compensar as noites sem dormir por conta
140 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
15
Dermátomo, angiótomo, neurótomo, esclerotómo, viscerótomo e miótomo.
16
Potencial vital atualizado.
17
Lembrete: se não houver jogo será impossível acelerar, principalmente com um tecido congestionado, porém
deve ser um jogo controlado, sentido.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 141
POTENCIAL VITAL
TEMPO
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 143
Esquema A Esquema B
FINAL DO THRUST /
INÍCIO DA LESÃO
CENTRO SENSÓRIO
VOLUME DE AR
RESIDUAL
AS TÉCNICAS
1. Sacroilíaca
Posição do terapeuta
• o terapeuta se posiciona frente à pelve
• o joelho do paciente fica entre as coxas do terapeuta
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 149
A manipulação
• descer em direção à maca, paralelamente ao plano dos ombros, com
apoio por trás do trocânter maior - avançar o antebraço no plano da L5
• sem relaxar a avançada, efetuar uma adução do antebraço (o interior
do antebraço se aproxima da gradil costal do terapeuta)
• organização sobrejacente: descer com a mão torácica em direção ao
púbis do paciente, para que o conjunto retroceda, na escuta da reação do
antebraço
• organização do segmento subjacente: utilizar os movimentos de
extensão e flexão da coxofemoral do paciente, para definir a ação
terapêutica na sacroilíaca. Para tal efeito, o pé do terapeuta deve descer
levemente para obter apoio à distância na sínfise púbica
• efetuar o thrust para baixo com apoio e adução, para atingir a asa ilíaca
(contraindo os abdominais simultaneamente para amplificar o gesto). É
como se o joelho do terapeuta escorregasse e este descesse com todo o
peso sobre o corpo do paciente.
Como foi dito, deve ser feito no tempo de expiração do paciente e do terapeuta
simultaneamente. O thrust no término do slack deve coincidir com o início da
lesão, ou seja, o final do DFO.
Observação: Nesta técnica, o kick é realizado descendo o pé em direção
ao chão na reta, ou avançando o joelho paralelamente à maca.
Atenção!
Proibida a aplicação em problemas agudos e ciáticas
confirmadas!
A global da sacroilíaca, é uma técnica difícil, que utiliza pouco peso mas pode
se aplicar com muita rapidez. Em compensação, seu contato não é direto, de forma
que não é a primeira escolha em atletas ou dores agudas, sendo mais utilizada em
dores subagudas devido à questão de massa e globalidade.
O que a distingue da global da sacroilíac é o contato do antebraço, que na técnica
prévia obriga o terapeuta a se deitar demais, com pouca amplitude e margem de
manobra.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 151
Pelo contrário, o contato com a tenar e a palma da mão outorga mais amplitude
de movimento. Esse contato pode ser feito na face lateral dos processos espinhosos
da crista sacral (em indivíduos com processos espinhosos protuberantes que
facilitem o apoio) ou na região dos glúteos, por trás do trocânter maior, antes
de atingir a face lateral do sacro. O terapeuta coloca menos peso mas pode
movimentar, aplicando velocidade, e procurar lesões no âmbito de amplitudes
articulares mais extremas e muito mais complexas do que aquelas que caracterizam
os pacientes convencionais.
A posição do terapeuta é praticamente a mesma que na global da sacroilíaca,
porém a do paciente puxa levemente mais para a lordose, para que o terapeuta
disponha de mais amplitude; o joelho do terapeuta fica bem mais elevado em
comparação com a global, para permitir o uso do kick e principalmente para abrir
a sacroilíaca (ao descer o joelho e adiantando-o). Nesse caso, o joelho avança
descendo em direção à maca, o que permite uma abertura mais importante da
sacroilíaca.
Posição do paciente
• o paciente se coloca em decúbito lateral direito
• mesma posição que na global da sacroilíaca em leve deslordose
• a região posterior que será manipulada aponta ao teto.
Posição do terapeuta
• o pé direito no chão aponta à cabeça do paciente, perpendicular à pelve
• o joelho fica apoiado na face interna da coxa direita do paciente
• o joelho esquerdo do paciente deve ficar abaixo do nível da maca
• a tíbia do terapeuta não encosta no joelho esquerdo do paciente
Manipulação
Durante toda a manipulação, o paciente e o terapeuta devem estar sempre em
equilíbrio. Esta técnica serve de base para as lesões por anterioridade e lateralidade.
• o joelho cefálico recua
• estabelecer o contato com o pisiforme logo atrás e levemente acima
152 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
2. Lombares
É uma técnica direta, portanto em relação direta com a vértebra que será
manipulada. Pode ser utilizada da L1 à L5. A única diferença reside no plano articular,
que será levemente diferente entre a região inferior e a região superior: no caso
da L5, o plano é semissagital, semifrontal, e no caso da L1, praticamente sagital.
Como em todas as técnicas, o antebraço do terapeuta deve ficar paralelo ao
plano articular.
Posição do paciente
• em decúbito lateral direito
• mesma posição que na global sacroilíaca, em leve deslordose
• a região posterior que será manipulada aponta ao teto
Posição do terapeuta
• o pé direito no chão aponta à cabeça do paciente, perpendicular à L3
• o joelho fica apoiado na face interna da coxa direita do paciente
• o joelho esquerdo do paciente deve ficar abaixo do nível da maca
• a tíbia do terapeuta não encosta no joelho esquerdo do paciente
Posição do terapeuta
• coloca-se o antebraço paralelo ao plano da maca, orientado para cima
e para a frente do sujeito, em ângulo de aproximadamente 45 graus.
• a “gravata” do terapeuta fica perpendicular à lesão.
Manobra
• Fase 1: quebra-se a linha como previamente, isto é, transpondo a
posição de repouso.
• Fase 2: organização sobrejacente e subjacente em função da dor.
• O thrust somente com a mão de contato em primeiro lugar. Se o
resultado não for satisfatório, aplicar então um leve kick com descida
vertical do pé do terapeuta.
• É um thrust rápido.
3. Sacro
4. Ilíaco
Posição do paciente
Em decúbito dorsal, com as pernas cruzadas para abrir a sacroilíaca, pelve em
contato com a perna do terapeuta para fixá-la, e mãos entrecruzadas por trás da
cabeça.
Posição do terapeuta
De lado, contralateralmente em relação ao ilíaco a tratar. Inicialmente colocar
o antebraço cefálico no espaço do cotovelo do paciente. A mão caudal deve ser
colocada sobre a EIAS (espinha ilíaca ântero superior), que fixará na maca.
Manobra
A técnica frequentemente ensinada preconiza que o paciente seja inclinado do
lado oposto ao ilíaco, sendo efetuado o thrust na maca ao termo do tensionamento.
O problema é que nada fica fixo, tudo se mexe e a imprecisão é total. Para evitar
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 159
tal situação, o terapeuta procurará, portanto, constituir dois blocos: parte alta e
parte baixa. O bloco superior cobrirá dos braços até o sacro e o bloco inferior
do ilíaco até os membros inferiores. Em lugar de levar o bloco superior em
rotação oposta ao ilíaco que será manipulado, o terapeuta inclinará primeiro o
bloco superior do mesmo lado (no exemplo da foto, à direita), para obter um
bloco totalmente indeformável (vide leis de Fryette). Somente após ter inclinado
o bloco superior poderá, sem relaxar a inclinação e o empilhamento, efetuar uma
rotação do conjunto em oposição ao ilíaco. A eficácia dessa organização pode ser
sentida a partir do início da inclinação, na mão de contato. Muito frequentemente,
o estralo será audível nos primeiros graus de rotação. Se o thrust for necessário,
será feito na maca, no plano articular do braço menor, ou seja, na verticalidade
e com peso.
Posição do paciente
Contrariamente à técnica prévia, trabalharemos na horizontal. O paciente é
colocado em decúbito lateral, como no lumbaroll, em leve deslordose.
Posição do terapeuta
O contato da mão caudal é estabelecido no ísquio (no plano do braço maior),
com os dedos apontando para o teto. O cotovelo deve ficar abaixo do nível da
mão de contato, para respeitar a angulação da sacroilíaca.
A mão cefálica fica apoiada no esterno ou sobre as mãos do paciente, superpostas
sobre a caixa torácica.
O terapeuta cuida de estabelecer dois blocos: parte alta e parte baixa.
160 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Manobra
Primeira instância: o terapeuta quebra a linha no plano do braço maior.
Segunda instância: em relação à parte alta, o terapeuta vai baixar a caixa
torácica do paciente em direção ao púbis e empurrar levemente, o que confirmará
o empilhamento no contato.
Terceira instância: como o ilíaco é anterior, será utilizada a flexão da coxofemoral
para levá-lo para trás. Apenas o terapeuta sente a tensão, tal posição deve representar
o final do thrust. Renovará então a operação só que mais rápido.
Observação: O thrust é realizado essencialmente com a mão de contato
(e na fase expiratória, claro), jamais com o kick de primeira. Tudo reside
na rapidez, nada de peso nesta técnica.
5. Dorsais
Posição do paciente
Em decúbito ventral, com os braços pendurados, para afastar as escápulas. Se
for possível, a maca deve dispor de um leve declive na altura dos ombros para que
a borda da maca não impeça o afastamento dos ombros.
Posição do terapeuta
O terapeuta se posiciona homolateralmente, do mesmo lado da lesão, seja
anterior ou posterior, isto é, em “flexão ou extensão”. As articulares dorsais ficam
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 161
no plano frontal, o terapeuta pode, portanto, apoiar seu pisiforme sob uma articular
para subi-la (no caso de uma lesão de extensão) ou colocar-se acima da articular
para abaixá-la (no caso de uma lesão de flexão).
Manobra
No caso de uma lesão de extensão, o terapeuta apoia os joelhos na maca.
Coloca o pisiforme da mão caudal sob a vértebra que deve manipular (D5 na
foto). Estabelece a gravata acima da lesão, com a borda tenar da mão cefálica
sobre a articular (ou as articulares), oposta segurando a vértebra. O terapeuta se
inclinará para frente levemente, para destravar os cotovelos e ter uma inclinação
dos antebraços de aproximadamente 30° (isto pode variar obviamente conforme
a vértebra que for manipulada). Em primeira instância define a vértebra, se coloca
em fase expiratória com o paciente e no final da expiração efetua um thrust
levemente para baixo, mas principalmente em direção à cabeça, com inclinação
de aproximadamente 30°.
É uma técnica que permite aplicar muito peso, porém, haja vista que as dorsais
médias fazem parte da cadeia descendente, será necessário aplicar muita mais
velocidade e muito menos peso. Todavia, nos vídeos que circulam por toda parte
na Internet, na maioria das vezes vemos os terapeutas praticando tal técnica com
os braços estendidos, ou seja, aplicando peso sobre a maca. Isso é uma abominação
para quem conhece a anatomia da coluna vertebral: as superfícies articulares das
vértebras localizam-se no plano frontal, portanto tal prática impactará os planos
articulares, o que evidentemente não é o objetivo.
162 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
5.2 Dorsais em compressão, opção “braço acima”: técnica para casos agudos
e subagudos
Esta técnica relativamente complexa permite tratar as dorsais, junto com as
costelas, em todos os planos. Pode ser aplicada da D1 à D12 e da K218 à K10.
Posição do paciente
Em decúbito dorsal, com os antebraços pregados sobre o tórax, os cotovelos
superpostos e as pernas recolhidas também.
Posição do terapeuta
Sua posição inicial é muito importante. O terapeuta ficará sempre do mesmo
lado, seja qual for o lado da lesão, com o joelho cefálico apontando para a zona
a manipular. O joelho cefálico, os cotovelos e as dorsais estarão, portanto, no
18
Da mesma forma que a letra D designa as dorsais ou L as lombares, a letra K designa as costelas, e assim
a 2ª costela recebe o código K2.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 163
A manipulação em questão
A mão caudal é colocada cobrindo a vértebra a manipular (a D6 por exemplo,
vide foto) para maior conforto, com o dedo maior do terapeuta coincidindo com a
espinha da D6. Se o thrust for feito em direção do anular do terapeuta, a vértebra
se mexe em “flexão”. Em compensação, se o terapeuta passa acima da vértebra
que deve ser manipulada, sua ação vai na direção do indicador e a vértebra se mexe
em extensão. Podem aplicar-se simultaneamente movimentos laterais e de rotação.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 165
6. Transição cervicodorsal
Posição do paciente
O paciente fica em decúbito ventral, com os braços suspensos e a cabeça na
cabeceira.
Posição do terapeuta
Se colocará acima do paciente, sem se deitar, o olhar na altura do topo do
crânio do paciente. Os ombros do terapeuta e do paciente devem se sobrepor,
e o terapeuta prenderá totalmente o ombro do paciente, com o polegar apoiado
na fossa infraespinhal. O polegar e o antebraço do terapeuta devem permanecer
alinhados, com a mão cefálica apoiada na lateral do rosto do paciente.
166 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Manipulação
• Primeira instância: o terapeuta quebra a linha, não de forma muscular,
mas girando ao redor do eixo de sua coluna. Dessa forma, o ingresso do
polegar caudal no contato acontece naturalmente e passivamente. Assim,
não há tensão no antebraço, o que otimiza as sensações. Este exercício
é difícil inicialmente e o ingresso do polegar de contato costuma ser
muscular, o que apresenta o inconveniente de saturar as informações do
terapeuta nesse nível.
• Segunda instância: a organização sobrejacente (a organização subja-
cente já está feita, pois o terapeuta se encontra deitado sobre o paciente).
O terapeuta abaixa o queixo do paciente e lateraliza com a palma da mão,
não com os dedos, o que inclinaria a cabeça sobre o contato e fecharia
o Forame de conjugação. Logo após, gira a cabeça do lado oposto ao
contato, até sentir o processo espinhoso se apoiar junto ao polegar.
• Finalmente o thrust é realizado no final da expiração (como sempre
trata-se da expiração do paciente e do terapeuta).
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 167
Esta técnica prefere-se a todas as outras pois permite uma busca refinada
das lesões em todos os planos. É válida da C5 à D3, com a primeira costela, em
inspiração ou expiração. Em tal caso, o contato será modificado na porção anterior
do arco, no caso de uma 1ª costela bloqueada em expiração, ou porção posterior,
com a 1ª costela bloqueada em inspiração.
168 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Posição do paciente
O paciente fica sentado na borda da maca, o terapeuta fica em pé atrás dele,
com o joelho oposto à vértebra apoiado na maca como contra apoio. O terapeuta
começa levando o paciente para trás, deixando que se incline, e então empilha a
vértebra, à direita, em direção ao ísquio do paciente. A organização sobrejacente
é feita segurando a cabeça do paciente, com uma mão apoiada na face lateral.
O thrust é realizado com a mão de contato unicamente, com um movimento
de rotação e de inclinação do mesmo lado.
Observação: O terapeuta não deve, em hipótese alguma, colocar o queixo do
paciente na prega do antebraço, pois na rotação seu cotovelo vai bater no ombro
oposto (aqui à esquerda) do paciente, o que o obrigará a elevar o cotovelo, fechando,
portanto, a coluna cervical sobre a mão de contato.
7. Cervicais
que o plano articular das cervicais fica orientado na direção dos olhos, da mesma
forma deve ficar o antebraço do terapeuta. O indicador, polegar e antebraço do
terapeuta, junto com as cinturas escapular e pélvica, devem estar no plano da C2.
Nessas condições, até quando o terapeuta achar que poderia não ter sido eficiente,
pelo menos estará no plano articular e também terá a certeza de obter uma boa
resposta neurovegetativa ortossimpática.
Posição do paciente
O paciente fica em decúbito dorsal, relaxado.
Posição do terapeuta
O terapeuta fica do lado da cabeça do paciente. Calça a face interna do joelho
caudal contra a maca e apoia o antebraço cefálico sobre o joelho, paralelo à coluna do
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 171
Manobra
O trabalho seguinte é feito com as pernas. Não há qualquer ação das mãos.
A vértebra vai ao terapeuta, não o contrário. É evidente que o terapeuta deve dispor
de um bom contato ósseo com o indicador. Parece evidente, mas, na prática, em
nove de cada dez casos, os alunos estabelecem contatos ruins. Frequentemente
pensam estar posicionados na C2, mas na verdade é a C1. Não é muito grave,
só que o plano da C1 é bem diferente do plano da C2, pois fica orientado ao
nariz, à boca.
O terapeuta segura a cabeça, se eleva com o corpo e as pernas, e avança no
plano da C2. Esse movimento das pernas deve levar a articular da C2 a entrar em
contato com o indicador, enquanto as mãos permanecem passivas, condição sine
qua non para poder sentir o que acontece.
Essa posição é a referência (a articular fica acima). É a partir dessa referência
que o terapeuta deve otimizar sua técnica. Com a mão cefálica, deixa cair levemente
a cabeça para baixo para abrir o forame de conjugação, e então leva a mão caudal
em direção à mão de contato, mediante um movimento de recuo e uma leve
supinação. Durante a ação, deve sentir uma densidade no contato da C2. Essa
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 173
posição marcará o fim do thrust: o terapeuta voltará então para trás com ambas
mãos ao redor do odontóide e efetuará um thrust rápido com os antebraços, até
o limite alvo definido previamente.
Advertência
Nunca esquecer que o trabalho se efetua sempre ao
redor do odontóide, com todos os perigos que isso
representa em caso de má manipulação, sendo necessária
muitíssima prática antes de utilizar essa técnica.
8. Pé
Posição do paciente
O pé do paciente descansa sobre a coxa do terapeuta, o tendão patelar encosta
na mesa.
Posição do terapeuta
Não são as mãos que avançam, mas duas ou três contrações seguidas por
descontrações do quadríceps do terapeuta são necessárias para organizar a técnica.
Neste caso, não há qualquer ação voluntária dos braços.
Manobra
Quando fica estabelecido o contato com as partes internas e externas do colo
do tálus, o relaxamento do quadríceps do terapeuta reduz o jogo articular do tálus
176 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
na articulação abaixo deste e o thrust segue de praxe com uma contração violenta
de toda a parte superior do corpo, com os antebraços soltos.
Posição do paciente
Em decúbito ventral, com as pernas dobradas em ângulo de 90°.
Posição do terapeuta
A mão posterior do terapeuta fixa o calcâneo. A cintura do terapeuta fica
paralela ao plano do pé. Um ponto de contato ou dois na maca. Coloca-se a mão
de contato na face anterior do tálus. Os antebraços ficam na horizontal, paralelos
ao pé e à maca.
Manobra
A redução do slack e o thrust só serão efetuados com a mão de contato. É um
procedimento extremamente rápido.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 177
9. Joelho
Posição do paciente
O paciente é colocado em decúbito dorsal, com as pernas flexionadas.
Posição do terapeuta
O terapeuta posiciona-se homolateralmente. A mão cefálica é colocada por trás
do joelho, na altura da fossa poplítea, o que permite fixá-lo, e o terapeuta encosta
o corpo na perna.
Manobra
A redução do jogo articular acontece pelo avanço do terapeuta e a descida de
seu braço caudal. O thrust efetua-se na fase expiratória evidentemente, para baixo,
mediante a descida dos joelhos do terapeuta, o que provocará uma decoaptação
no joelho e (ou) o avanço do platô tibial.
Posição do paciente
O paciente é colocado em decúbito ventral.
Posição do terapeuta
O terapeuta posiciona-se homolateralmente e coloca a mão na face posterior
da tíbia, com o antebraço paralelo à coxa, apoiado nela.
Manobra
O terapeuta coloca o pé na cavidade do antebraço cefálico e pega seu punho
caudal. Nessa posição, pode variar o ângulo da perna. O thrust efetua-se somente
com a mão de contato e rapidamente. Nessa posição, também se pode apoiar acima
ou abaixo do menisco.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 179
10. Navicular
Posição do paciente
O paciente é colocado em decúbito ventral.
Posição do terapeuta
O terapeuta segura o pé do paciente e estabelece pelo menos um ponto de
apoio na maca. Para ganhar velocidade, não deve projetar-se muito acima do pé.
O terapeuta superpõe os polegares sob o tubérculo do navicular.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 181
Manobra
O terapeuta não deve mexer o corpo em absoluto, apenas os braços trabalham.
Abaixa o pé na direção da maca para reduzir o jogo articular. O terapeuta mantém
a posição dos polegares, dobra os antebraços subindo e então efetua o thrust no
final da descida do pé, como se desse uma chicotada.
Posição do paciente
O paciente é colocado em decúbito dorsal.
182 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Posição do terapeuta
O terapeuta fica no extremo da maca. Coloca o indicador de sua mão cefálica
sob o tubérculo do navicular e seu antebraço no prolongamento do plano articular.
Coloca sua mão caudal no primeiro cuneiforme ou no osso cuneiforme medial.
Manobra
O terapeuta executa um movimento de supinação do pé, fixando assim o calcâneo,
e logo após um movimento de pronação do antepé, para reduzir o jogo articular.
Efetua o thrust apenas com a mão de contato, com os antebraços paralelos entre
si e paralelos ao plano articular.
• Segunda técnica com peso
Posição do paciente
Em decúbito lateral, com o navicular em direção ao teto.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 183
Posição do terapeuta
O terapeuta fica no extremo da mesa, apoiado nela. Coloca o pisiforme da mão
cefálica sob o tubérculo do navicular. O cotovelo do terapeuta deve ficar paralelo
ao plano articular, em nível baixo.
Manobra
A mão caudal segura o antepé. Mediante um movimento de supinação do pé
inteiro, o terapeuta fixa o navicular, reduz o jogo articular do antepé através de
uma pronação, e efetua um thrust com a mão de contato.
11. Ombros
11.1 Cabeça umeral anterior em decúbito dorsal: técnica de base com peso e
velocidade
Posição do paciente
Em decúbito dorsal.
184 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Posição do terapeuta
O terapeuta se posiciona homolateralmente, com a perna cefálica na cavidade
axilar do paciente. O ombro deita na maca, com a cabeça umeral de fora. O contato
estabelece-se mediante a mão cefálica sobre a cabeça umeral.
Manobra
A mão caudal toma o braço e efetua uma leve decoaptação e adução do mesmo.
O terapeuta realiza o thrust na mesa, levemente para fora.
Posição do paciente
O paciente fica sentado ou em pé.
Posição do terapeuta
O terapeuta se posiciona homolateralmente.
Evolução das técnicas de base para tratamento específico do atleta | 185
Manobra
O terapeuta coloca sua mão anterior na face anterior da cabeça umeral. Sua mão
posterior fica na parte posterior da escápula. Com a borda do cotovelo se dirige à
apófise coracóide, pega a cabeça umeral e efetua uma leve decoaptação no plano
articular, e logo após realiza o thrust somente com a mão de contato, mantendo
os antebraços paralelos entre eles.
12. Cotovelo
12.1 Cabeça radial anterior: técnica de base com peso e muita velocidade
Posição do paciente
Em decúbito dorsal, com o braço a ser tratado apoiado na maca, paralelo ao
corpo.
Posição do terapeuta
O terapeuta se posiciona contralateralmente. Coloca o indicador da mão cefálica
na face anterior da cabeça radial.
Manobra
O antebraço do terapeuta segura o antebraço do paciente na maca. Os antebraços
ficam paralelos. Com a mão caudal, o terapeuta toma o antebraço do paciente, o
verticaliza, efetua uma pronação para colocá-lo em tensão e efetua o thrust com
a mão de contato.
186 | OSTEOPATIA NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL
Posição do paciente
Em decúbito, com o antebraço paralelo ao corpo e a cabeça radial no bordo
da maca.
Posição do terapeuta
O terapeuta coloca seu joelho contra a face lateral. Estabelece contato com a
face anterior da cabeça radial com sua mão cefálica.
Manobra
O terapeuta efetua uma adução contra seu joelho para abrir levemente a
articulação úmeroradial. Realiza uma pronação com a mão cefálica para tensionar
e logo efetua o thrust verticalmente, apenas mediante a mão de contato.
bibliografia