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6 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 45
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1 SOBRE A MORTE E O MORRER1
Fonte: pensamentoliquido.com.br
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Mortes repentinas eram desonrosas. O homem, ainda integrado à natureza,
aceitava a morte como uma das grandes leis da espécie, sobre a qual não podia
intervir. Os ritos contemplavam uma cerimônia pública, organizada pelo próprio
moribundo, com a participação das crianças. A morte ocorria no leito, era
simples, familiar, próxima, por isso denominada morte domesticada. Contudo, o
mundo dos vivos deveria permanecer separado do dos mortos, com o intuito de
facilitar o percurso dos mortos até o céu e evitar a contaminação física (pela
decomposição dos corpos) e psíquica (visita dos mortos); destarte, os cemitérios
situavam-se fora das cidades (Ariès, 1989).
No final da Idade Média e nos séculos XVI e XVII o corpo dos mortos era
confiado à igreja. Os cemitérios ficavam nas cidades, o que demonstra que as
pessoas estavam familiarizadas com os mortos, bem como com a sua própria
morte (Ariès, 1989). A partir do século XII surge a preocupação com o Juízo
Final. Este era individual e particular, portanto trazia inquietação, ao contrário da
segurança e tranquilidade promovidas pelo rito coletivo descrito acima.
O homem tomou melhor consciência de sua individualidade; as
particularidades de cada biografia eram analisadas e avaliadas, e essa revisão
adquiriu um caráter dramático, uma carga emocional que antes não possuía. O
apego às coisas e aos seres possuídos durante a vida era considerado a grande
tentação. Encontra-se presente uma aversão à decomposição, que adquiriu um
sentido macabro, de ruína do homem. Nesse período, o corpo passa a ser
escondido nos caixões, pois é insuportável aos olhos. Ressurgem as inscrições
funerárias, significando o desejo de conservar a identidade do túmulo e a
memória do desaparecido.
O uso da cor preta como simbolização do luto data do paganismo.
Relacionava-se com o horror dos mortos, como um disfarce para o fantasma do
morto. O preto contém também o simbolismo da noite e a ausência de cor para
expressão do abandono e da tristeza. Esta cor facilita a lembrança de que
ocorreu uma perda, e poderia sugerir às outras pessoas que tivessem uma
atitude especial em relação à pessoa enlutada e evitassem falar de coisas que
poderiam magoá-la. A cor não só demonstrava tristeza, mas também criava paz
e serenidade interiores.
No século XIV a expectativa de vida era muito baixa. Havia muito
sofrimento e vulnerabilidade, a guerra e a peste matavam ao mesmo tempo, a
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Inquisição começou a usar a tortura e a morte como instrumentos oficiais de
política administrativa. A morte passou a ser considerada o castigo de Deus para
os homens, “um terror físico e teológico”. A morte não podia ser controlada pelo
sistema tecnológico nem pelo pensamento racional, era utilizada como material
para manipulação criativa pela arte e literatura.
Fonte: psiconaenfermagem.blogspot.com
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Procurou-se evitar o incômodo e a emoção forte não somente do doente, mas
de toda sociedade, pois a vida deve parecer ser sempre feliz. Entre 1930 e 1950
a morte deixa de acontecer em casa e é transferida para os hospitais, que
proporcionam os cuidados mais adequados.
Os hospitais, que outrora funcionavam como asilo, converteram-se em
centros de cura, onde se luta contra a morte. O indivíduo morre só, e a própria
equipe define o momento de seu falecimento.
A morte foi dividida em cerebral, biológica e celular. São vários os
aparelhos destinados a medir e prolongar a vida. A morte não é mais
considerada um fenômeno natural, e sim fracasso, impotência ou imperícia, por
isso deve ser ocultada. O triunfo da medicalização está, justamente, em manter
a doença e a morte na ignorância e no silêncio. Neste mundo em que impera a
produção mercantilista, o adoecer torna-se vergonhoso, pois o indivíduo deixa
de produzir e, com isso, é excluído e ocultado.
A boa morte atual é a que era temida na Antiguidade, a morte repentina,
não percebida. Os ritos procuram ser imperceptíveis, o mais discreto possível,
evitando o pretexto para as emoções. Procura-se não exteriorizar os sentimentos
para não assustar as crianças, evita-se chorar em público. Não há mais
manifestações aparentes de luto, este é solitário e envergonhado, é um luto
privatizado. Já não há mais o hábito de visitar o túmulo, cresce o número de
cremações. A neutralização dos ritos funerários e ocultação da morte fazem
parte dessa incapacidade social de se lidar com ela.
O homem na contemporaneidade, caracterizada pela valorização do
conhecimento científico imerso no contexto capitalista e materialista, busca
respostas invisíveis para a morte e simultaneamente anseia por tecnologias
fúteis para retardar o fenômeno natural do morrer (MONTANARI; OLIVEIRA,
2010).
A morte por ser integrante do ciclo de vida humano é uma certeza absoluta
e a aceitação dela por parte do paciente, da família e equipe de saúde facilita os
cuidados paliativos, e esses, não aceleram e nem adiam a morte. E é através da
escuta, da comunicação, da atenção e tecnologias medicamentosas que se
busca auxiliar no alcance do conforto (OLIVEIRA et. al., 2010). A filosofia
paliativista parte da ideia que se não é possível curar, é possível cuidar. Consiste
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em uma tecnologia leve e de grande impacto interpessoal no resgate da
humanização nas ações em saúde (BORGES; MENDES, 2012).
A morte representa a interrupção definitiva da vida e o morrer o intervalo
em que a patologia se torna irreversível e a letalidade o resultado da mesma
(AZEREDO et. al., 2011).
Fonte:familia.patriarcado-lisboa.pt
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Não se podem desvalorizar os vários recursos disponíveis na tentativa de
manutenção e recuperação da vida, mas também se faz necessário discutir e
abrir espaço para novas reflexões sobre o assunto da morte.
O óbito pode ser entendido pela vivência dos profissionais da saúde
através da expressão de sentimentos diante da terminalidade do outro, essas
emoções despertadas incluem a sensação de fracasso, perda, impotência,
tristeza e medo. A equipe de saúde é composta por pessoas que expressam
suas limitações e emoções na rotina de trabalho. Pois, se trata de uma situação
em que o ser humano luta constantemente com suas defesas na tentativa de
distanciar-se do inevitável contato com a morte.
Ao questionar a morte e o morrer, inevitavelmente fala-se de vida, pois
são assuntos complementares e não contrários. Trazendo à tona este tabu,
espera-se uma mudança nos parâmetros de comportamento individuais e da
sociedade. Assim, pode ser que, ao lidar melhor com a morte, o homem resgate
a alegria de viver, em uma sociedade marcada pelos altos índices de depressão.
Sendo a morte um tema polêmico, configura-se como um campo de estudos fértil
para a psicologia como reflexão, ciência e prática.
Fonte: www.osul.com.br
Destarte, uma vez que o significado das coisas tem um papel organizador
nos seres humanos, é crucial a investigação sobre o tema da morte para o
psicólogo hospitalar, já que está circunscrita em sua atuação profissional
cotidiana, influenciando a qualidade de vida do trabalhador, e a maneira como
ele interage na sua atividade laboral.
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2 MORTE NO CICLO DE VIDA DA FAMÍLIA
Fonte: uptokids.pt
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para auxiliá-los diante desse sofrimento. Não obstante, apontam que, a despeito
da família ser apresentada como um meio importante para a superação da perda,
poucos são os pesquisadores que enfatizam o papel do funcionamento familiar
nestas experiências.
Corroborando as considerações de Gudmundsdottir e Chesla (2006),
verificou-se que, entre os estudos que abordam as experiências de morte e luto
no interior das famílias, há predominância daqueles que enfatizam o impacto da
morte de um dos membros da família nuclear, em detrimento dos que buscam
compreender como a família se organiza diante das perdas. A fim de exemplificar
alguns dos estudos encontrados, a seguir serão descritos alguns deles e suas
implicações.
De acordo com Brown (2001), ao se levar em consideração os fortes
vínculos existentes entre as pessoas de um círculo familiar é possível verificar
que a perda de um dos seus integrantes é uma das mais árduas adaptações
experienciada por uma família. Tanto, que dependendo de quem morre, é
possível até mesmo a ocorrência de uma ruptura no grupo familiar, podendo
chegar ao extremo de um ou mais de seus membros não conseguirem completar
suas tarefas ao longo do ciclo vital (Brown, 2001).
Conforme apontam Bromberg (1994) e Brown (2001), a fim de se obter
uma melhor compreensão acerca dos efeitos do luto dentro do círculo familiar é
preciso considerar uma série de aspectos que incluem:
a) a relação existente com a pessoa que morreu e o quanto ela era
significativa dentro da família;
b) a idade e o gênero;
c) a natureza da morte (acidente, doença, repentina);
d) as vulnerabilidades pessoais;
e) o contexto social e étnico da morte; e
f) a história de perdas anteriores.
Nessa mesma direção, Parkes (1998) acrescenta que, a previsibilidade e
a imprevisibilidade, bem como as oportunidades de preparação para a perda
também podem afetar a intensidade e magnitude da reação ao luto, uma vez que
a morte tranquila e silenciosa de um idoso acarreta em um sofrimento distinto
daquele decorrente de uma morte trágica e repentina de um jovem.
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Fonte: amarassist.com.br
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aproveitarem um ao outro. Assim, quando um dos cônjuges morre, aquele que
fica precisa reorganizar sua vida, de modo a passar seus últimos anos sozinho
ou iniciar um novo relacionamento. Quando há forte dependência emocional, a
morte de um dos cônjuges pode levar o que continua vivo a um desespero tão
intenso a ponto de cometer suicídio, ou desenvolver doenças graves devido ao
sentimento de perda emocional do próprio eu.
O peso de uma perda não aceita ou não resolvida pode se tornar um fardo
para a geração seguinte, levando à repetição de padrões familiares, com efeitos
limitadores ou incapacitantes para a família. Para a autora, quando a morte é
conflituosa, quando há um acúmulo de perdas ou quando a morte é cercada de
sigilo, a recuperação da família e de seus membros é prejudicada, pois, “a morte
sempre deixa um legado, quer ele seja de fortalecimento ou de trauma, que fecha
um sistema e distorce os relacionamentos dos sobreviventes”.
O equilíbrio da família e de cada um de seus membros ao vivenciarem
uma perda e um processo de luto associa-se à capacidade da família em manter
relacionamentos significativos, em não transformar a dor e a culpa em tabu ou
segredo, e em manter a flexibilidade, necessária à adaptação e à ressignificação
da vida após a etapa do luto.
Para os autores, o segredo e o tabu que ainda cercam a morte costumam
resultar em alto custo emocional que, ao invés de proteger os membros da
família, apenas evidenciam o terror de não se conseguir lidar com as
consequências da perda.
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3 A MORTE E A PSICOLOGIA HOSPITALAR
Fonte: www.psicolog.com.br
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aspecto emocional do paciente. Combinato e Queiroz (2006), citando Capra
(1982), pontuam que a “explicação da ciência sobre a morte (ou sobre o não-
ser) está situada na perspectiva biologicista do modelo biomédico, ou seja, ´a
morte consiste, simplesmente, na paralisação total da máquina-corpo`” (p.213).
A medicina contemporânea negligencia os aspectos psicossociais do
processo saúde-doença. A vida biológica foi aumentada, mas muitas vezes
ocorre a morte social, com isolamento, abandono e uma vida de perdas. Assim,
no adoecimento são potencializados angústias, medos, inseguranças, raivas,
revoltas, não só para doentes e familiares, mas também para o próprio
profissional da saúde, sempre preparado para a cura, mas em constante tensão
diante da morte.
Nesse sentido, o psicólogo hospitalar tem como foco de sua atuação a
subjetividade da tríade paciente - família - equipe de saúde, servindo como
mediador das relações, considerando o homem como um ser integral e
sistêmico, que abrange os aspectos biopsico-afetivo-cultural e espiritual.
O homem não é só um corpo, e diante da urgência orgânica que leva à
hospitalização, surge também uma urgência psíquica, e é nesse contexto que o
psicólogo hospitalar realizará o seu trabalho, perpassado por uma questão
central: a morte e as várias formas que o sujeito encontra para lidar com essa
possibilidade (Granha, 2000).
Segundo Oliveira (1998), quando o sujeito está internado no hospital:
No hospital, não apenas seu corpo, mas tudo o que significa o controle da
própria existência passa a ser controlado pela equipe de saúde, e a família,
cuidador original, atua como mero expectador. Diante de tantos estressores,
podem surgir mecanismos de defesa como a regressão e o calar-se, sendo que
este é bem visto pela equipe, já que o bom paciente é aquele que aceita as
orientações médicas sem questionar (Oliveira, 1998).
O psicólogo hospitalar não participa diretamente no tratamento clínico, de
forma que seu papel com o paciente é diferente em relação ao dos demais
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profissionais. Sua atuação é voltada à atenção a pessoa integral, procura dar
voz ao sujeito hospitalizado, possibilitando a compreensão e o tratamento dos
aspectos psicológicos, permitindo a abertura de um canal de contato com a
equipe.
Fonte: www.aegeanews.gr
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A síndrome do esgotamento profissional, ou burnout, é um exemplo a que
está sujeito o profissional da saúde que lida com o sofrimento alheio, sem que
esteja, muitas vezes, preparado para enfrentar tal situação. A participação do
psicólogo na equipe e nas discussões clínicas permite que ele forneça dados a
respeito da dinâmica do paciente e de sua família e, assim, colabore na
completude do diagnóstico e na decisão de condutas.
Fonte: posfg.com.br
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sublimação, pela criação da forma como as situações serão
percebidas, no qual o sujeito utiliza-se da reparação de suas
representações mentais, deslocando-as para objetos e finalidades
valorizados social e narcisisticamente.
No hospital, o psicólogo se depara com situações inesperadas,
acontecimentos que podem destituir o sujeito de seu ancoramento significante,
emergindo a angústia e o desamparo.
O adoecimento pode ser visto como um momento de crise, no qual são
vivenciadas inúmeras situações de perda – de sua rotina e hábitos; da condição
de saúde para a doença; da autonomia e independência; afastamento da família
e do trabalho; da condição de “inteiro” para uma cirurgia, que pode deixar
marcas, cicatrizes, mutilações, ou ainda causar a morte da pessoa. Assim, o ser
humano, que já nasce incompleto, ao adoecer revela sua falta a ser de forma
escancarada, revelando sua fragilidade, para si e para os outros. Frente a essas
rupturas, a morte ocupa o lugar do interdito, sendo encarada como vergonhosa,
o que dificulta sua elaboração (Moura, 2000; 2003).
Para a psicanálise, essa ruptura causada pela hospitalização e os
sentimentos decorrentes dessas perdas pode ser associada à castração. Este
corte abrupto na cadeia de significantes do sujeito remonta à sua certeza
vacilante, à falta de garantia. Por outro lado, a “tão temida” morte pode ser vista
como uma possibilidade para o alívio do sofrimento vivenciado pelo indivíduo
hospitalizado, já que é a única capaz de suprimir todas as exigências do homem,
ser desejante. Ora, se a vida passa a oferecer mais desgosto que gratificações,
e o futuro parece desolador, a morte surge como um alívio.
O psicólogo passa cotidianamente por essa experiência de ocupar o lugar
de morto em sua atividade profissional, visto que precisa se despir de seus
ideais, valores, vaidades e sentimentos para exercer sua função. Essa postura
adotada no espaço dialético do atendimento psicoterápico favorece que o
psicólogo possa, a todo instante, rever posições e mudar crenças, desconstruir
verdades, auxiliando a evolução da cultura, impulsionando o movimento da vida
(Rodrigues, 2000).
Diante da complexidade do luto, o profissional da saúde que lida com este
processo também é afetado, uma vez que é difícil ajudar ou se sentir ajudando
a pessoa enlutada, o que pode ocasionar frustração e/ou raiva. Por outro lado, o
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profissional pode se sentir desconfortável ao testemunhar a dor da pessoa,
abreviando o contato. Worden (1998) explicita esta situação citando dois
autores:
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Fonte: encenasaudemental.net
Falando sobre a morte, isto se torna mais evidente, visto que é um tema
complexo, pouco discutido, no qual a teoria fala pouco da realidade vivida. Sirlei
(2008) em sua pesquisa sobre a representação da morte para o profissional da
psicologia hospitalar elenca como aptidões necessárias para o psicólogo ante a
iminência de morte: autoconhecimento e consciência de suas limitações; que o
profissional tenha para si bem elaborado a morte e o controle de suas emoções;
conhecimento teórico; supervisão de outro profissional de psicologia; atitudes
como doação, compaixão, acolhimento, empatia, aceitação. Diante do panorama
geral que essa breve sistematização de literatura pôde permitir, constata-se que
o contato próximo com a morte exerce um grande impacto no trabalho dos
profissionais da saúde, podendo ou não trazer prejuízos para suas vidas
profissionais e pessoais.
O presente estudo não se propõe a dar conta da complexidade do
fenômeno da morte; pretende suscitar reflexões sobre como ela afeta as
relações no dia a dia do psicólogo hospitalar, levando-se em consideração as
dimensões éticas, e a teoria versus prática.
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3.1 Intervenção do psicólogo hospitalar em processos de terminalidade e
morte
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sociais há uma associação do câncer como enfermidade punitiva, com
conotação moral e religiosa (Aquino & Zago, 2007).
Esse sentimento de culpa parece relacionar-se ao fato de a doença ser
percebida como punição em diversas culturas, conforme indicam Sebastiani e
Maia (2005). Como estratégia de enfrentamento da doença, a religião também
gera alívio ao sofrimento, oferece o conforto que toma o espaço da fatalidade.
Isso se relaciona ao fato de que a explicação oferecida sobre a doença pelos
sistemas religiosos se aproxima mais do contexto sociocultural dos pacientes do
que aquelas explicações, muitas vezes de uma forma reducionista, oferecidas
pela medicina. Em virtude disso, é importante que os profissionais da saúde –
destacando-se dentre eles os psicólogos – levem em conta a religiosidade do
sujeito enfermo ao planejar e executar suas intervenções, contribuindo para a
manutenção de uma relação de respeito e confiança com essa clientela (Aquino
& Zago, 2007).
O psicólogo pode estender sua intervenção à equipe profissional da
instituição, ao invés de restringi-la apenas ao doente e aos seus familiares.
Frequentemente membros da equipe mobilizam-se em situações de
terminalidade e morte de pessoas hospitalizadas. Em uma unidade cirúrgica, por
exemplo, a equipe de saúde busca salvar vidas de forma heroica, assim, o
paciente inoperável e a cirurgia não curativa representam, para eles, um fracasso
(Parkes, 1998).
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Fonte: abrale.org.br/revista-online
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3.2 O Valor da Experiência no Enfrentamento da Morte
Fonte:lacrestadelaola2028.blogspot.com
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muitas vezes o paciente fica desamparado, ou por seus familiares ou até mesmo
pela própria equipe, nos casos em que se encontra fora de possibilidades
terapêuticas. A revisão bibliográfica mostrou que a morte é vista pela instituição
como um fracasso e que a cultura biomédica, ainda dominante, foca-se em
prolongar a vida biológica em detrimento dos aspectos biopsicossociais, o que
pode levar à morte social (Bruscato, 2004). Sabe-se que o processo de luto não
começa com a morte e sim com as relações existentes antes dela, que serão
determinantes na qualidade do processo de luto.
Fonte: www.einstein.br
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significações e sentidos às mais diversas coisas, pré-interpretando aspectos da
realidade tacitamente. Contudo, o saber psicológico diferencia-se desse
“conhecimento pronto e acabado”, até mesmo porque cada sujeito é único e
particular, e assim também o é a maneira de abordá-lo.
A maturidade profissional confere ao profissional maior segurança, menos
medo; permite que ele se conheça mais; trace seus limites; crie recursos de
enfrentamento; maneiras de abordar a situação; o conhecimento acerca do que
fazer em determinadas ocasiões; a sensibilidade sobre quando é o momento de
ficar quieto, calado, apenas presente, à disposição; escutando tranquilamente, o
que geralmente não é suportado pelos demais; quando deve fazer alguma
consideração pertinente, entre outras situações. Com o decorrer do tempo, vai
percebendo que lidar com a morte não é “nenhum bicho de sete cabeças” (sic).
Para tal, teoria e prática são fundamentais e se complementam.
A preparação do psicólogo na graduação muitas vezes é deficiente nesse
sentido, temas como a percepção sistêmica da realidade institucional e do sujeito
internado e a morte (talvez um próprio reflexo de sua negação) são
negligenciados em função da ênfase dada à formação clínica.
O profissional acaba indo fazer cursos ou especializações na área
hospitalar após a graduação, muito ricas pelos ensinamentos que subsidiam a
prática, além da troca de experiências e modelos de atuação. Por outro lado,
conforme salienta Hycner (1995), “Quando as técnicas têm supremacia, o lado
humano fica obscurecido (...) A técnica precisa estar baseada na relação entre
pessoa e pessoa – o inter-humano” (p.22). Esta ênfase tecnocrática provoca um
distanciamento maior entre as pessoas, ainda evidente na atuação médica, mas
que não pode ocorrer na prática psicológica, visto que esta é dialógica e se dá
no contato com o outro.
Segundo Kovács (2002), os médicos se escoram nos exames, nos
instrumentos, na tecnologia e na farmacologia; o psicólogo se escora na sua
“tecnologia”, suas interpretações psicológicas sobre o viver do outro. Para tal,
deve desenvolver o seu poder de escuta, perceber as necessidades do outro,
tornar-se disponível para esse contato íntimo, estando atento para verificar se o
“psi” não entra como defesa contra um contato profundo com o paciente, que no
momento de hospitalização encontra-se, muitas vezes, fragilizado e
necessitando de ajuda.
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Em pesquisa realizada por Kovács em 1985 com estudantes de cursos da
área de saúde (medicina, psicologia e enfermagem), os alunos de psicologia
foram os que obtiveram escores mais altos de medo da morte.
A hipótese levantada é a de que os alunos respondem conforme o que
lhes é esperado: médicos não temem a morte e atuam como heróis para desafiá-
la; psicólogos estão em contato com os sentimentos, tendo autorização para
manifestá-los. Surge a dúvida: se no começo da atuação, falo também em
experiência própria, é difícil acompanhar a dor do outro, o choro insiste em
aparecer, a vontade é de não ter que passar por essa experiência de
compartilhar a morte do paciente, esse amadurecimento profissional e melhor
controle da contenção emocional não poderia também ser um efeito da
naturalização? Essa intelectualização não poderia ser considerada um
mecanismo de defesa para lidar melhor com a morte, um isolamento emocional,
uma dessensibilização? Ou o “sentir menos” estaria relacionado ao fato de que
a intensidade da dor está relacionada à proximidade e qualidade da ligação que
a pessoa tem com o falecido?
Fonte:www.diarioonline.com.br
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responsabilidades éticas fundamentais dos profissionais da saúde. Essa ação é
um indicador essencial de qualidade do cuidado da dor e sofrimento, bem como
da assistência integral ao paciente, no âmbito da saúde.
A dor é um sintoma e uma das causas mais frequentes da procura pelos
serviços de saúde. Em muitas instituições de saúde que hoje estão na vanguarda
do cuidado integral do ser humano vulnerabilizado por alguma doença grave,
vendo- -se obrigado a enfrentar dores excruciantes, essa experiência de dor é
reconhecida como o quinto sinal vital integrado à prática clínica. Se a dor fosse
tratada com o mesmo zelo que os outros sinais vitais (temperatura, pressão
arterial, respiração e frequência cardíaca), sem dúvida haveria muito menos
sofrimento.
O objetivo da avaliação da dor é identificar a sua causa, bem como
compreender a experiência sensorial, afetiva, comportamental e cognitiva que
ela representa para a pessoa, tendo em vista a promoção de seu alívio e
cuidado.
Hoje se reconhece que a dor é uma doença. De acordo com a definição
da OMS, a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não somente a ausência de doença ou de mal-estar. É evidente que as
condições dolorosas constituem um estado de mal-estar; portanto, o ser humano
que sofre de dor não está sadio, e pode-se afirmar – legitimamente – que se está
violando seu direito inalienável à saúde.
O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece
como um dos direitos dos seres humanos um nível de vida adequado para a
saúde e o bem-estar. Infelizmente, saúde e bem-estar nem sempre são uma
escolha possível, já que, em inúmeras situações, muitas pessoas, por causa da
velhice ou das doenças, sentem dor e sofrem muito no final da vida. A diferença
entre dor e sofrimento tem grande significado, principalmente quando se lida com
pacientes terminais.
O enfrentamento da dor exige o uso de medicamentos analgésicos,
enquanto o sofrimento pede acolhida para fortalecer o espírito e as noções de
significado e sentido da vida, pois a dor sem explicação geralmente se
transforma em sofrimento. E o sofrimento é uma experiência humana
profundamente complexa, na qual intervêm a identidade e subjetividade da
pessoa, bem como seus valores socioculturais e religiosos.
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Um dos principais perigos em negligenciar a distinção entre dor e
sofrimento é a tendência dos tratamentos de se concentrarem somente nos
sintomas e dores físicas, como se esses fossem a única fonte de angústia e
padecimento para o paciente. Tende-se a reduzir o sofrimento a simples
fenômeno físico, que pode ser mais facilmente identificado, controlado e
dominado por meios técnicos.
Dimensão física: no nível físico, a dor funciona como claro
marcador, alertando que algo não está funcionando normalmente
no corpo.
Dimensão psíquica: emerge à consciência quando é preciso
enfrentar a inevitabilidade da morte; quando os sonhos e
esperanças se esvaem e surge a necessidade urgente de redefinir
o mundo que está para deixar.
Dimensão social: é a dor do isolamento, que surge quando a
pessoa que está para morrer percebe que deixará de viver, mas o
mundo tal como conhece continuará existindo. É o sofrimento de
sentir-se inexoravelmente tocado por um destino que não gostaria
de experimentar, e da solidão por saber que é impossível
compartilhar plenamente essa realidade que obriga a redefinir os
relacionamentos e as necessidades de comunicação.
Dimensão espiritual: surge da perda do sentido, objetivo de vida
e esperança. Todos necessitam de um horizonte de sentido – uma
razão para viver e uma razão para morrer. O conceito de
espiritualidade é encontrado em todas as culturas e sociedades.
Ela se expressa na busca individual por um sentido último,
mediante a participação na religião ou na crença em Deus, família,
naturalismo, racionalismo, humanismo e artes. Todos esses fatores
podem influenciar o modo como os pacientes e profissionais da
saúde percebem a saúde e a doença e como eles interagem uns
com os outros.
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Fonte:www.personare.com.br
Fonte: www.tvi24.iol.pt
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recebida com dor porque é uma perda, mas redimensionada diante do sofrimento
prolongado (do doente e dos familiares), que acaba funcionando como um
processo preparatório. E aí surge o questionamento sobre a intensidade da dor,
do que seria “melhor”: uma morte abrupta ou prolongada? Quando a morte é
abrupta, as pessoas entram em choque, não têm sentimento elaborado nenhum,
não estavam preparadas para isso. Sendo uma interrupção, parece ser mais
cruel, pois o falecido não teve tempo de fazer nada, se despedir, resolver
conflitos, dizer eu te amo... Kovács (2002) diz que se a morte “ocorre de maneira
brusca e inesperada tem uma potencialidade de desorganização, paralização e
impotência.” (p.154). Em contraponto, apesar de se achar que não há um
preparo para a morte, quando a pessoa vivencia um longo processo de
hospitalização, seus familiares e amigos vão de antemão se despedindo, o que
é chamado de “luto antecipatório”.
Parece que as pessoas vão sofrendo aos pouquinhos, ao invés de
vivenciar aquela dor de uma só vez. Mas quando a pessoa de fato falece é ainda
muito dolorido, e sofrem novamente de forma muito intensa. E nesses casos, é
comum a presença de sentimentos ambivalentes naquele que cuida, surgindo o
desejo de que o doente morra para aliviar o sofrimento de ambos, despertando
culpa por estes sentimentos. “Ver a dor e sentir-se impotente para promover seu
alívio e o bem-estar da pessoa amada é causa de muito sofrimento” (p.159).
Portanto, quando a morte ocorre concretamente pode haver, além da dor, alívio
e culpa, pois a pessoa pode achar que não tratou o outro da melhor forma
possível e com isso não evitou a sua morte. Pode surgir também uma sensação
de vazio, em casos de muitos anos de dedicação com o paciente, pois nenhuma
outra atividade tinha espaço. O vazio, a ambivalência e a culpa podem dificultar
o processo de elaboração de luto.
Lidar com a perda é muito doloroso. Como visto anteriormente na história
sobre a morte, na Idade Média a boa morte era aquela que permitia o preparo,
mortes repentinas eram desonrosas. Hoje, ao contrário do que acontecia na
Antiguidade, a boa morte é esta repentina, não percebida, e os sentimentos são
pouco elaborados em qualquer das situações.
Conforme ressaltado por Pitta (2003), a dor, a doença e a morte foram
interditas num pacto de costumes, aprisionadas e privatizadas no espaço
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hospitalar sob novos códigos e formas de relação, no qual as pessoas não
sabem o que dizer ou fazer.
Todos sabemos que inevitavelmente morreremos, mas não pensamos
nisso nem lidamos com isso até que aconteça conosco ou com alguém muito
próximo. Daí a importância dos ritos funerais, como o enterro, por exemplo, que
permitem que você veja a pessoa que faleceu e lhe ensinam que acabou, que
aquele é o fim. “Muitas vezes as pessoas têm essa impressão da morte, de ser
surreal, isso não está acontecendo; e se é rápido demais acho que aumenta
mais ainda isso” (sic). E os ritos atualmente são assim, rápidos demais,
discretos, o que também denuncia a incapacidade social de se lidar com a morte,
de expressar sentimentos. Acompanhar uma morte nos remete à nossa própria
finitude, e são vários os medos que a acompanham, estejam eles mais
conscientes ou latentes.
Fonte: www.nparh.com.br
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acadêmico do psicólogo caminhar rumo à responsabilidade social e
compromisso com a ética.
Atualmente, observa-se um aumento significativo no interesse pela
publicação de trabalhos referentes a formação, treinamento, prática e ética do
psicoterapeuta. Estudo realizado por Abreu, Piccinini, Cacilhas, Thahtman e
Thormann (2000), considerando trabalhos publicados em relação ao tema da
psicoterapia no Brasil, no período de 1980 à 1998, indica que, em relação ao
tema do exercício profissional, a maioria dos artigos objetivaram a questão da
ética. Os problemas apontados como graves nos estudos foram referentes ao
aspecto ético da confidencialidade, tais como danos a terceiros ou ao próprio
paciente, negligência e envolvimento sexual.
Para Contini (2001), a formação é considerada como o período de acesso
ao conhecimento teórico produzido pela ciência e de desenvolvimento da
aprendizagem básica sobre o fazer psicológico.
O psicólogo que trabalha em instituições de saúde, conforme Medeiros
(2002), deve pautar a sua postura pelo Código de Ética Profissional, bem como
agir conforme suas convicções pessoais, valores e princípios da formação
pessoal e profissional. Além disso, deve também estar atento aos valores éticos
que norteiam a comunidade. Para tanto, a ética envolve uma postura reflexiva e
de respeito à pessoa que se direciona para além da atitude coercitiva sobre a
moral ou do Código de Ética.
No entanto, de acordo com Capitão (2005), os códigos de ética não são
cristalizações eternas e imutáveis.
Os códigos nada mais são do que o resultado das reflexões sobre a
prática profissional, e, considerando a crescente abertura de novos campos de
trabalho para a atuação do psicólogo, é possível que os profissionais se deparem
com novas situações-limite que criem sérios dilemas éticos a serem discutidos.
Especialmente o psicólogo que trabalha na área da saúde, com pacientes que
convivem com importantes sofrimentos físicos, deverá estar bem preparado para
enfrentar situações difíceis sob o ponto de vista ético. Além disso, para que
nossa prática seja respeitada como ciência ante outros profissionais da equipe
de saúde, deslizes éticos, de qualquer natureza, não podem ser cometidos.
De acordo com Goldim (1998), uma formação não adequada compromete
o atendimento ao paciente, sendo a educação continuada e os treinamentos em
31
serviço formas eficazes de lidar com esse problema. A prática da psicoterapia
sugere que o psicólogo deva agir buscando a melhora do paciente e priorizando
os aspectos éticos de privacidade e confidencialidade das informações, no intuito
de estimular a sua autonomia e participação ativa no processo.
Outro aspecto referente à prática da psicoterapia nos serviços de saúde
é o acesso ao atendimento, destacando-se, nessa circunstância, o princípio da
justiça. As pessoas com menos disponibilidade de recursos financeiros muitas
vezes são atendidas por profissionais sem qualificação ou supervisão. Essa
questão sugere a necessidade de reflexão sobre os aspectos éticos envolvidos
na prática do psicólogo (Goldim, 1998). Dessa forma, pode-se refletir a quem e
para quem o atendimento psicoterapêutico encontra-se realmente disponível e
qual o critério para a oferta desse recurso.
O desenvolvimento da Psicologia da Saúde, assinalada por Gonzales Rey
(1997), estimulou o trabalho do psicólogo no âmbito da prevenção e da
promoção da saúde, o que possibilita a oferta de atendimento na rede pública.
Além disso, amplia a participação desse profissional em equipes
interdisciplinares, tanto em instituições de saúde como no trabalho comunitário.
A inserção do psicólogo na rede pública faz o profissional se deparar com
uma realidade psicossocial muito diferente daquela com a qual ele
provavelmente está acostumado. De acordo com Andrade e Morato (2004), em
função da diversidade emergente da população, a psicologia necessita acolher
a diferença presente nas comunidades. A postura ética trata-se da reflexão
advinda do desafio da prática, reconhecendo os limites, a efetividade, a
responsabilidade e o compromisso do psicólogo diante das demandas do
indivíduo na sociedade.
No que se refere ao trabalho do psicólogo nas instituições de saúde, um
risco para a confidencialidade relaciona-se ao registro no prontuário do paciente.
É dever do profissional manter atualizado o acompanhamento do paciente,
porém quais as informações que necessitam serem registradas e/ou omitidas?
Em relação à ética nos serviços de saúde, a hospitalização e a
institucionalização, muitas vezes não voluntária, podem restringir a autonomia
do paciente. Nesses casos, o psicólogo necessita levar em consideração o
contexto e a coerência ética integrada ao desejo do paciente (Goldim, 1998).
32
Em relação ao princípio da autonomia, Goldim (1998) salienta que o
terapeuta necessita estar atento no que concerne ao respeito às escolhas do
indivíduo e a sua liberdade de ação. No entanto, dependendo da etapa do ciclo
vital do indivíduo, a autonomia pode estar reduzida, como no caso das crianças
e adolescentes ou em decorrência de doenças orgânicas ou mentais, bem como
por condições sociais.
Para tanto, conforme Duarte (2000), é necessário estar atento às
questões éticas em investigação psicológica e aos direitos dos indivíduos que
participam voluntariamente de pesquisas e estudos em prol dos interesses,
avanços e benefícios do conhecimento científico.
As considerações e os delineamentos éticos da investigação psicológica
devem ser referência para as decisões metodológicas nas pesquisas em saúde.
Fonte: www.einstein.br
Ao longo dos séculos constatou-se que a medicina não era suficiente para
responder sozinha as muitas formas de manifestação do corpo humanos. O olhar
dos médicos deixava escapar algo que não se apresentava para ser curado e
sim para ser acolhido. A psicanálise neste contexto oferece o que tem de mais
valioso: a escuta.
Alberti (2000, p.49) invoca o pensamento lacaniano que caracterizou a
psicanálise como A última flor da medicina para dizer que, em um determinado
33
momento, a medicina observou que não podia tratar tudo. Lacan identifica a
psicanálise como o lugar onde a medicina podia encontrar refúgio, já que ela
teve que se deparar com o fato de que haviam sintomas que não tinham nada a
ver com o corpo, mas com o fato de o sujeito ser afligido pela linguagem.
É justamente com a presença da psicanálise no hospital que se possibilita
olhar o corpo doente de forma mais subjetiva, reconhecendo que o sintoma pode
ser uma pista de que há algo que não consegue ser enunciado de outra forma.
Ainda nos dias de hoje a psicanálise encontra certa dificuldade de
estabelecer uma elaboração teórico-prática que seja rigorosa fora do
chamado setting terapêutico tradicional, constituído de sala, divãs, móveis, etc.
Nota-se que o espaço hospitalar proporciona ao analista um campo para
o progresso de seus saberes. Neste campo, mais crítico pela urgência que se
apresenta, sua complexidade é ainda maior em função da possibilidade de
morte, dor, sofrimentos diversos, altas imprevistas, situações que requerem do
psicanalista, ali atuante, inovação e adaptação que levem em conta o lugar em
que estão acontecendo as intervenções. Alberti (2000) propõe um
aproveitamento deste ambiente onde tratamento e pesquisa se encontram, além
de um aprofundamento teórico permanente por parte do analista.
A indagação sobre o enquadramento ou local de trabalho traz consigo
uma bateria de interrogações.
Figueiredo (1997, p.112) recomenda que, independentemente do local, a
fala do paciente seja mantida e valorizada, usando a escuta como o principal
recurso terapêutico. Neste sentido, o setting não é tratado como um espaço real,
pois é ele virtual, ele é psíquico, é uma construção para que a análise aconteça.
Diante da ruptura no enquadramento, a psicanálise assume uma postura
engenhosa e criativa, reconhecendo que o local de atendimento será onde o
paciente estiver. Isso porque o ambiente, o horário e a duração do atendimento
são ressignificados quando afetados por uma clínica que inclui
o inconsciente. Preconiza-se que o inconsciente é atemporal e que seu
funcionamento é a posteriori. Quanto a isso, Moura (2000) corrobora que a partir
do momento em que o lugar do analista não é definido pelo espaço físico, mas
por aquilo que é sua função, ele é autorizado a sair do enquadre tradicional.
Segundo ela, a construção da função do analista depende fundamentalmente da
implicação dele com a psicanálise e com seu desejo.
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Outra dimensão importante no hospital refere-se ao trabalho em equipe.
Tal capacidade faz parte do ofício no hospital e vai exigir do analista uma certa
dose de destituição narcísica. Freud (1912, p.128) recomenda que o sentimento
mais perigoso para um psicanalista é a ambição de alcançar algo que produza
efeito convincente sobre outras pessoas, pois isso o coloca num estado de
espírito desfavorável para o trabalho, além de torná-lo impotente contra certas
resistências do paciente. Recomenda-se, também, que o analista invista em seu
processo de análise pessoal, já que ele também é constantemente implicado em
seu mundo psíquico.
Após dar entrada em uma instituição hospitalar, o paciente é absorvido
por ela, que assume o controle por praticamente todos os aspectos de sua vida.
Além da perda de controle, os pacientes passam por um fenômeno conhecido
como despersonalização, nele o sujeito se torna apenas mais um doente, perde
completamente sua identidade e subjetividade.
Fonte: www.diariodeburgos.es
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respostas, pareceres, diagnósticos e modelos de conduta. A resposta a estes
chamados se torna uma oportunidade de mostrar o que a psicanálise pode
promover neste espaço, pois esta não trabalha com a noção de cura, nem tem
como pretensão consolar o sujeito.
A presença da psicanálise em hospitais ainda suscita muitas questões.
Simonetti (2011, p.17) propõe pensar a psicologia hospitalar a partir dos
conceitos da psicanálise. Ele sugere que a psicologia hospitalar encontra suas
origens na psicanálise e na psicossomática [01] : “Ao que parece, a psicologia
hospitalar, que nasceu da psicossomática e da psicanálise, vem atualmente
ampliando seu campo conceitual e sua prática clínica, com isso criando uma
identidade própria e diferente”.
Então, sobre a experiência do adoecer, Freud em Sobre o narcisismo:
uma introdução, salienta:
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questões do sujeito, sendo que o que se oferece é um lugar vazio onde pode
surgir o desejo. Neste sentido entendemos que para o analista desenvolver seu
trabalho no contexto hospitalar, necessariamente precisa formalizar sua prática.
Indo mais além, as autoras indicam que o trabalho analítico está em ater-se as
produções da fala do sujeito, pois, de acordo com Freud, a fala é imprescindível
para fazer com que o paciente relance seu discurso, afinal fazer falar é uma
condição da escuta e é pela escuta que a fala se constitui.
Como vimos, no hospital o analista encontra certas variáveis que não
são comuns no consultório. Ele encara situações imprevistas, mas que ao
mesmo tempo convocam seu trabalho. Entre essas situações, podemos citar:
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perdida. Ele pode levar a psicanálise a se diluir entre tratamentos que
proponham exclusivamente a cura orgânica do paciente.
Machado (2011) determina que o lugar do psicanalista no hospital pode
ser abordado a partir de duas dimensões que não se excluem e, ao mesmo
tempo, se articulam. A dimensão clínica psicanalítica e a dimensão institucional.
A primeira se refere a ética, ao discurso e as especificidades da psicanálise. A
segunda dimensão diz respeito ao hospital com as variáveis institucionais,
espaço físico, obstáculos, equipe e situações de urgência. Desta maneira,
estamos lidando com duas dimensões que se articulam. Portanto, enfatizamos
que o lugar ocupado pelo psicanalista no hospital é entre a dimensão clínica e a
dimensão institucional.
Fonte:www.hospitalstacruz.com.br
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tornar a assistência a pacientes em fase terminal uma experiência apavorante
para muitos profissionais. E, quanto mais jovem o paciente, mais difícil lidar com
a situação. A morte é evento “previsível” para as pessoas idosas e, por isso, o
grau de aceitação da morte desses pacientes é maior, dado ser encarada como
a fase final do ciclo da vida.
A morte não atinge a equipe de saúde do mesmo modo, porque a
percepção da perda é determinada por fatores como idade, circunstância da
morte e, sobretudo, pelo grau de envolvimento com o paciente. Contudo, embora
a morte faça parte do contexto da vida e da rotina do ambiente hospitalar, os
integrantes da equipe multiprofissional de saúde – em geral – não estão
preparados para enfrentar a morte e lidar com a perda de pacientes.
Somente os indivíduos seguros em relação aos seus sentimentos, e com
atitudes naturais diante da vida e da morte, terão atingido o estágio que lhes
outorga capacidade de compreensão para auxiliar terceiros. Conforme
sustentam Costa e Lima, para que se possa dar assistência adequada aos
pacientes terminais, é necessário compreender as reações e comportamentos
que tanto os pacientes quanto os familiares podem apresentar diante da
proximidade da morte.
O paciente poderá reagir de várias maneiras em relação à sua doença e
à terminalidade de sua vida. Poderá aceitar ou negar; poderá ter o conhecimento
de que está morrendo, mas emocionalmente se sentir incapaz de aceitar; ou
poderá aceitá-la, mas não conseguir verbalizar a situação. Segundo Kübler-
Ross, o diagnóstico de uma doença potencialmente terminal é fator de
desestruturação psicológica, fazendo com que pacientes e familiares passem
por algumas fases emocionais características. Sem necessariamente constituir
um processo linear, de sequência rigorosa, já que nem todos os pacientes o
vivenciam da mesma forma, os estágios sistematizados por Kübler-Ross
permitem acompanhar o processo de morrer dos pacientes terminais, minorando
seu sofrimento.
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Fonte:gyperoladalua.blogspot.com
40
Fonte: cellulablog.wordpress.com
41
Fonte: lucasnicolau.com
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Fonte:veja.abril.com.br
43
Fonte:oceuenegro.blogspot.com
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6 BIBLIOGRAFIA
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EDIPUCRS.
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Kovács, M. J. (2002). Morte e desenvolvimento humano (4a ed.) São Paulo:
Casa do Psicólogo.
Kovács, M. J. (2003a). Educação para a morte: temas e reflexões (1a ed.) São
Paulo: Casa do psicólogo.
Medeiros, G. A (2002). Por uma ética na saúde: algumas reflexões sobre a ética
e o ser ético na atuação do psicólogo. Psicologia Ciência e Profissão, 22(1), 30-
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Parkes, C. M. (1998). Luto: estudos sobre a perda na vida adulta (3ª ed.) São
Paulo, Summus editorial.
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