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SUMÁRIO

1 SOBRE A MORTE E O MORRER ............................................................... 2

2 MORTE NO CICLO DE VIDA DA FAMÍLIA ................................................. 8

3 A MORTE E A PSICOLOGIA HOSPITALAR ............................................. 12

3.1 Intervenção do psicólogo hospitalar em processos de


terminalidade e morte ................................................................................... 19

3.2 O Valor da Experiência no Enfrentamento da Morte ................. 22

3.3 O cuidado da dor e sofrimento como direito fundamental ......... 25

3.4 Dor x Alívio em Decorrência da Morte ....................................... 28

3.5 A interface entre psicologia da saúde e bioética ....................... 30

4 A Psicanálise No Contexto Hospitalar ....................................................... 33

5 Proximidade da morte e a terminalidade humana ..................................... 38

6 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 45

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1 SOBRE A MORTE E O MORRER1

Fonte: pensamentoliquido.com.br

Cada época, a seu modo, influencia o sujeito na forma de pensar e de


agir. Assim, o sentido de morte não é universal, e não se opera no vazio. Além
de ser um fenômeno biológico natural, a morte contém um aspecto simbólico.
Neste sentido, qualquer visão do significado da morte será multifacetada,
composta por fatores predeterminantes de ordem cultural, histórica, ética,
religiosa e psicológica. A interação desses fatores contribui para tornar ainda
mais complexa e abrangente qualquer tentativa de compreensão da morte e do
morrer. Além disso, a forma como a morte é encarada tem influência direta sobre
a forma de seu enfrentamento.
Segundo Morin (1970), a consciência da morte não é algo inato, é um
conhecimento do indivíduo, aprendido. Sendo o saber da morte exterior, produto
de uma consciência que capta o real, o homem é surpreendido pela morte. Na
época medieval os homens eram avisados de sua morte por sinais naturais ou
uma convicção íntima, e assim podiam se preparar; havia tempo para
lamentações, queixas da vida, perdão dos companheiros, orações, absolvição.

1 Texto extraído do link:


https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/223/Giaretton_Daynah_Waihrich_Leal.pdf?seque
nce=1&isAllowed=y

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Mortes repentinas eram desonrosas. O homem, ainda integrado à natureza,
aceitava a morte como uma das grandes leis da espécie, sobre a qual não podia
intervir. Os ritos contemplavam uma cerimônia pública, organizada pelo próprio
moribundo, com a participação das crianças. A morte ocorria no leito, era
simples, familiar, próxima, por isso denominada morte domesticada. Contudo, o
mundo dos vivos deveria permanecer separado do dos mortos, com o intuito de
facilitar o percurso dos mortos até o céu e evitar a contaminação física (pela
decomposição dos corpos) e psíquica (visita dos mortos); destarte, os cemitérios
situavam-se fora das cidades (Ariès, 1989).
No final da Idade Média e nos séculos XVI e XVII o corpo dos mortos era
confiado à igreja. Os cemitérios ficavam nas cidades, o que demonstra que as
pessoas estavam familiarizadas com os mortos, bem como com a sua própria
morte (Ariès, 1989). A partir do século XII surge a preocupação com o Juízo
Final. Este era individual e particular, portanto trazia inquietação, ao contrário da
segurança e tranquilidade promovidas pelo rito coletivo descrito acima.
O homem tomou melhor consciência de sua individualidade; as
particularidades de cada biografia eram analisadas e avaliadas, e essa revisão
adquiriu um caráter dramático, uma carga emocional que antes não possuía. O
apego às coisas e aos seres possuídos durante a vida era considerado a grande
tentação. Encontra-se presente uma aversão à decomposição, que adquiriu um
sentido macabro, de ruína do homem. Nesse período, o corpo passa a ser
escondido nos caixões, pois é insuportável aos olhos. Ressurgem as inscrições
funerárias, significando o desejo de conservar a identidade do túmulo e a
memória do desaparecido.
O uso da cor preta como simbolização do luto data do paganismo.
Relacionava-se com o horror dos mortos, como um disfarce para o fantasma do
morto. O preto contém também o simbolismo da noite e a ausência de cor para
expressão do abandono e da tristeza. Esta cor facilita a lembrança de que
ocorreu uma perda, e poderia sugerir às outras pessoas que tivessem uma
atitude especial em relação à pessoa enlutada e evitassem falar de coisas que
poderiam magoá-la. A cor não só demonstrava tristeza, mas também criava paz
e serenidade interiores.
No século XIV a expectativa de vida era muito baixa. Havia muito
sofrimento e vulnerabilidade, a guerra e a peste matavam ao mesmo tempo, a

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Inquisição começou a usar a tortura e a morte como instrumentos oficiais de
política administrativa. A morte passou a ser considerada o castigo de Deus para
os homens, “um terror físico e teológico”. A morte não podia ser controlada pelo
sistema tecnológico nem pelo pensamento racional, era utilizada como material
para manipulação criativa pela arte e literatura.

Fonte: psiconaenfermagem.blogspot.com

A partir do século XVIII a morte passa a ser exaltada, o homem preocupa-


se menos com a sua própria morte, e a morte romântica é a morte do outro, sua
lamentação e saudade. A morte comove, é admirada pela sua beleza,
considerada um sublime repouso, eternidade e possibilidade de reencontro com
os entes queridos já falecidos.
No séc. XIX passa a ocorrer um exagero do luto, evidenciando que a
morte do outro é mais temida que a de si mesmo. Os cemitérios saem da igreja,
devido à falta de espaço e preocupação com a higiene e saúde, e vão para fora
da cidade. As pessoas passam a visitar os cemitérios, evocam o morto e cultivam
sua recordação, conferindo a ele uma espécie de imortalidade. Este século
também marca o surgimento do espiritismo, ligado a uma expectativa de vida
futura.
Diante desse sentimento de intolerância da morte do outro, passou-se a
esconder do doente a gravidade de seu estado, com o intuito de poupá-lo.

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Procurou-se evitar o incômodo e a emoção forte não somente do doente, mas
de toda sociedade, pois a vida deve parecer ser sempre feliz. Entre 1930 e 1950
a morte deixa de acontecer em casa e é transferida para os hospitais, que
proporcionam os cuidados mais adequados.
Os hospitais, que outrora funcionavam como asilo, converteram-se em
centros de cura, onde se luta contra a morte. O indivíduo morre só, e a própria
equipe define o momento de seu falecimento.
A morte foi dividida em cerebral, biológica e celular. São vários os
aparelhos destinados a medir e prolongar a vida. A morte não é mais
considerada um fenômeno natural, e sim fracasso, impotência ou imperícia, por
isso deve ser ocultada. O triunfo da medicalização está, justamente, em manter
a doença e a morte na ignorância e no silêncio. Neste mundo em que impera a
produção mercantilista, o adoecer torna-se vergonhoso, pois o indivíduo deixa
de produzir e, com isso, é excluído e ocultado.
A boa morte atual é a que era temida na Antiguidade, a morte repentina,
não percebida. Os ritos procuram ser imperceptíveis, o mais discreto possível,
evitando o pretexto para as emoções. Procura-se não exteriorizar os sentimentos
para não assustar as crianças, evita-se chorar em público. Não há mais
manifestações aparentes de luto, este é solitário e envergonhado, é um luto
privatizado. Já não há mais o hábito de visitar o túmulo, cresce o número de
cremações. A neutralização dos ritos funerários e ocultação da morte fazem
parte dessa incapacidade social de se lidar com ela.
O homem na contemporaneidade, caracterizada pela valorização do
conhecimento científico imerso no contexto capitalista e materialista, busca
respostas invisíveis para a morte e simultaneamente anseia por tecnologias
fúteis para retardar o fenômeno natural do morrer (MONTANARI; OLIVEIRA,
2010).
A morte por ser integrante do ciclo de vida humano é uma certeza absoluta
e a aceitação dela por parte do paciente, da família e equipe de saúde facilita os
cuidados paliativos, e esses, não aceleram e nem adiam a morte. E é através da
escuta, da comunicação, da atenção e tecnologias medicamentosas que se
busca auxiliar no alcance do conforto (OLIVEIRA et. al., 2010). A filosofia
paliativista parte da ideia que se não é possível curar, é possível cuidar. Consiste

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em uma tecnologia leve e de grande impacto interpessoal no resgate da
humanização nas ações em saúde (BORGES; MENDES, 2012).
A morte representa a interrupção definitiva da vida e o morrer o intervalo
em que a patologia se torna irreversível e a letalidade o resultado da mesma
(AZEREDO et. al., 2011).

Fonte:familia.patriarcado-lisboa.pt

O fato de estar diante da morte têm implicações para os profissionais da


saúde, como: confronto com a morte do outro, o cuidado direto com o paciente
terminal o contato com a própria finitude e as perdas e lutos vividos
individualmente e/ou coletivamente pelos membros da equipe de saúde. O que
faz daquelas gerar reflexões e sentidos para o profissional que está em um
constante aprendizado, a respeito dos sofrimentos diante das perdas, do
autoconhecimento, da sensibilidade e da compaixão frente ao outro e do
aprimoramento de estratégias para o enfrentamento da transição da vida para a
morte (RODRIGUES; ZAGO, 2012). Estudo (RODRIGUES; ZAGO, 2012) mostra
que é no óbito do outro que é possível refletir e buscar definições que tentam
significar o fenômeno do morrer. Um dos possíveis significados abrange a
religiosidade, com suas diversificadas crenças, sentidos, identidades e
disposições éticas que podem constituir sistemas de referências estruturantes
nos seres humanos.

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Não se podem desvalorizar os vários recursos disponíveis na tentativa de
manutenção e recuperação da vida, mas também se faz necessário discutir e
abrir espaço para novas reflexões sobre o assunto da morte.
O óbito pode ser entendido pela vivência dos profissionais da saúde
através da expressão de sentimentos diante da terminalidade do outro, essas
emoções despertadas incluem a sensação de fracasso, perda, impotência,
tristeza e medo. A equipe de saúde é composta por pessoas que expressam
suas limitações e emoções na rotina de trabalho. Pois, se trata de uma situação
em que o ser humano luta constantemente com suas defesas na tentativa de
distanciar-se do inevitável contato com a morte.
Ao questionar a morte e o morrer, inevitavelmente fala-se de vida, pois
são assuntos complementares e não contrários. Trazendo à tona este tabu,
espera-se uma mudança nos parâmetros de comportamento individuais e da
sociedade. Assim, pode ser que, ao lidar melhor com a morte, o homem resgate
a alegria de viver, em uma sociedade marcada pelos altos índices de depressão.
Sendo a morte um tema polêmico, configura-se como um campo de estudos fértil
para a psicologia como reflexão, ciência e prática.

Fonte: www.osul.com.br

Destarte, uma vez que o significado das coisas tem um papel organizador
nos seres humanos, é crucial a investigação sobre o tema da morte para o
psicólogo hospitalar, já que está circunscrita em sua atuação profissional
cotidiana, influenciando a qualidade de vida do trabalhador, e a maneira como
ele interage na sua atividade laboral.

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2 MORTE NO CICLO DE VIDA DA FAMÍLIA

Fonte: uptokids.pt

A família, ao longo de sua evolução através do ciclo vital, experiencia


momentos distintos em sua formação e desenvolvimento, que passam por
transições, crises e adaptações, situações que junto das características
individuais de cada um de seus membros definirão os modos como essa família
se organizará e significará a si própria.
Alguns estudos nacionais e internacionais mostram que a família
desempenha um papel chave na significação da morte e, fundamentalmente, na
elaboração do luto. Isso porque, muitas das concepções e modos de
enfrentamentos presentes na vida dos indivíduos são desenvolvidas ao longo da
convivência familiar, na medida em que compartilham experiências, sentimentos,
afetos, significados, ou seja, na medida em que coexistem.
De acordo com Gudmundsdottir e Chesla (2006), embora uma perda afete
todos os indivíduos da família de modo distinto, em suas interações diárias eles
compartilham a experiência do luto e, assim, afetam uns aos outros não só em
suas práticas, mas também em seus discursos e relações. Esses autores
desenvolveram um estudo com sete famílias, totalizando 15 genitores que
perderam seus filhos. Como resultado, obtiveram que, diante do luto, cada
família desenvolveu sua própria prática de significação e elaboração da perda,
uma vez que o apoio cultural e da sociedade foram relatados como insuficientes

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para auxiliá-los diante desse sofrimento. Não obstante, apontam que, a despeito
da família ser apresentada como um meio importante para a superação da perda,
poucos são os pesquisadores que enfatizam o papel do funcionamento familiar
nestas experiências.
Corroborando as considerações de Gudmundsdottir e Chesla (2006),
verificou-se que, entre os estudos que abordam as experiências de morte e luto
no interior das famílias, há predominância daqueles que enfatizam o impacto da
morte de um dos membros da família nuclear, em detrimento dos que buscam
compreender como a família se organiza diante das perdas. A fim de exemplificar
alguns dos estudos encontrados, a seguir serão descritos alguns deles e suas
implicações.
De acordo com Brown (2001), ao se levar em consideração os fortes
vínculos existentes entre as pessoas de um círculo familiar é possível verificar
que a perda de um dos seus integrantes é uma das mais árduas adaptações
experienciada por uma família. Tanto, que dependendo de quem morre, é
possível até mesmo a ocorrência de uma ruptura no grupo familiar, podendo
chegar ao extremo de um ou mais de seus membros não conseguirem completar
suas tarefas ao longo do ciclo vital (Brown, 2001).
Conforme apontam Bromberg (1994) e Brown (2001), a fim de se obter
uma melhor compreensão acerca dos efeitos do luto dentro do círculo familiar é
preciso considerar uma série de aspectos que incluem:
a) a relação existente com a pessoa que morreu e o quanto ela era
significativa dentro da família;
b) a idade e o gênero;
c) a natureza da morte (acidente, doença, repentina);
d) as vulnerabilidades pessoais;
e) o contexto social e étnico da morte; e
f) a história de perdas anteriores.
Nessa mesma direção, Parkes (1998) acrescenta que, a previsibilidade e
a imprevisibilidade, bem como as oportunidades de preparação para a perda
também podem afetar a intensidade e magnitude da reação ao luto, uma vez que
a morte tranquila e silenciosa de um idoso acarreta em um sofrimento distinto
daquele decorrente de uma morte trágica e repentina de um jovem.

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Fonte: amarassist.com.br

A morte de crianças e adolescentes são as que provocam maior ruptura


e crises na família, uma vez que a morte de um filho é considerada uma grande
tragédia, por parecer se tratar de algo não natural e fora de lugar no curso de
vida, o que gera sentimentos de frustração, impotência, dor, tristeza, sofrimento
e intensa angústia.
A maioria dos pais vê o filho como sua própria extensão e, muitas vezes,
projeta nele os seus sonhos e esperanças, de modo a perder parte de si mesmo
quando ele morre (Brown, 2001). Sentem-se fracassados por julgarem que seu
amor não foi suficiente para evitar a morte do filho e é comum o sentimento de
culpa por ainda estarem vivos, contrariando a expectativa natural de morrerem
antes (Oliveira e Lopes, 2008).
Além de ser impactante para os genitores, a morte de uma
criança/adolescente também influencia a vida dos irmãos que vivenciam tal
perda. Em algumas ocasiões, os pais se fecham em sua própria dor,
esquecendo-se que o filho que ficou também necessita de suporte emocional
neste momento.
Já o impacto da morte de um adulto irá depender da fase do
desenvolvimento na qual a família se encontra. Quando os filhos são
independentes ou têm suas próprias famílias, o cônjuge sobrevivente é quem
terá maiores dificuldades em lidar com a situação.
Nesta etapa do desenvolvimento, a maioria dos casais está
experienciando menos responsabilidades e disponibilizam um tempo maior para

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aproveitarem um ao outro. Assim, quando um dos cônjuges morre, aquele que
fica precisa reorganizar sua vida, de modo a passar seus últimos anos sozinho
ou iniciar um novo relacionamento. Quando há forte dependência emocional, a
morte de um dos cônjuges pode levar o que continua vivo a um desespero tão
intenso a ponto de cometer suicídio, ou desenvolver doenças graves devido ao
sentimento de perda emocional do próprio eu.
O peso de uma perda não aceita ou não resolvida pode se tornar um fardo
para a geração seguinte, levando à repetição de padrões familiares, com efeitos
limitadores ou incapacitantes para a família. Para a autora, quando a morte é
conflituosa, quando há um acúmulo de perdas ou quando a morte é cercada de
sigilo, a recuperação da família e de seus membros é prejudicada, pois, “a morte
sempre deixa um legado, quer ele seja de fortalecimento ou de trauma, que fecha
um sistema e distorce os relacionamentos dos sobreviventes”.
O equilíbrio da família e de cada um de seus membros ao vivenciarem
uma perda e um processo de luto associa-se à capacidade da família em manter
relacionamentos significativos, em não transformar a dor e a culpa em tabu ou
segredo, e em manter a flexibilidade, necessária à adaptação e à ressignificação
da vida após a etapa do luto.
Para os autores, o segredo e o tabu que ainda cercam a morte costumam
resultar em alto custo emocional que, ao invés de proteger os membros da
família, apenas evidenciam o terror de não se conseguir lidar com as
consequências da perda.

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3 A MORTE E A PSICOLOGIA HOSPITALAR

Fonte: www.psicolog.com.br

A considerável evolução da medicina nas últimas décadas, com a


sofisticação das técnicas de diagnóstico e tratamento, possibilitou uma melhoria
da qualidade de vida do doente e contribuiu para modificar a relação do homem
com seu corpo e sua vida. O trabalho do profissional de saúde é socialmente
valorizado na cultura ocidental pela ajuda e assistência dada a quem está
sofrendo.
O hospital existe para a cura, entretanto, ali a morte se faz presente a todo
instante. Esta constatação, por sua vez, muitas vezes é fonte de angústia. Aliada
a essa rotina de grande exigência emocional em função da proximidade com a
dor e a morte, a precária situação do sistema de saúde brasileiro intensifica o
sofrimento do profissional de saúde, visto que este se depara cotidianamente
com insuficiência de recursos humanos, baixos salários, precariedade de infra-
estrutura, falta de medicamentos, entre outras situações (Pitta, 2003; Bruscato,
2004).
A morte no ambiente hospitalar é identificada como fracasso da instituição
e do profissional. É negada de diversas formas: pela linguagem, através da
substituição do termo morte por outras palavras (como óbito ou parada cardíaca);
pela postura de onipotência, indiferença e afastamento dos profissionais, que
procuram agir isentos de envolvimento emocional como mecanismo de defesa;
no ensino da área de saúde, a ênfase é colocada na técnica, em detrimento do

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aspecto emocional do paciente. Combinato e Queiroz (2006), citando Capra
(1982), pontuam que a “explicação da ciência sobre a morte (ou sobre o não-
ser) está situada na perspectiva biologicista do modelo biomédico, ou seja, ´a
morte consiste, simplesmente, na paralisação total da máquina-corpo`” (p.213).
A medicina contemporânea negligencia os aspectos psicossociais do
processo saúde-doença. A vida biológica foi aumentada, mas muitas vezes
ocorre a morte social, com isolamento, abandono e uma vida de perdas. Assim,
no adoecimento são potencializados angústias, medos, inseguranças, raivas,
revoltas, não só para doentes e familiares, mas também para o próprio
profissional da saúde, sempre preparado para a cura, mas em constante tensão
diante da morte.
Nesse sentido, o psicólogo hospitalar tem como foco de sua atuação a
subjetividade da tríade paciente - família - equipe de saúde, servindo como
mediador das relações, considerando o homem como um ser integral e
sistêmico, que abrange os aspectos biopsico-afetivo-cultural e espiritual.
O homem não é só um corpo, e diante da urgência orgânica que leva à
hospitalização, surge também uma urgência psíquica, e é nesse contexto que o
psicólogo hospitalar realizará o seu trabalho, perpassado por uma questão
central: a morte e as várias formas que o sujeito encontra para lidar com essa
possibilidade (Granha, 2000).
Segundo Oliveira (1998), quando o sujeito está internado no hospital:

o doente torna-se um paciente, sem trocadilhos, uma pessoa resignada


aos cuidados médicos, que deve esperar serenamente a melhora de
sua doença. Esse paciente, desnudado por uma instituição total, perde
sua identidade, transforma-se em número, em um caso clínico, deixa
de ser responsável por si mesmo, sua doença e vida. O paciente é
vulnerável, submisso e dependente.

No hospital, não apenas seu corpo, mas tudo o que significa o controle da
própria existência passa a ser controlado pela equipe de saúde, e a família,
cuidador original, atua como mero expectador. Diante de tantos estressores,
podem surgir mecanismos de defesa como a regressão e o calar-se, sendo que
este é bem visto pela equipe, já que o bom paciente é aquele que aceita as
orientações médicas sem questionar (Oliveira, 1998).
O psicólogo hospitalar não participa diretamente no tratamento clínico, de
forma que seu papel com o paciente é diferente em relação ao dos demais

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profissionais. Sua atuação é voltada à atenção a pessoa integral, procura dar
voz ao sujeito hospitalizado, possibilitando a compreensão e o tratamento dos
aspectos psicológicos, permitindo a abertura de um canal de contato com a
equipe.

Fonte: www.aegeanews.gr

Diante de um paciente terminal, fora de possibilidades terapêuticas,


percebe-se que a equipe de saúde, em sua maioria, tenta aplacar sua angústia
empregando um modo impessoal no tratamento: utiliza termos técnicos que
inviabilizam o entendimento real da situação do paciente, de modo que ele fica
perdido na linguagem científica; ou emprega expressões amenas (como melhora
sensível, resultados são lentos, exames estão se normalizando, etc.).
Essas posturas de negação, falso otimismo, superproteção e
intelectualização podem ser encaradas como processos contra transferenciais
diante do indivíduo que está morrendo. O que impera são as decisões da equipe,
o querer do paciente já não é mais próprio. É como se não fosse dada a esse
“sujeito passivo” (ou objeto?) a oportunidade de elaborar suas autênticas
possibilidades, apoderando-se de seus recursos de enfrentamento para revelar-
se como um ser-para-a-morte ( Kovács, 2002).
Os membros da equipe muitas vezes não se permitem olhar para sua
condição de seres humanos, sua vulnerabilidade, suas limitações, e aceitar sua
própria mortalidade.

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A síndrome do esgotamento profissional, ou burnout, é um exemplo a que
está sujeito o profissional da saúde que lida com o sofrimento alheio, sem que
esteja, muitas vezes, preparado para enfrentar tal situação. A participação do
psicólogo na equipe e nas discussões clínicas permite que ele forneça dados a
respeito da dinâmica do paciente e de sua família e, assim, colabore na
completude do diagnóstico e na decisão de condutas.

Fonte: posfg.com.br

A prática colaborativa entre membros de uma equipe interdisciplinar é


essencial, considerando-se a oportunidade de compartilhar as questões que
permeiam o ambiente hospitalar, desencadeadoras de desgastes e que dizem
respeito a valores humanos, respeito e dignidade aos pacientes. Ainda, que a
natureza do trabalho, ao lidar com dor, sofrimento e morte, influencia a produção
de sintomas psíquicos. Segundo a autora, a compreensão da satisfação ou
adoecimento pelo trabalho pode estar no conhecimento do psicodinamismo da
pulsão de morte, que pode ter três distintos destinos:
 a confusão apaixonada, que “se traduz pela componente
apaixonada do projeto, do qual a pulsão de vida (sexual) é o mestre de
obras” (p. 75);
 a realização pulsional pela percepção, no qual o indivíduo se coloca
em contato com o horror e o sofrimento, e a profissão funciona como
um álibi de um gozo secreto através da percepção de certas situações
sádicas;

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 sublimação, pela criação da forma como as situações serão
percebidas, no qual o sujeito utiliza-se da reparação de suas
representações mentais, deslocando-as para objetos e finalidades
valorizados social e narcisisticamente.
No hospital, o psicólogo se depara com situações inesperadas,
acontecimentos que podem destituir o sujeito de seu ancoramento significante,
emergindo a angústia e o desamparo.
O adoecimento pode ser visto como um momento de crise, no qual são
vivenciadas inúmeras situações de perda – de sua rotina e hábitos; da condição
de saúde para a doença; da autonomia e independência; afastamento da família
e do trabalho; da condição de “inteiro” para uma cirurgia, que pode deixar
marcas, cicatrizes, mutilações, ou ainda causar a morte da pessoa. Assim, o ser
humano, que já nasce incompleto, ao adoecer revela sua falta a ser de forma
escancarada, revelando sua fragilidade, para si e para os outros. Frente a essas
rupturas, a morte ocupa o lugar do interdito, sendo encarada como vergonhosa,
o que dificulta sua elaboração (Moura, 2000; 2003).
Para a psicanálise, essa ruptura causada pela hospitalização e os
sentimentos decorrentes dessas perdas pode ser associada à castração. Este
corte abrupto na cadeia de significantes do sujeito remonta à sua certeza
vacilante, à falta de garantia. Por outro lado, a “tão temida” morte pode ser vista
como uma possibilidade para o alívio do sofrimento vivenciado pelo indivíduo
hospitalizado, já que é a única capaz de suprimir todas as exigências do homem,
ser desejante. Ora, se a vida passa a oferecer mais desgosto que gratificações,
e o futuro parece desolador, a morte surge como um alívio.
O psicólogo passa cotidianamente por essa experiência de ocupar o lugar
de morto em sua atividade profissional, visto que precisa se despir de seus
ideais, valores, vaidades e sentimentos para exercer sua função. Essa postura
adotada no espaço dialético do atendimento psicoterápico favorece que o
psicólogo possa, a todo instante, rever posições e mudar crenças, desconstruir
verdades, auxiliando a evolução da cultura, impulsionando o movimento da vida
(Rodrigues, 2000).
Diante da complexidade do luto, o profissional da saúde que lida com este
processo também é afetado, uma vez que é difícil ajudar ou se sentir ajudando
a pessoa enlutada, o que pode ocasionar frustração e/ou raiva. Por outro lado, o

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profissional pode se sentir desconfortável ao testemunhar a dor da pessoa,
abreviando o contato. Worden (1998) explicita esta situação citando dois
autores:

A perda de uma pessoa querida é uma das experiências dolorosas


mais intensas que qualquer ser humano pode sofrer, e não só é
dolorosa como vivência, mas também dolorosa para ser
testemunhada, apenas pelo fato de sermos impotentes para ajudar
(Bowlby, 1980, p.7).
A dor é inevitável neste caso e não pode ser evitada. As duas partes
têm consciência de que nenhum pode dar ao outro o que o outro quer.
A pessoa que ajuda não pode trazer a pessoa falecida de volta, e a
pessoa enlutada não pode gratificar aquela que ajuda demonstrando
estar sendo ajudada (Parkes, 1972, p.163).

O psicólogo, como integrante da equipe de saúde, cuida do sofrimento


alheio e, muitas vezes, não têm espaço para cuidar da sua dor, acarretando o
seu próprio adoecimento.
Worden (1998) pontua que além de desafiar a necessidade de ajudar,
trabalhar com a pessoa enlutada pode atingir o profissional de outras maneiras:
tornando-o consciente de suas próprias perdas, muitas vezes de forma dolorosa;
gerando apreensão em relação às perdas temidas; ocasionando ansiedade
existencial e a consciência da própria morte; ferindo seu narcisismo e
onipotência. Assim, é importante que o profissional da saúde procure resolver
seus conflitos, conscientizando-se de suas limitações quanto aos tipos de
pacientes e tipos de situações de luto que pode trabalhar. Muitas vezes diante
da morte de um paciente, cabe ao psicólogo hospitalar colocar-se a disposição
da equipe de saúde e/ou dos familiares, utilizando-se de sua escuta diferenciada,
o discurso do silêncio, o estar junto.
Considerando-se que a inserção do psicólogo no ambiente hospitalar deu-
se em 1954 e, portanto, é recente, vale destacar que sua formação ainda é falha
em relação aos subsídios teóricos que possam embasá-lo em sua prática
institucional, visto que a atuação no modelo clínico ainda é hegemônica. Nessa
perspectiva, o psicólogo percebe que no contexto hospitalar os ensinamentos e
leituras teóricas de sua prática acadêmica não serão suficientes para embasar
sua atuação, e aprende que terá de aprender aprendendo, com os pacientes,
sua dor, angústias e realidade, e o paciente de modo peculiar ensina ao
psicólogo sobre a doença e sobre como lidar como a própria dor diante do
sofrimento (Camon, 2003, p.3).

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Fonte: encenasaudemental.net

Falando sobre a morte, isto se torna mais evidente, visto que é um tema
complexo, pouco discutido, no qual a teoria fala pouco da realidade vivida. Sirlei
(2008) em sua pesquisa sobre a representação da morte para o profissional da
psicologia hospitalar elenca como aptidões necessárias para o psicólogo ante a
iminência de morte: autoconhecimento e consciência de suas limitações; que o
profissional tenha para si bem elaborado a morte e o controle de suas emoções;
conhecimento teórico; supervisão de outro profissional de psicologia; atitudes
como doação, compaixão, acolhimento, empatia, aceitação. Diante do panorama
geral que essa breve sistematização de literatura pôde permitir, constata-se que
o contato próximo com a morte exerce um grande impacto no trabalho dos
profissionais da saúde, podendo ou não trazer prejuízos para suas vidas
profissionais e pessoais.
O presente estudo não se propõe a dar conta da complexidade do
fenômeno da morte; pretende suscitar reflexões sobre como ela afeta as
relações no dia a dia do psicólogo hospitalar, levando-se em consideração as
dimensões éticas, e a teoria versus prática.

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3.1 Intervenção do psicólogo hospitalar em processos de terminalidade e
morte

No ambiente hospitalar, em situações de terminalidade e morte, o


processo psicoterápico deve enfatizar a expressão dos sentimentos, a melhora
da qualidade de vida e a facilitação da comunicação (Kovács, 1992). Beneficiam-
se, dessas intervenções, tanto a pessoa em processo de terminalidade quanto
seus familiares, o que diminui a probabilidade de ocorrência de sintomas
psicopatológicos futuros, como depressão e ansiedade, decorrentes da perda ou
luto não elaborados (Bowlby, 1998; Brown, 2001).
O ritual de despedida entre familiares e pacientes contribui tanto para a
prevenção do surgimento desses sintomas psicológicos quanto para a
reaproximação da família e para a definição de questões do relacionamento
familiar que estejam pendentes (Bowlby, 1998; Imber-Black, 1998; Lisbôa &
Crepaldi, 2003). A partir dele, é possível abrir espaços para o compartilhamento
de sentimentos entre os membros da família, incluindo as crianças nesse
processo (Bowlby, 1998; Walsh & McGoldrick, 1998).
A morte de pessoas gravemente enfermas, no contexto hospitalar, pode
ser considerada previsível, de forma que o próprio paciente “prepara-se”
psicologicamente para esse evento, assim como seus familiares (Brown, 2001).
As doenças progressivas, como o câncer em situação avançada ou não, trazem
a expectativa de morte dentro de um período de tempo, permitindo que alguns
planejamentos familiares sejam revistos, favorecendo a intervenção psicológica
(Parkes, 1998).
As neoplasias indicam um modelo de doença integral, por refletirem a
pessoa enferma em suas relações pessoais, sociais e familiares (Moreira & Mello
Filho, 1992). Portanto, nessa perspectiva deve-se pensar na pessoa com câncer
como a expressão de um sujeito dentro de um contexto de vida com sua
construção histórica e sua rede de relações e significados.
O câncer, que corresponde à segunda causa de mortes no Brasil,
perdendo apenas para as doenças cardiovasculares é, na verdade, “o nome
genérico de um conjunto de mais 200 doenças distintas, com multiplicidade de
causas, formas de tratamento, e prognósticos” (Borges e cols., 2006, p. 363).
Embora se saiba que as neoplasias são multideterminadas, em alguns grupos

19
sociais há uma associação do câncer como enfermidade punitiva, com
conotação moral e religiosa (Aquino & Zago, 2007).
Esse sentimento de culpa parece relacionar-se ao fato de a doença ser
percebida como punição em diversas culturas, conforme indicam Sebastiani e
Maia (2005). Como estratégia de enfrentamento da doença, a religião também
gera alívio ao sofrimento, oferece o conforto que toma o espaço da fatalidade.
Isso se relaciona ao fato de que a explicação oferecida sobre a doença pelos
sistemas religiosos se aproxima mais do contexto sociocultural dos pacientes do
que aquelas explicações, muitas vezes de uma forma reducionista, oferecidas
pela medicina. Em virtude disso, é importante que os profissionais da saúde –
destacando-se dentre eles os psicólogos – levem em conta a religiosidade do
sujeito enfermo ao planejar e executar suas intervenções, contribuindo para a
manutenção de uma relação de respeito e confiança com essa clientela (Aquino
& Zago, 2007).
O psicólogo pode estender sua intervenção à equipe profissional da
instituição, ao invés de restringi-la apenas ao doente e aos seus familiares.
Frequentemente membros da equipe mobilizam-se em situações de
terminalidade e morte de pessoas hospitalizadas. Em uma unidade cirúrgica, por
exemplo, a equipe de saúde busca salvar vidas de forma heroica, assim, o
paciente inoperável e a cirurgia não curativa representam, para eles, um fracasso
(Parkes, 1998).

20
Fonte: abrale.org.br/revista-online

A perda do ente querido é dolorosa para quem a experimenta e para quem


observa, pelo sentimento de impotência gerado. Além disso, o trabalho do
psicólogo junto aos outros profissionais deve ocorrer no sentido de uma
participação ativa na definição de procedimentos e tratamentos a serem
realizados. Para que a prática profissional do psicólogo em ambientes
complexos – como é o caso do hospital, onde atuam profissionais de diferentes
formações e especialidades – seja bem-sucedida, é imprescindível que o
relacionamento entre os membros da equipe seja caracterizado por um diálogo
cooperativo e aberto, no qual haja objetividade e clareza na proposição e
justificativas de procedimentos técnicos relativos a cada especialidade (Tonetto
& Gomes, 2007).
Contudo, parece haver algumas limitações que acarretam lacunas no
estabelecimento de relações profissionais com essas características. De acordo
com os resultados do trabalho desenvolvido por Gonçalves (2007), embora os
profissionais reconheçam a necessidade de atuação de diferentes áreas no
trabalho em equipes de saúde, eles demonstram apresentar dificuldades na
ação interdisciplinar na prática cotidiana.

21
3.2 O Valor da Experiência no Enfrentamento da Morte

Fonte:lacrestadelaola2028.blogspot.com

No começo da atuação profissional do psicólogo hospitalar, é tudo muito


novo - o setting, o ir ao encontro do cliente, a maneira de abordar, a atuação
multidisciplinar, os termos médicos, as diversas patologias – o que gera uma
insegurança (mais que natural) no trabalhador. Além disso, a psicologia
hospitalar talvez seja a única área da psicologia que tem uma proximidade tão
grande com a morte, pois dificilmente na clínica o profissional perde de fato um
paciente e, caso isso aconteça, provavelmente ele não morrerá na frente do
psicólogo, o que acontece concretamente no ambiente hospitalar. Dessa forma,
o psicólogo hospitalar precisa saber lidar com a morte.
Nos primeiros casos de falecimento que acompanha, é comum que o
profissional fique paralisado, com “vontade de chorar e sair correndo” (sic),
querendo dar conta daquele fenômeno, ter uma atuação que aplaque a morte, o
que é impossível. “A gente tem que ser humilde diante da morte, o máximo que
eu posso fazer é dar um apoio, eu não tenho como tirar aquela dor, eu tenho
como tentar evitar o trauma, se eu deixo essa pessoa se expressar, se eu tento
desculpabilizá-la, se eu mostro sensibilidade, se eu não deixo ela desamparada,
se eu não abandono ela nessa hora...” (sic).
Isso nos remete ao que foi colocado por Worden (1998) sobre a
dificuldade do profissional de saúde em acompanhar o luto de outras pessoas.
Em relação a esse não abandonar, percebemos na atuação hospitalar que

22
muitas vezes o paciente fica desamparado, ou por seus familiares ou até mesmo
pela própria equipe, nos casos em que se encontra fora de possibilidades
terapêuticas. A revisão bibliográfica mostrou que a morte é vista pela instituição
como um fracasso e que a cultura biomédica, ainda dominante, foca-se em
prolongar a vida biológica em detrimento dos aspectos biopsicossociais, o que
pode levar à morte social (Bruscato, 2004). Sabe-se que o processo de luto não
começa com a morte e sim com as relações existentes antes dela, que serão
determinantes na qualidade do processo de luto.

Fonte: www.einstein.br

Em relação à família, por ora observamos um abandono físico, em que o


paciente fica só, ou um desamparo, visto que a cultura dissemina a ideia de que
se deve estar sempre feliz, não havendo espaço para discorrer sobre a
possibilidade próxima da morte. Essa negação também é vista nos casos em
que os familiares pedem aos profissionais que escondam do doente o seu
quadro médico, atitude esta nada ética. Vê-se aí uma das consequências do
mundo capitalista em que o doente, deixando de produzir, perde o “direito” do
controle sobre si e a realidade.
Com a experiência profissional, o psicólogo vai percebendo que seu papel
não é fazer com que os familiares parem de chorar, saiam bem dali, tampouco
dizer coisas para promover conforto, o que é a visão do senso comum. Pelo
contrário, é justamente o de propiciar um espaço acolhedor para que as pessoas
expressem seus sentimentos e comecem a elaborar seu luto. Não há dúvidas de
que o conhecimento advindo do senso comum tem muito valor, visto que confere

23
significações e sentidos às mais diversas coisas, pré-interpretando aspectos da
realidade tacitamente. Contudo, o saber psicológico diferencia-se desse
“conhecimento pronto e acabado”, até mesmo porque cada sujeito é único e
particular, e assim também o é a maneira de abordá-lo.
A maturidade profissional confere ao profissional maior segurança, menos
medo; permite que ele se conheça mais; trace seus limites; crie recursos de
enfrentamento; maneiras de abordar a situação; o conhecimento acerca do que
fazer em determinadas ocasiões; a sensibilidade sobre quando é o momento de
ficar quieto, calado, apenas presente, à disposição; escutando tranquilamente, o
que geralmente não é suportado pelos demais; quando deve fazer alguma
consideração pertinente, entre outras situações. Com o decorrer do tempo, vai
percebendo que lidar com a morte não é “nenhum bicho de sete cabeças” (sic).
Para tal, teoria e prática são fundamentais e se complementam.
A preparação do psicólogo na graduação muitas vezes é deficiente nesse
sentido, temas como a percepção sistêmica da realidade institucional e do sujeito
internado e a morte (talvez um próprio reflexo de sua negação) são
negligenciados em função da ênfase dada à formação clínica.
O profissional acaba indo fazer cursos ou especializações na área
hospitalar após a graduação, muito ricas pelos ensinamentos que subsidiam a
prática, além da troca de experiências e modelos de atuação. Por outro lado,
conforme salienta Hycner (1995), “Quando as técnicas têm supremacia, o lado
humano fica obscurecido (...) A técnica precisa estar baseada na relação entre
pessoa e pessoa – o inter-humano” (p.22). Esta ênfase tecnocrática provoca um
distanciamento maior entre as pessoas, ainda evidente na atuação médica, mas
que não pode ocorrer na prática psicológica, visto que esta é dialógica e se dá
no contato com o outro.
Segundo Kovács (2002), os médicos se escoram nos exames, nos
instrumentos, na tecnologia e na farmacologia; o psicólogo se escora na sua
“tecnologia”, suas interpretações psicológicas sobre o viver do outro. Para tal,
deve desenvolver o seu poder de escuta, perceber as necessidades do outro,
tornar-se disponível para esse contato íntimo, estando atento para verificar se o
“psi” não entra como defesa contra um contato profundo com o paciente, que no
momento de hospitalização encontra-se, muitas vezes, fragilizado e
necessitando de ajuda.

24
Em pesquisa realizada por Kovács em 1985 com estudantes de cursos da
área de saúde (medicina, psicologia e enfermagem), os alunos de psicologia
foram os que obtiveram escores mais altos de medo da morte.
A hipótese levantada é a de que os alunos respondem conforme o que
lhes é esperado: médicos não temem a morte e atuam como heróis para desafiá-
la; psicólogos estão em contato com os sentimentos, tendo autorização para
manifestá-los. Surge a dúvida: se no começo da atuação, falo também em
experiência própria, é difícil acompanhar a dor do outro, o choro insiste em
aparecer, a vontade é de não ter que passar por essa experiência de
compartilhar a morte do paciente, esse amadurecimento profissional e melhor
controle da contenção emocional não poderia também ser um efeito da
naturalização? Essa intelectualização não poderia ser considerada um
mecanismo de defesa para lidar melhor com a morte, um isolamento emocional,
uma dessensibilização? Ou o “sentir menos” estaria relacionado ao fato de que
a intensidade da dor está relacionada à proximidade e qualidade da ligação que
a pessoa tem com o falecido?

3.3 O cuidado da dor e sofrimento como direito fundamental

Fonte:www.diarioonline.com.br

Dor e sofrimento são companheiros da humanidade desde tempos


imemoriais. Seu controle e alívio constituem-se hoje em competências e

25
responsabilidades éticas fundamentais dos profissionais da saúde. Essa ação é
um indicador essencial de qualidade do cuidado da dor e sofrimento, bem como
da assistência integral ao paciente, no âmbito da saúde.
A dor é um sintoma e uma das causas mais frequentes da procura pelos
serviços de saúde. Em muitas instituições de saúde que hoje estão na vanguarda
do cuidado integral do ser humano vulnerabilizado por alguma doença grave,
vendo- -se obrigado a enfrentar dores excruciantes, essa experiência de dor é
reconhecida como o quinto sinal vital integrado à prática clínica. Se a dor fosse
tratada com o mesmo zelo que os outros sinais vitais (temperatura, pressão
arterial, respiração e frequência cardíaca), sem dúvida haveria muito menos
sofrimento.
O objetivo da avaliação da dor é identificar a sua causa, bem como
compreender a experiência sensorial, afetiva, comportamental e cognitiva que
ela representa para a pessoa, tendo em vista a promoção de seu alívio e
cuidado.
Hoje se reconhece que a dor é uma doença. De acordo com a definição
da OMS, a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não somente a ausência de doença ou de mal-estar. É evidente que as
condições dolorosas constituem um estado de mal-estar; portanto, o ser humano
que sofre de dor não está sadio, e pode-se afirmar – legitimamente – que se está
violando seu direito inalienável à saúde.
O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece
como um dos direitos dos seres humanos um nível de vida adequado para a
saúde e o bem-estar. Infelizmente, saúde e bem-estar nem sempre são uma
escolha possível, já que, em inúmeras situações, muitas pessoas, por causa da
velhice ou das doenças, sentem dor e sofrem muito no final da vida. A diferença
entre dor e sofrimento tem grande significado, principalmente quando se lida com
pacientes terminais.
O enfrentamento da dor exige o uso de medicamentos analgésicos,
enquanto o sofrimento pede acolhida para fortalecer o espírito e as noções de
significado e sentido da vida, pois a dor sem explicação geralmente se
transforma em sofrimento. E o sofrimento é uma experiência humana
profundamente complexa, na qual intervêm a identidade e subjetividade da
pessoa, bem como seus valores socioculturais e religiosos.

26
Um dos principais perigos em negligenciar a distinção entre dor e
sofrimento é a tendência dos tratamentos de se concentrarem somente nos
sintomas e dores físicas, como se esses fossem a única fonte de angústia e
padecimento para o paciente. Tende-se a reduzir o sofrimento a simples
fenômeno físico, que pode ser mais facilmente identificado, controlado e
dominado por meios técnicos.
 Dimensão física: no nível físico, a dor funciona como claro
marcador, alertando que algo não está funcionando normalmente
no corpo.
 Dimensão psíquica: emerge à consciência quando é preciso
enfrentar a inevitabilidade da morte; quando os sonhos e
esperanças se esvaem e surge a necessidade urgente de redefinir
o mundo que está para deixar.
 Dimensão social: é a dor do isolamento, que surge quando a
pessoa que está para morrer percebe que deixará de viver, mas o
mundo tal como conhece continuará existindo. É o sofrimento de
sentir-se inexoravelmente tocado por um destino que não gostaria
de experimentar, e da solidão por saber que é impossível
compartilhar plenamente essa realidade que obriga a redefinir os
relacionamentos e as necessidades de comunicação.
 Dimensão espiritual: surge da perda do sentido, objetivo de vida
e esperança. Todos necessitam de um horizonte de sentido – uma
razão para viver e uma razão para morrer. O conceito de
espiritualidade é encontrado em todas as culturas e sociedades.
Ela se expressa na busca individual por um sentido último,
mediante a participação na religião ou na crença em Deus, família,
naturalismo, racionalismo, humanismo e artes. Todos esses fatores
podem influenciar o modo como os pacientes e profissionais da
saúde percebem a saúde e a doença e como eles interagem uns
com os outros.

27
Fonte:www.personare.com.br

3.4 Dor x Alívio em Decorrência da Morte

Fonte: www.tvi24.iol.pt

Quando se fala em morte, logo se pensa em dor, e também se consideram


as variáveis envolvidas, como a idade do falecido ou se foi algo repentino, por
exemplo.
Geralmente, quando o sofrimento do doente é muito intenso e o período
de hospitalização é longo, a “tão temida” morte é uma libertação, um alívio. É

28
recebida com dor porque é uma perda, mas redimensionada diante do sofrimento
prolongado (do doente e dos familiares), que acaba funcionando como um
processo preparatório. E aí surge o questionamento sobre a intensidade da dor,
do que seria “melhor”: uma morte abrupta ou prolongada? Quando a morte é
abrupta, as pessoas entram em choque, não têm sentimento elaborado nenhum,
não estavam preparadas para isso. Sendo uma interrupção, parece ser mais
cruel, pois o falecido não teve tempo de fazer nada, se despedir, resolver
conflitos, dizer eu te amo... Kovács (2002) diz que se a morte “ocorre de maneira
brusca e inesperada tem uma potencialidade de desorganização, paralização e
impotência.” (p.154). Em contraponto, apesar de se achar que não há um
preparo para a morte, quando a pessoa vivencia um longo processo de
hospitalização, seus familiares e amigos vão de antemão se despedindo, o que
é chamado de “luto antecipatório”.
Parece que as pessoas vão sofrendo aos pouquinhos, ao invés de
vivenciar aquela dor de uma só vez. Mas quando a pessoa de fato falece é ainda
muito dolorido, e sofrem novamente de forma muito intensa. E nesses casos, é
comum a presença de sentimentos ambivalentes naquele que cuida, surgindo o
desejo de que o doente morra para aliviar o sofrimento de ambos, despertando
culpa por estes sentimentos. “Ver a dor e sentir-se impotente para promover seu
alívio e o bem-estar da pessoa amada é causa de muito sofrimento” (p.159).
Portanto, quando a morte ocorre concretamente pode haver, além da dor, alívio
e culpa, pois a pessoa pode achar que não tratou o outro da melhor forma
possível e com isso não evitou a sua morte. Pode surgir também uma sensação
de vazio, em casos de muitos anos de dedicação com o paciente, pois nenhuma
outra atividade tinha espaço. O vazio, a ambivalência e a culpa podem dificultar
o processo de elaboração de luto.
Lidar com a perda é muito doloroso. Como visto anteriormente na história
sobre a morte, na Idade Média a boa morte era aquela que permitia o preparo,
mortes repentinas eram desonrosas. Hoje, ao contrário do que acontecia na
Antiguidade, a boa morte é esta repentina, não percebida, e os sentimentos são
pouco elaborados em qualquer das situações.
Conforme ressaltado por Pitta (2003), a dor, a doença e a morte foram
interditas num pacto de costumes, aprisionadas e privatizadas no espaço

29
hospitalar sob novos códigos e formas de relação, no qual as pessoas não
sabem o que dizer ou fazer.
Todos sabemos que inevitavelmente morreremos, mas não pensamos
nisso nem lidamos com isso até que aconteça conosco ou com alguém muito
próximo. Daí a importância dos ritos funerais, como o enterro, por exemplo, que
permitem que você veja a pessoa que faleceu e lhe ensinam que acabou, que
aquele é o fim. “Muitas vezes as pessoas têm essa impressão da morte, de ser
surreal, isso não está acontecendo; e se é rápido demais acho que aumenta
mais ainda isso” (sic). E os ritos atualmente são assim, rápidos demais,
discretos, o que também denuncia a incapacidade social de se lidar com a morte,
de expressar sentimentos. Acompanhar uma morte nos remete à nossa própria
finitude, e são vários os medos que a acompanham, estejam eles mais
conscientes ou latentes.

3.5 A interface entre psicologia da saúde e bioética

Fonte: www.nparh.com.br

A formação do psicólogo necessita ampliar-se para a discussão das


questões éticas relacionadas a saúde e integrar-se no posicionamento dos
aspectos psicossociais que envolvem este âmbito (Castro & Bornhold, 2004).
Dessa forma, Gioia-Martins e Rocha (2001) salientam a importância do currículo

30
acadêmico do psicólogo caminhar rumo à responsabilidade social e
compromisso com a ética.
Atualmente, observa-se um aumento significativo no interesse pela
publicação de trabalhos referentes a formação, treinamento, prática e ética do
psicoterapeuta. Estudo realizado por Abreu, Piccinini, Cacilhas, Thahtman e
Thormann (2000), considerando trabalhos publicados em relação ao tema da
psicoterapia no Brasil, no período de 1980 à 1998, indica que, em relação ao
tema do exercício profissional, a maioria dos artigos objetivaram a questão da
ética. Os problemas apontados como graves nos estudos foram referentes ao
aspecto ético da confidencialidade, tais como danos a terceiros ou ao próprio
paciente, negligência e envolvimento sexual.
Para Contini (2001), a formação é considerada como o período de acesso
ao conhecimento teórico produzido pela ciência e de desenvolvimento da
aprendizagem básica sobre o fazer psicológico.
O psicólogo que trabalha em instituições de saúde, conforme Medeiros
(2002), deve pautar a sua postura pelo Código de Ética Profissional, bem como
agir conforme suas convicções pessoais, valores e princípios da formação
pessoal e profissional. Além disso, deve também estar atento aos valores éticos
que norteiam a comunidade. Para tanto, a ética envolve uma postura reflexiva e
de respeito à pessoa que se direciona para além da atitude coercitiva sobre a
moral ou do Código de Ética.
No entanto, de acordo com Capitão (2005), os códigos de ética não são
cristalizações eternas e imutáveis.
Os códigos nada mais são do que o resultado das reflexões sobre a
prática profissional, e, considerando a crescente abertura de novos campos de
trabalho para a atuação do psicólogo, é possível que os profissionais se deparem
com novas situações-limite que criem sérios dilemas éticos a serem discutidos.
Especialmente o psicólogo que trabalha na área da saúde, com pacientes que
convivem com importantes sofrimentos físicos, deverá estar bem preparado para
enfrentar situações difíceis sob o ponto de vista ético. Além disso, para que
nossa prática seja respeitada como ciência ante outros profissionais da equipe
de saúde, deslizes éticos, de qualquer natureza, não podem ser cometidos.
De acordo com Goldim (1998), uma formação não adequada compromete
o atendimento ao paciente, sendo a educação continuada e os treinamentos em

31
serviço formas eficazes de lidar com esse problema. A prática da psicoterapia
sugere que o psicólogo deva agir buscando a melhora do paciente e priorizando
os aspectos éticos de privacidade e confidencialidade das informações, no intuito
de estimular a sua autonomia e participação ativa no processo.
Outro aspecto referente à prática da psicoterapia nos serviços de saúde
é o acesso ao atendimento, destacando-se, nessa circunstância, o princípio da
justiça. As pessoas com menos disponibilidade de recursos financeiros muitas
vezes são atendidas por profissionais sem qualificação ou supervisão. Essa
questão sugere a necessidade de reflexão sobre os aspectos éticos envolvidos
na prática do psicólogo (Goldim, 1998). Dessa forma, pode-se refletir a quem e
para quem o atendimento psicoterapêutico encontra-se realmente disponível e
qual o critério para a oferta desse recurso.
O desenvolvimento da Psicologia da Saúde, assinalada por Gonzales Rey
(1997), estimulou o trabalho do psicólogo no âmbito da prevenção e da
promoção da saúde, o que possibilita a oferta de atendimento na rede pública.
Além disso, amplia a participação desse profissional em equipes
interdisciplinares, tanto em instituições de saúde como no trabalho comunitário.
A inserção do psicólogo na rede pública faz o profissional se deparar com
uma realidade psicossocial muito diferente daquela com a qual ele
provavelmente está acostumado. De acordo com Andrade e Morato (2004), em
função da diversidade emergente da população, a psicologia necessita acolher
a diferença presente nas comunidades. A postura ética trata-se da reflexão
advinda do desafio da prática, reconhecendo os limites, a efetividade, a
responsabilidade e o compromisso do psicólogo diante das demandas do
indivíduo na sociedade.
No que se refere ao trabalho do psicólogo nas instituições de saúde, um
risco para a confidencialidade relaciona-se ao registro no prontuário do paciente.
É dever do profissional manter atualizado o acompanhamento do paciente,
porém quais as informações que necessitam serem registradas e/ou omitidas?
Em relação à ética nos serviços de saúde, a hospitalização e a
institucionalização, muitas vezes não voluntária, podem restringir a autonomia
do paciente. Nesses casos, o psicólogo necessita levar em consideração o
contexto e a coerência ética integrada ao desejo do paciente (Goldim, 1998).

32
Em relação ao princípio da autonomia, Goldim (1998) salienta que o
terapeuta necessita estar atento no que concerne ao respeito às escolhas do
indivíduo e a sua liberdade de ação. No entanto, dependendo da etapa do ciclo
vital do indivíduo, a autonomia pode estar reduzida, como no caso das crianças
e adolescentes ou em decorrência de doenças orgânicas ou mentais, bem como
por condições sociais.
Para tanto, conforme Duarte (2000), é necessário estar atento às
questões éticas em investigação psicológica e aos direitos dos indivíduos que
participam voluntariamente de pesquisas e estudos em prol dos interesses,
avanços e benefícios do conhecimento científico.
As considerações e os delineamentos éticos da investigação psicológica
devem ser referência para as decisões metodológicas nas pesquisas em saúde.

4 A PSICANÁLISE NO CONTEXTO HOSPITALAR

Fonte: www.einstein.br

Ao longo dos séculos constatou-se que a medicina não era suficiente para
responder sozinha as muitas formas de manifestação do corpo humanos. O olhar
dos médicos deixava escapar algo que não se apresentava para ser curado e
sim para ser acolhido. A psicanálise neste contexto oferece o que tem de mais
valioso: a escuta.
Alberti (2000, p.49) invoca o pensamento lacaniano que caracterizou a
psicanálise como A última flor da medicina para dizer que, em um determinado

33
momento, a medicina observou que não podia tratar tudo. Lacan identifica a
psicanálise como o lugar onde a medicina podia encontrar refúgio, já que ela
teve que se deparar com o fato de que haviam sintomas que não tinham nada a
ver com o corpo, mas com o fato de o sujeito ser afligido pela linguagem.
É justamente com a presença da psicanálise no hospital que se possibilita
olhar o corpo doente de forma mais subjetiva, reconhecendo que o sintoma pode
ser uma pista de que há algo que não consegue ser enunciado de outra forma.
Ainda nos dias de hoje a psicanálise encontra certa dificuldade de
estabelecer uma elaboração teórico-prática que seja rigorosa fora do
chamado setting terapêutico tradicional, constituído de sala, divãs, móveis, etc.
Nota-se que o espaço hospitalar proporciona ao analista um campo para
o progresso de seus saberes. Neste campo, mais crítico pela urgência que se
apresenta, sua complexidade é ainda maior em função da possibilidade de
morte, dor, sofrimentos diversos, altas imprevistas, situações que requerem do
psicanalista, ali atuante, inovação e adaptação que levem em conta o lugar em
que estão acontecendo as intervenções. Alberti (2000) propõe um
aproveitamento deste ambiente onde tratamento e pesquisa se encontram, além
de um aprofundamento teórico permanente por parte do analista.
A indagação sobre o enquadramento ou local de trabalho traz consigo
uma bateria de interrogações.
Figueiredo (1997, p.112) recomenda que, independentemente do local, a
fala do paciente seja mantida e valorizada, usando a escuta como o principal
recurso terapêutico. Neste sentido, o setting não é tratado como um espaço real,
pois é ele virtual, ele é psíquico, é uma construção para que a análise aconteça.
Diante da ruptura no enquadramento, a psicanálise assume uma postura
engenhosa e criativa, reconhecendo que o local de atendimento será onde o
paciente estiver. Isso porque o ambiente, o horário e a duração do atendimento
são ressignificados quando afetados por uma clínica que inclui
o inconsciente. Preconiza-se que o inconsciente é atemporal e que seu
funcionamento é a posteriori. Quanto a isso, Moura (2000) corrobora que a partir
do momento em que o lugar do analista não é definido pelo espaço físico, mas
por aquilo que é sua função, ele é autorizado a sair do enquadre tradicional.
Segundo ela, a construção da função do analista depende fundamentalmente da
implicação dele com a psicanálise e com seu desejo.

34
Outra dimensão importante no hospital refere-se ao trabalho em equipe.
Tal capacidade faz parte do ofício no hospital e vai exigir do analista uma certa
dose de destituição narcísica. Freud (1912, p.128) recomenda que o sentimento
mais perigoso para um psicanalista é a ambição de alcançar algo que produza
efeito convincente sobre outras pessoas, pois isso o coloca num estado de
espírito desfavorável para o trabalho, além de torná-lo impotente contra certas
resistências do paciente. Recomenda-se, também, que o analista invista em seu
processo de análise pessoal, já que ele também é constantemente implicado em
seu mundo psíquico.
Após dar entrada em uma instituição hospitalar, o paciente é absorvido
por ela, que assume o controle por praticamente todos os aspectos de sua vida.
Além da perda de controle, os pacientes passam por um fenômeno conhecido
como despersonalização, nele o sujeito se torna apenas mais um doente, perde
completamente sua identidade e subjetividade.

Fonte: www.diariodeburgos.es

Os hospitais são preparados para receber um paciente que seja submisso


às regras, mas constantemente isso não acontece, então o hospital solicita

35
respostas, pareceres, diagnósticos e modelos de conduta. A resposta a estes
chamados se torna uma oportunidade de mostrar o que a psicanálise pode
promover neste espaço, pois esta não trabalha com a noção de cura, nem tem
como pretensão consolar o sujeito.
A presença da psicanálise em hospitais ainda suscita muitas questões.
Simonetti (2011, p.17) propõe pensar a psicologia hospitalar a partir dos
conceitos da psicanálise. Ele sugere que a psicologia hospitalar encontra suas
origens na psicanálise e na psicossomática [01] : “Ao que parece, a psicologia
hospitalar, que nasceu da psicossomática e da psicanálise, vem atualmente
ampliando seu campo conceitual e sua prática clínica, com isso criando uma
identidade própria e diferente”.
Então, sobre a experiência do adoecer, Freud em Sobre o narcisismo:
uma introdução, salienta:

É do conhecimento de todos, e eu o aceito como coisa natural, que


uma pessoa atormentada por dor e mal estar orgânico deixa de se
interessar pelas coisas do mundo externo, na medida em que não
dizem respeito a seu sofrimento. Uma observação mais detida nos
ensina que ela também retira o interesse libidinal de seus objetos
amorosos: enquanto sofre, deixa de amar. (…) Devemos então dizer:
o homem enfermo retira suas catexias libidinais de volta para seu
próprio ego, e as põe para fora novamente quando se recupera.
(FREUD, 1914, p. 98)

Dessa forma, vamos percebendo que a função da psicanálise no hospital


é recolocar a demanda de tratamento, de forma a que o sujeito possa vir a se
engajar nele, fazendo assim que ocorra fala por parte do paciente e escuta por
parte do analista. Outra indagação bastante frequente se refere a duração do
tratamento, visto que isso é uma questão difícil de mensurar. Recorro novamente
a Freud. Quando perguntado por um paciente quanto tempo duraria o
tratamento, ele propôs um tratamento experimental de duas semanas, evitando
fornecer uma resposta direta a esta pergunta, não por desejar abster-se, mas
por reconhecer que precisa saber a amplitude do passo do caminhante antes de
poder informar quanto tempo durará a viagem. Segundo Freud (1913, p.144), a
pergunta relativa à duração provável de um tratamento é quase irrespondível,
isso porque o inconsciente é atemporal.
Machado e Chatelard (2013, p.139) asseguram que o trabalho do
psicanalista no hospital visa sustentar um lugar para o endereçamento das

36
questões do sujeito, sendo que o que se oferece é um lugar vazio onde pode
surgir o desejo. Neste sentido entendemos que para o analista desenvolver seu
trabalho no contexto hospitalar, necessariamente precisa formalizar sua prática.
Indo mais além, as autoras indicam que o trabalho analítico está em ater-se as
produções da fala do sujeito, pois, de acordo com Freud, a fala é imprescindível
para fazer com que o paciente relance seu discurso, afinal fazer falar é uma
condição da escuta e é pela escuta que a fala se constitui.
Como vimos, no hospital o analista encontra certas variáveis que não
são comuns no consultório. Ele encara situações imprevistas, mas que ao
mesmo tempo convocam seu trabalho. Entre essas situações, podemos citar:

Por exemplo, pode acontecer de o analista estar atendendo um


paciente e um médico chegar para examiná-lo. Dependendo da
gravidade do caso, às vezes, é preciso que o analista interrompa o
atendimento justamente num momento importante do processo
analítico. Pode acontecer também que o analista esteja atendendo um
familiar no momento em que o paciente falece, ali, na sua frente. Ou
ainda, que o psicanalista seja abordado, nas escadarias do hospital,
pela equipe da enfermagem para atender um familiar que está “aos
berros” no corredor, pois o paciente acabou de sofrer uma parada
cardíaca e o familiar precisou sair do quarto para que ele fosse
atendido (MACHADO E CHATELARD, 2013, p.148).

Tais circunstâncias apontam os desafios do psicanalista ao lidar com as


particularidades do trabalho no hospital. No entanto, basta lembrar da lição de
Freud ao afirmar que a psicanálise aplicada se sustenta a partir da psicanálise
pura.
A teoria psicanalítica apoia-se no inconsciente e tem a análise pessoal
como condição para exercer a psicanálise. A formação do analista se baseia no
tripé da análise pessoal, estudo teórico e supervisão clínica. Em A questão da
análise leiga (1926), Freud declara que enquanto vivesse tentaria impedir que a
psicanálise fosse engolida pela medicina, ressaltando que não recomendava
formação médica para o exercício da psicanálise. Freud defende que a atividade
psicanalítica deve seguir independente da medicina por ser uma ciência
autônoma que possui teoria e prática próprias.
Afinal, qual é o lugar do psicanalista no hospital? Vimos que este lugar
não é alcançado apenas através de livros e estudos, apesar de serem essenciais
para a construção do saber. Já vimos os riscos que um psicanalista está exposto
quando se insere em um local fixado por um discurso que visa restaurar a saúde

37
perdida. Ele pode levar a psicanálise a se diluir entre tratamentos que
proponham exclusivamente a cura orgânica do paciente.
Machado (2011) determina que o lugar do psicanalista no hospital pode
ser abordado a partir de duas dimensões que não se excluem e, ao mesmo
tempo, se articulam. A dimensão clínica psicanalítica e a dimensão institucional.
A primeira se refere a ética, ao discurso e as especificidades da psicanálise. A
segunda dimensão diz respeito ao hospital com as variáveis institucionais,
espaço físico, obstáculos, equipe e situações de urgência. Desta maneira,
estamos lidando com duas dimensões que se articulam. Portanto, enfatizamos
que o lugar ocupado pelo psicanalista no hospital é entre a dimensão clínica e a
dimensão institucional.

5 PROXIMIDADE DA MORTE E A TERMINALIDADE HUMANA

Fonte:www.hospitalstacruz.com.br

Um deles refere-se ao doente que se encontra na etapa final de uma


doença, portanto próximo da morte. Para Borges e colaboradores, a percepção
da morte na visão do paciente terminal é diferente em cada fase do ciclo de vida.
Segundo os autores, na infância, a morte pode ser representada conforme se
modificam o pensamento e a linguagem.
Para o adulto, a morte pode depender da experiência física e psicológica
pela qual se está passando. Já, para o idoso, a morte pode ser configurada em
uma perspectiva de maior resignação. A maioria dos indivíduos não está
preparada para enfrentar a morte, incluindo os pacientes e seus cuidadores. A
falta de conhecimento sobre os aspectos relacionados ao final da vida pode

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tornar a assistência a pacientes em fase terminal uma experiência apavorante
para muitos profissionais. E, quanto mais jovem o paciente, mais difícil lidar com
a situação. A morte é evento “previsível” para as pessoas idosas e, por isso, o
grau de aceitação da morte desses pacientes é maior, dado ser encarada como
a fase final do ciclo da vida.
A morte não atinge a equipe de saúde do mesmo modo, porque a
percepção da perda é determinada por fatores como idade, circunstância da
morte e, sobretudo, pelo grau de envolvimento com o paciente. Contudo, embora
a morte faça parte do contexto da vida e da rotina do ambiente hospitalar, os
integrantes da equipe multiprofissional de saúde – em geral – não estão
preparados para enfrentar a morte e lidar com a perda de pacientes.
Somente os indivíduos seguros em relação aos seus sentimentos, e com
atitudes naturais diante da vida e da morte, terão atingido o estágio que lhes
outorga capacidade de compreensão para auxiliar terceiros. Conforme
sustentam Costa e Lima, para que se possa dar assistência adequada aos
pacientes terminais, é necessário compreender as reações e comportamentos
que tanto os pacientes quanto os familiares podem apresentar diante da
proximidade da morte.
O paciente poderá reagir de várias maneiras em relação à sua doença e
à terminalidade de sua vida. Poderá aceitar ou negar; poderá ter o conhecimento
de que está morrendo, mas emocionalmente se sentir incapaz de aceitar; ou
poderá aceitá-la, mas não conseguir verbalizar a situação. Segundo Kübler-
Ross, o diagnóstico de uma doença potencialmente terminal é fator de
desestruturação psicológica, fazendo com que pacientes e familiares passem
por algumas fases emocionais características. Sem necessariamente constituir
um processo linear, de sequência rigorosa, já que nem todos os pacientes o
vivenciam da mesma forma, os estágios sistematizados por Kübler-Ross
permitem acompanhar o processo de morrer dos pacientes terminais, minorando
seu sofrimento.

Primeiro estágio: negação e isolamento

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Fonte:gyperoladalua.blogspot.com

A negação é mecanismo de defesa temporário diante da morte. Ocorre


com mais frequência no início da doença, e em pacientes e familiares que são
prematuramente informados acerca do seu diagnóstico. A intensidade e duração
desse estágio dependem da capacidade do enfermo, e das outras pessoas que
convivem com ele, de lidar com essa dor. Em geral, a negação não persiste por
muito tempo. No entanto, alguns pacientes podem jamais ultrapassar esse
estágio, indo de médico em médico, até encontrar alguém que o apoie em sua
posição. O mais sensato seria falar sobre a morte com pacientes e familiares
antes que ela ocorra de fato e desde que o queiram, até porque é mais fácil para
a família discutir esses assuntos em tempos de relativa saúde e bem-estar do
paciente. Ademais, adiar esse tipo de conversa não beneficia o doente em
nenhum aspecto.

Segundo estágio: raiva

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Fonte: cellulablog.wordpress.com

Esse estágio pode estar relacionado à impotência e à falta de controle


sobre a própria vida. É muito difícil lidar com o paciente nessa fase: faz
exigências, se revolta, solicita atenção contínua, faz críticas e tem explosões
comportamentais caso não seja atendido ou se sinta incompreendido e
desrespeitado. É importante que, nesse estágio, haja compreensão dos demais
sobre a angústia transformada em raiva no paciente que teve de interromper as
atividades da sua vida por causa da doença.
Os pacientes nesse estágio são difíceis de tratar. Geralmente se revoltam
contra Deus, o destino ou alguém próximo. Uma pergunta comum é “Por que
eu? Por que isso está acontecendo logo comigo?”. Desse modo, o manejo de
pacientes que se encontram nessa fase envolve a compreensão de que a raiva
expressada não pode ser encarada como algo pessoal.

Terceiro estágio: barganha

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Fonte: lucasnicolau.com

Nessa fase, geralmente o paciente tenta negociar com Deus de maneira


implícita ou até mesmo com os médicos, entrando em algum tipo de acordo que
adie seu desfecho inevitável. Os pacientes acreditam que, por serem obedientes,
alegres e não questionadores, o médico fará com que melhorem. Normalmente,
a pessoa que se encontra nesse estágio realiza promessas em sigilo, contando
com a possibilidade de ser recompensada por seu bom comportamento. Em
geral, o paciente se mantém sereno, reflexivo e dócil.

Quarto estágio: depressão

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Fonte:veja.abril.com.br

Essa fase surge quando o paciente se encontra em fase terminal e tem


consciência da sua debilidade física; portanto, não pode mais negar sua doença.
Nessa etapa, o indivíduo é muitas vezes forçado a submeter-se a mais uma
hospitalização ou a outra cirurgia. Aqui a depressão assume quadro clínico
característico: desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro etc. As tentativas
anteriores não deram certo: negar não adiantou; revoltar-se e fazer barganhas,
também não. Dessa forma, deve-se deixá-lo à vontade para externar seu pesar
e assim aceitar a situação mais facilmente. O paciente está prestes a perder tudo
e todos os que amam, por isso é importante que passe os momentos finais junto
de seus familiares e entes queridos.

Quinto estágio: aceitação

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Fonte:oceuenegro.blogspot.com

Kübler-Ross chega à conclusão de que, no último estágio, os pacientes


que viveram a doença e receberam apoio podem chegar a essa fase aceitando
o processo. Na maioria das vezes, o paciente manifesta grande tranquilidade e
pode permanecer em silêncio. Já não experimenta o desespero nem rejeita sua
realidade. Esse é o momento em que os familiares mais precisarão de amparo,
ajuda e compreensão, devendo a equipe responsável ter ciência do estágio pelo
qual o paciente está passando. É importante conhecer os principais fatores
implicados no processo do adoecer e morrer. Não se pode desistir do tratamento
do paciente, porque, ao sentir-se abandonado ou sem assistência, ele se entrega
e desiste também.
O paciente se sentirá confortado em saber que não foi esquecido, mesmo
quando não houver mais nada a se fazer por ele. Nesse momento, os cuidados
paliativos vão ao encontro das necessidades do paciente terminal, uma vez que
podem, isso sim, minimizar a dor e o sofrimento, e ao mesmo tempo atender às
suas necessidades básicas de higiene, nutrição e conforto, ajudando-o a manter
sua dignidade como pessoa.

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