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Medicamento antibiótico
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Frasco de penicilina produzido pelo Laboratorio Abbott, numa exposição sobre a vida e obra do químico Alfred Nobel,
na Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro (Tomaz Silva/Agência Brasil)
O mecanismo de ação das penicilinas
não é totalmente conhecido, embora sua
analogia com a D-alanil-D-alanina
terminal, localizada na cadeia lateral
peptídica da subunidade do
peptidoglicano (o principal constituinte
da parede bacteriana) sugere que o seu
carácter bactericida deriva da sua
intervenção como inibidor enzimático do
processo de transpeptidação durante a
sua síntese. Desta forma, a penicilina
actua debilitando a parede bacteriana e
favorecendo a lise osmótica da bactéria
durante o processo de multiplicação.[3]
Existe uma grande diversidade de
penicilinas. Algumas espécies de fungos
do género Penicillium sintetizam
naturalmente penicilinas, como o
primeiro tipo isolado, a penicilina G.
Porém, devido ao aparecimento de
resistências, outras famílias foram
desenvolvidas seguindo basicamente
duas estratégias: a adição de
precursores da cadeia lateral ao meio de
cultura do fungo produtor, o que se
traduz na produção de penicilinas
biossintéticas; e a modificação química
da penicilina obtida pela fermentação
biotecnológica, dando lugar às
penicilinas semissintéticas.[4]
As penicilinas diferenciam-se entre si de
acordo com o seu espectro de ação. Por
exemplo, a benzilpenicilina é eficaz
contra bactérias gram-positivas como
estreptococos e estafilococos, assim
como gonococos e meningococos,
porém deve administrar-se por via
parenteral (por injeção) devido à sua
sensibilidade ao pH ácido do estômago.
A fenoximetilpenicilina é, no entanto,
resistente a este pH e pode ser
administrada por via oral. A ampicilina,
além de apresentar resistência ao pH, é
efetiva contra bactérias gram-negativas
como Haemophilus, Salmonella e
Shigella.[3]
Embora as penicilinas sejam antibióticos
menos tóxicos, é comum que produzam
alergias. Cerca de 10% dos pacientes
que recebem tratamentos de
betalactâmicos desenvolvem-nas.[5] Uma
vez que um choque anafiláctico pode
provocar a morte do paciente, é
necessário interrogá-lo antes de se dar
início ao tratamento.
História
História
Tem-se dito que muitas descobertas
científicas são feitas ao acaso. O acaso,
já dizia Pasteur, só favorece aos espíritos
preparados e não prescinde da
observação. A descoberta da penicilina
constitui um exemplo típico. Alexander
Fleming, bacteriologista do St. Mary's
Hospital, de Londres, vinha já há algum
tempo pesquisando substâncias
capazes de matar ou impedir o
crescimento de bactérias nas feridas
infectadas. Essa preocupação se
justificava pela experiência adquirida na
Primeira Grande Guerra (1914-1918), na
qual muitos combatentes morreram em
consequência da infecção em ferimentos
profundos. Em 1922 Fleming descobrira
uma substância antibacteriana na
lágrima e na saliva, a qual dera o nome
de lisozima. Em 1929 Fleming
desenvolvia pesquisas sobre
estafilococos, quando descobriu a
penicilina. A descoberta da penicilina
deu-se em condições peculiaríssimas,
graças a uma sequência de
acontecimentos imprevistos e
surpreendentes.
Em Portugal
Estrutura química
Mecanismo de ação
Todos os antibióticos beta-lactâmicos
(penicilinas e cefalosporinas) interferem
na síntese de parede celular bacteriana,
através de sua ligação com as enzimas
PBP. A penicilina acopla num receptor
presente na membrana interna
bacteriana (PBP) e interfere com a
transpeptidação que ancora o
peptidoglicano estrutural de forma rígida
em volta da bactéria. Como o interior
desta é hiperosmótico, sem uma parede
rígida há afluxo de água do exterior e a
bactéria lisa (explode).
Propriedades
farmacológicas
Em relação à farmacocinética, as
penicilinas apresentam várias diferenças,
as quais definem seu uso clínico:
Benzilpenicilinas ou penicilinas
naturais;
Penicilinas resistentes às
penicilinases;
Penicilinas de amplo espectro, obtidas
por associação com inibidores de ß-
lactamase.
Benzilpenicilinas
Penicilina G procaína
Penicilina G benzatina
Penicilina V
Aminopenicilinas
Ampicilina
Apresenta meia-vida de 1,2 horas, não
devendo ser utilizada com intervalos
maiores que 6 horas. Tem boa
distribuição em todos os
compartimentos orgânicos e atinge
concentrações terapêuticas no LCR,
líquido pleural, articulações e fluidos
peritoneais na presença de inflamação e
após administração parenteral.
Amoxicilina
Penicilinas resistentes às
penicilinases
Ampicilina – sulbactam
Piperacilina – tazobactam
Pneumonias
As penicilinas anti-pseudomonas
(piperacilina/tazobactam), entre outras,
são opções para o tratamento:
Otites e sinusites
Faringites e epiglotites
Infecções cutâneas
Meningites bacterianas
Efeitos indesejados
Reações de hipersensibilidade
Manifestações cutâneas
São bastante variáveis, desde eritema
difuso, “rash” cutâneo, placas
urticariformes, até raramente a síndrome
de Stevens-Johnson. Estas reações
geralmente são tardias e ocorrem em 1 a
10% dos pacientes. Podem ser
acompanhadas por eosinofilia e febre.
As aminopenicilinas são as mais
associadas com estas reações
dermatológicas.[15]
Toxicidade Renal
Neurotoxicidade
Outros
Fármacos derivados
Existem muitos antibióticos derivados
por métodos químicos industriais da
penicilina, constituindo as penicilinas
semi-sintéticas:
Amoxicilina, Ampicilina e Pivampicilina
têm maior espectro de ação, e são
eficazes contra mais tipos de
organismos.
Flucloxacilina é mais resistente à beta-
lactamase (uma penicilinase).
Carbenicilina, Aziocilina, Ticarcilina
são eficazes contra espécies de
Pseudomonas, especialmente a
P.aeruginosa, que são importantes
patogénios do meio hospitalar.[17]
Fleming e Churchill
Não passa de um boato a história de que
a família de Alexander Fleming teria
salvo a vida de Winston Churchill duas
vezes: a primeira vez, quando o menino
Winston teria sido salvo de afogamento
(por Alexander ou seu pai), o que teria
feito com que o pai de Winston, como
agradecimento, tivesse pago os estudos
do jovem Alexander, e, na segunda vez,
quando a penicilina (descoberta por
Fleming) foi usada para curar Churchill
de pneumonia. A história foi inventada
por Arthur Gladstone Keeney: nem o
quase afogamento pode ser confirmado,
nem Churchill foi tratado por penicilina, e
sim por sulfadiazina.[18]
Excreção
As penicilinas são eliminadas por
secreção tubular nos rins.
Produção industrial por
processos fermentativos
Como é possível observar, a penicilina é
um antibiótico de extrema importância
para a indústria farmacêutica, visto que é
amplamente utilizado no tratamento de
diversas doenças. Para realizar a
comercialização dessa droga, deve-se,
primeiramente, produzi-la em grande
escala e, para isso, utiliza-se do processo
de produção via fermentação aeróbia do
microrganismo produtor. Para a
produção da penicilina, é necessário
realizar um inóculo do microrganismo
utilizado para que as vias metabólicas do
mesmo sintetizem o composto, sendo os
microrganismos mais utilizados nesse
caso, os fungos das espécies Penicillium
chrysogenum e Aspergillus nidulans. É
interessante destacar que, no caso da
produção de antibióticos em geral, os
meios de cultivo utilizados na
fermentação podem ser oriundos de
matérias primas derivadas de resíduos
agroindustriais. No caso da penicilina, é
comum o uso de água de milho, arroz ou
trigo como fontes de nitrogênio, como
também melaço como fonte de
carbono.[19]
Purificação de Penicilina
Após todo o processo de fermentação,
faz-se necessária a separação do
antibiótico produzido e excretado pelo
microrganismo do meio de cultivo
retirado do reator.[19] A Figura a seguir
indica as fases que devem ser
executadas para a posterior purificação
da penicilina.
Esquema representativo da produção industrial de penicilina.[21]
Ver também
Antibiótico betalactâmico
Referências
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descoberta da penicilina (http://ww
w.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt
ext&pid=S1676-24442009000500001
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ISBN 9780511802409
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