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História e epistemologia da psicologia

A Psicologia é uma das mais antigas disciplinas e simultaneamente uma das mais novas.

Ideal consensual: desde sempre que foram colocadas questões relativas ao comportamento
humano- filosofia e teologia- Grécia antiga.

Filosofia: a origem da psicologia e de todas as ciências

Platão (427 a 347 ac)

Mens sana in corpore sano:

Defendia que a saúde mental depende da saúde física- o exercício físico, assim como o estudo de
artes, matemática e filosofia, são úteis para a saúde da mente.

Ideia ainda não refutada em 2021.

Aristóteles (384 a 422)

 Existe uma relação íntima entre a alma e corpo, em que a mente efetivamente corresponde
à ação do corpo.

Ideia ainda não refutada em 2021: ligação próxima entre a biologia e a psicologia.

 Os padrões de pensamento dependem de 3 leis de associação:


 Continuidade/proximidade: pensar em algo que nos faz pensar noutra coisa que
encontramos na mesma situação (ex. frigorífico- forno).
 Semelhança: pensar em algo faz-nos pensar em algo semelhante (ex. maçã- laranja).
 Contraste: pensar em algo faz-nos pensar em algo completamente oposto (ex. deus- diabo).

Diferença entre a psicologia moderna e a filosofia = o método científico utilizado- a abordagem e


as técnicas utilizadas

Filosofia

Até ao final do séc. XIX a filosofia estudava a natureza humana mediante a especulação, intuição e a
generalização baseada nas suas experiências subjetivas.

Psicologia moderna

A história da psicologia moderna consistiu no desenvolvimento de estratégias e métodos mais


objetivos, com vista a alcançar maior precisão e objetividade: nas perguntas e nas respostas.

Fim séc. XIX

Outros contributos para a Psicologia


René Descartes (1596-1650)

 O que diferencia os seres humanos dos outros animais é a alma/mente/consciência.


 Efeito negativo no desenvolvimento da psicologia: dualismo cartesiano/ separação mente-
corpo.
 A mente não era uma realidade biológica e não se podia estudar através de métodos
científicos, logo, a psicologia não podia ser vista como uma disciplina científica.

Baruch Spinoza (1632-1677)

 Seguidor de Descartes.
 Mais influente depois de morto.
 A mente e o corpo fazem parte da mesma realidade.
 A ordem e a conexão de ideias é a mesma que a ordem e a conexão das coisas.
 Teoria algo vaga mas com forte vantagem de conferir possibilidade científica à psicologia.

Psicologia moderna

 As primeiras experiências científicas em Psicologia.


 Psicofísica- estudo da relação entre a mente e as reações físicas.
 Ernst Weber (1834) e Gustav Fechner (1860): ambos da Alemanha.
 Há uma relação razoavelmente direta entre as intensidades físicas e percebidas dos
estímulos- mas a intensidade física e a intensidade subjetiva não são sempre proporcionais-
as mudanças físicas nem sempre produzem mudanças psicológicas- esta relação torna-se
mais complexa quando a intensidade física dos estímulos é muito reduzida ou muito
elevada.
 A relação entre a intensidade física e subjetiva varia mediante os diferentes estímulos (ex.
estímulos sonoros, estímulos/choques elétricos).

Hermann von Helmholtz (1821-.1894)

 Alemão, aluno de Muller, introduz a base da psicologia experimental.


 Rejeita qualquer pensamento não físico (impercetível aos sentidos).
 As forças orgânicas e inorgânicas seriam percetíveis e mensuráveis através de meios
mecânicos (fisiologia mecânica).
 Teoria geral da conservação da energia.
 Perceção: a sensação é a captação do estímulo, enquanto a perceção é a sensação
juntamente com a experiência individual.

Psicologia moderna-contributos da Alemanha

Hermann von Helmholtz (1821-1894)

 Defendeu a importância do estudo da perceção, dado serem um ponto de encontro entre a


fisiologia e a psicologia.
 Teoria da coloração da visão: existem 3 cores básicas (vermelho, azul e verde) para as quais
existem 3 mecanismos de recetores distintos no olho.- teoria ainda considerada correta,
ainda que se saiba que estes mecanismos apresentem uma interação mais complexa.

Johannes Muller (1801-1858)

 Publicou 3 volumes de fisiologia (1833-1849).


 Interessado nas diferenças entre a perceção visual e a perceção auditiva, particularmente
distintas da perceção olfativa e do paladar.
 Hipótese de que diferentes partes do cérebro podem estar especializadas para processar
cada uma destas perceções- decidiu erradamente de que era impossível.

 Ambos tiveram um contributo crucial em demonstrar o potencial valor da fisiologia para a


psicologia.

Psicologia moderna- contributo da área da fisiologia animal

Ivan Pavlov (1849-1939)

 Fisiologista russo.
 Realizou estudos empíricos sobre condicionamento clássico da salivação dos cães.
 Foi premiado com o prémio nobel pelas suas investigações sobre o trato digestivo.
 Teve um papel crucial no desenvolvimento do behaviorismo.

Psicologia moderna- contributos da Fisiologia

 Houve uma diminuição das experiências da fisiologia e no âmbito do contributo desta para a
psicologia no período das 2 grandes guerras mundiais, no início do séc. XX.
 Depois desse período houve menos preocupação dos psicólogos com o estudo da fisiologia.

Psicologia moderna- psicanálise

Sigmund Freud (1856-1939)

 Visão revolucionária.
 Ao contrário do que se acreditava até então- que o comportamento anormal era causado
por demónio e o tratamento envolvia dificultar a vida desses demónios.
 Defendeu que o comportamento anormal deveria ser considerado doença mental, ex.
causada pela funcionalidade alterada da mente.
 Defendeu que a psicologia é de importância fundamental na tarefa de compreender e tratar
as perturbações mentais.
 Foi o 1º a desenvolver uma abordagem terapêutica psicológica sistematizada, que originou
outras abordagens terapêuticas posteriores.
 A psicanálise contribuiu para o estudo do desenvolvimento emocional humano e para o
desenvolvimento de tratamento para as perturbações mentais.
 Contribuiu para o alargar do papel da psicologia, para além de processos básicos cognitivos
(ex. sensação, perceção, memória), para o processo de desenvolvimento humano, processos
sociais, motivação, personalidade e comportamento sexual- provavelmente o que +
contribuiu para a diversidade e riqueza da psicologia atual.

Psicologia moderna- Behaviorismo- EUA (1912-…)

John Watson (1878-1958)

 Fundador do behaviorismo.
 Partiu da preocupação da psicologia ser muito objetiva e, logo, pouca científica- Muitos
psicólogos da altura baseavam as suas teorias na sua própria experiência/ introspeção.
 Defendia que a psicologia devia descrever objetivamente o que é o comportamento
observado- através de um método científico das ciências naturais.
 Defendeu uma psicologia experimental com medidas de comportamento obtidas em
condições bem controladas.
 Acreditava que a maioria do comportamento humano se devia à aprendizagem e treino-
fatores ambientais (estímulo-resposta)- a hereditariedade não tinha ou tinha pouca
importância (visão excessivamente simplista).
 Objetivo: predizer e controlar o comportamento.

Psicologia moderna- ainda os contributos da Fisiologia

Fisiologistas

Estudos diretamente com tecidos cerebrais: contributos substanciais para as funções do cérebro.

Primeiras tentativas de mapeamento das funções cerebrais.

 Paul Broca (1824-1880)

Cirurgião francês- hospital para doentes mentais

Área de Broca- responsável pela linguagem

(Autópsia de homem com linguagem incompreensível- Afasia de Broca)

 Franz Josef Gall (1758-1828)

Médico cientista alemão

Dissecava cérebros de animais e de pessoas mortas

Constatou:

1. A existência de substâncias cerebrais (branca e cinzenta)


2. A conexão de cada lado do cérebro ao lado oposto da espinal medula através de fibras
nervosas.
3. A ligação por fibras entre as metades do cérebro.
4. Tendência de comportamento + inteligente em animais com cérebros maiores.
5. Tentou associar o formato do cérebro (saliências e afundamentos) a características
intelectuais e emocionais (ex. benovelência, auto-estima…)

Movimento cranioscopia- frenologia.

 Santiago Ramón y Cajal (1852- 1934)

Médico- escola de medicina da universidade de Zaragoza.

Recebeu medalha de Helmholtz- academia real de ciências de Berlim.

Prémio Nobel da medicina em 1906.

Estudou a conexão entre as estruturas cerebrais (neurónios e sinapses).

Descobriu a direção seguida pelos impulsos nervosos no cérebro e na medula espinal.

 Fisiologia do séc. XIX: espírito mecanicista.


 Os fisiologistas realizavam experiências para investigar os mecanismos dos fenómenos mentais.
 Próximo passo: aplicação do método experimental na mente propriamente dita.
 Empirismo britânico defendiam a sensação como a única fonte de conhecimento.
 Surgem as primeiras aplicações do método experimental à mente com 4 fisiologistas da
Alemanha: Hermann von Helmholtz, Ernst Weber, Gustav Theodor Fechner e Wilhelm Wundt.

 Hermann von Helmholtz (1821-1894)

Contributos para a psicologia:

o A velocidade do impulso nervoso não é instantânea.


o Medidas entre uma aplicação de 1 estímulo num nervo motor e a reação muscular=27
metros por seg (animais) – teve implicações posteriores para estudos sobre o tempo de
reação.
o Teoria da visão cromática- perceção de tons.
o Estudos sobre a audição.
o Concentração nos contributos práticos da ciência.

 Ernst Weber (1795-1878)

Aplicou métodos experimentais às sensações cutâneas e musculares.

Contributos para a psicologia:

o Determinação do limiar de 2 pontos na pele- distância em que é possível distinguir 2 origens


separadas de estímulo- implicação na demonstração sistemática experimental do conceito
de limiar.
o 1ª lei quantitativa da psicologia: diferença mínima percetível- menos diferença detetável
entre 2 pesos- as sensações não dependem da diferença absoluta entre 2 pesos mas da
diferença relativa ou da proporcionalidade.
o Não há correspondência direta entre o estímulo físico e a perceção desse estímulo.

 Gustav Theodor Fechner (1801- 1887)

Alegou que o aumento na intensidade do estímulo não produzia um incremento com a


mesma proporção na intensidade da sensação.

Contributos para a psicologia:

1. Limiar absoluto de sensibilidade: ponto de sensibilidade abaixo do qual as


sensações não são detetadas e acima do qual são percebidas.
2. Limiar diferencial: ponto de sensibilidade em que a menor alteração num estímulo
provoca uma mudança na sensação.
3. S=K log R, S: magnitude da sensação, k=constante, R: magnitude do estímulo.

Demonstrava em fórmula o trabalho de weber:

4. Método do erro médio/método do ajuste- o indivíduo ajusta o estímulo variável até


sentir que ele é igual a um estímulo padrão (a média dos vários ajustes).
5. Psicofísica: a relação entre o mundo mental (psico) e o material (físico).
6. Permitiu a aplicação de métodos científicos a ampla variedade de problemas
psicológicos com técnicas de medição coerentes e precisas.

Psicologia moderna: a fundação oficial

Wilhelm Wundt (1832.-1920)

Meados do séc. XIX- estavam a ser aplicados os métodos das ciências exatas ao estudo dos
fenómenos mentais.

 Foi o 1º que objetivou a fundação de uma nova ciência- a psicologia experimental.


 Criou o laboratório na universidade de Leipzig e revista científica.
 Defendeu que não conseguimos manter a atenção em mais de uma coisa ao mesmo tempo-
atualmente conhecemos as limitações do multitasking.
 Objetos de estudo: a consciência (sensação, perceção, atenção, sentimento, reação e
associação).
 Contributos para a criação de 2 áreas da psicologia: experimental (funções mentais
simples) e a psicologia cultural/social (processos mentais superiores).
 Volição/voluntarismo: ato ou força da organização da mente/consciência em organizar o
conteúdo em processos de pensamento superior.
 Experiência mediata: oferece informação sobre o objeto/experiência imediata: refere-se à
perceção.
 Utilizava o método da introspeção para estudo da consciência: autoanálise da mente para
relatar pensamentos e sentimentos pessoais.
 Teoria tridimensional do sentimento: através da repetição de sons rítmicos podiam gerar-se
sentimentos subjetivos de prazer ou desprazer; tensão antes de um som e alívio depois do som
tensão/ relaxamento; excitação/depressão.

As influências para o funcionalismo

Experiências com psicologia animal

 Desde 1880

Charles Darwin (1809-1882)

 Estudou a evolução das espécies depois de outros autores (ex. Lamarck- teoria
comportamentalista da evolução).
 Publicou o livro “ A origem as espécies” um ano antes do livro de Fechner “Elementos da
psicofísica”.
 Introduziu o conceito de evolução das espécies: mudou o foco das estruturas para a função.
 Livro “A ascendência do Homem”- enfatiza a semelhança entre processos mentais humanos
e animais.
 Livro “A expressão das emoções no homem e nos animais”- defende que as expressões
emocionais evoluíram ao longo do tempo e só as que foram úteis sobreviveram.
 “Esforço biográfico de uma criança pequena”- importante percursor da psicologia do
desenvolvimento.

A influência de Darwin na psicologia

 Estudo da psicologia animal- base da atual psicologia comparativa.


 Ênfase nas funções e não na estrutura da consciência.
 Foco na descrição e quantificação das diferenças individuais.
 Aceitação da metodologia de diversas áreas (geologia, arqueologia, demografia, observação
de animais,..)

Francis Galton (1822-1911)

 Estudos sobre as diferenças individuais e sobre a capacidade humana.


 Livro “O génio hereditário”- defendia que a genialidade individual ocorria com tanta
frequência nas famílias que não podiam ser explicadas por influência ambiental.
 Fundou a ciência da Eugenia (“Eugenes”)- sugeriu a seleção artificial para uma raça humana
altamente talentosa.
 Fundou o laboratório antropométrico na exposição internacional de saúde.
 Estudou a associação de ideias e o tempo de reação (tempo necessário para a produção de
associações).
 Escreveu sobre a importância do inconsciente.
 A qualidade da reprodução das imagens mentais estavam distribuídas na população com a
curva normal.

Influência de Galton na psicologia:


 Deu origem ao conceito de testes mentais- considerava que a inteligência podia ser medida
com base na capacidade sensorial do indivíduo.
 A leitura das suas ideias influenciou Freud e Jung, para além do funcionalismo.

William James (1842-1910)

 Percursor da psicologia funcional


 Não fundou a psicologia funcional mas defendeu as suas ideias dentro da atmosfera
funcionalista da psicologia note americana.
 Papel na psicologia americana muito paradoxal- aclamado pelo contributo da evolução da
psicologia e crítico da mesma.
 Livro “princípios da psicologia”- elevado sucesso e importante contribuição para a área.
 Escrita científica de rara clareza.
 Posicionou-se contra o objetivo de Wundt e do estruturalismo (elementos da consciência).
 Defendia como meta da psicologia: estudo da adaptação dos seres humanos ao meio
ambiente.
 Função da consciência: orientar-nos para a sobrevivência.
 Enfatizada os aspetos não racionais da natureza humana (emoção e paixão).
 A condição física afeta o intelecto.
 Os fatores emocionais determinavam as crenças.
 As necessidades e desejos influenciam a razão e os conceitos.
 Psicologia= ciência da vida mental, que abrange todos os seus fenómenos e condições.
 Consciência como fluxo constante não divisível.
 A consciência deve ser analisada no seu ambiente natural.
 Metodologia eclética, incluía a introspeção e muitas outras metodologias.
 Enfatizava a importância do pragmatismo “se funcionar é verdadeiro”.

Granville Stanley Hall (1844-1924)

 1º doutorado em psicologia nos EUA.


 Deu início ao 1º periódico norte- americano de psicologia.
 1º presidente de Clark university.
 Organizador e 1º presidente da APA.
 Um dos 1ºs psicólogos de psicologia aplicada.
 Interesse particular na psicologia evolucionista: defendia que o crescimento normal da
mente envolvia uma série de fases evolucionárias.
 Teoria da recapitulação: o desenvolvimento pessoal repete a história da evolução da raça
humana, evolui-se de um estádio selvagem quando bebés até um ser racional e civilizado na
fase adulta.

Funcionalismo 😊

 Movimento norte americano de protesto contra a psicologia experimental de Wundt e o


estruturalismo de Tichener- tentativa de recomeçar nova base da psicologia- várias
psicologias funcionalistas (termo de Titchner).
 Preocupa-se com as funções da mente- como é utilizada para se adaptar ao meio ambiente-
tarefa do funcionalismo é descobrir como funciona o processo mental, as suas realizações e
condições sob as quais ocorrem.
 A psicologia das utilidades fundamentais da consciência- aumento de interesse da psicologia
aos problemas de vida diária- a psicologia aplicada- possivelmente o maior contributo desta
corrente de pensamento.

Nota: a psicologia aplicada veio do funcionalismo.

Críticas e contributos do funcionalismo:

 Críticas dos estruturalistas: método e foco na aplicação à vida diária.


 A forte oposição entre o estruturalismo e o funcionalismo impulsionou a evolução da
psicologia no EUA.
 A psicologia aplicada- possivelmente o maior contributo desta corrente de pensamento.
 Investigação do comportamento animal- psicologia comparativa.
 Incorporava métodos científicos diversos: complementavam a introspeção com dados como
a pesquisa fisiológica, os testes mentais, os questionários e as descrições objetivas dos
comportamentos.

Psicologia aplicada

Teoria evolucionista e funcionalismo

 Cultura americana voltada para o prático, para o que funciona.

Evolução da psicologia norte-americana 1880-1900

 Em 20 anos criaram-se 41 laboratórios de psicologia.


 Em 1880 para estudar psicologia os americanos tinham de ir para a Alemanha.
 De 1892 a 1904 houve mais de 100 doutorados em psicologia por faculdades dos EUA.
 Ocorreu uma clara inversão: a proporção de artigos de 50% alemão- 30% inglês passou a
14% alemão- 52% inglês.
 O inglês passou a ser o idioma dominante- o psychological abstracts da APA só publicava em
inglês.
 Depois de 20 anos do início da psicologia europeia os americanos lideram claramente a área.
 Elevada popularidade académica e de aplicação noutros contextos.
 Ainda hoje os psicólogos americanos dominam a área- são os que realizam mais
investigação.

Condições para o desenvolvimento da psicologia aplicada

 Condições e abertura do funcionalismo à aplicação da psicologia na vida do dia-a-dia.


 Aumento de competitividade entre os muito formados em psicologia.
 Necessidade dos laboratórios e escolas de psicologia demonstrarem a aplicação e retorno
económico da psicologia.
 Cattell (presidente APA) incentivava às aplicações práticas e o desenvolvimento da profissão
da psicologia aplicada:
 Valorizar a psicologia aplicando-a – educação, comércio e indústria, centros de testes
psicológicos, sistema judiciário, saúde mental.

James Mckeen Cattell (1860- 1944)

 Nasceu em Easton (Pennsylvania).


 Com estudos de pós graduação na Europa: Gottiingen e Leipzig.
 Ganhou bolsa para a Johns Hopkins (aluno de Stanley Hall- estudo dos tempos de reação).
 Interessou-se pela psicologia pela própria experiência com drogas.
 Relatou o efeito de drogas no funcionamento cognitivo.
 Interessou-se pelo estudo das diferenças individuais (escola americana)- conheceu Francis
Galton quando lecionou em Cambridge (UK).
 Destacou a quantificação, classificação e gradação.
 Criou a Psuchological review.
 Adquiriu a revista semanal science (que estava na falência) e tornou-a na revista oficial da
associação americana para o programa da ciência (e outros periódicos- esposa editora
chefe).
 Utilizou o termo testes mentais (testes de capacidade motora e sensorial)- testou um
grande número de pessoas- percursor da psicometria.
 Contudo, os testes que utilizou estavam pouco relacionados com o desempenho académico.

Alfred Binet (1857-1911)

 Desenvolveu o 1º teste verdadeiramente psicológico de capacidade intelectual.


 Discordava de Galton e Cattell que avaliavam o processo sensório motor para medir a
inteligência.
 Percebeu que esse tipo de medições não dava resultados diferentes das suas filhas e de
adultos.
 Defendia a avaliação da memória, atenção, imaginação e compreensão.
 Publicou mais de 200 artigos e livros.
 Com Theódore Simon (psiquiatra) fez parte da comissão para esudar a capacidade de
aprendizagem das crianças francesas que apresentavam dificuldades de aprendizagem.
 Teste de inteligência Stanford- Binet avaliava 3 funções cognitivas: julgamento,
compreensão e raciocínio.
 Introduziram o conceito de idade mental: idade em que a criança com capacidade mediana
é capaz de realizar tarefas específicas.
 Foi nos EUA que houveram os avanços + significativos posteriores: Lewis M. Terman- adotou
o conceito de quociente de inteligência (QI): proporção entre a idade mental e a
cronológica ( desenvolvido inicialmente pelo Alemão William Stern)

Florence L. Goodenough
Uma das mulheres doutoradas em psicologia que, por não ter lugar na academia, dedicou-se à
psicologia aplicada.

Teste da figura humana.

Os trabalhos de psicologia aplicada eram muitas vezes vistos como menores.

Lightner Witmer (1867-1956)

 Discípulo de Cattell e Wundt.


 Aplicava a psicologia para medir e tratar o comportamento anormal.
 Inaugurou um campo que designou de psicologia clínica.
 Abriu a 1ª clínica de psicologia no mundo: 1896: em 1914: 20 clínicas nos EUA
 Não fazia psicoterapia- conhecia mal e abominava-a.
 Avaliava e tratava os problemas de aprendizagem e comportamento de crianças em idade
pré escolar.
 Foi estudando as crianças conforme as necessidades de acompanhamento.
 Trabalhava com médicos, assistentes sociais e outros psicólogos.
 Ofereceu o 1º curso de psicologia clínica e criou a 1ª revista especializada na área
Psychological Clinic.
 Influências posteriores, como Freud e os veteranos de Guerra.

Walter Dill Scott (1869-1955)

 Aluno de Wundt.
 Aplicou a psicologia à publicidade e aos negócios.
 Foi o 1º a aplica-la à seleção pessoal, à administração e à publicidade.

Gestalt

Wolfgang Kohler (1887-1967)

 Psicólogo alemão- vivia e estudou o comportamento animal em Tenerife (resolução de


problemas por insight observado em macacos- em oposição à tentativa e erro aleatória).
 Fundador da Gestalt.
 Geraram na Europa, a revolução contra a natureza elementar de Wundt- ponto em comum
com o Behaviorismo (apesar de independentes e contrapostas).
 O todo é diferente da soma das partes (ex. composição musical ou paisagem).
 influenciado pelas ideias de Kant, Ernest Mach, Chirtian von Ehrenfelds (qualidades da
forma), o próprio William James.
 Influenciado pela corrente da filosofia fenomenologia: baseada na descrição imparcial da
experiência imediata na forma como ela ocorre (não analisada ou reduzida a elementos).

 Influenciado pela nova visão da física- campos de força (regiões ou espaços atravessados por
linhas de força)- em contraste com a visão atomística.

Max Wertheimer (1880-1940)

 Praga e Alemanha (teve de se refugiar nos EUA)


 Fundador da Gestalt
 Estudou a perceção do movimento aparente: uma luz numa fenda a apagar milissengundos
antes de outra luz noutra fenda parecem ser a mesma luz em movimento: fenómeno phi.
 Defendeu ter encontrado provas de que as ideias elementares não eram corretas,
considerou tê-las refutado inequivocamente: livro: “Estudos experimentais da perceção do
movimento”
 Estudos com Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Kohler (1887-1967)
 Fundou a revista psychological research.
 Influenciou Maslow.

Kurt Koffka (1886-1941)

 Alemão.
 Fundador da Gestal.
 Publicou nos EUA “perceção: uma introdução à teoria da Gestalt”
 Importante mas gerou equívocos por colocar no título perceção (ao invés de ser mais vasto:
processos cognitivos)- mais danos que benefícios.

Influenciou:

 Lewin e a psicologia social.


 Psicologia humanista.
 Psicologia cognitivista.
 Maslow.
O que é o princípio da Gestalt?

O princípio da Gestalt foi desenvolvido no início do século XX por dois famosos teóricos:
Wolfgang Köhler e Kurt Koffka. Eles observaram que a mente humana tem um comportamento
bem padronizado ao perceber as formas vistas nos objetos, nas pessoas, nos cenários e em tudo
o que vemos.

Os gestaltistas afirmam que, ao receber um estímulo visual, nosso cérebro não recebe uma
excitação sensorial isolada, mas vários sinais complexos que agrupam todas as características
que consideramos semelhantes, somando rapidamente todas as partes do item visto.

Isso significa que, à primeira vista, percebemos os objetos em sua totalidade, para só depois nos
atentarmos aos detalhes. Essa teoria é facilmente comprovada por ações da nossa rotina: ver
desenhos nas nuvens e formas (de cruz, de animais e formas geométricas) nas constelações são
exemplos disso.
A Relação Terapêutica

Modelo Centrado no Cliente

Carl Rogers (1902-1987)

Hipótese central da Abordagem Centrada

A pessoa é um ser auto-determinado que tem dentro de si vários recursos, que lhe permitem:

• Uma maior auto-compreensão,

• Um progressivo auto-conhecimento e auto-descoberta,

• Alterar o conceito que vai construindo de si (self-concept),

• Modificar atitudes e auto-dirigir o seu comportamento.

 O organismo é um todo integrado que interage com o meio. Tem tendência para se conservar a
si mesmo e mover-se no sentido da maturidade.

• Tendência atualizante: esta tendência do organismo para desenvolver todas as suas capacidades
que lhe permitem manter-se ou desenvolver-se:

«Quanto mais um indivíduo é compreendido e aceite, maior tendência tem para abandonar as
falsas defesas que empregou para enfrentar a vida, e para progredir numa via construtiva»

Rogers, 1985

O adoecer psíquico

• Cria-se uma imagem distorcida do self e das suas potencialidades.


• O processo de simbolização da experiência organísmica torna-se patológico. Há uma
impossibilidade da experiência ser percecionada de forma autêntica e real pela estrutura do self.

• Desencadeia-se um processo defensivo, que utiliza a negação e a distorção, para se proteger das
experiências angustiantes. O self desorganiza-se.

Rogers, 1959

Desacordo entre experiência e estrutura do self

Falta de aceitação de si

Deficiente comunicação interna

Avaliação parcial da experiência

Comportamento desajustado = Incongruência

O que fazer?

Objetivo do processo terapêutico

Facilitar o desbloqueio da tendência actualizante, permitindo ao organismo o restabelecer da


capacidade de se ajustar adaptativamente o seu self concept à sua experiência.

Como fazê-lo?

Condições do Processo Terapêutico

• Rogers (1957) enuncia 6 condições que afirma necessárias e suficientes para uma relação
terapêutica atingir os seus objetivos.

Ou seja, se estas 6 condições se verificarem e tiverem alguma continuidade na terapia, o processo de


mudança de personalidade irá acontecer.

• 1. Que os intervenientes estejam em contacto psicológico.

• 2. Que a primeira pessoa, a quem chamaremos cliente se encontre num estado de


incongruência interna, de vulnerabilidade ou angústia.

• 3. Que a segunda pessoa, a quem chamaremos terapeuta, se encontre num estado de


congruência – pelo menos naquilo que se relaciona ao objeto da relação com o cliente.

 4. Que o terapeuta experiencie uma atitude de olhar positivo incondicional pelo cliente.
• 5. Que o terapeuta experiencie uma compreensão empática da realidade do cliente, do
seu quadro de referência interno.

• 6. Que o cliente perceba – mesmo que num grau mínimo – a presença do olhar positiva
incondicional e da compreensão empática por parte do terapeuta.

1. Contacto Psicológico

• Implica a hipótese de que uma mudança positiva de personalidade só ocorre no contexto


relacional.

• Refere-se ao campo fenomenal onde terapeuta e cliente estão imersos

• O contacto psicológico, quando presente, permite que na relação existam: feedback (entre o
self do cliente e o mundo externo, entre o self do cliente e o self do terapeuta ); negociações;
ajustamentos criativos; alianças; uma construção social da realidade.

• Havendo contacto, cada uma das pessoas faz alguma mudança percebida no campo
experiencial da outra.

• Ex: Doente catatónico – Será que a presença do terapeuta lhe trará algum benefício relacional,
alguma mudança no seu campo experiencial?

2. Incongruência (cliente)

• É necessário que o cliente tenha a consciência de que está num estado de vulnerabilidade ou
ansiedade. Uma sensação consciente e dolorosa, ameaçadora da destruição do Eu.

• É um fenómeno central e universal de qualquer desajuste psicológico.

• Este estado é resultado do desacordo entre a experiência da pessoa e a representação que a


pessoa faz de si a partir dessa mesma experiência.

3. Congruência (terapeuta)

• O terapeuta deve ser, no contexto da relação, genuino, verdadeiro, transparente.

• É uma atitude, um estado de ser integrado, em que a sua experiência é rigorosamente


representada pela consciência de si próprio.

• A congruência tem duas faces, a interna e a externa: O lado Interno refere-se ao grau no qual
o terapeuta tem acesso consciente a todos os aspetos da sua experiência. O lado externo refere-
se à comunicação verbal e não verbal do terapeuta das suas perceções, atitudes e sentimentos.
Este aspeto chama-se transparência.

Parece essencial que o terapeuta seja genuíno, ou integrado, ou congruente na relação. O que isto
significa é que é importante para o terapeuta ser o que ele é no seu contacto com o cliente. (….) Se
ele apresenta uma fachada exterior ou qualquer atitude ou sentimento, enquanto interiormente ou
num nível inconsciente ele experiencia outro sentimento, a probabilidade do sucesso terapêutico
estará diminuída (Rogers, 1956).

«Não é fácil para qualquer ser humano confiar os seus sentimentos mais profundos e protegidos a
outra pessoa. Ainda é mais difícil para uma pessoa perturbada partilhar estes sentimentos profundos
e problemáticos com o terapeuta. A genuinidade do terapeuta é um dos elementos na relação que
leva a pessoa a correr o risco de partilhar mais facilmente com menos receios» (Rogers, 1966).

Exemplo de Congruência

• O cliente já estava a falar há algum tempo acerca de como iria deixar a sua esposa, quando de
repente pára e pergunta ao terapeuta se este o está a acompanhar e a compreender, ao que o
terapeuta responde:

“Não…com toda a honestidade eu não compreendo… está a falar acerca de deixar a sua mulher…
mas por alguma razão não o estou a compreender muito bem (longo silencio) é como se tivesse isso
tudo planeado passo por passo… e é tão complicado… mas eu não compreendo onde é que estão os
seus sentimentos no meio disto tudo.”

• Os terapeutas às vezes têm dificuldade em admitir que não estão a compreender o cliente: talvez
eles possam assumir que a sua falta de compreensão é um indicador de inadequação. Neste
exemplo o terapeuta não estava defensivo acerca da sua dificuldade de compreensão. Estava aberto
à sua falta de compreensão, focado nesse sentimento que estava a emergir de si. Concluindo que
uma das coisas que estava a minar a sua compreensão era o facto de que apesar do seu cliente ter
muitos pensamentos sobre esta situação não estava a ser claro acerca dos seus sentimentos.

Exemplo de Incongruência

Cliente: parece-me que você não gosta de mim...

Terapeuta: claro que gosto!

O terapeuta estava perfeitamente consciente do facto de não gostar muito do cliente mas mentiu.
Perdeu uma excelente oportunidade de dar uma resposta congruente e um seguimento
compreensivo a essa resposta. A relação teria evoluído porque o terapeuta passaria a poder estar
mais verdadeiramente na relação, e o cliente ficaria mais capaz de confiar na genuinidade e
transparência do terapeuta. O cliente estava a desejar investir tanto nesta relação que até conseguiu
estar atento às dificuldades do terapeuta na relação.

4.Olhar positivo incondicional

• O terapeuta deve aceitar o cliente e a sua experiência, sem condições, juízos de valor ou
julgamentos.

• Parte-se do princípio de que é impossível julgar uma pessoa, já que não se pode ter a compreensão
suficiente para perceber todos os dados em questão.

• O terapeuta é capaz de separar a pessoa da doença/problema. Aceita a pessoa, ajudando-a com


isso a identificar e combater o problema/doença.
• O terapeuta não deve permitir que as suas necessidades pessoais interfiram na terapia. Deve
aceitar de igual forma os sentimentos positivos e negativos do cliente, pois estes existem. Não deve
dar respostas, mas ajudar a encontrar respostas...

5.Empatia

• Sofrer com (empatia) Vs Sofrer por (simpatia)

• O terapeuta aceita, reconhece e clarifica os sentimentos do cliente. Assume o quadro de


referências interno do cliente, para perceber o mundo e o próprio self do cliente do modo que
ele o faz, e comunica esta compreensão empática com a atitude implícita, “Compreendi-o
corretamente?”

• O objetivo principal do terapeuta é compreender o cliente de modo a que este tenha a


experiência de ser compreendido.

• “To sense the client´s private world as if it were your own, but without ever losing the «as if»
quality” (Rogers, 1957)

• Empático: um modo de ser (Rogers, 1975)

• Um modo empático de ser com outra pessoa tem diversas facetas diferentes.

Significa entrar no mundo percetual privado do outro e sentir-se verdadeiramente em casa.

Envolve ser sensível, momento a momento, aos significados sentidos e em mudança que fluem
na outra pessoa, ao medo ou raiva ou ternura ou confusão, ou seja o que for que o outro está a
experienciar.

Significa viver temporariamente a vida do outro, movendo-se nela delicadamente sem fazer
julgamentos; significa sentir significados de que a outra pessoa não tem consciência, mas sem
tentar descobrir completamente sentimentos inconscientes, dado poder ser demasiado
ameaçador.

Inclui comunicar o sentido que se está a ter do mundo da pessoa, visto com olhos frescos e sem
medo.

Significa verificar frequentemente com a pessoa a precisão do sentido, e ser guiado pelas
respostas da pessoa.

6. Perceção do cliente
• Se não houver a comunicação destas atitudes de aceitação e empatia ao cliente, para ele é como
se não tivessem existido, e o processo terapêutico fracassou.

• Cliente sobre terapeuta: “potenciou a minha posse da minha própria experiência... Que esta é de
facto a minha experiência e que estou realmente a tê-la: a pensar o que estou a pensar, a sentir o
que estou a sentir, a querer o que estou a querer, a recear o que estou a recear. Sem “mas” ou
“talvez” ou “nem por isso”.

O processo terapêutico e os resultados (Rogers, 1959)

QUANDO ESTAS CONDIÇÕES ESTÃO PRESENTES E SE MANTÊM, COLOCA-SE EM AÇÃO UM


PROCESSO COM AS SEGUINTES CARACTERÍSTICAS:

• 1. O cliente sente-se progressivamente mais capaz de expressar os seus sentimentos de forma


verbal ou não verbal;

• 2. Os sentimentos que expressa relacionam-se cada vez mais com o seu Eu (self-reference) e
menos com o não-Eu (nonself) – meio ambiente.

• 3. Torna-se cada vez mais capaz de distinguir os objetos dos seus sentimentos e perceções.

• 4. Os sentimentos que expressa relacionam-se, cada vez mais, com o estado de incongruência
existente entre certos elementos da sua experiência e do seu conceito de Self.

• 5. O cliente toma consciência da ameaça que este estado de incongruência interna representa
para si.

• 6. O cliente experiencia plenamente sentimentos que até então tinha negado ou distorcido.

• 7. A imagem do Self modifica-se de forma a permitir a assimilação e integração de elementos


dessa experiência que até então tinham sido deformados ou negados à consciência.

•8.À medida que a reorganização da estrutura do Self prossegue, o conceito de Self torna-se
progressivamente mais congruente com a sua experiência.

• 9. O cliente torna-se cada vez mais capaz de experienciar o olhar positivo incondicional do
terapeuta, sem se sentir ameaçado por essa experiência.

• 10. Progressivamente experiencia uma atitude de consideração incondicional positiva em relação a


si mesmo.

• 11. Progressivamente experiencia-se a si próprio como o centro (locus) da sua avaliação.

• 12. A avaliação da sua experiência torna-se cada vez menos condicional e torna-se cada vez mais
na base de dados “organísmicos”, isto é, das experiências vividas.

Pessoas completamente funcionais – 7 traços:

• Abertura à experiência

• Viver no presente

• Confiar nos próprios sentimentos e instintos


• Centrar-se em si mesmo e ter capacidade para fazer escolhas independentes

• Criatividade e flexibilidade

• Confiabilidade

• Sentir-se realizado e satisfeito com a vida.

Abraham Maslow – Teoria da Hierarquia das Necessidades

Origem da psicanálise

●A psicanálise é um método de tratamento de distúrbios que visa a compreender e explicar a


génese: da histeria, neurose e da psicose;

●Freud formou-se em psiquiatria e neurologia, trabalhando com pacientes neuróticos, com estes
notou que tinham problemas relacionados com nervos e ansiedade, acabando por prejudicá-los a
nível físico;

●Freud inspirando-se no método hipnótico de um neurologista francês, Jean-Martin Charcot, com o


qual realizou um estágio, Freud apropriando o seu método começou a tratar pacientes que
apresentavam distúrbios nervosos por sugestão hipnótica, com base nestes tratamentos Freud
conclui que a descoberta da origem do problema ajudava na resolução/superação do mesmo;

●Freud conseguiu criar um método que ajuda indivíduos com doenças mentais a lidar com conflitos
internos que contribuem para um comportamento disfuncional. Todas estas técnicas partiram de
uma necessidade de conhecer mais, no sentido de ajudar mais, sendo esse o principal objetivo de
Freud e onde podemos demarcar a origem da psicanálise.

Freud e o seu Método

●Como foi mencionado previamente, Breuer teve uma influencia marcante na construção
metodológica de Freud, principalmente, pelos seus métodos catárticos e hipnóticos;
●O processo de catarse é caracterizado por uma forma de tratamento de dificuldades emocionais,
fazendo o paciente relembrar e descrever os conflitos inconscientes, deste modo enfraquecendo as
memorias causadoras de sintomas;

●O método catártico e a hipnose eram utilizados por Freud no tratamento dos seus pacientes,
contudo este não estava satisfeito com a hipnose e acabou por abandoná-la, substituindo-o, por sua
vez, por uma técnica denominada de- livre associação (técnica na qual o paciente é encorajado a
falar livre e espontaneamente);

●Freud descobriu que grande parte das lembranças estavam associadas a temáticas sexuais: “as
principais e mais imediatas causas, para fins práticos, do distúrbio neurótico estão nos fatores
oriundos da vida sexual” (as cited in Breger, 2000, p.17)

●Existem ainda outros métodos de tratamento: a análise de sonhos (como representações da


satisfação dissimulada dos desejos reprimidos) e também o princípio da repressão, responsável por
provocar nos pacientes “resistências”, sendo necessário trazer material reprimido para o consciente,
a fim de enfrentá-lo.

Análise/Interpretação dos Sonhos

●É feita a análise e interpretação dos sonhos com o intuito de revelar conflitos inconscientes, eram
uma fonte exuberante de material emocional significativo, além de conter pistas para as causas
subjacentes de um distúrbio;

●Freud considerou dois elementos fulcrais:

Conteúdo superficial- A verdadeira historia de uma recordação;

Conteúdo latente/simbólico- Corresponde a desejos proibidos;

O Caso de Anna O.

●Os primórdios da psicanálise brotaram-se a partir das diversas experiências, uma dessas instâncias
foi o caso de Anna O., onde uma jovem começou a desenvolver sintomas agudos de histeria, como a
paralisia, a deterioração mental, náuseas e distúrbios visuais e orais, enquanto cuidava do seu pai,
por quem alegadamente possuía uma espécie de paixão;

●O fisiologista austríaco Josef Breuer encarregou-se do tratamento desta paciente, utilizando assim
a hipnose e conversando com ela diariamente, com o intuito de trazer para a superfície experiências
distintivas que pudessem ter sido a fundação para alguns dos seus sintomas;

●O afastamento repentino de Breuer para com Anna O. revelou severas consequências para a
mesma, tendo até repercussões físicas;

●O diálogo de Breuer relativo ao caso de Anna O. foi fundamental para o desenvolvimento da


psicanálise, uma vez que expôs o método catártico, ou seja, a cura por meio da conversa, a Freud.

O Inconsciente

Os instintos:
●Os instintos são a força propulsora ou motivadora da personalidade, o estímulo biológico impulsor
da energia mental, os instintos freudianos não representavam inclinações herdadas, mas sim, fontes
de estimulação intrínsecas ao corpo;

●O encargo do instinto passa por eliminar ou atenuar essa estimulação por meio de algum
comportamento, como por exemplo o ato de beber, comer ou manter relações sexuais;

●Os instintos são, para Freud, as reproduções mentais dos estímulos internos (como a sede), que
motivam a personalidade e a nossa conduta;

●Freud elaborou a distinção entre dois tipos de instintos, nomeadamente, os instintos de vida (eros)
e os instintos de morte (tanatos);

● Os primeiros estão relacionados à autopreservação e à sobrevivência das espécies, como a fome,


sede e sexo, visto que integram as forças criativas sustentadoras da vida (aliciado a este conceito,
Freud também caracterizou a libido como a energia psíquica que conduz o indivíduo na busca de
pensamentos e comportamentos prazerosos);

●Os instintos de morte organizam um força destrutiva, que pode ser interiorizada na forma de
masoquismo ou suicídio, bem como exteriorizada, por meio de agressão ou ódio.

Os Níveis de Personalidade

Inicialmente, Freud propusera a divisão da vida mental em dois segmentos: o consciente, que
abrangia a minúscula e insignificante porção visível do iceberg, e o inconsciente, a gigantesca e
poderosa parte submersa do iceberg, que envolvia os instintos freudianos, ou seja, as forças
propulsoras de toda conduta humana.

●Posteriormente, Sigmund Freud reconsiderou essa distinção elementar entre o consciente e o


inconsciente e apontou os conceitos:

Id- O id, nada mais é do que a parte mais remota e menos alcançável da personalidade, na qual
observamos o sexo e os instintos agressivos, onde a satisfação imediata é o nosso único desejo,
deixando de parte os juízos de valor, como o bem e o mal, o moral e imoral. O id procura encontrar
o prazer e evitar a dor a todos os custos possíveis;

Ego- Lado racional da personalidade, que nos auxilia no controle dos instintos, age como mediador,
isto é, um simplificador da interação entre o id e as ocorrências do mundo externo. Assim sendo, o
ego representa a racionalidade;

Superego- Reconhecido como a figura moral da personalidade, estando em conflito com o id, uma
vez que, ao contrário do ego, que apenas procura adiar a satisfação do id, o superego visa interditar
a completa satisfação do id.

A ansiedade

●A ansiedade atua como um alerta das ameaças contra o ego, segundo Freud existem três tipos de
ansiedade:

●Ansiedade objetiva- que deriva do medo de perigos existentes no mundo real, como aranhas,
cobras, etc;
●Ansiedade neurótica- que ocorre diante do reconhecimento das potenciais ameaças inerentes à
satisfação dos instintos do id, sendo assim, por outras palavras, o medo da punição por exteriorizar
os desejos impulsivos do id;

●Ansiedade moral- que rompe do medo da consciência, resultante de ações ou pensamentos que
nos são imorais;

●Deste modo, a ansiedade estimula a tensão, obrigando o indivíduo a tomar alguma atitude para
atenuá-la, segundo a teoria freudiana, os chamados mecanismos de defesa, que são
comportamentos que simbolizam negações inconscientes ou distorções da realidade, servem
como um sistema de proteção para o ego, uma vez que são adotados para o proteger contra a
ansiedade.

Neo-freudianos

●As principais alterações feitas pelos neo-freudianos foram a expansão do papel do ego, a sua
separação do domínio do id, estando o ego para Freud sempre sujeito aos desejos/influências do id,
mas não para os neofreudianos;

●Os neo-freudianos também passaram a dar mais ênfase a influências sociais e psicológicas e
menos a influências biológicas;

●Para além disso, retraíram no que toca à importância da sexualidade na infância e, por sua vez, ao
“Complexo de Édipo”, dando mais importância ao psicossocial e menos ao psicossexual.

Anna Freud (1895-1982)

Filha de Sigmund Freud, única dos filhos a seguir-lhe as passadas.

●Desenvolveu uma vertente psicanalítica com especial enfoque em crianças, Análise infantil;

●Esta vertente tinha em conta a falta de maturidade e competências verbais;

●Utilização de jogos/brinquedos e observação direta da criança no ambiente de casa;

●Também deu contribuições ao atribuir definições mais precisas aos mecanismos de defesa
propostos por Freud com base nas suas análises a crianças.

Carl Jung (1875-1961)

Teve uma infância solitária, isolada e infeliz, procurando refúgio no mundo do subconsciente.

●Foco no crescimento interior em vez de relações interpessoais;

●A personalidade não é só fruto de experiências passadas, mas também de sonhos, esperanças e


aspirações;
●Libido era uma energia vital, da qual o sexo era apenas uma das suas partes integrantes.

Inconsciente Pessoal

Existe num plano inferior à consciência, contém memórias, impulsos, desejos que foram esquecidos
ou suprimidos.

●Estas experiências são agrupadas em complexos, estes englobam emoções e padrões com
temáticas em comum;

●É a manifestação de uma preocupação com alguma ideia que influencia o comportamento;

●O complexo é uma pequena personalidade dentro da personalidade maior.

Inconsciente coletivo

Conjunto de experiências/ideias/conceitos herdados de humanos e ancestrais animais, é uma


experiência cumulativa.

Arquétipos: tendências comportamentais, são determinantes inatas que predispõem um indivíduo a


comportar-se de maneira semelhante aos nossos ancestrais, quando confrontados por adversidades
semelhantes.

Alfred Adler (1870-1937)

Teve uma infância marcada por doença, inveja do seu irmão mais velho e foi rejeitado por parte da
sua mãe.

Desenvolveu a psicologia individual, tendo por base a ideia de que o comportamento humano é
determinado, maioritariamente, por forças sociais e não por instintos biológicos.

●Introduziu o conceito de interesse social, é o potencial inato de cooperação, seja para atingir
objetivos pessoais ou coletivos;

● Deu ênfase não tanto a experiências passadas mas sim a planos para o futuro;

●Considerava a personalidade algo uno e consistente, regida pelo principal objetivo de se sentir
superior (perfeito/pleno);

●A inferioridade era um grade foco de Adler, a infância é tida como uma fase de dependência e
inferioridade, logo é algo experienciado por todos;

●A inferioridade deve ser ultrapassada, é essa vontade inata que impele o indivíduo de se melhorar
e a atingir objetivos cada vez maiores. É um processo continuo que decorre ao longo de toda a vida;
(Inferioridade acaba por ser algo positivo)
●Se o indivíduo não for capaz de compensar as suas inferioridades pode vir a desenvolver um
complexo de inferioridade;

●Somos influenciadores diretos da nossa personalidade/comportamento, não recusando influências,


tanto genéticas, como culturais, apenas atribui mais poder ao indivíduo de escolher como e se usa
esses fatores, ou seja, a forma como nós usamos (ou não) ativamente esses fatores/experiências;

●Adler também atribuía importância a ordem de nascimento;

Karen Horney (1885-1952)

Karen Horney (1885-1952) Nascida em Hamburgo na Alemanha, rejeitada por parte da sua mãe que
tinha predileções pelo seu irmão mais velho, era maltratada pelo pai que menosprezava a sua
aparência e inteligência, como resultado desenvolveu sentimentos de inferioridade e inutilidade.

●Ansiedade básica- Descrita por Horney como o sentimento de uma criança quando esta está
isolada e desamparada num mundo potencialmente hostil;

●Qualquer coisa que perturbe a relação entre criança pode produzir ansiedade básica e a criança
era impelida pela procura de segurança, proteção e livre de medos num mundo ameaçador;

●Horney acreditava que a personalidade se desenvolvia na infância, mas esta permanece em


mudança ao longo da vida;

●Nada no desenvolvimento infantil era universal, era tudo dependente de fatores ambientais,
sociais e culturais.

Necessidades Neuróticas

●Quando esta ansiedade básica se torna evidente, a criança desenvolve padrões comportamentais
de forma a lidar com esses sentimentos de insegurança e desamparo, quando um destes se torna
uma parte fixa da personalidade dá-se-lhe o nome de necessidade neurótica(um método de defesa
contra a ansiedade);

●Inicialmente, propôs dez necessidades neuróticas, estas foram posteriormente agrupadas em três
grupos:

●Personalidade complacente- Que se move em direção à pessoa, implica a aceitação que um tem
dos seus sentimentos de desamparo e age de forma a conseguir o afeto dos outros, busca aprovação
e afeição;

●Personalidade desapegada- Que se move em direção oposta à pessoa, envolve a retirada/fuga, de


forma a aparentar ser auto-suficiente e evitar a dependência, sente necessidade de atingir a
perfeição;

●Personalidade agressiva- Que se move contra a pessoa, implica hostilidade, rebelião e


agressividade, tem necessidade de poder, prestígio, admiração e conquista.
Abraham Maslow (1908-1970)

●Considerado o pai da psicologia humanista;

●Teve uma infância infeliz tomando refugio nos livros para escapar à solidão e inferioridade;

●Experiências pessoais persuadiram-no a acreditar que o behaviourismo era demasiado limitado


para poder ser relevante na resolução dos problemas humanos;

●Trabalhou de maneira a melhorar a personalidade humana, de forma a mostrar que as pessoas


são capazes de comportamentos mais nobres, que não sejam ódio, prejuízo e guerra.

Autoatualização

●Segundo Maslow cada indivíduo tem a tendência inata de se autoatualizar;

● Esta requer o uso ativo de todas as nossas qualidades e habilidades, no desenvolvimento e


cumprimento do nosso potencial;

●É necessário primeiro satisfazer patamares inferiores antes que o próximo nos possa motivar;

Críticas à Psicanálise

(1) As condições sob as quais Freud executava a recolha de dados não seguiam um método
sistemático e organizado, tendo em conta que os relatos dos pacientes não eram transcritos, mas
sim tornados em anotações realizadas horas após as sessões, por este motivo, alguma da
informação inicial podia facilmente ser distorcida e omitida, devido a alterações de memória deste
psiquiatra;

(2) Freud pode ter feito uma releitura das respostas do paciente tendo sido movido pela ânsia de
descobrir algum fundamento para suas conclusões, o analista pode ter optado por se recordar e fixar
exclusivamente o que cogitava ouvir, de certa forma, é plausível que os seus registos se verificassem
indispensáveis, visto que os dados originais não foram conservados não teremos a certeza de nada
relacionado;

(3) Uma outra crítica passa pelo facto de Freud poder ter deduzido as histórias de sedução sexual na
infância com base na sua avaliação dos sintomas dos pacientes e não por meio de uma narrativa
proveniente destes mesmos, um autor chegou a sugerir que, embora Freud afirmasse que a maioria
das pacientes alegavam ter sido seduzidas pelo pai, não existiam evidências que pudessem
comprovar um único caso e que, por isso mesmo, tudo passava por uma suposição do psicanalista;

(4) A investigação de Freud sustenta-se através de uma demonstração ínfima e não característica de
pessoas, mas sim, restrito ao próprio Freud e aos que se sujeitaram a fazer psicanálise junto dele,
nos trabalhos de Freud, foram aprofundados cerca de dez casos nos quais a maioria eram mulheres
jovens, solteiras, ricas e intelectualizada;

(5) Para além disso, foram identificadas discrepâncias entre as anotações de Freud das sessões de
terapia e os casos publicados, supostamente baseados naqueles registos, os pesquisadores
constataram diferenças, envolvendo a extensão do estudo e a sequência dos acontecimentos
descobertos durante a análise, assim como supostos tratamentos não fundamentados, alguns
historiadores tentaram rastrear erros contidos nos casos não publicados deste psiquiatra, contudo
estes arquivos tinham sido destruídos pelo próprio, por outro lado, Freud publicou apenas seis casos
depois de seu desentendimento com Breuer e nenhum deles contém provas convincentes da
eficácia da psicanálise;

(6) Não seria sempre possível presumir a exatidão das narrativas dos pacientes independentemente
de qualquer anotação imprescindível das sessões de terapia, Freud examinou poucas vezes os
relatos que seus pacientes apresentaram sobre as experiências de infância dos mesmos, segundo os
críticos, Freud devia ter interrogado os parentes e amigos a respeito dos fatos relatados, ou seja a
primeira etapa da investigação apresentou-se inacabada, insuficiente e vaga.

Qual é o significado da Psicanálise atualmente?

A psicanálise é utilizada para tratar casos de neurose e psicose e, de modo geral, ajuda os
psicanalistas na compreensão do ser humano e, consequentemente, na compreensão da sociedade
atual. Contudo, mesmo que a essência da teoria seja a mesma, a interpretação mudou muito.

A psicanálise, atualmente, não tem apenas como objetivo suspender o mal do indivíduo, mas sim,
tornar consciente o que o afeta, aumentando o bem-estar psíquico. Temos que ter em consideração
que os distúrbios atuais são diferentes daqueles estudados por Freud. As apresentações clínicas mais
comuns na queixa dos pacientes englobam os distúrbios alimentares, a dependência química e de
álcool, as manifestações psicossomáticas e o consumo excessivo de medicamentos, dentre outros. A
ideia de id/ego/superego e análise de sonhos são técnicas e ideias simplistas que pouco farão no
sentido de abordar as questões que os cuidados modernos em saúde mental existem para abordar.

Concluindo, Freud ainda é relevante, mas apenas como ponto de referência, Freud estabeleceu
fundamentos dos quais os cuidados modernos de saúde mental são construídos.
Prof. Jorge

O Cérebro na Antiguidade: As hipóteses primitivas

1. Trepanação

Ato Médico mais antigo da história da medicina

Evidência pela observação de Crânios resultantes de pesquisas arqueológicas;

Razões para a Trepanação:

Motivos Místicos e Religiosos: Libertação de Espíritos – Pela Presença de comportamentos


aberrantes e malformações Cranianas

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Motivos Médicos – traumatismos

Procedimentos similares, embora mais sofisticados são utilizados na atualidade (Ex. Drenagem
de hematomas intra-cranianos).

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