Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BOCK, A.M.B. et all. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 13 ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
LINDA, L. Davidoff. Introdução à Psicologia. 3ª Ed. Pearson Makron Books, 2001. São Paulo.
TORRES, André Roberto Ribeiro. História da Psicologia. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2016. 236 p.
Com sua atividade teórica e experimental, Helmholtz era a favor de que os cientistas não apenas
estudassem, mas produzissem aparelhos e máquinas que pudessem controlar as variáveis de uma
pesquisa ou interferissem diretamente no fenômeno pesquisado. Para ele, a ciência tinha de ser prática.
Com isso, ao estudar a visão, Helmholtz produziu uma série de equipamentos utilizados até hoje para
fazer exames oftalmológicos; ao estudar a audição, produziu instrumentos de ressonância que faz
vários dos sons típicos da música eletrônica e efeitos especiais que conhecemos hoje.
2
Com essa filosofia científica, Helmholtz criou uma forma de medir o tempo de reação de um músculo ao
estímulo de um neurônio a partir de um experimento com a perna de um sapo. Ele estimularia com um
choque um neurônio e conseguiria medir o momento exato da contração muscular. Foi a primeira
medição empírica da transmissão neuronal. Até então, os cientistas acreditavam que essa transmissão
fosse praticamente imediata. Os dados de Helmholtz, porém, trouxeram a medida de 27 metros por
segundo (27 m/s), que, embora seja bastante rápida, é bem mais lenta do que se imaginava.
Em seres humanos, ele percebeu que esse número trazia uma grande variação de uma pessoa para
outra e até na mesma pessoa em duas testagens diferentes, o que fez com que desistisse de novos
experimentos com humanos. Porém, vários pesquisadores se inspiraram nos resultados de Helmholtz
para desenvolver estudos diversos, uma vez que este foi um dos primeiros trabalhos de pesquisa de
processos psicofisiológicos. Por causa disso, também deixou um grande legado de metodologia
científica, ou seja, de formas bastante práticas e rigorosas para o estudo da psicologia científica.
Para os fisiologistas, o que une o homem ao mundo são as sensações. Por isso, elas eram seu maior
objeto de estudo. Sensação é a tradução fisiológica do que é captado pelos órgãos dos sentidos.
Lembre-se de que Descartes dizia, para não confiar nos sentidos porque eles nos enganam.
Num ponto de vista mecanicista, acreditava-se que os órgãos dos sentidos reproduziam o mundo
exterior com exatidão para o mundo interior. Com o tempo, identificaram que aquilo que percebemos
não é exatamente igual ao mundo externo. Porém, o mundo continuava existindo e sendo comum a
todos. Nessa época, os pesquisadores ficaram intrigados com isso e resolveram estudar melhor essa
relação entre o mundo externo e o que é percebido dele.
Na prática sabemos que a percepção que temos do mundo não é exatamente o que ocorre no mundo lá
fora. Esse é o campo de atuação da Psicologia: o princípio do que é subjetividade, ou seja, do que diz
respeito ao sujeito.
Um pesquisador chamado ERNST WEBER (1795-1878) havia elaborado, mais ou menos na mesma
época, uma teoria que chamou de diferença mínima perceptível ou diferença mínima significativa. Com
essa teoria, criou um cálculo para saber o quanto é necessário de estímulo para que a pessoa perceba
que houve realmente uma alteração. Por exemplo, se alguém está carregando 40 kg, quanto é preciso
colocar de peso a mais para que essa pessoa perceba essa diferença? Weber também calculou o
quanto de estímulo é necessário para que a pessoa tenha uma sensação, chamada de sensação
mínima perceptível.
Essas e outras pesquisas estimularam os estudiosos em Psicologia da época, assim como futuros
pesquisadores também. Isso porque eles consideravam que esse espaço entre o físico e o metafísico
não poderia ser estudado nem pela Medicina nem pela Filosofia. A Psicologia criava o seu espaço
próprio que outras áreas do saber não estudariam. Entre esses pesquisadores pioneiros, está talvez, o
mais conhecido fisiologista, antes de Wundt, a influenciar a formação da Psicologia: Fechner.
GUSTAV THEODOR FECHNER tem uma história interessante de muita atividade e conquistas
intelectuais. Ele, assim como Helmholtz, foi um pensador múltiplo. Trabalhou como fisiologista por sete
anos, como físico por 15 anos, como psicofísico por 14 anos, em estética experimental por 11 anos e
como filósofo por 40 anos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Durante 12 anos, ficou inativo e foi
3
considerado inválido pela possibilidade de ficar cego devido à fotofobia (intolerância à luz). Foi
justamente após esse período de suposta invalidez que Fechner procurou estudar as sensações e a
Psicologia.
Fechner, filho de um pastor, era também músico, filósofo, especialista em estética, físico e psicólogo.
Tinha também seu lado místico e sempre foi um crítico do pensamento científico quando demonstrado
de forma fria e exagerada. O positivismo é um exemplo de algo que Fechner execrava. Lamentava o
fato de que a Modernidade estava transformando a sociedade e os pensamentos em algo puramente
materialista e resolveu pôr à prova suas críticas, buscando por uma área do conhecimento que não
pudesse ser reduzida ao materialismo. Ele deu, então, continuidade aos estudos de Weber,
buscando calcular o ponto exato de união entre o físico e o psíquico. Por isso, o nome dado a
essa tendência da época foi Psicofísica. É interessante como, na formação do pensamento
psicológico, sempre há a presença de dois lados: um concreto e um abstrato.
Diversos experimentos foram realizados por Fechner, que amplificava ou reduzia o mesmo estímulo
para chegar a números cada vez mais confiáveis para essa relação. Com isso, gerou métodos de
pesquisa e experimentação em Psicofísica que depois vão se tornar referência para a psicologia
psicométrica, ou seja, o uso de testes quantitativos para medir características psicológicas, como o
teste de quociente de inteligência (QI), por exemplo (FREIRE, 2008). Os testes psicológicos são fatores
fundamentais para demarcar a área da Psicologia. A aplicação de testes psicológicos é uma atividade
exclusiva dos psicólogos. Nenhum outro profissional é autorizado a aplicá-los legalmente.
Os estudos de Fechner geraram fórmulas matemáticas que tinham grande precisão no cálculo dos
estímulos e das sensações. Ele definiu com mais precisão o que Weber havia começado, chamando de
limiar absoluto o ponto em que a pessoa começa a sentir o estímulo e de limiar diferencial o ponto em
que ela sente uma diferença no estímulo, seja para menos ou para mais.
Entre as conclusões científicas e filosóficas a que Fechner chegou, talvez sua principal observação
tenha sido a de que físico (corpo) e psíquico (mente) sejam apenas dois modos diferentes de se olhar
para a mesma realidade. Ou seja, o mesmo fenômeno pode ser visto como físico ou psíquico. Esse
conceito foi chamado de paralelismo psicofísico, que é a noção de que o que acontece no corpo
acontece paralelamente na mente também e o que acontece na mente, acontece paralelamente no
corpo também.
Paralelismo psicofísico: noção de que há um paralelo entre corpo e mente
quando ocorre um determinado fenômeno. Físico e psíquico seriam diferentes
pontos de vista sobre a mesma coisa.
Há quem considere que Fechner teria sido o verdadeiro criador da Psicologia antes de Wilhelm Wundt,
que é considerado o criador oficial da Psicologia como ciência. Como estamos realizando um olhar
4
histórico desde o começo, podemos dizer que é muito difícil afirmar com clareza quem é o “dono” de um
determinado pensamento do ponto de vista histórico, pois o zeitgeist está disponível para todos, não é
algo que possa ser privatizado. A obra filosófica de Fechner é bastante produtiva e foi a base de toda a
sua proposta de Psicofísica. Porém, foi praticamente ignorada pela época, limitando a influência de
Fechner ao campo científico.
Entre os conceitos da Psicofísica, a noção de psicologia experimental (que veremos a seguir) já está
preparada para que, finalmente, a Psicologia possa se concretizar como uma ciência independente sem
ser considerada uma subárea da Fisiologia ou da Filosofia.
SIMULAÇÃO:
Vamos supor: você está diante de alguém que simplesmente não acredita na ciência que você estudou.
Seja um profissional da Medicina, de outro campo da área da Saúde, ou mesmo uma pessoa sem
formação profissional. Quais argumentos você utilizaria para demonstrar a cientificidade de sua ciência?
Os trabalhos de Helmholtz, Weber, Fechner e a Psicofísica podem ajudar muito no seu diálogo. Eles
demonstraram de forma científica que a área de estudo que vai fundamentar o nascimento da
Psicologia não é parte da Medicina nem da Física e nem da Filosofia. A Física estuda os
acontecimentos do mundo externo. A Medicina estuda o funcionamento do corpo. A Filosofia estuda as
ideias de forma abstrata e geral. A Psicologia envolve a relação entre o sujeito e o mundo e os
desdobramentos subjetivos dessa relação. São, portanto, coisas diferentes. Lembre-se dos conceitos
básicos que geraram a Psicofísica e, por consequência, a Psicologia: o estímulo, a sensação, a própria
definição de Psicofísica, o paralelismo psicofísico e demais ideias que considerar importantes.
Tente formular um pequeno texto como se estivesse explicando para alguém que não estudou
Psicologia, demonstrando qual é o campo de atuação da Psicofísica. Lembre-Se que a Psicofísica é
uma proposta de superação do mecanicismo, destacando uma área de intermédio entre interno e
externo. Tome cuidado para não retomar o mecanicismo anterior, ou seja, acreditar que o biológico
(corpo) ou o mundo externo ou a Metafísica determinem um ao outro. A Psicologia nasce de uma
interdisciplinaridade e é importante termos essa consciência.
Fechner tentou demonstrar que os aspectos físico e psíquico são apenas dois pontos de vista sobre a
mesma coisa (FECHNER, 1860). Na sua resposta, não caia novamente na velha divisão entre corpo e
mente.