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Os Principais Mecanismos

de Defesa
Maria Lúcia S. de O. Kroll
Psicóloga
• Essa caracterização permite perceber que as instâncias id e superego
são inconscientes e que o ego é uma instância que, embora
consciente, realiza funções inconscientes. Para realizar suas funções,
o ego interage com as pulsões do id e do superego, com a finalidade
de gratificá-los (satisfazê-los).
• Contudo, eventualmente as pulsões originadas do id podem não ser
admitidas pelo ego em razão de apresentar conteúdo (sexual ou
agressivo) considerado impróprio pelo superego ou porque a
gratificação do impulso traz consequências negativas para o ego.
• Quando isso ocorre, ou seja, na impossibilidade de gratificar esses
impulsos, o ego utiliza meios especiais para livrar-se deles sem que seja
necessário gratificá-los. Utiliza, para isso, os chamados mecanismos de
defesa do ego.
• De forma consensual, diferentes autores psicanalíticos definem
“mecanismo de defesa” como qualquer ação inconsciente do ego que
venha a reduzir, modificar, transformar ou mesmo eliminar qualquer pulsão
do id ou exigência do superego capaz de trazer riscos para o indivíduo.
• Para isso, o ego pode lançar mão de todos os recursos que dispõe ao seu
alcance: o controle da percepção, pensamento, memória, atenção e juízo,
dentre outros.
• Para conseguir este fim, o ego interfere de modo inconsciente nessas
funções, fazendo com que processem os dados e fatos não como
realmente são, mas de maneira distorcida e conveniente aos
interesses do ego, mesmo que irreal.
• Roudinesco ainda acrescenta que os mecanismos de defesa podem
ser acionados para proteger o ego contra agressões internas ou
externas que provoquem efeitos desprazerosos. Possuem, portanto,
uma finalidade de proteção.
• Os mecanismos de defesa são utilizados na vida diária por pessoas
comuns que não possuem nenhuma patologia.
• Os mecanismos de defesa também são utilizados quando o ego está
desadaptado e não consegue lidar com o conflito entre as pulsões do id e as
exigências morais do superego.
• Quando isso acontece, mecanismos de defesa do ego são recrutados e pode
haver a produção de ansiedade e dos sintomas patológicos que observamos
nos transtornos mentais facilmente encontrados nas clínicas de psicologia e
psiquiatria.
• Freud reconhece que o uso do mecanismo de defesa trata-se de algo normal,
comum e não patológico para a maioria das pessoas. Contudo, ele também
relata que alguns de seus pacientes utilizaram esse mecanismo e, em vez de
obter sucesso no controle do conflito e na adaptação do ego, produziram
sintomas.
• Os mecanismos de defesa. Anulação: neste mecanismo de defesa, o ego
tenta “anular” o dano ou as consequências más que a pessoa imagina que a
pulsão ou a ideia podem causar.
• Por exemplo, uma mãe pode em certos momentos odiar seu filho pequeno
em razão de sua desobediência. Como para ela essa possibilidade é
injustificável perante a sociedade e seu próprio juízo de valor,
inconscientemente seu ego “anula” essa pulsão hostil por meio de um forte
desejo de plantar árvores e preservar a natureza, em benefício de toda a
humanidade.
• Esse mecanismo de defesa atua como uma espécie de ritual mágico de
anulação. Pode ser um processo inconsciente, como no caso do exemplo
citado, ou ainda consciente.
• Muitos conhecem a prática supersticiosa de conscientemente bater
três vezes em uma madeira antes de falar de morte e de doenças ou
de postular um mau agouro a alguém.
• Para quem assim procede, bater na madeira magicamente “anula” o
efeito do maléfico que pode advir a quem fala desses assuntos ou
deseja má sorte a alguém.
• Formação reativa: é um mecanismo de defesa em que o ego, de
modo inconsciente, faz com que, de dois afetos ou ideias
ambivalentes (por exemplo, ódio e amor), um permaneça
inconsciente e o outro em evidência.
• Como exemplo podemos imaginar uma pessoa que se sentiu
injustiçada por sua mãe e passou a odiá-la por isso. Contudo, como
odiar a mãe é considerado algo inaceitável, o ego então mantém o
ódio inconsciente e em seu lugar põe em evidência um intenso
sentimento de “amor” por ela, tão intenso quanto o ódio
inconsciente.
• Identificação: constituiu-se no processo do mecanismo de defesa do ego no qual a
pessoa assimila (se identifica, faz-se igual a) um aspecto ou característica de algo ou
alguém. Segundo a literatura, esse mecanismo de defesa é extremamente importante
na constituição da personalidade, uma vez que ocorre naturalmente nos primórdios
da vida.
• Um exemplo é a identificação que ocorre com a aquisição da linguagem por parte da
criança pequena. Ela não apenas aprende a falar, como também fala igual a seus pais,
fazendo-se igual nos acentos e no sotaque da fala, no jeito de andar e vestir-se e nas
mesmas preferências por atividades esportivas.
• Contudo, não é um mecanismo que opera apenas na infância: adolescentes também
se identificam com famosos e passam a identificar-se com seu modo de vestir, suas
crenças e seus comportamentos. Mesmo os adultos podem encontrar em políticos e
chefes líderes com quem se identificar.
• Intelectualização: estratégia cujo mecanismo de defesa procura dar
uma explicação racional a seus conflitos e emoções, de modo a dominá-
los ou controlá-los conforme sua vontade.
• Consolida-se na preponderância do pensamento abstrato sobre os
afetos e pulsões. É um mecanismo de defesa que foi apresentado nos
trabalhos de Anna Freud, como uma exacerbação de um processo
normal do ego, que tenta submeter as pulsões do id a ideias com que
possa lidar.
• Exemplo é o paciente que apresenta os seus problemas afetivos apenas
em termos racionais e gerais. Nesse mecanismo, a pessoa “perde
contato” com a emoção, que permanece inconsciente.
• Isolamento: de acordo com Brenner, este é um mecanismo raro. É o
processo inconsciente no qual um pensamento (e seus afetos
vinculados) é isolado dos pensamentos que imediatamente o
precederam e o sucederam, por um breve período do que chamou de
“vazio mental”.
• Isolado dessa maneira, o pensamento possui pouquíssimas chances
de penetrar na consciência e assim torna-se “esquecido”, literalmente
isolado no inconsciente. Exemplos desse mecanismo seriam os
sintomas obsessivos.
• Negação: é o mecanismo utilizado pelo ego que não aceita ou recusa
uma parte da realidade externa que lhe é desagradável, quer seja por
meio de uma fantasia, quer seja por meio de um comportamento.
• Um exemplo de negação por meio de fantasia pode ser o de um
motorista que provoca um acidente de trânsito, colidindo com a traseira
do veículo que está à sua frente.
• Não aceitando o fato de que errou ao dirigir, nega que tenha provocado
o acidente e acredita piamente que na verdade ele é a vítima do
ocorrido, ou seja, que foi o carro da frente que colidiu com o seu carro,
mesmo diante da evidência dos fatos concretos. Não aceitar esse fato é
uma negação fantasiosa.
• Projeção: é o mecanismo de defesa cujo processo faz com que um
indivíduo atribua a outra pessoa ou a algum objeto externo um
sentimento, fantasia ou desejo seu, como sendo do outro. Um
exemplo pode ser de um marido que desconfia de sua esposa.
• Como para ele é muito doloroso admitir que pode ter motivos para
tal, inconscientemente ele projeta essa desconfiança nela, de tal
modo que o marido sente que é a esposa quem desconfia dele, e não
o contrário.
• Na teoria freudiana original, postula-se que a projeção é o mecanismo
de defesa do que era denominado de “psicose paranoide”.
• Racionalização: mecanismo pelo qual a pessoa apresenta uma
explicação coerente do ponto de vista lógico-racional e aceitável do
ponto de vista moral para uma atitude, ação ou afeto que o ego
desaprova.
• É um mecanismo muito comum. A literatura psicanalítica reporta que
os primeiros casos de racionalização foram encontrados na terapia de
sintomas neuróticos ou perversos.
• Regressão: é o processo que opera no mecanismo de defesa que faz
regredir para um objeto do passado a catexia (ou energia psíquica)
que foi destinada a um objeto novo, do presente, mas que foi
frustrada.
• Exemplo disso pode ser uma adolescente que, ao terminar um
relacionamento amoroso que lhe permitia ter relações sexuais (típico
da fase genital dos adultos), fica desiludida com a vida amorosa e
volta a satisfazer suas pulsões a partir da estimulação oral, comendo
chocolates, por exemplo, regredindo assim a satisfação de seus
impulsos para a fase oral, o que é tipicamente infantil.
• Repressão (ou recalque ou recalque originário): foi o primeiro
mecanismo de defesa reconhecido na literatura freudiana. Nesse
mecanismo o ego utiliza energia psíquica para barrar a entrada no
consciente dos impulsos indesejados e dos afetos que os
acompanham.
• Do ponto de vista do ego, uma lembrança reprimida é simplesmente
esquecida. Embora funcione, o material reprimido continua existindo
e forçando a entrada no consciente.
• Dessa forma, o ego dedicará de forma permanente uma certa carga
contínua de energia para manter o mecanismo de repressão ativo.
• Sublimação: mecanismo proposto por Freud para explicar atividades
humanas que não apresentam qualquer relação aparente com
sexualidade, embora a energia propulsora dessas atividades seja
sexual.
• A pulsão sexual tem sua energia retirada e investida em atividades
moralmente aceitas e valorizadas socialmente. A pulsão é sublimada
quando sua energia sexual é derivada para um novo objetivo não
sexual.
• O mecanismo de defesa sublimação apoia-se no superego como pilar
central de sua existência. Nesse mecanismo, a pulsão do id é
ameaçadora ao ego porque exige a satisfação de uma demanda que é
condenada pelo superego.
• Então o mecanismo de defesa entra em ação e retira o impulso à sua
energia e a disponibiliza ao ego, para que dela faça melhor uso que o
uso original.

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