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FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO TERAPÊUTICO

Profa. Me. Karen Cris/na Rech Braun


FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO TERAPÊUTICO

1. Funções egóicas básicas: voltadas para o mundo exterior, para os outros e para
aspectos de si mesmo

2. Funções defensivas: des3nadas a neutralizar ansiedades por meio de diversas


modalidades de manejo de conflitos criados entre condições de realidade, impulsos
e proibições

3. Funções integradoras, sintéMcas ou organizadoras: funções de terceira ordem –


que cons3tuem um estrato funcional hierarquicamente sobreposto aos anteriores
FUNÇÕES EGÓICAS BÁSICAS

1. Apresentação – aparência, a3vidade psicomotora, a3tude para com o


entrevistador, a3tude verbal

2. Consciência – capacidade de se dar conta do que ocorre dentro e fora de si


FUNÇÕES EGÓICAS BÁSICAS
3. Orientação – alopsíquica e autopsíquica, noções de tempo e espaço

4. Atenção – foco da consciência


FUNÇÕES EGÓICAS BÁSICAS
5. Memória – avaliada pela rapidez, precisão e cronologia das informações que o
paciente dá, assim como a capacidade de fixação

6. Inteligência – autonomia, capacidade, presença/ausência de déficit


FUNÇÕES EGÓICAS BÁSICAS

7. Sensopercepção – capacidade de perceber e sen2r


FUNÇÕES EGÓICAS BÁSICAS
8. Pensamento – curso (velocidade), forma (coerência de ideias) e conteúdo
(obsessões, delírios, fobias)
FUNÇÕES EGÓICAS BÁSICAS
9. Linguagem – transmissão, compreensão e expressão das informações

10. Consciência do Eu – consciência dos próprios atos psíquicos, percepção de seu eu


como compreende sua personalidade
FUNÇÕES EGÓICAS BÁSICAS
11. Afe&vidade – sensibilidade frente à sa&sfação ou frustração de suas necessidades

12. Humor – como o paciente diz sen&r-se (deprimido, culpado, vazio, ansioso)
FUNÇÕES EGÓICAS BÁSICAS
13. Psicomotricidade

14. Vontade – disposição para a6ngir um obje6vo


FUNÇÕES EGÓICAS BÁSICAS
15. Pragmatismo – realizar atividades básicas do cotidiano

16. Consciência da doença atual – percepção do paciente sobre a psicopatologia e da


necessidade de tratamento
FUNÇÕES DEFENSIVAS
MECANISMOS DE DEFESA

• São mecanismos que nossa mente u.liza para defender nosso bem estar psíquico e
emocional

• São operações mentais que têm por finalidade a redução das tensões psíquicas
internas, ou seja, das ansiedades, a fim de preservar o equilíbrio psíquico
MECANISMOS DE DEFESA

• Os mecanismos de defesa processam-se pelo ego com o obje3vo de se livrar de


angús3as penosas e obscuras

• Em termos gerais consistem em evitar o perigo, a ansiedade e o desprazer

• São geralmente inconscientes


MECANISMOS DE DEFESA

• Quanto mais imaturo e menos


desenvolvido es.ver o ego, mais
primi3vas e carregadas de magia
serão as defesas
MECANISMOS DE DEFESA

• As defesas cons&tuem a melhor solução conseguida pelo sujeito nas relações com
seus objetos

• Elas estão enraizadas na personalidade e presentes em toda forma de perceber e


conectar-se
MECANISMOS DE DEFESA

• Quando o ego está consciente das condições reinantes, consegue sair-se bem das
situações sendo lógico, obje8vo e racional

• Mas quando se desencadeiam situações que possam vir a provocar sen8mentos de


culpa ou ansiedade, o ego perde as três qualidades citadas
MECANISMOS DE DEFESA
Seguindo a sistema.zação e a descrição proposta por Gabbard (1999), as defesas
podem ser classificadas em:

Narcísicas Neuróticas

Imaturas Maduras
• Envolvem distorção da imagem de si mesmo e
de outrem e podem ser u3lizadas para regular
a autoes3ma
Narcísicas
• Pulsões, afetos e ideias dolorosos ou
inaceitáveis são man3dos fora da consciência e
atribuídos incorretamente a causas externas

• Geralmente são u3lizadas por pessoas que Imaturas


apresentam comportamentos socialmente
indesejáveis ou que se sentem ameaçadas
pela in7midade interpessoal
Bloqueio

Soma7zação Introjeção
DEFESAS
IMATURAS

Regressão Projeção
DEFESAS NARCÍSICAS

Negação Projeção Dissociação


• As ideias, sen)mentos e desejos considerados
ameaçadores também são man1dos fora da Neuróticas
consciência

• No entanto, eles alteram afetos, sen)mentos


internos ou expressão dos ins)ntos, fazendo
que a pessoa pareça estar sempre às voltas
com suas preocupações pessoais e seus
problemas insolúveis
DEFESAS NEURÓTICAS

Recalque Deslocamento Intelectualização

Formação
Isolamento Racionalização
Rea6va
• São aquelas consideradas adapta)vas, pois
conseguem, ao mesmo tempo, sa4sfazer a
pulsão e manter na consciência os
sen4mentos, ideias e afetos
Maduras
Altruísmo

DEFESAS Supressão Asce-smo


MADURAS

Sublimação Humor
TIPOS DE MECANISMOS DE DEFESA
REPRESSÃO
• Fazer desaparecer do consciente conteúdos
desagradáveis

• Ex.: Pessoa sofre um acidente muito sofrido


e marcante e esquece, faz amnésia do
acidente

• Ex.: Quando a pessoa não se dá conta que


está com raiva, mesmo que seja evidente
pela fisionomia
NEGAÇÃO

Consiste no bloqueio de certas percepções do


mundo externo que podem causar sofrimento
ao indivíduo

• Ex: "Este problema não é meu!"


"Isto não acontece comigo!"
NEGAÇÃO

•Não entender que algo aconteceu.


Ex. “Isso nunca aconteceu”

•Ele realmente recalcou para o inconsciente e nega o que aconteceu.


Ex.: Diante do término de um namoro, o sujeito pode dizer: “Está tudo bem. Eu nunca
gostei dela mesmo. Estou óBmo!”
PROJEÇÃO
• A projeção é um dos mecanismos de
defesa mais primi0vo que usamos

• Consiste em atribuir à outra pessoa os


próprios pensamentos ou desejos não
aceitáveis para si mesmo

• O ego reluta em reconhecer um


impulso inaceitável do id e o atribui a
outra pessoa
PROJEÇÃO
• Cri,car no outro algo que não aceita em si ou projetar no outro algo que é seu,
sendo real ou não no outro

• Ex. o outro é agressivo e o sujeito cri8ca o outro que é agressivo porque não aceita
sua própria agressividade

Projeção irreal: o sujeito projeta no outro caracterís8cas que o outro não tem
• Ex. o outro é rela8vamente organizado e o sujeito diz, veja como você é bagunceiro.
Aí você vê a mesa do sujeito e está completamente desorganizada. Ele não aceita
nele a desorganização e projeta no outro.
PROJEÇÃO
Ex. Uma pessoa está caminhando com um amigo e tropeça. Ela briga dizendo que o
amigo a distraiu

• Está projetando a sua própria culpa no outro

Ex. O aluno, inconformado com sua nota baixa projeta sua insa>sfação denegrindo a
qualidade do curso ou atribuindo ao professor

• A pessoa não consegue lidar com o fato de que não estudou o suficiente
INTROJEÇÃO
• Internalização das caracterís)cas de um objeto amado, visando a aproximar-se
deste e manter sua presença
• Ex.: quando está diante de uma pessoa importante e ela própria se atribui
importância e brilhan)smo pessoal sem o ser

•A introjeção de um objeto temido, pela internalização


de suas caracterís)cas agressivas, leva a um controle da
agressão

•Ex.: um filho que cresce e age da mesma maneira opressiva


que os pais
RACIONALIZAÇÃO

• Processo pelo qual o sujeito procura


apresentar uma explicação coerente do
ponto de vista lógico, ou aceitável do ponto
de vista moral, para uma a5tude, ação, idéia,
sen5mento, etc.., cujos mo5vos verdadeiros
não percebe

• Buscar a lógica como uma defesa para


a5tudes que não são socialmente aceitas ou
que você não aceita em você
RACIONALIZAÇÃO
Ex.: Um aluno que, não conseguindo responder a uma questão, diz:

• “não foi minha culpa, a questão é que estava muito di>cil”,


• “não respondi por que não @ve tempo de estudar, pois lá em casa fazem muito
barulho”
• “a questão estava mal elaborada, não entendi nada”
FORMAÇÃO REATIVA
Processo psíquico, por meio do qual um impulso indesejável é man6do fora da
consciência, por conta de uma forte adesão ao seu contrário

• O desejo permanece inconsciente e as a.tudes representam seu completo


oposto

• Ex.: Uma mãe que se preocupa exageradamente com o filho, pode ser reflexo de
uma verdadeira hos6lidade a ele.

• Ex.: Uma pessoa demasiadamente valente pode ser reflexo de um medo do oculto.
INTELECTUALIZAÇÃO
• Controle dos afetos e dos impulsos pensando sobre eles, mas não os
experimentando

Ex.: uma pessoa recebe um diagnós:co, e a par:r disso se torna um


pesquisador de tal doença.
ISOLAMENTO
• Isola uma ideia, um pensamento não deixando que se conecte com mais
nada de sua vida

• Divisão intrapsíquica ou separação entre o afeto e seu conteúdo, levando à


repressão da idéia ou do afeto, ou ao deslocamento deste afeto para um
conteúdo diferente ou subs<tuto

• Trata como se fosse algo completamente independente e a parte


ISOLAMENTO
• Ex.: um ladrão que rouba e não
experimenta os sen5mentos de culpa
que estão ligados a esse ato

• Ex.: um filho que, após a morte de sua


mãe, fala com uma frequente e enorme
naturalidade sobre a morte dela
DESLOCAMENTO
• Fato de a importância, o interesse, a intensidade de uma representação ser
susce3vel de se destacar dela para passar a outras representações
originariamente pouco intensas, ligadas à primeira por uma cadeia
associa9va

• É um processo psíquico através do qual o todo é representado por uma


parte ou vice-versa

• Também pode ser uma idéia representada por uma outra, que,
emocionalmente, esteja associada a ela
DESLOCAMENTO
• Ex.: Alguém que, tendo enfrentado uma experiência desagradável com um
policial, reaja desdenhosamente, em relação a todos os policiais

• Ex.: quando a mulher tem uma experiência ruim com um homem e diz que
todos os homens não prestam
SUBLIMAÇÃO
• Sublimar energia libidinal ou agressiva

• Gra1ficação de uma pulsão cuja finalidade é preservada, mas cujo alvo ou objeto
é conver1do de socialmente objetável em socialmente valorizado

• Permite que as pulsões sejam canalizadas em vez de reprimidas ou deslocadas

• É o mais eficaz dos mecanismos de defesa


SUBLIMAÇÃO
• Desejo de ver sofrimento = ser médico – lidar com sofrimento, ver dor e ser
socialmente aceito

• Desejo de matar = escolher carreira que “permita” matar, como policial

• Ex.: Um pirômano pode ingressar num corpo de bombeiros, modificando as


suas relações com o fogo, agora uFlizadas de forma socialmente reconhecida

• Ex.: Uma pessoa muito agressiva pode sublimar sua agressividade através de
uma aFvidade profissional que exija agressividade como o cirurgião/lutador
FUNÇÕES INTEGRADORAS
FUNÇÕES INTEGRADORAS

• Permitem manter uma coesão, uma organização, um predomínio das sinergias sobre
os antagonismos funcionais

• Diante de mudanças na situação, o sujeito deve reorganizar suas relações com o


mundo, através de uma mobilização sele<va de novas funções de adaptação

• A síntese consiste em ar<cular eficazmente o contato com o próprio desejo e o


controle racional sobre as condições reais de sa<sfação do desejo
FUNÇÕES INTEGRADORAS

• Essas funções operam sem cessar tendendo a uma integração da pessoa.

• Conectar-se com esse nível de funcionamento significa colocar-se, o terapeuta, na


perspec;va realizável de dentro desse esforço de centramento e recentramento
pessoal constante (em luta contra tudo o que tende a dissociar e a desorganizar)

• É estar atento à presença de um projeto de totalização de si mesmo, em função do


qual uma das perspec;vas, entre várias outras, deve necessariamente ser a das
sínteses
FUNÇÕES INTEGRADORAS

• A presença dessas funções de síntese se exprime também num nível de


intencionalidade, no qual se buscam estabelecer conexões eficientes entre o
pensamento racional e outras zonas da experiência

• O terapeuta deve estar atento a uma dupla constante: a das mensagens "latentes"
e a das mensagens manifestas e intencionais do paciente
ATIVAÇÃO DAS FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO
TERAPÊUTICO
• A relação terapêu-ca fornece um contexto de proteção e graCficação emocional
que alivia ansiedades suficientemente profundas para liberar certo potencial de
a-vação egóicas

• Põe essas funções em estado de melhor disponibilidade

• Com essas condições básicas, cada sessão, em cada um de seus momentos, opera
como aCvadora ou mobilizadora do conjunto das funções egóicas
ATIVAÇÃO DAS FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO
TERAPÊUTICO
• O terapeuta funciona como instrutor-guia, isto é, como agente portador de
es8mulos, modelos, reforços e métodos correEvos para o desenvolvimento dessas
funções

• Ao mesmo tempo, os fatos vividos fora da sessão, vistos por um observador


enriquecido com a ó=ca fornecida pela tarefa da sessão, atuam também como
esEmuladores e reforçadores de todas as funções aEvadas em sessão: percepção,
memória, atenção, imaginação, reflexão, planejamento.
ATIVAÇÃO DAS FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO
TERAPÊUTICO
• A constante discriminação entre condições de realidade e as distorções criadas
por outra realidade (mundo interno) é uma das tarefas reforçadoras do ego ao
longo de todo o processo, já que consolida um ego que observa de modo mais su:l
a experiência
ATIVAÇÃO DAS FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO
TERAPÊUTICO
• As funções egóicas são reforçadas em psicoterapia por meio da criação de um
contexto de gra6ficação, alívio de ansiedade, es6mulação e verificação (situação
terapêuBca) que as solicita a6vamente e as consolida através de seu exercício
guiado (processo terapêuBco)

• Com sua própria a6vidade, o terapeuta fornece além disso ao paciente um modelo
egóico de idenBficação
ATIVAÇÃO DAS FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO
TERAPÊUTICO
• Na relação de trabalho constata-se, por outro lado, a existência de uma interação
entre as funções egóicas do paciente e as do terapeuta

• Há entre ambas uma constante cooperação, ao mesmo tempo que se instala uma
relação de complementaridade, costumeiramente regulada de maneira automá?ca

• Mesmo em pacientes afetados por uma patologia grave, a margem de recuperação


funcional do ego se mostra clinicamente detectável
ATIVAÇÃO DAS FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO
TERAPÊUTICO
ATIVAÇÃO DAS FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO
TERAPÊUTICO
• Reforço do ego = trabalho com as partes sadias do paciente

• Abrange o conjunto de funções egóicas potencialmente resgatáveis apesar do


conflito, bem como aspectos mo=vacionais e vocacionais de nível mais maduro

• Só então poderemos ter uma imagem integrada desse paciente, atenta tanto a
seus aspectos doentes, regressivos, quanto a suas capacidades e conquistas
ATIVAÇÃO DAS FUNÇÕES EGÓICAS NO PROCESSO
TERAPÊUTICO
• Trata-se de captar em toda a sua magnitude a constante dialé3ca saúde-doença

• O terapeuta deve operar tecnicamente com um papel flexível

• Diante da mobilidade das demandas egóicas, não é possível manter uma conduta
que se fixe num papel (interpretar sempre ou dirigir sempre)

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