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MECANISMOS DE DEFESA DO EGO:

Uma das funções do ego é evitar os problemas que põem a pessoa em perigo
e criam ansiedade. Quando as estratégias reais de solução não surtem efeito, o ego
lança mão dos mecanismos de defesa. São métodos que negam, falsificam ou
distorcem a realidade e que impedem o desenvolvimento da personalidade na linha
desejável. Dessa forma, os mecanismos de defesa são alternativas que o
inconsciente busca para se proteger. Segundo Freud (1900), a defesa é a operação
pela qual o ego exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo, assim,
o aparelho psíquico. O ego mobiliza estes mecanismos, que suprimem ou
dissimulam a percepção do perigo interno, em função de perigos reais ou
imaginários localizados no mundo exterior.
Os mais importantes são os que estudaremos a seguir:

1. Repressão:
É a tentativa de eliminar a ansiedade pela negação ou falsificação da
existência daquilo que a causa. O objeto perigoso é expulso da consciência, indo
para o inconsciente. O ego usa asse mecanismo para evitar o sofrimento que adviria
da vinda de certos impulsos e idéias, ao nível consciente, uma vez que ele não pode
eliminar ou inativar estes impulsos. O conteúdo reprimido é carregado de emoção e
de desejos. O desejo é impulsivo tendendo a externar-se visivelmente. Não
podendo, ele age encobertamente, distorcendo a conduta, em formas estranhas.
Na tentativa de passar ao nível consciente, o conteúdo reprimido usa
processos inconscientes, como sonhos ou atos falhos. Algumas vezes a repressão
pode também se manifestar por meio do deslocamento. Sintomas histéricos com
freqüência têm sua origem numa antiga repressão. Algumas doenças
psicossomáticas, tais como asma, artrite e úlcera, podem estar relacionadas com a
repressão. Também é possível que o cansaço excessivo, fobias e impotência e
frigidez derivem de sentimentos reprimidos.

2. Deslocamento:
Neste mecanismo de defesa a pessoa transfere a atitude emocional que tem
por um objeto, para outro. Então, tendo o desejo de agredir uma autoridade, a
pessoa decide, inconscientemente, agredir o seu subalterno. Atitudes sexuais são
também deslocadas, quando o parceiro desejado não aceita, não está perto ou
disponível, por qualquer razão.

3. Projeção:
É a atribuição, ao meio externo, da causa de uma ansiedade que, de fato, tem
suas origens em pressões exercidas no ego pelo id ou superego. Então, em lugar de
dizer: “Eu quero parar a aula, porque estou com preguiça”, o professor pode dizer
“acho que vocês estão cansados e querem ir para o recreio”.
A projeção se origina da tendência reprimida que, passando do inconsciente
para o consciente, tem que se manifestar como tendência de outra pessoa, para não
contrariar o ego. São projetadas, principalmente, as tendências agressivas e
sexuais.
Pesquisas relativas à dinâmica do preconceito mostraram que as pessoas
que tendem a estereotipar outras também revelam pouca percepção de seus
próprios sentimentos. As pessoas que negam ter um traço de personalidade
específico são mais críticas em relação a este traço quando o vêem ou projetam
sobre outros.

4. Formação reativa:
É o mecanismo de defesa pelo qual a pessoa cobre um instinto ou sentimento
com o sentimento que lhe é oposto. Por exemplo, oferecer presentes caros ao filho a
quem se nega amor; implicar com alguém que não podemos namorar publicamente;
apresentar-se recatado como defesa a um exibicionismo latente etc.
A principal característica da formação reativa é o exagero com o que é feito.
Os sentimentos manifestos são diametralmente opostos ao desejo real; uma
inversão clara e, em geral, inconsciente do desejo.
Infelizmente, os efeitos colaterais da formação reativa podem prejudicar os
relacionamentos sociais. As principais características reveladoras de formação
reativa são seu excesso, sua rigidez e sua extravagância. O impulso, sendo negado
tem que ser cada vez mais ocultado. A dona da casa que limpa excessivamente a
casa pode, na realidade, estar concentrando sua consciência no contato e no exame
da sujeira.

5. Fixação:
Este mecanismo é a recusa a avançar para estágios subseqüentes do
desenvolvimento, porque a pessoa sente-se insegura para avançar. A nova fase a
ser vivida causa-lhe ansiedade. De forma atenuada, podemos constatar a fixação na
ansiedade sentida quando se deixa o ambiente familiar ou o medo do primeiro dia de
aula ou de qualquer outra mudança. Numa forma grave, é observada em adultos
que desejam ser ainda protegidos pelos pais, em moças que ainda querem se vestir
como crianças etc.

6. Regressão:
Regressão é um retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou a um
modo de expressão mais simples ou mais infantil. Como no mecanismo anterior,
aqui também temos uma insegurança diante dos avanços. A repressão é o desejo
de retorno a um estágio anterior, no qual a pessoa se sentiu segura. Por exemplo, o
pré-escolar que, ao ganhar um irmãozinho, passa a urinar na roupa ou a pedir
mamadeira, como se ele fosse também um bebê. Tal criança teme perder a atenção
dos adultos, por motivo de seu crescimento, uma vez que antes atraía para si todas
as atenções, por ser bebê. As fugas da realidade são, normalmente, consideradas
regressão. Em forma extrema de regressão, há casos de a pessoa assumir a
posição do feto, no útero materno.
A regressão é um modo de defesa mais primitivo. Embora reduza a tensão,
freqüentemente deixa sem solução a fonte de ansiedade original. Até mesmo
pessoas saudáveis bem ajustadas fazem regressões de vez em quando a fim de
reduzir a ansiedade, ou desabafar. Fumam, embebedam-se, comem demais, põem
o dedo no nariz, quebram leis, falam como crianças, destroem propriedades etc. Na
verdade todas elas constituem formas de regressão usadas por adultos.

7. Racionalização:
É a justificativa lógica, forçada, de atos inaceitáveis. Ou seja, é o processo de
achar motivos aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis. Usamos para
justificar nosso comportamento quando, na realidade, as razões para nossos atos
não são recomendáveis. Por exemplo, o empregado justificar seu roubo, alegando
que o patrão lhe dá um salário pequeno. O cidadão pouco zeloso com o bem público
lembrar que outras pessoas dão prejuízos bem maiores à coletividade. Algumas
expressões são indícios de racionalidade como, p.e., “eu não sou nenhum santo”, “a
carne é fraca” etc. É um modo de aceitar as pressões do superego tornando nossas
ações moralmente aceitáveis.

8. Catarse:
Alguns psicanalistas não incluem a catarse entre os mecanismos de defesa,
vendo-a como uma técnica largamente usada pela psicanálise e por outras correntes
psicológicas. A catarse consiste na verbalização de sentimentos e emoções,
constituindo um desabafo. Sua característica é a sensação de alívio e de leveza que
ela deixa.

9. Introjeção:
É o processo inverso da projeção, isto é, a incorporação de si de um aspecto
da realidade externa. Um exemplo de introjeção é visto no fenômeno da aculturação,
quando a pessoa adota para si padrões de comportamento de outra cultura, como
hábitos alimentares, maneiras de vestir, de se divertir etc. A identificação, que
veremos a seguir, é uma importante forma de introjeção.

10. Identificação:
A identificação é uma introjeção que decide muito do que será a vida da
pessoa, pela sua atuação no desenvolvimento da personalidade, quanto à escolha
do papel sexual. Pela identificação a pessoa faz de si a réplica de outra, ou a imita
em algum aspecto. Assim, vemos o aluno imitar uma, algumas ou toas as letras do
professor; um jovem pode imitar a maneira de determinado cantor interpretar as
músicas ou a maneira de falar de um artista; uma jovem pode comportar-se como
uma senhora que ela considera muito digna, ou como uma intelectual que ela admira
ou como uma líder do movimento feminista etc.
É importante notar que, fazendo a identificação em nível consciente, ela não
recebe esta denominação, pois uma característica dos mecanismos de defesa é a
sua localização, em nível inconsciente.

11. Sublimação:
São muito freqüentes as tendências que são recusadas pelo ego,
notadamente as hostis e sexuais. Estas tendências são substituídas por outras que
o ego aceite, por serem socialmente apropriadas, e até mesmo louvadas. Por
exemplo, o instinto de agressão pode ser satisfeito por operações que o cirurgião
faça etc.
É o processo pelo qual o impulso é modificado de forma a ser expresso de
conformidade com as demandas do meio. Este processo inconsciente é considerado
sempre como uma função do ego normal. Neste sentido, não é propriamente um
mecanismo de defesa pois não impõe nenhum trabalho defensivo ao ego. Quer
dizer, não é necessário um controle sobre o impulso, pois este apresenta-se
modificado de tal forma que pode ser satisfeito sem proibições. O ego, na
sublimação, ajuda o id a obter expressão externa, o que não ocorre quando usa
outros mecanismos de defesa. Embora o impulso original não seja consciente, na
sublimação não existe a repressão pois, ao deparar com a rejeição pela consciência,
o impulso é desviado para canais socialmente aceitos. Exemplo: o desejo infantil de
brincar com fezes geralmente repudiado pelos pais, pode ser redigido e ganhar
expressão na atividade sublimada de um escultor

12. Conversão:
É a transformação da energia psíquica reprimida, num sofrimento orgânico ou
funcional. Então, a pessoa pode apresentar convulsões, dores musculares, paralisia,
cegueira, surdez, vômitos etc., como manifestação externa de conflitos psíquicos
inconscientes.

13. Compensação:
É um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo, inconscientemente, procura
compensar uma deficiência real ou imaginária. Exemplo: um homem com um defeito
físico pelo qual sente-se inferiorizado perante os demais, despende grande esforço
para desenvolver sua capacidade intelectual e chega a ser uma pessoa famosa.
Esta pessoa normalmente não tem consciência de que o prestígio alcançado teve
como motivação seu sentimento de inferioridade.

14. Fantasia:
É um conjunto de idéias ou imagens mentais que procuram resolver os
conflitos intrapsíquicos através da satisfação imaginária dos impulsos. As fantasias
conscientes, muito comuns na adolescência são também chamadas de sonhos
diurnos. Em qualquer pessoa, as fantasias podem atuar como um saudável
mecanismo de adaptação à realidade externa sempre que a obtenção de
determinados desejos são impossíveis de satisfação imediata. Por exemplo, um
estudante que sente seus professores demasiadamente austeros e exigentes,
imagina-se como um futuro professor que tem para com seus alunos atitudes
indulgentes e compreensivas. As fantasias podem ser inconscientes, formada no
próprio inconsciente ou terem sido conscientes e depois recalcadas. Por exemplo,
fantasias a respeito do nascimento ou de relações incestuosas em geral são
inconscientes. Sabemos delas por suas manifestações indiretas nos sonhos, nos
jogos infantis, nas obras artísticas etc. A fantasia reveste-se de um caráter
patológico quando tende a impedir continuamente a resolução dos conflitos, a
satisfação real dos impulsos vitais e o contato com a realidade.

15. Negação:

Não percebemos aspectos que nos magoariam ou que seriam perigosos para
nós. Por exemplo, se um filho começa a apresentar características de um
desenvolvimento atípico, o pai pode demorar a percebê-las ou não as perceber
nunca. O clássico chavão que diz “tem pai que é cego” caracteriza bem a negação
de perceber eventos dolorosos. Outro exemplo da realidade cotidiana é o cigarro.
Negamos os riscos de câncer, as perturbações cardíacas que pode provocar e
continuamos fumando.

16. Isolamento:
Consiste em isolarmos um pensamento, atitude ou comportamento, das
conexões que teria com o resto da elaboração mental. O comportamento assim
isolado passa a não ameaçar porque está separado e não mais conectado aos
desejos iniciais. As condutas rituais dos neuróticos obsessivos são um exemplo
típico do isolamento. Não só o afeto original fica isolado como o ritual não é
associado aos desejos iniciais.

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