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MARCA
D´ÁGUA
SEGUINDO
AS MUDANÇAS
NA GESTÃO
DAS BACIAS
HIDROGRÁFICAS
DO BRASIL
Organização
Beate Frank
Mesa editorial
Beate Frank
Margaret Keck
Maria Manuela M.A. Moreira
Rebecca Neaera Abers
Rosa Maria Formiga Johnsson
Redação
Pedro I. J. Fidelman, pesquisador associado do Centro de Desenvolvimento
Sustentável da Universidade de Brasília
Revisão de texto
Eumar Francisco da Silva
Lourdes Maria Pereira Sedlacek
Desenho da capa
Beth Kok - Estúdio Girassol
Impressão
Editora e Gráfica Odorizzi
Agradecimentos
O Projeto Marca d’Água agradece às seguintes instituições pelo apoio financeiro:
MCT-CNPq - Bolsa de pós-doutorado Júnior do redator, MCT-CNPq - Fundo Setorial de Recursos Hídricos - CT-Hidro,
William and Flora Hewlett Foundation e National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA).
O Projeto Marca d’Água agradece às seguintes instituições pela cooperação:
Universidade Regional de Blumenau/IPA, Universidade de Brasília/IPOL e CDS, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro/DESMA, University of Michigan, Johns Hopkins University, University of California Berkeley/Luce Foundation
Green Governance Project e Ministério do Meio Ambiente/Sistema de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU).
PROJETO
MARCA D´ÁGUA
SUMÁRIO
1. Introdução......................................................................................................................................7
2. Projeto Marca d’Água 2004 – pesquisa com membros dos comitês de bacia.........................10
3. Composição dos comitês de bacia..............................................................................................13
Que segmentos estão representados nos comitês de bacia?........................................................................... 13
Sumário ............................................................................................................................................14
4. Perfil socioeconômico dos membros dos comitês ....................................................................16
Qual a idade dos membros dos comitês? São eles em sua maioria do sexo masculino ou feminino?
Residem na área da bacia ou fora dela?.................................................................................................................... 16
Qual é o nível de escolaridade dos membros dos comitês? Que tipo de formação possuem?
Qual é sua ocupação? Em que setor(es) atuam?.................................................................................................... 18
5. Capacidade dos membros dos comitês (experiência, conhecimento
e qualidades individuais)................................................................................................................22
Que tipo de experiência ou conhecimento os membros levam para os comitês? ................................... 22
Qual é a qualidade individual mais importante para os membros dos comitês?...................................... 23
Os membros dos comitês usam conhecimento técnico-científico?............................................................... 24
Sumário ............................................................................................................................................26
6. Processo de participação ............................................................................................................27
Qual é o nível de participação dos membros nos comitês de bacia? ............................................................ 27
Quais são as dificuldades encontradas pelos membros para participar das reuniões? .......................... 28
Quem cobre os custos de participação dos membros nas reuniões dos comitês?................................... 28
Quanto tempo os membros dedicam às atividades dos comitês? ................................................................. 29
Com que freqüência os membros participam das atividades dos comitês? ............................................... 31
Sumário ............................................................................................................................................32
7. Processo deliberativo .............................................................................................................................................. 33
Como os membros avaliam a democracia na tomada de decisão?................................................................ 33
Quais são os setores ou instâncias mais influentes na definição da pauta de reuniões dos comitês? ...34
Percepção sobre a desigualdade no processo decisório .................................................................................... 35
Qual é a percepção dos membros sobre a existência de pessoas ou grupos
que dificultam o avanço ou a dinâmica dos comitês?......................................................................................... 36
Em que esfera de governo os membros dos comitês mais confiam?
Em que instituições ou grupos os membros dos comitês mais confiam?.................................................... 38
Sumário ............................................................................................................................................39
8. Interação dos membros com os representados ou bases políticas ................................................... 40
Em que se baseiam os membros para tomar decisões nas reuniões plenárias?........................................ 40
De que maneira os membros informam a sua entidade sobre as atividades dos comitês? .................. 42
Sumário ............................................................................................................................................42
9. Instrumentos de gestão: cobrança pelo uso da água ...............................................................43
Qual é a opinião dos membros sobre a cobrança pelo uso da água e o funcionamento
dos comitês ? ...................................................................................................................................................................... 43
Sumário ............................................................................................................................................45
10. Propósito e desempenho dos comitês.......................................................................................................... 46
O que pensam os membros dos comitês sobre o modelo de gestão da água?......................................... 46
O que pensam os membros sobre a abrangência das atividades dos comitês?........................................ 47
Quais são os principais problemas na bacia?.......................................................................................................... 48
Quais são os problemas mais discutidos nos comitês?....................................................................................... 48
Qual é a opinião dos membros sobre o tratamento dos problemas mais importantes da bacia?...... 48
Quais são as duas maiores dificuldades que afetam o funcionamento dos comitês?............................. 49
Sumário ............................................................................................................................................50
11. Oportunidades e desafios para a gestão integrada, participativa e
descentralizada da água ............................................................................................................................................ 51
12. Bibliografia ................................................................................................................................54
1. INTRODUÇÃO
O processo de tomada de decisão no setor monetário da água precisa ser incluído nos
público brasileiro sofreu profundas trans- custos de produção.
formações nos últimos 20 anos. O final da A primeira lei de recursos hídricos ba-
ditadura e o estabelecimento de um regime seada nesses princípios internacionais foi
democrático estável foram só o começo das promulgada em São Paulo, em 1991. Pos-
mudanças. Desde os anos 90, todos os ní- teriormente, outros estados adotaram leis
veis de governo têm sido influenciados por semelhantes e, em 1997, foi instituída a Po-
uma série de tendências internacionais, que lítica Nacional de Recursos Hídricos e cria-
encorajam a maior flexibilidade de merca- do o Sistema Nacional de Gerenciamento de
do, a descentralização e a participação da Recursos Hídricos. A reforma, que foi gra-
sociedade civil no processo de tomada de dualmente estabelecida durante a década
decisão do setor público. Como conseqüên- de 1990, ainda precisa ser incorporada por
cia, houve a difusão de novos espaços para todos os estados, pelo Distrito Federal, e no
a tomada de decisões, em que a sociedade âmbito da União. Alguns estados lideraram
civil organizada passou a ganhar poderes o processo de mudança na gestão das águas
para participar na criação de políticas pú- na primeira metade da década, mas foi a Lei
blicas, especialmente sociais e ambientais. das Águas de 1997 que estabeleceu um mo-
Considerando-se somente as políticas so- delo para o País e vem guiando a legislação
ciais (saúde, assistência social para a crian- estadual desde então.
ça e o adolescente, entre outras), aproxi- As leis permitiram a criação de organis-
madamente 40 mil conselhos tinham sido mos de caráter deliberativo (os comitês) e
criados até o começo do ano 2000. executivo (as agências), de natureza des-
A política de gestão de recursos hídricos centralizada, nas bacias hidrográficas. Os
no Brasil tem acompanhado essa tendên- comitês de bacia são formados por repre-
cia, sendo influenciada significativamente sentantes do poder público federal, estadual
pelos debates internacionais. Desde a Con- e municipal; da sociedade civil e dos usu-
ferência da Água de Mar del Plata, patroci- ários da água. As reformas também intro-
nada pela ONU em 1977, até a Conferência duziram um novo instrumento de gestão, a
Internacional sobre Água e Meio Ambiente cobrança pelo uso da água bruta, por meio
de Dublin, em 1992, várias discussões de da qual indústrias, agricultores, empresas de
âmbito internacional contribuíram para di- abastecimento de água e saneamento, entre
fundir a idéia da gestão integrada de re- outros usuários da água, devem pagar pela
cursos hídricos, em que a gerência da água água que retiram diretamente dos rios ou
deve considerar de forma racional todos os lagos, e pela poluição que neles despejam.
seus usos. Além de promover a descentrali- Em muitos estados e na federação cabe aos
zação e a participação, o modelo de gestão comitês de bacia definir como devem ser
integrada de recursos hídricos defende que, empregados os recursos arrecadados com a
para o controle da poluição e conserva- cobrança do uso da água. Outras atribui-
ção da água para futuras gerações, o valor ções dos comitês são a aprovação do plano
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 7
1. INTRODUÇÃO
de recursos hídricos da bacia e a resolução na gestão das águas depende ainda das de-
de conflitos pelo uso da água na bacia. cisões tomadas pelos governos municipais,
Poucos, entre aqueles indivíduos idea- estaduais e federais. Por exemplo, a defini-
lizadores e defensores da nova legislação, ção do valor da cobrança pelo uso da água
imaginaram que poderia ser tão difícil criar só é possível depois de o órgão estadual
novas arenas deliberativas com poderes ou federal responsável ter implementado
reais para promover uma gestão integra- um sistema de outorga da água, que é a
da de recursos hídricos no âmbito da bacia autorização de uso da água pelo poder pú-
hidrográfica. Existem muitos fatores que blico. Tal sistema de outorga é precário na
contribuem para a dificuldade de criação maioria dos estados. Por isso, é difícil fazer
de tais arenas. Descentralização é normal- gestão participativa num contexto político
mente entendido como um processo pelo em que os poderosos têm acesso privile-
qual poderes são transferidos de um maior giado aos meios decisórios. É uma trama
para um menor nível de governo. Entre- intrincada de relações “invisíveis” e de po-
tanto, as reformas para a gestão de recur- der com a qual os comitês precisam lidar
sos hídricos envolvem aspectos muito mais – e muitas vezes competir – para mudar o
complexos. Por um lado, o menor nível no quadro hídrico e ambiental de sua bacia.
qual a descentralização deveria ocorrer é Quem são as pessoas que procuram
a bacia hidrográfica, que abrange um es- enfrentar estes desafios no cotidiano? Os
paço geográfico não correspondente ao membros dos comitês de bacia são prepa-
plano político-administrativo. Geralmente, rados e motivados para participar deste
os limites municipais e estaduais, cidades contexto difícil? A presente publicação
e sistemas de transporte não coincidem sugere que sim. Como mostraremos nas
com os limites das bacias hidrográficas. As páginas a seguir, a fragilidade do sistema
pessoas que residem na bacia também não de gestão participativa não pode ser atri-
são organizadas de acordo com essa geo- buída às pessoas que se dedicam aos comi-
grafia. Por outro lado, o poder que seria tês de bacia, pois elas, na sua maioria, são
transferido de um nível para o outro tem capacitadas, experientes, com alto nível de
que ser ainda consolidado, mesmo em ní- escolaridade e compromissadas com a ges-
veis territoriais superiores. Órgãos estadu- tão da água. Essas pessoas, no entanto, se
ais e federais responsáveis pela gestão da encontram situadas em um contexto insti-
água são caracterizados pela fragmentação tucional frágil, que frequentemente mina
e sobreposição de mandatos. A criação ou a capacidade dos comitês de bacia de se
fortalecimento de órgãos responsáveis pela tornarem espaços decisórios eficazes. Tal
integração na gestão de recursos hídricos, situação frequentemente frustra, mas não
e pela implementação de instrumentos de desmobiliza os membros dos comitês. Pelo
gestão, teriam que ocorrer ao mesmo tempo contrário, nossa pesquisa sobre o perfil dos
em que a descentralização do poder acon- homens e mulheres integrantes dos comi-
tecesse. Os comitês de bacias são inevita- tês de bacia encontrou motivação e idea-
velmente dependentes de decisões tomadas lismo, e a persistência de uma crença nas
em outros níveis territoriais. O ideal seria possibilidades da vida, do conhecimento
que os comitês estabelecidos pelas leis es- e da transformação nas entrelinhas da Lei
taduais coordenassem suas ações com as 9.433/97, que instituiu a Política Nacional
dos comitês federais, no caso de suas águas de Recursos Hídricos e criou o Sistema Na-
contribuírem para as bacias federais. A ca- cional de Recursos Hídricos.
pacidade de esses comitês influenciarem
8 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
2. Projeto Marca d’Água 2004 – pesquisa com membros dos comitês de bacia
O Projeto Marca d’Água foi criado em 2001 o Projeto Marca d’Água contou com apoio
com o objetivo de acompanhar e analisar o financeiro, principalmente, do Fundo Se-
desenvolvimento do novo sistema de ges- torial de Recursos Hídricos (CT-HIDRO) do
tão das águas, sobretudo os organismos Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT-
de bacia. Ele tem como premissa a crença CNPq).
de que fatores humanos e sociopolíticos, Os 14 comitês estudados aqui (Tabela 1)
além daqueles estritamente técnicos, têm foram selecionados num cadastro de todos
um impacto decisivo no processo de trans- os comitês que, em 2004, funcionavam há
formação político-institucional da gestão mais de dois anos. Com base em critérios
das águas e podem variar regional e tem- como região, tipo de problema (qualidade
poralmente. Concebido como um projeto de água, escassez, enchentes), urbanização,
multidisciplinar, comparativo (entre bacias e tamanho da bacia, esses 14 comitês foram
hidrográficas) e longitudinal (de 10 anos selecionados de forma a refletir a distribui-
ou mais), o Marca d’Água é uma pesquisa- ção dessas características contextuais.
ação, pois abrange tanto acadêmicos quan- A pesquisa foi feita com base em en-
to profissionais diretamente envolvidos na trevistas realizadas em 2004. Com exceção
gestão dos recursos hídricos. O projeto é do que ocorreu no comitê do Rio Pará, que
conduzido por um grupo de acadêmicos tem uma estrutura organizacional específi-
de universidades brasileiras e norte-ame- ca, as entrevistas incluíram todos os mem-
ricanas – Universidade de Brasília (UnB), bros titulares dos comitês, substituídos por
Universidade do Estado do Rio de Janei- suplentes ou representantes somente quan-
ro (UERJ), Universidade Regional de Blu- do o membro titular estava indisponível ou
menau (FURB), Johns Hopkins University recusava a entrevista, indicando, porém,
e University of Michigan –, que interage a pessoa que poderia responder em seu
continuamente com vários profissionais de nome. Em menos de 10% dos casos não foi
instituições federais, estaduais e da socie- possível entrevistar nem o titular nem seu
dade civil. Aproximadamente 40 pesquisa- suplente, normalmente por ser impossível
dores e colaboradores já participaram do contatar o titular, a quem caberia indicar
projeto, incluindo cerca de 20 estudantes o suplente.
que elaboraram dissertações e teses rela- No caso do comitê do Rio Pará, foi ela-
cionadas às intenções do Marca d’Água. borada uma amostra aleatória de 40 mem-
A pesquisa de que trata esta publicação bros, constituída com base na lista de todos
foi concebida e aplicada com o apoio do os titulares e suplentes. Essa amostra foi
Centro de Pesquisas Quantitativas (CEPEQ) ponderada por segmento e por distribuição
da Universidade Federal de Minas Gerais geográfica.
(UFMG). Para a realização desta pesquisa
10 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
2. Projeto Marca d’Água 2004 – pesquisa com membros dos comitês de bacia
Faz-se necessário destacar alguns pontos específicas variam de comitê para comitê.
da pesquisa Marca d’Água no que diz res- Em alguns casos foram consideradas as di-
peito aos dados aqui utilizados. A pesquisa ferenças regionais, ou seja, as diferenças
foi mais abrangente, mas esta publicação entre os comitês de diferentes regiões. Para
considera apenas questões sobre determi- tanto, os comitês do Ceará e de Pernambuco
nados aspectos dos comitês. Boa parte dos foram agrupados na região Nordeste, e os
resultados apresentados nesta publicação é de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul
baseada na percepção dos membros, e não na região Sul. Devido às diferenças entre os
reflete, necessariamente, os resultados de comitês de Minas Gerais e São Paulo, estes
estudos qualitativos mais detalhados. foram identificados apenas como Minas e
Cabe notar, ainda, que os dados apre- São Paulo. O Comitê para a Integração da
sentados aqui refletem, na maioria das ve- Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul
zes, a realidade geral do conjunto de comi- (CEIVAP), por abranger três estados, foi
tês estudados, sendo que as características mantido separadamente, na região chama-
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 11
2. Projeto Marca d’Água 2004 – pesquisa com membros dos comitês de bacia
12 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
3. Composição dos comitês de bacia
Promover uma gestão mais participativa da sentado nos comitês pode variar também
água, com o envolvimento do governo, da em relação à legislação federal, como de-
sociedade civil e dos usuários, por meio dos monstrado na Figura 1.
comitês de bacia, está entre as principais O poder público, com 41%, é o segmen-
finalidades do sistema de gestão de recur- to com maior proporção de representantes,
sos hídricos que vem sendo implementado sendo que o municipal representa pouco
no País. A seguir, examinaremos quais são mais da metade desse índice, e o estadual o
os segmentos e categorias representados e segundo maior, o que se explica pela grande
como os membros passam a integrar os co- presença de comitês estaduais na amostra.
mitês. A sociedade civil ocupa 28% dos assentos, e
o segmento dos usuários (de grande, médio
Que segmentos estão representados nos e pequeno porte) representa 26% dos mem-
comitês de bacia? bros dos comitês.
A legislação de recursos hídricos, tanto A classificação aqui adotada dos seg-
a federal quanto a estadual, define que os mentos e categorias representados nos
comitês devem ser compostos por represen- comitês foi necessária em virtude da com-
tantes do poder público (federal, estadual e posição diversificada dos comitês de bacia
municipal), usuários da água e sociedade no Brasil, o que torna a comparação direta
civil. A proporção desses segmentos que entre os segmentos e categorias muito di-
compõem os comitês, bem como a defini- fícil. A classificação foi baseada na codi-
ção do que constituiria cada um dos seg- ficação de entidades-membro dos comitês
mentos varia de Estado para Estado. Mas em um conjunto menor de categorias, com
mesmo dentro de um único Estado os comi- base nos seus nomes e informações obti-
tês podem apresentar diferenças em termos das com membros ou estudiosos da enti-
de proporção dos segmentos representados, dadev . O segmento usuários, por exemplo,
e em relação a que segmento determinada foi dividido em dois: usuários de grande e
organização deve representar. médio porte e pequenos usuários, uma vez
Por exemplo, entre os quatro comitês que apresentam características distintas. O
de bacia mineiros estudados neste projeto primeiro, composto por empresas e agên-
(Araçauí, Pará, Paracatu e Velhas), a pro- cias governamentais e privadas dos setores
porção de grandes usuários varia entre 9 e de saneamento, abastecimento e energia
23%, e a de pequenos produtores entre 4 e elétrica, grandes produtores rurais e outros,
30%. Isso se deve, provavelmente, a dife- sujeitos a outorga da água; o segundo é
renças expressivas na estrutura socioeco- formado por pequenos produtores e traba-
nômica das bacias. A legislação tem sido lhadores rurais, os quais muitas vezes são
flexível o suficiente para permitir que os isentos de outorga. Ainda que não possuam
atores adaptem a representação de acordo outorga, podem participar dos comitês por
com suas necessidades. A proporção de as- meio de suas associações, como parte do
sentos destinados a cada segmento repre- segmento sociedade civil.
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 13
3. Composição dos comitês de bacia
Figura 1: Segmentos representados nos comitês de bacia estudados (base de dados = 486)
14 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
3. Composição dos comitês de bacia
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 15
4. Perfil socioeconômico dos membros dos comitês
A seguir são examinadas algumas carac- Os membros dos comitês de bacia estu-
terísticas, tais como idade, nível de escola- dados têm média de idade de 47 anos. Trinta
ridade, ocupação e renda dos membros dos e sete por cento (37%) desses membros têm
comitês. idade entre 40 e 49 anos (Figura 2), sendo
que o membro mais novo tem 23 anos e o
Qual a idade dos membros dos comitês? mais velho, 78 anos. Esses membros são,
São eles em sua maioria do sexo masculino em sua maioria, do sexo masculino (78%)
ou feminino? Residem na área da bacia ou (Figura 3) e residem na área da bacia (87%)
fora dela? (Figura 4).
Figura 2: Distribuição de idade dos membros dos comitês de bacia por região (base de dados =
484)
16 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
4. Perfil socioeconômico dos membros dos comitês
As faixas de idade dos membros dos A maior proporção de mulheres foi ob-
comitês quase não mudam de região para servada nos comitês de São Paulo, com 28%
região. Em todas elas os grupos mais nu- dos assentos. A menor proporção deu-se
merosos estão na faixa de 40 a 49 anos e nos comitês do Sul, onde as mulheres ocu-
50 a 59 anos. pam 15% dos assentos (Figura 3).
Figura 3: Gênero dos membros dos comitês por região (base de dados = 485)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 17
4. Perfil socioeconômico dos membros dos comitês
Qual é o nível de escolaridade dos mem- ridade maior que a média do total são o
bros dos comitês? Que tipo de formação CEIVAP e os de São Paulo, onde quase 90%
possuem? Qual é a sua ocupação? Em que de seus membros possuem curso superior
setor(es) atuam? e algum tipo de pós-graduação. Os comi-
O nível de escolaridade dos membros dos tês do Nordeste e Minas Gerais apresentam
comitês é alto, sendo que 72% deles pos- escolaridade abaixo da média, ainda que
suem curso superior e 45% pós-graduação 52% e 57% dos membros, respectivamente,
(especialização, mestrado e doutorado), em possuam curso superior e pós-graduação
diversas áreas do conhecimento. Os comitês (Figura 5).
cujos membros apresentam grau de escola-
Figura 5: Escolaridade dos membros dos comitês por região (base de dados = 485)
As três áreas de formação, em nível de rias (áreas 1 e 2), as ciências naturais (área
graduação, mais frequentes entre os mem- 3), e as ciências sociais aplicadas e jurídicas
bros dos comitês de bacia são as engenha- (área 5) (Figura 6).
Figura 6: Formação (em nível de graduação) dos membros dos comitês de bacia (base de dados =
485)
18 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
4. Perfil socioeconômico dos membros dos comitês
Figura 7: Formação (em nível de graduação), por segmento, dos membros dos comitês de bacia
(base de dados = 485)
A maioria dos membros dos comitês dos usuários e 44% dos representantes da
(90%) declarou exercer atividade remu- sociedade civil declararam atuar no setor
nerada. Dentre esses membros, 67% são público (Figura 9). No primeiro caso, isso
empregados (como celetistas, funcionários se dá porque entre os grandes usuários es-
públicos ou ocupantes de cargos de con- tão incluídas empresas e órgãos públicos
fiança), 10% empregadores, 10% trabalha- que fazem uso da água. No segundo caso,
dores autônomos de nível superior (como porque a sociedade civil inclui instituições
consultores, profissionais liberais), e 8% de pesquisa e ensino de natureza pública e,
ocupam cargos eletivos, entre outros (Figu- também, porque os representantes da socie-
ra 8). dade civil muitas vezes atuam profissional-
É interessante observar onde atuam os mente no setor público. Há, portanto, uma
membros dos comitês, pois os que decla- predominância de membros que atuam no
raram atuar no setor público não são ape- setor público, embora apenas parte deles re-
nas representantes do governo. Quarenta e presente o setor público nos comitês.
quatro por cento (44%) dos representantes
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 19
4. Perfil socioeconômico dos membros dos comitês
Figura 8: Setor de atuação dos membros por segmento (base de dados = 368)
Figura 9: Setor de atuação da principal atividade remunerada dos membros (base de dados =
368)
20 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
4. Perfil socioeconômico dos membros dos comitês
O setor de atividade da principal ocupa- deles têm renda acima de 10 salários míni-
ção remunerada dos membros dos comitês mos (ou seja, acima de R$ 2.600,00, segundo
também é variado, como agricultura, in- valores vigentes em 2004). Regionalmente,
dústria, saneamento básico, recursos hídri- os maiores níveis de renda foram encontra-
cos, administração pública, educação, meio dos nos comitês de São Paulo e no CEIVAP,
ambiente, pecuária, mineração, energia onde aproximadamente 80% dos membros
elétrica, transporte, construção civil, entre possuem renda superior a 10 salários míni-
outros. mos. Já nos comitês do Nordeste e de Minas
De maneira semelhante ao nível de es- Gerais o percentual de membros com renda
colaridade, o nível de renda dos membros maior que 10 salários mínimos é de 43% e
dos comitês também é alto, sendo que 67% 52%, respectivamente (Figura 10).
Figura 10: Nível de renda dos membros dos comitês por região (base de dados = 485)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 21
5. Capacidade dos membros dos comitês (experiência,
conhecimento e qualidades individuais)
Figura 11: Experiência dos membros dos comitês em gestão de recursos hídricos (base de
dados=486)
trabalhado em uma ou mais áreas relacio- dos comitês possuem ainda experiência em
nadas aos recursos hídricos, conforme indi- diversas áreas relacionadas à gestão de re-
cado na figura 11. cursos hídricos. A maioria dos membros
Assim, além do alto grau de escolaridade declarou ter cinco anos ou mais de experi-
e formação multidisciplinar, os membros ência nessa temática (Figura 12).
22 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
5. Capacidade dos membros dos comitês (experiência,
conhecimento e qualidades individuais)
Figura 12: Tempo de atuação dos membros dos comitês na área de recursos hídricos (base de
dados = 475)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 23
5. Capacidade dos membros dos comitês (experiência,
conhecimento e qualidades individuais)
Figura 13: Qualidade individual mais e menos importante para o funcionamento dos comitês
(base de dados = 485 para “mais” e 483 para “menos”)
Os dados mostram uma pequena dife- negociação entre os membros. Nesse senti-
rença na proporção de membros dos comi- do, a capacidade de articulação política tem
tês que valorizam o conhecimento técnico se mostrado crítica para o melhor funcio-
– considerando-se aí experiência na gestão namento e desenvolvimento das atividades
de recursos hídricos como forma de conhe- de alguns comitês. Acredita-se que, ao serem
cimento – em relação aos que privilegiam questionados sobre a importância da capa-
as qualidades de natureza social (capaci- cidade de articulação política, muitos mem-
dade de articulação política, inserção na bros interpretaram tal articulação no sentido
comunidade e conhecimento local) para o político-partidário, o que explicaria a apa-
bom funcionamento dos comitês. Com ex- rente contradição entre os dados.
ceção dos comitês de São Paulo – em que
a diferença é um pouco maior – 59% dos Os membros dos comitês usam conheci-
membros privilegiam as qualidades técni- mento técnico-científico?
cas contra 41% dos que valorizam as quali- O uso do conhecimento – seja ele téc-
dades de natureza social. Essa diferença foi nico-científico, leigo, prático, local – na
também observada regionalmente. gestão de recursos hídricos pode facilitar o
De forma consistente, “capacidade de processo de tomada de decisão. O conheci-
articulação política” foi a qualidade indi- mento contribui para o entendimento das
vidual apontada como menos importante. condições físico-naturais, socioeconômi-
Os resultados sugerem, aparentemente, que cas, culturais e políticas no contexto das
parte dos membros dos comitês parece ain- bacias. Assim, além de fornecer subsídios
da não perceber a importância da dimensão para uma melhor tomada de decisão, o co-
política no processo de gestão de recursos nhecimento pode contribuir também para
hídricos. Deve-se, porém, ter cautela com a a mediação de conflitos, ajudando, por
interpretação desse resultado, uma vez que exemplo, a promover consenso por meio do
outros dados da pesquisa revelam que, na esclarecimento de disputas sobre questões
prática, os comitês têm exercido sua ca- ambíguas ou incertas.
pacidade de articulação política, no senti- Os entrevistados declararam que vários
do de estabelecer apoio interno e externo. tipos de informação técnico-científica já fo-
Como será visto no capítulo seguinte, 74% ram aplicados nos seus comitês. Os tipos de
dos membros afirmaram que com freqü- estudo mais usados são aqueles sobre qua-
ência colaboram com outros membros. Da lidade da água, modelos hidrológicos e im-
mesma forma, 82% disseram que facilitam a pactos ambientais (Figura 14).
24 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
5. Capacidade dos membros dos comitês (experiência,
conhecimento e qualidades individuais)
Figura 14: Uso de conhecimento técnico científico nos comitês (base de dados = 385)
Para a maioria dos entrevistados, o uso mação entre os membros dos comitês, mais
de conhecimento técnico-científico nos co- da metade afirmou que a informação está
mitês facilita o processo de tomada dede- disponível e acessível (Figura 15).
cisão. A respeito da divulgação de infor-
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 25
5. Capacidade dos membros dos comitês (experiência,
conhecimento e qualidades individuais)
26 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
6. Processo de participação
Figura 16: Participação dos membros nos comitês de bacia (base de dados = 486 – comparecem,
464 – falam e 449 – propõem)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 27
6. Processo de participação
Quais são as dificuldades encontradas pe- te. Trinta e sete por cento (37%) afirma-
los membros para participar das reuniões? ram não ter dificuldades para participar das
A dificuldade mais indicada pelos mem- reuniões. Esses resultados variam entre os
bros para participar das reuniões plenárias segmentos que compõem os comitês, con-
foi falta de tempo, vindo a seguir distância forme mostra a Figura 17.
e tempo de viagem, e custo de transpor-
Figura 17: Dificuldades para participar das reuniões plenárias (base de dados = 486)
Metade dos usuários, por exemplo, de- Quem cobre os custos de participação dos
clarou não enfrentar dificuldades para par- membros nas reuniões dos comitês?
ticipar das reuniões. A maioria dos que têm Metade dos entrevistados respondeu
dificuldades atribuiu-as à distância e ao que os custos de sua participação (com a
tempo de viagem, e à falta de tempo. Essas viagem, alimentação, etc.) são cobertos por
dificuldades são também comuns aos ou- sua entidade ou empregador – esse é o caso
tros segmentos. Custo de transporte foi mais da maioria dos usuários, poder público fe-
frequentemente indicado como dificuldade deral, estadual e municipal. A maioria dos
pelos usuários de pequeno porte e socie- demais membros afirmou cobrir suas pró-
dade civil, uma vez que os representantes prias despesas para participar das reuniões
destes segmentos, na maioria dos casos, são plenárias – esse é o caso mais frequente
responsáveis individualmente pelos custos entre os representantes da sociedade civil e
envolvidos na sua participação. pequenos produtores (Figura 18).
28 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
6. Processo de participação
Figura 18: Custeio dos gastos com participação nas reuniões dos comitês (base de dados = 383)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 29
6. Processo de participação
Figura 19: Dedicação dos membros às atividades dos comitês por região geográfica (base de
dados = 486)
Figura 20: Dedicação dos membros às atividades dos comitês por segmento (base de dados = 486)
30 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
6. Processo de participação
Entre os segmentos que compõem os co- participam “às vezes” são aquelas de co-
mitês, os usuários de pequeno porte foram laboração com outros membros em proje-
aqueles que disseram, com maior freqüên- tos específicos, participação em grupos e
cia (39%), não dedicar tempo algum às ati- comissões, e organização de eventos e se-
vidades de seu comitê. Os representantes da minários. Atividades em que os membros
sociedade civil, com 44%, e o poder público menos participam são as de captar recursos
municipal, com 42%, foram os que afirma- financeiros e materiais para atividades de
ram com maior freqüência se dedicar entre seu comitê, de representar o comitê em ou-
dois e cinco dias por mês. O segmento que tros fóruns, e de escrever documentos e dar
declarou se dedicar mais de 10 dias por mês pareceres (Figura 21).
foi o poder público estadual e federal, em Embora a maioria dos membros dos co-
que 13% dos membros selecionaram essa mitês tenha considerado a articulação po-
opção (Figura 20). lítica como a qualidade individual menos
importante, as atividades relacionadas na
Com que freqüência os membros partici- figura 21 podem ser entendidas também
pam das atividades dos comitês? como articulação política. Levando-se em
“Facilitar negociação entre os membros” conta a freqüência dos membros nas ati-
foi a atividade apontada com maior freqü- vidades que envolvem relacionamento in-
ência, em que os entrevistados participam terno e externo, o resultado pode parecer
“sempre”. Atividades em que os membros contraditório.
Figura 21: Participação dos membros nas atividades dos comitês (base de dados = 384)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 31
6. Processo de participação
32 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
7. Processo deliberativo
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 33
7. Processo deliberativo
Figura 24: Influência de setores, instâncias e membros na definição da pauta e nas decisões em
reuniões plenárias (base de dados = 385)
34 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
7. Processo deliberativo
Figura 25: Desigualdades que dificultam a tomada de decisão de forma democrática nos comitês
(base de dados = 385)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 35
7. Processo deliberativo
Figura 26: Desigualdades que dificultam a tomada de decisão de forma democrática por segmen-
to (base de dados = 385)
36 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
7. Processo deliberativo
Figura 27: Existência de pessoas/grupos que dificultam o trabalho dos comitês (base de dados =
485)
Figura 28: Grupos que dificultam o avanço ou a dinâmica dos comitês (base de dados = 219)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 37
7. Processo deliberativo
Figura 29: Confiança dos membros nos diferentes níveis de governo (base de dados = 486)
38 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
7. Processo deliberativo
Figura 30: Confiança dos membros nas instituições e grupos (base de dados = 486)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 39
8. Interação dos membros com os representados ou bases
políticas
A interação e a comunicação entre mem- ria das vezes, de acordo com a opinião ou
bros dos comitês e os grupos que repre- conhecimento pessoal sobre o assunto em
sentam são importantes mecanismos pelos questão; 28% disseram seguir a orientação
quais os membros podem incorporar as da câmara técnica ou do grupo de trabalho.
preferências de sua base, bem como mantê- Apenas 18% seguem orientação do órgão
la informada sobre as decisões tomadas no ou entidade que representam, e 10% se ba-
comitê. Assim, os membros podem prestar seiam na orientação do seu segmento ou
contas sobre sua atuação no comitê às suas categoria (Figura 31). Nota-se, assim, que
bases, dando a estas condições de exercer pouco menos de um terço dos entrevistados
certo controle sobre o processo decisório. é orientado pelas entidades ou segmento ao
Esta é uma forma de fortalecer a represen- qual pertence. Os números variam regio-
tação responsável, o que torna a participa- nalmente, sendo que nos comitês do Nor-
ção no processo de tomada de decisão mais deste 67% dos membros declararam tomar
ampla e representativa. decisão ou votar de acordo com a própria
opinião. Já no CEIVAP, 47% dos membros
Em que se baseiam os membros para tomar indicaram seguir a orientação das entida-
decisões nas reuniões plenárias? des ou segmento a que pertencem. No ge-
A maior parte dos entrevistados (41%) ral, os dados sugerem influência limitada
declarou tomar decisões ou votar, na maio- entre representados e representantes.
40 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
8. Interação dos membros com os representados ou bases
políticas
Figura 32: Freqüência com que outras pessoas sugerem ao comitê assuntos e soluções para
problemas (base de dados = 484)
Figura 33: Freqüência com que outras pessoas são trazidas para assistir às reuniões plenárias ou
participar das atividades do comitê (base de dados = 384)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 41
8. Interação dos membros com os representados ou bases
políticas
Figura 34: Prestação de contas dos membros aos seus representados ou bases políticas (base de
dados = 384)
A comunicação entre os membros dos gerem que a maior parte dos membros dos
comitês e seus representados é também comitês mantém contato com suas bases. É
importante na medida em que permite a interessante notar que apesar da interação
“prestação de contas” a esses. Por meio da e comunicação entre os membros dos co-
troca de informações, os membros podem mitês e suas bases, menos de um terço dos
dar esclarecimentos sobre o processo de- membros toma decisões seguindo a orienta-
cisório, solicitar sugestões e responder às ção de sua entidade ou categoria. Os dados
aspirações de suas bases. Os representados sugerem que apesar de as bases se mobi-
necessitam tomar conhecimento das deci- lizarem para participar do processo deci-
sões e atividades do comitê, assim como sório, isso não se traduz, necessariamente,
os membros necessitam saber se as bases em maior influência dessas bases sobre seus
compartilham suas posições. representantesxvii .
SUMÁRIO
Os dados da pesquisa Marca d’Água su-
42 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
9. Instrumentos de gestão: cobrança pelo uso da água
Figura 35: Opinião dos membros sobre a cobrança pelo uso da água e o funcionamento do co-
mitê (base de dados = 486)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 43
9. Instrumentos de gestão: cobrança pelo uso da água
Ao serem perguntados sobre quem deve- todos os que captarem e consumirem água
ria pagar pelo uso da água, os entrevistados (69%), a indústria (66%), a agricultura de
consideraram, com mais freqüência, todos grande e médio porte (61%), e o saneamen-
os que poluírem as águas da bacia (77%), to (52%) (Figura 36).
Figura 36: Opinião dos membros sobre quem deve pagar pelo uso da água (base de dados = 486)
Figura 37: Opinião dos membros sobre quem deve pagar mais pelo uso da água (base de dados =
470)
44 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
9. Instrumentos de gestão: cobrança pelo uso da água
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 45
10. Propósito e desempenho dos comitês
Figura 38: Opinião dos membros sobre a adequação do modelo de gestão da água (base de dados
= 475)
46 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
10. Propósito e desempenho dos comitês
O que os membros pensam sobre a abran- como diretriz geral de ação a articulação ou
gência das atividades dos comitês? a integração da gestão de recursos hídricos
A gestão de recursos hídricos envolve, com outras políticas de gestão.
como mencionado, questões complexas, re- A maioria dos entrevistados concorda
sultado de processos múltiplos de natureza que as atividades dos comitês devem ser
físico-natural, social, econômica e política. abrangentes e incorporar outras questões
Assim, a gestão deveria ser integrada levan- relacionadas às águas, como, uso do solo,
do em conta os processos que podem afe- planejamento regional integrado e geren-
tar a quantidade e a qualidade dos recursos ciamento costeiro. Uma pequena parcela dos
hídricos. É no sentido de melhor cuidar da entrevistados acredita que as atividades dos
quantidade e da qualidade que a Política comitês deveriam se limitar aos problemas
Nacional de Recursos Hídricos estabelece dos recursos hídricos (Figura 39).
Figura 39: Percepção dos membros sobre a abrangência das atividades dos comitês (Base de
dados = 486)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 47
10. Propósito e desempenho dos comitês
Quais são os principais problemas na bacia? Quais são os problemas mais discutidos
Os 486 membros entrevistados aponta- nos comitês?
ram como principais problemas na bacia a Segundo 30% dos entrevistados, o pro-
poluição orgânica e industrial das águas, blema mais discutido refere-se ao conhe-
o lançamento de lixo nas margens e nos cimento e avaliação da bacia e dos pro-
cursos d’água, escassez de água, falta de blemas relacionados aos recursos hídricos.
suporte técnico, dificuldades de gestão por O segundo mais discutido diz respeito às
parte dos comitês, desmatamento e assore- alternativas de solução dos problemas da
amento, entre muitos outros. água da bacia. Com menos freqüência, en-
Figura 40: Problemas mais discutidos nos comitês (base de dados = 385)
Figura 41: Opinião dos membros sobre o tratamento dos principais problemas na bacia (base de
dados = 481)
48 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
10. Propósito e desempenho dos comitês
Figura 42: Principais dificuldades que afetam o funcionamento dos comitês (base de dados =
486)
Figura 43: Percepção dos membros sobre o sucesso do comitê em influenciar as decisões dos
órgãos governamentais (base de dados = 478)
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 49
10. Propósito e desempenho dos comitês
Figura 44: Percepção dos membros sobre o sucesso em influenciar as decisões das empresas pri-
vadas (base de dados = 465)
Figura 45: Percepção dos membros sobre o sucesso dos comitês em influenciar os habitantes da
bacia (base de dados = 479)
50 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
11. Oportunidades e desafios para a gestão integrada,
participativa e descentralizada da água
s %NQUANTO UMA GRANDE DIVERSIDADE DE OR- s %MBORA IDENTIlQUEM A EXISTÐNCIA DE FALTA
ganizações é representada nos comitês, em de confiança em determinados atores, e de-
geral os membros individuais apresentam sigualdades entre os membros, que podem
escolaridade e condição socioeconômica dificultar a democratização do processo de-
muito maior do que a do brasileiro médio. cisório, no geral os comitês são avaliados
Para alguns, isso poderia significar que como arenas democráticas de discussão.
estas arenas são elitizadas. Outros podem
entender que as entidades que participam s ! MAIOR PARTE DOS MEMBROS DOS COMITÐS
dos comitês tendem a enviar seus membros mantém contato com suas bases, o que não
mais capacitados a essas arenas. Os mem- necessariamente se traduz em maior influ-
bros trazem recursos para garantir uma ência dessas bases sobre seus representan-
participação mais eficaz. tes.
s /S MEMBROS DOS COMITÐS APRESENTAM FOR- s ! COBRAN A PELO USO DA ÉGUA Ï UM INSTRU-
mação e experiência profissional em diver- mento de gestão que, quando implementa-
sas áreas do conhecimento, constituindo-se do, poderá gerar recursos financeiros para
de equipes multidisciplinares. Essa multi- projetos e atividades do comitê. A opinião
disciplinaridade pode contribuir para abor- dos entrevistados é que deve pagar pelo uso
dagens mais abrangentes, necessárias para da água quem consumir ou poluir mais.
a gestão da água. Mas, mesmo sem a cobrança, a maioria dos
membros acredita que o comitê permanece-
s /S COMITÐS TÐM FEITO USO DE CONHECIMEN- rá organizado e dinâmico.
to técnico-científico, tais como estudos
sobre qualidade da água, modelos hidroló- s !PESAR DA FALTA DE RECURSOS lNANCEIROS
gicos, impactos ambientais, entre outros, e e de outras dificuldades que afetam o fun-
consideram que isso facilita o processo de- cionamento dos comitês, a percepção dos
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 51
11. Oportunidades e desafios para a gestão integrada,
participativa e descentralizada da água
52 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água
11. Oportunidades e desafios para a gestão integrada,
participativa e descentralizada da água
volver suas próprias agendas, solucionar ou que alcancem melhor desempenho dentro
minimizar conflitos entre atores regionais, de um contexto institucional limitante.
e encontrar alternativas para subsidiar suas Desta forma, podem ter maior capacidade
atividadesxxvi . para superar os desafios e potencializar as
A capacidade de inovação e empreende- oportunidades para uma gestão integrada,
dorismo dos comitês (a qual não pôde ser participativa e descentralizada de recursos
examinada nesta pesquisa) pode se consti- hídricos no Brasil.
tuir em fator adicional e importante para
NOTAS
iIPEA, 2005: 128
iiGleick, 2000; e Conca, 2005, Capítulo 6.
iii“The Dublin Statement on Water and Sustainable Development,”
Projeto Marca d’Água Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros 53
12. BIBLIOGRAFIA
54 Comitês de bacia sob o olhar dos seus membros Projeto Marca d’Água