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Economia e política

Meio ambiente, ciência e poder


O conceito de sociedades sustentáveis parece ser mais adequado que o de desenvolvimento sustentável, na medida
em que possibilita a cada uma delas definir seus padrões de produção e consumo, bem como o de bem-estar a partir de
sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu ambiente natural. Além disso, deixa-se de lado o padrão das socie-
dades industrializadas, enfatizando-se a possibilidade da existência de uma diversidade de sociedades sustentáveis, desde
que pautadas pelos princípios básicos da sustentabilidade ecológica, econômica, geográfica, social e política.

Antônio Diegues

Hoje é comum a preocupação com a qualidade de nosso ambiente físico. Essa preocupação
faz-se notar nos mais variados ambientes sociais, mediante atitudes simples, como a opção de uma
dona de casa por um detergente para roupas menos prejudicial ao meio ambiente, ou de manifesta-
ções maiores, como as campanhas de grupos ambientalistas – Organizações Não Governamentais
(ONGs), ou seja, entidades da sociedade civil, sem vínculos com o governo instituído – para limpar
as praias e ribanceiras de rios, além dos regulamentos do governo para o controle de poluentes e
agrotóxicos. Ao lado do interesse do homem pelo ambiente existe uma crescente preocupação com
a maneira pela qual o ambiente físico influencia o comportamento do homem.
Muito se fala a respeito da poluição visual, do

Istockphoto.
ar e da água, a respeito da destruição do ambiente
natural, dos ruídos e da superpopulação. No entan-
to, muito pouco ouve-se falar de ações efetivas, como
a renovação de áreas naturais, a reorganização de
favelas, saneamento básico em valetas de esgoto a
céu aberto, reciclagem e tratamento do lixo urbano.
Tem havido maior ênfase, como vimos, nos efeitos
do comportamento do homem em referência ao am-
biente e menor atenção aos modos como o ambiente
e as próprias alterações nele provocadas pelo homem A poluição do ar.
afetam a qualidade de vida em sociedade.
O habitat da espécie humana é a superfície terrestre. Por habitat entendemos o local de mora-
da, as áreas favoráveis à sobrevivência, à fixação de uma espécie. O homem é um ser vivo que não
se restringe a uma área específica, a um tipo de clima ou de relevo que determine sua fixação. Ele
pode viver, praticamente, em qualquer parte da superfície do planeta.

M
as, quando se estuda a história da humanidade, a construção do espaço geográfico, isto é, os
locais que a sociedade escolheu como habitat, a natureza, às vezes, é deixada de lado, é vista
como algo que aos homens foi oferecido e que aí está para ser usado. A mentalidade de boa
parte da sociedade ocidental coloca o homem no centro do universo, como sendo o “todo-poderoso” da

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natureza. Assim, com o homem visto como senhor da natureza, entende-se o am-
biente natural como sendo servo do ser humano. Desse modo, a natureza tem sido
encarada como algo que tem que ser dominado pelo homem, tendo que obedecer
aos seus interesses. Mas por trás dessa ideia se esconde uma filosofia que diz que o
homem, por ser racional, deve subordinar a natureza, a qual vê como um conjunto
de seres que tem suas vidas governadas pela espontaneidade ou pelo instinto.
Um outro tipo de raciocínio semelhante a esse é difundido nas relações en-
tre os homens. Alguns, por se considerarem possuidores de uma inteligência su-
perior, acham-se no direito de se impor sobre os demais, que não teriam uma
mentalidade completamente racional. Assim, uns teriam capacidade para pensar e
dirigir e outros somente para trabalhar e serem dirigidos, como se fossem objetos
que não pensam.
Acreditamos ser muito importante pensar nessas questões, pois
Wikipédia.

essa concepção de que o homem é um ser superior – e que, por isso, teria
direito de dominar toda a natureza, tem-nos levado à degradação, a um
mundo no qual as florestas são derrubadas, as águas são contaminadas,
os solos erodidos, o ar tornado irrespirável, os desertos ampliados ano a
ano, os pobres transformados em miseráveis. É bom lembrar que, a todo
momento, estamos em contato com a natureza e dependemos dela para
a nossa sobrevivência. Todo ser vivo – animal ou vegetal – depende dos
elementos da natureza para sua sobrevivência e reprodução.
Continuamente respiramos o ar, bebemos a água e a utilizamos
para fazer nossas refeições e higiene pessoal. Dos animais, obtemos
alimentos – leite, ovos –, além de matéria-prima – couro, lã. Também
Estação de energia solar utiliza a
energia captada do Sol.
os minerais são, de um modo geral, empregados como matéria-prima.
Dessa maneira, o ar, a água, o solo, os animais e os vegetais fazem par-
te da natureza, assim como nós, seres humanos, também fazemos. Não estamos
separados, formamos um só conjunto.
A natureza é, portanto, fonte de vida e fonte de recursos naturais. Sem ela é
impossível a vida, e é desse modo que ela deve ser entendida e respeitada.

O que é desenvolvimento sustentável?


O desenvolvimento sustentável consiste em uma teoria que prega o desen-
volvimento econômico valendo-se da aplicação de políticas governamentais vi-
sando à preservação do meio ambiente. Formulada por especialistas reunidos pela
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Estocolmo, 1972),
sob patrocínio da Organização das Nações Unidas (ONU), foi exposta no livro
Nosso futuro comum, publicado em 1987. Nele se destaca que, até o ano 2000,
o crescimento demográfico obrigaria os países em desenvolvimento a aumentar
em 65% sua infraestrutura de moradia e serviços urbanos apenas para manter
as condições atuais, o que impediria o acesso das futuras gerações aos recursos
necessários à sua sobrevivência. O livro comprova os vínculos existentes, nes-
ses países, entre pobreza, desigualdade de renda e deterioração ambiental. Ao
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mesmo tempo, responsabiliza os governos e populações dos países desenvolvidos


pela manutenção da vida de todas as espécies; recomenda a adoção de políticas
que previnam disputas pela exploração das últimas fontes naturais existentes na
Terra, localizadas, em sua maioria, nos países do Hemisfério Sul; desaconselha
o incentivo à reprodução, nos países em desenvolvimento, do modelo econômico
predatório e sugere que as nações ricas destinem verbas à pesquisa, nos outros
países, de modelos alternativos viáveis de preservação da natureza.

O que é conservacionismo?
Conservacionismo é o nome que se dá à atual preocupação em utilizar de
forma racional os elementos da natureza consumidos pela sociedade moderna.
No entanto, conservar não significa guardar como “santuário ecológico”, mas sim
utilizar racionalmente. A natureza deve ser utilizada de forma a atender às neces-
sidades da sociedade presente, satisfazer material e espiritualmente os seres hu-
manos, mas deixando clara a preocupação com as gerações futuras, para as quais
temos a obrigação de deixar um ambiente sadio.
A preocupação com o conservacionismo racional só começou a chamar a
atenção quando a degradação do meio ambiente pelo homem, a extinção de inú-
meras espécies animais e vegetais ficou mais evidente. Foi a partir desse momento
que se passou a procurar respostas para questões como: quando vão se esgotar os
recursos energéticos como o carvão e o petróleo? O que fazer para que não ocorra
a extinção de certas espécies ameaçadas? Como os países subdesenvolvidos vão
resolver seus problemas de fome e miséria?
É bom lembrar que toda sociedade humana, por mais avançada que seja,
depende de suas relações de troca com a natureza para sobreviver. Dessa forma, o
que seria sustentabilidade de uma sociedade? É “a persistência, em um futuro apa-
rentemente indefinido, de certas características necessárias e desejáveis do sistema
sociopolítico e de seu meio ambiente natural” (ROBINSON et al., 1990, p. 39). O
conceito de desenvolvimento é muito relativo, pois, para medir o grau de desenvol-
vimento de uma sociedade, é preciso compará-la a outra, ou seja, é preciso estabe-
lecer parâmetros (critérios) para classificar tal sociedade, e, nem sempre esses cri-
térios são aceitos com facilidade, pois, dependendo dos interesses em jogo, mudam
os padrões de estabelecimento das classificações gerais. Sendo assim, é preciso
questionar os conceitos que estabelecem padrões. Será que o que entendemos como
“a sustentabilidade é a persistência em um futuro aparentemente indefinido” não
reflete o fato de que, não podendo concretizar nossas aspirações por uma sociedade
melhor para a maioria da população no presente, induzimo-nos a adiar a realização
desse feito para o futuro? Sendo assim, somos coniventes com a realidade apresen-
tada, ou seja, não queremos enfrentar o sistema, para que, assim, com segurança,
ele possa suportar as mudanças gradativas conforme seus interesses não ferindo a
ordem vigente. Agindo dessa maneira, o grupo dos cidadãos que se diz crítico e
politizado está legitimando a sociedade atual com todas as suas contradições, ou
seja, está exercendo sua crítica apenas na teoria, para aliviar seu sentimento de
culpa, mas, na prática, colabora para a manutenção da sociedade atual.
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