Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
antissimetria e assimetria
Communication: The paradigms of symmetry,
antisymmetry and asymmetry
Winfried Nöth*
Resumo
O trabalho examina como o processo da comunicação é representado (a) na etimologia * Professor da
Universidade de Kassel,
da palavra comunicação, (b) nas metáforas cotidianas da comunicação e (c) nas teorias Alemanha. Professor
e nos modelos da comunicação do século XX. Estes refletem este paradoxo em três visitante do programa
de Pós-graduação em
paradigmas da comunicação: os da simetria, antisimetria e assimetria. O beco sem Tecnologias da Inteligência
saída da teoria da comunicação conforme o último cenário é confrontado com algumas e Design Digital (TIDD)
da PUC-SP. http://www.
soluções oferecidas na teoria da comunicação de Charles S. Peirce. uni-kassel.de/~noeth.
Palavras-chave: Comunicação, metáforas da comunicação, modelos da comunicação, E-mail: noeth@
uni-kassel.de.
simetria, antissimetria, conjunção, disjunção, ruído, caixa preta, Peirce
Abstract
The paper examines how the process of communication is represented (a) in the ety-
mology of the concept of communication, (b) in everyday metaphors of communica-
tion, and (c) in 20th century theories and models of communication. These reflect this
paradox in three different scenarios: the paradigms of symmetry, antisymmetry and
asymmetry. The dead end into which communication theory is led by the proponents
of the latter paradigm is contrasted with some solutions offered by Charles S. Peirce’s
communication theory.
Keywords: Communication, metaphors of communication, models of communication,
symmetry, antisymmetry, conjunction, disjunction, noise, black box, Peirce
85
Comunicação: os paradigmas da simetria,
antissimetria e assimetria
J
1. O autor agradece a á na raiz da palavra comunicação encontram-se paradoxos e contradi-
Amaral Gurick pela
revisão cuidadosa deste
ções. A origem desta palavra nos leva à língua latina, onde encontramos
texto e pelas suas sugestões as palavras communis ‘comum’, communio ‘comunidade’ e communicare
terminológicas pertinentes
e a Priscila Borges para o ‘fazer’ ou ‘tornar comum’. No campo lexical das origens da palavra latina
design dos diagramas 7-11. communicare também se encontram as palavras mutare ‘mover’, ‘mudar’,
‘trocar’, mutuus, ‘recíproco’, ‘em troca’ e commutare, ‘mudar’, ‘transformar’,
‘negociar’, ‘vender’.
Todos estes sentidos são bem compatíveis ou estreitamente relacionados
com o sentido da palavra comunicação, pois comunicação é um ‘fazer comum’,
que implica ‘participação’, ‘convivência’ e ‘convívio’, comunicação tem a haver
com intercâmbio social e troca de informação e pode levar a mudanças do
pensamento ou do conhecimento.
Porém, communicare, em latim, também tem um outro sentido, que vai
numa direção oposta a esses conceitos, pois communicare não só significa ‘fazer
comum’ ou até ‘unificar’, mas também algo oposto, que é ‘dividir’ e ‘separar’. A
raiz da palavra comunicação nos leva então também ao domínio de duas lógicas
opostas. Enquanto o sentido ‘fazer comum’ pertence à lógica da conjunção, o
sentido de ‘separar’ nos leva ao domínio da lógica da disjunção:
lat. Communicare
86 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
88 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
90 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
92 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
94 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
96 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
Repertório
do receptor
98 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
A partir dos anos 1980 apareceram novos paradigmas nos horizontes das
teorias da comunicação e da interpretação, que radicalizaram o modelo da
disjunção parcial entre o emissor e o receptor até a um ponto em que se pode
dizer que este paradigma postula uma assimetria fundamental (Quadro 5) na
comunicação.
O paradigma pós-moderno caracteriza as mais variadas vertentes das teo-
rias da comunicação e da representação baseadas em pressupostos muito diver-
sos. Entre eles se destacam o desconstrutivismo fundado com a gramatologia
de Derrida, a semanálise de Kristeva, o pós-estruturalismo de Roland Barthes,
a teoria construtivista da comunicação, a teoria dos sistemas de Luhmann e
o construtivismo radical (cf. Sampaio, 2001). Derrida, por exemplo, postula a
impossibilidade da comunicação (Chang, 1996: 171-220). Não é possível de se
chegar a qualquer acordo sobre o significado de um texto, visto que os seus
significados são insolúveis e permanentemente deferidos no processo da inter-
pretação, escapando, assim, de qualquer determinação, de maneira que um
acordo mútuo entre os emissores e receptores do texto é impensável.
Igualmente radical é Niklas Luhmann nas suas posições sobre a assimetria
fundamental da comunicação. Se baseando em axiomas do construtivismo
e da teoria dos sistemas, Luhmann até postula a impossibilidade ou ao me-
nos a improbabilidade da comunicação e que comunicação seja um processo
essencialmente autorrefencial, visto que qualquer mente só pode construir
o próprio pensamento sem ter conhecimento daquilo que o outro pensa (cf.
Nöth, 2001). Conforme Luhmann (2005: 30), comunicação é impossível porque
mentes são sistemas cognitivos fechados. A mente do emissor tanto como a
mente do receptor são caixas pretas, que não permitem ter informação recí-
proca sobre o pensamento do outro. O receptor não pode enxergar aquilo que
acontece dentro da cabeça do emissor e vice versa; se um tivesse acesso aos
pensamentos do outro, a comunicação seria desnecessária e não aconteceria
(Luhmann, 1984: 156). O paradoxo é que o emissor também não pode ver o
que acontece dentro da sua própria caixa preta. O paradoxo foi formulado por
Wittgenstein, nas seguintes palavras: “Mas quando se diz ‘Como posso saber
o que ele quer dizer, sendo que eu só vejo os seus signos’, eu digo: ‘Como é
que ele pode saber o que ele quer dizer, sendo que ele também só tem os seus
signos’” (Wittgenstein, 1953: 504).
Não é possível, neste ponto, entrar em mais pormenores das diversas posi-
ções do paradigma da comunicação baseadas na lógica da disjunção, paradigma
que tanto se opõe aos cenários subjacentes à maioria das metáforas cotidianas
da comunicação quanto aos modelos da comunicação do paradigma clássico
da conjunção. Basta restringir-nos a um sumário de Cary Nelson das críticas
100 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107 101
Comunicação: os paradigmas da simetria,
antissimetria e assimetria
102 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107 103
Comunicação: os paradigmas da simetria,
antissimetria e assimetria
Locutor Ouvinte
104 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
REFERÊNCIAS
CASALEGNO, Federico. Living memory: Une approche écologique de la mémoire en
réseau. In : F. CASALEGNO, ed. Mémoire quotidienne, Communautés et commu-
nication à l’ère des réseaux . Sainte Foy: Presses de l’Université Laval, 2005.
CHANG, Briankle G. Deconstructing Communication. Minneapolis, MN: University
of Minnesota Press, 1996.
COLAPIETRO, Vincent. Conclusive and open conversations. Manuscrito de uma pa-
lestra na Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, 3 de setembro de 2010.
Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107 105
Comunicação: os paradigmas da simetria,
antissimetria e assimetria
GRADY, Joe. The “conduit metaphor” revisited: A reassessment of metaphors for com-
munication. In: J.-P. KOENIG (ed.). Discourse and Cognition: Bridging the Gap.
Stanford, CA: CSLI Publications, 1988.
KRIPPENDORFF, Klaus. Major metaphors of communication and some constructivist
reflections on their use. Cybernetics & Human Knowing 2.1: 3-25, 1993.
_______ . Der verschwundene Bote: Metaphern und Modelle der Kommunikation. In:
Klaus MERTEN, S.J. SCHMIDT & S. WEISCHENBERG (eds.). Die Wirklichkeit
der Medien. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1994.
LAKOFF, George & Mark JOHNSON. Metaphors We Live By. Chicago & London:
University of Chicago Press, 1980.
LUHMANN, Niklas. Soziale Systeme: Grundriss einer allgemeinen Theorie. Frankfurt/
Main: Suhrkamp, 1984.
LUHMANN, Niklas. A realidade dos meios de comunicação. Trad. Ciro Marcondes
Filho. São Paulo: Paulus, 2005.
NELSON, Cary. 1985. Poststructuralism and communication. Journal of Communication
Inquiry, 1985.
NÖTH, Winfried. Handbook of Semiotics. Bloomington, IL: Indiana University Press, 1990.
_______. A semiótica no século XX. São Paulo: Annablume, 1996.
_______. Auto-referência na teoria dos sistemas e na semiótica. Revista de Comunicação
e Linguagens [Lisboa] 29: 13-28, 2001.
_______ . On the instrumentality and semiotic agency of signs, tools, and intelligent
machines. Cybernetics & Human Knowing 16.3-4: 11-36, 2009.
_______. Semiotic foundations of pragmatics. In: Foundations of Pragmatics. W. Bublitz
& N. Norrick (eds.). Berlin: de Gruyter, pp. 167-202, 2011.
_______ . & Lucia Santaella. Die Relevanz der peirceschen Semiotik des Vagen für die
Theorie der Kommunikation. In: Die (Un)möglichkeit der Kommunikation, S. J.
Schmidt (ed.), 73-96. Frankfurt/Main: Peter Lang (=Special Issue SPIEL: Siegener
Periodicum zur Internationalen Empirischen Literaturwissenschaft 26.1 [2007]),
2009.
PEIRCE, Charles Sanders. Collected Papers, vols. 1-6, 1931-58, ed. Charles Hartshorne
and Paul Weiss; vols. 7-8, ed. Arthur W. Burks. Cambridge, MA: Harvard University
Press (Obra citada como CP, seguido pelo número do volume e número do
parágrafo).
_______ . The Charles S. Peirce Papers, 30 reels, 3rd microfilm edition. Cambridge, MA:
The Houghton Library, Harvard University, Microreproduction Service, 1979 (Obra
citada como MS, seguido pelo número do volume e número da página).
_______. The Essential Peirce. Selected Philosophical Writings, vol. 2, 1893-1913, ed. by the
Peirce Edition Project. Bloomington. Indiana University Press, 1988 (Obra citada
como EP, seguido pelo número do volume e número da página).
106 matrizes Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107
Communication: The paradigms of symmetry, dossiê
antisymmetry and asymmetry
REDDY, Michael. The conduit metaphor: A case of frame conflict in our language
about language. In: Andrew ORTONY (ed.). Metaphor and Thought. Cambridge:
Cambridge University Press, 1979.
SANTAELLA, Lucia & Winfried NÖTH. Comunicação e semiótica. São Paulo: Hacker,
2004.
SCHMIDT, Siegfried J. Kognitive Autonomie und soziale Orientierung: Konstruktivistische
Bemerkungen zum Zusammenhang von Kognition, Kommunikation, Medien und
Kultur. 2. ed. Frankfurt/Main: Suhrkamp, 1996.
SHANNON, Claude E. & Warren WEAVER. The Mathematical Theory of Communication.
Urbana, IL: University of Illinois Press, 1949.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophische Untersuchungen – Philosophical Investigations.
Oxford: Blackwell, 1953.
Endereços eletrônicos
RANSDELL, Joseph. Is Peirce a phenomenologist? Versão em inglês. Original em francês
em: Etudes Phénoménologiques, 9-10 (1989), pp 51-75. Disponível em: < http://
www.cspeirce.com/menu/library/aboutcsp/ransdell/phenom.htm>. Acesso: maio,
2010.
SAMPAIO, Inês Sílvia Vitorino. Conceitos e modelos da comunicação. Ciberlegenda:
Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal
Fluminense 5, 2001. Disponível em: <http://www.uff.br/mestcii/ines1.htm>. Acesso
em agosto 2010.
Ano 5 – nº 1 jul./dez. 2011 - São Paulo - Brasil – Winfried Nöth p. 85-107 107