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Em sentido material o Orçamento do Estado é uma previsão de receitas e despesas. Numa perspetiva jurídico-política o
Orçamento deve ser definido como a autorização política concebida ao Governo pelos cidadãos, através dos seus
representantes, para cobrar receitas e realizar despesas públicas durante um período determinado, normalmente um
ano.
Ao aprovar o Orçamento do Estado, os Parlamentos (poder legislativo) concede uma verdadeira autorização política
aos respetivos Governos (poder executivo) para que estes possam cobrar receitas e realizar as despesas aí previstas.
A atividade financeira pública surge identificada em vários orçamentos:
Orçamento do Estado propriamente dito (art.105 CRP)
Os Orçamentos das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (art.227 n1 a)p Crp)
Os Orçamentos das Autarquias Locais (art.238 n1 Crp)
Elemento político
Numa perspetiva política, o Orçamento do Estado configura uma autorização política (consentimento) concedida pelas
assembleias representativas aos governos, para que estes possam levar a cabo o seu projeto de gestão do Estado.
Quando aprova o Orçamento do Estado o Parlamento exerce uma competência exclusiva que não pode delegar em
qualquer órgão de soberania. Em caso de dissolução do Parlamento ou sempre que este não tenha condições para
aprovar o orçamento, a atividade financeira decorre no ano seguinte com base no orçamento do ano anterior e
respeitando o regime dos duodécimos.
Elemento jurídico
O Orçamento é o instrumento jurídico que define e limita os poderes financeiros da Administração, constante de uma
lei formal da Assembleia da República dotada de força obrigatória geral. O Orçamento é elaborado com base na nova
lei de enquadramento orçamental que é uma lei de valor reforçado (art.112 n3 CRP), o que significa que esta lei
prevalece sobre todas as restantes normas orçamentais. A lei de enquadramento orçamental (LEO) estabelece as
disposições gerais e comuns de enquadramento dos orçamentos e contas de todo o setor público administrativo e tem
por base os artigos 105, 106 e 107 da Crp.
As funções jurídicas
A circunstância de constar de uma lei formal da República faz com que este documento goze de coercibilidade e da
generalidade das lei, confere-lhe uma natureza imperativa que torna o Orçamento vinculativo em todas as suas
matérias.
O art.9 LEO estabelece que o Orçamento do Estado é unitário, ou seja, apenas existe um só Orçamento ao nível do
Estado e que esse orçamento compreende todas as receitas e despesas, quer do subsetor da Administração Central,
quer do subsetor da Segurança Social.
Ao prever a existência de um só orçamento e tudo nesse orçamento, o que se pretende é evitar a existência de receitas
e despesas que escapem à autorização política parlamentar e ao controlo orçamental.
3. A discriminação orçamental
Diz respeito à forma como deverão ser inscritas as receitas e as despesas, de maneira a identificar as diversas fontes
donde o Estado obtém os recursos financeiros e os gastos que cada serviço público vai realizar. São 3 princípios de boa
organização do orçamento que a LEO consagra:
O princípio da não compensação
Art.15 LEO estabelece o princípio da não compensação ou do orçamento bruto, ou seja, todas as receita e despesas
são inscritas pela sua importância integral, sem deduções de qualquer natureza.
O princípio da sustentabilidade
Em nome do objetivo da sustentabilidade das finanças públicas na União Europeia, o processo orçamental inicia-se
com a atualização do Programa de Estabilidade. A atualização deste programa compete ao Governo e deve especificar
as medidas políticas económica e orçamental do Estado Português, apresentando de forma detalhada os seus efeitos
financeiros, o respetivo calendário de execução e a justificação dessas medidas (art.33 LEO).
A sustentabilidade ganhou dignidade constitucional. Incumbência prioritária do Estado a promoção do aumento do
bem-estar social no quadro de uma estratégia de desenvolvimento sustentável (art.81 a) Crp e 9 e).
Com vista a assegurar o objetivo do saldo estrutural, a Comissão Europeia procede a uma avaliação periódica da
sustentabilidade orçamental de cada Estado-Membro, no contexto do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Nos termos do art.36 LEO, a segunda fase do processo orçamental inicia-se com a elaboração e apresentação pelo
Governo à Assembleia da República, até 10 de outubro de cada ano, da proposta de lei do Orçamento do Estado para o
ano económico seguinte. Dentro do referido prazo, o Governo envia ainda à Comissão Europeia para feitos de emissão
das recomendações nacionais específicas a proposta de lei do Orçamento do Estado.
1. A preparação do Orçamento
Art.105 n2 CRP. Nos termos do art.161 g) crp, compete à AR aprovar as leis das grandes opções dos planos nacionais e
o Orçamento do Estado, sob proposta do Governo. O Orçamento constante da proposta é o resultado das estimativas
de receitas e despesas. Os critérios de previsão orçamental são muito diversos. Quanto aos métodos clássicos, de base
administrativa, tratando-se de receitas, os serviços da Administração pública podem proceder à sua respetiva
avaliação, seguindo um dos quatro métodos seguintes:
Regime de duodécimos
Estabelece que durante o período transitório em que se mantiver a prorrogação de vigência da lei do Orçamento do
Estado respeitante ao ano anterior, a execução mensal dos programas em curso não pode exceder o duodécimo da
despesa total da missão de base orgânica, com exceção das despesas referentes a prestações sociais devidas a
beneficiários do sistema de segurança social e das despesas com aplicações financeiras.
Assim sendo, durante o período transitório de prorrogação da vigência do orçamento anterior, em cada mês, cada
organismo apenas pode assumir o compromisso e efetuar o respetivo pagamento de um duodécimo do valor
cabimentado no ano anterior.
3. A execução orçamental
Diz respeito à realização de um conjunto de atos pelos serviços de administração financeira, no respeito pelos
princípios da legalidade financeira, da legalidade tributária e da tipicidade orçamental.
A legalidade financeira implica que a execução orçamental decorra no respeito das regras de contabilidade pública, das
normas respeitantes ao tesouro público e à divida pública, com especial destaque para as regras respeitantes à
segregação de funções. A segregação de funções pode estabelecer-se entre diferentes serviços ou entre diferentes
agentes do mesmo serviço (art.52 n6 e 7 LEO).
A execução orçamental deve observar os princípios e regras que disciplinam as relações jurídicas tributárias entre o
Estado e os contribuintes – princípio da legalidade tributária (art.103 n2 crp). Trata-se de um princípio de reserva
absoluta onde as matérias são da exclusiva competência da AR e o Governo só mediante autorização legislativa prévia
pode legislar sobre tais matérias. Estas matérias terão de ser reguladas por lei ou decreto-lei (112 n2, 165 n1 i).
Existe ainda o princípio da tipicidade orçamental de que resulta a imposição de limites à cobrança de receitas e à
realização das despesas. No que respeita às receitas, a execução orçamental está sujeita a uma tipicidade qualitativa,
isto é, os serviços da administração pública só podem cobrar as receitas que tenham sido expressamente autorizadas
na lei do Orçamento do Estado e só durante o ano a que respeita o orçamento. Não existe uma tipicidade quantitativa
das receitas, podendo a cobrança ser feita para além dos valores estimados (art.52 n1 LEO).
Já no que respeita à execução das despesas existe uma limitação qualitativa e quantitativa. Só pode realizar-se as
despesas previstas e autorizadas, mas só até aos montantes orçamentados e autorizados.
Alterações ao Orçamento
O orçamento é uma previsão e, enquanto tal, pode não cobrir situações imprevistas que venham a ocorrer ao longo do
ano. As alterações orçamentais podem implicar um aumento da despesa ou uma redução ou supressão de dotações.
As alterações mais frequentes processam-se através da transferência de verbas. Com efeito, sempre que um crédito é
insuficiente ou quando ele não existe, procura-se resolver o problema com o excesso de um outro crédito.
Existem dois tipos de alterações orçamentais:
As alterações do orçamento das receitas
As alterações do orçamento das despesas
A AR apenas tem competências para alterar ou transferir verbas que se reportem a montantes globais inseridos em
programas, capítulos e funções, cabendo ao Governo as restantes alterações orçamentais. Art.59 LEO.
O Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais (SEC) foi criado para garantir a coerência e a convergência da
contabilidade nacional entre diversos países.
Receitas Públicas
Receitas patrimoniais – resultam exclusivamente dos bens do minino privado do Estado, isto é, da administração do
património do Estado ou da disposição de elementos do seu ativo que não tenham caracter tributário.
Receitas tributárias – provenientes da cobrança de impostos:
Imposto – tributos unilaterais que não envolvem uma contraprestação. Taxas e contribuições especiais.
Funções do Sistema Financeiro
Funções económicas do Estado:
Função de afetação de recursos – O Estado deve promover a afetação eficiente de recursos produtivos sempre que o
mercado falhe na consecução desse fim. A intervenção estatal mostra-se necessária, assim o Estado age no sentido de
limitar as atividades que geram externalidades negativas, penalizando-as, ex: impostos. Quando se trata de efeitos
externos positivos o Estado procurará aumenta-los e socializa-los por via da prática de subsídios.
Função redistribuidora da riqueza – traduz-se na alteração dos termos em que se processa a repartição da riqueza e
dos rendimentos.
Função estabilização económica – tem como objetivo manter um elevado nível de emprego na economia, assegurar a
estabilidade do nível de preços e garantir o crescimento económico.
Finanças Intervencionistas
O domínio das Finanças Públicas alargou-se, inicio séc.XX - Influenciada pela teoria de Keynes, a politica financeira,
tem como principal finalidade a correção dos desequilíbrios económicos. O volume orçamental passa a ser
determinado em função das necessidades de estabilização e dos objetivos tendentes a promover uma distribuição
mais justa e equitativa dos rendimentos e da riqueza.
Traços fundamentais das Finanças Modernas:
Autonomia do setor público – cabendo-lhe assegurar a realização dos objetivos da atividade privada. Finanças públicas
num equilíbrio com as finanças privadas.
Regra do mínimo é substituída pela regra do ótimo – o Estado pauta-se pelo princípio do socialmente necessário,
reduzindo desequilíbrios da economia na iniciativa privada.
Alargamento do setor público – o setor público alagar-se à prestação de serviços, absorvendo uma parcela do
rendimento nacional. Já não é só o Estado o prestador de bens públicos, mas sim entes públicos;
A integração entre economia e finanças – ambas fazem parte do mesmo conjunto económico-social e estão sujeitas à
ação das mesmas forças e princípios.
Estado abandona a posição de abstenção – finanças públicas deixam de ser neutrais e passam a ser utilizadas como
instrumento de políticas económica e sociais. O imposto tem o objetivo de retirar poder de compra aos particulares e
combater a inflação, os subsídios para melhor distribuição da riqueza.
Declínio do papel do Parlamento; Afirmação dos direitos económicos e sociais; Setor empresarial do Estado
(ressurgimento do património do Estado – criação de empresas públicas participadas e mistas).
Alteração do conceito de equilíbrio orçamental – é alterado e passa a admitir-se o recurso de empréstimos públicos,
mesmo quando não é necessário fazer despesas.
Os Sistemas Económico-Sociais
O sistema é um conjunto de elementos unidos por um conjunto de relações. Para Sousa Franco – os sistemas
económicos são formas típicas e globais de organização e funcionamento da sociedade em geral e da sua atividade
económica.
Classificação dos sistemas:
Segundo Werner Sombart, o sistema tem 3 elementos:
Espírito: móbil predominante da atividade económica;
Forma: conjunto de elementos sociais, jurídicos e institucionais definem o quadro da atividade económica e
relações entre sujeitos;
Substância: técnica, o conjunto de processos materiais pelos quais obtém e se transformam os bens.
Necessidades Públicas
A atividade financeira entende-se como atuação económica direta do Estado – visa a satisfação de necessidades da
coletividade.
O Estado não satisfaz todas as necessidades, muitas são satisfeitas pelos próprios indivíduos através da atividade
económica privada. O Estado satisfaz necessidades sociais, e necessidades que só ele poder satisfazer pois apenas ele
dispõe dos elementos de produção dos bens suscetíveis de provocar tal efeito, ex: redistribuição do rendimento.
A satisfação das necessidades só pode ser realizada mediante a utilização de bens. Há bens que têm de ser procurados
e outros para serem utilizados é suficiente que existam. Há 2 tipos de necessidades:
Necessidades de satisfação ativa: exigem uma certa atividade da parte do consumidor, uma vez que o obrigam a
recorrer a uma relação de mercado. Dai o preço exclui aqueles que não podem ou não querem paga-lo. Procurarmos
satisfazer as nossas necessidades – individuais.
Necessidades de satisfação passiva: o produtor dos bens não pode exigir pela sua utilização qualquer preço, acabam
por oferecer, não é necessário procurar – necessidades coletivas.
Economia pública (iniciativa publica na definição dos processos de escolha individual e coletiva)
Constitui a cooperação social na base de entes dotados de poder de autoridade e capacidade para estabelecer regras e
formas de cooperação assentes em contribuições obrigatórias. Assenta na existência de uma solidariedade organizada,
que se sobrepõe aos interesses individuais.
Na estruturação e funcionamento da sociedade, a economia privada e pública são 2 princípios opostos, geralmente um
é dominante, é difícil encontrar sistemas puros que adotem completamente e em exclusivo um ou outro dos princípios.
Fenómeno Financeiro
Caracteriza-se pela afetação de bens escassos à satisfação de necessidades públicas. Encontra-se enquadrado
por determinadas normas jurídicas e implica necessariamente um processo de afetação dos recursos produtivos. Tem 3
perspetivas distintas: política, economia e jurídica.
Segurança social – Tem receitas próprias (seus recursos) que resultam das contribuições obrigatórias dos trabalhadores
e das entidades patronais provenientes da Taxa Social Única (TSU), as receitas provenientes da gestão do seu
património e ainda as transferências provenientes da Administração Central.
Regiões autónomas dos Açores e Madeira – Administração regional e local. A autonomia política destes níveis,
consagrada na Constituição e nas leis gerais da República, significa que estes subsetores detêm independência
orçamental – os seus orçamentos são elaborados, aprovados e executados de forma autónoma. As regiões autónomas
têm: poderes tributários próprios, de criar imposto; autonomia patrimonial e capacidade de recorrer ao crédito;
independência financeira; património próprio. Art.227 crp.
Autarquias locais – São pessoas coletivas de direito público com independência financeira, que têm capacidade de
elaborar, aprovar e alterar os seus planos de atividade e orçamentos, de elaborar e aprovar os respetivos balanços e
contas. Dispõem de receitas próprias, ordenam e processam as despesas e arrecadam receitas que por lei lhes foram
destinadas e gerem o seu património próprio. Cabe ao governo o exercício da tutela inspetiva, para verificar se são
cumpridas as obrigações impostas por lei.
Empresas públicas – São sociedades anónimas de capital exclusivo, em que o Estado, a região autónoma ou autarquia
local exercem uma posição de domínio. As empresas que integram o setor empresarial do Estado não prosseguem fins
redistributivos, funcionam como uma lógica de mercado, produzindo bens de consumo que disponibilizam mediante
preços. As empresas públicas desenvolvem a sua atividade nas mesmas condições que as empresas privadas e
regulam-se pelo direito privado.
Perspetiva económica do fenómeno financeiro
Trata-se de um fenómeno de produção (cria bens), redistribuição (quando cobra impostos) ou consumo (realiza gastos
não reprodutivos). As relações entre o Estado e entidades públicas e a atividade económica podem assumir 3 formas:
Ordenação económica – Através da definição dos quadros legais o Estado procura modelar a ordem social, os seus
organismos e instituições, ordenar o comportamento dos diversos agentes económicos sem interferir na liberdade
económica indispensável ao funcionamento da económica de mercado.
Intervenção económica – O Estado recorre, ao seu poder de autoridade, para modificar, orientar e condicionar o
comportamento dos sujeitos económicos. Obtém-se através da concessão de benefícios fiscais que levem os agentes
económicos a tomar decisões de investimento.
Falhas de mercado – A razão do Estado poder e dever intervir na atividade económica para suprir as falhas de
mercado, para corrigir a má distribuição e utilização dos recursos pelos agentes económicos e para garantir o equilíbrio
entre as necessidades de consumo no presente e gerações futuras.
Atuação económica do Estado – A atuação económica direta verifica-se sempre que o Estado desenvolve, ele próprio
uma atividade como sujeito económico. O Estado atua como agente económico produtor de bens e serviços em pé de
igualdade e em concorrência com os demais agentes no mercado. O Estado pode atuar em regime de monopólio legal,
reserva para si o exclusivo da produção de determinado bem ou serviço, sem qualquer hipótese de concorrência.
Atividade do tesouro público – assegura a cobrança das receitas e a realização das despesas publicas. As funções de
gestão da tesouraria e da divida pública direta do Estado cabem ao IGCP (agência de gestão da tesouraria e da divida
pública).
Atividade patrimonial do Estado – Trata-se de assegurar a prática de atos de administração ex: cobrança de rendas. O
Estado obtém receitas patrimoniais diversas (juros), sendo o imposto a principal.
Atividade do crédito público – através da qual se assegura a obtenção, dos meios financeiros através das modalidades
previstas na lei, assegurando ao Estado os recursos para satisfazer as necessidades públicas.
Política Orçamental da UE
Orçamento da UE é anual, é estabelecido conjuntamente pelo Parlamento, Comissão e Conselho, engloba as despesas
e receitas da união previstas em cada exercício orçamental e deve ser equilibrado, as receitas iguais as despesas.