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Faculdade de Direito
Licenciatura em Direito
Ano Lectivo 2014-2015
1.º Ano - 2.º Semestre
Finanças públicas:
capítulo 1
Lisboa
2015
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A palavra finanças tem origem no latim finis, finis – que significa termo, fim, prazo ou
fronteira. Etimologicamente tem-se em consideração que na atividade financeira
lidamos com o cumprimento de obrigações que têm um prazo de amortização. Nesse
sentido, a palavra originária tem a ver com a atividade de financiamento da economia.
Por extensão, as finanças públicas relaciona-se com o financiamento público da
economia.
O Estado, para A. C. Pigou, deve intervir, assim, através de meios tributários e outros,
no sentido de corrigir a distribuição de rendimentos. Mas corrigir não pode significar
qualquer dirigismo ou limitação da livre iniciativa e do direito de propriedade. Para
cada sujeito económico o ponto ótimo de oferta de bens públicos é aquele em que a
utilidade marginal dos bens públicos é igual à desutilidade marginal do imposto.
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Assim, a distribuição da carga fiscal deve assentar nos princípios segundo os quais: (a)
os desiguais devem ser tratados desigualmente, de acordo com uma diferenciação
positiva e (b) a redução das desigualdades aumenta o bem-estar geral. Neste sentido,
o imposto deve ser repartido segundo as capacidades contributivas dos cidadãos,
devendo as despesas públicas ser postas ao serviço da justiça distributiva. Nesta
ordem de ideias A. C. Pigou procurou formular um ótimo social, correspondente ao
máximo de benefícios para a comunidade, procurando precisar em que condições a
perda de utilidade para alguns membros pode resultar em melhoria do bem-estar
social do conjunto.
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Na atuação económica, o Estado age por si próprio, como se fosse um qualquer sujeito
económico privado, formulando escolhas e opções económicas, que não visam, porém,
alterar os comportamentos de outros sujeitos económicos, devendo estar sempre
pautadas pela defesa e salvaguarda do interesse público.
À parte as situações em que seja possível, para a provisão de necessidades por bens
coletivos ou financeiros, criar mecanismos de cooperação (associações de socorros
mútuos) ou de exclusão (corpo de bombeiros privativo de uma empresa ou de um
grupo de pessoas), a regra exige o recurso a um poder de autoridade (atributo normal
do Estado) para produzir os bens indispensáveis à satisfação de necessidades coletivas.
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O homem político age como o homo oeconomicus e pensa nas hipóteses que lhe
oferece o mercado político, em especial no tocante à reeleição, ao mesmo tempo que
pondera o interesse geral. O crescimento do Estado é, deste modo, o produto de um
sistema centrado nos interesses eleitorais relevantes e nos grupos de pressão. Os
agentes do Estado tendem a seguir esta mesma lógica. A burocracia, o centralismo,
bem como a ineficiência resultantes da não consideração dos instrumentos inerentes
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Para os autores da "escolha pública", existe uma ausência grave de incentivos a que os
eleitores supervisionem eficazmente o governo para lhe exigirem a prestação de
contas (accountability). Há, pelo contrário, um incentivo à ignorância na condução
dos assuntos públicos - em virtude do funcionamento do “mercado político e eleitoral”
e da convergência entre os interesses ligados à necessidade de obter votos e a pressão
dos lobbies. Ao invés do que acontece, em regra, com a iniciativa privada, as decisões
nos espaços públicos são marcadas pela força dos grupos de interesses e não da estrita
eficiência económica.
Albert O. Hirschman (1915-2012) refere, por isso, que a perda de qualidade dos
serviços públicos está na raiz da Crise do Estado Providência, encontrando na lealdade,
na voz ou na saída respostas para o declínio. Importa que os valores sociais, a
participação e os projetos futuros funcionem como mobilizadores da mudança e da
melhor satisfação das necessidades. Por outro lado, Mancur Olson (1932-1998), parte
da mesma ideia de predomínio burocrático e de vulnerabilidade à ineficiência,
estudando os casos das economias japonesa e alemã e concluindo que estas
prosperaram depois de 1945 porque a guerra destruiu o poder que tinham os
interesses administrativos e burocráticos instalados para reprimir o espírito
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Nas sociedades democráticas tende a haver bipolarização nas opções, mas as forças
alternantes tendem a adotar posições próximas e consensuais, inclinando-se no
sentido da posição do "eleitor mediano", que se torna decisivo na adoção das opções
da sociedade. Assim, a ação política, em lugar de uma ponderação objetiva e
igualitária dos interesses em presença, pode favorecer posições particulares e
concentrar-se na gestão equilibrada desses interesses prioritários. Deste modo, os
grupos de interesses procuram maximizar no mercado de favores políticos. Os grupos
fazem prevalecer um efeito de "renda" para os respetivos interesses. Quanto mais
aguerridos e coesos forem, melhores resultados obtêm.
O “mercado político” distribui-se, assim, pela procura constituída pelos votantes que
procuram condicionar os eleitos e pela oferta dos políticos eleitos, que procuram
maximizar o respetivo excedente (renda económica expressa em votos) e pelos
burocratas que procuram maximizar a respetiva influência e poder nos procedimentos
de decisão pública. Enquanto para os defensores da teoria da escolha pública há
ceticismo quanto à eficiência económica das decisões, em virtude da ignorância
racional dos eleitores, dos custos da informação e do risco moral em que incorrem os
decisores políticos, para os defensores da teoria do interesse público a eficiência pode
ser alcançada, desde que haja por parte dos eleitores um grau suficiente de
informação e uma escolha racional que lhes permita contribuir para as melhores
soluções.
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Bibliografia
J.J. Teixeira Ribeiro, Lições de Finanças Públicas, Coimbra Editora, 1989, pp. 15-49.
Paulo Trigo Pereira e all., Economia e Finanças Públicas, Escolar Editora, 2007.
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