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Departamento de Direito
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
Cursos de Direito
(1.º Ano - 1.º Semestre)
Ano 2020-2021.
Sumários desenvolvidos
Capítulo V
Estado, mercado e alocação de recursos
Jean Tirole (1953), prémio Nobel da Economia de 2014, tratou deste tema, sendo
reconhecido pelo caráter inovador da sua análise sobre o comportamento dos atores
económicos, que não pode reduzir-se à lógica das trocas mercantis e do funcionamento
espontâneo do sistema de preços. As políticas públicas e a regulação económica por
entidades independentes são fundamentais para assegurar uma concorrência capaz de
garantir condições eficientes na produção e nas trocas no âmbito das sociedades industriais.
O século XIX foi dominado pelo primeiro conceito, numa lógica livre-cambista, mas as
crises económicas do final do século e a ocorrência da grande depressão dos anos trinta do
século XX, aliadas à emergência da segunda revolução industrial e à produção de massa
conduziram à emergência quer dos protecionismos nacionais quer da criação do Estado
social moderno, constituído em garante da cobertura dos riscos sociais e em fator de
coesão e de emprego. A única receita eficaz contra a depressão passou, nas economias
abertas, a ser a intervenção do Estado (v.g. New Deal nos EUA de F. D. Roosevelt). A esta
verificação que acresceu o facto de terem sido coroados de sucesso os esforços excecionais
das economias de guerra (1914-18 e 1939-45) e da reconstrução da economia mundial
depois da última conflagração mundial.
Os chamados "trinta anos gloriosos" das economias ocidentais (1945-75), de que fala Jean
Fourastié (1907-1990), foram marcados na Europa pelo papel importante dos Estados nas
economias abertas europeias, sem, porém pôr em causa o mercado. Foi o que se designou
como “economia social de mercado”, na fórmula consagrada do Chanceler Ludwig
Erhard (1897-1977). A longa recessão dos anos oitenta, após os choques petrolíferos (1973
e 1979), a crise dos Estados sociais, em virtude do peso crescente da população não ativa,
em razão da evolução demográfica, o fim do império soviético e a falência do modelo
coletivista recoloca hoje o tema da intervenção do Estado, não fazendo já sentido o
contraponto simplista entre Estado mínimo e Estado produtor. Hoje, tende a falar-se
sobretudo de um Estado regulador, importando definir, com clareza, quais os respetivos
objetivos presentes na ação económica pública. A regulação centra-se no primado da
qualidade dos serviços públicos e na concretização do equilíbrio entre eficiência e equidade.
Trata-se de garantir a coesão social, o equilíbrio entre interesses contraditórios, a defesa da
concorrência nos mercados e a justa repartição de recursos. Na sequência da crise
financeira norte-americana do sub prime e do “crash” de Outubro de 2008, este tema
ganhou nova atualidade, uma vez que foi por falta de regulação dos mercados financeiros
nos Estados Unidos que se precipitou uma situação muito grave indutora de recessão
económica. Daí que o reforço da regulação independente se tenha tornado uma das
preocupações fundamentais para preparar a recuperação, ao lado da exigência de
intervenção do Estado para evitar a falência em massa de instituições financeiras afetadas
por falta de liquidez e para recuperar a confiança perdida. Assim, o Estado é hoje chamado
a cumprir três desígnios fundamentais: (a) evitar ocupar o espaço reservado ao mercado, (b)
fazer respeitar a concorrência pela regulação e (c) preocupar-se com o investimento
reprodutivo e o emprego.
As políticas públicas deparam-se com evidentes limitações na sua eficiência. A ideia de que
a intervenção do Estado deve basear-se no aperfeiçoamento de instrumentos suscetíveis de
melhorar a concorrência e a competitividade do mercado, articulando-os como
mecanismos de redistribuição de riqueza e de rendimentos, aponta para o privilegiar de
meios indiretos que favoreçam uma melhor articulação entre a oferta e a procura no
mercado.
Na atuação económica o Estado age por si próprio, como se fosse um qualquer sujeito
económico privado, formulando escolhas e opções económicas, que não visam, porém,
alterar os comportamentos de outros sujeitos económicos, devendo estar sempre pautadas
pela defesa e salvaguarda do interesse público.
Numa economia monetária cada pessoa procura distribuir o respetivo poder de compra,
adquirindo bens ou serviços de modo a poder nivelar as satisfações marginais que lhe são
proporcionadas pelo consumo. O bem-estar de cada um depende, pois, mais do
rendimento que orienta para o consumo do que do rendimento que aufere. O bem-estar
depende, assim, mais do aumento ou diminuição das satisfações obtidas do que do seu
valor absoluto. A redistribuição de recursos revela-se uma importante tarefa do Estado,
visando a coesão social, a eficiência e a equidade.
A distribuição da carga fiscal deve basear-se num princípio de igualdade, segundo o qual
deve ter tratamento o que é igual e diferente o que é diferente. Assim, os desiguais devem
ser tratados desigualmente. Por outro lado, um equilibrado efeito redistributivo do
sistema fiscal gerador da redução das desigualdades entre os membros de uma sociedade
aumenta o bem-estar geral. Daí que o sacrifício fiscal deva ser repartido de acordo com a
capacidade de cada um para pagar e que as despesas devam ser usadas pelo Estado para
redistribuir o bem-estar de forma equilibrada e igual. Nesse sentido, a relação entre
utilidade e desutilidade do sistema tributário, bem como o efeito redistributivo dos
impostos devem ponderar um conjunto diversificado e complexo de fatores que
determinam a coesão social, as relações de confiança e o nível obtido do capital social.
Daí falar-se cada vez mais de Estado regulador, sociedade pós-industrial, da aprendizagem
ou educativa e de economia do conhecimento. O Estado deixa de ser o Estado mínimo do
século XIX e o Estado produtor do século XX para passar a ser o Estado catalisador e
regulador - capaz de ordenar a economia, de intervir supletivamente ou
subsidiariamente, de usar métodos indiretos de incentivo à eficiência e à equidade
e de desincentivo a determinados comportamentos ineficientes e iníquos e de
garantir a concorrência equilibrada e justa, bem como a justiça distributiva. O
Estado regulador e catalisador e a economia de mercado completam-se assim, devendo o
primeiro ser um incentivador de iniciativas e um fator de inovação e de desenvolvimento.
BIBLIOGRAFIA:
PAUL SAMUELSON E WILLIAM NORDHAUS Economia, MacGraw Hill, Queluz, 2005 (pp. 34-
45).
JOÃO CÉSAR DAS NEVES, Introdução à Economia, Verbo, Lisboa, Reimp. 2005 (Capítulos 4 e
6).
FERNANDO ARAÚJO, Introdução à Economia, Almedina, Coimbra, 2005 (Capítulo 16, pp. 601-
612).