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1.

A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA

A ordem económica, é a forma concreta com que se processa a produção e distribuição


de riqueza numa dada sociedade, é a boa convivência social no âmbito do
desenvolvimento das actividades económicas.

A ordem jurídica, é o conjunto das normas e princípios que regulam as relações no


contexto do Estado de Direito. A ordem jurídica da Economia é a formada pelas regras
jurídicas e pelos princípios aplicáveis à esfera económica.

A história económica conheceu dois grandes sistemas (modelo Socialista e modelo


Capitalista), sendo o elemento comum que os caracteriza é a intervenção do Estado.
A história do Direito Económico está ligada desde a sua origem, ao contexto da
intervenção do Estado na vida económica, por entender-se uma atitude positiva (actos)
do Estado, ou seja, uma determinada acção. Esta intervenção pode se verificar sob
vários prismas (tipos).

Todos os fenómenos (e relações) sociais são totais, sendo os económicos e jurídicas


apenas duas das facetas, sem dúvida muito relevantes, que os fenómenos (e relações)
sociais comportam.

O nível jurídico é, dentro da moldura formada pelo Direito que se vai desenrolar a
dinâmica económica protagonizada pela empresa.

Há uma duplicidade de visões que podem interessar: a do direito sincrónico, parado


artificialmente num certo momento histórico, capaz de traduzir, indicar ou até explicitar
a cor da época a que pertence, e a do direito diacrónico, verdadeiro desfilar, no tempo e
no espaço, de formas de viver tão diversificadas quanto a imaginação do homem e as
condições do mundo vêm permitindo.

A atitude do Estado pode revestir um amplo leque de atitudes, que vai desde a era da
tomada de decisões económicas por via administrativa, até ao espartilhamento da
actividade económica privada, através da apropriação colectiva dos principais meios de
produção, em que o Estado domina uma economia centralizada e planificada.

Entre destes dois (Estado-polícia e Estado-único ou principal agente económico), existe


uma multiplicidade de regimes económicos, cuja matriz vai ser dada pela relação de
forças estabelecida entre a autoridade estadual e a actuação dos operadores privados, ou,
por outras palavras, pela forma e medida da intervenção do Estado na vida económica.

Os chamados modelos de economia mista surgem neste percurso, caracterizados pela


coexistência da iniciativa pública e privada, concorrendo no mercado, que pode ser
amplo ou restrito (no sentido em que alguns sectores da actividade económica lhe
poderão ser retirados e reservados para o Estado).

No campo teorético-jurídico, observam-se enunciados o sistema de mercado, que tem


como postulados a propriedade privada na qualidade de direito fundamental, de onde
decorre a apropriação privada de todos os meios de produção, a livre concorrência e
auto-preservação do próprio mercado, e, nos seus antípodas, o sistema de economia
planificada, também dito de direcção central, com apropriação colectiva de todos os
meios de produção, obediência de um instrumento jurídico-económico (o Plano) e
ausência de qualquer forma de concorrência.

É esta aproximação da economia ao Estado, configurando-se como área de intervenção


por excelência, que marcou o aparecimento do Direito Económico.

A intervenção do Estado visa por um lado dar direcção ao rumo da economia,


permitindo ainda a sua planificação. Outrossim, verificando-se a existência sectores que
por excelência a sua continuidade é imprescindível, o Estado pode intervir de forma
global ou pontual, de forma imediata ou mediata, bilateral ou unilateral.

1.1.Intervencionismo, Dirigismo e Planificação

Embora todos sejam levados a cabo pelo Estado, pode se estabelecer uma
diferença entre eles, podendo ser qualitativo ou quantitativo.

1.2.Intervenção directa e a indirecta.

a) Intervenção Directa: consiste na existência de um Estado que se assume


como agente económico, o que se verificou bastante nos regimes de
economia Socialista. Aqui, o Estado surge como único ou o principal
agente económico, mas nos regimes de Mercado também existe
intervenção directa em embora menor escala, podendo encontrá-la no
caso moçambicano, através das empresas públicas, das sociedades de
capitais públicos e ainda das participações do Estado em empresas
mistas.

b) Intervenção Indirecta: esta atitude do Estado é um acto de regulação da


Economia, executada através do poder legislativo e tendo como
principais exemplos, os Planos e as Políticas Económicas. Na Economia
de mercado o Estado privilegia a intervenção indirecta como forma de
condicionar os agentes económicos que no sentido da expansão
económica que como objectivos de controlo, como por ex. deste último
caso a política fiscal.

1.3.Intervenção Unilateral e Bilateral

a) Unilateral: esta intervenção normalmente é tributária, de concepção


policial de presença de poderes públicos e manifesta-se quando certa
actividade social e económica reclama a garantia da reposição da ordem
e segurança públicas. Ela manifesta-se através da edição de normas
legais e regulamentares e também a fiscalização da sua implementação.
Nesta intervenção, pode-se proibir ou autorizar certas actividades,
através de multas (repreensão) ou licenças (autorização).

b) Bilateral: esta é notável quando se opta por formas contratuais para o


exercício da autoridade, procurando consensos com os parceiros, o que
dá azo a maior eficácia da intervenção do Estado, contribuindo para uma
paz social. Nesta intervenção há acordos anteriores entre o Estado e os
diferentes intervenientes no processo produtivo.

1.4.Intervenção Imediata e Mediata

a) Imediata: quando o Estado actua directamente na economia, assumindo


como produtor de bens e serviços, como é o caso da criação de empresas
públicas, estatais ou outras em que este age de forma igualitária em
relação ao que é prosseguido pelos agentes económicos.

b) Mediata: esta verifica-se sempre que o Estado entra em acordo com os


particulares (agentes económicos) para actuarem de certa forma num
determinado ramo económico com vista a garantir a continuidade de
certos serviços.

1.5.Intervenções Globais, Sectoriais e Pontuais

a) Globais: quando a intervenção visa acautelar situações gerais da


economia, como é caso de conter a inflação.

b) Sectorial: quando se mostra necessário a presença do Estado num


determinado sector de actividades com vista a controlar situações de
falhas de mercado, como é o caso do sector de transportes.

c) Pontual ou avulso: quando visa garantir a continuidade de certos


serviços. Pode fazê-lo de forma mediata ou imediata, como é o caso de
garantir, por exemplo, o envio de mantimentos em zonas afectadas pelas
calamidades.

1.6. O Estado Liberal e a utopia do Estado neutro

A caracterização do modelo jurídico liberal assenta em dois postulados essenciais: a


separação absoluta entre o Direito público e o Direito privado, sendo que cada um
deles tem a sua esfera ou rumo de aplicação, sendo o predomínio da autonomia da
vontade privada na esfera económica.

Na concepção liberal, o fim do Estado é a liberdade individual. De acordo com esta


concepção, o Estado é mais perfeito quando mais permite e garante a todos o
desenvolvimento individual. Isto quer dizer que não tem fim próprio, mais o seu fim
coincide com o desenvolvimento dos indivíduos.

1.7. O Estado contemporâneo: a supressão do modelo liberal e incidência do


princípio da sociabilidade

Neste modelo, o papel do Estado alargou-se a todas as esferas da actividade, com


destaque para a economia, e a sua actividade assumiu finalidades próprias, distintas das
dos indivíduos. A actividade económica deixa de ser mais um sector indiferente da
actividade privada geral, passando a ser objecto específico conformador dos poderes
públicos, de tal forma que a ciência económica deixa de ter por objecto o simples estudo
do contemporâneo económico do indivíduo e passa a abranger também o Estado.
O Estado passa a ser um agente de realizações que se reportam principalmente ao
domínio da economia, na qualidade de responsável pela condução e operactividade das
forças económicas, enquanto verdadeira alavanca da sociedade actual.

Na actualidade o Estado assume com frequência, formas de actividade organizada em


ordem à produção e distribuição de bens e serviços para o mercado e submetidas muitas
vezes à concorrência de empresas privadas.

1.8. Fundamentos da intervenção do Estado

O Estado começa a intervir na economia com a concepção do Estado de Direito, através


da consagração constitucional da matéria económica.

A necessidade de regular o mercado foi os elementos essenciais que ditaram com que o
Estado interviesse na economia com vista a corrigir, controlar e conformar o
funcionamento espontâneo da decisão económica e descentralizada.

A intervenção do Estado na economia, veio remover os obstáculos institucionais ao


livre desenrolar do mercado e criar condições para que ela se exerça sem peias e
entraves, por justamente a considerar a mais adequada à actividade económica e por
reputar negativamente aos desvios do funcionamento do mercado.

A intervenção dos poderes públicos é ditada por considerandos de justiça distributiva ou


mesmo social numa tentativa de controlo e conformação dos resultados do mercado. O
mercado deve ser corrigido pelas instituições políticas, sendo a norma jurídica o
instrumento dessa tarefa. Esta tarefa pode não ser de mera correcção, mas de controlo
do mercado pelo Estado.

1.9. Valores da intervenção do Estado

A dimensão dos valores prosseguidos pelo Estado na sua tarefa conformadora da vida
social e económica deve exprimir, a querer ser legítima, as preferências colectivas
manifestadas pelo texto constitucional e na legislação ordinária. Tais preferências
exprimem a primazia a colectividade dá certos valores em detrimento de outros, para o
segundo plano ou mesmo ignorados.
Efectivamente a intervenção do Estado na economia encontra como valores a protecção
e preservação de escolhas colectivas em detrimento das individuais. Os fenómenos
ideológico-políticos e as políticas económicas devem visar a preservação das massas.

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