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Departamento de Direito
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
Cursos de Direito
Capítulo IV
Os preços e a sua formação
CAPÍTULO IV
Considerando que a procura diminui quando o preço aumenta e que a oferta aumenta quando o
preço aumenta, a determinação do preço e da quantidade ocorre como se estivéssemos num
leilão imaginário. Recordem-se os exemplos da lota do peixe, na qual o pregoeiro proclama a
escala dos preços, no sentido decrescente, ou do leilão de antiguidades ou de livros, em que a
ordem de licitações é crescente. Por aproximações sucessivas, representadas nos lances dos
intervenientes, chega-se a um ponto de equilíbrio, em que vendedores e consumidores estão de
acordo sobre preço a pagar e sobre a quantidade dos bens ou dos serviços que desejam comprar
e vender, respetivamente. Quer o comprador quer o vendedor têm de ceder alguma coisa
relativamente à situação ideal – já que quem vende deseja obter o maior preço e quem compra
deseja que a transação seja a mais barata possível.
Jean-Baptiste Say (1767-1832), na linha do pensamento clássico de Adam Smith, baseando toda a
sua análise na lógica da liberdade de comércio, entendia que os produtos gerariam os seus
próprios mercados, ou seja, "os produtos trocam-se por outros produtos, sendo a moeda um
simples intermediário das trocas". O conhecimento da complexidade dos fenómenos económicos
leva-nos hoje a entender diversamente, já que a moeda desempenha um papel mais importante do
que pode parecer à primeira vista.
(a) do custo de produção, ou seja, do preço e da quantidade dos outros bens e do trabalho
necessários à sua produção - o que nos conduz aos fatores de produção, já analisados;
(b) da intensidade das necessidades em causa, que explicam a função procura; e
(c) da forma do mercado - uma vez que não é indiferente estarmos em situação de concorrência
perfeita, em oligopólio ou em monopólio. As variações do preço obedecem à intensidade dos
fenómenos que as determinam - o encontro da procura e da oferta, os custos de produção e o
facto de haver ou não concorrência perfeita.
Comecemos por referir, sucintamente, a elasticidade procura/preço, que nos permite entender
como evoluem os comportamentos dos sujeitos económicos no mercado, tendo em consideração
as repercussões mútuas na evolução da procura e dos preços. A elasticidade representa uma
proporcionalidade, na medida em que relaciona a quantidade procurada ou oferecida com o
preço do bem. Pode acontecer que, face a um aumento do preço de um bem, a procura aumente
menos que proporcionalmente, diminua ou até mesmo se mantenha constante. Assim, a
elasticidade da procura de um bem relativamente ao seu preço calcula-se como a relação entre
a variação em percentagem da quantidade procurada e a variação em percentagem de
um preço. Assim:
E = Δ%q / Δ%p.
(a) Situação perfeitamente inelástica. A variação do preço não provoca qualquer mudança na
quantidade procurada. Assim: E=0 (Δq=0). Exemplos: sal, droga para os toxicodependentes.
A noção de elasticidade pode ser vista numa situação em que a procura de um bem depende não
apenas do seu próprio preço, mas também dos preços dos outros bens. Nesse caso, com base nas
escolhas do consumidor, compara-se as variações de preços de diversos bens. Chama-se
elasticidade cruzada à relação entre a variação da quantidade de um produto e a variação do
preço de outros produtos. Se os bens são substitutos ou sucedâneos entre si, a elasticidade
cruzada é positiva. A subida de preços do vinho tende, por exemplo, a fazer aumentar a procura
da cerveja. Note-se que no caso de bens substitutos perfeitos a diminuição do preço de um bem
leva ao desaparecimento da procura de outro (elasticidade infinita) – como por exemplo no caso
histórico da batata em relação à castanha. A batata importada da América ocupou o mercado da
castanha europeia. Diferentemente, se os bens são complementares, a quantidade procurada de
um bem diminui se o preço de outro aumenta - a subida de preços das máquinas fotográficas e de
filmar repercute-se no mercado dos filmes, conduzindo a uma situação de elasticidade negativa
(elasticidade menor que zero). Já no caso de bens independentes, a quantidade procurada de
um bem não varia em função das variações de preço de outros.
O confronto da oferta e da procura num mercado permite a fixação do preço e do volume das
transações. A procura diminui quando o preço aumenta, a oferta aumenta quando o preço
aumenta. Tudo se passa como se estivéssemos num leilão imaginário (como acontece nas obras
de arte) em que o vendedor ou leiloeiro fixa uma base de licitação e o comprador vai fazendo
lances até obter o bem que pretende adquirir – como acontece nos leilões de obras de arte ou de
antiguidades. Já na “lota do peixe” o comprador apenas pode fazer um lance, uma vez que o
pregoeiro começa por um valor alto e segue uma escala descendente (10, 9, 8, 7, 6…).
Diferentemente se passa em mercados rudimentares ou feiras, nos quais funciona o regateio, no
qual o vendedor propõe um valor que o comprador não aceita, formando-se o preço quando o
vendedor finalmente dá acordo a um quantitativo muito mais baixo do que o inicial, que o
comprador se dispõe a pagar. A determinação do preço e da quantidade obedece à chamada “lei”
da oferta e da procura e permite-nos encontrar graficamente o preço de equilíbrio. As curvas da
procura e da oferta são construídas com base nas diferentes situações em que os compradores e
os vendedores estão dispostos a adquirir ou a alienar os bens e serviços do mercado em causa.
Existe um preço e uma quantidade transacionada de equilíbrio que correspondem ao ponto
onde a oferta e a procura se encontram. Este preço e esta quantidade são fundamentais na
medida em que para tais valores tendem a representar as atitudes dos intervenientes no mercado.
Assim, se um preço superior ao preço de equilíbrio for imposto ao mercado, isso significa que a
oferta é superior à procura e logo os vendedores tenderão a baixar o seu preço - até, exatamente,
ao ponto de equilíbrio. Compreende-se como o mercado se assemelha a uma balança de braços
(libra), a qual, estando afinada, tende para o equilíbrio, ainda que esteja sempre numa situação de
relativa instabilidade.
Alfred Marshall (1842-1924), autor dos Princípios de Economia Política (1890), representou
graficamente através de duas curvas - que designamos como cruz marshalliana, em homenagem
ao professor de Cambridge - as funções da procura decrescente (a procura diminui quando os
preços aumentam) e da oferta crescente (a oferta aumenta quando os preços aumentam). As
duas curvas encontram-se num ponto de equilíbrio parcial. Enquanto para Léon Walras (1834-
1910), defensor de uma ideia de equilíbrio geral, as quantidades trocadas são função dos preços,
para Alfred Marshall os preços são função das quantidades.
O tempo (o curto e o médio prazos, os ciclos económicos) é fundamental na análise de Marshall,
que assim abandonou a conceção de equilíbrio geral, para procurar basear-se num equilíbrio
momentâneo e parcial, inteiramente relacionado com o período em causa. A cruz marshalliana
representa a lei da oferta e da procura, traduzindo o encontro das respetivas curvas, devendo
ser lida numa perspetiva interpretativa dinâmica, que influenciou decisivamente a moderna
Ciência Económica.
O equilíbrio do consumidor corresponde ao cabaz de bens preferido por este entre todos os que
lhe são acessíveis no limite do seu orçamento. Temos, pois, de conhecer a fronteira das
escolhas. Esta fronteira representa a limitação orçamental. A reta de restrição orçamental
define o limite para as escolhas acessíveis e inacessíveis. Suponhamos um rendimento de 600
Euros, que permite a aquisição de 30 litros de vinho (a 10 Euros o litro) e de 20 litros de cerveja
(a 15 Euros o litro) ou de 60 litros de vinho e 0 litros de cerveja ou ainda 40 litros de cerveja e 0
litros de vinho. Deste modo, não será possível comprar 30 litros de vinho mais 30 litros de
cerveja, uma vez que então estaríamos fora da fronteira de escolhas acessíveis. Na figura seguinte
temos a comparação entre o número de cassetes musicais compradas e o número de discos
compactos (CD) adquiridos pelo sujeito económico Alfredo. Pode comprar 20 cassetes e O CDs
e no extremo oposto 10 CDs e 0 cassetes. Pode comprar 8 cassetes e 4 CDs, ficando aquém da
fronteira, mas já não pode adquirir 12 cassetes e 8 CDs, situação em que ultrapassa a recta de
restrição orçamental.
Além do que ficou dito sobre o preço de equilíbrio, formado em resultado do leilão imaginário
que em cada mercado tem lugar, e considerando ainda o que acabámos de analisar quanto aos
efeitos de rendimento e de substituição, importa referir que a formação de preços não é
indiferente às escolhas alternativas que em cada momento podem ser realizadas. Devemos, por
isso, recordar a importância das preferências entre pares de bens ou serviços - enquanto relação
entre os bens sacrificados e os bens obtidos, correspondentes a um nível constante de satisfação
de necessidades.
As curvas de indiferença são a expressão gráfica das combinações de bens que proporcionam
satisfações iguais de necessidades. As curvas de indiferença correspondem a níveis idênticos de
rendimento e de bem-estar e não se cruzam. À medida que os rendimentos aumentam
desenvolvem-se paralelamente à direita da curva donde partimos. Se os rendimentos diminuem,
desenvolvem-se paralelamente à esquerda. São curvas convexas porque comparam produtos com
custos de produção diferenciados.
BIBLIOGRAFIA: