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Departamento de Direito
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
Cursos de Direito, de Solicitadoria e de Relações Internacionais
(1.º Ano - 1.º Semestre)
Ano 2017-2018.
Sumários desenvolvidos
Capítulo VI
Procura nos mercados concorrenciais
Por definição, a curva de indiferença mais elevada será aquela que é tangente à fronteira
de escolhas, também designada como reta da restrição orçamental, isto é, a que num
determinado ponto coincide com o valor mais elevado que é consentido pela limitação
orçamental. Nesse ponto, a curva de indiferença coincide com a inclinação da reta de
fronteira de escolhas, coincidindo os valores que ambas exprimem. E uma vez que estamos
a comparar dois tipos de bens (bens alimentares e bebidas, livros e discos) temos que a
taxa marginal de substituição coincide com o seu preço relativo.
Importa aqui relembrar o que se disse sobre os conceitos de efeito de rendimento e efeito
de substituição. Aqui os reencontramos. Se o rendimento aumenta as curvas de indiferença
deslocam-se para a direita. Perante bens sucedâneos e perante escolhas alternativas o preço
e a quantidade são decisivamente influenciados pelo efeito da substituição.
A utilidade, tal como tem sido analisada pela Ciência Económica, corresponde à
suscetibilidade de um bem ou serviço satisfazer necessidades humanas. Quando um
comprador se dispõe a trocar um bem por outro fá-lo tendo em consideração as
necessidades que este visa satisfazer. A utilidade esperada de um bem ou serviço vai pesar
decisivamente na concretização da troca e na atribuição de um valor ao bem ou serviço que
se pretende adquirir. O consumidor e o produtor partem, porém, de considerações
diferentes. Enquanto o produtor visa ressarcir o custo de produção e obter um lucro, o
consumidor visa obter nas melhores condições de quantidade e preço o bem ou serviço
que procura. De um lado, o produtor deseja poder vender mais, a um preço mais elevado,
do outro, o comprador anseia por poder comprar mais quantidade a um preço mais baixo.
Por força do mercado, ambos resignam-se à situação de equilíbrio.
Em 1730, já Johann Bernoulli (1667-1748) tinha notado que o apreço dado por um sujeito
económico a uma unidade de moeda era inversamente proporcional ao número das
unidades de que dispunha. Só em meados do século XIX, porém, é que o conceito de
utilidade marginal surgiu como fundamento de valor económico e como critério de
apreciação da atividade económica em geral.
Hermann Heinrich Gossen (1810-1858) escreveu a obra “Exposição das leis nas relações
humanas e das regras que delas derivam para as ações do Homem”, que não foi bem
recebida na sua época, na qual afirmava que seria preciso desfrutar da vida de tal modo que
a soma das satisfações obtidas no decurso da existência atingisse o máximo. Esse seu credo
utilitarista assenta na ideia de que desse modo se cumpriria a vontade do Criador. Para H.
Gossen:
(a) A intensidade de uma dada satisfação, à medida que se prolonga no tempo, vai
diminuindo até à saciedade;
(b) O sujeito económico pode escolher entre várias satisfações, mas não tem a
possibilidade de as alcançar todas de uma maneira completa; por isso, ainda que possa
haver grandes diferenças absolutas, para alcançar o máximo possível de satisfação, tem
de as desfrutar a todas parcialmente e de tal maneira que a intensidade de cada uma
seja, no momento em que cessa, igual às demais.
Por outro lado, quando a satisfação se renova, verifica-se a repetição da tendência para a
diminuição de intensidade até à satisfação - mas no primeiro momento da segunda
satisfação a intensidade é menor do que em correspondente momento da primeira, pelo
que a saciedade se atinge mais rapidamente; estas diferenças são tanto maiores quanto mais
frequente se torna a satisfação.
Para Gossen, o sujeito económico só pode, assim, aumentar a sua satisfação total na
medida em que o prazer provocado pelas coisas produzidas for maior do que o sacrifício
imposto pelo esforço de trabalho necessário a essa criação. E foi assim que H. Gossen
formulou, pela primeira vez, o conceito de desutilidade - o sacrifício feito para além da
satisfação de uma necessidade.
Stanley Jevons (1835-1882), Carl Menger (1840-1923) e Léon Walras (1834-1910), autores
da chamada escola marginalista, vieram a desenvolver com critérios científicos a teoria
lançada por Gossen. Jevons defendeu que o valor de um bem dependeria da utilidade
combinada com a raridade. O valor das coisas dependeria, assim, do grau final de
satisfação que permitiriam obter. Uma vez que as diversas unidades de uma coisa não
podem deixar de ter todas o mesmo valor, é esse grau final que o determina.
Partindo das leis de Gossen, Carl Menger demonstrou como a apreciação individual das
coisas ou valor de uso (por contraponto ao valor de troca) dependeria da raridade e não
da utilidade stricto sensu. Nessa perspetiva, a utilidade final determina o valor dado a todas
as outras unidades do mesmo bem, uma vez que será sacrificada se o sujeito económico se
vir privado de qualquer delas.
Carl Menger apresentava, assim, um quadro modelo das utilidades decrescentes, que a
seguir apresentamos. Cada número romano representa uma necessidade a satisfazer e os
algarismos árabes exprimem a intensidade da satisfação ou o grau de utilidade que o
sujeito económico vai atribuindo a cada unidade do bem em causa.
O diamante vale mais do que um bem alimentar para os que têm possibilidade de satisfazer
amplamente todas as suas necessidades, mas já não para os que não têm as suas
necessidades básicas satisfeitas. Correspondendo a linha V às necessidades satisfeitas pelos
diamantes, verifica-se que estes só entrariam em concorrência com os bens alimentares, da
linha I, a partir do valor 5, mas não antes.
O paradoxo do valor esclarece a distinção entre valor de uso e o valor de troca. Com o
princípio da utilidade marginal é possível explicar a formação do valor de troca em direta
correspondência com o conceito económico de utilidade. O valor de troca representa as
proporções nas diversas quantidades de bens quando se realizam permutas para que se
proceda ao nivelamento das utilidades dos diferentes bens afetos à satisfação das diversas
necessidades.
I II III IV V VI VII VIII IX X
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
8 7 6 5 4 3 2 1 0
7 6 5 4 3 2 1 0
6 5 4 3 2 1 0
5 4 3 2 1 0
4 3 2 1 0
3 2 1 0
2 1 0
1 0
0
Partindo da utilidade marginal - base do valor como apreciação subjetiva dos bens – F.
von Wieser chegou aos conceitos de utilidade total e de valor total. Utilidade total será a
soma das utilidades potenciais de cada unidade, ou seja, daquelas que a cada uma caberiam
se fossem as últimas. E o valor total é o resultado da multiplicação da utilidade marginal
pelo número de utilidades disponíveis de um bem. Assim, enquanto a utilidade marginal
decresce à medida que aumenta o número de unidades disponíveis, a utilidade total
aumenta à medida que aumenta o número de unidades disponíveis, mas em proporção
decrescente. Já o valor total aumenta com o número de unidades até ao ponto em que o
decréscimo da utilidade marginal compense, no produto, aquele aumento - mas o valor
reduz, até poder chegar a zero, quando os bens se tornem livres, por deixarem de ser raros.
O conceito de utilidade total é relevante para se saber qual a diferença entre a utilidade
efetivamente recebida e a utilidade subjetiva dos bens - enquanto o conceito de valor total
permite explicar como a troca pode ser vantajosa para todos os intervenientes no mercado
e como se estabelecem os valores relativos dos diversos bens dos mercados.
Quanto ao valor de mercado, F. von Wieser distinguia valor efetivo e valor natural. O
valor efetivo é aquele que se estabelece de facto, correspondendo ao nivelamento das
satisfações marginais no grau que cada sujeito pode obter, com o poder de compra que
tem. O valor natural é o que viria a estabelecer-se se o poder de compra se encontrasse
igualmente distribuído, assegurando um nivelamento geral das utilidades marginais.
Se nos reportarmos ao conceito de despesa, que se refere aos recursos económicos pagos
pelos sujeitos em resultado do desenvolvimento da vida económica, temos a distinguir duas
componentes fundamentais, o consumo e o investimento. A despesa refere-se, assim, a
essas duas realidades – ou realizamos atividades que correspondem ao consumo (e aqui há
um elemento comum ao rendimento – Despesa igual a Consumo mais Investimento;
Rendimento igual a Consumo mais Poupança) ou reservamos uma parte da despesa para o
investimento, procurando criar nova riqueza. Como veremos mais adiante, esse
investimento tem um carácter reprodutivo, articulando os diferentes fatores de produção e
criando nova riqueza. Verifica-se, deste modo, que uma relação tendencial de
correspondência entre os conceitos de Despesa e de Rendimento e entre a Poupança e o
Investimento. No entanto, como veremos noutro passo, essa identidade é tendencial,
registando normalmente desajustamentos, que permitem compreender que a vida
económica oscila permanentemente entre o equilíbrio e o desequilíbrio. De facto, o
equilíbrio, ao contrário do que pensava a escola clássica, não é uma constante, mas uma
situação transitória – tal como acontece numa balança de pratos, em que há uma
instabilidade permanente, que não põe em causa uma tendência estrutural. Os agregados
macroeconómicos são, assim, alvo de políticas de estabilização, que visam corrigir os
fatores que ponham em causa a referida tendência estrutural para o equilíbrio.
BIBLIOGRAFIA:
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PAUL SAMUELSON, WILLIAM NORDHAUS Economia, MacGraw Hill, Queluz, 2005 (pp. 84-
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FERNANDO ARAÚJO, Introdução à Economia, Almedina, Coimbra, 2005 (Cap. 6).
ALEXIS DE JACQUEMIN, H. TULKENS, P. MERCIER, Fondements d'Économie Politique, De
Boek, 2001 (Cap. 3, 7, 8).