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A Teoria do Consumidor

A Teoria do Consumidor é um dos pilares fundamentais da economia e


desempenha um papel crucial na compreensão do comportamento humano em relação
ao consumo de bens e serviços. Ela oferece uma estrutura analítica para entender como
os consumidores tomam decisões de compra, levando em consideração suas restrições
orçamentárias e suas preferências individuais. Ao longo desse texto, explorarei em
detalhes os principais conceitos e princípios por trás da Teoria do Consumidor.
O ponto de partida da Teoria do Consumidor é o conceito de utilidade. A
utilidade é uma medida subjetiva de satisfação ou felicidade que um consumidor obtém
ao consumir um determinado bem ou serviço. Cada pessoa tem suas próprias
preferências e níveis de utilidade associados a diferentes produtos. Por exemplo, um
amante de chocolate pode obter uma alta utilidade ao consumir uma barra de chocolate,
enquanto alguém que não gosta de doces pode ter uma utilidade muito menor com a
mesma barra de chocolate.
Ademais, um conceito adicional, é o conceito da utilidade marginal que
representa a mudança na utilidade resultante do consumo adicional de uma unidade de
um bem ou serviço. A lei da utilidade marginal decrescente afirma que, à medida que
um consumidor consome mais unidades de um bem, a utilidade marginal diminui, o que
significa que cada unidade adicional traz menos satisfação.
As preferências do consumidor são representadas por relações binárias: onde
“>” indica estritamente preferível e “~” representa indiferente. A relação de preferências
considerando as 2 cestas (ou vetores) de consumo x e y é dada por: x y, significando
que o consumidor considera que x é ao menos tão boa quanto y. Na literatura de
microeconomia também pode-se interpretar x y como: x é fracamente preferida a y, ou
seja, relação de preferência fraca.
A partir dessa relação, deriva-se outras duas importantes relações:
1) Relação de preferência estrita (>) definida por: x > y (x é estritamente
preferível a y)
⸫ x > y ↔x y, mas não pode ocorrer y x (ou y x)
Onde: ↔ significa “se e somente se”. E a interpretação é que se o consumidor
sempre escolhe x quando y também está disponível, logo o consumidor prefere
estritamente x a y.
2) Relação de indiferença (~), definida por: x ~ y (x é indiferente a y)
⸫ x ~ y ↔x y ou y x
Interpretação: Mostrar-se indiferente significa que, dada suas preferências, o
consumidor está satisfeito com a cesta x como com a y.
O entendimento do exposto acima é possível somente quando partindo das
suposições de que o consumidor tem preferências e que escolhe sempre a melhor cesta
de bens que pode adquirir. Caso um consumidor não escolha a melhor cesta,
obviamente ele não é maximizador. Talvez seus gostos tenham mudado ou qualquer
outra característica de seu ambiente econômico. De qualquer forma, uma violação deste
tipo não é coerente com o modelo da escolha do consumidor num ambiente inalterado.
A teoria da escolha do consumidor implica que essas observações
não ocorrerão. Os economistas formularam esse ponto num axioma básico da teoria do
consumidor, conhecido por Axioma Fraco da Preferência Revelada e postula que se x
for diretamente revelada como preferida a y e se as duas cestas não forem idênticas,
então, não pode acontecer que y seja diretamente revelada como preferida a x.
Conforme visto, o Axioma Fraco da Preferência Revelada fornece uma condição
observável que precisa ser satisfeita por todos os consumidores otimizadores. Ele requer
que se a cesta x for diretamente revelada preferida a cesta y, não devemos nunca
observar y como diretamente revelada como preferida a x. O Axioma Forte da
Preferência Revelada exige que o mesmo tipo de condição seja válido para a preferência
indiretamente revelada. De maneira mais formal, tem-se que se x for revelada como
preferida a y, direta ou indiretamente, e y for diferente de x, então, y não poderá ser
direta, nem indiretamente revelada como preferida a x.
As preferências do consumidor são representadas por meio de curvas de
indiferença. Uma curva de indiferença mostra todas as combinações de dois bens que
proporcionam o mesmo nível de utilidade para o consumidor. Isso significa que, ao
longo de uma curva de indiferença, o consumidor é indiferente entre as diferentes
combinações de bens, pois todas elas resultam em níveis iguais de satisfação. Ao longo
de uma curva de indiferença a taxa a que os bens são substituídos chama-se taxa
marginal de substituição, denotada por:

Vê-se, portanto, que a taxa marginal de substituição é igual à relação entre as


utilidades marginais de X1 e de X2.
Além das preferências do consumidor, a Teoria do Consumidor considera a
restrição orçamentária como um fator determinante nas escolhas de consumo. A
restrição orçamentária reflete a quantidade de recursos financeiros disponíveis para o
consumidor, considerando os preços dos bens e serviços.
A restrição orçamentária pode ser demonstrada pela seguinte fórmula:
q1.p1 + q2.p2 + ... + qn.pn ≤ R
Em palavras, o total gasto com o bem 1 (quantidade vezes o preço), somado ao
total gasto com o bem 2, deve ser igual ou inferior à renda. Ela é representada por uma
linha de restrição orçamentária, que mostra todas as combinações possíveis de dois bens
que o consumidor pode comprar com seu orçamento limitado.

Dessa forma, o objetivo do consumidor é maximizar sua utilidade sujeita à


restrição orçamentária, ou seja:
n
Maximizar U= U (X1, X2, ..., Xn) com a condição ∑ X i Pi =R
i=1

Onde Xi é a quantidade do produto i, Pi é o seu preço, fixado exogenamente no


mercado, e R é a renda do consumidor, também exogenamente determinada.
Isso significa que o consumidor tentará escolher a combinação de bens que o
deixará tão satisfeito quanto possível, dado o seu orçamento limitado. O ponto de
equilíbrio do consumidor ocorre quando a curva de indiferença mais alta tangencia a
linha de restrição orçamentária. Nesse ponto, o consumidor aloca seu orçamento de
forma eficiente entre os dois bens, de modo que não pode aumentar sua utilidade
trocando mais de um bem pelo outro.
Exemplo: observe o gráfico abaixo, no qual combino as curvas de indiferença
com a restrição orçamentária, e analiso qual cesta o consumidor escolheria. A, B, C ou
D?
 A é uma cesta que não esgota sua renda. Sinal de que você poderia estar
em melhor situação adquirindo mais bens. Não é, portanto, uma escolha ótima para
você, como consumidor;
 B esgota sua renda, pois está exatamente sobre a restrição orçamentária.
Contudo, não está na curva de indiferença mais alta possível e, portanto, não traz
a maior utilidade possível;
 C também utiliza todos os seus recursos, e está em uma curva de
indiferença mais alta que A e B, sendo por isso uma escolha melhor que ambas.
 D está em uma curva ainda mais alta, denotando maior utilidade que
todas as demais cestas, inclusive C. Mas tem um problema: ela está além de suas
possibilidades, ou seja, acima da sua restrição orçamentária. Não é uma escolha
possível.
Portanto, ficamos com “C”. Justamente a curva de indiferença que tangencia a
reta orçamentária. Neste ponto, temos a seguinte propriedade:

Dessa forma, no ponto de escolha do consumidor, a razão entre utilidades


marginais é igual à razão entre os preços e, portanto, também igual à TMS.
A partir das escolhas dos consumidores, podemos derivar a curva de demanda
individual para um bem específico, mostrando quanto um consumidor está disposto a
comprar desse bem a diferentes preços. A teoria do consumidor também permite a
agregação das preferências individuais para determinar a demanda de mercado por bens
e serviços. A demanda de mercado é obtida somando as quantidades demandadas por
todos os consumidores em cada nível de preço.
Contudo, as mudanças nos preços dos bens e serviços afetam o comportamento
do consumidor de duas maneiras principais: o efeito de substituição e o efeito de renda.
O efeito de substituição ocorre quando o consumidor substitui um bem por outro devido
a mudanças nos preços relativos. Por exemplo, se o preço de um bem A aumentar, o
consumidor pode optar por comprar mais do bem B, se este se tornar relativamente mais
barato. Por outro lado, o efeito de renda reflete como uma mudança nos preços afeta o
poder de compra do consumidor. Se o preço de um bem aumenta e o consumidor
mantém o mesmo nível de utilidade, isso significa que ele agora tem menos poder de
compra para outros bens, demonstrando um efeito de renda negativo.
Assim, a Teoria do Consumidor é essencial para entender como os consumidores
fazem escolhas em um mundo de recursos limitados e uma variedade infinita de bens e
serviços. Ela nos ajuda a compreender as preferências individuais, as restrições
financeiras e os efeitos das mudanças nos preços sobre o comportamento do
consumidor. Ao aplicar esses conceitos, economistas e empresas podem tomar decisões
mais informadas sobre como produzir e vender produtos, além de prever como os
consumidores responderão a mudanças nas condições econômicas. Portanto, a Teoria do
Consumidor desempenha um papel central na economia moderna, ajudando-nos a
entender melhor o mundo do consumo.
Embora a teoria do consumidor seja uma ferramenta poderosa para analisar o
comportamento do consumidor, ela tem algumas limitações. Ela assume que os
consumidores têm preferências consistentes e que são racionais em suas escolhas, o que
nem sempre é o caso na prática. Além disso, não leva em consideração fatores
psicológicos e emocionais que também influenciam as decisões de consumo.

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