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ALUNO(A): Camila Cristina da Silva MATRÍCULA: 190134305 DATA: 22/05/2023

PRIMEIRO QUESTIONÁRIO - DIREITO FINANCEIRO - MOURA BORGES

1ª. Explique como se processa a atividade financeira do Estado.

A atividade financeira do Estado é desenvolvida primordialmente por meio de 3 (três)


principais campos - a receita, a gestão e a despesa - sendo, portanto, processada com a
finalidade de satisfazer efetivamente 3 (três) necessidades coletivas públicas: (i) a
prestação de serviços públicos; (ii) o exercício regular do poder de polícia; e (iii) a
intervenção estatal na economia.

2ª. Quais são as principais teorias destinadas a explicar a atividade financeira do


Estado?

De forma objetiva, evidenciam-se as seguintes concepções teóricas: a) a teoria do


consumo pondera que o Estado não engendra quaisquer exuberâncias para providenciar
os serviços públicos, mas sim os consome; b) a teoria da troca sustenta que há uma
permuta entre o Estado e os cidadãos: estes transferem uma parcela do seu patrimônio ao
Estado, que, por sua vez, provê serviços benéficos à coletividade; c) a teoria da produção
defende que o Estado possui a capacidade de metamorfosear as riquezas materiais
(advindas dos contribuintes) em riquezas imateriais úteis para a população; d) a teoria do
sistema de preços argumenta que a atividade financeira estatal se configura como um
sistema de precificação no qual o Estado demanda um valor para executar as suas
atividades; e) a teoria cooperativista justifica que o Estado representa uma espécie de
"cooperativa" incumbida de oferecer serviços públicos com base em um preço de custo; e f)
a teoria da luta de classes deriva da teoria política socialista (marxista) e concebe a
atividade financeira como uma batalha entre a burguesia e o proletariado, sendo que a
classe burguesa emerge como a mais favorecida.

3ª. Como se manifesta o elemento jurídico na atividade financeira do Estado?

O elemento jurídico manifesta-se, mormente, por meio do princípio da legalidade, ou seja,


obriga-se o gestor público a realizar a atividade financeira do Estado unicamente por meio
da via legal. Nesse contexto, a regra geral é de que os gastos públicos somente serão
possíveis diante da prévia autorização legislativa pela própria lei orçamentária, crédito
adicional, realização de operações de crédito, conforme o art. 167 da Constituição Federal
(CF) Ademais, as fontes essenciais para a atividade financeira do Estado são as
legislações, como a própria CF, leis complementares, leis ordinárias, medidas provisórias e
demais normas secundárias.

4ª. Quais são os campos em que se desdobra a atividade financeira do Estado?

A atividade financeira estatal permeia uma miríade de esferas na tessitura da vida social,
uma vez que seu propósito primordial reside em aplacar as necessidades públicas dos
indivíduos. Nesse âmbito, a atividade financeira desdobra-se em diversas esferas, tais
como o campo econômico, político, jurídico e sociológico, entre outros. O campo
econômico, de modo essencial, encontra-se intrinsecamente vinculado à administração dos
recursos financeiros escassos pelo Estado. Por sua vez, o campo político manifesta-se
através de debates acerca das melhores formas de alocar os recursos financeiros, visando
concretizar políticas públicas voltadas para saneamento, educação básica, transporte,
segurança pública e demais áreas de interesse coletivo. Por fim, os campos jurídico e
sociológico referem-se, respectivamente, ao modo como as leis que regem a atividade
financeira estatal podem satisfazer as necessidades públicas da sociedade em sua
totalidade.

5ª. Defina e explique a importância do fenômeno da “extrafiscalidade”.

O fenômeno da extrafiscalidade pode ser entendido como uma nova atribuição de função
ao tributo, isto é, para além de ser um meio essencial de obtenção de receita estatal, passa
a ser um instrumento tanto para incentivar quanto para desestimular determinados
comportamentos, sendo, portanto, fundamental na sociedade contemporânea para evitar
ações como sonegação fiscal e outros tipos de fraude.

6ª. Estabeleça a distinção entre ciência das finanças e direito financeiro.

Ambos possuem o mesmo objeto material: a atividade financeira do Estado, distinguindo-se,


essencialmente, no modo de observação de tal objeto. O Direito Financeiro analisa sob
um prisma normativo, focando a sua análise nos aspectos jurídicos, isto é, a incidência e
aplicação das normas, sendo, portanto, um estudo do ordenamento jurídico das finanças do
Estado. Já a Ciência das Finanças analisa sob uma perspectiva especulativa, associada
aos dados financeiros, busca investigar o impacto das ações governamentais no
crescimento econômico, focando em aspectos políticos, econômicos e sociológicos,
subsidiando o agente político em sua tomada de decisões.

7ª. Defina receita pública e destaque as suas principais fases evolutivas.

O conceito de Receita Pública, em um sentido amplo, pode ser compreendida como a


entrada ou ingresso de recursos financeiros nos cofres públicos, a fim de atender o
interesse público .De forma concisa, ressaltam-se as seguintes etapas da receita pública:
(a) fase parasitária: predominantemente verificada na antiguidade, em que as receitas
advinham dos despojos de guerra; (b) fase dominial: ocorrida durante a era medieval, em
que as receitas decorrem da exploração dos territórios sob domínio da monarquia ou
império; (c) fase regalista: as receitas provinham da cobrança de privilégios ou benefícios
concedidos a determinadas classes sociais, denominados direitos regalistas; (d) fase
tributária: as receitas surgem por meio da imposição de tributos pelo Estado; e (e) fase
social: caracterizada pela presença da extrafiscalidade, na qual o Estado utiliza a tributação
dos agentes de mercado para incentivar ou desincentivar determinados comportamentos,
obtendo receitas. Por fim, vale ressaltar que as etapas tributária e social estão presentes na
atual atividade financeira estatal.

8ª. Estabeleça a distinção entre receitas originárias e receitas derivadas.


As receitas originárias são as que têm origem no próprio patrimônio do Estado, o qual
atua como produtor de bens e serviços (práticas típicas do setor privado), sendo, assim,
uma exploração da atividade econômica por si. Independem de autorização legal e podem
ocorrer a qualquer momento, sendo bons exemplos a exploração (i)mobiliária e o capital de
empresas estatais. Sua principal característica é a natureza bilateral, isto é, parte da livre
vontade entre as partes (Estado e particulares). Já a receita derivada tem como
ponto-chave o oposto: uma natureza unilateral, que depende do “jus imperii” do Estado,
obtida por meio de atividade coercitiva. Depende, então, de autorização por lei, sendo os
principais exemplos a instituição de tributos.

9ª. Que são as receitas correntes e as receitas de capital?

As receitas correntes têm como elemento essencial a incorporação permanente ao


patrimônio do Estado, pois esgotam-se no decurso da execução orçamentária (dentro do
período anual), com o intuito de manutenção das atividades governamentais, como as
receitas tributárias e de serviços estatais. Já as receitas de capital não alteram o
patrimônio líquido do Estado, isto é, não tornam o governo “mais rico” e geram efeitos fora
do período anual orçamentário, sendo os principais exemplos as operações de crédito e a
alienação de bens.

10ª. Como ocorre a exploração pelo Estado dos bens pertencentes ao seu patrimônio

Há múltiplas vertentes de intervenção estatal no domínio da exploração econômica, tais


como: (a) a preservação e a fruição de matas estatais e áreas protegidas; (b) a estatização
de minas de recursos minerais, as quais pertencem ao Estado brasileiro
independentemente de onde estão localizadas; (c) as terras de culturas, por meio das
parcerias agrícolas e aforamentos; (d) os direitos de caça e pesca, através da concessão de
autorizações legais para execução dessas atividades; (e) as quedas de água, que seguem
uma lógica similar a das minas, haja vista o potencial energético dessas regiões naturais,
sendo possível a autorização de exploração privada; e (f) os monopólios, como na produção
de petróleo, prevista na CF.

11ª. Que são tributos e quais são as suas espécies?

Conforme o art. 3° do Código Tributário Nacional (CTN), tributos são todas prestações
pecuniárias, em moeda ou valor equivalente, que não sejam sanções de ato ilícito,
instituídas por lei por atividade administrativa vinculada (não discricionária). Nesse sentido,
consistem em exações tributárias, na compreensão do Supremo Tribunal Federal: (a)
contribuições sociais ou especiais, que surgem quando o Estado atua indiretamente,
beneficiando certos contribuintes de forma diferenciada; (b) contribuições de melhoria,
que surgem quando há valorização imobiliária decorrente da realização de uma obra
pública; (c) taxas, que estão ligadas a atividades específicas do Estado, como a prestação
de serviços públicos, por exemplo, iluminação pública e saneamento básico; (d) impostos,
que não dependem de uma atividade estatal específica como fator gerador; e (e)
empréstimos compulsórios, de competência exclusiva da União, com o objetivo de
atender a despesas extraordinárias.

12ª. Em que as taxas se distinguem dos preços públicos?


Os preços públicos (também denominados de tarifas) estão submetidos a um regime de
direito privado, por se tratar de ato de vontade bilateral, independentemente de lei
(instituídos por meio de contratos). São dotados de voluntariedade, não sendo submetidos
aos princípios tributários, sendo, portanto, receitas originárias. Já as taxas estão sujeitas a
um regime jurídico de direito público, por serem instituídas e reguladas por lei, independente
de manifestação de vontade, de caráter compulsório. São submetidas aos princípios de
direito tributário haja vista serem uma espécie de tributo.

13ª. Defina despesa pública e exponha a sua concepção moderna, em cotejo com
aquela do período clássico da ciência das finanças.

De forma objetiva, a despesa pública se configura como o conjunto de desembolsos


empreendidos pelo Estado para suprir e custear a prestação de serviços públicos. Sob a
perspectiva dessa concepção contemporânea, a despesa pública está intrinsecamente
ligada à busca do bem-estar coletivo e ao atendimento das necessidades públicas de toda a
sociedade. Essa definição se diferencia daquela adotada no período clássico da ciência
das finanças, quando as despesas públicas eram direcionadas primordialmente aos gastos
governamentais em si. Ou seja, os recursos financeiros eram adquiridos para atender às
demandas da burocracia estatal, em detrimento dos direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos. Portanto, a concepção moderna da despesa pública se caracteriza pela
legalidade dos procedimentos orçamentários e pela supremacia do interesse público na
alocação dos recursos financeiros.

14ª. Quais são os elementos constitutivos da despesa pública?

A despesa pública é constituída por meio dos seguintes elementos: (a) o aspecto
econômico; (b) o âmbito político; e (c) a esfera jurídica. A despesa pública representa
seu componente econômico, uma vez que os recursos financeiros são propriedade do
Estado, que possui a responsabilidade de administrar esses ativos de forma adequada. Há
também o elemento político, uma vez que é necessário realizar escolhas difíceis,
conhecidas como "tragic choices", decidindo quais necessidades públicas serão atendidas
em detrimento de outras, dado que os recursos financeiros são limitados. Por fim, o
elemento jurídico está relacionado à exigência de uma previsão legal explícita para realizar
as despesas públicas, conforme mencionado anteriormente.

15ª. Quais são as principais causas do crescimento progressivo da despesa pública?

De forma concisa, as principais razões para o crescimento gradual da despesa pública são:
(i) o avanço econômico, social e político do Estado; (ii) o aprimoramento da qualidade de
vida e do bem-estar social da sociedade; (iii) a valorização dos serviços públicos; (iv) as
deficiências econômicas dos governantes; (v) a demanda por novos serviços públicos; (vi)
desvalorização da moeda; (vii) crescimento populacional; e (viii) crescimento territorial.

16ª. Quais são os requisitos de validade da despesa pública?

Os critérios de validade compreendem a legalidade e a legitimidade. A legalidade


refere-se à existência de uma disposição legal explícita que autorize e viabilize a execução
da despesa pública. Nesse sentido, não basta que a despesa seja apenas legal, mas
também é necessário que seja legítima, ou seja, que seus meios e objetivos estejam
alinhados com as necessidades públicas da sociedade, as políticas estabelecidas pelos
governantes e os princípios fundamentais consagrados na Constituição Federal de 1988,
por exemplo.

17ª. Que são despesas correntes e despesas de capital?

Conforme estabelecido pela Lei nº 4.320/1964, as despesas públicas podem ser


classificadas em despesas correntes e despesas de capital. As despesas correntes
englobam os gastos regulares das instituições e órgãos do Estado e podem ser
subdivididas em despesas de custeio, que se referem aos pagamentos feitos pelo Estado
em contrapartida aos serviços prestados pelos funcionários públicos, e transferências
correntes, que envolvem pagamentos relacionados a aposentadorias, por exemplo. Por
outro lado, as despesas de capital são ocasionais e se referem aos gastos que o Estado
realiza com o objetivo de realizar investimentos de natureza patrimonial, como o
desenvolvimento e aprimoramento de rodovias federais, a construção de novos imóveis
para a prestação de serviços públicos, entre outros.

18ª. No Brasil, de acordo com o critério da competência constitucional, como se


classificam as despesas públicas?

De forma sintética, existe a previsão constitucional de que as despesas públicas podem ser
classificadas quanto à competência em níveis: federais, estaduais ou municipais,
conforme o ato público seja realizado pelo ente federativo em cada caso concreto.

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