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BR 2800019
E 1 5/B/M / V
BRITTO’ J. S
CRUZADA DA COOPERACAO INTEGRAL: PRODUCAO. C
ONSUMO E CREDITO NAS CIDADES, NOS CAMPOS, C
REDITO GRATUITO AGRARIO [COOPERATIVA DE PRO
DUTORES]
RIO DE JANEIRO, GB (BRASIL) BENEDICTO DE SOUZA
1928 196 P. (PT) 17 REF.
MICROECONOMIA, COOPERATIVA DE PRODUTORES, LEGIS
LACAO ECONOMICA

203
JOSÉ SATURNINO BRITTO

CRUZADA DA COOPERAÇÃO
INTEGRAL
Producção, Consumo e credito
Nas cidades, nos campos
Credito gratuito agrario

(Adaptação de estatutos, formulario, normas geraes e parti-


cularizadas. Compilação e commentarios. Modelos de
contabilidade e estatística).

A politica é o que ha de peor para


fundar associações de Previdencia."
--Luiz Luzzatti.

BENEDICTO DE SOUZA
Rua da Misericórdia, 51
RIO DE JANEIRO
___
1928

M
E15
BRIC
BR 2800019
A cooperativa de consumo e a de producção
As cooperativas se destinam liberalmente a to-
das as classes, desde que sem prejuizo da doutrina sã,
da moral de que emanam no ajustar-se á pratica
de permuta commercial entre pessoas que pretendem
economisar no que compram e produzem, eliminando
o lucro dos intermediarios, isto em favor de suas
obras, ou da bonificação proporcional ás compras.
Convem, antes da divulgação do material pratico que
já temos prompto, relançar o historico das coopera-
tivas de producção, visa caber ás de consumo as
sumir progressivamente forma cyclica de que cons-
tam tambem as de producção verdade é que a tal
respeito temos que observar mas adiante o que se
passa nas Wholesales. Porventura cooperativa de
producção proletaria, de que tratamos logo de chofre,
na forma que se apurou com a reação de classe, ex-
prime bem o conceito que firma sufficientemente a
universalização do voto singular nas cooperativas de
todas as especies. Eis a razão que dos decidio
a compilar a argumentação baseada nos factos chrono-
logicos, independentemente dos dispositivos legaes,
baseados em outro regimen, manobra com que tenta-
ram em vão ferir o principio basico do voto singular
nesses asylos economicos que se transformam pro-
gressivamente em paraisos sociaes onde a paz e a
fartura reinam.
Proletarios honestos, profissionaes de qualquer
especie, pequenos proprietarios que couseguiram a
custa do seu labor honrado e criterioso pôr de parte
o fruto do proprio esforço e que ainda assim se vêm
ás voltas com a multiforme uzura, podem, ao lado
das cooperativas de consumo de classe, formar as
suas, dentro da mesma harmonia moral e organica.
Mas, não tardemos, uma vez explicada essa
di-gressão.
Que é uma cooperativa de producçao? Analy-
semos com Joseph Cernesson, autor da <<Association
ouvrière de production>>, folheto repleto dos melho-
res ensinamentos, cujos trechos, que mais nos inte-
ressam neste momento passamos a reproduzir:
Caracteres fundamentaes d’Uma sociedade indus-
trial: << logo que constituida, um trabalhador profis-
sional não tem nenhum direito, nenhum meio regu-
lar de fazer parte da mesma, e introduz-se fatalmen-
te no decurso da existencia da sociedade, gente ex-
tranha á natureza dos negocios. O pessoal que a
compõe se divide em 2 grupos. Um, o dos accio-
nistas, recebo a totalidade dos lucros. O outro, o
dos agentes salariados, não tem nenhum direito de
immiscuir-se nos negocios sociaes, e não é senão
uma especie de instrumento adaptado ao serviço do
primeiro grupo

Mas todos esses caracteres da Sociedade indus-


trial podem convir da mesma forma a' uma Associa-
ção de operários. Eis alguns serralheiros que se co-
nheceram num syndicato ou numa officina. Reu-
nem alguns contos de reis, e associam-se para explo-
rar uma pequena loja. Os negocios prosperam de
tal forma que elles não podem dar conta da mão so-
sinhos. Tomam por auxiliares desenhistas, admittem
a serviço antigos companheiros. Alguns daquelles
associados já não trabalham mais manualmente;
um é director, o outro agente commercial; este, fei-
tor de officina; este outro deixou mesmo a profissão.
Não ha com que se illudir; sob uma physionomia dif-
ferente, e num quadro menos imponente, apezar dos
operarios accionistas e os operarios salariados se tra-
tarem familiarmente de <<camaradas>>, achomo-nos na
situação acima definida. Este grupo de operarios
proprietarios d'uma officina não é uma Associação
operaria do producção: é uma Sociedade industrial
que se pode chamar de <<capitalista>>, mui interessan-
te pela qualidade dos fundadores, visto mostrar-nos
uma elite, destacada da classe, socialmente destinada
a exercer funcções superiores, porem, não interessa a
nossa these>>.

<<Que é uma, Associação operaria de producção?


<<Como os acima referidos, operarios mes
ma corporação decidem de se grupar para 0 traba-
lhe liver, porem sem intenção de melhorar para si
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somente as condições de vida do trabalho. Esten-


deram antecipadamente a toda a sua corporação o ideal
entrevisto por elles tão somente a propriedade col-
lectiva, repartição equitativa dos luscros e riscos en-
tre todos os trobalhadores. E' um punhado de ho-
mens, porem consideram-se como os pioneiros d'uma
via nova que confinará um dia com a emancipação
integral da corporação. Sabem que antes de os se-
guir, muitos dos seus camaradas acceitarão essa via semi-
aberta, que o maior numero desejará a que seja de
finitivamente aberta, e que a multidão virá lentamen-
te á procura delles, por unidades receiosas. Entre-
tanto, elles se acham sempre promptos a admittir os
adventicios nas suas fileiras, e sob o mesmo titulo
que elles proprios.
<<Por principio, todos os associados são obrigados
a trabalhar; o que não quer dizer que todos estejam
certos de encontrar trabalho, a Associação, mui fra-
ca na sua origem, podendo achar se na impossibili-
dade de occupar todos os seus membros. Quando
ella engrandece, o phenomeno inverso pode dar-se:
é necessario admittir a serviço outros operarios; elles
participam, numa certa medida, dos lucros. São
neopytos cujos superiores pôem em prova a sua voca-
ção; quando a sua educação profissional e cooperativa é
terminada, começa a sua emancipação, elles se tor-
nam societarios. Para elles, por virtude da variabi-
lidade do capital, as acções são sempre disponiveis,
os descontos periodicos sobre os seus salarios ou os
seus lucros completam o pequeno deposito inicial,
que é o signal tangivel da sua adhesão. Não ha
portanto, na Associação operaria de producção, dois
grupos diversos, em que um, estreitamente fechado,
salaria o outro attribuindo-se a totalidade dos lucros;
grupos indefinidamente distinctos com o seu respec-
tivo papel de commando e de obediencia, de patrões
a empregados. Nessa associação legitima ha sem
duvida duas categorias de trabalhadores; mas ambas
são destinadas a se confundir na harmonia fraternal
do societario.
<<A egualdade dos direitos entre os membros, a
posse collectiva da propriedade social, são o caracte-
ristico moral dominante qua fixa a physionomia im-
pessoal da Associação operaria. O principio de autori-
dade não se incarna nem num homem, nem numa adminis-
tração exterior: reside na universidade dos membros. O
director é ahi um delegado temporario, sempre re
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vogavel, sem isso, os destinos da Associação correm o, risco


de serem orientados ao sabor de caprichos ou de interesses
individuaes. Em alienando sua soberania, a Associação
reconheceria sua impotencia.
<<Mas, tanto ou quanto a Sociedade industrial,
ou a casa patronal, a Associação operaria não dispen-
sa a disciplina. A disciplina operaria é mesmo
d’uma ordem infinitamente mais elevada; pois ella é
salvaguardora, não mais de interesses individuaes
transitorios, e sim dos interesses permenentes da
corporação inteira. Ella é tambem mais nobre que
a disciplina imposta; os em que a dignidade é mais
arisca podem sujeitar-se a tal disciplina sem pertur-
bação, visto que a sua subordinação decorre da sua
adhesão moral.
<<Eis a Associação operaria de producção ideal.
A realização deste ideal exige uma tal sabedoria, um
tal dominio de sua pessoa, e ao mesmo tempo um tal
denodo aventureiro, que parece incrivel, chimerico,
ou pelo menos, mui prematura. Em todo caso, pare-
ce já o successo relativo se acha intimamente liga-
do ao valor educativo da corporaçâo>>
O autor, em seguida, passa aos dados estatisticos:
em 1.° de janeiro de 1910 existiam 510 dessas Asso-
ciações obreiras com cerca de 20.000 socios e que em
190° haviam feito negocios cujo montante era de
64 milhões de francos, mais ou menos, obtendo dos
governos consideraveis empreitadas.
E o sonho de Fourier se realizou plenamen-
te, apezar da deturpação que, tambem em França
ameaçou tão viavel previsão de tempos melhores para
os que tiram do suor do seu rosto todo o progresso
humano.
São do mesmo mestre as seguintes considerações:
<< O patrão não vê nos seus operarios senão o instru-
mento mais ou menos aperfeiçoado da sua fortuna; e
o algarismo de seus salarios é calculado em propor-
ção do seu rendimento lucrativo. Mas, para os tra-
balhadores associados, cada um delles é um homem,
sob pretexto de decadencia profissional, elles não têm
o direito de o arremessar dentro do <<inferno social>>,
de lhe impor o casebre immundo e miseravel, d'onde
elle se evadirá para a tendinha manhosa, e onde os
seus filhos se amontoarão, precocemente debeis. En-
tretendo este estado de coisas, o patrão é logico; po-
rém cooperadores operarios trahem cynicamente a
sua classe (ha-os)!...
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Por isso as Associações communistas que com-


batem a formula <<capital, trabalho e talento>> ideada
por Fourier, se tornaram inimigas das cooperativas
de producção, n' uma aspiração empyrica de fraterni-
dade mais pura, cuja pratica o mesmo autor só em-
contra até hoje nos conventos, ao que já nos referi-
mos em o <<Dominio universal da cooperação>> embo-
ra antes da leitura recente que fizemos do magistral
folheto de Joseqh Cernesson, que o mero acaso nos
offereceu no meio d’uns livros que se perdiam num
porão de familia onde deixei guardados por muitos an-
nos preciosas obras que se foram de que perdi a memo-
ria, algumas até sem ter tido a opportunidade de estudar
mais demoradamente, dada a nossa vida nomade de
alguns annos.
Convem insistir nessa lição dos factos. Diz ain-
da o autor, em defeza das Associações operarias que
se não confundem com as <<patronaes>>, que os com-
munistas repellem, aliás com razão, sendo porem in-
justos com as que adoptam a formula exata e viabilis-
sima de Fourier: <<No começo, uma pequena Asso-
ciação não pode exigir dos seus membros senão uma
pequena quota, 25 francos, 50 ou 100 no maximo, um
decimo do qual é logo depositado. Alguns funda-
dores, mais fortunados ou mais audaciosos, servin-
do-se dos seus direitos estatutarios, tomam diversas
acções; o director possue ás vezes uma notavel par-
te do capítal, e apezar de, como todos os seus cama-
radas, elle não ter senão um só voto nas Assembléas
Geraes (só tres associações infringiram esta regra:
o <<Travail>> e << L' Avenir du Bâtiment, em Pariz; a
<< E' bénisterie de Clichy)

, << A porta se não fechou aos menbros da corpo-


ração, porem ella não se abre senão para personalida-
des escolhidas, já experimentadas desde muito tempo,
na qualidade de <<auxiliares>>. Sem duvida, os fun-
dadores não conheceram essas obrigações rigorosas;
porem justam ente por terem atravessado, no meio
de angustias por muito tempo renascentes, os obstaculos
que lhes barravam o caminho, agora que têm
sucesso, não querem, na noite da : sua vida, recome-
çar a partida aventurosa que, na mocidade delles,
ganharam brilhantemente. Se este sentimento se
conserva isento de qualquer idéa egoista, se elles
não têm verdadeiramente outro pensamento a não ser
o de conservar na sua corporação a integridade de sua
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conquista, não se cogitaria de censurar o rigor das


novas obrigações introduzidas>>.
O titulo III da lei franceza de 24 de Julho de
1867, sobre as sociedades, refere-se ás <<disposições
particulares ás Sociedades de capital variavel>>. A
influencia patronal dos que haviam deturpado os fins
da sociedade de pessoas com os proprios da de capi-
taes, conseguio glosar no parlamento francez as
caracteristicas das cooperativas. Mas, não deixou
de adoptar um novo regimen de sociedade que não
tem o capital fixo, visto acceitar illimitadamente os
socios, rompendo embora com a egualdade de condi-
ções e o voto singular. Quer dizer que a sociódade
assim alterada deixou de ser uma cooperativa.
E como vimos acima, as Associações operarias
de producção reagiram contra esse equivoco, manten-
do o systema classico, para o qual não havia lei e as
cooperativas bem formadas viveram perfeitamente
sem ella, como tudo que ha de bom debaixo de todos
os ceos...
Ahi temos, alem de outros exemplos edificantis-
simos o da <<Cooperative La Pipe>> fundada, em 29 de
outubro de 1906: <<Art. 8 — As acções não dão divi-
dendos, nenhum interesse, a parte do capital social
que representam sendo considerada como o instrumen-
to de trabalho da Sociedade para a constituição da
qual cada associado deve contribuir com uma parte
egual>>. Dos estatutos desta sociedade de producção
consta tambem o dispositivo que obriga ao vóto <<per
capita>>.
Numa noticia que precede os Estatutos da <<Fede-
ration Nationale des Cooperatives de Consommation>>, lê-se:
A F. N. C. C. representa em França a coopera-
ção dita <<rochdaliana>>, assim denominada pelos <<Equi-
tables Pionniers de Rochdale de 1844.
<<Por consequencia seu fim é de substituir o re-
gimen de competição, de concurrencia, de luta e de
guerra, que não faz outra coisa a não ser explorar
os consumidores e procurar lucros, por um re-
gimen de mutualidade, de ajuda-mutua e associação
que terá por objecto a satisfação das necessidades
materiaes, intellectuaes e moraes de todos os consu-
midores>>. Dos estatutos consta o seguinte
art. 4º - Serão acceitas todas as Sociedades consti-
tuidas de conformidade com a Declaração commum de
Unidade cooperativa: por conseguinte não poderão
admittidas: as Sociedades que impõem a seus
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membros a adhesão á uma organização politica ou


confessional, as Sociedades capitalistas ou patronaes,
isto é, as que dão dividendo ao capital acção acima
d' um interesse limitado, ou que limitam o numero
dos accionistas, ou que dão a seus membros um nu-
mero votos proporcional ao numero de acções, ou que não
conferem a soberania á Assembléa dos socios>>.
Que querem mais, os que julgam que ao lado da
deturpação mesquinha e legal, não existe a doutrina
victoriosa?
No seio dessas cooperativas operarias quer de
producção ou consumo ate a justiça é autônoma, pois
se dirimem as questões por meio do Conselho de Pro-
bidade, expurgando-se assim da chicana o cenaculo
da familia humana constituida de gente que exerce
de facto um mister util.
A’s paginas 135, sob o titulo <<Cooperação bas-
tarda>> em <<A Cooperação é um Estado>> já haviamos
chamado também as attenções para as sociedades
<<civil service>> que differem das verdadeiras coopera-
tivas, não sendo por isso acceitos os seus delegados
nos congressos de cooperativas que se reunem na In-
glaterra e donde seriam repellidos os cogumelos da
uzura que brotaram aqui nos intersticios das omissões
legaes...
O nome de cooperativa introduzido em França
em 63, pôr Casémir Perrier, como o dissemos ás pa-
ginas 15 do <<Dialogo com o Povo>>, não impede, como
diz M. Gaumont, citado dor Ch. Gide na sua monu-
mental <<La Coopération à l’Etranger . Angleterre e
Russie>>, que em 1836 dois tecelões lionezes houves-
sem criado a <<Au Commerce Vérique>>, baseado
nos principios sãos cooperacionistas, do que de infere
que á França e á Inglaterra cabe de facto a syste-
matização do agente da ajuda-mutua universal, ca-
bendo ás mesmas nações a reacção contra os deturpa-
dores do mesmo systema.
Gide, o maior vulto entre os apostolos authenti-
cos e modernos da cooperação, no livro que acaba-
mos de citar, ás paginas 21 em diante, mostra os
sofrimentos dos proletarios, de 1767 a 1785, com o in-
vento da machina a vapor, de Watt os aperfeiçoa-
mentos sucessivos de Flargeave, Arkwight e Car-
twright, com que se substituto a tesselagem a mão.
De forma que tal acontecimento desaggregou o regimen
corporativo que abrigou durante seculos o operario,
tornando-se o operario um simples salariado ao e envez.
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d’um homem livre como o era dentro da sua secular


cooperação.

Assim foi que surgiram as cooperativas de Bri-


ghton, da concepção do Dr. King, em 1828, com que criou
o regimen do capital collectivo e das bonofica-
ções que tarde os Pioneiros de Rochdale desen-
volveram.
Eis o seu programma colossal, da qualificação
de Gide:
<<A sociedade tem por fim realizar beneficio
pecuniario e melhorar a condição domestica e social de
seus membros, reunido um capital dividido em
acções de uma libra e sufficiente á pratica do seguin-
te plano:
<<Abrir um armazem para a venda de generos
alimenticios, roupas, etc.
<<Comprar ou construir casas para os socios que
desejarem ajudar-se mutuamente para melhorar as
condições de suas vidas domestica e social;
<<Emprehender o fabrico dos artigos que a socie-
dade julgar conveniente produzir para dar trabalho
a seus membros que estiverem desempregados ou que
venham a soffrer continua reducção nos salarios ;
<<Comprar ou alugar terras que serão cultivadas
por seus membros que não tiverem trabalho ou por
aquelles cujos salarios sejam insufficientes. .
<<Logo que fôr possivel, a sociedade procederá
á organização em seu seio e com recursos proprios,
ou em outros termos, ella se constituirá em colonia
autonoma (self-supporting), onde todos os interesses
serão solidarisados (united) e ella auxiliará ás outras
sociedades que queiram fundar colonias semelhantes.
<<Com o de de propagar a temperança, a socie-
dade abrirá em um dos seus locaes um estabeleci-
mento de temperança>>. .
Afigure-se gente dessa tempera, a admittir o voto
plural !... .
Seria o mesmo que supportar trahidores num
exercito que se prese...
Se haviamos antes demonstrado a reacção entre
os operarios que fundaram cooperativas de producção
contra os deturpadores egoistas, ahi temos nós o
que se passou com 0 consumo. Quanto ao credito,
os nomes de Raiffeisen, Delisztch e Luzzatti, são
moraes tão elevadas que seria inutil aos
acrobatas da chicana tentar pular por cima dellas
e não é atoa que muitos ficaram de pescoço quebrado...
13

A autonomia das federações da Escocia e da


Inglaterra, com, respectivamente ao centro, a Who-
lesale de Glasgow e a Wholesale de Manchester
(Wholesale, quer dizer venda por atacado), conforme
observa Gide, representava uma só Federação moral,
a <<Cooperativa União>>, para a Inglaterra, Escocia
e tambem a Irlanda.
Em 1872 a Wholesale de Manchester, que con-
tava entre o numero dos seus fundadores quatro dos 28
Pioneiros de Rochdale, fundou um banco para forne-
cer os capitaes a todas as sociedades cooperativas.
Diz Gide; <<O banco é, com effeito, 0 instrumento
mais poderoso, visto dar o credito>>.
<<Em 1872, ella abrio suas primeiras fabricas, em
numero de duas.
<<Em 1874, começa a installar armazens geraes
em diveisas partes da Europa: em Roen, Calais,
Hamburgo, onde criou uma agencia de para
as suas provisões.
<<Em 1876, lança o primeiro vapor de 650 tone-
ladas, o <<Pioneiro>> que servio de transporte entre os
seus armazens geraes. A frota augmentou e afinal
ficou reduzida a dois vapores, por haver dado pre-
juizo.
<<Em 1896, adquire pelo preço de 30.000 libras
um dominio de 300 hectares, Roden. Ahi installa
plantações, jardins, um asylo para os empregados.
<<As adhesões foram augmentando d’ahi em dian-
te consideravelmente, attrahindo a Wholesale de Man-
chester todas as forças cooperativas>>.
As vendas, sempre conforme Ch. Gide:
<<Em 1864, 1.300.000 francos oiro.
Em 1884, 112 milhões de francos oiro.
Em 1891, 220 milhões de francos.
Em 1920 1.300 milhões de . francos.
Em 1924, 1. 800 milhões de francos.
Essas cooperativas de atacado, inglezas, seguem
o mesmo systema de Rochdale: não distribuem divi-
dendos e sim bonificações na proporção das vendas a
cada uma das cooperativas adherentes, proporção
equivalente a 1 e 1,50 por cento.
E' a moralidade verdadeira do esforço superior ao
capital. Cada sociedade subscreve 250 acções por 100
membros.
As fabricas da Wholesale de Manchester são em
numero de 111, empregados 80.000 operarios e pro-
14

duzindo 550 milhões de francos, segundo o mesmo


autor.
Ouanto á producção agricola da Wholesale e esten-
deo-se até fóra da Inglaterra consideravelmente, entre-
tanto, reproduzamos as seguintes palavras do Mestre:
<<Il faut donc croire qu'il y a dans l' évolution econo-
mique comme deux voies divergentes: celle de la
production industrielle qui évoluerait vers la grande
production collective, et celle de la production agrico-
le qui sembleraît tendre à la production individuelle, á
la propriété paysanne>>.
Dil-o, após das considerações dos phenomenos
observados nos diversos paizes, inclusive a Russia
sovietica. Mas, o autor não deixa de tomar em con-
sideração o desenvolvimento geral das : cooperativas
agricolas que parece corrigir essa tendencia, pelo
menos até certo ponto.
Gide aconselha que as cooperativas de consumo,
embora fundando as de producção para o seu com-
mercio, deveriam tambem proteger a fundação de pe-
quenas cooperativas de producção que deixam de exis-
tir por falta de capitaes e clientéla, firmando-se assím
um contrato mutuo entre umas e outras no sentido
de abranger o emporio cooperativo na tendencia ao
infinito, porem coordenadamente na razão das neces-
sidades e viabilidade.
Estatistica de 1° de janeiro de 1925: França 4.000
cooperativas de consumo; na Russia, 30.000; na
Dinamarca, 1.500; na Inglaterra 1.314. O numero
dessas cooperativas, comparado com o augmento pro-
gressivo de membros, prova a tendencia á concen-
tração. Assim, que so na Inglaterra se contam
cerca de 18 milhões de pessoas que fazem parte das
cooperativas.
Gide ennumera os senões:
1.° faz sentir que a associação dos socialistas
christãos, eleva a personalidade do operario; eman-
cipando-o do salario, collocando-o em situação de
sentir-se dono de si-mesmo e de colher os frutos do
seu trabalho. Nesta condição somente o trabalho se
tornará o que deve sêr, alegre e fecundo.
Nas Whofesales ha o salario como em qualquer
fabrica, mina ou estrada de ferro, sendo que alguns
dos salariados antigamente socios de cooperativas de
producção foram absorvidos como as suas proprias coo-
perativas pela Wholesale. Esse regimen do salario, mes-
mo em tal centro não deixa de ser condemnado porque
15

o salariado sentimento de não trabalhar para si,


envenenando-se o operario com esse sentimento, pas-
sando se assim do regimen federativo ao collectivista;
aliás não imposto pela força, como faz vêr Gide, sendo
o resultado d'uma evolução livre, ao que assegura
uma grande superioridade, mas não deixará de apre-
sentar menos todos os perigos que desde muito se
têm assignalado, taes como, á bureaucracia, a con-
centração, a asphixia das iniciativas individuaes.
2°. como tal organização desagradará aos libe-
raes, era de esperar que convisse ás Trade Unions
(C. G. T. ingleza)?

Não. Embora tendo a cooperação por fim, ellas


appelam para um espirito mais vasto, ameaçando de
se opporem ás Wholesales, caso, tal se não désse:
<<E' com pezar que o fariamos e esperamos ainda
sinceramente que o espirito da verdadeira cooperação
poderá prevalecer diante de toda e qualquer eventua-
lidades>>.

3°. Os operarios e empregados dizem:


<<Reconhecemos que as sociedades cooperativas
de consumo, e particularmente as grandes federações
de Manchester ou de Glasgow, são bons patrões. Dão
salarios eguaes, ás vezes superiores aos dos patrões
ou sociedades capitalistas. Foram as primeiras a
applicar as novas medidas da semana ingleza, da jor-
nada curta.
Mas não deixam de ser patrões e que, como taes,
têm interesses differentes dos nossos mesmo op-
postos. Então, não vale a pena de ter feito um gran-
de movimento cooperativo, cuja ambição é de re-
formar o mundo economico e de criar uma economia
nova, para conseguir apenas algumas pequenas me-
lhoras que poderiamos achar da mesma forma em
casa d'umbom numero de patrões capitalistas.
Por conseguinte devemos, para defender nossos
interesses, recorrer aos mesmos meios que os usados
pelos nossos camaradas nas casas capitalistas, isto é,
o syndicato, e se fõr necessario a greve>>.
<<Eis porque os empregados criaram, ha um certo
numero de annos, uma <<trade union>>, um syndicato
enorme que conta hoje mais 100 mil membros.
Estes membros são recrutados em todos os ateliers e
magazins das sociedades cooperativas, do que resulta
que esta associação syndical compreende os operarios
16

de todos os officios dos 2.000 magazins de dos 100


estabelecimentos industriaes que fazem parte do mo-
vimento cooperativo inglez. Sob o ponto de vista
syndical, é um monstro a tal associação dos empre-
gados das cooperativas inglesas, pois o, caracter de
toda associação syndical é de ser composta de homens,
operarios ou empregados, da mesma profissão. Eis a
propria definição legal do syndicato; enquanto que
o syindicato dos empregados das cooperativas com-
preende homens de todas as categorias.
Qual então o laço que os liga?
E' unicamente, não direi a guerra, e sim a oppo-
sição aos administradores das sociedades cooperati-
vas de consumo. E é mesmo uma das sociedades
syndicaes das mais aggressivas, a tal ponto que o
conselho central das <<Trades Unions>> (que é a C.
G. T. ingleza) teve que intervir mais d’uma vez para
sustentar a Wholesale contra o syndicato dos seus
empregados>>.
Gide, paginas 110 em diante refere-se aos remedios
propostos: sendo a participação nos lucros, direito
de participar dos dividendos na proporção das acções
que possuem os operarios, e tambem o direito de
particpar do governo da einpreza, coino todos Os
accionistas d’uma sociedade qualquer, assistindo ás
assemblés geraes, tornando parte nas eleições e mesmo
na direcção se forem eleitos para o Conselho (socie-
dade de particpação operaria, franceza, forma de ca-
racter facultativo, a titulo de experiencia).
A Wholesale escoceza acceitou um representante
por 150 acções, porém a de Manchester recusou.
Eis a razão apreseutada pela ultirna: ,. .
Primeiramente, no que concerne á participação
nos lucros, ficaria em contradição com o proprio prin-
cipio do movimento cooperativo de consumo. Com
effeito, que visa este movimento? Que se ensinou
desde Rochdale? E' que a cooperativa de consumo
tem por fim a suppressão do lucro, isto é, fazer des-
apparecer o que Owen qualificava o cancro social. E
vós, individualistas, que pedis? De associar nossos
operarios aos lucros e por isso mesmo de o consagrar?
Não se divide um <<lucro excedente>> restitui-se este
lucro.
Quando tomamos por norma restituil-o aos de
quem elle foi tirado, isto é, aos compradores, vós
quereis que o restituamos aos empregados e opera-
rios?
17

Quando o societario vem fazer uma compra nos


magazins e que, tanto como aos, negocitantes, nós lhe
fazemos pagar 10 frascos o que vale 9, lhe dizemos
sempre: socegai ! os 10 p. 100 que houvestes pago de
mais, nós tomamos o compromisso de os restituir.
Eis que agora, voltando-nos para o nosso empregado
vendedor, deveriamos lhe dar a metade do que o con-
sumidor pagou a maior ! Mas a que titulo? Essa
subtração seria feita contra o camarada, o consumidor, é
um conflicto que se vae estabelecer entre elles.
Além disso, o lucro realisado pelas Wholesales
é quasi nullo e sobre milhões de operações: porque o
operario que trabalha numa das cem usinas ou num
dos tres mil magazins, devia ter um direito sobre o
conjunto desses negocios?
Tambem recusou acceitar os operarios e empre-
gados como socios:
Os operarios e empregados, quando os façamos
societarios, que acontecerá? Virão nas assembléas e
farão a lei. Ora toda empreza governada pelos que se
acham ao seu serviço não pode cahir na anarchia.
A prova foi. dada pelos proprios Soviets que, no
começo da revolução haviam introduzido esse systema
as usinas foram entregues ás mãos dos seus proprios
operarios reunidos em commissão. Mas foi preciso
renunciar no fim de alguns mezes; a producção de
todas as fabricas tendo chegado a zero.
E não basta quanto a este, perigo, dizer que os
operarios e empregados d'uma cooperativa não serão
nunca mais que uma pequena minoria, comparado ao
numero total dos societarios. Isto não é exacto, visto
poder acontecer que elles se encontrem em proporção
consideravel nas assembléas. Com efteito, a maior
parte dos societarios não se apresentam ás assembléas
emquanto que pelo contrario os empregados são muito
mais assiduos, sobretudo quando se trata de ques-
tões que tocam seus interesses.
Vio-se, justamente, na Wholesale de Glasgow
onde este systema é applicado, empregados — empre-
gados que tinham sido admoestados por um director
por haverem mal feito seu serviço — vir á noite da
Assembléa Geral e aproveitar se da vinda em massa
dos seus camaradas, quando os societarios consumidores
se não tinham incommodado com a reunião, para obter
uma maioria de sorpresa e revogar incontinemte seu di-
rector. Sem duvida podem tomar-se certas precauções;
e a Wholesale de Glasgow, para evitar esse perigo,
18

acabamos de dizer, limitou o numero dos seus empre-


gados associados; porem o perigo continua da mesma
forma.
De modo que a tradição owenista se oppõe á libe-
ral ou individualista.
Realmente, o fim das cooperativas não é accumu-
lar lucros para os socios, e sim dar-lhes todo o arri-
mo permittido pelo capital collectivo que deve abso-
lutamente substituir o privado onde, este não tiver
mais lugar, pois este capital, representa uma fonte de
pobreza e de tortura dos que trabalham de facto, e
quando elle amenisa a sua acção destruidora de vidas
preciosissimas, o ,faz como o páu podre aos naufragos
que os rios caudalosos levam na corrente- esta corren-
te é a Evolução.
Só a disciplina salvará as organizações cujo me-
canismo perfeito pode comparar-se ao Coração huma-
no que, se cessar de bater, torna-se cadaver o orga-
nismo...
Gide, voltando da Russia dos Soviots, deo nos,
no livro citado, eloquentes ensinamentos:
<< Assim na França, por exemplo, as tres formas
da cooperação, consumo, producção e credito, não so-
mente são absolutamente distinctas pelas suas orga-
nisações, como tambem pode dizer-se mesmo que são
antagonistas.
A cooperação de credito formada de associa-
ções de proprietarios que não têm nenhuma velleidade
socialista e não cogitam de modo algum na abolição
do salario ou do lucro.
Quanto ás cooperativas de producção, represen-
tem uma especie de aristocracia operaria que tem um
certo despreso pelas cooperativas de consumo onde
ellas não vêm outra coisa a não ser lojas de negocian-
tes; e as cooperativas de consumo retribuem esse mês-
mo, sentimento, não vendo nas de producção senão
operarios <<parvenus au patronal>>.
Na Russia, não ha nada disso. Essas tres formas
não fazem senão uma, particularmente as cooperati-
vas de producção e as de consumo. E ora uma ora
outra que começa e que, por uma especie de integra-
ção progressiva, reveste todas as formas.
Ora se é o salarlo a razão da alta nos preços, o
que virá a supprimil-o, seja bem vindo, caso outros
agentes peores não intervenham, num eterno circulo
vicioso do dominio d uma classe sobre as outras...
que seja essa classe composta de capitalistas ou ope-
19

rarios donos de fabricas, da lavoura, do credito ou


doconsumo.
Repetir os mesmos erros sob o regimem do capi-
tal collectivo seria apenas um castigo aos que abusa-
fax, não um remedio para o acervo social.
A catechese cooperacionista não esmorece, mesmo
sob os escarneos de dois campos adversos. Nella está
á definitiva regeneração do trabalho e do commercio.
Assim, convem desde já desmascarar a chicana
dos que hontem produziram capciosos estatutos e hoje
pugnam insidiosamente pelo aburguesamento juridico
da cooperação.
Decerto isto lhes ha de render alguma coisa.
Lenine, segundo Gide, quando derrocou os ulti-
nos vestigios da escravidão russa, foi ajusto com
as cooperativas perseguindo-as; depois disso retro-
cedeo officializando-as, obrigando a que todos se
inscrevessem nellas e já sob um regimen de extorsão
official, a afinal convenceo-se de que a cooperação
livre era a verdadeira, dentro dos, seus basicos prin-
cipios inviolaveis, e lá está ella na mais ampla flora-
ção primaveril por todas as Russias.
0 mesmo deo-se com Marx, que terminou apro-
vando essa instituição que certa especie de indivi-
duos inciste não mais em vedal-a, porem em detur-
par, por valer-se ainda della como instrumento de
exploração da humanidade. E não fizeram o mesmo
da religião, do amor, da patria, da familia, de tudo?
Tambem se morre de muitos males que se cau-
sam a omtrem... Nisto é que essa proxeneta cir-
cumspecta devia pensar antes de ir para os infernos.
Assim, em 1910 foram registradas 51.000 coope-
rativas de consumo na Russia, com cerca de l00 mi-
lhões de socios, na epoca obrigatoria.
Em 1920 as cooperativas confederadas eram o
unico meio de entreter as relações commerciaes da
Russia com as federações estrangeiras. Não havia mais
com quem tratar.
Com a volta da cooperação facultativa, o numero
de cooperativas baixou a 16.000, e numero de mem-
bros a 4 milhões. Mas, diz o Mestre: <<se fosse so-
mente isso, não se deveria vêr nisso um recuo, pois
mais valem 4 milhões de cooperadores vivos que 18
milhões de cooperadores mortos.
Verdade é que os cooperadores do voto plural
ainda são de peor especie...
20

De patamar em patamar, de eleição em eleição


chega-se ao apice da pyramide, ao orgão central que
é o Centrosoyus, e que se compõe d'uns vinte admi-
nistradores com um escriptorio permanente. Isto
para a Russia.
Gide accrescenta que na Inglaterra: nas funcções
commerciaes propriamente ditas, isto é, a compra e
distribuição das mercadorias, estão a cargo da Who-
lesale, emquanto que de todo o trabalho de propaganda,
educação, ensino, é da competencia da União Coope-
rativa. Na Russia, pelo contrario, se duas funcções
estão reunidas nas mãos do Centroyus que assume
assim d'uma, só vez a direcção commercial e econo-
mica, e a direção moral>.
De 1924-1925, o Centrosoyus fez 384 milhões de
negocios, isto é, 1.000 milhões de francos-oiro, em-
quanto quje a Wholesale inglesa, na mesma epoca, che-
gou a 1.900 milhões.
Esse centro servio de intermediario nas relações
commerciaes, dando inicio, como diz o Mestre, ao
sonho dos cooperadores, qual o da Aliança Cooperativa
Internacional.
Gide, na sua obra obre a cooperação, na Russia
e na Inglaterra fez a analyse completa do assumpto,
discorrendo com sua arte sincera, tão em evidencia
no genio francez, e que espadana os factos sob a luz
nova que banha as coisas...aliás as muis velhas
deste mundo.
Ahi fica o que aliás emana da compilação dos
mestres que nos ensinam o que aprenceram com os
factos e reproduzimos por um dever de consciencia, no
brumoso ambiente...
Quer dizer alem delles? Eil-os

BIBLIOGRAPHIA

Ch. Gide - La Cooperation á L 'Etranger Angle-


terre et Russie.
Joseph Cenesson - Les Associations Ouvrières de
Production.
Alfredo Ficarelli - Guida pratica per la contabilitá-
delle piccole Cooperative di consumo.
Arrigo Valentini - Del Mecanismo delle banche
populare.
Lega Nazionalle delle Cooperative.
Via Pace,10, MIlão, Italia - Vade Mecum pei diri-
21

genti di Aziende Cooperative di Produzione e Lavoro


e loro Conzorzi ammissibile a publici appalti.
M. Radaelk - Nuovo manuale tecnico per-
il personale delle cooparative di consumo. I
G. Garibotti - Pane
P. Narciso Noguer - Las Cajas rurales en Espana y
en el extranjero.
Totimianz - La Cooperazione in Russia.
Luiz Durand - manuel pratique des caisses rurales.
F. Manfredi - Guida pratica per l’edilizia popo-
lare.
Niccoli - Cooperative rurale.
Ercoli Bassi - Le Latterie Sociale in Italia.
Virgilli - La Cooperazione nella legge e nella dou-
trina.
G. Zardo - La pratica delle Società Cooperative.
Pietro Sibert - Le Cooperative di Consumo,
Coppola d’Anna
Ed. G. Barbera
Firenze, Italia - Codice della Cooperazione e for-
mulario (1921).
Os pedidos de livros italianos, feitos mediante
vale postal, devem ser dirigidos ao <<Ente Nazionale
della Cooperazione>>, 31, via Manzoni, Milano -
Italia.
Os francezes, á << Libraire de la Federation Na-
tionale des Cooperatives de Consommation>> 85, Rue
Chariot, Paris, Convem lembrar que as edições se
esgotam rapidamente e que vivemos num deserto.
Secção de Credito Agricola da Directoria de
Inspecção e Fomen-
tos Agricolas do Ministerio da Agricultura
Nesta Secção os interessados encontrarão; alem
dos modelos de contabilidade de consumo, panifica-
ção, caixa rural, regulamentos das operações de cre-
dito a dema traducções privativas do Serviço, com-
pilados pelo autor deste folheto, os seguintes estatu-
tos de coopreativas: consumo, panificação, secção
predial da de consumo, producção e trabalho, traba-
lho, compra a venda, caixa rural, banco popular, como
se deve constituir uma cooperativa>>, todos da mesma
lavra.
Outrosim, na mesma Secção, não faltam outros
trabalhos não menos uteis ao publico e que são de
illustre autoria do Dr. Fabio Luz Filho, e do Dr.
Adolpho Gredilha, idoneo propagandista da coopera-
ção, indispensavel assistencia technica a intellectual,
tanto de um como de outro.
O publico só tem a lucrar nessa consulta gratuita
em que poderá colher notas preciosas, constantes de
documentos privativos do Serviço e no sentido da
propaganda da cooperação authentica, isto é, fiel á
doutrina verdadeira.

<<A Cesar o que é de Cesar>> !


Das disposições relativas ás Socie-
dades, Cooperativas em Geral
__ __

O que os estatutos não podem deixar de


conter.

(Compilação coordenada e adaptada, no intuito


de integrar a doutrina na pratica e na legislação, de
disposições de leis e regulamentos, segundo G. Zar-
do principalmente e outros mestres. Nesta compi-
lação trata-se de obedecer a um criterio de organiza-
ção homogenea, ainda falha em toda a parte por
falta da consagração juridica, precisa do facto o mais
evidente que se exemplificou aliás na Cooperativa
Wholesale, que é uma sociedade de pessoas, não de
capitaes, obra completa, cyclica, dos 28 tecelões de
Rochdale, os unicos pioneiros da Cooperação systema-
tizada por si, que só espera que os legisladores sai-
bam definil-a no estylo legal, sem confundil-a com a
sociedade anonyma ou em commandita).

Admissão dos socios

O pedido para ser socio deve ser dirigido ao Com-


selho de administração, quer redigido pelo requerente
quer por meio de formula preenchida pelo mesmo,
sendo apresentados os pedidos, numerados por ordem
na primeira reunião do Conselho afim de serem devi-
damente . examinados, devendo constar do livro de
actas do Conselho as deliberações á respeito, evitando-
se de averbar as razões, que impeçam a acceitação
do pedido, havendo ainda recurso, da parte dos re-
- 24 -

cusados, para o conselho fiscal, a Comissão do Pro-


bidade e em ultima instancia para a Assembléa Geral.
Outrosim, deverá constar dos pedidos a declaração
de que o requerente acceitará todas as condições de-
terminadas pelos estatutos e regulamentos da socie-
dade. Na formula, além de precisarem-se as condi-
ções convem salientar que a cooperativa não tem o
fim de especular, fazer negocios rendosos, e sim o
de elevação moral dos principios economicos de que
deriva a vantagem para os cooperadores e o publico.
No caso de haver um numero sufficiente de socios,
os novos socios darão lugar á irradiação da sociedade
de accôrdo com o criterio de conselho de administra-
ção e deliberação da Assembléa, tratando-se d’uma
rigorosa selecção nos primeiros tempos afim de evi-
tar o abuso dos grupos mal orientados, e a manha
dos que apesar dos melhores dispositivos, ainda as-
sim tentam açambarcar o poder nas mãos de meia
duzia de falsos cooperadores, lesando a soberania
da assembléa.
No proprio pedido, á margem, o secretario fará
declaração da deliberação tomada. No caso affirma-
tivo faz-se a inscripção no livro do registo dos socios,
seguida da assignatura do socio admittido e de mais
dois socios que não pertençam á administração da so-
ciedade. Desde esse momento é que se torna valida
a admissão. Os analphabetos assignam de cruz, de-
legando poderes a outro socio para assignar por elle,
reconhecida devidamente a respectiva firma. Tal
delegação, na Italia, é isenta de sello, pois a coope-
rativa, lá, é sobretudo para os mais necessitados.

Numero e qualidade dos socios

O numero de socios é illimitado, não podendo


porém a sociedade cooperativa ter menos de 7 socios.
Pelo caracter de universidade a admissão nunca po-
derá ser embargada, pois, mesmo nos casos especi-
aes, por agglomeração que impeça a marcha equili-
brada da sociedade, com a irradiação da mesma evi-
ta-se, por meio de novas secções, a inadmissão
injusta, anti-ethica; em contradição com os fins da
caridade ou beneficencia mutua, que é infinita. Isso
impedirá os abusos sectarios ou de facções, deixando.
- 25 -

se a cooperativa inteiramente á vontade no seu cam-


po de acção fecunda, de concordia social.
Entretanto, no que respeita á natureza profissio-
nal da cooperativa, dever-se-á observar a respectiva
indole profissional do socio; mais ainda, se taes coo-
perativas meramente de profissionaes, se desdobrarem
em outras com caracter generico, já ahi, nessa parte
do seu desdobramento poderão ser admittidos univer-
salmente os novos socios, sem nenhum prejuizo, nem
categoria especial, dentro porém dos limites do novo
ramo que se formar no tronco primitivo, profissional.
Ser socio é uma qualidade que só se coaduna
com a egualdade de direttos e deveres de que todos
deverão gozar na sociedade, respectivamente em cada
secção da mesma, pois o socio d’uma secção não
poderá pertencer a nenhuma outra, no caso de des-
dobramento forçado por motivos economicos e so-
ciaes, como poderá dar-se nas de producção.

Administradores

Os administradores, eleitos pela Assembléa Ge-


ral, reunida logo após da Assembléa dos promotores,
nunca deixam de ser ou tornar-se socios effectivos
da sociedade cooperativa. A assembléa dos promo-
tores, sob a presidencia d’um delles, que a
convoca, logo quo eleitos os membros dos dots con-
selhos e da Commissão dos probos e outras necessa-
rias ao mecanjsmo cia cooperativa, empossa as mes-
mos nos seus respectivos cargos, e puss a set presi-
dida pelo membro do Conselho de Administração que
for escolhido para presidente ou Director da socie-
dade o qual indica para primeiro e segundo secretario
dois outros menbros do Conseiho do Administracão
que for então eleito, nomea o contador e de mais auxilia-
res, passando os documentos e a correspondencia dos
promotores aos administradores, logo promptificando-
se os mesmos a cumprir as obrigações legaes, quanto
a rsgistro, publicação e o mais, relativamente ás so-
ciedades cooperativas.
Cada vez que forem nomeados novos administra-
dores, quer por expiração do mandato ou por outro
- 26 -

qualquer motivo, dever-se-á notificar cumulativamente


ou não tal facto ás repartições a cujo cargo se achem
os respectivos registros e a respectiva fiscalização das
sociedades cooperativas, e dentro do prazo legal a
partir do acto constitutivo. No caso de, dentro
desse prazo, de accôrdo com os estatutos, da socie-
dade forem subrogados Os cargos em questão, far-se-á
notificação dos subrograntes, que sempre deverão oc-
cupar o lugar dos subrogados só durante o tempo que
faltar para completar o mandato, a partir da data da
subrogação. 0 tempo relativo ao mandato dos admi-
nistradores não deve exceder de 4 annos, podendo
ser reelegiveis, se o permittirem os estatutos, sendo
que, no primeiro periodo, a metade dos administra-
dores será reelegivel, depois de dois annos devendo ser
subrogada por sorte ou ordem de tempo, exercendo
os subrogantes sómente o tempo do mandato que
faltar aos subrogados.
Durante a gestão social, no caso de ausencia por
qualquer motivo plausivel, de um ou mais membros
do Conselho de Administração serão os mesmos su-
brorogados por outros tantos merubros do Conselho
fiscal ate á convocação da assembléa geral, delibe-
rando com a presença dos 2/3 e maioria absoluta de
votos, devendo o numero dos administradores ser
impar.

Mandato e responsabilidade dos administradores

Os administradores recebem mandate da Assem-


bléa de socios soberana, respondendo pelo nome e
representação da sociedade em juizo ou fora delle,
perante Os socios ou terceiros. Não contráem res-
ponsabilidade pelos negocios sociaes por causa da
administração delles, porém estão sujeitos á respon-
sabilidade que deriva do mandato social e das obri-
gações que a lei lhes impõe; commumente quem re-
presenta a Sociedade é o Presidente.
Os administradores devem facultar aos socios a
inspecção dos livros dos socios e do livro da Assem-
bléa Geral, e levem dar attestados da conta corrente
dos socios, no caso de serem solicitados.
Todos os auxiliares da sociedade cooperativa são
- 27 –

nomeados pelos administradores, desde que não haja


disposições contrarias, constantes dos estatutos, ou
deliberação contraria da Assembléa Geral.
Os administradores são solidariamente responsa-
veis perante os socios e terceiros;
1º pela verdade quanto a pagamentos feitos pelos
socios;
2° pela existencia real dos juros pagos relativos
as partes;
3° pela existencia dos livros exigidos pela lei e o
methodo cooperativo e a organização e lançamentos
em dia e regulares dos mesmos;
4° pelo cumprimento exacto das deliberações da
assembléa geral;
5º em geral, pela exacta observancia das dispo-
sições legaes aos mesmos impostas, a bem assim
constautes do acto constitutivo a dos estatutos, e que
se não refiram exclusivamente a determinado mister
pessoal.
A responsabilidade não attingirá os administra-
dores que, discordando dos actos e omissões praticadas
por diversos, fizerem logo annotar a sua discor-
dancia no livro das deliberações do Conselho, disso
dando noticia ao Conselho fiscal, que, no caso de des-
approvar, aggrava a responsabilidade, e no caso de
approvar reparte a referida responsabilidade com os
membros do Conselho de Administração que nella
incorrem.
O administrador que tomar parte directa ou in-
directa em determinada operação, deverá communi-
cal-o aos outros administradores, abstendo-se de qual-
quer deliberação concernente a tal operacao.
Membro do Conselho de Administração ou fiscal
fallido, perde o mandato a será logo subrogrado, por
motivo de interdicção ou inhabilidade' ou se fôr con-
demnado a pena criminal ou correccional, por crime
de corrupção, de falsidade, de furto ou velhacaria.
A ação contra os administradores, derivada da
responsabilidade dos mesmos compete á Assembléa
Geral que a exerce por meio do Conselho fiscal. Cada
socio tem o direito de denunciar ao Conselho fiscal
qualquer facto passivel de censura a o Conselho fiscal
deverá referir-se a tal denuncia na primeira Assem-
bléa geral, ou convoca-la immediatamente se o julgar
- 28 -

necessario, caso a denuncia seja feita por um numero


de socios que juntos representem um decimo do nu-
mero total, apresentando a denuncia acompanhada
das suas observações e propostas. A assembléa terá
que tomar uma deliberação a respeito.

Os Administradores não deverão votar:

1° na approvação do balanço;

2.° nas deliberações concernentes ás suas


responsabilidades.

o Tribunal nos casos de graves suapeições a res-


peito de irregularidades dos membros dos conselhos
de administração e fiscal, se for solicitado, logo que
reconheça urgencia em providenciar antes da reunião
da Assembléa Geral, pode ordenar devidamente a
inspecção dos livros da sociedade e nomear para tal
fim um ou mais commissarios a cargo dos requeren-
tes, determinando a caução a ser depositada para as
despesas.
Os administradores poderão ser dispensados de
prestar caução caso conste dos estatutos tal exone-
ração, do contrario a caução é obrigatoria, porém
não maior que o valor da quota maxima de partes per-
mittidas a cada socio.
Salvo nas cooperativas prediaes onde esse limite
poderá ser excedido.

O não cumprimento ou graves irregularidades


por abuso do mandato, submettem os administra-
dores a penalidades pecuniarias até 5:000$, salvo as
penas maiores do Codigo Penal:

1° Os administradores, directores, mem-


bros do conselho fiscal e liquidadores da so-
ciedade que, nos relatorios ou communica-
ções de qualquer especie á Assembléa Geral,
nos balanços e nas situações das partes,
tenham scientemente enunciado factos
falsos sobre as condições da sociedade ou
tenham acintemente occulto em parte ou no
todo factos relativos ás referidas condições;
- 29 -

2° Os administradores e directores que,


com verdadeiro conhecimento do resultado
de balanços fraudulentamente organizados,
tenham distribuido aos socios juros não ti-
rados dos lucros reaes.

Commissão de probidade

Aos membros dessa Commissão só composta de


socios, compete dirimir as duvidas entre os socios e
a administração, evitando controversias longas e cus-
tosas, prejudiciaes á sociedade e aos socios.

Assembléa Geral

As Assembléas dos socios representam a sobe-


rania universal da sociedade, a desde que legalmente
convocadas e constituidas, de conformidade com a lei
e os estatutos sociacs, representarn todos os socios,
mesmo os auzentes, a as suas deliberações são vali-
das acerca de qualquer assumpto da sua alçada ou
constante dos estatutos.
As assembléas são ordinarias ou extraordinarias.
A assembléa ordinaria se reune uma vez por anno,
cerca de 3 mezes antes de encerrar-se o exercicio so-
cial; além da materia contida na ordem do dia, de-
verá:

1° discutir, approvar ou modificar o ba-


lanço, ouvido o relatorio do Conselho fiscal;
2° subrogar os administradores que dei-
xam as suas funcções;
3° nomear o conselho fiscal;
4° determinar a retribuição dos membros
do Conselho de Administração ou do com-
selho fiscal, se não fôr prevista pelos esta-
tutos ou o regulamento interno.

As reuniões extraordinarias são convocadas em


qualquer occasião que occorra.
A convocação da assembléa é feita pelo conse-
lho de administração ou pelo conselho fiscal, no caso
de recusação da parte daquelle, mediante aviso pes-
soal, affixação publica ou inserções nos jornaes,
- 30 -

nunca menos de 15 dias antes da reunião, devendo


constar do aviso da convocação o lugar, dia, hora
da reunião, e bem assim a materia da ordem do dia
a ser discutida. Outrosim, o aviso deverá designar o
dia e a hora da eventual reunião da segunda convo-
cação, caso a primeira não tiver numero legal, não
sendo assim necessario outro aviso além do pri-
meiro.
Convem declarar que a assembléa será legalmente
constituida uma hora depois da que for fixada pelo
aviso.
A assembléa valida poderá deliberar sobre todos os
assumptos constantes da ordern do dia, isto é,
com o veto favoravel da metade dos votantes mais
um. No caso do nomeaçäo do liquidadores são ne-
cessarios 3/4 dos socios e o veto favoravel d’um nu-
mero de socios que tome parte, egual á metade do
numero total dos socios da sociedade, presentes ou
auzentes. Faltando tal maioria, a nomeação dos li-
quidadores é da competencia da autoridade judiciaria.
As assembléas deverão reunir-se na circum-
scripção da séde social, do contrario serão nullas,
como será nulla qualquer declaração da assembléa
tomada sobre materia que não constar da ordem do
dia.
Cada socio tem um só voto qualquer que seja o
numero de partes as acções não devem ser admitti-
das, afim de se estabelecer taxativamente a differença
entre a sociedade cooperativa a a anonyma) que pos-
sua e sé poderá representar urn outro socio na mesma
assembléa (a contextura organica, sob o ponto de
vista da garantia offerecida pelo codigo do commer-
cio qua define tão sómente o modo de administrar,
fiscalizar uma sociedade commercial qualquer, não
affecta os fins desinteressados da cooperativa e que
representam um sentimento elevado, unico, inteira-
mente fóra do commum, porém realizavel, commer-
cial, industrial, economicamente falando, desde que
integrada a propria doutrina de desinteresse na pra-
tica, isto é, de favores infinitos, cyclicos, que surgem
perennemente do accumulo de energias solidarias,
tendentes a generalizar-se regeneradoramente por
todas as actividades uuiversaes).
- 31 -

Os administradores têm direito de votar, visto


serem socios, salvo:

1° na approvação dos balanços:

2° nas deliberações a respeito das suas


responsabilidades.

As assembléas extraordinarias serão convocadas


toda vez que forem necessarias ou no prazo d’um
mez, desde que o deseje um quinto do numero total
dos socios e declarem-se as questões a serem trata-
das na Assembléa.
A responsabilidade dos administradores regula
se na razão do tempo da sua respectiva gestão, e não
pode ser pronunciada collectivamente e sem ligar im-
portancia ao tempo, senão quando os factos attri-
buidos a diversos administradores successivos, sejam
connexos entre si de modo a constituir um unico facto
complexo, e se não possa separar a responsabilidade
de uns da dos outros.

Conselho Fiscal

O Conselho fiscal é eleito pela assembléa geral,


não podendo os seus membros deixar de ser socios,
ou servir-se de influencia extranha á natureza da so-
ciedade cooperativa no seu caracter economico, ba-
silar, regido pelo aperfeiçoamento moral. Os mem-
bros do conselho fiscal não poderão ser parentes nem
ter nenhum gráo de consanguinidade nem de affini-
dade com os membros do conselho de administração.
Em caso de morte, renuncia, fallencia ou decadencia,
serão subrogados pelos supplentes pot ordem de
tempo o se estes, não basterem, as membros que fica-
rem chamam outros socios para substituirem os
que faltarem, até á primeira assembléa geral.
Fiscaliza e controla perennemente a obra dos
administradores no interesse do todos os socios.
- 32 -

As suas funcções:

1° estabelecer, de accordo com os admi-


nistradores a forma dos balanços e das si-
tuações das partes;
2° examinar pelo menos cada trimestre
as operações sociaes e a combinar o bom
methodo de escripturação;
3° promover o confronto da caixa cada
trimestre;
4° confrontar uma vez por mez, pelo me-
nos, os livros sociaes verificando a exis-
tencia dos titulos e valores de qualquer es-
pecie depositados em penhor, caução ou em
custodia na sociedade;
5° verificar o cumprimento das disposi-
ções do acto constitutivo e dos Estatutos,
de conformidade com as condições estabele-
cidas pela Assembléa Geral;
6° examinar o balanço e isso relatar
nos termos da lei;
7° fiscalizar as operações de liquidação;
8° convocar a Assembléa ordinaria e
extraordinariamente no caso de recusação da
parte dos administradores;
9° tomar parte em todas as Assembléa
geraes;
10° e em geral providenciar de modo
que as disposições da lei, do acto constitu-
tivo e dos estatutos sejam cumpridas pelos
administradores.

Relativamente ao relatorio sobre o balanço, o


conselho fiscal tem obrigação de apresental-o, mesmo
quando seja desfavoravel ao proprio balanço. No
caso do recusacao a administraçfto social tern direito
o dever de promover contra o conseiho fiscal una
acção judicial de resarcimento integral dos prejuizos
causados á sociedade pela falta de apresentação do
relatorio do mesmo conselho.
Os membros do conselho fiscal podem assistir
as reuniões dos administradores e fazer inserir na
ordem do dia dessas reuniões e na das Assembléas.
- 33 -

ordinarias e extraordinarias, as propostas que julga-


rem opportunas. São tão responsaveis como os admi-
nistradores nos casos de omissões nos balanços appro-
vados; isto especialmente quando se evidencia a ne-
gligencia do conselho fiscal no caso de não chamar á
ordem o conselho de administração para o cumpri-
mento da lei.
As, deliberações da assembléa são obrigatorias
para todos os socios dentro dos limites do acto consti-
tutivo, dos estatutos ou da lei, mesmo para os que
não tomarem parte ou se oppuzerem, salvo nos casos
em que seja deliberado o seguinte:

a) a fuzão com outras sociedades;


b) a reintegração ou o augmento do ca-
pital social;
c) a mudança do objecto da sociedade;
d) a prorogação da duração da sociedade,
se não fôr consentida pelo acto constitutivo.

Os socios dissidentes têm direito de se retirar da


sociedade e de obter o reembolso das suas quotas ou
partes e dos juros correspondentes, de conformidade
com o ultimo balanço approvado, isto porem sem pre-
juizo da responsabilidade subsidiaria derivada dos
dispositivos legaes.
O recesso deverá ser declarado pelos que toma-
rem parte na assembléa nas 24 horas a partir
do encerramento da mesma e pelos outros dentro de
um mez após da publicação da deliberação na imprensa;
sob pena de caducar.
A declaração de recesso deve ser feita pelos meios
legaes.
A’s declarações manifestamente contrarias ao acto
constitutivo, aos estatutos e á lei, poderá fazer oppo-
sição qualquer socio e, ouvidos pela autoridade judi-
ciaria competente o conselho de administração e o
conselho fiscal, taes deliberações poderão ser legal-
mente suspensas, mediante notificação ao conselho de
administração.
o socio, nesse sentido, apresentará o seu recurso
devidamente legalizado, dirigido ao juiz competente,
com as indicações que provem a illegalidade das de-
liberações impugnadas individualmente pelo socio
- 34 -

que requeira a suspensão das mesmas; afim de seguir


devidamente as tramites legaes.

Capital social

A quota maxima de partes, consentida a cada socio


é de 5:000$000 (nas cooperativas prediaes 20:000$000)
sobre o valor nominal das partes.
A parte (que substitue a acção) não dá dividendo,
o seu valor é invariavel do nominal, não tem circu-
lação na bolsa, é intransferivel, salvo criterio do com-
selho de administração, permittindo a transferencia.
O juro maximo que deve produzir a parte é de 7 % e
o seu valor não pode exceder de 100$000. O juro
relativo ás partes deve ser antecipado aos destinados
a outros fundos na distribuição dos lucros annuaes.
A obrigação de subscrever partos não poderá ex-
ceder d'um numero de partes equivalentes a 100$000
cada uma, caso as partes tenham menor valor que
essa quantia. Os certilicados quo servem ás partes
devem conter: a nome da sociedade seguido da indi-
cação da sua forma cooperativa ; a data do acto con-
stitutivo e da sua publicaçAo, corn a indkação do
lugar onde fat executada, e a duração da sociedadé,
trazendo a assignatura do Director e d’um outro
membro do conselho de administrtação.
(Na Italia a emissão é isenta de sello para as
cooperativas edificadoras de casas populares durante
10 annos a contar da sua fundação e até que o capital
não exceda de 200.000 liras ; para as cooperativas
agricolas, 30.000 liras. Para as autras cooperativas,
no 1° quinquennio das suas fundações, desde que te-
nham capital inferior a 30.000 liras). Na Belgica o
titulo nominativo, que é a caderneta que sé dá ao
socio, substitue outro qualquer, registrando-se nelle a
conta capital. O Dr. Adolpho Gredilha tem chamado
as attenções para essa mui louvavel norma.
As partes só poderão ser transferidas depois de
integradas, somente a socios da sociedade a a criterio
do conselho de administração, devendo constar tal
cessão do livro do registro dos socios, e do titulo no-
minativo.
O herdeiro, prestadas todas as provas, só poderá
- 35 -

possuir as partes se fôr ou tornar-se socio, sendo


alienadas as partes que excederem o limite maximo
consentido para cada socio. No caso de não se tornar
socio, por qualquer motivo, as partes serão alienadas
na sua totalidade, não podendo ser vendidas em lei-
lão publico, por nenhum motivo.
No caso de pertencer a parte nominativa a diver-
sos socios a sociedade não reconhece a inscripção nem
a transferencia, sem que seja designado um unico ti-
tular.
(Na Italia as partes das sociedades legalmente
constituidas não são sujeitas a nenhuma taxa até que
o capital não exceda de 50:000 liras. Se o capital fôr
superior paga 1% do valor nominal de cada parte).
As sociedadas cooperativas legalmente consti-
tuidas têm obrigação de apresentar nos primeiros 10
dias de janeiro e julho de cada anno ao registro com-
petente, a denuncia dos traspasses das suas partes,
produzidos por negociações durante o semestre prece-
dente, especificando o valor nominal e o numero de
ordem dos titulos singulares, negociados, ou cedidos,
o nome e cognome do ultimo possuidor ou concessio-
nario e a data da emissão de cada um dos titulos,
sendo que a emissão só é feita á proporção que fo-
rem entrando novos socios, nunca por outro motivo
qualquer, outrossim, sendo expressamente prohibidas
as chamadas de capitaes.
Tal denuncia deverá tambem compreender as
partes cuja venda seja promovida pela sociedade,
pelo exercicio do direito de compensação contra o so-
cio que não tenha cumprido com as suas obrigações
perante a sociadade, porem a alienação só poderá ser
feita pelos socios em leilão privado visto as partes
não terem curso em bolsa, mantendo-se sempre o va-
lor nominal das partes, o qual é inalteravel, salvo
em caso de <<defict>> social.
Por motivo de divida a não socios as partes do
socio serão alienadas.
(Na Italia são isentas dessa taxa as partes tras-
passadas por herança, as quaes são sujeitas á taxa
de sucessão. Antes de reconhecel-as como perten-
centes aos herdeiros os administradores das coopera-
tivas têm por isso a obrigação de denunciar ao Re-
gistro competente as partes dos socios fallecidos, das
- 36 -

quaes é detentora a sociedade. A denuncia deve ser


feita dentro do praso de 4 mezes a partir da morte do
socio).
O augmento do capital social, além de dar-se
com a entrada de novos socios e lucros auferidos,
sendo ainda necessario de outra forma, só o poderá
ser por meio de emprestimos feitos aos socios ou
não socios, nunca por emissão especial de partes.

Reducção do capital social

<<A reducção do capital social deverá ser delibe-


rada com a presença dos 3/4 dos socios, e o voto fa-
voravel d’um numero de socios que tomar parte
na votação e que represente pelo menos a metade
do numero total, salvo se houver outra disposição
nos estatutos ou no acto constitutivo. Tal deliberação
é obrigatoria para todos os socios, não sendo ad-
mittido o recesso para os dissidentes ou não com-
parecidos á assembléa.
<<A reducção do capital social não pode ter ex-
ecução antes de 3 mezes decorridos da data em que a
declaração ou a deliberação da sociedade for publicada
na imprensa local, com o aviso expresso de que toda
opposição só poderá ser feita dentro do mesmo prazo.
<<De conformidade com o exposto, a opposição
poderá ser feita nesse sentido, não pelos socios e
sim por terceiros (credores) os quaes, por effeito da
reducção do capital vejam as suas garantias dimi-
nuidas.

Fundo de reserva indivísivel

<<Tem por fim assegurar o bom andarnento das


sociedades e collocal-as num gráo capaz do fazer
frente a exigencias irnprevistas ou necessidades finan-
ceiras com os meios proprios a sem recorrer ao cre-
dito.
o fundo de reserva deve ser pouco a pouco con-
stituido, por meio de percentagem não menor d’um
vigesimo dos lucros, tirada dos lucros liquidos an-
nuaes, e isto até que o fundo assim accumulado não
tenha chegado a um quinto do capital social, com-
vindo que a referida percentagem, como a relativa ás
partes, antecipe a dos outros fundos.
- 37 -

Quando o fundo de reserva tenha alcançado o


quinto do capital, é facultativo proceder-se a, uma
ulterior fixação de percentagem de lucros, destinada
ao dito fundo.
Quando diminuir por qualquer causa, se torna
necessario reintegral-o promptamente da mesma forma
por que foi constituido.
O fundo de reserva (como para o resto do capital)
deve ser inscripto, só para effeito da contabilidade,
no passivo, mas effectivamente representa uma ver-
dadeira actividade financeira social, como garantia,
embora seja indivisivel na dissolução da sociedade.
O capital nominal se inscreve no passivo, visto
que a entidade social so acha em debito desse capi-
tal, com os socios possuidores de partes.

Balanço

O Conselho de Administração deverá, dentro de


3 mezes a partir do encerramento do exercicio social,
apreseutar á Assembléa o balanço, para a discussão
a approvação. Por isso logo que encerrado cada exer-
cicio deverá organizar o dito balanço, e apresental-o,
comas documentos justificativos, pelo menos um
mez antes do dia fixado para a assembléa geral, ao
conselho fiscal, afim de poder ser feita pelo mesmo
a verificação legal, com o respectivo parecer, mais a
compilação relativa ao relatorlo que, juntamente ao
balanço, deverá ser depositado na séde social, fican-
do assim á disposição dos socios durante 15 dias que
precederem a assembléa geral.
O balanço deverá revelar fielmente a consistencia
do activo e do passivo sociaes ; deverá ser organizado
em forma simpics e synthetica, porém clara, e assig-
nado pelo Conselho de Administração e approvado pelo
Conselho fiscal, o qual deverá fazer a declara-
ção de <<conforme a verdade>>.
O capital deve ser indicado segundo a somma ef-
fectivamente entrada e o balanço deve indicar com
evidencia e verdade os lucros realmente conseguidos e
os prejuizos soffridos, a somma dos pagamentos ef-
fectuados a dos que estiverem em atrazo, e a situa-
ção das partes.
O facto d’um administrador organizar balanços
— 38 —

falsos pode dar lugar não sómente á responsabilidade


civil, mas tambem á rcsponsabilidade penal, caso oc-
corra a fallencia causada por distribuição de juros fi-
cticios, relativos ás partes.
O balanço é divido em duas partes, uma relativa
ao activo, a outra ao passivo.
Na parte do activo, baseada nos inventarios, e
com as indicações do respectivo valor, devem seguir-se
os immoveis, os moveis, os titulos de credito, cre-
ditos, dinheiro e numerario de caixa, mercadorias nos
armazens, etc.
No passivo figuram todas as despesas, os de-
bitos, etc. As mercadorias e os titulos de credito obe-
decem a estimativa pelo valor justo de acquisição; e
na estimativa dos bens destinados no exercicio finan-
ceiro (machinas, etc.) deve, do valor do preço de
acquisição, ser deduzido o deperecimento que se cal-
cula anno por anno. Ao valor dos creditos se ajun-
tam os interesses amadurecidos, e para determinar o
valor exacto dos proprios creditos dever-se-á, outro-
sim, levar em conta a solvabilidade dos devodores.

Deposito e Publicação do Balanço

Reunida a assemblea, de conformidade com as


normas indicadas nos estatutos legalizados, e appro-
vado o balanço, dever-se-ia providenciar no sentido de,
dentro de 10 dias, serem enviadas ao registo ou auto-
ridades competentes, ou para onde a lei exigisse:

a) uma cópia do processo verbal da as-


sembléa geral que approvou o balanço;
c) tres cópias do balanço com as
assignaturas dos membros do conselho de ad-
ministração e do conselho fiscal.

Uma cópia do balanço devia ser conservada pelo


egistrador (Junta Commercial ou Cartorio) e pelo mês-
mo deviam ser restituidas as duas outras com a declara-
ção de ter sido effectuada a respectiva annotação no
registo que fosse proprio das cooperativas, e essas
cópias, dentro do praso de 15 dias da data do recebi-
mento justificado da annotação feita, deveriam ser
publicadas a cargo da cooperativa por estenso no
- 39 -

Diario Official (dada a differença de tempo necessaria


para a immediata remessa pelo correio) e por extracto
no jornal designado pelos Estatutos para a publicação
dos actos sociaes. Taes documentos deviant ser isen-
tos do sello.

A responsabilidade, por falta de dcposito regular


dos balanços, devia recahir não sómente sobre os
membros do conselho de administração, como do con-
seiho fiscal, e bem assim quanto no atraso na apre-
sentação do balanço. Levando-se em conta a data jus-
tificada de expedição dos documentos, na Italia a
multa é de 50 liras por cada dia de atrazo e por cada
administrador.
Além da pratica acima referida, que ainda não
applicamos, as cooperativas deveriam enviar uma có-
pia do balanço á municipalidade, com o visto do re-
gistro fiscal dentro do prazo de 4 mezes do encer-
ramento do exercicio, sob pena de suspensão ou can-
cellamento no caso de falta de apresentação, afim de
ser afixada logo á entrada da municipalidade, bem á
vista do publico, bem como o acto constitutivo e es-
tatutos.
As cooperativas deveriam apresentar annualmente
dentro do mesmo praso, tanto á respectiva munici-
palidade, como ao registro fiscal, um mappa estatis-
tico do movimento geral, que deveria acompanhar o
balanço.

Distribuição de Lucros

Antes de qualquer distribuição é retirado um vi-


gesimo dos lucros, destinado ao fundo de reserva,
bem assim os 7% relativos as partes (no caso de não
haver lucro sufficiente, a sociedade só ficará em de-
bito até a concorrencia de 4% com as partes).
Nas cooperativas de producção, a distribuição dos
lucros é feita do seguinte modo:

a) uma percentagem para ser distribuida


na proporção dos salarios percebidos por ca-
da socio;
b) uma percentagem com o fim de ass-
istencia e previdencia mutuas;
c) uma percentagem para a fundo de be-
- 40 -

neficiencia, destinado a obras de caridade,


escolas a outras futuras, de propaganda ou
installação de cooperativas, que se desdo-
bram cyclicamente, nascendo uma das outras,
attendendo a identicas necessidades, bus-
cando novos adherentes em todas as classes,
sucessivamente, generalizando os benefi-
cios, sem nunca trahir os principios de alta
concordia. Os rochdaleanos, como as raif-
feisanos, não admittem o dividendo.

Salario dos Auxiliares

Os auxiliares deverão tornar-se socios, se já o


não forem, sendo descontada dos seus salarios uma
quota mensal destinada á assistencia e previdencia
mutuas. Os salarios deverão corresponder aos usuaes,
nunca menores, sendo o tratamento o mais delicado,
convindo lembrar os debates qtic tiverani lugar nas
Wholesales, como ficou dito.

Retribuição dos Administradores

Os emolumentos e idemnisações aos administrado-


res deverão ser fixados pelos estatutos ou pelo re-
gulamento interno das cooperativas, de accordo com
a respeetiva deliberação da assembléa.

Empregados

Os empregados são considerados como <<locata-


rios de obra>> e como taes devem estar sujeitos as
respectivas disposições. Uma vez que a Sociedade
Cooperativa é uma sociedade commercial, deve obser-
var até certo ponto analogo regimen de ordem para
as tarefas relativas ao serviço, como para a licencia-
mento dos empregados, embora a garantia mutua
prevaleça sem obstar a de que as finanças sociaes
precisem. . Sempre em vista o caso das Wholesales.
Cada empregado pode ser sujeito a um periodo
nunca maior de 6 mezes, de experiencia e de apren-
dizagem, na tarefa que exercer. Assim para o mes-
mo tornar-se socio, pois sem selecção a cooperativa
corre risco.
- 41 –

Excedido esse periodo de prova, se quizer rescin-


dir o contrato de emprego, tanto o empregado, como
a sociedade, deve dar um aviso ou uma indemniza-
ção correspondente, sempre que a cessação não seja
determinada exclusivamente por força maior.
O minimo do aviso ou indemnização correspon-
dente é determinada pela seguinte forma, quando é a
sociedade que licencia o empregado:
para as directores technicos ou administrativos:
se têm menos de 2 annos de serviço (no computo da
antiguidade de serviço não se leva em conta o perio-
do de prova), 4 mezes; do 2 a 5 annos de serviço, 5
mezes; de 5 a 12 annos de Serviço, 6 mezes; de 12 a
14 annos de serviços, 7 mezes; etc.
para os caixeiros viajantes, chefes de serviços
especiaes e semelhantes: se têm 2 annos de serviço,
45 dias; de 2 a 5 annos, 3 mezes; do 5 a 12 annos,
4 mezes; do 12 a 14 annos, 5 mezes; etc.
para os caixeiros de pesquizas ou negocio e outros
empregados de gráo commum: se têm menos de 2 an-
nos de serviço, 30 dias; de 2 a 5 annos 45 dias; de 5
a 12 annos, 3 mezes; de 12 a 14 annos, 4 mezes etc.
O calculo dos mezes ou dos dias do aviso deve
ser feito a partir da metade ou do fim de cada mez.
A participação nos lucros será equiparada aos
vencimentos.
Quando é o empregado que se licencia, deve dar
o aviso, ou a indemnização correspondente será redu-
zida pela metade.
No caso de morte do empregado, os que viviam
a seu cargo têm direito aos 3/5 da indemnização.
No caso de licenciamento, a sociedade deverá dar
ao empregado o certificado do serviço prestado, con-
tendo a indicação do tempo durante o qual ficara a
serviço da sociedade e a natureza das attribuições
desempenhadas.
A chamada ás armas em caso de leva, traz a ter-
minação do contrato.
Ao enves, no caso do chamada para o serviço
militar, a sociedade deve conservar o lugar do empregado
e lhe deve pagar o ordenado de accordo com a
lei e os costumes e o numero de empregados. Se se
tratar de sociedade com um só empregado, as condi-
- 42 -

ções, os vencimentos e indemnização se reduzem pela


metade.
Minimo annual de repouso:
de 10 a 20 dias, segundo a antiguidade do empre-
gado, com direito nos vencimentos. E' facultada á
sociedade a escolha da época. O periodo de repouso,
em caso de urgencia poderá ser fraccionado.
O empregado não poderá tratar por conta pro-
pria ou de terceiros negocios com a sociedade, sob
pena de licenciameuto e damnos.
E´ obrigação do empregado de não abusar, na
forma de concorrencia desleal, nem durante nem de-
pois de acabar o contrato do emprego, das informa-
ções que affectam a sociedade.
O numero das horas do serviço extraordinario
que o empregado deverá prestar será determinado no
acto da sua admissão e de accordo com a lei. Cada
hora de serviço exigida a mais será considerada como
serviço extraordinario e compensada numa medida su-
perior de pelo menos, 1/3 da do serviço ordinario.
As controversias sobre o contrato de emprego
serão submetidas á deisão de cinco arbitros, sendo
dois escolhidos por cada parte e o quinto, pelos qua-
tro escolhidos>>.

Demissão e exclusão dos socios

<<O recesso é admissivel nos casos taxativamente


previstos pelo acto constitutivo e pela lei, e só se tor-
na valido mediante declaração annotada no livro dos
socios pelo socio que se retira, ou notificada á socie-
dade por acto Judicial, Doutra forma não tem valor
legal e o socio continua vinculado á sociedade e, com
responsabilidade perante terceiros, no que respeite á
sociedade. A declaração de deverá ser feita
no fim do anno social corrente, desde que o seja antes
do fim do mez de setembro. Se fôr mais tarde o so-
cio ficará viuculado tambem no anno seguinte;
(na Italia os documentos concernentes ao acto de
recesso são isentos do imposto de sello).
A responsabilidade subsidiaria do socio que se
retira não fica isenta das obrigações, durante 5 na-
nos a partir do dia da demissão legal, sendo as partes
- 43 -

a unica garantia dessa responsabilidade effectiva,


limitada.
Para poder pronunciar-se a exclusão legal, os
factos que a provoquem devem ser legalmente verifi-
cados. Tratando-se d'uma deliberação bastante gra-
ve, se torna necessario que se não possa conceber a
minima suspeição de abuso da parte do maior nu-
mero ou de intenção de açambarcamento da socieda-
de por um grupo, a que devia ser pu-
nido.
Assim, os casos de exclusão injustificavel, de
fallencia, interdicção ou inhabilitação deverão depen-
der de sentença judicial. (Mas, antes de tudo é pre-
ciso que se note que a cooperativa não deve abando-
nar o seu socio infeliz como homem ao mar...)
<<A exclusão deve ser communicada ao socio inte-
ressado, por escripto>>.

Dissolução e liquidação da sociedade

<<A deliberação acerca da sociedade é pronuncia-


da pela assembléa legalmente constituida, de accordo
com os estatutos, autes do termo estabelecido pelo
acto constitutivo.
Outrossim, a dissolução ocorre, provocada pelas
seguintes causas:

1) por ter decorrido o tempo de duração;


2) por falta ou por cessação do objecto
da sociedade, ou por impossibilidade de
consegui-lo;
3) por fallencia da sociedade, ainda que
seguida de concordata;
4) pela perda inteira do capital;
5) por fusão com outras sociedades.

A dissolução por haver terminado o termo de


duração, não tem necessidade de publicação para an-
nunciar a cessação por constar notoria e implicitamen-
te do acto constitutivo; dever-se-á porém notificar que
a sociedade se acha em liquidação, a autoridade
petente e ao registro fiscal. Se a dissolução fôr an-
terior a esse tempo a deliberação tomada de accôrdo
- 44 -

com as normas estatutarias, deverá ser depositada


dentro de 15 dias a partir do dia em que foi delibe-
rada a dissolução, pela autoridade competente, afim de
ser verificado o cumprimento das condições estabele-
cidas pela lei, e para a autorização da transcripção
no registro da sociedade, affixação a publicações de
conformidade com o codigo de commercio.
A deliberação de dissolução só tem effeito a
respeito de tcrceiros, um mez depois da sua publi-
cação.
Dissolvida a Sociedade, os administradores não
podem empreenhender novas operações, no caso con-
trario contráem responsabilidade pessoal e solidaria
pelo negocios empreendidos; porém até o momento
em que a gestão não é assumida pelos liquidantes,
ficam depositarios dos bens sociaes e devem provi-
denciar a respeito dos negocios urgentes.
Todos as actos que tenham lugar depois da de-
liberação de dissolução devem indicar que a Socie-
dade está e em liquidação. Deliberada a liquidação da
Sociedade, desde que os Estatutos não determinem o
modo da liquidação e do reembolso das partes (a
quota de entrada indo para a reserva e esta sendo
indivisivel, aquella não poderá ser reembolsada), do
reembolso dos juros e bonificuções, sendo indivisivel
o social que passa á Caixa Economica
para ser empregado na obra da cooperação desisnteres-
sada, a assembléa deverá proceder a nomeação dos
liquidantes e designar as faculdades e os modos de
liquidação, segundo as normas fixadas pela lei.
Os liquidantes poderão ser escolhidos entre os
socios e não socios ; os proprios administradores po-
derão ser designados para tat cargo.
Desde que não haja unanimidade de votos dos
socios para a nomeação dos liquidantes a propria
nomeação, a instancia dos interessados poderá ser
feita pela autoridade judiciaria; ; e no caso de falta
d'um opu mais liquidantes, por morte, fallencia,
interdicção, inhabilitação, renuncia ou outro qual-
quer motivo, a subrogação deve fazer-se pela forma
estabelecida para a nomeação.
Tanto o acto do nomeação, quer feito pelos so-
cios, quer por sentença do tribunal competente, como
o das respectivas subrogações, devem ser deposita-
- 45 -

dos e publicados segundo as mesmas normas dos ou-


tros áctos, para os quaes é obrigatorio o deposito
legal competente.
Os liquidantes logo que assumida a funcção,
devem, juntamente aos administradores da sociedade,
organizar o inventario e balanço, que levarão a as-
signatura de uns e de outros, e que devem revelar
exactamente o estado activo e passivo da sociedade.
Os liquidantes deverão receber e custodiar os
livros que lhe forem consignados pelos administra-
dores, o patrimonio e os papeis da sociedade, e dar
exacto registro, na forma de diario, e por ordem de
data; de todas as operações relativas á liquidação, e
informar os socios, se forem solicitados sobre o esta-
do e o modo de execução da liquidação.
Os liquidantes não podem empreender nenhu-
ma nova operação de negocios, nem pagar aos so-
cios neuhuma somma sobre a quota que lhes poderá
caber, até que não sejam pagas os credores da socie-
dade, salvo porém no caso de existirem disponiveis
pelo menos dez por cento, além do que ocorrer para
a satisfação de todas as obrigações sociaes vencidas
ou por vencer.
E salvo as menores ou maiores faculdades con-
sentidas pelos socios, os liquidantes podem legal-
mente:
apresentar em juizo e concordar a respeito dos
interesses da liquidaçfto em cada instancia civil
e penal;
effectuar e cumprir as operações de commercio
relativas á liquidação da sociedade;
vender em leilão os immoveis sociaes;
vender em leilão ou por offerta particular a tam-
bem em massa cada propriedade mobiliaria da so-
ciedade;
fazer transacção e assumir compromissos;
liquidar e exigir tambem no caso de fallencia do
devedor os creditos da sociedade, e dar quitação;
assumir por conta da liquidação obrigações e
contrahir emprestimos nào hypothecarios, a em geral
effectuar os actos necessarios á liquidação dos nego-
cios sociaes.
Terminada a liquidação, os liquidantes organi-
- 46 -

zam o balanço final, indicando o que cabe a cada


parte na divisão do activo.
E se a liquidação durar mais de um anno, os li-
quidantes devem fazer o balanço annual segundo as
disposições legaes e de conformidade com o acto
constitutivo e os Estatutos.
O balanço actual ou final acompanhado do rela-
torio do conselho fiscal, deve ser depositado no Tri-
bunal competente para ser publicado na mesma for-
ma do balanço do exercicio dos administradores.
Decorridos 45 dias, 20 para a apresentação das
reclamações da parte dos socios e 15 para sua deci-
são, a partir da publicação, sem que tenha sido im-
pugnado, o balanço se tem por approvado por todos
os socios, e os liquidantes, feita a distribuição do
activo social, têm por cumprida a sua missão salva
a sua responsabilidade.
Cumpridas as operações de liquidação e de dis-
tribuição das sommas jacentes, os livros da socieda-
de devem ser depositados e conservados durante 5
annos no Tribunal onde qualquer pessoa que tiver in-
teresse poderá examinar, antecipando as despezas
occorrentes.
Quando os fundos disponiveis da sociedade não
sejam sufficientes para pagar o passivo exigivel, os
liquidantes Têm obrigação de solicitar aos socios as
sommas necessarias para esse fim, quando os socios
forem obrigados a isso segundo a natureza da socie-
dade, ou forem devedores a sociedade, do pagamento
das quotas ou partes subscriptas.
Sobre os liquidantes recáen, corn a mesma res-
ponsabilidade, os deveres dos administradores.
Quanto á isenção de imposto de sello, relativa
ás cooperativas, poderia ser estensiva ao acto de dis-
solução>>.
Eis o que nos ensina G. Zardo, em <<La pratica
delle Societá Cooperative>>, salvo o que accrescenta-
mos ou adaptamos, no proprio interesse da instituição
entre nós outros. (Vide Bibliographia).

Em Janeiro de 1927.
Simples contribuição para as
normas relativas
— A'S —

Caixas Ruraes de credito cooperativo, caixas


locaes e caixas centraes nos Estados.

De accordo com a lei e a doutrina

_______

Capitulo 1°

CAIXAS RURAES LOCAES DE CREDITO COOPERATIVO

Cada individuo, a menos que não seja um alei-


jado, tem os meios proprios para prosperar; uma so-
ciedade, a menos que não seja de vagabundos, tam-
bem os tem, e por meio da cooperaçäo ella consegue
coordenar as suas actividades.
1 — As caixas ruraes de credito cooperativo de
solidariedade ou responsabilidade illimitada (caixas
locaes) ou limitada (caixa centraes) poderão consti-
tuir-se com a adhesão de entidades moraes, sociedades
cooperativas de todas as especies, desde que legaes,
sociedades de assistencia mutua, sociedades de segu-
ros agricolas mutuos, pessoas adultas civilmente capa-
zes, exercendo profissão honesta, a mais humilde
que seja, ou vivendo digna, modestamente das suas
rendas, residentes (pessoas) ou com séde (sociedades),
nas circumscripções das caixas. A circumscripção da caixa
local é o municipio, e a da Central, o Estado,
devendo-se evitar a concurrencia entre os estabeleci-
mentos da federação do credito agricola, de accordo
com a presente norma, sendo comtudo permittido
mais de uma caixa local nos municipios que o exigi-
rem pela falta de meios de communicação.
- 48 -

As sociedades cooperativas fedaradas por espe-


cie a bem assim as de seguros agricolas mutuos tam-
bem federadas, só poderão adherir ás Caixas Ceutraes
por meio da Central da respectiva federação. As co-
operativas isoladas, que não façam parte de nenhuma
federação, poderão adherir as Caixas Locaes nos
respectivos municipios, e no caso de não haver cai-
xa local proxima ou na sua circumscripção, poderão
adherir a Central da federação das Caixas nos Es-
tados.
A Caixa Central só acceita socios singulares ou
individuaes, se na circumscripção municipal em que
os mesmos residirem, nfto existir cain local. Mas,
o socio singular só paga a quota de entrada de
100$000, a prestações mensaes ou d’uma vez, sem di-
reito a juros nem ao voto deliberativo, visto ser ad-
mittido como socio provisorio, pelas circumstancias,
até que se funde uma caixa local no municipio em
que residir. Caso, no municipio onde a Central ti-
ver séde, não houver caixa local, a Central tratará
de promover logo a sua fundação. A quota de entra-
da que paga o socio singular, excepcional, não é re-
embolsavel. Esse socio provisorio não tem direito
do voto.
2 — As Caixas ruraes de credito cooperativo
têm por principal objecto promover eutre seus mem-
bros o credito a juro baixo, com solidas garantias,
tendo as emprestimos nas caixas locaes o caracter de
simples adiantamento, a praso conveniente para
cada operação devidamente regulamentada e com di-
reito a reforma, exercendo a caixa local fiscalização
directa sobre o emprego dos emprestimos, devendo
80% dos emprestimos, na caixa local, destinar-se ao
amanho das terras, compra de material agricola, se-
mentes, adubos, saccaria etc.
3 — O capital ulteriormente constituido ou no
inicio das caixas ruraes de credito cooperativo, nas
locaes, que tambem se installam sem capital, não po-
derá ser formado por meio de quotas nem partes, nem
acções, pois a responsabilidade illimitada se torna a
garantia suprema para o concurso de depositos, só a
praso fixo, donativos, emprestimos officiaes ou não,
não existindo joia nenhuma, dada a natureza sui-
generis da caixa local (Raiffeisen, typo adoptado por
49 -

Luiz-Durand); nas Centraes, só poderá ser constituido


por quotas de admissão, e partes sem direito a divi-
dendos, porém com o juro maximo do 7% annuaes.
A Sociedade adherente, qualquer que seja o numero
de partes que possua, tem direito a um só voto na
Assembléa geral que fixará os limites das partes que
não poderão exceder os legaes, fixadas especialmente
para a Central das Caixas, ou para uma federação.
As partes terão o valor maxima de 100$000, po-
dendo ser pagas, por meio de prestações até ao praso
de um anno, sen lo que para as entidades collectivas
de electrificação dos campos e outras cooperativas ru-
raes, as partes são tomadas ou subscriptas na razão
da capacidade financeira de cada uma dessas entida-
des, podendo ser paga durante o mesmo praso, ou
d'uma vez, a quantia total das partes subscriptas, ou
de accordo com os estatutos. O juro das partes só
contará na razão da quantia paga, e no exercicio se-
guinte ao em que for encaixado o importe relativo ás
partes. As partes são intransferiveis, salvo em ca-
sos excepcionaes que ficam a criterio do Conselho de
Administração da Caixa Central. Esses titulos não
têm curso na bolsa.
4 — As Caixas ruraes locaes (Raiffeisen, typo
adoptado por Luiz Durand, poderão instaliar-se de
accordo com os arts. 23 e 25 do Decreto nº. 1.637,
de 5 de Janeiro de 1 907, isto é, poderão fundar-se
sem capital ou com donativos, de conformidade com
as estatutos annexos, e as medidas legaes, para o re-
gistro no cartorio local e no Ministerio da Agricul-
tura, estabelecida a circumscripção municipal ou dis-
trictal, no caso de difficuldades de communicação,
podendo, no futuro, com o engrandecimento progre-
ssivo, abranger as districtaes todo o municipio, no
caso de se fundirem numa unica, sendo, porém re-
commendavel que continuem a manter pequenas cir-
cumscripções. .
5 — As Caixas Centracs poderão installar-se de
accordo com o art. 24 do Décreto nº. 1.637, de 5 de
Janeiro de 1907, por meio de quotas e partes, além de
observadas as medidas legaes para o registro no car-
torio local e no Ministerio da Agricultura.
6 - As Caixas Locaes formarão grupos em cada
Estado com uma Caixa Central da federação, no res
- 50 -

pectivo Estado, sem fazer concorrencia a nenhuma


Caixa da sua federação.
7 —- Independentemente da Central financeira,
o grupo de caixas locaes, em cada Estado, manterá
um Escriptorio technico de propaganda, fiscalização
verificação, ao qual serão enviados os balancetes, ba-
lanços, mappas estatisticos do movimento dos empres-
timos mutuos, de todas as operações, prestando to-
das as informações exigidas pelo Escriptorio que
exercerá a inspecção a contrôle local, das caixas lo-
caes e da central, sendo aos verificadores facilitado
tudo, ficando á disposição dos mesmos todos os livros
de escripturação, averbamentos e contabilidade, sem
causar transtorno á marcha dos serviços das caixas,
sendo que a caixa central tambem exerce a fiscalização
que lhe convem. Esses escriptorio não impede a fun-
dacção do escriptorio geral, de que trata a al. 5 do n.
33 infra.
8 — Por virtude da fiscalização official, deviam
ficar sem nenhum effeito official os estatutos das
Caixas Raiffeisen e bancos populares contidos nos
Annaes dos Congressos do Credito Agricola, publi-
cados de 19 de março de 1924 em diante, sendo
adoptados os constantes nos annexos (1) a demais
que para outras cooperativas forem publicados pela
propaganda official sagradora da sã doutrina.
9 — As caixas ruraes locaes de credito coopera-
tivo, poderão conceder:
1° A todos os socios, a só aos mesmos adianta-
mentos a praso curto cuja duração não deverá exce-
der a da operaçao qua motivar o emprestimo conce-
dido, sendo esses emprestimos pessoaes, devidamente
garantidos.
2° Unicamente aos socios, emprestimos a praso
medio destinado á compra de gado, material agricola,
reconstrucção da pequena propriedade rural. Estes
emprestimos terão um praso razoavel, a prestações
annuaes, sob garantias particulares, taes como, a
caução, warrants, penhor agricola, hypotheca;

_______
(1) Os estatutos, a que se refere o autor, deixaram de ser
annexado, , porem se encontram na Secção do Credito Agricola da
Directoria da Inspecção e Fomento Agricolas.
- 51 -

3.° Aos seus membros singulares e collectivos,


emprestimos a praso longo, nas condições do art. 11°
infra. Por ventura, no caso de não haver caixa local
capaz de facultar devidamente taes emprestimos, as
caixas centraes Estadoaes poderão excepcionalmente
conceder directamente as emprestimos inacessiveis
ás caixas locaes, porém dentro dos limites fixados
pelos estatutos ou as Assembléas geraes e as presen-
tes normas.
9—A - Cada socio só tem direito a um só voto
deliberativo, na Assemblea Geral da Caixa Local.
10—Para a concessão dos emprestimos a praso
curto, as Caixas locaes, ou a central para os socios
provisorios ou domiciliados no municipio onde esta
tiver sua séde, poderão acceitar a fiança solvavel,
desde que o tomador do emprestimo ou adiantamento
seja tambem solvavel.
Para a concessão de emprestimos a praso medio
as caixas locaes, ou a central acceitam compromissos
especiaes, fixando as condições do emprestimo, as ga-
rantias offerecidas e a forma de reembolso. As en-
tidades moraes, consorcios, sociedades cooperativas
legalmente-constituidas e idoneas, sociedades de
seguros agricolas mutuos e assistencia mutua, pode-
rão ser socios das caixas locaes, só no caso de não
pertencerem essas sociedades a nenhuma federação;
no caso affirmativo só as centraes das respectivas fe-
derações de taes sociedades poderão adherir á Caixa
Central do grupo estadoal. Cada entidade collectiva
terá, quer na Caixa Central ou na Local, um repre-
sentante que não poderá fazer parte da administração
e que—responderá respectivamente pela entidade col-
lectiva, perante a caixa central ou a Local, com di-
reito ao voto deliberativo nas Assembléas. Outrosim
as entidades collectivas só poderão obter emprestimos
a praso medio, das caixas, se o permittirem os esta-
tutos e sob garantias sufficientes.
11—Para a concessão de emprestimos singulares
e collectivos a praso longo, as Caixas Locaes, como
a Central, exigem como garantia, uma inscripção hy-
pothecaria. O maximo singular e o total desses em-
prestimos, que só se farão quando houver exuberan-
cia de capitaes, pois são os pequenos emprestimos que
predominam nas caixas ruraes, serão fixados pela As-
- 52 -

sembléa Geral. As amortizações serão annuaes e a


duração será de 10 annos, sendo os juros fixados pela
Assembléa Geral, não devendo a edade do socio con-
cessionario exceder de 60 annos, sendo o producto
desses emprestimos destinados a obras ruraes nos si-
tios e pequenas fazendas, á transformação e recon-
strucção de pequenas propriedades.
12 — As Caixas Locaes só acceitam depositos a
praso fixo de qualquer—pessoa, depositos cuja du-
ração permitta o reembolso dos emprestimos a praso
curto, em que só poderão ser empregados os deposi-
tos, apezar da doutrina que prega o contrario...
13 — As pequenas propriedades ruraes, cuja hypo-
theca permitte á caixa rural a emprestimo a praso
longo, deverão ser respeitadas como bens de familia,
a que será previsto por occasião da hypotheca, desde
—que haja herdeiros, filhos menores do proprietario.

CAPITULO II

DAS CAIXAS RURAES CENTRAES DE CREDITO COOPERATIVO

14—As caixas ruraes centracs do credito coope-


rativo, têm por fim:
1° facilitar as operações a praso curto, medio e
londo effectuadas pelos membros das caixas Locaes
de credito cooperativo, residentes nas respectivas cir-
cumscripções das caixas locaes e garantidas pelas
mesmas:
2º servir de intermediarias para todos os effeitos
financeiros entre as governos, a particular, as caixas
locaes e as sociedades cooperativas e de seguros mu-
tuos agricolas, e entidades moraes, adherentes.
15 — As caixas centraes poderão acceitar depositos
a praso fixo e abrir conta corrente garantida, accei-
tar saques e saccar contra as caixas locaes, desde que
se trate de quantias destinadas a operações neces-
sarias á lavoura, sem nenhum caracter de especulação
deprimente para as lavradores, nem contraria ao in-
teresse publico.
16 — As caixas centraes não poderão acceitar
adhesão a não ser de caixas locaes, entidades moraes,
sociedades cooperativas, Sociedades de seguros agri-
- 53 -

colas mutuos, com séde no Estado respectivo, e bem


assim as mutualidades de assistencia e previdencia.
17 — As centraes redescontam os emprestimos,
mediante endosso da caixa local, aos socios desta.
Podem encarregar-se de qualquer pagamento ou co-
brança a serem feitos no interesse das caixas locaes
e socios singulares e collectivos.
Podem fornecer ás caixas locaes adiantamentos
necessarios á constituição de fundos de movimento:
taes adiantamentos não poderão exceder de dez vezes
o montante do valor nominal das partes tomadas
pela caixa local, na caixa central respectiva, sendo
que o numero dessas partes, para cada caixa local ou
entidade cooperativa ou mutua, deve ser proporcional á
capacidade financeira dos institutos adherentes.
18 — Os representantes das caixas locaes e socie-
dades adherentes, tem direito a um só voto, qualquer
que seja o numero de partes que—possuam as socie-
dades por elles representadas; os representantes só
poderão representar uma outra sociedade adherente.
Os representantes das sociedades cooperativas adhe-
rentes não podem occupar cargos administrativos na
Caixa Central. Só aos representantes das Caixas locaes
cabem esses cargos.

Operações communs ás Caixas


Ruraes Locaes e Centraes de
Credito Cooperativo

19—As Caixas Locaes e Centraes poderão tomar


emprestimos necessarios para constituir ou augmentar
os seus fundos de movimento.
20-As Caixas Centraes para attender ás nece-
ssidades de certos e determinados emprestimos, cujas
garantias sejam as mais solidas, dentro das medidas
estatutarias e legaes, seria justo que os pudessem
effectuar por sucessivas emissões de obrigações ao
portador (debenture), logo que resgatada a ultima, lan-
çando-as no Estado pelos tramites convenientes, desde
que as meemas Caine attingissem urn gráo de idonei-
dade que pertnfttisse perfeitatnente tal transacção.
Attendendo a normas especiaes, a que a Caixa emis-

- 54 -

sora teria que se sujeitar, attribuiria a obrigação ao


portactor a qualidade de credor mutuante, não de so-
cio, por isso a obrigação teria facil—circulação e va-
lor mui baixo (10$ ou 20$), accessivel a todas as
bolsas, uma vez que afiançada a emissão de todo o activo
e bens da Caixa Central, sob a abonação da garantia
proporcional de todos os seus socios, caso fosse pos-
sivel mesmo tratar-se d'uma abonação com a garan-
tia illimitada, desde que houvesse acceitação por
parte das caixas e outras entidades cooperativas, que
apoiassem a emissão destinada a emprestimos a socie-
dades cooperativas de grande vulto com o fim de
fundar : grandes officinas metallurgicas ou de con-
strucção, industrias de lacticinios com a de productos
suinos annexa, serrarias, transformação de cereaes, ele
ctrificação dos campos; fabricas de beneficiar productos
agricolas; abrir armazens geraes nas praças em
evidencia; collocar a producção agricola em grosso
e no varejo das feiras e das cooporativas de consumo
ou do proprio armazem geral com secção especial
para o retalho; emprestar ás municipalidades, ao
Estado, á União, com fins determinados, e sob a
vigilancia da Caixa Central, a que fossem para a
aabertura de estradas de rodagem, viação ferrea, flu-
vial, maritima, mineração e colonização cooperativas
no Estado. Outrossim, para construcção de rêdes de
esgoto, drenagem, pontes, exploração de cooperativas
de electricidade, das pequenas cidades e villas, luz,
tracção e gaz, grandes frigorificos, usinas indispen-
saveis ao progresso industrial cooperativo.
As amortizações seriam por pequenas parcellas e
graduaes, duraute prazo longo. 0 valor total das
emissões da Sociedade não poderia exceder o do ca-
pital representado de facto pela garantia illimitada,
podendo a emissão exceder de tal capital, caso fosse
garantida pela União, a Estado ou o Municipio, sob
mutua fiscalisação dos poderes e entidades interessa-
das que elegeriam uma commissão fiscal de credores
obrigacionistas. A lei permitte que a somma do em-
prestimo seja superior no capital abonador, desde
que a differença entre o valor daquella e deste, seja
garantida com titulos de divida da União, dos Esta-
dos ou das Municipalidades, titulos cujo vencimento
coincida com o do propria emprestimo. O typo da

- 55 -

obrigação só varia conforme a serie, sendo indicado


no titulo o fim do emprestimo, sujeitando-se as
obrigações a uma disciplina propria de cada empres-
timo. A Caixa Central tiraria annualmente a sorte
d’um certo numero de obrigações resgataveis com
os proprios e progressivos recursos offerecidos pelo
pagamento regular do emprestimo, á Caixa Central,
pela empresa que lhe désse motivo á emissão, retiran-
do-se assim da circulação, amortizando-se as obriga-
ções progressivamente. Dos titulos deveria constar o
processo adoptado pela Caixa Central. Permittil-o-á
um dia alguma Ici especial para esse fim? Na Italia,
para a construcção de casas populares, é permittida
a emissão de obrigações e a abertura de secções pre-
diaes nas cooperativas de consumo e bancos popula-
res, cujos estatutos adoptamos em tempo no Credito
Agricola.
21—As Caixas Centraes poderão descontar titu-
los das caixas locaes, acceitar depositos a praso fixo,
tambem de não socios, saccar contra as caixas lo-
caes ou acceitar os saques destas, desde que se trate
de operações só em favor da lavoura e sem que of-
fenda os interesses publicos, no que respeite á cir-
culação preços de productos da lavoura que as co-
operativas devem tratar de collocar de modo que
cubram sufficientemente as despezas do productor e
não augmente injustamente a do consumidor, regu-
lando-se assim pela engrenagem das cooperativas o
verdadeiro commercio beneficente e mutuo, directa-
mente, entre o publico e o emporio cyclico coope-
rativo.
As caixas poderão receber em deposito ou custo-
dia titulos, objectos de valor, dos seus socios, manter
para os mesmos um serviço de pagamento e co-
brança.
As caixas poderão emprestar sobre penhor agri-
cola e warrants, sujeitos ao regimen legal.
A promissoria, exigindo uma contabilidade per-
feita, afim de não escapar o dia do protesto, está em
desaccordo com as condições das pequenas caixas lo-
caes, ainda pouco experientes, e bem assim com a
Central ou mesmo as locaes de maiores recursos (dis-
pensa a promissoria o sello para ser valida? e dis-
pensaria esses institutos de credito a isenção do im-
- 56 -

posto do sello ?), devendo os adiantamentos ou em-


prestimos ser pagos a prestações, o que obriga a uma
promissoria para cada amortização, quando bastaria
para o reconhecimento da divida apenas, uma obriga-
fiação civil simplesmente assignada pelo socio e o seu
dor, sendo ambos solvaveis. Outrosim, o warrant,
segundo o grande financeiro Luiz Duran <<deve ser
considerado não como garantia dispensando a caução,
porém como uma garantia para achar mais facil-
mente a caução, do mesmo modo que a hypotheca é
tambem boa gorantia, mas nem, todos a podem, offe-
recer, além disso encarecendo o emprestimo. Assim,
a caução é a garantia normal>>.
As outras operações, salvo a conta corrente agri-
cola, (vide <<Um brado de defesa da cooperaçao,>> pag.
17), isto mesmo em certas condições de prosperidade
da caixa, deveriam ser taxativamente interdictas ás
caixas locaes e centraes.
22 — As Caixas Centraes, relativamente as obri-
gações dos seus socios collectivos, têm privilegio so-
bre as partes que constituem o capital social.
23 — As sociedades cooporativas para se associa-
rem as caixas, nomeam um representante socio que
desempenha o mandato com os mesmos direitos e
deveres, salvo no que respeite a cargos administrati-
vos que os representantes das entidades collectivas
não podem occupar.

Funccionamento

24 — Os Estatutos determinam a séde a circums-


cripqflo a o Modo de administração das caixas ruraes
de credito cooperativo; fixam a natureza a extensão
das operações, as regras a seguir para modificações
dos estatutos de accordo com as disposições legaes, a
dissolução da sociedade, a composição do capital, a
proporção em que cada um dos membros (nas cen-
traes) pode contribuir para a constituição desse ca-
pital e as condições em que póde o socio se retirar.
Os Estatutos das caixas centraes de credito co-
operativo, fixam o maximo dos depositos a receber
em conta corrente ou a praso, o montante desses de-
positos, devendo sempre ser representado por um ac-
- 57 -

tivo, egual, Immediatamente realizavel no momento


das prestações. Os estatutos determinam a taxa de
juros das partes, que não podem exceder do 7%, nas
Caixas Centraes, nem exceder da taxa dos empresti-
mos concedidos aos socios. Os juros das partes po-
dem baixar com tendencia a zero.
Nenhum dividendo poderá ser attribuido ás par-
tes, e no caso de dissolução, a taxa de reembolso
não poderá exceder do valor fixado no momento de
constituir-se a sociedade. O interesse desde que te-
nha um limite fixado, deixa de ser dividendo. Esse
interesse que é o juro das partes pode ser fixado para
cada exercicio sem exceder de 7%.
25 — Cada anno, depois da liquidação das despe-
zas, do pagamento dos juros relativos aos compromis-
sos tomados pela sociedade, nos depositos o ao capital
social, os lucros passam, até á concorrencia dos 3/4
pelo menos, ao fundo de reserva, até que este chegue
ao dobro do capital social; logo que se attinja essa
proporção apenas 50% dos lucros liquidos passarão
annualmente ao fundo de reserva; então se tratará
de abaixar gradativamente os juros de emprestimos,
porém os de deposito nunca serão augmentados além
dos 5% annuaes.
26 — Os estatutos estabelecem a extensão e as
condições da responsabilidade cabivel a cada socio
nos compromissos tomados pela caixa.
Os socios não podem, por principio, livrar-se dos
seus compromissos senão depois da liquidação das
operações em movimento, na occasião em que se re-
tirarem. Em todos os casos a sua responsabilidade
subsidiaria termina cinco annos depois da data da sua
sahida.
27 — A responsabilidade pessoal dos membros en-
carregados da administração da caixa só terá lugar
no caso de violação dos estatutos, das presentes nor-
mas ou lei.
Além disso, no caso de falsas declarações rela-
tivas aos estatutos ou as qualidades dos administra-
dores ou director, os membros encarregados da admi-
nistração poderão ser perseguidos e punidos com uma
multa de Trata-se em tal caso, não da se-
melhança accidental do regimen da sociedade ano-
nyma com a cooperativa, porém da individualização
- 58 -

do proprio facto independentemente de qualquer for-


ma de sociedade.
28 — No caso de dissolução das Caixas, liquidados
os compromissos, feitas todas as despesas, o rema-
nescente será confiado á respectiva municipalidade,
em favor de alguma cooperativa digna do auxilio, no
municipio, ou como legado a uma outra sociedade
identica que seja criada no futuro, ou será entregue
a uma sociedade de assistencia mutua, na mesma lo-
calidade, ou á Caixa Economica mais proxima, sempre
para os referidos fins.
29 — As Caixas ruraes de credito cooperativo, re-
gidas pelas presentes normas, são sociedades de be-
neficiada mutua, sem fins especulativos. O inte-
resse apurado volta logo em favor dos socios que
abrangem as classes activas do municipio, sem ex-
cepção de nenhuma. As caixas drenam para a lavoura,
como propulsoras da intensificação agricola á altura
da civilisação, toda a economia frutifera dos muni-
cipios validos e honestos, para o conforto geral.
A contabilidade, nas caixas, deverá ser ensinada
rigorosamente, de accordo com as exigencias do codi-
go commercial e a natureza da sociedade cooperati-
va, baixadas as instrucções a esse respeito pelo Mi-
nistro da Agricultura, depois de constituida uma com-
missão de technicos sufficientemente a par dos fins
sociologicos da sociedade cooperativa, adoptando o
methodo mundialmente consagrado nas cooperativas
que a Directoria de Inspecção e Fomento Agricolas
saberá diffundir e fiscalizar directamente, tendo em
vista os modelos annexos, para as locaes (os an-
nexos foram supprimidos deste opusculo, por serem
mui estensos, como ficou dito).
As sociedades cooperativas e mutuas que podem adherir
as caixas ruraes de credito cooperativo e a qualidade dos
socios singulares e entidades moraes:
30 — Todas as sociedades cooperativas, federadas ou
não, respectivamente em cada Estado, régidas
pelas presentes normas, as sociedades de seguros
agricolas mutuos, os syndicatos, uniões e consorcios
agricolas ou proletarios, e bem assim qualquer pes-
soa honesta, residente no respectivo municipio da
caixa rural, ou sociedades mutuas para intensificar a
cultura pelo livro e por meio de cursos especiaes, pra-
- 59 -

ticos, poderão adherir ás Caixas ruraes, dentro das


presentes normas.
31 – A’s Caixas Locaes, com séde na circums-
cripção das mesmas, poderão adherir quaesquer socie-
dades cooperativas legalisadas e de conformidade com
a verdadeira doutrina. As sociedades agricolas coo-
perativas que as caixas locaes devem propagar,
são as seguintes: de lacticinios, eletrificação dos
campos, expedição e collocação da producção agricola,
de pequenas forjas, da compra de material para a
lavroura, adubos e o mais necessario oas socios, de
venda de gado e compra de reproductores, de explo-
ração em commum da terra, de serviço mecanico em
commum para lavrar, alem da assistencia com auxi-
lios mutuos, e das sociedades de seguro agricolas e
pastoris, mutuos. Deverão tambem propagar as coo-
perativas panificação,de consumo com uma secção
para a contrução de casas para os socios cooperati-
vas do trabalho, onde houver nucleos operarios, por
toda parte.
32 – A’s Caixas Centraes, podem adherir a coo-
perativas centraes das respectivas federações ou as
cooperativas mais avultadas, isoladas, que não sejam
associadas as caixas locaes. As sociedades coopera-
tivas que as Caixas Centraes deverão propagar: de
frigorificos, electricidade para tacção de luz, esgoto
e drenagem, gaz, mineração, colonisação, viação ferrea,
fluvial, maritima, colonisação, grandes officinas me-
tallurgicas, devendo ser ligadas todas essas socieda-
des á vertebra geral do credito cooperacionista, in-
clusive a de edificação e construcção, de producção
metallurgica entre profissionaes, de officios protela-
rios, devendo os empregados, directores, fiscaes,
administradores fazer parte dellas, como socios, rei-
nando entre todos os associados a mais profunda har-
monia, tendo todos acção de acordo com a natureza
das cooperativas, cujas intensificação as caixas devem
alimentar como propulsores de forças harmonicas e
fecundas, surgidas da economia geral e para o confor-
to commum, não sendo a cooperativa instrumento de
exploraçao mercantil dos socios, e sim um centro de
cordealidade commercial mutua. A cada Estado cabe
uma fedeeração propria, até chegar a Confederação
Nacional.
- 60 -

33—Os estatutos das sociedades cooperativas


adherentes as caixas, deverão especificar essencial-
mente:
1.° Que, no caso de haver partes, estas serão no-
minativas e reservadas exclusivamente a socios que
tomem parte activa, directa na cooperativa, que a taxa
de reembolso não excederá em caso algum do valor
inicial das partes, cuja transferencia só seth permitti-
da em casos especiaes c isso mesmo ficando a trans-
ferencia a criterio do conselho de administração.
2.° Que o socio, qualquer que seja a numero de
partes, tem direito a um só voto, podendo só repre-
sentar um outro socio.
3.° Que nenhum dividendo será attribuido ao
capital ou as fracções de capital, que a taxa de juro
das partes não poderá exceder de 7% e que os exce-
dentes annuaes, deducção feita das despesas geraes,
amortisações, juro relativo ao capital, fundo de
reserva, fundo de beneficencia, etc., não poderão ser
repartidos, se houver lugar, entre os cooperadores,
senão proporcionalmente ás operações feitas por
elles com a sociedade cooperativa, prevalecendo sem-
pre o interesse da obra collectiva progressiva e moral
sobre o interesse da pessoa do socio que alias nunca
deixa de ser devidamente amparada pela sociedade
que deve intensificar os beneficios, desdobrar-se d’uma
forma sempre coordenada.
As partes nunca poderão exceder do valor de
100$000 pagos d’uma só vez ou em prestações até um
anno ou mais, e a capital nunca poderá ser menor que
a importancia necessaria para a inicio da acção com-
mercial, industrial, profissional, beneficente e mutua
dos cooperadores sinceros, pioneiros da fecunda con-
cordia entre os justos, numa cooperativa por partes.
As sociedades cooperativas, legalisadas e de
grande vulto, poderiam fazer jus ao emprestimo con-
trahido na Caixa Central por meio de emissão de
obrigações ao portador, com o apoio solidario da fe-
deração das caixas ruraes de credito cooperativo, caso
a lei o permittisse um dia.
4.° Que a contabilidade será feita de accordo
com o codigo de commercio e o methodo adoptado
nas cooperativas mais idoneas, que servem verdadeira-
mente de modelo.

- 61 -

5.º Que as federações e cooperativas avulsas con-


tribuirão com uma quota mensal para criar um escri-
ptorio Central geral da propaganda e fiscalisação
mutua; em cada Estado, dentro dos principios verda-
deiros, doutrinarios e legaes. A esse escriptorio serão
enviados os balancetes e balanços afim de ser feito
um mappa estatistico geral do movimento das coope-
rativas sob os auspicios da presente norma.
No caso de ser a cooperativa federada, a central
do seu grupo se encarregará dessa remessa periodica.
Outrossim aos verificadores do escriptorio Central,
será facilitado o contrôle dos livros da contabilidade
e qualquer informação, prestando-se os verificadores
a corrigir os erros involuntarios, só accusando as
faltas graves, compromettedoras da acção coopera-
cionista.
Esse escriptorio, cujo caracter da entidade moral e
technica deverá patentear-se de facto, estará sujei-
to a inspecção dos governos, concernetes ás coopera-
tivas.
Haverá, por meio desse Escriptorio, deistribuição
de livros de contabilidade, talões e de tudo que fôr
necessario á escripturação, devidamente formulado,
mediante pagamento, encarregando-se o Escriptorio
da impressão dos relatorios, estatutos, circulares, ti-
tulos, etc., mantendo um orgão de informações e
propaganda estadoal.
34 – Das proprias federações ou grupos unidos em
cada Estado, deverá surgir a entidade central da con-
federação das caixas ruraes de credito cooperativo no
Brasil, vencidos os necessarios estagios para a ido-
neidade da propria confederação geral, e funcciona-
mento opprotuno da carteira official de redescontos,
que seja destinada ao credito rural cooperativo e que
se obrigue toda a engrenagem desse credito a manter o
regimen constante das presentes normas.

Inspecção e contrôle – Disposições


geraes
35 – O contrôle permanente da inspecção das
caixas ruraes de credito cooperativo poderá ser exer-
cido com a verificação local dos livros da contabili-
- 62 -

dide das caixas e de accordo com as instrucções bai-


xadas pelo Ministerio da Agricultura, que poderia
aproveitar a engrenagem das Inspectorias Agricolas
nos Estados para facilitar a fiscalisação e inspiran-
do-se no modelo Duraud-Raiffeisen adoptado pelas
presentes normas.
36 — O Ministerio da Agricultura poderia apresen-
tar cada anno, ao Presidente da Republica, um rela-
torio sobre as operações feitas pelas Caixas Centraes,
acompanhadas de quadros estatisticos do movimento
dos emprestimos ás cooperativas, por meio das Cai-
xas Centraes e locaes, especificando-se a natureza
dos emprestimos, dando informações geraes das coo-
perativas propulcionadas pelas federações das Caixas,
dentro do regimem consagrado pela evolução que in-
tensifica a acção doutrinaria, nacional a internacio-
nal. (1)

Em Janeiro de 1927.

(1) Esta parte, possue certa aualogia com o regimen


francez em vigor, sendo um excerpto da Memoria sobre as
Caixas-Raiffeisen, compilação apresentada pelo autor, por in-
dicação da Directoria de Inspecção e Fomento Agricolas do
Ministerio da Agricultura, ao <<Congresso do Café>>, reunido
em S. Paulo pela passagem do 2° Centenario do Cafeeiro no
Brasil. Outrossim, cabe ao autor agradecer ao Dr. José Eurico
Dias Martins, mui digno Director Interino do Fomento, na
auzencia do preclaro Dr. Arthur Tortes Filho, o honroso
despacho que baixou, no sentido de ser louvada a alludida
"Memoria". O autor pretende publicar opportunamente, caso
lhe seja licito, os estatutos a regulamentos por elle adoptados
e entregues no Serviço do Credito Agricola, para os effeitos
da propaganda cyclica da Cooperação, reunindo esses docu-
mentos num só volume, obra de compilação que será devida-
mente corrigida e commentada, sem esquecer os respectivos
modelos de contabilidade propria da cooperativa de consumo
e de panificio, que foram adaptados das cooperativas Italia-
nas, conforme Ficcarelli e Garibotti, mais os regulamentos das
operações dos bancos populares, coisa que parace tar sido es-
quecida pelos nossos especialistas no assumpto... como ou-
tras mais de que só agora se começa a tomar conhecimento.
Antes tarde que nunca! Por isso o autor não chora as ma-
drugadas que o encontraram inclinado sobre esse trabalho
arduo, porém compensado com a confiança dos seus chefes e
dos seus esforçados collegas.
J. S. B.

ESTATUTOS
DA
Sociedade Cooperativa de Compra e Venda
dos Lavradores de...............
Sociedade de Capital Variavel

(Adaptação de modelo francez e italiano,


por J. S. Britto)

CAPITULO 1°

Organização, Fins, Séde e Duração.

Art. 1—Entre Os lavradores de ...............cons-


titui-se uma cooperativa de compra e venda de ca-
pital variavel responsabilidade limitada, sob a de-
nominação de <<Sociedade Cooperativa de compra e
e venda dos lavradores de.......................>>

Art. 2—A Sociedade se propõe:


a) vender os productos agricolas dos socios;
b) abrir um armazem de consumo para vender aos
socios os generos ou mercadorias de que neces-
sitarem, sendo admittida tambem a venda ao publico
no intuito de propagar os meios moraes da instituição;
c) melhorar os meios de cultura dos socios, de
educação pratica dos seus filhos, de instrucção geral
e de divertimento;
d) criar uma carteira de auxilios mutuos com
peculio, entre os socios.
e) abrir uma carteira do CREDITO GRATUITO
para os lavradores. Essa carteira poderá receber de-
positos a praso fixo, de accordo com o art. 25 do
- 64 -

decr. n. 1637 de 5 de jan. de 1907; o pequeno juro


de deposito accrescido das despesas será o juro co-
brado pelos emprestimos pessoaes da carteira aos
lavradores socios e só para serem empregados em:
compra de instrumentos ou utensilios agrarios, ani-
maes, sementes, salarios, transporte, saccaria, arame,
azuanho em geral. Para esse fim, no caso dos de-
positos serem insufficientes, a sociedade poderá en-
trar com fundos limitados pela assemblea geral e
tambem poderá tomar compromissos em condições
favoraveis no sentido de satisfazer os pedidos dos em-
prestimos consentaneos, de accordo com os fins e
meios da carteira, respondendo as socios que se ser-
virem desses emprestimos negociados fóra do ambi-
ente social, com juros e despesas exigidas, sendo que
a qualquer somma emprestada deve corresponder a
garantia a mais solida, perdendo o socio todos os
direitos peculiares ao seu titulo, no caso de inobser-
vancia dos compromissos não somente tomados com a
carteira como com a sociedade. O praso de deposito
será de 12 mezes, e de emprestimo 9 com amortiza-
ções trimestraes, calculados os juros sobre a quantia
devida de facto.
Art. 3 — A Sociedade tem a sua séde.............
e a duração de 30 annos.

CAPITULO I I °

Capital social Quota-partes.

ART. 4. O Capital inicial é possitivamente fixado


em................ representado por .................................... quota-
partes de 50$000 cada uma.
ART. 5—O Capital é susceptível de augmento,
quer pelos depositos successivos feitos pelos primei-
ros socios, quer pelos dos novos membros.
Art. 6—As quota-partes são pessoaes nomina-
tivas e individuaveis; a Sociedade reconhece um só
proprietario para cada uma dellas; a responsabili-
dade de cada socio se limita ao valor das quota-
partes subscriptas. Não têm curso em bolsa. Her-
deiros e credores só têm direito ao producto da alie-
- 65 -

nação das quota-partes, salvo se já forem socios ou


forem acceitos como taes e de accordo com o art. 11.
ART. 7 — Qualquer socio deverá subscrever um
numero de quota-partes proporcional á capacidade da
sua producção agricola até á concorrencia de.......................
5:000$000.
ART. 8 — Os depositos relativos as quota-partes
são feitos da seguinte forma: a metade do valor da
quota-parte, no momento de subcrevel-a e o resto
por occasião das safras sucessivas e na proporção da
capacidade da producção até á concorrencia do va-
lor das quota-partes subscriptas durante dois annos
a partir da data da subscripção.
AaT. 9 — A propriedade das quota-partes é ve-
rificada mediante os recibos das sommas depositadas
e a inscripção nos registros da Sociedade. Saldadas
as quota-partes, os recibos parciaes poderão ser tro-
cados por um recibo unico.
ART. 10 — As quota-partes dos socios demissio-
narios, excluidos ou fallecidos são annuladas.
As sommas que ellas representam são levadas á
conta do credito ordinario, de accordo com disposi-
ções constantes do Art. 15 infra.

CAPITULO IIIº

Admissão—Exclusão—Fallecimento

ART. 11 —Para ser admittido como socio, é pre-


ciso ser lavrador em . proprietario ou não das
terras que lavra por escripto, ao Conselho de Admi-
nisrtração e em ultima instancia á Assembléa.
A Sociedade se reserva o direito de reembolsar o
valor nominal das quota-partes pertencentes a pes-
soas que deixaram de ser sociaes, na medida progres-
siva dos recursos sociaes.

ART. 12 — Qualquer socio poderá retirar-se


quando entender, mediante aviso ao Conselho de Admi-
nistração. Salvo o caso constante do Art. 11.
- 66 –

ART. 13—A Assembléa Geral poderá pronun-


ciar, por maioria de votantes fixada pelos Estatutos,
a exclusao d’um socio que cause prejuizo material
ou moral á Sociedade; especial convocação será
feita ao interessado para que apresente sua defesa.
O socio atrazado de mais d’um anno nos seus
depositos estatuarios será considerado demissionario
um mez depois do aviso para cumprir os seus com-
promissos, enviado registrado pelo correio ou da
forma que o Conselho julgar melhor.
ART. 14—A retirada dos socios cessará desde
que o capital se reduza á importancia de
Art. 15—O socio que deixar de tomar parte na
Sociedade voluntariamente ou por decisão da Assem-
bléa Geral ficará responsavel na proporção, que lhe
couber, durante cinco annos, perante os seus con-
socios e terceiros, por todas as obrigações existentes
até ao momento da sua retirada.
Elle se compromette, durante cinco annos, a não
explorar por sua conta, quer directa on indirecta-
mente, na circumscripção da sociedade, industria ou
commercio exercidos pela mesma, sob pena de in-
demnisação por damnos causados á propria sociedade.
A parte do activo social correspondente ao juro
das partes, a qual couber ao socio que se retirar por
qualquer causa, da sociedade, é estabelecida pelo ul-
timo balanço.
Os socios só têm direito ao reembolso das som-
mas depositadas por conta das suas quota-partes, su-
jeitas á deducção das suas contribuições propor-
cionaes, nas perdas, e mais aos depositos pessoaes na
carteira de credito gratuito, não sendo contados os juros
das partes no meio exercicio em que se retirar o
socio.
ART. 16—As sommas relativas as partes dos ex-
socios produzem um interesse de 7% ao anno, não po-
dendo os mesmos exigir o reembolso antes do praso
de cinco annos, porém a Sociedade se reserva o di-
reito do reembolso por antecipaçao.
ART. 17—As clausulas dos arts. 14 a 15 são ap-
plicaveis aos herdeiros do socio fallecido ou a quem de
direita pelo que couber ao mesmo e de conformidade
com o art. 6 e 11.
- 67 -

CAPITULO IV.º

Adminisiração

ART. 18 — A Sociedade é administrada por um


Conselho composto de 3 a 7 membros, que serão
eleitos pela Assembléa Geral.
Os administradores são revogaveis e reele-
giveis.
ART. 19 — Os administradores são responsaveis
de accordo com o codigo de commercio, individual-
mente ou solidariamente, conforme o caso, perante a
Sociedade ou terceiros, quer por infracções ás dispo-
sições legaes, quer por faltas commettidas durante a
gestão, notoriamente no que respeite á distribuição
defficientemente ou excessiva de quantias repartidas
fictamente.
Os administradores não contrahem nenhuma
obrigação pessoal nem solidaria relativamente aos
corppromissos da Sociedade.
Art. 20 — O Conselho é nomeado por 3 annos e
renovavel pelo terço cada anno; a sorte indicará a
ordem dos primeiros subrogrados. Em seguida a
subrogação se fará de accordo com o tempo de ser-
viço, ou por ordem d antiguidade.
No caso de ausencia, Conselho nomea o subro-
gante para exercer o lugar do subrogado durante o
tempo que faltar; a escolha do Conselho deverá ser
ratificada pelo mais proxima Assembléa Geral.
ART. 21 — O Conselho se reunirá nun vez por
mez em dia pór elle designado, todas as vezes que
as circumstaucias o exigirem, par convocação do
Presidente.
ART. 22 — Cada anno o Conselho nomea entre
seus membrs um Presidente, Vice-presidente, e um
secretario, as quaes são reelegiveis. O Presidente é
quem preside a Assembléa Geral, salvo no caso
de tratar-se da sua pessoa. (O presidente do conse-
lho de administração e o Director commercial, con-
vem que sejam eleitos pela Assembléa geral).
ART. 23 — A presença da metade polo menos dos
membros do Conselho é necessaria para a validade
das deliberações.
- 68 -

As deliberações são tomadas por maioria dos


membros presentes.
Nenhum membro poderá votar por procuração.
No caso de empate qualquer proposta é re-
jeitada.
ART. 24 — As deliberações do Conselho deverão
constar d’um livro especial assignadas pelo Presidente
e o Secretario.
As copias ou extractos desse processo verbal assim
como os das Assembléas Geraes, para qualquer ef-
feito, deverão ser assignadas pelo Presidente do Con-
selho ou por dois membros do Conselho.
ART. 25 — O Conselho de Administração tem
pleno poder para agir em nome da Sociedade e pra-
ticar ou autorizar todos os actos e operações que lhe
forem attribuidos pelos presentes estatutos ou por de-
liberação da Assembléa Geral, ou o Conselho
Fiscal.
Suas attribuições são as seguintes:
a)—Estabelecer um regulamento interno, de-
pendente da approvação da Assembléa Geral, para a
secção de Consumo; outro para o da venda, expedição
ou collocação da producção dos socios; outro concer-
nente á carteira de auxilios-mutuos; outro para a
compra de material agricola, outro para a serviço em
commum do amanho, ou para o socio em particular;
superintender os negocios e serviços da Sociedade;
b)—Nomear e revogar agentes, especialistas te
chnicos e empregados da Sociedade, fixar a sua dis-
ciplina, os seus ordenados e soccorros mutuos;
c) — Fixar as despezas geraes de administração;
regular toda sorte de dividas á Sociedade e pagar as
que a mesma dever;
d)—Receber as sommas geraes de administração;
e)—Subscrever, endossar, acceitar e dar quitação,
no que respeite a todos as effeitos de commercio com-
pativel com a instituição;
f)—Fazcr cumprir todas as obrigações adminis-
tratiyas e outras.
g)—Estatuir sobre todos os contratos e negocios
da Sociedade;
h)-consentir ou acceitar qualquer arrendamen-
to, contratos de terras communs aos socios, e to-
das as promessas de vendas, e isto, mediante preços,
- 69 -

onus e condições que determinar dentro dos princi-


pios e limites possive is deliberados pela Assembléa,
fazendo executar todos os trabalhos, todas as cons-
truções, apropriações ou installações, com a ap-
provação do Conselho Fiscal;
i) Ceder ou comprar todos os bens e direitos
mobiliarios ou immobiliarios pelos preços, onus e
condições que a assembléa determinar;
j) — Determinar a collocação de fundos disponí-
veis e regular o emprego dos fundos de reserva, de
accordo com as deliberações da Assembléa que de-
vem dar margem ás opportunidades jamais arrisca-
das nem aleatorias, em desaccordo com a doutrina
sã, prudeute;
k) — Tomar emprestimos com consentimento de
traspasse, só em favor da Sociedade por deliberação
da Assembléa Geral;
l) — Effectuar emprestimos com ou sem hypo-
thecas ou outras garantias sobre os bens da socie-
dade, por deliberação da assembléa geral;
m) — Autorisar tambem todos os contratos, tran-
sacções, compromissos, todas as condescendencias e de-
sistencias, assim como o que respeita a inscripções, pe-
nhora, embargos e outros direitos antes e depois de
ser relatado devidamente á primeira Assembléa Geral.
n) — Promover qualquer especie de acção judi-
ciaria, qualquer resolução de venda, providenciar so-
bre qualquer questão ou causa, e fazer geralmente
tudo que, para a boa e prompta administração dos
negocios da Sociedade fôr necessario fazer e não fôr
previsto, porém com a approvação do Conselho Fis-
cal, e communicação fiel á primeira Assembléa Geral
que se reunir;
o) — O Conselho organisa o estado da Socie-
dade, os inventarios, o balanço e as contas qua de-
vem ser submettidas á Assembléa Geral; estatue so-
bra qualquer proposição a lhe fazer e redige a ordem
do dia. Redige o relatorio annual, approvado pelo
Conselho Fiscal.
ART. 26 — Os administradores (ou a Assembléa)
escolhem entre elles um Director e fora del-
les um gerente para o consumo e outro para o ar-
mazem de mercadorias e venda dos productos agri-
colas, expedição ou collocação, um contador a outros
- 70 -

auxiliares de escripturação, armazenagem, e distri-


buição.
O Conselho determina a tarefa do Director e de
cada empregado e as respectivas retribuições, podendo
o Conselho expedir mandatos especiaes a quem convier
e para os effeitos que julgar necessarios.
O Conselho disporá d’uma loja para a venda a
varejo, um armazem para conservar as mercadorias
para o consumo da loja, numa secção propria, e para
receber, expedir e collocar a producção agricola dos
socios de accordo com as informações d’um serviço
especial directo ou por meio de uma agencia na praça
em que o Conselho julgar melhor dever operar, fir-
mando contrato com o agente em condições vantajo-
sas para a Cooperativa sujeitando-se o agente á fisca-
lização d’uma commissão especial, eleita pela Assem-
bléa Geral. A loja e o armazem poderão occupar o
mesmo edificio e bem assim o escriptorio central de
Contabilidade ao qual todas as secções da Cooperativa,
inclusive a da Caixa, têm que enviar, findo o expe-
diente, uma <<primeira nota>> do que respeita ao movi-
mento, afim de que a Contabilidade geral compile a
<<primeira nota>> do movimento geral diariamente, an-
tes do lançamento do Registro Geral que representa
o Diario ou livro Principal onde se deve reflectir
toda a vida da Cooperativa com a maior clareza.
Cada secção terá um diario proprio além dos auxilia-
res. A secção de compra de material e serviço com-
mum de arnanho deverá ser chefiada por um technico,
cuidando se tambem de montar uma pequena of-
ficina do concertos. Com excepção do vinho e cerveja
analysados, nenhuma outra bebida alcoolica é per-
mittida.

Director

ART. 27 — 0 Director executa tadas as decisões


do Canselho e superintende a parte material corres-
pondente a todo o mecanismo da Cooperativa, exer-
cendo a funcção propriamente commercial:
a) — Providencia de accordo com as necessida-
des para organizarem se os -— mappas de compras
em grosso e opportunas, quer da Cooperativa, quer
- 71 -

-dos seus socios, por encommenda, sendo as compras


em grosso e opportunas, feitas pelo Conselho que,
juntamente ao Director, confere as mercadorias na
entrada, assumindo a responsabilidade tanto um como
outro;
b) — Apresenta nos armazens as respectivas ta-
bellas de preços, organisadas pelo Conselho, nunca se
devendo estabelecer preços abaixo das necessidades
sociaes, nem superiores ao commercio de consume
que se fará de mercadorias de 1.ª qualidade;
c) — Dá opinia sobre a qualidade dos generos;
d) — Zela pelo exercicio, ordern e asseio das
secções da Cooperativa;
e) — Acompanha diariamente os trabalhos da
contabilidade geral e particular, nas secções e no es-
criptorio central;
f) — Observa se os gerentes cumprem os regula-
mentos;
g) — Organiza o inventarlo e balanços annunes,
os balancetes mensaes, examina todos os livros;
h) — Autoriza a execução de qualquer medida
concernente ao serviço material das secções e não es-
pecificada nas suas attribuições;
i) — representa a Sociedade em Juizo e fóra delle,
autorizado pelo Conselho;
j) — Assigna a correspondencia, porém a sua as-
signatura só obriga a Sociedade, quando for acompa-
nhada da de outro membro do Conselho;
k) — Designar o membro do Conselho que o
deve substituir em seus empendimentos;
l) — prestar todos os esclarecimentos á assem-
bléa onde tem voto consultivo, salvo quando tratar-se
de sua pessoa;
m) — informar ao Conselho sobre as necessi-
dades dos serviços;
n) — Observa as horas regulamentares do expe-
diente, que é por elle encerrado, sendo então feita as
<<primeiras notas>> e compilação das mesmas;
o) — tira as licenças necessarias, annualmente,
para ,os diversos ramos do negocio e das diversas mer-
cadorias;
p) — Mantem os principios historicos dos 28
Pioneiros de Rochdale:
- 72 -

1° — Distribuição de mercadorias de boa quali-


dade, não falsificadas e de peso justo.
2° — Prompto pagamento, nenhum credito, pois
este escravisa.
3° — Distribuição dos artigos pelos preços da
praça, visto dar-se rehibição por meio de bonifica-
ções proporcionaes as compras: 2/3 para os socios, 1/3
para os não socios.

Gerencia

Art. 26 — O Gerente, o contador, o caixa e o


armazeneiro, poderão ser escolhidos entre os socios,
porém uma vez emposados, no caso contrario, deve-
rão tornar-se socios de accordo com os presentes esta-
tutos. Esses cargos poderão ser preenchidos parcial
ou cumulativamente conforme os recursos, respon-
dendo, de qualquer forma, os encarregados pelas sec-
ções que lhes competir gerir.
No caso de bayer um gerente, este deverá ser
responsavel por todos os serviços e tudo que se pas-
sar durante o expediente ou fóra delle, caso ficar
provado que houve desleixo no fechamento de todas
as dependencias.
No caso de haver um contador, este dirige to-
dos os serviços de contabilidade.
No caso de haver um Caixa, chefe, este exercerá
tambem o cargo de thesoureiro e a elle serão diaria-
mente depositadas todas as sommas das secções pelos
seus respectivos caixas, e entregues os valores em cus-
todia, de tudo dando elle recibo com canhoto e fa-
zendo os respectivos registros, cabendo ao mesmo fa-
zer os pagamentos da Sociedade.
No caso de haver um armazeneiro, este, além do
Director e dos membros do Conselho, auxilia o acto
de recebimento de mercadorias e expedições, sendo o
armanezeiro responsavel pela manutenção da secção
do consumo, a da venda dos productos dos socios e a
de materiaes para a lavoura.
O armazeneiro terá um livro que registrará todas
as operações de entrada a sahida de productos dos so-
- 73 -

cios, outro de mercadorias do consumo, e outro do ma-


terial agricola.
ART. 29 — As cauções serão, como os ordenados,
propostas pelo Conselho e fixadas pela Assembléa.
ART. 30 — Na Caixa só se conservam os valores
em custodia e as sommas indispensaveis, o excedente
sendo depositado em estabelecimento ou estabelecimen-
tos da maior segurança emquanto não houver federação
de Caixa Raiffeisen perfeitamente de accordo com a dou-
trina mundialmente consagrada, federação garantida
por uma fiscalização autonoma, efficiente, além da of-
ficial do Estado e Uniao.
ART. 31 — A contabilidade adoptará as formulas
e regras contabilisticas applicadas as cooperativas,
satisfazendo inteiramente ao Codigo de Commercio,
cujas disposições são respeitadas pelo Regulamento da
Sociedade, sem comprometter a doutrina cooperacio-
nista ou o exercicio — das funcções sociaes de cara-
cter mutuo, beneficiente e collectivo.

CAPITULO V

Assembléa Geral

ART. 32 — A assemblea representa a soberania


universal dentro dos termos legaes e estatutarios, re-
presentando todos os socios, mesmo os ausentes. Suas
deliberações são validas acerca de qualquer assumpto
a sua alçada ou constante dos presentes estatutos.
ART. 33 — A Assembléa Geral é ordinaria e
extraordinaria. A Assembléa ordinaria reune-se uma
vez por anuo, cerca de 3 mezes antes de encerrar-se o
exercicio social. So poderá ser votada a materia coustante
da ordem do dia A Assembléa deverá reu-
nir-se na circumscripção urbana onde se achar a sua
séde, do contrarlo ntto será valida a sua reunião. Além
da materia contida na ordem do dia, a Assembléa
deverá
a) — discutir e deliberar sobre as balanços na-
nuaes.
b) — nomear as membros do Conselho de Ad-
ministração, do Conselho Fiscal, da Commissão de
Probidade e outras que entender;

- 74 -

c) — modificar os estatutos, respeitando as di-


sposições legaes;
d) —. deliberar sobre todas as propostas apro-
sentadas por escripto no Conselho de Administração
por um numero de socios fixado por ella;
e) — deliberar sobre installações ou suppressão
de serviços e ratificar as decisões tomadas a respeito
pelo Conselho de Administração, mesmo se approva-
das pelo Conselho Fiscal;
f) — pronunciar a dissolução da sociedade desde
que a isso se não opponham 7 socios;
g) — approvar os regulamentos que regem as
operações das secções e todos os serviços da Socie-
dade.
ART. 34 — Serão convocadas assembléas extra-
ordinarias quando o julgue necessario o Conselho de
Administração ou fiscal, ou um decimo dos socios.
ART. 35 — Cabe ao Presidente convocar a As-
sembléa Geral mediante aviso publicado no minimo
15 dias antes da reunião.
O aviso deve indicar os assumptos a serem trata-
dos, comprehendidas as propostas apresentadas pelo
numero de socios, fixado pela Assembléa, e que de-
vem ser dirigidas no Conselho vinte dias antes da
Assembléa.
Quando se dever deliberar sobre modificações
dos Estatutos, os socios serão informados devida-
mente por meio de aviso e inserções no jornal que
for designado tambem para a publicação dos actos
sociaes.
ART. 36 — Para a validade da Assembléa Geral
se exige a presença de socios pelo menos.
Numa segunda convocação que deverá ser feita
nunca além de um mez a Assembléa será legal-
mente constituida com qualquer numero de socios
presentes.
Quando de deva deliberar sobre a modificação
dos Estatutos e dissolução da Sociedade, será neces-
sario o terço dos socios na primeira convocação e
na segunda não menos de socios.
ART. 37 — As propostas para modificação dos
Estatutos poderão ser apresentadas á Assembléa
dos socios ou ao Conselho de Administração ou a

- 75 -

um terço dos socios, cujas assignaturas constem do


texto das proprias propostas, que não serão adopta-
das senão quando reunir em seu favor 2 terços dos
votantes. As propostas para prorogação ou
dissolução da Sociedade não serão tomadas em con-
sideração se não forem firmadas por um terço dos
socios e não serão adoptadas senão quando reunir
em seu favor 2 terços dos votantes. Isto caso
do não haver opposição da parte de 7 socios.
Nos outros casos se delibera por maioria abso-
luta; tratando-se de pessoas se procede a votação por
meio de escrutinio secreto; em egualdade de votos
uma proposta recusada; cada proposta recusada
não poderá ser reproduzida senão depois d’ um mez.
ART. 38 — Cada socio tern um só voto, qualquer que
seja a numero de quota-partes que possúa.
ART. 39 — Os socios não podem fazer-se re-
presentar na Assembléa Geral, senão mediante procura-
ção passada a um outro socio.
Cada socio não poderá porém, dessa forma, re-
presentar senão um outro socio.
ART. 4O—Menores não emancipados, interdic-
tos, incapazes e fallidos possuindo quota-partes
da Sociedade não poderão tomar parte pessoal nas
Assembléas, porém poderão ser representados pelos
seus tutores ou curadores, se estes forem tambem
socios, dentro dos limites estatutarios.
ART. 41—As Assembléas geraes são dirigidas
pelo Presidente ou pelo Vice-Presidente no caso de
auzencia do primeiro. Um dos membros do Conselho
tomará as funcções de Secretario.
ART. 42— As sessões para as casos não previs-
tos por estes estatutos, serão reguladas de conformi-
dade com as normas seguidas pelas sessões da Ca-
mara dos Deputados.

ART. 43—Das reuniões e deliberações da Assem-


bléa será feito processo verbal que constará do livro
respectivo firmado pelo Presidente, os escrutinadores
e o secretario da Assembléa.
Esse livro e a copia dos extractos do mesmo,
certificados pelo Presidente e Secretario do Conse-
lho de Administração, darão prova das reuniões e
deliberações da Assembléa para todos os effeitos.

- 76 -

CAPITULO VI

Conselho Fiscal

ART. 44—Todos os annos serão nomeados ou


reeleitos pela Assembléa Geral, cinco membros do
Conselho fiscal encarregados de cumprir as verifica-
ções exigidas por lei.

Os primeiros membros do Conselho Fiscal se-


rão eleitos pela Assembléa Constitutiva.
Os conselheiros se reunem na séde social todas as
vezes que julgarem conveniente durante o exercicio,
afim de tomar conhecimento dos livros e examinar
as operações da Sociedade.
Verificam o estado da mesma, que deve ser organi-
zado cada semestre, sobre a situação activa e passiva da
ciedade. Cada conselheiro pode operar independente-
somente, procedendo ás verificações que julgar uteis. O
controle dos conselheiros se exerce sobre os serviços
da Sociedade. No caso em que algum dos membros
não puder exercer o seu mandato, o Conselho assim
reduzido o exercerá validamente.
No fim do exercicio annual, os fiscaes re-
digem um relatorio que será lido diante da Assem-
bléa Geral sobre o estado da sociedade, sobre o ba-
lanços sobre as contas apresentadas pelo Conselho de
Administração.
O Conselho Fiscal deve remetter o seu relatorio
ao Conselho de Administração, de maneira que este
possa, 20 dias antes da reunião, remetter a cada so-
cio copias do referido relatorio e do balanço ba-
seado no inventario. Esse relatorio será mais resumido
que o do Conselho de Administração, o qual tem de
ser approvado pelo Conselho Fiscal, particularizando
toda a vida da sociedade.

Commissão de probidade
ART. 45-Aos membros da Commissão de Pro-
bidade compete dirimir qualquer duvida que por acaso
ocorrer entre os socios e a Administração da Socie-

- 77 -

dade, evitando controversias, delongas prejudiciaes


aos socios e á Sociedade.

CAPITULO VII

REPARTIÇÃO DOS BENEFICIOS, FUNDO DE RESERVA,


CARTEIRA DE ASSISTENCIA E AUXILIOS MUTUOS,
MUTUAILIDADE DOS EMPREGADOS

ART 46 — Os lucros liquidos da venda dos pro-


ductos são distribuidos proporcionalmente á materia
prima entrada e registrada no armazem tic accordo
com urn regulameuto especial, tirados 5% que serão
levados integralmente á conta do fundo de reserva
da Sociedade, descontando.se do producto da venda
mais 2% para a administração, mais 1% para a
mutualidade dos empregados e mais 2 % para o ser-
viço commum de amanho por meio de machinas e o
technico. A venda de material aos socios é aggra-
vada de 5%, além do custo do material
e das despesas do serviço, inclusive ordenados de
empregados.

Destinados ao fundo de
resrva, atéque este attinja
Fndo de reserva 5 % o montante do capital so-
sobre a venda de produ- cial. Dahi em diante o to-
ctos dos socios, 15 % dos tal dessas percentagens
lucros do consumo, 5 % serálevado á conta do
sobre a venda do mate- fundo de desenvolvimento da
rial. Sociedade
Juro devido aos so-
ciosproporcionalmente ás
quota-partes que possuem.
Esse juro é fixo e, no
caso de não ser preenchido
pelos lucros, a reserva
Quota-partes 7 % sobre completará, sem prejuizo
os lucros do consumo. das percentagens para os
outros fundos, até á con-
correncia de 4%.

- 78 -

Independentemente du-
ma percentagem descon-
tada dos ordenados, incor-
Fundo de Mutualidade porada ao fundo de mutua-
dos empregados 5% sobre lidade dos empregados, em
os lucros do consumo, 1% garantia da pensão vitali-
sobre os lucros da venda cia por invalidez acciden-
dos productos dos socios tal depois de 5 annos de
serviço ou por ter servido
durante 30 annos.

Administradores 10 % A retribuição a prorata


sobre os lucros do com- do acto de presença dos
sumo membros da Administra-
ção

Compra de terras, edifi-


Fundo de Desenvolvi- cios, installações, funda-
mento 20 % sobre os lu- ções de cooperativas de
cros do consumo. producção, escola, cine-
club, desportos, etc.

Funsdo de amnho em Tratamento da terra


commum 2% sobre a venda por um serviço – commum
de productos dos socios. feito por meio de machi-
nas.

Para a pobreza, asylos, etc.


Fundo de Caridade 3 %
sobre os lucros do consumo
Bonificações 42 % sobre Bonificações proporcio-
os lucros de consumo. naes ás compras de genero
na loja de consumo, 2/3
aos socios, 1/3 a não socios.

Para a carteira de auxí-


Assistencia Auxullios Mu- llios mutuos que trata da
tuos 5% sobre os lucros assistencia, devendo fun-
do consumo. dar-uma pharmacia, dis-
pondo de medico, parteira,
dentista, serviço ambu-
lante de roça.

- 79 -

Assim, pondo de parte as percentagens que não são


provenientes dos lucros liquidos do consumo, te-
mos a seguinte distribuição, retirado o juro de
7 % cabivel ás quota-partes, distribuindo-se o restante
da seguinte forma:

Fundo de reserva .............................................. 15 %


mutualidade empregados ................................. 5 %
Administradores ............................................... 10 %
Fundo de Desenvolvimento .............................. 20 %
Fundo de Caridade ........................................... 3 %
Bonificações ....................................................... 42 %
Auxilios-mutuos ................................................. 5 %

100

Todo lucro remanescente das outras secções que


não a de consumo, será levado ao fundo de desen-
volvimento que concorrerá tambem para o amanho
em commum e a carteira de credito gratuito.
A carteira de assistencia, quanto a auxilios mu-
tuos poderá applicar, no caso de pagar peculio, o sys-
tema empregado pela Cooperativa dos Empregados
da Viação Ferrea do Rio Grande do Sul, com a matriz
em Sta. Maria, e cujo presidente é o benemerito Snr.
Manoel Ribas, cooperativa com que todas as outras
se devem entreter, por ser a exemplificação mais real
do methodo cyclico. A carteira de credito não deve
dar lucro, o que a cooperativa pagar pelos depositos
receberá de juro dos emprestimos, accrescido das des-
pesas.
Independentemente da tabella de peculio, a coo-
perativa dos lavradores, poderá, no sentido de criar a
assistencia, sommar todas as despezas com medico,
parteira, dentista, pharmaceutico e dividr o total
pelo numero de socios, cabendo a cada qual a sua
quota para manter os ordenados pagos pela assisten-
cia. Essa quota decresce á proporção que o fundo de
Assistencia augmentar, sendo que a Pharmacia, tam-
bem aberta ao publico terá gestão autonoma, embora
no seio da cooperativa de consumo, afim de cobrir as
proprias despesas, distribuindo drogas de primeira
qualidade, levando-se á conta da Assistencia todo lu-
cro liquido obtido pela venda de remedios aos socios

- 80 -

e não socios, admittidas as bonificações proporcionaes


ás compras, deixando-se tambem para um fundo de
caridade destinado á pobreza que não pode pagar re-
medios nem medico. Assim, a Pharmacia represen-
tará o centro de assistencia em pleno desenvolvimento
até á fundação d’um hospital mutuo.
Deverá ser criada uma mutualidade desinteressada
de educação, a qual acceitará socios de qualquer es-
pecie, uma vez que cada um dê apanas uma pequena
quota mensal afim de contribuir para a fundação de
cursos de officios para os dois sexos, quer nas loca-
lidades da circumscripção municipal quer por meio de
ensino ambulante periodico, na melhor estação.
Para essa especie de mutualidade o fundo de Ca-
ridade e o fundo de Desenvolvimento tambem poderão
concorrer, regendo-se esses serviços de instrucção
pratica pela Cooporativa a que pertencem, não tendo
o socio mutualistico nenhum direito a não ser o de
fiscalizar por si taes serviços. Esses cursos deverão
comportar a assistencia de qualquer criança desde 10
ate 16 annos de edade.
Para os adultos o fuudo de Desenvolvimento cri-
ará cursos especiaes de hygiene a profissionaes e
uma bibliotheca ambulante, além da permanente, re-
unindo os ensinamentos os mais praticos. Neste in-
tuito poderá ser criado tambem uma mutualidade au-
tonoma e desinteressada, dependente e pertencente á
Cooperativa, nenhum direito tendo o socio nessa mu-
tualidade de instrucção, a não ser o de frequentar a
bibliotheca e os cursos regulares de ensinamentos
praticos para adultos, sem prejuizo da cultura en-
cyclopedica a mais facil possivel.
ART. 47 — Aos Administradores da Sociedade será
prohibido o exercicio de funcções alheias á so- ciedade.
ART. 48 — A Sociedade empregará recursos ti-
rados do fundo de desenvolvimento para a propagan-
da de cooperativas identicas no Estado, e federação
das mesmas.
ART. 49 — O cinema-club, os desportos, os
cursos instructivos para adultos deverão formar um
grupo unico, devendo-se cuidar da boa musica, <<fi-
tas>> instructivas, alegres e moraes.

- 81 -

ART. 50 — No nucleo cooperativo deverá ser


respeitada a liberdade de pensamento ao lado do
grande amor á religião de Christo que salvou o mundo
do materialismo crú e vil.
ART. 50 A - Cada socio tem o direito a uma
caderneta pelo preço de custo, pessoal, nominativa,
com as partes referentes as contas: capital, consumo,
material agricola, consignação productos, pharmacia.

Da Dissolução da Sociedade

ART. 51 — Sempre que 7 socios se oppuzerem


á dissolução, a Sociedade não poderá dissolver-se, e a
reserva e a contabilidade serão entregues a esses as-
sociados, os outros tendo sómente o direito de se reti-
rar, de accordo com as normas dos presentes estatu-
tos. Salvo no caso de fallencia.
ART. 52 — No caso de insolvencia a dissolução
deverá ser pronunciada pela Assembléa Geral, legal-
mente constituida, a qual determinará as normas de
liquidação, nomeando uma commissão liquidadora.
Caso houver remanescentes, qualquer que seja o moti-
vo da dissolução, serão entregues á Caixa Economica
afim de serem empregados opportunamente na funda-
ção duma outra cooperativa identica, na mesma cir-
cumscripção.
ART. 53 Os membros que se oppuzerem, salvo
no caso de fallencia, que é irremediavel, como ficou
dito, á dissolução da Sociedade, deverão fazer tal de-
claração á Assembléa, que pronunciará essa dissolução,
ou notificarão a sua resolução por acto judiciario, ao
Presidente da Sociedade, nos dois mezes que se se-
guirem á resolução da dissolução. Passado esse
praso, terá caducado o direito de opposição, a reser-
va poderá ser empregada, de accordo com os presen-
tes estatutos, no reembolso das partes, de forma que,
cumpridos todas os compromissos do melhor modo pos-
sivel e feitas todos as despesas, o remanescente seja
destinado segundo a disposição do artigo anterior.
ART. 54 — Os presentes estatutos, juntamente
com a copia da acta de installação definitiva da so-
ciedade e a lista nominativa dos — socios existentes,

- 82 -

suas quotas de capital e suas residencias, tudo em


duplicata, serão depositadas, mediante recibo, no cartorio
do registro de hypothecas.
§ 1°. — Da mesma forma se poderá com quaesquer
actos de Assembléa Geral que alterem ou modifiquem, os
estatutos.
§ 2°. — Semestralmente será renovado o deposito
da lista dos socios.
Observação. Convem lembrar o que já dissemos em
outros lugares a respeito de <<acções>> da sociedade
cooperativa. Assim, das sugestões apresentadas em janeiro
para a reforma da lei, fizemos constar o mesmo assumpto e
tambem da <<Memoria sobre as caixas — Raiffeisen>>,
apresentada ao <<Congresso do Café>>, pelo 2° centenario
do Café:

<< Sobre a quota, acção, parte e joia

A quota pode ser de entrada e não render juros,


não podendo exceder de 100$000 (art. 21 do decr. n.
1637) sendo admisivel o pagamento parcellado até in-
tregal-a.
A acção é titulo imitado da sociedade anonyma.
Servio-se della quando ainda não havia discernimento
juridico sobre a sociedade cooperativa. Por atavismo
ainda é admissivel, com valor nunca excedente de
100$000 e rendendo juros até á concorrencia de 12%.
A parte ou a quota-parte é o titulo por excellencia
criado pela sociedade cooperativa e não rende dividen-
do, porem dá um juro fixo até 7%, no maximo, nas
cooperativas de responsabilidade limitada, substituin-
do á acção, tendo um valor maximo de 100$000, va-
lor nominal que é invariavel, salvo no caso de <<defi-
cit>>, como ficou dito.
Independentemente d’uma acção ou parte, titulos
estes que não variam nunca de valor nominal e são in-
transferiveis, o socio paga a quota de entrada. A
sociedade não poderá alienar as acções do socio se-
não por demissão, exclusão ou obito, salvo no intuito
comprovado de eliminar o capital acção, inutilisando
logo as que forem adquiridas com tal fim ou forem
alienadas de não socios que não podem possuil-as
mesmo por motivo de divida de socios.

- 83 -

A joia é nome improprio. Numa cooperativa


chama-se quota de entrada o que se paga no acto de
admissões, fora da quota parte, e é recolhido ao fundo
de reserva indivisivel, não sendo portanto a quota de
entrada reembolsada em caso nenhum.
Outrosim chamamos a attenção para o que so-
bre acções consta da pagina 30 do <<Dominio universal
da cooperação>>, sendo que os parénthesès pertencem ao
autor.>>
ESTATUTOS

- DE -

Banco Popular Urbano

(Baseados nos estatutos do Banco popular de Cremona


com pequenas modificações. Por J. S. Britto)

ART. I — A Sociedade Cooperativa popular de


Credito Mutuo em . . . . . . . . . . . . . denomina-se
Banco Popular de . . . . . . . . . . . . . .
ART. 2 — A Sociedade tem por um facultar o
credito aos seus socios mediante a mutualidade e a
economia.
ART. 3 — A duração da Sociedade será de 30
annos, com a faculdade de prorogação indefinida.
ART. 4 — A séde social é em . . . . . . . . . . . . . . . . . .
ART. 5 — A Sociedade, além dessa séde, tem
uma agencia em . . . . . . . . . . . . . . . . .
Poderão ser estabelecidas pelo Conselho de Ad-
ministração outras agencias onde fôr Julgado conve-
niente, e transferidas d’um centro a outro as existen-
tes, onde houver lugar, no mesmo municipio, sem fa-
zer concorrencia as caixas — Raiffeisen, nem a ou-
tro — Banco-Luzzatti, agencias que se devem tornar
autonomas logo que fôr possivel, passando a funccio-
nar então como um outro banco.

CAIXA SOCIAL

ART. 6 — O capital social é constituido: -


a)Pela importancia das partes subscriptas pelos
socios, cujo valor nominal é de ...................................... (nun-
ca mais de 100$000).
O numero de partes é illimitado, desde que a
emissão se destine aos novos socios.
b) - Pelo fundo de reserva;

- 84 -

c) — Pelos fundos especiaes que sejam institui-


dos para fins determinados;
d) - Pelas quotas de entrada.
Todos os estatutos das cooperativas italianas in-
cluem a reserva no presente artigo, de conformidade
com o que diz Coppola d’Anna que se refere as socie-
dades cujo fundo de reserva é indivisivel.

DOS SOCIOS E DAS PARTES


ART. 7 — Quem queira entrar para a Sociedade
deverá apresentar pedido por escripto ao Conselho
de Administração, declarando acceitar as obrigações
constantes dos estatutos, regulamentos e deliberações
e indicando o numero das partes que desejar subscre-
ver e o modo de pagamento. Além da quota-parte
indispensavel o socio deverá pagar a quota de entra-
da nunca maior de 100$000, podendo ser por meio de
prestações, como as partes. A quota de entrada não
rende nenhum juro, e não é reembolsada, pois é le-
vada ao fundo de reserva, que é indivisivel, e de ac-
cordo com o art. 36.
ART. 8 — A admissão dos novos socios se ef-
fectua mediante assignatura dos mesmos no livro
dos socios, paranymphada pela de 2 outros socios
que não sejam administradores. Desde esse momento
o requerente se torna socio de facto com todos os res-
pectivos direitos e deveres. Nenhum socio poderá re-
correr á sociodade para obter emprestimos antes de 2
mezes a partir da data da sua admissão.
ART. 9 — As Sociedades Cooperativas, entida-
des moraes, mutualidades de assistencia previdencia
soccorros-mutuos, seguros agricolas-mutuos, que não
forem já socias das caixas ruraes de credito coopera-
tivo ou de outro banco cooperativo popular, do sys-
tema authentico de Luzzatti, poderão fazer parte da
Sociedade com os mesmos direitos e deveres que o so-
cio singular, desde que se façam representar por de-
legados especiaes as quaes não poderão exercer car-
gos sociaes.
ART. 10 — Fica a criterio do Conselho de Ad-
ministração a acceitação dos pedidos de admissão dos
novos socios e a approvação das transferencias de

- 85 -

partes antes os socios, com appello para a Assem-


bléa geral.
ART. 11 - As partes são nominativas e a So-
ciedade não reconhece como socios senão as pessoas
cujos nomes constem do livro dos socios; portanto
as partes não têm circulação fóra da sociedade.
As partes extrahidas d’um registro com talão,
com um numero de ordem progressivo e são assigna-
das pelo Presidente do Conselho de Administração,
um dos membros do mesmo Conselho o Director.
Não podem ser cedidas sem que sejam inteira-
mente pagas, e a cessão dependerá do Conselho de
Administração, como ficou dito. Só os socios poderão
possuir partes da sociedade, as quaes não têm
curso na bolsa.
ART. 12 — Cada parte será inscripta sob um
nome só. No caso de transferencia a diversas pessoas,
estas deverão escolher qual deverá ser a titular, indi-
cando pessoa nás condições exigidas pelo Conselho de
Administração.
ART. 13 — O valor de cada parte poderá ser
pago em prestações mensaes nunca abaixo de 1$000; o
mesmo dá-se com a quota de entrada que a Assembléa
estabelecerá, egual para todos; o que render a parte
não poderá exceder de 12%.
ART. 14 — A consignação da parte é feita de-
pois de intregado o pagamento da mesma, devendo
a sua redacção obedecer as disposições legaes. Mas
isso não impede a disposição constante do art. 8.
ART. 15 — Nenhum socio poderá possuir mais
de 5:000$000 em partes. Por herança, se este limite
for excedido, ou por outro motivo qualquer, deverá
ser alienado o excedente. Se os socios poderão pos-
suir partes da sociedade, e no caso do art. 18, desde
que possuidor accidental das partes de torne socio
de accordo com as normas da sociedade, do contrario
as partes adquiridas serão alienadas pela socie-
dade ou pelos socios em leilão privado entre elles.
ART. 16 — Cada socio tem direito a:
a) — Votar nas Assembléas Geraes;
b) —-Obter emprestimos por juros mais baixos que
nos bancos communs e a prasos mais razoaveis, com
direito a reforma, de accordo com a lei, os pre-

- 86 -

sentes estatutos, os regulamentos, as deliberações do


Conselho de Administração e a Assembléa;
c) - Participar dos lucros sociaes do anno se-
guinte ao da sua admissão na Sociedade, em propor-
ção das partes subscriptas, desde que tenha pago a
taxa de admissão e a primeira metade do importe das
partes. Os interesses relativos ás partes serão pagos
na razão da quantia paga e do exercicio seguinte ao
em que forem feitas as prestações.
ART. 17 — Os socios, singulares ou entidades
collectivas, de que trata o art. 9, para todos os effei-
tos legaes, nas suas relações com o Banco Popular
do . . . . . . . . . . . . . . deverão eleger domicilio no Muni-
cipio de . . . . . . . . . . . . . . . . .
ART. 18 — Não podem fazer parte da Socie-
dade os interdictos nem os fallidos, nem a essas pes-
soas poderão pertencer partes por transferencia, salvo
por motivo de herança ou de divida, porém de accor-
do com os arts. 11 e 15.
ART.19—Podem ser excluidos da Sociedade
por deliberação do Conselho de Administração:
a) — Por atrazo sem motivo plausivel, de paga-
mento de tres prestações mensaes relativas as partes
subscriptas. Em tal caso não será restituida senão
a metade dos pagamentos feitos pelo socio em atrazo;
b) — Por ter obrigado a Sociedade a recorrer a
actos judiciarios para obter o cumprimento das obri-
gações contrahidas com a mesma;
c) — Por condemnação a penas criminaes, ou a
pena correcional por delicto de corrupção ou falsidade
contra a propriedade;
d) — Por condemnação a penas criminaes infa-
mantes contra as pessoas;
e) Por ter commettido acções reconhecidas como
deshonestas pelo Conselho de Administração, com
appello para o Conselho de Probidade e em ultima
instancia para a Assembléa Geral.
ART. 20—Qualquer socio livre de debito com a
Sociedade e de toda garantia relativa ao pacto pro-
porcional de responsabilidade ou á fiança, poderá re-
tirar-se quando, além das partes pertencentes ao socio
excluido, ainda restarem.... (a assembléa decidirá
sobre esse numero de partes) outras pertencentes ao
conjunto dos demais socios.

- 87 -

ART. 21 - A parte do socio excluido o obriga,


por lei, a responsabilidade subsidiaria, perante os
compromissos da Sociedade, até cinco annos, a partir
da data da acceitação da sua renuncia pelo Conselho
de Administração. Fica porem a criterio do Conselho
esse reembolso, de accordo com os arts. 20 e 22.
ART. 22 - Os socios excluidos, de accordo com
os arts. 19 e 20, decorrido o tempo indicado pelo
art. 21, têm direito de receber o reembolso, de con-
formidade com as determinações estabelecidas an-
nualmente pelo Conselho de Administração, nunca poden
do ser excedido o valor nominal de cada parte, nem
soffrer nenhum desconto, salvo no caso de <<deficit>>
accusado pelo ultimo balanço, dando-se então o des-
conto proporcional, e de accordo com o art. 20.
ART. 23. Os socios não respondem pelos com-
promissos sociaes senão até a concorrencia do mon-
tante das partes subscriptas, cujo importe serve para
garantir os debitos e as obrigações de qualquer natu-
reza, contrahidas com a Sociedade. Esta tem privi-
legio sobre as partes do socio, e no caso de insolva-
bilidade do titular, poderá annullar a acção do mesmo
e deduzir o importe em beneficio da Sociedade, na
medida da satisfação do credito concedido ao socio
insolvavel, insolvavel de facto, e não por mero acci-
dente independente dos seus esforços honestos, o que
determina a reforma constante da letra b do art. 16.
OPERAÇÕES DA SOCIEDADE

ART. 24—A Sociedade:


a) Concede emprestimos pessoaes aos socios sobre
o valor nominal das suas partes;
b) Desconta letras, ordens da administração pu-
blica, warrants, bilhetes de trabalbo, facturas e outros
effeitos commerciaes-que não infrinjam a doutrina
social anti-especulativa, agiotaria; effeitos solidos
que facilitam as transacções e não affectem a circulo
regulamentar de acção prudente do banco;
c) Concede emprestimos e abre contas correntes
contra penhor de titulos de credito e de mercadorias,
de accordo com os modelos estabelecidos pelo regula-
mento que abrange as necessidades directas, inillu-

- 88 -

diveis dos socios a qualquer classe pertençam entre os


que mais lutam honestamente;
d) Concede emprestimos proletarios sobre a
honra;
e) Abre creditos e contas correntes contra garan-
tias hypothecarias;
f) Concede, em caso de exuberancia de capitaes,
emprestimos ao Municipio, ao Estado, á União, ás
entidades moraes e Sociedades Cooperativas, adhe-
rentes;
g) Concede emprestimos hypothecarios, reembol-
saveis por meio de amortizações durante um período
que não exceda dos 10 annos e poderá fazer opera-
ções de credito fundiario, extensivas ao credito agra-
rio, que tambem póde ser sob fiança pessoal, e por
prasos fixados pelo Conselho de Administração, appro-
vados pelo Conselho Fiscal, apresentados á primeira
Assembléa Geral a reunir-se, a qual julgará as razões
de taes concessões;
h) Recebe depositos em numerario, quer sobre
cadernetas de economia, nominativas (aos socios) ao
portador (a não socios) quer em conta corrente com
talão de cheques, a praso fixo, ou não desde que haja
garantia;
i) Póde prestar serviços de caixa, exercer func-
ções de recebedor, thesoureiro e cobrador por conta
dos governos, das entidades moraes, socie-
dades cooperativas, prestando tambem cauções;
j) Recebe valores em custodia e para adminis-
tração;
k) Adquire valores de indubitavel solvabilidade,
e partes da propria Sociedade, de accordo com o
art. 22.
l) Sacca e acceita saques dos seus corresponden-tes
no pais, sem nenhum risco de envolver a Socie-
dade em relações dubias de qualquer especie;
m) Desconta letras da sua carteira;
n) Abre contas correntes contra letras ou vales
sob solidas garantias;
o) Concede emprestimos aos fuuccionarios publi-
cos, mediante cessão regular de quotas dos seus venci-
mentos, desde que taes quotas forem fixadas por lei,
por prasos estabelecidos de accordo com as possibili-
dades e condições determinadas pelo Conselho Admi-

- 89 -

nistrativo, approvadas pelo Conselho Fiscal e apre-


sentadas ao julgamento da Assembléa Geral mais
proxima;
p) Encarrega-se de fazer cobranças e pagamentos
por conta de terceiros,
Os emprestimos á lavoura, aos funccionarios e aos
proletarios têm que ser concedidos ainda em melho-
res condições que para as outras classes, sendo esta-
belecidos juros mais baixos tanto para os funcciona-
rios e proletarios, como para os lavradores, desde que
satisfeito o direito de fiscalização por parte da Socie-
dade sobre o emprego lucrativo ou vantajoso do pro-
ducto de taes emprestimos os quaes devem ser perfei-
tamente Justificados. Deverá ser feito um regula-
mento sobre as condições e motivos de taes empres-
timos.
ART. 25—O Conselho de Administração poderá
tambem acceitar outras operações além das citadas,
desde que estejam de accordo com a indole da Socie-
dade.
ART. 26-OS emprestimos pessoaes aos socios,
salvo os sobre a honra, serão concedidos sómente
mediante deposito de partes saldadas e não poderão
exceder do valor nomianal da parte. As partes ficam
assim penhoradas á Sociedade. Para emprestimo sobre
a honra haverá um limite baseado em certa percen-
tagem tirada annualmente dos lucros, constituindo-
se uma commissão especial para concedel-os e de que
fará parte um proletario eleito para membro da tal
commissão e que seja socio duma sociedade de soc-
corros-mutuos, perfeitamente de accordo com o regi-
men Luzzattino.
O montante total dos emprestimos sobre garantia
das partes, não deverá exceder da metade do capital
realizado.
ART. 27—O praso dos emprestimos e descontos
não deve exceder de 6 mezes; poderão ser renovados.
Salvo para a lavoura cujas condições têm que ser fixa-
das de accordo com a natureza do emprego do pro-
ducto do emprestimo, quer no amanho, compra de
material ou de animaes, restauração ou construcção,
de que deriva a fixação de prasos diversos, de confor-
midade com o tempo que permittir o lucro presuppos-
o de que depender o reembolso.

- 90 -

ART. 28—As operações com as entidades moraes


poderão exceder o periodo ordinario de praso, mesmo
sem o relativo augmento de interesse.
ART. 29—Os socios, em grupo, poderão contra-
hir collectivamente emprestimos, nomeando um delles
para represental-os, por meio de autorização especial,
garantinda as operações feitas com a Sociedade, o
total das partes possuidas por todos os associados,
sendo fiscalizado tambem o emprego do producto
desse emprestimo pela Sociedade, podendo o empres-
timo ser feito pelo dobro do valor das partes reunidas,
porém, com as mesmas garantias exigidas pelo art, 6.°
letra a.
ART. 30 — O juro dos emprestimos e a taxa
de desconto serão fixados pelo Couselbo de Adminis-
tração em plena harmonia com a indole da Sociedade,
a consciencia de soberania universal da Assembléa,
que exige condições melhores, mutuarias, em opposi-
ção tenaz á especulação agiotaria que deve ser com-
batida pelas Sociedades cooperativas e os sinceros
cooperadores corn toda a encrgiá ernanada do proprio
pacto de solidariedade mutualistica, amparada pela
lei, em beneficio da propulsão do commercio e indus-
trias populares, para o barateamento da vida e a co-
hesão nacional, sob a pallio da hospitalidade alerta e
ampla.
No caso de reforma que exceda em conjunto a
periodo d’um anno, a juro augmentará na razão
de 1/2% ao anno, de accordo com a medida estabelecida
para as outras operações.
De qualquer modo a duração dos emprestimos e
dos descontos não deverá exceder nunca do praso de
18 mezes.
ART. 31 Se o estado da Caixa não bastar para todos
os pedidos de emprestimos solvaveis, serão pre-feriveis as
operações de sommas menores e dos socios que
tiverem menor somma de debitos com a Sociedade. No
caso de exuberancia de capitaes, a Banco promove
com segurança a propaganda e fundação de cooperati-
vas de grande vulto e indispensaveis, baixando o
juro de emprestimos mecanicamente, sendo vedada
a politica de augmento de juro de deposito, por con-
comitancia.
A RT . 32 — Um regulamento organisado pelo

- 91 -

Conselho de Administração e approvado pelo Conse-


lho Fiscal, estabelecerá as normas relativas a cada
operação, de accordo com a lei e os presentes estatu-
tos.
ART. 33 - O juro dos depositos de que trata o art...
24 letra g. será determinado pelo Conselho de Ad-
ministração, com a approvação do Conselho Fiscal.
O regulamento poderá modificar o praso de reembol-
so, em pleno equilibrio dos fins sociaes com as cir-
curmstancias ponderaveis, jamais em detrimento da
doutrina de solidariedade mutua, baseada no desinte-
reese da Sociedade, porém sem prejuizo da moral
economica institutiva, nem da estabilidade financeira
da Sociedade que permitte melhorar os meios progres-
sivamente e de accordo com a situação —social sob a
orientação d’uma superintendencia superior, inteira-
mente isenta de qualquer cambalaxo.
ART. 34 — Se os titulos e as mercadorias dadas em
penhor soffrerem depressão de valor superior a
10% quem fizer emprestimo, — neste caso, deverá
reembolsar proporcionalmente parte do emprestimo
obtido, ou fornecer um supplemento de caução.
Se no praso da prestação a somma emprestada
não fôr restituida, ou se no caso de diminuição de va-
lor o devedor não effectuar o reembolso parcial ou
não prestar o supplemento da caução, a Sociedade po-
derá sem formalidade judiciaria, nem outra despesa,
promover a venda por meio de intermediarios publi-
cos, dos titulos e mercadorias recebidos em penhor,
até á concorrencia do seu credito, incluido o capital,
juros e despesas. (Não confundir titulos penhorados
com as partes da sociedade que não podem ser vendi-
das em hasta publica, de accordo com o art. 11).
Taes condições deverão ser antecipadamente
acceitas pelo devedor pignoraticio na declaração do debito
ou em documento separado.
ART. 35 — Será formado um fundo de reserva
com as quotas de admissão, e com 15% retira-
dos dos lucros liquidos, annuaes. Tal antecipação ces-
sará quando o fundo de reserva attingir a metade do
capital social, representado pelo valor nominal das
partes existentes no principio do exercicio.

- 92 -

ART. 36 O fundo de reserva é destinado:


a) — a reintegrar o capital no caso de prejuizo;
b) — a completar até á concorrencia de 4% o
juro annuo, cujo limite maximo é de 12%, no anno,
juro relativo ás partes, calculado sobre o valor nomi-
nal das mesmas, e ao que for resgatado pelos socios;
isso no caso em que os lucros do exercicio não sejam
sufficientes para o pagamento desse juro.
ART. — 37 As sommas que passam ao fundo de
reserva serão empregadas em effeitos solidos e facil-
mente resgataveis na Bolsa e serão indivisiveis.
ART. 38 — Será formado um fundo de previ-
dencia com contabilidade propria para conceder pen-
sões e emolumentos aos empregados da Sociedade, ás
suas viuvas a orphãos, de accordo com as condições
e, normas estabelecidas em regulamento especial.
ART. 39 — Os lucros annuaes remanescentes,
depois de retiradas as percentagens para a constitui-
ção dos fundos de reserva e previdencia, a emolumen-
tos, a juro das partes, serão levados ao fundo
de desenvolvimento destinado a obras futuras de ca-
ridade e propulsão, por meio da fundação de coope-
rativas de todas as especies viaveis no Municipio. A
Assembléa caberá a fixação das percentagens para
cada exercicio, as quaes poderão ser distribuidas da
seguinte forma sobre os lucros liquidos:
50 % para juros das partes (acções).
5% para fundos de Previdencia dos empre-
gados do Bunco.
5 % para assistencia — mutua, com peculio
por morte.
5 % para caridade.
5 % para propaganda da cooperação ou fim de
utilidade publica.
15 % para fundo de desenvolvimento.
15 % para fundo de reserva (art. 35).

100%

Administração

ART. 40 — A Administração da Sociedade será


exercida pelos seguintes orgãos:
a) — Assembléa Geral dos socios;
b) — Conselho de Administração;

- 93 -

c) — Conselho Fiscal.
d) — Commissão de descontos.
e) —Um Director superintendente, auxiliado
pelos outros empregados da Sociedade.
f) — Commissão de Probidade.
g) — Commissão de agencias.

Da Assembléa Geral

ART. 31 — Compete á Assembléa Geral:


a) — Discutir e deliberar sobre os balanços an-
nuaes;

b) — Nomear os membros do Conselho de Ad-


ministração, do Conselho Fiscal a da Commissão de
Probidade;
c) — Modificar os estatutos respeitando as dis-
posições legaes e doutrinarias;
d) — Deliberar sobre todas as propostas apresen-
tadas ao Conselho de Administração ou a um quinto
dos socios;
e) — Deliberar sobre a installação au supressão
de agencias e ratificar as decisões tomadas a tal res-
peito pelo Conselho de Administração.
f) — Pronunciar a dissolução da Sociedade;
g) — Approvar o regulamento que rege a conces-
são de desconto das agencias, determinar a responsa-
bilidade das partes inscriptas junta a cada banco da
Sociedade, em relação aos prejuizos eventuaes.
ART. 42 — Cada anno tem lugar uma assembléa
ordinaria dos socios que se deve reunir a contar de 3
mezes do encerramento do exercido social para deli-
berar sobre a de que trata o art. 41. letra a e
b, além de outros assumptos constantes da ordem do
dia. Outrosim, serão convocadas assembléas extra-
ordinarias, quando o Conselho de Administração jul-
gar necessarias, ou um decimo dos socios a deseje.
ART. 43 — Compete ao Presidente do Conselho
de Administração convocar a Assembléa Geral medi-
ante aviso publicado com a antecedencia de no mini-
mo, 15 dias. • Na sua falta a convocação caberá ao
vice-presidente ou a um outro membro do Conselho.
O deve indicar os assumptos a serem tratados,
compreendidas as propostas apresentadas por 50 so-

- 94 -

cios, as quase devem ser dirigidas ao Conselho 20 dias


antes da Assembléa.
Quando se deva deliberar sobre modificações dos
Estatutos, os socios serão avisados particulamente a
respeito, e tambem por meio de inserções no jornal da
predilecção da Sociedade e de maior tiragem local.
ART. 44 — Em cada Assembléa só de póde tratar de
assumptos constantes da ordem do dia; qualquer
disposição em contrario é considerada nulla.
ART. 45 — Para a validade da Assembléa Ge-
ral torna-se necessaria a presença d, um quinto do
numero de socios, no minimo.
Numa segunda convocação que deverá ser feita
nunca além d, um mez, a Assembléa será legalmen-
te constituida com qualquer numero de socios pre-
sentes.
Quando se deva deliberar sobre modificações dos
estatutos e dissolução da Sociedade, será necessario
um terço dos socios, na 1ª. convocação, e na segunda
nunca menos d’um quinto.
ART. 46 — As propostas para modificações dos
estatutos poderão ser apresentadas á Assembléa dos
socios ou ao Conselho de Administração ou a um terço
dos socios, cujas assignaturas constem do texto das
proprias propostas, as quaes só serão adoptadas
por dois terços dos votantes. As propostas para
prorogação ou dissolução da Sociedade não serão to-
madas em consideração se não forem firmadas por
um — terço dos socios e não serão adoptadas senão
quando reunirem em seu favor dois terços dos vo-
tantes.
Nos outros casos se delibera por rnaioria abso-
luta; tratando-se de pessoas, procede-se á votação
por rneio de escrutinio secreto, havendo empate a
proposta é rejeitada; cada proposta recusada não po-
derá ser reproduzida senão depois d, um mez.
ART. 47 — Cada socio tem um só voto, qual-
quer que seja a numero de partes que possua.
ART. 48 — Os socios poderão ser representados
por um outro socios, na Assembléa Geral, mediante
procuração. Cada socio nunca poderá representar
mais de um socio por procuração.
As entidades moraes, as cooperativas poderão de-
legar poderes a um dos seus socios para representeas.

- 95 -

ART. 49 - Menores não emancipados, interdi-


ctos, incapazes e fallidos, possuindo partes da So-
ciedade, aquelles só por herança, estes pelo mesmo
motivo ou por já serem socios antes da fallencia
ou incapazes, não poderão intervir nas Assem-
bléas, salvo se forem representados por tutores; ou
curadores—socios, e de accordo com o art. 48.
ART. 50 — As Assembléas geraes são presidi-
das pelo presidente do Conselho de Administração ou
pelo vice-presidente no caso de auzencia do primeiro;
um membro do Conselho de administração tomará as
funcções de Secretario.
ART. 51 — As sessões, para os casos não pre-
vistos por estes estatutos, serão reguladas de confor-
midades com as normas seguidas pelas sessões da Ca-
mara dos deputados.
ART. 52 — Das reuniões de deliberações da As-
sembléa far-se-á processo verbal que constará do li-
vro de actas, firmado pelo Presidente, os escrutinado-
res e o secretario da Assembléa. Esse livro e a có-
pia dos extractos do mesmo, certificados pelo presi-
dente e secretario do Conselho de Administração, ser-
virão de prova das reuniões e deliberações da As-
sembléa.
Conselho de Administração

ART. 53 — O Conselho de Administração é


composto de, pelo menos, 7 membros eleitos pela As-
ssembléa, por maioria absoluta de votos e a escruti-
nio secreto.
Os membros do Conselho de administração são
dispensados de prestar caução e a sua responsabili-
dade é determinada pelas respectivas disposições
legaes, para os effeitos das suas gestões, como se dá
nas sociedades anonymas, pois os meios de punir a
fraude são semelhantes, sob o ponto de vista legal;
entre a sociedade anonyma e a sociedade cooperativa,
tratando-se em tal caso da individualização do proprio
facto, independentemente de qualquer forma de so-
ciedade.
ART. 54 - O Conselho de Administração, na sua
primeira reunião logo depois da assembléa geral or-

- 96 -

dinaria, nomea entre os seus membros, um presi-


dente e um vice-presidente, por maioria absoluta de
votos e escrutinio secreto.
Os membros do Conselho exercem as suas fun-
cções por tempo determinado e são revogaveis. Têm
exercicio durante 3 annos e renovam-se cada anno
por um terço, obedecendo-se no seguinte turno: 4
membros no primeiro anno, 4 no segundo, 3 no ter-
ceiro. O turno de sahida, desde que não possa ser es-
tabelecido pela antiguidade do cargo, se decide por
meio de sorteio.
Os membros do Conselho tomam posse logo de-
pois da sua nomeação; os nomeados para os cargos
vagos, occupam-n'o só durante o tempo que faltava
nos seus antecessores.
O presidente e vice-presidente têm exercicio até
ao fim do excrcicio do Conselho.
Os membros do Conselho são reelegiveis nos seus
cargos.
Quando no decurso do exercicio se verificar, por
qualquer causa, a vaga de 3 lugares occupados por
membros do Conselho, o Conselho poderá nomear,
com a approvação do Conselho fiscal, subrogantes
para occupar os lugares vagos, até á primeira reunião
da Assembléa; quando o numero de vagas fôr maior,
deverá ser convocada com urgencia a Assembléa Ge-
ral para a subrogação.
ART. 55—Os membros do Conselho de adminis-
tação, e bem assim os do .Conselho Fiscal, tem di-
reito no reembolso das despezas occasionadas pelo
exercicio das suas funcções.
Além disso são concedidos emolumentos, senhas
de presença para todos os cargos junto á séde central
e ás agencias cabendo Assembléa Geral fixar as or-
denados, constando a applicação dos mesmos de re-
gulamentação especial interna, que ficará aos cuida-
dos do Conselho de Administração e será approvada
por este e pelo Conselho Fiscal, de accordo com
estes estatutos.
ART. 56— O presidente superintende todos os ser-
viços da administração, verifica pelo menos uma vez por
mez o estado da caixa, e preside as sessões do
Conselho de Administração. Além disso poderá
adoptar providencias urgentes que julgar necessarias

- 97 -

e que sejam da alçada do Conselho, fazendo disso re-


ferencia, dentro de 48 horas, para as respectivas deli-
berações. No caso de falta ou impedimento do Pre-
sidente, este será substituido pelo vice-presidente ou,
na falta deste, pelo conselheiro mais edoso.
ART. 57—Os conselheiros são solicitados periodi-
camente pela presidencia para o turno do serviço que
em regra dura 15 dias.
O conselheiro do turno inspecciona o funcciona-
mento da Sociedade, assigna a correspondencia com
o Director e assiste a quotidiana prestação de contas
e ao movimento das Caixas sociaes, conservando em
custodia uma chave das mesmas.
ART. 58—O Conselho:
a)—Nomea, suspende e revoga os membros da
commissão de descontos, o Director superintendente,
o Caixa e os outros empregados da Sociedade; pro-
videncia sobre a execução das deliberações da Assem-
bléa (o presidente do Conselho e o Director superin-
tendente, convem que sejam eleitos pela assembléa);
b)—Determina os regulamentos das operações da
Sociedade e estabelece a ordem dos empregados;
c)—Delibera sobre as despezas de administração e
O emprego dos fundos de reserva;
d)—Determina a distribuição das sommas dispo-
niveis;
e) —Fixa a medida dos juros activos e passives e
dos encargos e compromissos;
f)—Delibera sobre os pedidos de emprestimos e
descontos nos casos da sua alçada;
g)—Toma a responsabilidade dos emprestimos;
h)—Autoriza reducções, cancellamentos a fazer,
e toda a sorte de declarações nos registros de hypo-
theca;
i)—Pratica todos os actos de administração ordi-
naria e extraordinaria que não sejam reservados á
Assembléa, e que sem contradizer os estatutos julgue
opportunos, no interesse da Sociedade;
j)- Redige os relatorios annuaes sobre o estado
da Sociedade, e dá publicidade as demonstrações
de contas mensaes do Instituto.
ART. 59—O Conselho poderá delegar poderes a um
dos seus membros para exercer funcções, attribuições
denominando-se conselheiro Delegado o membro

- 98 -

escolhido, fixando o Conselho para o mesmo os emo-


lumentos respectivos.
ART. 60—Cabe ao Presidente e em sua auzencia ao
vice-presidente, convocar o Conselho. As convo-
cações ordinarias terão lugar uma vez por mez e ex-
traordinarias todas as vezes que o serviço exigir, ou
se forem pedidas por um terço dos membros do Con-
selho ou por dois membros do Conselho Fiscal.
ART. 61—As reuniões são validas quando esteja
presente pelo menos a metade dos membros encar-
regados.
As deliberações serão tomadas por maioria abso-
luta de votos. Em caso de empate a proposta é re-
jeitada.
ART. 62-caberá a um dos membros do Conselho
secretaz4ar a reunião.
ART. 63—Das reuniões e deliberações do Con- selho
se lavrará processo verbal no livro de actas, as-signado
pelo presidente, por um membro do Conse-
lho e o secretario.
Esse livro e a copia e extractos do mesmo, certi-
ficados pelo presidente e a secretario, servirão de
prova das reuniões e deliberações do Conselho.
ART. 64—Todos os membros componentes da
Administração, inclusive empregados, devem ser so-
cios do Banco.

Do conselho fiscal

ART. 65—Em cada Assembléa geral ordinaria


serão nomeados tres conselheiros fiscaes effectivos e
dois supplentes, por maioria absoluta de votos e por
escrutinio secreto.
No caso de morte, renuncia, fallencia ou decaden-
cia serão subrogados pelos supplentes por ordem de
edade e na falta destes o membro ou os membros que
ficarem escolherão os subrogantes que exercerão as
funcções dos subrogados até á mais proxima Assem-
bléa.
Os Conselheiros fiscaes deverão ser escolhidos
entre os socios; o cargo dos mesmos terá a duração
d'um anno e serão reelegiveis. Não serão elegiveis e
perderão as funcções os parentes de qualquer grau e
affins dos administradores. Os conselheiros fiscalizam

- 99 -

e controlam permanentemente a obra dos adminis-


tradores, no interesse de todos os socios têm a
mesma responsabilidade que os administradores nos
casos de omissão nos balanços approvados, perante a
lei e a Sociedade.
A Assembléa geral ordinaria fixará os emolu-
mentos respectivos para o anno em que os conse-
lheiros fiscaes deverão exercer o mandato.
ART. 66 — Os conselheiros fiscaes se empe-
nham pela rigorosa observancia das disposições esta-
tutarias e regulamentares e das deliberações da Assem-
bléa dos socios; um dos Conselheiros fiscaes, pelo me-
nos, deverá assignar a situação mensal da Sociedade,
Serão convidados a assistir, sem tomar parte na vota-
ção, as reuniões do Conselho de administração e a
inserir na ordem do dia dessas reuniões, como das as-
sembléas ordinarias e extraordinarias, as propostas
que julgarão necessarias.
As suas funcçoes:
a) — Estabelecer, de accordo com o Conselho de
Administração, a forma dos balanços e das situações
das partes;
b) — Examinar pelo menos cada trimestre as
operações sociaes e a combinar o bom methodo de
escripturação;
c) — Promover o confronto da caixa cada tri-
mestre;
d) — Revistar uma vez por mez, pelo menos, de
accordo com os livros sociaes, a existencia dos titulos,
effeitos commerciaes, valores de qualquer especie, de-
positados em custodia ou de qualquer modo, junto ao
banco;
e) — Verificar se foram cumpridas as disposições
do acto constitutivo e dos Estatutos, de conformi-
dade com as condições estabelecidas pela Assembléa
Geral;
f) — Examinar o balanço a relatar a respeito, nos
termos legaes;
g) - Fiscalizar as operações de liquidação;
h) -Convocar a Assembléa ordinaria e extraor-
dinaria no caso de omissões da parte do Conselho de
administração;
i) - Tomar parte em todas as Assembléas Ge-
raes;

- 100 -

j) — Providenciar em geral, de forma que as dis-


posições da lei, do acto constitutivo e dos estatutos
nunca deixem de ser cumpridas pelo Conselho de
Administração.

COMMISSÃO DOS PROBOS

ART. 67 —- Aos membros da Commissão dos Pro-


bos compete dirimir qualquer duvida que por acaso
houver entre os socios e a administração da Sociedade
evitando controversias, delongas prejudiciaes á Socie-
dade e aos socios.

COMMISÃO DE DESCONTOS

ART. 68 — O Conselho de Administração nomea


annualmente uma commissão de descontos, de 6
membros escolhidos entre os socios que não exerce-
rem outras funcções na Sociedade ; essa commissão
tem exercicio durante um anno e os seus membros
são reelegiveis.
As reuniões da commissão de descontos são pre-
sididas pelo Director, que trata de todos os pedidos
de emprestimos, descontos ou conta corrente, renova-
ções e do todas as outras operações que não sejam da
alçada do Conselho de Administração. Uma vez que
o Conselho tenha todos os seus membros occupados
ou preenchidas as suas funcções, é mui natural que,
em se tratando de conhecimentos praticos, especiaes,
entre os socios, numa cidade, decerto se devem en-
contrar pessoas nessas condições.
ART. 69 A comissão se reune, por convite
escripto do Director, tantas vezes quantas o exigirem
as necessidades administrativas.
ART. 70 Os membros da Commissão de des-
contos não poderão votar, não sómente quando se tra-
tar de suas propostas, como tambem das em que ti-
verem interesse directo ou indirecto; até deverão em
taes circumstancias abater-se de tomar parte nas reu-
niões da commissão.
ART. 71 — Nenhum emprestimo poderá ser
concedido, nenhum effeito descontado sem a appro-
vação da Commissão de descontos e do Conselho de
administração.

- 101 -
ART. 72 - Os commissarios que participarem
da reunião das commissões de descontos; terão direito
a senhas de presença de presença de conformidade com o art. 55.
ART. 73 - Os processos verbaes das delibera-
ções da commissão serão assignados pelo Director e
os que tomarem parte.

ADMINISTRAÇÃO COMMERCIAL
ART. 74 — O Director, eleito pela Assembléa
geral ou pelo Conselho de administração, de cujas
reuniões tomará parte com voz consultiva no que
respeita aos negocios em que se não ache envolvido
pessoalmente, tem a direcção material do instituto.
Representa a Sociedade em juizo e fóra delle;
assigna, juntamente a um dos membros do Conselho
de administração, a correspondencia, contratos, en-
dossos, quitações de letras, bilhetes de ordem e ou-
tros effeitos semelhantes, concessões de reducção ou
cancellamento hypothecario, a em geral todos os actos
que impliquem direitos e obrigações da Sociedade
com terceiros.
ART. 75 — O Director auxiliado pelo pessoal
admittido pelo Regulamento, se encarrega da corres-
pondencia, dos processos verbaes das reuniões, e dos
registros sociaes, organiza os balanços da administra-
ção, conformando-se com as deliberações do Conselho
de Administração. Sob sua guarda fica uma das cha-
ves da Caixa — custodia.
Não poderá pertencer a outra instituição de cre-
dito, nem exercer a profissão de commerciante, nem
fazer operações de bolsa.
ART. 76 — O Director prestará garantia a rece-
berá a retribuição fixada pelo Conselho de Adminis-
tração.
ART. 77 — No caso de auzencia ou impedimento
do Director, o Conselho de administração designará
um dos seus membros ou um dos empregados da So-
ciedade para occupar provisoriamente o seu lugar.
ART. 78 — A Sociedade terá um Caixa a qual
deverá prestar caução fixada pelo Conselho a rece-
berá a retribuição tambem fixada pelo mesmo.
O Caixa receberá o dinheiro a depositos a elle

- 102 -

confiados e passará disso, recibo, fará pagamentos com-


tra ordens emittidas pelos orgãos competentes, de
conformidade com as normas e precauções regula-
mentares, tendo em dia e com a maior clareza o livro
de entradas e sahidas, e deverá prestar-se ás verifi-
caçoes de Caixa, fornecendo os esclarecimentos soli-
citados pelo presidente, o conselheiro de turno, os
conselheiros fiscaes e o Director. Cabe-lhe a respon-
sabilidade de custodiar todos os valores da Sociedade
e deverá ter sob sua guarda uma chave de todas as
caixas.
ART. 79 — Todos os empregados da Sociedade
estarão debaixo da vigilancia do Director e depende-
rão do Conselho de Administração.

DAS AGENCIAS
ART. 80 — As Agendas estarão sob a depen-
dencia do Conselho de Administração:
a) — Cada uma dellas terá uma representação,
cujos membros serão annualmente eleitos entre os so-
cios inscriptos junto á propria agencia;
b) — Cada uma terá um Director e empregados
nomeados pelo Conselho de administração.
ART. 81 — Aos Directores das agencias será
prohibido o exercicio de funcções extranhas á socie-
dade e de que trata a ultima parte do art. 75.

DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE

ART. 82 — Sempre que 7 socios se oppuxerem


á dissolução, a Sociedade não poderá dissolver-se, a a
reserva e a contabilidade serão entregues a esses as-
sociados, os outros tendo sómente o direito de reti-
rar-se de accordo com as normas dos presentes esta-
tutos. Salvo no caso de fallencia.
ART. 83 — No caso de insolvencia a dissolução
deverá ser pronunciada pela Assembléa geral, legal-
mente constituida, a qual determinará as normas da
liquidação, nomeando uma commissão liquidadora.
Caso houver remanescentes, qualquer que seja o mo-
tivo da dissolução, serão entregues á Caixa Economica,
afim de serem empregados opportunamente na funda-

- 103 -

ção d'uma outra cooperativa identica, na mesma cir-


cumscripção do banco.
ART. 84 - Os membros que se oppuzerem, salvo
no caso de fallencia que é irremediavel, como ficou
dito, á dissolução da Sociédade, deverão fazer tal de-
claração á Assembléa que pronunciará essa dissolução
ou notificarão a sua resolução por acto judiciario, ao
Presidente do Conselho de administração nos dois
mezes que se seguirem á resolução da dissolução.
Passado, este praso, terá caducado o direjto de op-
posição, e a reserva poderá ser empregada, de accordo
com os presentes estatutos, no reembolso das partes
e dos depositos, de modo que, cumpridos todos os
compromissos e feitas todas as despesas, o remanes-
cente seja destinado segundo a disposição do art. 83.
ART. 85 Os presentes estatutos, juntamente
com a copia da acta da installação definitiva da so-
ciedade e a lista nominativa dos socios existentes e
suas quotas de capital, tudo em duplicata, serão de-
positados, mediante recibo, no cartorio do registro
geral de hypothecas.
§ 1° — Da mesma forma se procederá com quaes-
quer actos de assembléa geral que alterem ou modi-
fiquem os estatutos.
§ 2° — Semestralmente será renovado o depo-
sito da lista dos socios e suas quotas de capital.
§ 3° — Mensalmente, até o dia 20 e de accordo
com os modelos officiaes, os balancetes demonstra-
tivos do respectivo movimento.
§ 4° — Annualmente, até 31 de Março, a ba-
lanço geral acompanhado da conta de lucros e per-
das
Todos as documentos constantes deste artigo de-
verão ser enviados á Directoria do Serviço de Ins-
pecção e Fomento Agricolas onde esta sociedade, por
virtude do dec. n° 17.339, do 2 de Junho de 1926,
deverá ser devidamente registrada, sendo que os do-
cumentos constantes do § 3° e § 4° não precisam de
ser remettidos ao cartorio.

Secção das casas populares

Para as Cooperativas de consumo e os ban-


cos-Luzzatti

O decreto de 23 de março de 1919, admitte tam-


bem favores as cooperativas de consumo e do credi-
to, com secções especiaes, normas estatutarias, a res-
pectiva gestão e contabilidade distincta, expediente
separado, para coustruir ou adquirir casas populares
com vantagens para os proprios socios (Guida pra-
tica per l’edilizia populare).
A instituição d’uma secção de casas populares,
modifica os Estatutos da Cooperativa de consumo,
conforme as normas que passamos a dar de confor-
midade com o <<Guia>> da autoria do advogado Felice
Manfredi, de forma que taes modificações deverão ser
apresentadas á Junta Commercial, como se faz no
acto de installação da sociedade.

Estatutos da secção de casas populares,


junto a uma Cooperativa de consumo
ou de Credito

(Adaptação. Por J. S. Britto)

ART. 1 — No seio da Sociedade Cooperativa de


. . . . . . . . . . . . e entre os socios da mesma consti-
tuio-se uma Secção para a construcção e acquisição de
casas populares e economicas com vantagem exclusi-
va para os proprios socios.
A Secção durará a mesmo tempo que a sociedade
do que faz parte, terá gestão e contabilidade separa-

- 106 -

da e distincta e será dirigida sob as seguintes normas


estatutarias especiaes.
Ella terá obrigação de attender as exigencias
constantes do decreto n. 1.637 de 5 de Janeiro de
1907, pelo qual será regida, de accordo com a Socie-
dade de que faz parte, por intermedio da qual serão
remettidos em tempo os documentarios constantes do
art. 16 do referido decreto, que se referirem Se-
cção de Casas populares da Cooperativa de . . . . . . . . . . . . .
ART. 2 — O fim da sociedade é de construir ou
adquirir casas populares e economicas para os socios
da Sociedade, para seua moradia propria e propriedade
indivisivel e inalienavel, e com o fim de alugal-as nas
condições mais vantajosas para socios.
A RT . 3 - Todo e qualquer socio da Cooperati-
va de......... pode fazer parte da Sociedade desde
que não seja proprietario de outras casas — inscri-
ptas no cadastro urbano e aggravadas de mais de . . . . . . .
450$000 annuaes de impostos. Para fazer parte
da Secção é necessario o pagamento d'uma taxa de en-
trada de 5$000. Deverá além disso tomar pelo menos
uma acção e nunca mais de 5:000$000 em acções da
sociedade, que serão registradas em conta especial do
capital da Secção predial.
No livro dos socios da Cooperativa deverão ser
mantidas distincta, separadamente as inscripções e os
depositos na conta Secção predial.
ART. 4 — Deixa de pertencer á Secção a socio
que por qualquer motivo deixe de pertencer á Coope-
rativa; o capital depositado na conta da Secção (sal-
vo a taxa de entrada) é reembolsado ao mesmo ou
aos seus — herdeiros —isto é, a quantia depositada e
só nos casos em que for admittido o reembolso do ca-
pital depositado na Cooperativa. Deixa Tambem de
pertencer á Secção, sem perder porem a qualidade de
socio da Cooperativa, o socio que so tornar proprieta-
rio, de outras casas inscriptas no cadastro urbano e ag-
gravadas de mais de 450$000 de impostos annuaes.
ART. 5 - O patrimonio da Secção cuja gestão e
contabilidade — são separadas, é composto:
a) das taxas de entrada da Secção;
b) das acções supplementares, de accordo com
o art. 3;

- 107 -

c)da contribuição da Cooperativa de . . . . . . . . . . . . .


proveniente d’uma percentagem tirada dos lucros an-
nuos do balanço ou de outra qualquer forma:
d)do fundo de reserva.
O valor nominal das acções não pode ser augmen-
tado. As acções supplementares da Secção são vincu-
ladas á Sociedade em garantia das dividas do socio
por aluguel e outras obrigações dependentes da loca-
ção de casas sociaes.
ART. 6 — No balanço social annual da Coope-rativa
evidencia-se distinctamente a gestão da se-
cção predial, segundo o capital, as rendas e as suas
proprias despesas. Os lucros da Secção deduzidos
5% a favor do fundo de reserva especial predial se-
rão destinados: 50% para retribuição do capital de-
positado na secção não excedendo o dividendo de 7%
o resto em bonificação aos socios inquilinos a titulo
redhibitorio na razão do aluguel pago e do ajuste das
annuidades de alugueis vencidos ou por vencer.
ART. 7 — As assembléas ordinarias e extrao-
rdinarias da Cooperativa convocadas de accordo com
os dispositivos estatutarios da Cooperativa, compre-
hendem tambem os socios inscriptos na Secção pre-
dial, os quaes terão somente o direito de discutir ou
deliberar sobre o balanço da mesma Secção e sobre
tudo que a ella, se referir, observando as normas ge-
raes estabelecidas pela lei e pelos Estatutos da Coope-
rativa no que respeite á Assembléa e suas delibera-
ções. Os socios inquilinos devem porém abster-se de
votar quando se tratar das proprias habitações. Ou-
trossim, sómente os socios inscriptos na Secção terão
direito de modificar os presentes Estatutos da Se-
cção, nos casos necessarios e de accordo com as nor-
mas estabelecidas pelos Estatutos geraes da Socie-
dade. Os socios inscriptos na Secção predial pode-
rão, dentro das disposições legaes e estatutarias da
Cooperativa, convocar assembléas extraordinarias por
motivo de negocios concernentes á Secção predial.
ART. 8 - O Conselho de Administração da
Cooperativa administra tambem a Secção predial man-
tendo porem o balanço e a contabilidade em separado.
Os membros dos conselhos fiscaes e de probidade
estendem os seus poderes e deveres tambem á mesma

- 108 -

Secção. O Conselho de Administração tem faculda-


de especial de providenciar sobre todos os actos
de ordinaria e extraordinaria administração da se-
cção predial e em particular sobre as concernentes;

A) ás acquisições, construcções, vendas e permu-


tas de áreas e casas, e toda e qualquer transacção
relativa ás mesmas;
b) ás operações de credito e todos os contratos e
operações — judiciarias e com qualquer especie de
instituto com que a secção tenha negocios;
c) ás inscripções, averbações, cancellamentos de
hypothecas, e em geral qualquer annotação;
d) á constituição de direitos do servidões activas
e passivas e quaesquer outros onus reaes;
e) á acceitação de herança, donativos, vinculos
e quaesquer obrigações;
f) á approvação de medidas preventivas e á or-
ganização dos — balanços, demonstrações de contas,
inventarios, sujeitos tambem á approvação da As-
sembléa;
g) á organização dos regulamentos administrati-
vos, e ao que respeita á applicação dos presentes Es-
atutos e bem assim ao que se referir á construcção,
ocação, manutenção, venda, uso e gestão das casas
populares e economicas:
• h) á nomeação, demissão e retribuição dos em-
pregados e operarios da Secção predial, e á redacção
e applicação dos regulamentos internos a respeito.
ART. 9 — O Conselho, sob sua responsabili-
dade, deve tratar de obter a transcripção dos con-
tratos de venda dentro dos 15 dias a partir da estipu-
lação do acto, e que isto seja feito de accordo com a lei.
ART. 10 — O Conselho de Administração tem
por obrigação remetter á Junta Commercial os docu-
mentos que se renovam de accordo com a artigo 16
do decr. 1.637 de 5 de Janeiro de 1907, devendo ser
publicado no orgão official da circumscripção, a de-
monstração analytica dos lucros liquidos da gestão
junto ao parecer do Conselho fiscal e a extracto do
processo verbal da assembléa que a discutio.
Outrossim, o Conselho deverá, a titulo de infor-
mação para todos os effeitos, organisar annual-

- 109 -

mente o quadro estatistico das operações da Secção


predial.
ART. 11 — A execução das operações sociaes
poderá a criterio do Conselho administrativo da So-
ciedade, esclarecido pelo da Secção, nomear superin-
tendentes technicos e administrativos, cujas attribui-
ções serão opportunamente determinadas pelo Conse-
lho de Administração da Secção. Esses superinten-
dentes intervêm com o voto consultivo nas reuniões
do Conselho, a assumem a mesma responsabilidade
legal conferida aos directores gerentes.
A caução dependerá da determinação do Conse-
lho Administração da Sociedade, de accordo com o
da Secção, devendo ser fixada no acto da tomada de
possuindo cargo, sendo a caução obrigatoria para to-
dos os empregados ou pessoas que lidem com valores
sociaes.
ART. 12 — As casas deverão ser construidas
dentro das medidas de hygiene a salubridade exigi-
das por lei, e onde faltar taes medidas legaes, deve-
rão ser applicadas as medidas sanitarias adoptadas na
capital da Republica.
ART. 13 — O valor locativo da casa deverá cor-
responder a um aluguel mensal que represente o pre-
ço de custo accrescido de 6% annuos, no maximo.
ART. 14 — A determinação do criterio technico
e economico relativo á construção das casas, caberá
exclusivamente ao Conselho de Administração da Se-
cção. Se o pedido de casas de aluguel dos socios fôr
superior á disponibilidade de predios, a sociedade po-
derá ser obrigada a construir novos.
ART. 15 — As casas construidas são alugadas
aos socios que a solicitarem, devendo a escolha ser
feita proximamente á data da inscripção do respectivo
pedido. No caso de coincidencia de data se procede
a sorteio. A data da inscripção se calcula por dias,
não por horas.
Em nenhum caso poderá obter casa de aluguel o
socio que fôr — proprietario d’um ou mais immo-
veis inscriptos no cadastro urbano a que paguem
mais de 450$000 annuos de impostos.
ART. 16 - Nenhum inquilino poderá sublocar
no todo ou em parte os predios alugados, senão a ou-
tro socio e com o consentimento do Conselho de

- 110 -

Administração e sempre por um aluguel que não ex-


ceda do que fôr estabelecido no proprio contrato de lo-
cação; nem pode dispôr dos commodos para alugar,
fazer pensão, sem o referido consentimento.
ART. 17 — Os alugueis são estipulados de anno
em anno juntamente ao acto das novas condições e sob
a observancia das leis geraes e especiaes vigentes, e
nunca por duração que exceda de 5 annos.
Os alugueis caducam quando os locatarios não
cumprem as obrigações legaes e contratuaes ou per-
dem a qualidade de socios, ou cessam de preencher
os requisitos legaes em qualquer tempo. Quando o
locatario cumpre regularmente com seus deveres, e a
casa for sempre destinada a ser alugada pela socieda-
de o Conselho não pode alugál-a a outro socio sem o
consentimento do locatario, e deve continuar a casa,
depois da morte do mesmo, se o pedir a mulher do
fallecido ou os seus filhos menores, sob as mesmas
condições geraes, comquanto caiba á Sociedade o di-
reito de augmentar o aluguel por motivo de força
maior, como seja, augmento das despesas para a ma-
nutenção do exercicio.
ART. 18 — Se o socio inquilino da Sociedade,
fôr funccionario publico, desde que seja conferido o
desconto em folha ou seja passada a procuração do
socio funccionario para a sociedade receber os seus
vencimentos descontando dos mesmo só a importancia
do aluguel, convem que essa pratica seja acceita de
bom grado pelo socio em questão.
ART. 19 — No caso de dissolução por qualquer
motivo da Secção Predial, a Assembléas dos socios
inscriptos na mesma secção, nomeará um ou mais li-
quidadores os quaes só poderão ceder os edificios so-
ciaes a Institutos autonomos de casas populares, su-
jeitos á doutrina integral das cooperativas, restituido o
capital depositado com os rcspectivos juros nor-
maes, aos socios, mais as respectivas bonificações sendo o
restante entregue á Caixa Economica, para ser
empregado numa secção identica que se abrir numa
outra cooperativa de consumo, cujos principios sejam
identicos aos desta Sociedade.
ART. 20 — Para os casos omissos entrarão em
vigor as disposições legaes vigentes ou progressivas
e os respectivos regulamentos.

- 111 -

Venda das casas

ART. 21 — A Cooperativa poderá tambem ven-


der as casas por ella construídas, aos socios, nunca
exigindo mais do que o valor pelo custo, accrescido
das despesas necessarias e mais 10% em favor do
fundo social.
ART. 22 — O preço de venda das casas aos so-
cios requerentes, será estabelecido pelo Conselho de
Administração baseado nos elementos seguintes:
a) Valor da área pelo preço de custo, augmen-
tado das despesas, taxas e juros a partir do dia de
acquisição ao da venda (5% annuos).
b) custo da construcção, inclusive os respectivos
accessorios, mais as taxas, despesas de projecto, di-
recção technica, fiscalisação, administração;
c) Juros amadurecidos dos capitaes empregados:
tratando-se de capitaes da propriedade da cooperativa,
serão fixados em 10%;
d) serão incluidas as despesas de systematização
de terrenos e estradas de serviço, esgoto, etc.
O valor resultante, na base dos supra indicados
elementos, — não poderá ser augmentado de mais
de 10%.
ART. 23 — As vendas se fazem mediante paga-
mento á vista, de accordo com os preços baseados
nos dispositivos constantes do art. 26.
Os administradores têm obrigação de tratar, sob
a sua responsabilidade de fazer com que a transcrip-
ção dos contratos de venda tenha lugar dentro dos
15 dias da estipulação do acto, e de conformidade
com as disposições legaes.
ART. 24 — O socio comprador não pode vender
a casa ou alugual-a a pessoa alguma que não seja
socia da Cooperativa e que não responda as disposi-
ções dos presentes estatutos e as exigencias legaes.
A Sociedade se reserve o direito de descontar uma
percentagem de . . . . . . . . . . no caso da venda.

Locação com promessa de venda

A RT . 25 — A Sociedade poderá tambem conce-


der aos socios a locação de casas com promessa de
venda. A locação com promessa de venda é feita pelo

- 112 -

systema de armotização simples, durante um periodo


não menor de 15 annos e pela amotização relativa
ao seguro e da forma que será determinada pelo Con-
selho: outrosim, o socio deverá pagar annualmente
o respectivo premio de seguro de incendio da casa;
no caso de atrazo no pagamento das prestações rela-
tivas ao pacto, o juro da mora será cobrado ate 5%.
No caso de transpasse da propriedade não ha
lugar senão para o pagamento integral de todas as
prestações de amortização, ou no caso de amortização
relativa ao seguro, se deve verificar o que foi estabe-
lecido e realizado. O socio será até ao respectivo
termo considerado como simples locatario, sujeito por
isso ás disposições constantes do capitulo concernente
á locação das casas da Sociedade.
ART. 26 — O contrato de locação com promes-
sa de venda deverá conter todos os requisitos legaes
a respeito.
ART. 27 -— A locação com promessa de venda
caduca:
a) quando o concessionario perca por qualquer
motivo a qualidade do socio;
b) quando o concessionario faltar aos requisitos
legaes;
c) quando o concessionario não cumprir as obri-
gações legaes e contratuaes e especialmente quando
fique em debito por mais d’um semestre com a so-
ciedade.
Em todos os casos de locação caduca, são ap-
plicados os processos legaes convenientes.
ART. 28 — O contrato de locação com pro-
messa de venda é sempre subordinado aos dispositivos
legaes convenientes.
ART. 29 — No caso de morte do socio em que
não sejam herdeiros a viuva e os orphãos e outra pes-
soa que não seja socia da Cooperativa ou não responda
aos requisitos para tornar-se socia, o contrato de loca-
ção com promessa de venda caducará.

Observação - No caso de se tornar effectiva tal pratica,


conviria que a Caixa Economica emprestasse ás
cooperativas idoneas, no sentido de dar casas á
população, fiscalizando por si esse verdadeiro
movimento predial cooperativo.

Como se constitue uma cooperativa


(Adaptação das normas italianas, com algumas modificações Por J. S.
BRITTO)
Toda cooperativa tem um fim commercial contra-
rio á especulação privada. Seu mobil do procura de
vantagens é commum a todos os socios, para melhorar
qualquer genero de condições collectivas mais de accor-
do com as necessidades. Sendo uma sociedade de
pessoas e não de capitaes, a cooperativa reune simul-
taneamente a quota e o trabalho ou esforço de cada
socio, esforço ou trabalho da mesma natureza que os
fins, numa aspiração de progresso moral e ma-
terial, empregando o excesso de lucro permanente só
em favor do desenvolvimento de obras collectivas be-
neficientes.

Os primeiros passos

Nunca menos de 7 pessoas poderão formar uma


cooperativa. Para tal fim, de conformidade com o
art. 16 do Decreto n. 1.637, de 5 de Janeiro de 1907,
basta que depositem na Junta Commercial, e, onde
não houver, no registro das hypothecas da circums-
cripção da séde da sociedade, o acto constitutivo em
que devem ser transcriptos os estatutos da sociedade,
levando o mesmo a assignatura do todos as socios,
lançando-se esse acto nas primeiras paginas do livro
de Registro dos socios, préviamente aberto, numera-
do e rubricado pela Junta Commercial, e, onde não
houver pelo Juiz de Direito da Comarca.
No caso de haver uma federação idonea de coope-
rativas da mesma especie e mais a confederação por
especie de federação ou a geral, a cooperativa iniciada
deve adherir a uma e outra, mantendo integralmente

- 114 -

a sua autonomia, de accordo com o art. 34 do citado


Decreto.
O acto constitutivo das sociedades deverá conter
sob pena de nullidade, de accordo com os arts. 14 e 15
do mesmo Decreto n. 1.637, as seguintos disposi-
ções, que poderão constar dos proprios estatutos
transcriptos no referido acto:

1.º— a denominação, forma e séde da sociedade;


2.°— os seus fins;
3.°— a designação precisa dos socios cujo numero
não será inferior a 7;

4.°—que a sociedade será regida por um Conse-


lho de Administração composto de 3 a 11 membros,
em geral (para as Caixas Raiffeisen, 3 a 7, para os
bancos populares 7 no minimo), eleitos pela Assem-
bléa que indicará o Presidente, o Director superin-
tendente, demais empregados, deliberando sobre as
funcções e ordenados, procedendo tambem á eleição
do Conselho Fiscal, do de Probidade,das Commissões
technicas, depois de ser a Assembléa perfeitamente
esclarecida pelo Conselho sobre as necessidades so-
ciaes, sendo a respoasabilidade do Conselbo de Admi-
nistração egual a do Fiscal, no caso dos actos dos
administradores serem approvados devidamente pelo
Conselho Fiscal, representando a sociedade tanto em
juizo como fóra delle o Presidente do Conselho, que
tambem preside a Assembléa, podendo o Presidente
delegar poderes ao Director para representar a socie-
dade; que o Director prestará caução e que a sua
firma só será reconhecida pela sociedade quando
acompanhada da do Conselheiro de turno;
5.°—O montante das acções ou quotas-partes
nominativas, que poderão ser tomadas até á concur-
rencia dum numero total equivalente ao valor de
5:000$000, não devendo exceder o valor de cada acção
ou quota-parte de 100$000, cujo pagamento poderá
ser feito por quotas semanaes, mensaes ou annuaes,
nem devendo exceder o valor da joia ou taxa de en-
trada ou quota de entrada, de 100$000, quando tal pra-
tica for exigida; a declaração dessas exigencias cessa
para as cooperativas de que trata o art. 23, Decreto
n. 1.637, que se organizarem sem capital;
6.° — Cada socio só terá um voto qual-

- 115 -

quer que seja o numero de acções, e não poderá repre-


sentar por procuração mais de um socio;
7.°- Na repartição de lucros deve ser antecipada,
a percentagem relativa as partes. Além da percenta-
gem relativa á reserva, outra destinada a um fundo
de desenvolvimento da cooperativa;
8.°—As perdas serão na proporção das acções que
possuirem os socios nas sociedades de responsabilida-
de limitada, e no caso da responsabilidade ser illimi-
tada responderão os socios com todos os seus bens
perante terceiros, pelos compromissos da sociedade,
convindo que simultaneamente estabeleçam os socios
uma quota proporcional aos haveres de cada um delles,
até á concorrencia até quantia total equivalente á res-
ponsabilidade assumida pelo pacto social; o que obri-
ga a pequenos emprestimos, repartindo o risco por
muitas cabeças, e a uma selecção dos socios, baseada
na honradez e capacidade de trabalho, sendo do con-
trario absurdo tal pacto; isto para as cooperativas
de credito.
9.°—A sociedade não deverá durar mais de 10
annos nem poderá exceder do praso de 30 annos, com
a faculdade de renovar esse praso, isto para as coo-
perativas de credito;
10.°- O modo de admissão, demissão a exclusão
dos socios a as condições de retiradas das entradas
ou partes, conforme os estatutos da propaganda official;
11.°—No caso de dissolução, se 7 socios o não
desejarem, a reserva e a contabilidade passarão aos
mesmos, podendo os outros de retirar de accordo com
as normas estatutarias; a forma de liquidação deverá
prescrever a indivisibilidade do fundo de reserva, o
qual será entregue á Caixa Economica afim de ser
empregado na criação dum novo instituto identico,
em qualquer tempo;
12.°—As normas com que serão organizados os
balanços e repartidos os, lucros liquidos;
13.°—A forma de convocação das Assembléas
geraes e o jornal em que serão publicados os actos
sociaes;
14.°—A faculdade da Assembléa Geral a as con-
dições deliberativas para a validade das suas delibe-
rações, de accordo com as novas usadas na Camara
- 116 -

dos Deputados, ou como consta dos estatutos da pro-


paganda official ou de conformidade com as regras
doutrinarias para os organisar.

Funccionamento da Cooperativa

Em seguida á constituição legal, reunem-se em


Assembléa Geral os socios que assinarem o acto
constitutivo e procede-se á eleição dos Conselhos de
Adininisiração e Fiscal, do Diretor que é o encarre-
gado de superintender os negocios da sociedade e de
representa-la em juizo ou fora dele, com a devida au-
torização do Presidente do Conselho que presidirá a
Assembléa, logo que empossado, dete rminando-se du-
rante a ata de instalação as funções de cada admi-
nistrador, levando-se simultaneamete uma acta da
qual deve constar todos os trabahos dessa reunião
e o valor total das quatro subscriptas, a existencia em
caixa das inportancias recolhidas por conta uma dellas,
acta que deverá ser lavrada no livro de atas da So-
ciedade.
Instalada a Sociedade, antes de começar a func-
cionar, a administração eleita deve depositar na Junta
Commercial, e, onde não houver, no registro de hy-
pothecas da localidade:
a)—copia em duplicata dos estatutos;
b)—lista, em duplicata, dos nomes dos socios,
com as respectivas profissões e residencias;
c) copia da ata de instalaçao da sociedade.
Todos esses documentos devem ser assignados
pela administração eleita, cabendo ao funcionario da
Junta ou do Registro de Hipothecas dar recibo desses
documentos.
Para que uma cooperativa possa funccionar se
torna necessaria uma boa instalação e a manutenção
regular da Contabilidade e de todos os registros re-
lativos as operações sociais. Por isso as cooperati-
vas devem federar-se por especie convindo que a cen-
tral de cada federação disponha duma seção propria
para defendir os ensinamentos tecnicos, necessa-
rios, distribuir livros e formularios além do que com-
cerne ao serviço de fiscalização contabilistica e eco-
nomica. Isto até que a confederação geral funde para

- 117 –

Cada ramo uma secção especial, offerencendo plena


assistencia cultural e financeira a todas as cooperati-
vas no pais.
A inspecção official que fosse tambem localizada
nos municípios, e orientada pelo Miniterio da Agri-
cultura, não impediria esses meios autonomos que se
realizam dentro do proprio pacto federativo.

Livros, obrigatorios

Os livros obrigatorios são os seguintes:


1—O Livro Diario. Neste livro se devem, trans-
crever dia por dia os debitos e creditos da gestão, as
operações commerciaes, as negociações, as acceita-
ções ou giro dos efeitos e geralmente tudo o que se
recebe ou se paga sob qualquer titulo, civilou com-
mercial (deve ser rubricado, pela Junta Commercial,
onde não houver pelo Juiz de direito da Comarca).
2—O Livro dos Inventarios. Deve conter o inventa-
rio annual de bens moveis (mercadorias, etc.) e im-
moveis da Sociedade, os debitos e creditos de qual-
quer natureza e proveniencia.
3—O Livro Copiador de Cartas, Deve conter as
copias de todas as cartas e os telegrammas expedidos,
todavia devendo ser conservada, de parte, toda a cor-
respondencia recebida pela Sociedade.
4—O Livro dos Socios. Deve conter o nome. Co-
gnome, domicilio dos socios e a sua assignatura (feita
pessoalmente ou por meio de mandatario no caso do
socio ser analphabeto), os depositos relativos ás acções
ou quotas, feitos por cada um dos socios, as declarações
de ou reembolso das acções, de recesso e ex-
clusão dos socios (deve ser rubricado pela Junta Com-
mercial e onde não houver, pelo Juiz de direito da
Comarca).
5—O Livro de Actas, das reuniões e deliberações
da Assmbléa geral dos socios. Deve conter os pro-
cessos verbaes das Assembléas geraes dos socios.
6-O Livro das Reuniões c Deliberações do Conselho
de, Administrção;

- 118 -

Da Confederação

Porque as cooperativas devem confederar-se

Injusto seria julgar que a mentalidade dos nos-


sos cooperadores offerecesse objecções contrarias ás
razões que obrigam as sociedades a adherir á Confe-
deração Brasileira das Cooperativas, independentemen-
te de qualquer credo politico ou sectario. Os prin-
cipios fundamentaes da Cooperação são a União e a
Solidariedade união e solidariedade que valorizam
e multiplicam as forças isoladas dos que trabalham
e são uteis, forças que parecem insignificantes e que
entanto dão grandeza e potencialidade á nação, desde
que coordenadas pelo ideal de autonomia economica.
É inconcebivel que o principio se limite aos indivi-
duos que se associem, e não se estenda ás entidades
cooperativas isto é, que uma cooperativa por miope
egoismo passe a afastar.se do pacto de coordenação
de forças realisada pelas suas co-irmãs ?
A Cooperativa que não se confedera, renega o
principio e a sua propria razão de vida. No movimen-
to cooperativo tal sociedade se torna qualquer coisa
menos que nada: um parasita, um máo exemplo.
Mas, as Cooperativas não têm sómente o dever
elementar de federar’se. Tem tambem o interesse de
confederar-se, não só porque a confederação é o solido
baluarte que defende as Cooperativas dos ataques da
espaculação interessada em usar contra ellas todas
as suas formidaveis influencias em evidencia ou oc-
cultas mas tambem por causa das vantagens immedia-
tas que a Confederação offerece, na cultura do me-
tbodo homogeneo e infailivel que distingue moral e
materialmente uma sociedade cooperativa d’uma so-
ciedade comercial commum, ou das sociedades ditas
anonymas, em commandita ou por quotas, que se su-
jeitam a leis especiaes e sem as modificações sub-
stanciaes que occorrem quando as sociedades são de
facto cooperativas.

- 119 -

Vantagens immediatas das cooperativas confe-


deradas

As Cooperativas adherentes á Confederação go-


zam de facto dos seguintes beneficios:
l—Fornecimento das mercadorias de toda espe-
cie, procuradas em bôas condições pelos orgãos com-
merciais da Confederação.
2—Assignatura do jornal semanal «O Trabalho
Cooperativo», que deverá ser o orgão da Confedera-
ção.
3—A inserção gratis no mesmo jornal dos avisos
de convocação expedidas pelas Cooperativas.
4—A consulta gratuita sobre as questões admi-
nistrativas, contabilisticas ou sobre princípios que
interessem as Cooperativas,
5—Consulta legal gratuita nas suas controver-
sias.
6—A publicação dos seus balanços no mesmo
jornal, mediante tarifa reduzida.
7—A assistencia technica e contabílistica (tam.
bem fóra da localidade) no sentido de ensinar a com-
pilação de inventario e balanços, como a forma de
tratamento de negocios e solução de questões.
9—A assistencia junto aos poderes publicos nas
praticas administrativas de qualquer ordem
9—A assistencia legal contra todas as interpre-
tações erroneas de lei em prejuízo das cooperativas
e contra todos os enganos de applicaçao, de que as
mesmas sejam victinias

Deveres das Cooperativas confederadas

A adbesào á Confederação implica deveres que


se não’ limitam ao de pagamento da quota.
As, cooperativas devem:
a)—participar da vida da organisação nacional e.
e internacional, que se reflecte na confederação na-
cional das cooperativas, nos orgãos lôcaes, e em todas
as publicaçoes de propaganda da propria confedera-
ção;

- 120 -

b) - ter relações continuas com os escriptorios


estadoaes, onde houver, ou com a séde da Confede-
ração á. qual devem ser enviados, por copia, os actos
relativos á gestão, balanços, relatorios, dados esta-
tisticos, circulares, etc.
c) manter as instituiçtes promovidas, quaes as de
propaganda e educação ou cultura;
d) - promover a constituição de outras coopera-
tivas nas localidades confinantes, e a formação dos
consorcios, federações etc., se faltarem, ou no sen-
tido de coordenar e reforçar a acção ;
e) - participar dos congressos sociais e nacionaes
e de todas as manifestações e agitações promovidas
pela confederação ou autorizadas pela mesma, tra-
zendo-lhes sua adhesão clara e seu pensamento;
f) - diffundir o jornal official da Confederação e
todas as publicações que tenham por fim a propagan-
do principio cooperativo : prornptificando-se as
cooperativas a qualquer acção de solidariedade para a
defesa de direito lesado das suas co-irmãs e da Con-
federação, pelo que se devem interessar como se tra-
tasse do interesse proprio de cada cooperativa;
g) - cultivar relações cordeaes e de inutuo apoio
com as outras formas organizadores da classe traba-
lhadora, no intuito de consolidar a sua emancipação
moral e econoinica, dentro do ideal egualitario e da
humanidade fraternizada e una.

Modelo de acta da constituiçâo da Sociedade


Cooperativa

Os abaixo assignados reunidos em . . . . . . . . . . . . . . . ,


de . . . . . . . . .de 192 . . . . . às . . . . . . . horas, em casa do
socio . . . . . . . . . . . á rua . . . . . . . . . . . . . . . . . .
n° . . . . . . . . afim de fundarem nesta localidade uma
cooperativa de . . . . . . . . . . . . . . . . de accordo com o De-
creto a. 1.627, de 5 de Janeiro de 1907 e outras leis
posteriores e regulamentos legaes, depois de discuti-
rem as vantagens coininuns a todos os socios e ao
lugar, resolvem constituir entre si uma sociedade

- 121 -

dessa natureza nas bases e condições constantes dos


seguintes estatutos
(Segue-se a transcripção fiel dos estatutos defini-
tivos).
(No fim assignam todos os socios, sendo esta
acta lançada nas primeiras paginas do livro de Re-
gistro dos socios).

Modelo de acta de instalação.

Em . . . . de . . . de 192 . . . ás . . . horas ,em caso


do socio . . . . . . . . . . . . á, rua . . . . . .nº . . . . . .
reuniram-se os socios da Cooperatixa de . . . . . . . . . . .
afim de discutir o projecto de estatutos para organi-
sação da sociedade na cidade de . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Por proposta do socio . . . . . . . . . . . . . . . . . .
foi acclamado presidente da reunião o socio . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . .que convidou o socio . . . . . . . . . . . . . . . .
para secretario.
Aberta a sessão o presidente expoz os fins da
reunião que eram a discussão e approvação do pro-
jecto de Estatutos para o estabelecimento, neste lugar,
de uma cooperativa de . . . . . . . . . . . . . . responsabilidade .
. . . . . . . . . . . . . . . . . (Neste ponto devem ser narradas todas
e quaesquer ocçurrencias que se deram durante os
trabalhos da Assem bléa Geral).
Em seguida o presidente poz em discussão arti-
go por artigo, o projecto de Estatutos cujas copias
tinham sido préviamente distribuidas por todos os
interessados, como qualquer substitutivo que alguns
dos socios presentes quizeram apresentar. (Conce-
dida a palavra sobre diversos artigos em questão, de-
vem ser tomadas em consideração as modificações que
propuzerem).
Não havendo mais quem usasse da palavra, foram
os estatutos postos em votação, depois do que foram
approva dos com as . amendas e modificações acceitas e
votadas pela maioria .:De conforruidáde com a clau-
sula n°...... ns Estatutos, o. presidente propoz que se
procedesse simuttaneamiute á eleição do Conselho de

- 122 -

Administração, do Fiscal, do de Probidade e das


Commissões technicas e outras que são necessarias,
elegendo a Assembléa o presidente do Conselho e o
Director (que pode ser eleito fóra dos membros do
Conselho), que deverão adminiStrar os negocios da
Sociedade durante dois anos. Foram elelios pára
membros do Conselho de Administração os socios
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . (3 a 11 membros,
para Membros do Conselho Fiscal os socios . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . (5 membros);
para presidente do Conselho de administração socio
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . e para Director superinten-
dente o socio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Terminada a eleição o Conselho escolheu entre os
seus membros para thesoureiro seu membro . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . e para secretario seu
membro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Em seguida procedeu-se ao recebimento das quo-
tas dos associados na itnportancia de . . . . . . . . . . . . . . .
a qual foi respectivamente registrada no livro do Re-
gistro dos Socios, recebendo cada socio no acto do
pagamento da quota um titulo nominativo contendo
os estatutos, além da parte relativa ao registro ou
conta corrente, ficando a quantia em poder do Dire-
ctor.
Nada mais havendo a tratar, o presidente de-
clarou instailada a Cooperativa, de . . . . . . . . . . . . . da ci-
dade de . . . . . . . . . . . de responsabilidade . . . . . . . . . . . . . .
sendo Director eleito o socio . . . . . . . . . . . . . . . . . .
membros do conselho os socios . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
...................................................
...................................................
thezoureiro o membro do conselho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
secretario o membro do conselho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
membros do conselho fiscal os socios . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
...................................................
etc., e o presidente,fazendo votos pela prosperidade
da novel assoclaçao empossou..os nos respectivos
cargos, mandando em seguida lavrar a presente
acta que vae assignada por todos os socios pre-
sentes.

- 123 -

Seguem as assignaturas dos presentes e no fim


as do Presidente do Conselho de Administração, do
Director e dos membros do Conselho Fiscal.
E tambem isto: Reconheço verdadeiras as
firmas supra e dou fé».

...........................

(Assignatura do tabelião)
MODELO DA LISTA

Dos socios lllimitadamente responsaveis, admittidos,


retirados e existentes

(Denominação e sede da sociedade) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


Data de ad-
N)º Cognome, nome e
Paternidade
Domicilio missão e de Profissão
retirada

Socios admitidos C
o
n
t
r
a

Socios retirados r
e
c
i
b
o

Socios existentes d
o

r
e
g
istrador legal, de acordo com o art. 16 do
Decreto nº 1637 de 5 de Janeiro de 1907
Livro de registro dos socios
(Para as cooperativas de responsabilidade
limitada)

N; de Operações
Data Dia (Cognome, nome, paternidade, do Firma do socio e
orde
Mez micilio, profissão do socio e das testemunhas
m descripção das operações

Continuação
Quantidade das Numero progres-
Capital subscripto Capital depositado
acções sivo
Acções re-embolsadas
Acções Annulladas
Acções subscriptas
Subscripta

Admettidos
Annulladas

Acções pagas

Retirados

MODELO
Balanço do Banco Popular de ....................balanço referente a................

ACTIVO

Valores em notas de banco............................Rs ........ ..... ....


Caixa ouro e prata (em dinheiro............. ........ ..... ....
1

2 Conta corrente disponiveis á vista.......................... ........ ..... .....

Letras venciveis no trimestre (corren-


te) ............................................... ....... ..... .....
3
Em carteira venciveis a longo prazo (maior
do que trimestre.......................... ........ ..... .....

4 Obrigações com garantias especiaes....................... ........ ..... ....


5 Emprestimos agrícolas............................................ ........ ..... .....
6 Idem sobre a honra.................................................. ........ ...... .....

7 Antecipa~ções sobre titulos.................................... ........ ..... ....


8 Contas correntes garantidas por titulos................... ........ ...... .....

Titulos de Titulos da União...................... ........ ...... .....


9 Divida publi- || garantidos pela União..
Ca Diversos.................................. ........ ...... .....

10 Edificios do instituto.............................................. ........ ...... .....


Immoveis e edificios obtidos em pagamentos
11 de letras.......................................................... ........ ...... .....

12 Accionistas a saldo de acções................................. ....... ..... ....


13 Contas diversas....................................................... ........ ..... ....

14 Mopveis e cofres-fortes.......................................... ........ ..... .....


15 Effeito a cobrar por conta de terceiros.................... ......... ..... ...
Cauções de bancos representantes de institu-
16
tos emissores................................................. ........ ...... .....
Cauções....................................... ......... ...... ....
Depositos em custodia................................. ......... ...... .....
17
em administração........................ ......... ...... .....

Total ......... R$.. ....

PASSIVO
1
Capital subscripto em . . . . . .acções de Rs . . . . . . . . . .
cada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Rs .....
... ... .......
2 ordinarias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Rs
... ... .......
Reservas extraordinarias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ||
... ... .......
por oscilação de valores . . . . . . . . . . . . . . . . ||

em conta corrente livre . . . . . . . . . . . . . . . . || ... .... .......


3 Depositos || || || a prazo fixo . . . . . . . . . . . || .... .... .......
em titulos da divida publica . . . . . . . . . . . . . ||. .... .... .......
em caixa economica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . || .... .... .......
4 Conta corrente nos bancos e seus correspondentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Rs
......
5 Acceites letras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ||
......
6 Dividendo a distribuir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ||
......
7 Taxas e impostos a pagar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ||
......
8 Fundo para obras de previdencia e beneficencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ||
......
9 Diversas contas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ||
......
10 Redesconto geral para o anno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ||
.....
11 Bancos, sub-representantes e institutos de emissão – Conta
Cauções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ||
.......
por deposito em caução . . . . . . . . . . . . Rs .... .... .........
12 Depositantes
por depositos custodia . . . . . . . . . . . . . || .... .... .........
.....
Total . . . . . . . . . Rs ...
aos accionistas . . . . . . . . . . . . . . . || .... .... ..........
13 Lucro liquido empregados . . . . . . . . . . . . . . . . || .... .... ..........
á reserva extraordinaria . . . . . . .. || .... .... ..........
.....
Balanço . . . . . . . .Rs .....
.
Para authenticidade:
(Firma d’um administradore e de um
membro do conselho fiscal)

Observação – A tradução do balanço deve-se a um digno se-


nhor italiano, chefe de sação numa importante casa com-
mercial desta praça.
E S T A T U T O S
PARA

Cooperativas de producção e trabalho

(Adaptação de modelo italiano, com ligeiras modificações


por — J. S. BRITTO)
ART. 1 Entre technicos e constructores, ar-chitectos,
imbuidos no espírito de fraternidade uni- versal,
desenhistas, escrípturarios da contabilidade social,
pintores, carpinteiros, pedreiros, marcenei- ros,
serventes adultos dessas officios, ferreiros, chumbeiros,
bombeiros, constituiu-se uma a coopera- tiva de
produção e trabalho que se denomina «So- ciedade
Cooperativa..
ART. 2 A sociedade se propõe assumir e exi-
gir dentro dos moldes da cooperação a consignação
do producto do trabalho dos socios em conjunto,
proporcionando, na razão dos direitos de cada qual,
uma conpensação egual aos salarios ou ordenados
de accordo com os costumes locaes, conferindo tam-
bem a participação, proporcional aos salarios e or-
denados, nos lucros liquidos da sociedade, sendo a
percentagem de participação fixada pela Assembléa
Geral, como a dos fundos de reserva, de desenvolvi-
mento, de Beneficencia, de, menores serventes. A
Sociedade acceita as obras de que se encarregam
ccmmumente os empreiteiros constructores e distri-
bue a tarefa entre os seus socios, funda olaria ser-
raria, marcenaria e outras officinas, progressiva-
mente.
ART. 3 A Sociedade terá a duraçao de 30 an-
nos, a partir do dia da sua constituição com a facul- dade
de prorogar esse praso
ART . 4 A sociedade tem a sua sede em . . . . . . . . . . .

- 130 –
Patrimonio social
QUOTA-PARTES

ART. 5 – O patrimonio social é illimitado e


representado por:
a) quatoas-partes subscriptas pelos socios,
cujo valor nominal é de 20$000 cada uma ;
b) fundo de reserva ;
c) taxa de admissão dos socios ;
d) fundos especiaes ;
e) donativos

ART 6 – As quota-partes que são tambem pa-


gas por prestações mensaes de ............................cada uma,
são pessoaes e nominativas e não podem ser penhora-
das. Poderão ser cedidas a socios novos, por con-
sentimento do Conselho de Administração. Não têm
custo em bolsa e não poderão pertencer aos / socios.
Por motivo de divida ou herança, as quota-partes do
socio morto ou falido não poderão pertencer a ter-
ceiros, devendo ser alienadas, e de conformidade
com o art. 13.
ART. 7 – O socio tem direito a um só voto
qualquer que seja o numero de quota-partes que
possua e esse numero não podera exceder o valor
nominal de 5:000$000.
ART. 8 – O socio que faltar o pagamento de
. . . . . . . . . prestações cahe em mora, podendo o
Conselho de Administração proceder contra elle, de
accordo com os meios legaes, perdendo o socio re-
tardatario o direito de voto na Assembléa e o turno
de trabalho.
ART. 9 – No caso de morte do socio, ou de
abandono do ou circuscripção, os seus her-
deiros ou representes terão o direito ao reembol-
so das quota-partes.

ADMISSÂO ---- RECESSO ---- EXCLUSÂO DOS SOCIOS

ART. 10 – O pedido para ser socio deverá ser


feito por escripto, apoiado por dois socios, dirigi-
do ao Conselho de Administração, provando que o
requerente é:

-131 –
a) technico de accordo com o art. 1 ou ope-
rario ;
b) adulto e não ter axcedido a edade de . . . . . . . . . . . ;.
c) honesto na sua conduta ;
d) civilmente capaz ou com provas evidentes de
regeneraçao

ART. 11 – O Conselho de Administração é quem


decide a admissão dos sacios, salvo appello em últi-
ma instancia para a Assembléa Geral. A admissão
só se torna valida mediante a assignatura deiotada no
acto constitutivo ou no livro dos sacios, do proprio
punho ou por meio de mandatario (no caso de
ser o adventicio analphabeto, um socio poderá como
seu mandatario legal assignar em nome do man-
dante).
ART. 12 – O recesso ou exclusão dos socios,
são regulados de accordo com a lei ou ordinariamente:
a) quando o socio emigra do municipio;
b) quando deixa de exercer a arte ou o mister,
constantes no art. 1; ou se achar em condições de
inhabilidade reconhecida pelo Conselho de Adminis-
tração, com appello para assembléa Geral;
c) quando um socio assuma por conta propria
trabalhos superiores a quantia de . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
sem autorização da Cooperativa;
d) quando se torna indigno por mas acções pra-
ticadas;
e) quando dê prejuizos moraes ou materiaes á
Sociedade;
f) e todos os outros casoso que respeitam á inad-
vertencia ás normas ou obrigações estatutarias e re-
gulamentares da Sociedade.
ART. 13 - Os socios excluidos por qualquer
motivo não perdem o direito ao reembolso das suas
quota-partes. Quando á taxa de entrada, que leva-
da á conta do Fundo de Reserva, visto ser este
indivisivel, deixa de ser reembolsada. Aos readqui-
ridores e aos herdeiros do socio morto as quota-
partes são reembolsadas a partir da data da morte ou
do recesso até cinco annos; se não forem reclama-
das, desse prazo em diante passarão ao fundo de re-
serva.
- 132 -

Mesmo por herança o numero de quota-partes


não poderá ser excedido devendo. o excedente ser
alienado, caso o herdeiro for socio. No caso con-
traria todas as quota-partes serão alienadas, salvo se
o herdeiro do socio morto desejar e estiver em con-
dições de tornar-se socio da cooperativa só podendo
a quota-parte ser emittida em nome d’um unico pos-
suidor.

ASSEMBLÉA GERAL

ART. 14 - A Assembléa Geral dos socios é con-


vocada e presidida pelo Presidente do Conselho de
Administraçáo ou pelo vice-presidente na auzencia
daquelle. cada anno, cerca de tres mexes antes do
encerramento do exercicio. Além dos objectos es-
pecificados na ordem do dia, deverá examinar e apro-
var o estado da sociedade, o balanço e inventario
apresentados pelo Conselho de Adntinistraçao com
approvação do Conselho Fiscal, e nomear os Conse-
lhos de Administraçao e fiscal, cabendo á dita As-
sernbléa o direito de approvar ou desapprovar qual-
quer acto praticado pelo conselho de Adrninistraçao
durante o exercicio, e que interesse a Sociedade mo-
ral ou materialmente.
A Assembléa Geral é convocada extraordinaria-
mente todas as vezes que o Conselho de Administra-
ção o Conselho Fiscal ou um quinto do numero dos
socios, o requeiram motivando por escripto a convo-
cação escripto de que constarão as assignaturas de
todos os requerentes.
ART. 15 - A convocaçao é feita mediante aviso
pelo correio, e inserto no «Diario Official ou no
jornal official do Estado
O aviso deverá indicar o lugar, o dia, a hora e
objectos devem ser tratados. Se não houver
numero legal, será feito uma segunda convocação
dentro do mesmo praso, sendo valida a votação des-
segunda convocação qualquer que seja o numero
de socios presentes, vencendo a maioria relativa, ou
absoluta dos votantes. No caso de empate seja
qual for a proposta, é julgada como rejeitada.
ART. 16 - E’ necessario ao envez a presença

—133 —
de 3/4 dos socios e ó voto favoravei de metade dos
interventores mais um para:
a) a prorogação da duração da sociedade;
b) a fusão com outra Sociedade;
c) a reducção e augmento do capital social;
d) a mudança do objecto da Sociedade;
e) qualquer outra modificação no acto constitu-
tivo e nos Estatutos sociaes.
ART. 17 - Em caso de força maior o socio po-
derá fazer-se representar por um outro mediante pro-
curação. Cada socio só pode representar um outro
socio

ADMINISTRAÇÃO

ART. 18 - A sociedade é dirigida e adminis-


trada por um Conselho de Administração composto
de 3 a .7 membros eleitos cada anno pela Assem-
bléa Geral em escrutínio secreto.
Os membros do Conselho são reefegiveis.
ART 1.9 - O conselho elege entre os seus mem-
bros um Presidente e Vice-Presidente o qual fará as
vezes do primeiro em caso de anzencia.
ART. 20—As funcções que exigem competencia pro-
fissional emprego de tempo util, zelo, idoneidade
bastante, desde que em proveito da sociedade, exer-
cidas pelos membros do Conselho ou outros socios,
escolhidos para exercel-as com criterio seguro, não
devem deixar de ser retribuidas dentro dos recursos
da sociedade com que todos os Socios se devem con-
formar até ao proprio sacrificio quando isso for exi-
gido sobretudo no começo ou em época de crise,
tanto mais que todos os socios são velhos lutadores,
ás volta com a oppressão capitalistica privada.
As quota-partes pertencentes aos membros do
Conselho ficarão depositadas na sociedade e vincula-
das á mesma, caso seja dispensada a caução.
• ART. 21 O Conselho administra a Sociedade
e a representa perante terceiros, e o seu Presidente
a representa em juizo ou fóra delle, autorizado
pelo Conselho. Todos os papeis só serão validos, le-
vando as assiguaturas do Presidente e de mais um
outro membro do Conselho.
O Conselho é quem decide sobre a admissão

134 -
dos socios, delibera sobre os trabalhos ou corno de-
vem ser assumidos estabelece as despesas de admi-
nistração, nomea o pessoal necessario para as func-
ções da sociedade, quer no escriptorio, quer nos ar-
mazens officinas e demais dependencias e fixa a re-
tribuição que julgar mais justa; compila os regula-
mentos, apresenta o estado da sociedade, o balanço,
á Assembléa, e propõe a divisão dos lucros, propor-
cional aos salarios sociaes, caso os esforços corres-
pondentes sejam internes, devendo passar aos res-
pectivos fundos as percentagens destinadas a pre-
encher os diversos fins sociaes. de accordo com a
Assembléa convoca as Assembléas geraes, trata de
todas as operações sociaes e as fiscaliza e pratica
em sumam todos os actos omittidos pelos presentes
Estatutos e que não sejam attribuidos a outro or-
gão sociais tendo n cuidado ne nunca infringir a
doutrina consagrada da cooperação na sua forma
integral que não prescinde das razões de se fazer
commercio o mais homesto em favor dos que se
se solidarizam para esse um no intuito de melhorar
as condições de vida, sem nunca opprimir a do pro-
ximo.
ART 22 O Conselho se reune ordinariamente
tres vezes por mez no mínimo, e extraordinariamen-
te cada vez que as necessidades o reclamem.
Para que as sessões do Conselho sejam validas,
necessaria a presença da metade mais um dos mem-
bros do Conseiho.
ART. 23 - O pessoal da Sociedade, inclusive
o economo devera de preferencia tornar-se socio,
porem se não prevalecer tal alvitre, a Sociedade po-
dera contratal-o fora do pacto de solidariedade, po-
rém isso não impede de proceder-se d’um modo que
se estabeleça um periodo de prova, que deve prece-
der o contrato definitivo
ART. 24 Cada anno a Assembléa elegerá
os cinco membros do Conselho Fiscal. Os presen-
tes deliberarão validamente pelos auzentes e qual-
quer dellles escolhe a tarefa que entender para pro-
ceder a fiscalização dos actos da administração e
dos trabalhos dos socios, ou verificar os livros e exa-
minar ns registros de Contabilidade,
Os nembros do Conselho fiscal são reelegiveis.

- 135 –
Não são elegiveis os que têm alfinidade de pa-
rentesco ou outra com os membros do Conselho de
Administração e technico da Cooperativa.
ART. 25 - Os membros do Conselho zelam
pela execução das disposições estatutarias e regula-
mentares da Sociedade exercem controle sobre as
operações da Sociedade, examinam os balanços,
apresentam um relatorio á Assembléa Geral, verificam
a devisão dos lucros e cumprem as attribuições pres-
criptas pela lei.
O Conselho Fiscal poderá exercer as funcções de
arbitro nos casos de recusação de pedido de admissão,
exclusão, divergencias entre os socios e a administra-
ção sobre qualquer assumpto, especialmente sobre a
interpretação e applicação dos Estatutos e Regula-
mentos Sociaes.
ART . 26 — A Assembléa dos socios, expressa-
mente convocada pelo Conselho ou por iniciativa de
10 socios poderá declarar a decadencia dos membros
do Conselho de Administração, do Conselho fiscal ou
outros funccionarios da Sociedade que não cumprirem
devidamente as dlligencias próprias das suas
funcçoes,

Balanço e distribuição de lucros

ART. 27 - O exercicio social decorre a partir do


dia 1 de Janeiro de 31 de dezembro.
No fim do exercido, de conformidade com a
lei, será apresentado e publicado um balanço demons-
trativo que indicará o numero de acções o capital ef-
fectivamente depositado, todo o activo e passivo, e
serão exactamente demonstrados os luctos liquidos
Conseguidos e as perdas soffridas,
ART. 28 - Os lucros Jiquidos resultantes do
balanço annual, retirados 7 % das quota-partes, feita
a deducçao de qualquer despesa ou empenho da Socie-
dade, serão diostribuidos da seguinte forma:
a) 20 % para o fuado de reserva
b) 32 % para o fundo de desenvolvimento;
d) 10 % para o fundo de Previdencia e assisten-
cia mutua.
e) 38 % para serem distribuidos entre os socios
na razão dos seus salarios.

- 136 -
Do fundo de Previdencia deve ser tirada uma
sonima em favor da assistencia aos menorea aprendi-
ze que as receberão salarios. A sociedade criará
um serviço de assistencia medica completa, cuja im-
portancia será dividida pelo numero de socios, cabendo
a cada um o coefficiente dessa quota, que diminue com
o augmento do fundo de Previdencia podendo-se tam-
bem adoptar o systsma de auxilio-mutuo com peculio,
usado na Cooperativa dos Empregados da Viação Fer-
rea do Rio Grande do Sul, com séde em Sta. Maria e
cujo Presidente actual é o benemerito Snr. Manoel
Ribas, Nenhuma Cooperativa brasileira deve deixar de
corresponder-se com esse centro de experiencla supe-
riormente apurada.

O fundo de reserva é indivisível9 salvo no caso de


de dissolução, se for necessario empregal-o no reem-
bolso das quota-partes, do contrario - será destina-
do de accordo com o art. 33,
ART. 26 - Cada socio tem o direito a uma ca-
derneta pelo preço do custo, produção trabalho
participação nos lucros.
ART. 30 - As sommas Cque o m constituem
a p a r t eo fundo
reservada
de reserva, os fundos especiaes de d previdencia
e s c o n t o ou
capital
instrucção e outros, deverão ser collocadas em esta-
belecimentos seguros, rendendo juros, até que se fun-
dem Caixas - Raifíeise:t operarias dentro da verda-
deira doutrina Durand-Raiffeisen, como consta do Ma-
nual pratico de Luiz Durand e das »Caixas Ruraes»
do Pe. Noguer historiador desses irstitutos os mais
convenientes ao proletario e baseados pela unica vez
na responsabilidade ilimitada criada pelo pacto de
honra, pois o proletario nada tem mais que a sua hon-
ra para empenhar a suapalavra no seu instituto cen-
tral de credito Dada a garantia offerecida pela Co-
operativa de Producçao e trabalho os Governos po-
derão trata: obras publicas de construcção e o mais
com a Cooperativa, mediante caução de mesma, po-
rem combinandos o pagamento a praso de accordo
com a obra que se fôr executando progressivamente,
outrosim é justo que se isente no futuro, mediante a
idoneidade bastante, comprovada, a Cooperativa dos
impostos de industria e profissões e de direito alfan-
degario pelo material importado, uma vez que os pro-
prios governos deilas se sirvam.

- 137 –
ART. 31 - O pagamento de interesse da quota- parte
é feito na razão dos depositos effectuados no
exercicio anterior, não contando os feitos durante o
exercido corrente.
Dentro do praso de dois annos, a partir da data
da subscripçao, as quota-partes que não forem salda-
das, serão alienadas, devendo as fracções de depositos
relativos ás quota-partes, passar á conta do fundo de
reserva, e bem assim todo interesse não reclamado du-
rante cinco anno
ART. 33 - O balanço com os documentos rela-
tivos deverá ficar á disposição dos socios, juntamen-
te com o relatorio do Conselho Fiscal e a distribuição
dos lucros, na séde da Sociedade, durante os 15 dias
que antecederem a Assembléa Geral.

Disposições Geraes

ART. 33 - A Sociedade poderá ser dissolvida


antes do praso estatutario se o numero de socios re- duzir-
se a menos de sete, ou quando a dissolução fôr
votada por 4/5 dos socios presentes em Assembléa
Geral especialmente convocada Para que tal reu-
nião seja legal, é preciso que Compareçam 2/3 da, nu-
mero de socios. De qualquer forma, se 7 socios se
oppuzerem á dissolução, da Sociedade, esta conti-
nuará, devendo ser entregues, aos socios que se op-
pvzerem á dissolução, a reserva e a contabilidade da
sociedade podendo os socios se retirar de accordo
com as disposições dos presentes estátutos. No caso
de fallencia Sociedade tem que se dissolver.
No caso de dissolução a Assembléa nomeará os
liquidadores escolhidos de preferencia entre os socios,
passando o remanescente, depois de cumpridos todos
os compromissos e feitas todas as despesas, á Caixa
Economica afim de ser empregada numa cooperati-
va identica futura.
ART. 34 - Os presentes estatutos, juntamente
com a copia da acta de instailação definitiva da So-
cicadede e a lista nominativa dos socios existentes,
suas quotas de capitnl e suas residencias, tudo em
duplicada, serão depositadas, mediante recibo, no
cartorio do registro de hypothecas.
§ 1 Da mesma forma sê procederá com quaes-

-138-
quer actos de Assembléa Geral que alterem ou modi-
fiquem os estatutos *
2° Semestralmente será renovado o deposito da
lista dos socios.

O CREDITO GRATUITO AGRARIO

A gratuidade desse credito que premeditamos,


não implica isenção de pagamento de juro por parte
do tomador do emprestimo, e sim ausencia de lucro
tirado dos emprestimos agricolas aos socios, pela
Cooperativa de Compra e Venda, corno consta dos es-
tatutos que organizamos, sob o titulo referente aos
fins da sociedade agraria. Não pode haver credito
por juro tão modico como esse.
As caixas ruraes tendem a se transformarem em
bancos communs. . . Ha um inicio deturpado da sua
acção authentica. Convem pois, aos lavradores
criar desde já a sua cooperativa cyclica, como fize-
ram os pioneiros de Rochdale e tal cooperativa se
coaduna perfeitamente com os moldes da de Com-
pra e Venda, cujos estatutos compilamos numa fusão
de normas que se completam, adoptadas na grande
França e na maravilhosa Itâiia e que tambem traba-
lhamos no sentido de elaborar, não movido por nós
mesmo e sim pela acção evolucionaria, intuitivas ins-
pirada no conhecimento do rytlimo universal.
Como ficou explicado nos referidos estatutos, a
cooperativa paga o juro de deposito e esse juro ac-
crescido da despeza da carteira, equivale ao juro que
o lavrador socio paga carteira de credito gratuito
da sua cooperativa cyclica, e sob os auspicios do art.
25 do decr. n. 1.637 do 5 de janeiro de 1907. Tra-
ta-se porem de simples adiantamentos Los necessarios aos
trabalhos dos campos, ao transporte de productos,
embalagem, compra de anirnaes, salarios e o mais
como ficou dito. São emprestimos pessoaes aos socios
de caracter prouuuciadamentc civil, sem nenhum lu-
cro para a Sociedade, e só em beneficio da lavoura, o que
é possivel dados os meios financeiros de que

Nota. - O artigo 3 poderá ser substituido com vanta-


gem pelos artigos 82, 84e 84 dos estututos dos banco popu-
lar urbano’

- 139 –
poderá dispor a Cooperativa de compras e Venda com
as suas innumeras secções de comercio veridico,
cooperativo, aliás sem caracter algum de especulação,
secções onde os preços serão fixados mathematicamente
graças á harmonia que reinará entre a gerencia com-
mercial e a contabilistica ambas imbuidas nos ver-
dadeiros principios da cooperação integral, regenera-
dora da vida social - poderoso estimulante emanado do
mais indomavel e natural dos ideaes de resurgi-
mento dos povós.
Consignamos, pois nesta pagina, a nossa
homenagem aos nossos dignos chefes, os Drs, Ge-
miniano Lyra Castro e Arthur Torres Filho, que
tanto têm feito nesse começo de quatrienio pelo ex-
purgo e propaganda honesta da cooperação merecen-
do da autoridade suprema da nação a confiança na
acertada escolha que fez dos que podem valer de fa-
cto ao nosso povo, á nossa querida patria.
Quanto aos erros em que incorramos por defi-
ciencia nesse afan quotidiano sem tréguas pois não
ha obra perfeita de desbravamento. que sejam cor-
rigidos logo pelos nossos illustres companheiros e
outros nessa propaganda que tem de isentar-se de
tudo que for equivoco presumpçoso, pessoal, resva-
lante pela velhacaria compadresca, a tolerancia col-
leante, viscosa... o interesse mesquinho..
«A cooperação é antipolitica por isso não pede
aos seus adherentes fé politica ou religiosa, Ella ten-
de á arrancar o maior numero dos clientes das maos
da especulação, sabendo que os destrutadores
capitalistas irão deixando a presa quanto mais o campo
da sua acção se restriugir.
«Só pelo facto que úm numero sempre crescente
de cidadãos ao eu vez de levar o seu dinheiro a es-
peculação privada, o leva á cooperativa a base em
que se apoia à capitalismo vem a faltar. »

«No conceito «rochdaliario» a cooperação devia


servir para preparar o mundo novo da solidariedade
no velho mundo capitalistico devia criar o ordena-
mento solidarista no meio do ordamento burguez, su-.
btrahindo progressivamente da especulaçao e do Ca-

- 140 -
pital os serviços da producção e da distribuição
(Oggi e Domani nel pensiero di um cooperatore, por
A Vergnanini).
A cooperativa de compra e venda, nos campos,
com as suas funcções cyclicas é a semente disso que
se desabrocha no pensamento do Mestre italiano,
como um lindo trigal onde não ha joio.
«Nós observamos que a crise actual (após da
guerra) é a consequencia inevitavel do ordenamento
liberalista baseado na luta, incompetente e incapaz
pela sua propria natureza, para resolver questões de
tão vasta e univórsal importancia.
O liberalismo burguez, o regimen capitalistico,
não podem impingir a sua acção, a sua actividade
criadora senão dentro dos limites da economia indi-
vidualistica,-a qual não consente que se ultrapassem
as taes fronteiras, além das quaes a investida do ca-
pital cessaria de ser rendosa ou pelo menos correria
o risco d’um longo e duvidoso lucro.
«Mas, além desta razão fundamental, convém
não esquecer que o regímen capitalistico se alimenta
no jogo dos contrastes e da concorrencia e corre por
isso o risco de todos os imprevistos. Sua acção se
apoia na luta, afim de criar-se uma posição de mo-
nopolior.
(Os conflictos entre os grandes <<trusts>>-- que
hoje assumem proporções espontasas-têm a sua
quotidiana expressão nas fallencias, nas asperas con-
tendas entre grupos e grupos industriaes, nas pavo-
rosas campanhas da plutocracia, nas guerras entre
naçoes e nações.
Prever e eliminar as crises, ou evital-as, dando
á vida social uma larga plataforma de solidariedade
nacional e internacional, signiticaria a abolição do li-
beralismo burguez, do capitalismo, que vive dos con-
trastes, que por si mesmo é luta, batalha, guerra,
uma ininterrupta sequencia de alternativas, de os-
ciliações, de altos e baixos, de resurgimentos e de
pressões de riqueza e miseria de civilisação e bar-
varie.
«Ha quem couside e este alegre processo de
viver como o non plus ultra a lei, a fatal neces-
sidade da humanidade, a qual passa seculos, impel-
lida pela inexoravel força dominadora ; a lei uni-

- 141-
versal. cosmica, que exprime numa continua alterna-
tiva de nebulosas quese condensam, se concretisam
nos mundos, para reacceuder-se no espaço e no tempo
nas explosões das catastrophes é tornar-se nebulosa
e recompor-se na eternidade em mundos e em cham-
mas regeneradoras.
«A nós outros não parece que a esta alta lei su-
perna, cosmica, se possa dar foros de legitimações
proprias dos phenomeno relativos ás nebulosas,
aos mundos, como das catastrophes do regimen
capitalistico.
Parece-nos bem que sem nos perder na profun-
deza das concepções cosmicas, possam discutir-se
pequenos e modestos problemas da nossa vida quo-
tidiana, da nossa microscopica existencia humana-
procurando realizar o que for Possível de bem, cuitando
tudo que pode ter repercussões e consequencias
pertubadoras.

«A lei cosmica, que se desenvolve através de lon-


guissimos períodos de tempo, por millenios sob os
formas das catastrophes, é tambem a lei da ordem,
do processo. rigidameute e mathematicamente unifor-
me. E’ a harmonia dos systexnas solares, das ne-
bulosas, dos grandes movimentos planetarios nos
espaços, que inexoravelmente responde aos canones
das sciencias positivas, que segue as inflexíveis pa-
rabolas da geometria cosmica, que permitte de pre-
sagiar as transformações nos prospectos dos systemas
planetarios por dezenas e dezenas de milhares de
annos Não é a lei do imprevisto e do imprevidente,
porém a lei da vida universal, que se cumpre logicas
fatalmente nas suas varias eras, através das formas
e dosepisodios preestabelecidos. As mesmas catastro-
phes, os choques ruinosos de que se libertam novas
fontes de vida, são phases, partes essenciaes, ne-
cessidade da lei».
Réclus e Kropotkine não estilo fóra da orbita
traçada agora pelo conceito philosophico de Verga-
gnini, em «La teoria della violenza e quella della so-
lidarietá, um dos magníficos capitulos da sua obra
acima referida
Em o «Dominio Universal da Cooperação» tam-
bem nos approximamos desse teor, antes de o ler.
À verdadeira sciencia sociologica é a que não se

- 142 -
deixa automatizar pela exteriorídade dos phenome-
nos é a que almaja os designios da ajuda - mutua a
era de paz, sérena como os espaços onde os mundos
fazem sua rota pelo infinito humano não tão ig-
noto...
Foi se a falsa lei do «dente por dente», do odio
mutuo da exploração do presumido mais forte.
Jesus, entre nós outros, abençoaria essa nova
éra que os phariseus da hypocrisia «pluralica» abo-
minam... a conspurcar os humildes que são
sinceros.
Finis coronat opus.

LEMBRETE SOBRE BANCOS POPULARES

Visto Havermos inserido neste opusculo as hu-


mildes suggestões sobre o credito raiffeisano, é jus-
to que, alem do que nos referimos nas ‘Caixas Ru-
raes são as cellulas do nosso progresso», «Domínio
universal da cooperação» e outros, accrescentemos
alguma coisa sobre o instituto , criado por Luzzatti,
sob os auspicios de Delistzch embora alliviando o
jugo social dos hombros dos adherentes, e tornando
ainda mais expansiva a instituição congraçadora de in-
teresses geracs urbanos sem discrepancia da authen-
ticadontrina cooperacionista que não transige com
o que aggride a singularidade do voto, pedra
angular da soberania das assembléas geraes, nem
com as transacções aleatorias, a sordida especulação,
o mesquinho interesse parasitario, a politicalha dia-
bolica.
Repartida a tarefa no Serviço, decerto nenhum
de nós ficou privado de estudar como se pode a com-
plexidade dos assumptos, meditar sinceramente sobre
elles. Nessa meditação ha um fio de pensamento que
se não deve cortar.. . e cada qual completa assim o
que pensa e sente sem confusão de autoria, obede-
cendo-se a uma orientação que nos deixe á vontade
no que é do nosso esforço,do nosso espirito e destine-
se tão somente ao bem commum. Não, ha pois indis-
creção em repetir a argumentação pronunciada nas
informações, e pareceres, porem por conta de cada
qual, pelo amor de Deus ! Nisto se veja antes do mais

- 143 -
coordenação de idéas que emanam do esforço de cada
um, quer no Serviço, quer fora delle sem prejuizo
de pesquisas pessoaes a prol do bem publico Obede-
cemos assim, antes do mais, a uma disciplina natural
que evoluciona com o individuo e é lhe peculiar de
facto, até certo ponto. Cabem a cada qual as proprias
ideas, no sentido de poder dispor delias como d’um
objecto que se aperfeicôa por si, não de contrabando,
convindo estabelecer esse «point de repere nessa
jornada em que as lições dos Mestres são compiladas
sem astucia e a experiencia individual ou collectiva
tem de ser fielmente aproveitada, conforme emana
dos factos. isto sem privilegio de ninguem.
O que ficou dito e feito, citado e traduzido, com-
pilado e commentado, sem bisbilhotar o alheio, cus-
tou-nos muitas madrugadas de luta intellectual, de
dissabores supportados com a resignação que não nos
deixa indefeso, pois se confunde com a consciencia
limpa... Os livros que a muito custo obtivemos, nun-
ca fizemos mysterio delles passando-os adiante com
as nossas notas, o que prova que o ciume dos estudos
e do brilho, graças a Deus não nos morde o coração,
Queremos o bem publico, solidario com bons com-
panheiros de luta, e até morrer havemos de comba-
ter pela Cooperação integral, a salvadora do mundo
que não é ocioso nem odeia, mesmo nos momentos
da mais rude defesa natural. O odio é o veneno que
o aspide secreta nas presas... Ser aspide, é ser mui
rasteiro, e todo o sequito que acompanha o odio, é isso
mesmo, collea nas alfombras do egoísmo inveterado,
quer moral quer material, quer individualista, quer
collectivo.
Alerta a quem tenha de olhar por cima das mi-
serias humanas, sem deixar de percebel-as em si e no
proximo, na luta pela virtude do pensamento que
cria o que é viavel e superior, sem nunca resvalar pelo
limo das tolerancias funestas ás grandes causas. Que
seria da Terra num cochilo da sua rota?
Quão longe estamos nós ainda do fim que nos
attrahe ?
Relidas as lições dos mestres, os estatutos, as
informações que nos vêm dos centros capazes, as leis,
os decretos, os regulamentos internos, a mesma dire-
ctiva, nos desbrava os horizontes, ligando o passado

- 144 -
ao presente e ao futuro e essa directiva é: a egual-
dade de direitos e deveres que se crystaliza no voto
singular. Não nos sentimos envolvido. Somos livre.
Um mobil elevado nos acima. Não ha sujeição aos
bens materiaes e sim desejo de grande vôo para as
serenas regiões da consciencia humana onde o espi-
rito Supremo nos espera... Façamos obra humilde e
boa, no amando ou no tear da labuta para o pão quo-
tidiano da familia humana unamo-nos na associação
que couvem aos justos pelo que desejam de bens para
todos, e não tão somente para meia duzia,..
Não nos faltam mais os estatutos para cada es-
pecie de cooperativa, os modelos de contabilidade
para as mais necessarias, os regulamentos internos,
os manuaes que nos exemplificam tudo, cabendo aos
contadores profissionaes aos homens de traquejo ho-
nesto commercial, de officio e industria, romper o
gelo que separa o inferno do paraizo... Somos ape-
nas animador.
Nessa espectativa, embora attento ao que emana
dos livres e que nos diz a meditação no silencio das
noites de insomnia, adaptamos o que pudemos, apu-
rando sempre esse esforço e modificando mesmo muita
coisa que escapa ao trabalho que se não pode con-
centrar, no momento do desbravamento num
ambiente onde, em geral so ha ambição de gloria,
presumpção pequenino interesse, deturpação, nada
mais.
Harmonisar o que se tem feito, é uma obrigação
que se impõe nesta primeira etapa de resurgimento.
Adaptamos estatutos para a Caixa-Raiffeisen, a
Central da federação, e o banco-popular como para a
cooperativa de consumo, com as suas respectivas sec-
ções de construcção de casas populares e panificação,
alem dos estatutos relativos á compra e venda, com a
carteira de credito gratuito para a lavoura Trabalho
e producção, Trabalho, o que representa uma ver-
tebra outrosim nunca fizemos questão de formalis-
tica, salvo quando a forma, qualquer que elIa fosse,
infrinjira os principios vitaes, a moral de autonomia
inherente á verdadeira associação cooperativista, que
não precisa de moletas,.. Moletas, só para doente, não
para um corpo sadio.
Esses institutos têm que viver de recursos pro-

- 145 -
prios e gosando de plena autonomia, em ambiente pro-
prio, num concerto de relações iriteiligentes entre os
da propria federação e da confedaração geral, mere-
cendo por isso dos governos a maxima confiança e das
leis a .consagração que mantem os seus universaes
princípios, não permittindo assim que os deturpem
Inverter essa coordenação de factos uuiversaes não é
ser progressista nesse terreno, pois o liberalismo que
aggride o que está feito a poder de longos annos e
a custa dos esforços de milhares de milhões de
cooperadores, com a mais nova mentalidade, a auto-
nomia emanante da propria liberdadá que emprega e
congrega só meios directos e de accordo com a na-
tureza da sociedade de pessoas livres, tal liberalis-
mo affecta o proprio progresso integral que nunca
desmerece o valor da autonomia dos institutos nas-
cidos da matriz das necessidades, nunca da assis-
tencia artificial de que os governos se não devem
occupar. Proporcionar o credito conveniente aos ins-
titutos idoneos e verídicos, auxiliar a propaganda,
facultando os meios technicos authenticos, fiscalizar
á altura dos princípios basicos, compete aos gover-
nos. Mais nada,
A idéa se move. Reage-se contra as improprie-
dades ambientes, a propria invalidez, com meios que
nunca devem exorbitar dos alcançados pela expe-
riencia cooperacionista.
Outrosim, é justo registrar o descortino de gover-
nadores, taes como o Dr. Francisco Marques de Góes
Calmon e outros não menos iliustres, que logo com-
preenderani o maganimo alcance do instituto de
Raiffeisen, circunscrevendo sua acção federativa, de
accordo com a autonomia estadoal.
As índoles aproveitaveis nessa ardua propagan-
da vêm se definindo, separando-se a parte da cate-
chese geral, da propaganda material, sem incorrer
em duplicidade de fias e meios, antes numa unidade
de acção conjunta, derivada da boa disciplina que se
faz por si, debaixo d’um sentimento natural de
ordem.
A codificação de definições ainda presas ao co-
digo em vigor, tanto civil como commercial, e bem
assim tudo que respeita á materia judiciaria, mais o
conhecimento pratico contabilístico e do meio onde

- 146 -
a cooperação foi deturpada. tiveram no Dr. Adolpito
Gredilha um eximio mestre, como no Dr. Fabio
Luz Filho uma penna brilhante para dissemi-
nar as lições opportunas e o fruto das pesquisas
que vem fazendo preciosamente no Serviço, promet-
tendo-nos um novo livro da sua admiravel lavra
sobre o assumpto o que decerto concorrerá para
cobrir-lhe de novas glorias.
Seja bem vindo tudo que diz respeito á defesa
da verdadeira cooperação onde a intelligencia a
bondade, o tacto, o tino financeiro, as qualidades
economicas e commerciaes se apuram de moto
proprio, sem figuração capitalistica, sendo um socio
egual a outro socio nos direitos e deveres que têm.
Se o superficial darwinismo suggere ao rico faculda-
des privilegiadas para servir-se das sociedades
communs como dum instraimento inteimediario de
lucro uzurario, é preciso que se veja na cooperação
o mesmo que se passa na escola; o professor procura
na massa dos alumnos, os mais aptos, não os mais
ricos.... A isso já nos refirimos em tempo, criti-
cando em palestra o modo de vêr dos que acham que
«só meia duzia de capitalistas são capazes de gerir
os institutos de credito cooperativo». O privilegio
da intelilgencia não cabe somente aos rios, porque
então estes devem ter mais votos? Que moral se
deriva de tal escola ? Qual democracia elevada não
trata de corrigir esses abusos do poder capitalis-
tico?
Bem haja, o banco criado por Luzzatti ! O
verdadeiro.
Trata-se agora de facto de defendel-o dentro dos
seus proprios principios. Os promotores dos novos
bancos populares, não devem procurar os que mais
possuem, nas respectivas circumscripções e sim os
que menos têm, trabalham e lutam honestamente.
Chegados os effeitos da fiel catechese ao alcance
dos exirnios contadores honestos, do pequeno com-
merciante que luta contra o açambarcador, dos pe-
quenos profissionaes de officios varios, de emprega-
dos de todas as especies, de dignos funccionarios
publicos e civis, de bons militares carregados de
familia, de paes de pequenas posses e muita carga
ao hombro, de pequenos agricultores dos arrabaldes
- 147 -

e immedicações, de medicos, pharmaceuticos advo-


gados engenheiros,artistas,homens de letra jorna-
listas, estudantes enfim de toda a massa composta
compactamente dos que mourejam, além das socie-
dades cooparativas cuja organização e meios não
infrinjam a doutrina as escolhida escrupulosamente
a phalange dos pionciros emancipados, a installação,
as eleições, as attribuições, se preenchem como que
por milagre, adherindo tambem as entidades moraes,
dando-se cautelosamente inicio ás operações do banco
popular com as suas determinadas secções contabilis-
ticas cada qual com as suas operações affins e os
seus regulamentos respectivos. O banco tem que
viver em plena autonomia e directamente dos seus
recursos proprios; as suas raizes fluanceiras buscam a,
seiva natural que alimenta a vida das actividades
sadias, honestas O banco não admitie nunca outro
mecanismo a não ser, o com que nasceo no cerebro do
grande Luzzatti dando-se com esse facto uma
verdadeira revolução florida, qual primavera de paz
e estimulo ao espirito regenerador de associação ho-
nesta. E’ o effeito do agente da ajuda-mutua que
reune gente boa e de poucos recursos para a reinvi-
dícação pacifica e fecunda do direito de viver do
proprio esforço associado honestamente, sem privi-
legio pessoal, em favor da humanidade debaixo de
todos os céos.

Chegou a vez dos contadores, das intelligencias


voltadas á pratica material a financeira, adherirem á
cooperação integral.
As indoles predestinadas tainbem evolucionam,
e ha um poder supremo que influe sobre o nosso es-
pirito no interesse maximo do nosso proximo que
precisa do nosso auxilio, como nós precisamos do
auxilio do nosso proximo. Quem o nega, trahe a
sua missão neste mundo ephemero, afunda-se no
pantano do sordido egoismo que merece o mais
severo castigo, tanto ou quanto a calumnia e a in-
veja que aliás são filhas gemeas delle.
Entre o presumpçoso determinismo crú, e a
superstição que turva a consciencia que Deus nos
deo para reflectir crystallinamente os factos, ha
lugar para a razão escugada no sentimento que nos
eleva. O d e t e r m i n i s m o n ã o c o n s e g u e n e n h u m a

—148—
moral a não ser a do semfinalidadelismo, quanta vez
cynico e escarninho...
Moisés, segundo citação de Tolstol, em (Paroles
d’um homme libre», declarou ao povo que «a lei de
Deus não deve ser procurada no céo nem além dos
mares, e sim no coração do proprio povo» Que o
povo sinta no mesmo lugar a verdade da cooperação,
da lei da ajuda-mutua, que é lei de Deus e não dos
homens que a procuram deturpar dè tal forma que já
criaram especimeus de pseudo-cooperativas, dignos
dos bocaes d’um museu de monstros sociologicos
e legaes...
O banco popular, dentro dos moldes integraes,
tão galhardamente defendido tambem pelo Dr. Lu-
dano Pereira, poderá possuir agencias no proprio
municipio, porem logo que se der o respectivo desen-
volvimento mecanico, fatal, as agencias se transfor-
mam automaticamente em bancos autonomos, enrique-
cendo ou tecendo assim a rêde da federação, sem
nunca comprometter a que tecem tambem as caixas---
Raiffeisen que, como ficou dito, applicam-se ás zonas
essencialmente agricolas, quiça cabeças de municipios
ruraes, enquanto que os bancos-populares valem para
as classes da cidade sendo o complemento primordial
do Urbanismo economico, por virtude de canalizar as
economias que fazem mover as rodas propulsoras dos
pequenos e grandes moinhos do emporio cyclico
cooperativo, centralizando elevadamente as activida-
des urbanas que, sem elle, se perderiam na poeira do
asphalto... Outrosim, calha ponderar que a percen-
tagem que indicamos nos estatutos adaptados do
banco de Cremona, para o fundo de Beneficencia, é
identica á que deixa para o mesmo fim a Cooperativa
de Consumo dos Empregados Ferroviarios do Rio
Grande do Sul. verdadeira Wolesale com séde em
Santa Maria, fundo de que sahio progressivamente
toda a obra social que lá está e a que nenhuma no
mundo faz sombra, como confirmou Albert Thomas
quando por lá passou.
Nao ha duvida que os fundos, alem do de reserva,
nessas bibocas com o nome de cooperativas de cre-
dito, se têm prestado a muita manha, graças á insti-
tuição do voto plural que permitte o açambarcamento,
e por falta de fiscalização dos proprios socios e da

- 149 -
official “Wollemborg, nos estatutos das caixas----
Raiffeisen, que elle fundou na Italia, attribue aos so-
cios a mesma funcção que a dos syndicos.§
No caso do banco popular o tudo de Benefi-
cencia preata-se tambem á conatrucção de casas po-
pulares para os socios, como consta dos estatutos
tambem por nós adaptados dos italianos e de que
dispõe a Secção do Credito Agricola para serem distri-
buido pelos interessados.
Gide, em «Les cooperatives de construction»,
aconselha a homogeneidade como principio economico,
tanto na compra de terrenos amplos, que serão esthe-
ticamente subdivididos sob as exigencias do urba-
nismo racional e artistico, como na acquisição de ma-
teriaes em grosso, planos de casas e o mais. Cada
villa assim construída, onde cada qual tem sua casa
ou a aluga por preço baixo ao banco-popular, com o
armazem annexo para deposito de mercadorias em
penhor, possue a sua cooperativa de consumo cen-
tral, cyclica, á qual se annexam as actividades moraes,
commerciaes e industriaes, relativas ao nucleo, sendo
que a actividade economica, continúa a ser a principal
mola do banco promotor desse progresso systematico,
por meio do credito pessoal e collectivo.

Convem insistir em que esses nucleos urbanos,


ao envez de attrahir gente da lavoura, deve pelo com-
trario fornecel-a á agricultura por meio das coIonias
ruraes autonomas que são permittidas de se fun-
dar graças ás percentagens attribuidas ao fundo de
Beneficencia quer da cooperativa de consumo cyclica,
nucleal quer do banco-popular que centraliza tal mo-
vimento, graças ao credito, em cada municipio, cuja
densidade de população cria a atmosphera propria do
urbanismo intenso que a cooperação corrige pelo pro-
cesso exposto e que julgamos não merecer a pecha de
aério,-apezar de não ser tirado de nenhum compen-
dio e sim da intuição do que existe e só Deus e o es-
forço continuo permittem a cada qual, sem prejuizo do
alheio Para tal effeito já nos vínhamos batendo
bem sósinho, desde muito, no mattagal impiedoso,
cheio das mais fluidicas emboscadas desta terra onde
o justo, apesar de muito soffrer, nunca deixa de
amal-a ! Ahi está a semente desinfectada para quem
quizer semeal-a...

- 150 -
Em todas as cooperativas,. cujo capital de inicio
se forma por meio de partes (ou acções), é preciso
sobretudo que se reflicta sobre o caracter desse titulo
que não passa d’um deposito a longo praso e que
portanto não tem outra importancia, a não ser que
lhe sejam attribuidas relativas obrigações reciprocas
entre a sociedade e o socio, sendo expresamente
prohibida a cessão de acções ou partes, por qualquer
motivo, a não socios. Ora se a acção não passa
d’uma especie de deposito não ha razão para que os
dividendos tendam a subir mais que os juros dos de-
positos da economia, ficando assim sanada a injustiça
que affeta ao não socio que deposita nas cooperativas
de credito e que percebe um juro que aliás nunca de-
veria exceder dos 5 % emquanto que os dividendos
sobem a 12 % e até mais salvo quando se dissi-
mula a baixa opportuna de effeito peripatetico.
Só o preconceito individualistico perturba em
certos espiritos retardatarios a noção do dever reci-
proco, agravidade de direito de voto e de tratamento
na sociedade e que abre as azas da paz sobre os mais
pobres e os mais felizes, no intuito de unil-os para
que a ninguem ‘falte o conforto a que todos fazem
luz sem differença de casta, corrigindo assim as in-
justiças da sorte céga.
O egoismo o espirito maligno e os seus tenta-
culos cambiantes se agarram a todos os esforços e
ideaes, quer collectivos ou singulares, auferindo o
maior lucro possivel d’um conjunto de forças de que o
beneficio deve surgir sem que o monopolizem indivi-
dualmente nem que o privem da propriedade de
diffundir-se egualmente pela aggremiação
Os que sophisriam com «a approximação do ca-
pital e do trabalhos fingem ignorar que o trabalho
representa um capital força e inteiligencia, o qual
está muito acima do capital dinheiro por isso é que,
a sociedade cooperativa é uma sociedade de pessoas e
não de capitaes.
Diz o egregio advogado Felice Manfredi:
«Um credito largamente concedido e bem organi-
zado representa uma yerdadejra necessidade da co-
operação Italiana essa necessidade deveriam satisfa-
zer as Cooperativas de credito e bandos populares
ao envez a contribuição trazida para tal etfeito por

- 151 -
esses institutos de origens affins foi quasi nullo, decerto
tambem por falta de meios adequados. Por outro
lado os institutos de credito do mundo capitalista,
absorvidos nas vastas e lucrativas operações commer-
ciaes não se prestavam a emprestar capitaes ás pe-
quenas empresas cooperativas d'ahi uma situação de
desanimo para o seu normal funccionamento admi-
nistrativo
Ouçamos Zardo, em La pratica delle Societá
Cooperative
«Diante dessa insufficiencia das caixas e bancos
populares, criou-se na Italia, um «instituto de credito
para a cooperação», cujo capital foi fornecido em
parte pelas proprias cooperativas e principalmente
pela Sociedade Humanitaria de Milão
1.624.500 liras de capital e 449.125,30 de
reserva. O instituto cuida das finanças das coopera-
tivas e tem a séde em Milão, e succursaes em diver-
sas cidades importantes da italia.
Operações em 1918 : £.34.400.239,79
Sendo ainda insufficiente vieram outros institutos:
«Instituto Nacional do Credito da Cooperaçao», com
séde central em Roma, com o capital inicial de
£.7.750.000, com a participação de diversos insti-
tutos de mutualidades. Em seguida criou-se o «Banco
del Lavoro e della Cooperação», com o capital de 3
milhões, em 1010 constituido em Roma, começando
a funccionar em 1° de Setembro do mesmo anno.
O movimento recrudesceo quasi que ao mesmo
tempo, tomando assim a forma anonyma, chegando
a acção a £.50O nesse ultimo instituto catholico,
porem, com o fim de promover o credito necessario
ao trabalho e á lavoura, particularmente ás coopera-
tivas de producção, trabalho e consumo e os seus con-
sorcios ou federações locaes e nacionaes, com a forma
exigida pelo caracter especial dos organismos coope-
rativos, cuidando da cultura profissional e da pratica
attinenté á constituição legal das cooperativas, á re-
gularidade do seu funccionamento juridico e adminis-
trativo, estabelecendo para este fim um escriptorio
proprio para tutelar os direitos e interesses das co-
operativas (onde o art. 225 do Codigo de Commercio
só admitte o voto singular). assistencia ás operações
contratuaes

—152—
Criou-se tambem, nesse instituto um escriptorio
technico agrario e outro technico industrial>>
Do mesmo autor

«Mesmo recorrendo-se ao «Instituto nacional de


credito», ao «Banco del Lavoro e della Cooperazione
(sociedades anonymas) ou qualquer outro banco, os
meios financeiros para as Cooperativas só alcançarão
uma marcha sempre lenta que deriva na massima
parte da disproporção entre capitaes disponíveis e
capitaes requisitados: assim deve-se reconhecer que a pri-
meiro fonte de credito para as cooperativas deve, ser re-
presentada pelos proprios socios E nas sociedades extran-
geiras, formadas por verdadeiros cooperadores, o credito á
propria sociedade de facto concedido é dado em primeira
lagar pelos socios os ques voluntariamente juntam ás
quotas ao acçoes tomados para a formação do capital so-
cial, e á taxa de admissão, sommas de dinheiro, que põem
a disposição da sociedade, sob a forma de contas correntes
ou de depositas de economia, destinados á emissão de
obrigações a praso fixo, bonus de caixa porem de maneira
que a retiroda das ditas sommas emprestadas á sociedade
sejam feitas sem difficuldade e sem embaraçar o andamento
da gestao social.

Nas sociedades suissas por exemplo, as emitti-


das aos socios pelos emprestimos concedidos á sociedade,
com modico interesse, tèm o praso de 3 a 5 annos.

«Mais que os bancos, que fazem pagar interesse e


taxas de expediente caros, e que ameaçam a autonomia da
azenda cooperativa, as cooperativas Suissas fazem appello
mais frequente ao credito junto aos socios e obtêm
resultados pra ticos o vantagens não pequenas em
comparação das cooperativas italianas, as quaes recorrem ao
envez mais aos bancos.
«Se os operarios e OS consumidores desejam que as
suas cooperativas sejam verdadeiramente e somente a
expressão dos seus desejos e interesses e não officinas do
trabalho ou escriptorios de mercadorias dos bancos, devem
imitar o exemplo dos cooperadores suissos e de Trento que
tambem nessa materia foram mestres, e fornecer as suas
cooperativa e por meio destas, aos seus consorcios, regionaes
ou nacionaes os dinheiros necesarios ou sufficientes.

«Os socios podem tambem imitar os cooperado-


res ingleses, os quaes ao envez de emprestar dinheiro

- 153 -
á sua sociedade em conta corrente preferem empre-
gal-o como capital accionario
<<O engenheiro Lauzerotti um artigo publicado
na «Cooperazione popolares», do qual tomamos muitas
considerações ahi expostas, dá, com os seguintes al- / em
garismos relativos ás cooperativas de consumo, a 1920
situação exacta dos dois systemas e dos dois criterios:
Inglaterra Cooperativas N. 1.474 - 1.790

Socios N. 2.894.909;
Capital L. 1.486.869.450;
Suissa : Cooperativas N. 461;
Socios N. 342.000;
Capital L. 17.500.000;

para os quaes estabelece ainda a seguinte proporção:

Para as cooperativas inglesas Para as cooperativas suissas


Capital em acções . 82 % Capital em acções . 8%
>> reserva...... 6% >> reserva..... 20 %
>> em empres-
Timos................... 12 % Em obrigações..... 72 %

<< O que confirma tambem o que já temos dito no


n. 32 da parte IIº isto é, que o systema de emissão
de obrigações não recommendavel ás cooperativas,
visto augmentar as dividas, quando os administra-
dores e os socios têm interesse em diminuil-as.
Tenha-se, pois, que os institutos de credito pri-
meiramente mencionados concorrem sempre mais
voluntariamente para integrar os esforços financeiros dos
organismos cooperativos, cujo os socios tenham dado e dêm
o exemplo de concorrer para os meios financeiros das
empresas, mas não pensam de nenhum modo em ser
substituidos, nem mesmo em parte, na deficiente iniciativa
financeira dos proprios socios.
Os entes cooperativos que vbivem, sob a protecção
dos bancos estão ameaçados de desfazer-se ao primeiro
choque>>
Vemos assim que prevalece de facto a forma pu-
ra depois de todas as tentativas, inclusive a de cen-
tralização de credito por meio d’um instituto de re-
desconto de forma anonyma.... E a lição não é das
peores, qual a dos cooperadores suissos e de Trento.
O maior erro em materia de cooperação é man-

- 154 –
Tel-a em contato contagiosos com as sociedades ano-
nymas e commanditarias quer, sobretudo entre nós,
são uma verdadeira cholra, o inverso da moral in-
herente ás cooperativas reformadoras do mundo
commercial e industrial, das actividades sociaes.
Por isso nada mais fizemos do que condensar es-
sas lições por meio de compilação cuidadosa, corri-
gindo pouco a pouco o que o cansaço nos deixou es-
capar neste longo periodo de tão enervante complexi-
dade..... A nossa consciencia, quanto ás nossa in-
tenções, o nosso desprendimento, não nos accusa.
Desejariamos decerto prestar maiores serviços á cau-
sa justa, porem devemos nos contentar com aquilo
que Deus nos permitte fazer em favor do nosso pro-
ximo.....e não dos patacos de meia duzia.
E é isso que recommendam os Mestres, inclusi-
ve Raiffeisen que chega ao ponto de não permittir
que os menbros do Conselho de administração das
Caixas recebam ordenado..... Entretanto, nesse ponto
poderia parecer que houvesse a intenção de conservar
o dominio na mão dos mais ricos e bons, o que real-
mente fére a razão de ser do universo onde os entes
apparecem dotados de intelligencia e bondade pro-
prias e que não sdão conferidas só pela abastada po-
sição social. Jesus já disse que era mais facil en-
trar um pobre no céo do que um rico.... Elle é o
nosso maior Mestre.
A vida ´[e produzir e sofrer, tendo-se porem espe-
ranças de concorrer para minorar as miserias huma-
nas. Eis o que unicamente nos estimula. Pão aos
trabalhadores.
Há um symbolo danubiano que apresenta a Ver-
dade como uma arvore immensa, e a deturpação da
verdade como as lianas que procuram alcançar em
vão os galhos mais altos e acabam pendendo dos
inferiores, numa como desolação.... Assim a intri-
ga torpe, a sortida calunnia e a má vontade em ser-
vir os ideaes sem jaça, que dispensam os presumpço
sos mais cheios de vã astucia que doutra coisa, quan-
do não de inveja, cobiça.

- 155 -
Em torno da federação de caixas ruraes
e bancos populares

Além do que se disse na Camara dos Deputados,


a respeito d’um novo projecto de federação de cai-
xas de solidariedade illimitada, onde o voto é singular
e de bancois-populares, onde o voto é plural, foi-nos
dado lêr um boletim, titulado, << H. B. A formula
Bandeirante de emprestimo agricola, Credito Hypo-
thecario, Credito Agricola, Letra Hypothecaria e Se-
guro de Vida>> Segundo consta desse boletim a ma-
teria nelle exposta é a reproducção d’um artigo que
passaremos a transcrever textualmente, afim de que
nada se perca desse documento que caracteriza per-
feitamente o pouco caso que se faz aqui da verdadeira
doutrina, chegando-se a projetar um movimento de
venda de acções do Banco Federativo, ideado para
apertar nos seus laços financeiros toda a vida economi-
ca das caixas e dos socios destas, pois, cada grupo es-
tadual com um banco popular a testa, trataria cada
caixa de agenciar o movimento de acções do Banco
Federativo, vendendo-se assim aos proprios socios
acções do instituto confederativo. Demais, acenan-
do-se esse projecto para emissão de letras hypo-
thecarias, cogita-se de intensificar, concomitan-
cia, o commercio de seguros de vida e de fogo, feito
por companhias capitalisticas, que viram encarecer
os emprestimos já tão caros, á lavoura. Eis as
referidas suggestões :
<< Propriamente não é motivo de reclame a for-
mula que temos em vista demonstrar, sim um modo
de operar em emprestimos hypothecarios e empres-
timos agricolas, por intermedio de Caixas Ruraes e
Bancos Populares. A forma das caixas ruraes corres-
ponde a organização municipal, e os bancos populares,
devem ser nas capitaes dos Estados, o agglomerado
daquellas, o centro de actividade de uma circunscri-
pção estadual.
Comprehendido o systema de estabilidade em que
as Caixas Ruraes são o esteio da organização e o
Banco Popular o estabilizador, encarregado de coorde-
nar e dar andamento aos emprestimos, passemos a

- 156 –
Demonstrar em que consiste a intima collaboração
dos elementos de actividade.
O Banco organizado no Estado é dependente ou
deve estar filiado a um Banco Federal Hypothecario,
cuja a funcção deve ser, depois de detido exame das
propostas e documentos que originariamente provêm
das Caixas Ruraes, e passam pelo Banco regional,
onde soffrem uma especie de depuração, acceitar ou
recusar os emprestimos pedidos.
Os emprestimos são concedidos pelo Banco Fe-
deral Hypothecario, em letras hipothecarias emit-
tidas de accordo com a legislação corrente e no con-
tracto deve constar a obrigação do mutuario, de deposi-
tar, além de uma aolice de seguro cantra incêndio,
quando se trata de immoveis ou mercadorias, sujeitos
a deterioriação pelo fogo, tambem uma apolice de se-
guro sobre a vida do mutuario, emittidas á ordem do
prestamista.
Entendidos o Banco e uma Companhia de Se-
guros, esta tem por obrigação descontar em parte as
letras hypothecarias emittidas pelo Banco Federal, e
os premios de seguros cobrados pela Companhia
devem ser proporcionalmente devolvidos ao Banco,
sob a forma de emprestimos, para este fazer face a
uma provavel e immediata amortização de letras
hipothecarias.
A amortização é feita por semestres adiantados e
inicia-se immediatamente. O maximo prazo de um
emprestimo é de cinco annos. Em caso de falleci-
mento do devedor, dentro do prazo de amortização,
cabe ao Bnaco investido do cargo procurador em
causa propria, cobrar do seguro o valor determinado
na apolice e levar o liquido a credito da conta do
mutuario fallecido.
Assim se disseminam por todo o Paiz, e se
consolidam sob uma forma racional, os emprestimos
sob garantia hipothecaria e fundiaria, ficando as
Caixas Ruraes responsaveis pelas garantias locaes,
pelo pagamento das quantias emprestadas e respecti-
vamente os Bancos regionaes assumem identica res-
ponsabilidade das letras hypotecarias emittidas pelo
Banco Federal Hypothecario.
A subscripção de acções, metade para o Banco
regional e outra metade para o Banco Federal deve

- 157 -
ser obtida no acto de fundação de uma Caixa; estas,
como é sabido, funccionam e operam o movimento
por intermedio do Banco Estadoal, do qual são agen-
tes autorizados.
O Banco Federal. Kypothecario nunca fará em-
prestimos sobre latifundios, propriedades indivisas,
que não estiverem cultivadas; empresta sobre fruc-
tos pendentes da lavourá, naturalmente quando asse-
gurados contra os prejuizos decorrentes de condições
meteorologicas desfavoraveis, e contra as pragas que
a infestam.
São estes os fundamentos em que o estudo dos
entendidos nestes assumptos devem se basear ; se
merecer da parte de estudiosos entrar nesta série de
cogitações, muito terá a lucrar a ideia bandeirante,
pela explanação dos principios em que fundamental-
mente o credito hypothecario e o credito agrirola, se
possam desenvolver em nossa cara Patria».
Vem a calhar o que bem antes de ler aquelle
boletim, haviamos informado ao Serviço, no sentido
de attender-se a uma consulta sobre o mesmo as-
sumpto:
«Não ha duvida que as sociedades cooperativas,
de accordo com o Dec. 1.637 «Não podem, porém,
abdicar da propria autonomia e devem conservar-se
a faculdade de se retirarem da federação, mediante
aviso prévio de 3 mezes e parir este caso será esta-
belecido o modo de liquidação dos interesses e res-
ponsabilidades communs (ART. 24 alinea 2). Esse
decreto não caracteriza propriamente a forma de
federação, sendo mesmo vago o fim da mesma. En-
tretanto, diz tambem: «Os socios que mudarem de
residencia para que possam ser admittidos recíproca-
mente por uma ou outra sociedade da federação», e
mais, «para organizar em commum os seus serviços»
isso entre as caixas.
«Esse organisar em commum tem que estar de ac-
cordo com a forma propria da federação, que não pode
contrariar o caracter de cada uma dessas sociedades,
porém, esse caracter é presupposto homogeneo ou he-
torogeneo? as sociedades de diversas especies podem
unir-se, federar-se, ou são tão sómente as das mesmas
mesmas especies? A lei, nesse ponto, como em
muitos outros não menos importantes, deixa de ser

- 158 -
taxativa e nem trata da confederação para cada es-
pacie,nem da geral.
Mas, no que respeita ao Decr. n. 17.339, de 2
de Junho de 1026, e o regulamento que frizou bem
a fiscalização das Caixas Raifírisen e dos Bancos
Luzzatti, de conformidade com os typos classicos, não
se podem infringir os seus respectivos principios fun-
damentaes no paiz e deve ser adoptado o mesmo
systema pelos que derem origem a esses institutos que
estão invariavel, mundialmente consagrados, indiffe-
rentes á acção do tempo, «bancos e caixas» cujos
modelos se evidenciam no «Manuel Pratique», de
Durand, e A «Previdencia e o Credito Agricola» do
Dr. Wenceslau Bello Assim sob a orientação dos
verdadeiros princípios representados polos nomes de
Raiffensen e Luzzatti, que individualizaram a forma
para a caixa-rural e o Banco popular de que trata a
lei, como existe a lei de Laivoisier e que tambem
não pode ficar a mercê dos deturpadores. entende-se
que numa federação de caixas e numa outra de ban-
cos, conforme os authenticos documentos impressos
de que dispõe este Serviço, enviados pelos fossos mi-
nistros na Europa, á pedido desta Directoria, o que é
banco.Luzzatti e Caixa-Roiffeisen, não se con-
funde:

«as caixas que se federam, fundam uma central


da sua natureza propria, convindo-se apenas que a
responsabilidade illimitada de cada caixa so ia não
impeça que a central do grupo confederado seja de
responsabilidade limitada, porém mantendo-se o voto
singular. Quanto aos bancos populares, a respon-
sabilidade do banco central e dos outros da federação,
é sempre limitada, e o voto sempre singular, sendo
que, tanto para a federação das caixas, como para a fe-
deração dos bancos, á parte, não são os socios que
tomam acções e sim cada instituto da respectiva fe-
deração, na proporção da sua capacidade financeira.
Durand trata da Caixa local, da regional e do
escriptorio central da União que reune todos os gru-
pos, sendo cada grupo constituido de diversas cai-
xas locaes com uma regional no centro.
Quanta á autonomia administrativa, é sabido que
o pacto da federação não impede que as centraes fis-
calizem e guiem os institutos da federação até finan-
- 159 -

ceiramente Mas, cada Caixa central possue uma ad-


ministráção eleita entre socios de cada caixa da sua federa-
ção e não se pode admittir uma federação desse genero
d’outra forma.
<<Quanto ás operações, são determinadas pelos res-
pectivos estatutos, havendo as que são proprias de
cada instituto, central ou não tanto das caixas ru-
raes como dos bancos, conforme está estabelecido nos
Estatutos que a Regulamentação do Dec. n. 17.339,
de 2 de Junho de 1926 não pode impugnar, quaes se-
jam, os Estatutos do modelo traduzido de Durand,
os da Central das Caixas, de Louvain, os dos bancos
de Lodi ou de Cremona.
Assim, toda cooperativa de credito que não esti-
ver de accordo como dec. n. 17.339, de 2 de Junho
de 1926, que se coaduna perfeitamente com a dou-
trina prógada por Duraud é Wenceslau Bello, nada
tem que vêr com o Serviço de fiscalização do Credito
Agricola, affecto ao Ministerio da Agricultura».
Vê-se, pois, o absurdo que representa uma orga-
nização federativa d’um hybridismo inconcebivel,
qual o da federação constante do referido boletim.
«N’uma federação, a caixa é que toma acções, da
central, nunca o socio... e não se poderia promover
relações d’uma engrenagem cooperativa com compa-
nhias capitalisticas de seguros. Na Europa, onde o
seguro é muito mais baixo, ainda assim o commum
é fazer-se o seguro de moveis e immoveis nas caixas
locaes de seguros mutuos agrícolas contra o incendio,
como ha caixas de seguros contra a mortalidade de
animaes .e contra os accidentes, sendo que cada es-
pecie dessas caixas de seguros constitue uma federação
propria, com sua respectiva central, onde o voto é
singular. Exactamente como se dá numa federação
de caixas Raiffeisen. De forma que dentro dos
mesmos principios, tanto as caixas de credito, como
as de seguro, se entendem perfeitamente para a rea-
lização das garantias necessarias offerecidas pelo se-
guro mutuo.
E’ iniquo confundir os fins desses institutos
criados por Luzzatti e Raiffeisen.
«O banco popular se destina á população densa
d’uma cidade ondé os pequenos profisszonaes, o me-
thodo da economia permittem o movimento do cre-

- 160 -
dito baseado nos depositos até que se desenvolva o
banco, estendendo as suas operações, sem nunca
comprometter os seus princípios de desinteresse,
visto que no abstar-se delles, torna-se logo o banco
um intermediario dos proprios socios.
«O mesmo dá-se com as Caixas-Raiffeisen que
tambem se acham abertas a toda sorte de profissio-
naes, uma vez que se destinem á zona propriamente
agraria, tendo por fim reunir mais socios lavradores,
que de outros misteres. E quem negará á caixa a
grande vantagem de não ver escoar-se pela valvula
dos dividendos o lastro motor das energias colle-
ctivas?
Perguntarão os que levam mais em conta a fraque-
za humana, que as virtudes criadoras, desinteressadas:
<<e os depositos? não são sanguesugas como as
acções? *
De facto, tanto a Caixa-Raiffeisen, como o banco
Luzzatti, carecem d’um regimen moral que isole os
dois institutos do resto do mundo capitalistico,
privado. Esses institutos de modo algum podem ser
sanguesugas.
Assomou, com elles, a nova era do privilegio
collectivo, do capital propulsor de forças geraes, que
abrangem melhor a vida nacional, concentradas nos
institutos, do que dispersas pelo individualismo mes-
quinho, dissolvente, derrotista. A cooperação veio
justamente para corrigir os excessos do capitalismo e
não em contemplação do mesmo. . . »
Reproduzimos o que escrevemos pelo proprio
Punho.
()bservação - Aquellas suggestões são da ordem das
conclusões do ultimo «congresso de cooperativas»,
privativo dos deturpadores, congresso fechado á dis-
cussão, como a burra dos judeus, e onde se fez crêr
esta heresia "que o voto singular existia na Caixa
Raiffeisen, porque valia não havia, capital » . . . . Ora,
justamente a Caixa-Raiffeisen, que possue a reserva
indivisível e collectiva, para garantil-a da ganancia
individualistica,já não se contentou com o voto sin-
gular, pois os seus socios não respondem com simples
acções porém com todos os seus haveres e por isso
não pedem dividendos... Como se não divide o ide-
al o bem commum, se não divide a reserva.
- 161 –

Que differença entré essa retardataria mentalidade


que pretende reter toda a radioactividade do credito em
«meia duzia de mãos mais dignas e a de Wollem-
borg " L'Assembléa vigila e riscontra tutta l’am-
ministraziones" O Mestré ainda accrescenta que o
socio tem a mesma funcção social que o syndico.
Isso consta dos seus Estatutos, Num instantaneo
feliz o Dr. Luciano Pereira, das colunnas do numero
de novembro do «Brazil Agricolá» (1927), fez ver o
que vae por ahi em materia de falsa cooperação;
«O associado, desde que não faça parte do grupo
de fundadores privilegiados dentre os quaes tem de
sahir obrigatoriamente o Conselho de Administração
não passa de um simples cliente, que procura a coo-
perativa no momento do emprestimo e d’ahi, em de-
ante a considera como um inimigo, pelas condições
onerosas da operação. Os directores por mais hu-
milde que seja à sua situação social, dentro de pouco
tempo corneçam a dar signaes de prosperidade da coo-
perativa, ostentando uma vida absolutamente incom-
pativel com os seus recursos pessoaes, E que a
«cooperativa» está dando para elles fructos opimos, á
custa dos •associados», que a necessidade arrastou a
bater-lhe ás portas, Já se apontam por ahi modes-
tos funccionarios publicos, mesmo entre os de hierar-
chia inferior, enriquecidos por essa forma, com des-
prestigio para o cooperativismo,
Faz-se agiotagem á sombra de um instituto que
é uma das mais bellas manifestações do altruismo,
quando bem praticado».
Nao foram só os velhacos pequeninos que se
aproveitaram da parvoice publica. Os mais encara-
pitadas abada fizeram peor...
• Sem a cultura paciente da soberania da assem-
bléa geral, não so adianta um passo, sempre o dissemos,,,

_______

Nota - Sobre conta-corrente ainda ha a ponderar


à que a respeito disse Wollemborg in conto
corrente, dopoché con speciale deliberazione,
1 Assemblea generale avrá ritenuto opportuno
di ammettere ánche questa forma d’accyedita-
mento» (constante dos seus Estatutos).
—162—

Para terminar, rendamos um preito de admira-


ção aos pioneiros da Cooperativa de Consumo de Santa
Maria e aos alagoanos que criaram um novo credito
constituído pela subvenção redhibitoria baseada no
imposto da producção rural, idéa genial que teve por
fim transformar em acções o producto d’um imposto
agrario, que o governo do humanitario e progréssista
Estado cobra no intuito de fundar sob os seus
auspicios um banco da lavoura que seria difficilmente
compreendido d’outra forma, reinando sempre a des-
crença pelas boas iniciativas entre nós outros. Por-
ventura, que nos seja licito desejar a remodelação do
auspicioso instituto, de conformidade com as normas
as mais puras cooperativistas, como ficou dito, noutro
lugar, caso ainda reste alguma duvida a respeito. Mas,
o certo é que o voto singular que os alagoanos adopta-
ram, e a forma tão bella de constituição do capital,
recommenda-os já muito aos outros governos estado-
aes e abre um honroso precedente á nova éra da co-
operação no Brasil, desde que a doutrina integral pre-
valeça.
Não poderia ficar esquecido nestas paginas o
nome do Dr. Wenceslau Bello, do mestre que discor-
tiuou entre nós, em «A Previdencia e o Credito Agrí-
cola», as verdadeiras características da Caixa-Raif-
feisen e as normas do Banco -* Luzzatti. Hoje, as
suas lições mais que nunca, foram apprendidas
com avidez e seja nos licito affirmar que a nova edi-
ção do seu livro, deve-se á Directoria de Inspecção
e Formento Agricolas, por obra do Dr. Artbur Tor-
res Filho que propoz tão justa homenagem ao emi-
mente Mestre, ao Dr. Miguel Cdmon então Ministro
da Agricultura que promptamente approvou a idéa tão
opportuna e que tanto serviço prestou no inicio des-
sa nobre campanha do resurgimento do credito coo-
perativo integral.
E entre os cooperadores que se conservam raif-
feiscnistas não nos esqueçamos de lembrar o nome
do eximio contador Henrique Eboli que merece o
apoio de todos os fluminenses que desejam a inte-
gração da obra de Raiffeiseu, a qual cada dia mais se
impões nas suas legitimas características, aliás salien-
tadas pelos contrastes da longa experiencia que, sob
os golpes dos imprevistos, nao prejudica os que se
- 163 -

sacrificam neste ambiente ainda verde e que aos pou-


cos ha de amadurecer, victoriosamente compenetrado
dos verdadeiros ensinamentos somente apurados com
a boa pratica cautelosa que nunca exorbita das ope-
rações mais proprias para attender as necessidades
dos lavradores e não vão alem dos emprestimos pes-
soas com garantias sufficientes, o warrant, o penhor
agricola, e, para substituir a hypotheca, a «abertura
de credito hypothecario a praso indefinido», de que
trata Luis Durand dando o respectivo modelo n° 12,
ás paginas 117, do «Manuel Pratique à L'usage des
Fondateura et Administrateurs des Caisses Rurales,»
Esse autor, que é o maior no assumpto pela simpli-
cidade com que apresenta tudo que respeita á Caixa e
praticou a maia grandiosa obra, condemna energica-
mente a connta-corrente que aliás se attribue ao commer-
cio que até aqui sempre oppri mio os lavradores...
Quando nos campos observamos o trilho no chão
por onde todos passam, devemos reflectir que depois
desse trilho ven o cruzeiro, em seguida a aldeia e en-
fim a cidade se desabrocha com o seu acervo e as
suas seducções. Evitemos estas e tratemos de mino-
rar os males por aquelle produzidos... A Caixa-Raif-
felsen, isenta do espirito sectario aureolada pelo sen-
timento christão o mais galharda e franco, acolhedor
e caridoso, fraternal, representa, no evolucionar do
dynamismo social, tendente á organização urbana, o
mais precioso factor de estabilidade moral.
Que Deus a proteja dos deturpadores dos que a
enxovalham! . . .
Post scriptum - O desejo de communicar ao
publico o de que somos informados nessa teia de
factos que devem ser estudados no sopeso da balan-
ça doutrinaria, cujo fiel entre nós outros não possue
infelizmente a mesma sensibilidade que na Europa, a
nossa mestra avoenga e de quem nos achamos tão
distantes; nesse afan da labuta exhaustiva, cheia de
espinhos, sobre os quaes seria ocioso falar ; orfão de
imprensa, pois não possuimos sequer um quinto de
columna num desses diarios; toda essa anciedade, no
momento de entregar as ultimas linhas ao editor
amigo, Benedicto de Souza, que vale por uma insti-
tuição beneficente nesta terrivel terra (Braziliae for-.
micorum velhacorum. nos obriga a dizer ainda
algo,. aproveitando a opportunidade da edição.

0 caso das caixas, que é de facto um caso, muito


nos preoccupa... Por isso, nos seja licito prolongar
o nosso escripto, antes da publicação da Memoria
sobre as Caixas-Raifleisen», que tratamos de corri-
gir com toda a paciencia, nos curtos momentos de
que dispomos, na disciplina quotidiana. Então trata-
remos de expôr tudo que nos foi dado referir a res-
peito dos cincoenta e tantos estatutos de caixas, exa-
minados com todo cuidado, alem de alguns outros de
bancos populares e demais que nos coube tambem
traduzir ou compor, materia essa que tem sido assi-
milada pelo Serviço que se vae apurando, como o que
coube aos iliustres collegas, de modo que tudo virá
a tempo, sem precipitações, nem sombras malignas,
pois temos a, esperança de que o Espinto Supremo
nos ha de ajudar nesse esforço quotidiano que empre-
gamos a prol da cooperação integral, durante annos,
sem que o publico, quiçá as proprias autoridades,
façam ainda uma ideia justa. A mó vae moendo...
Sobre as caixas, reproduzimos as suggestões apre-
sentadas nos primeiros dias de janeiro de 1926, no
capitulo titulado «Simples contribuição para as nor-
- 166 -

mas relativas ás caixas ruraes», e sobre as normas


geraes estatutarias, o bondoso leitor encontrará o
que, no mesmo sentido expuzemos tambem naquella
data, e consta do capitulo titulado Das disposições
relativas ás Sociedades Cooperativas em Geral».
Outrosim, não fosse o desejo de resumir, como
quem produz comprimidos para effeitos da propagan-
da num pais que prima pelo horror á leitura, discu-
tiriamos aqui as suggestões para as modificações que
propuzemos a respeito dos artigos 10, 11, 12, 14, 17,
18, 19,21, 23, 24,25 e 26, do decr. n. 1.637 de 5
de janeiro de 1907 pois sempre conservamos a opi-
nião de que a reforma dessa lei deveria ser organiza-
da categorica, doutrinariamente, definindo de facto a
cooperação sem confundil-a,-nem tolhendo á pratica os
meios de evitar a deturpação da moral cooperacionis-
ta, o hybridisnio que se vale dos proprios moldes da
instituição que exige da jurisdiçao mundial concepção
mais á altura dos princípios. Por isso discordamos
respeitosamente e em tempo da regulamentaçao, em-
bora esta fosse recomendavel até certo ponto, visto
as necessidades actuaes obrigarem a tal medida pro-
visoria, talvez a unica exequivel, no momento, até
que a reforma da lei nos salvasse do equivoco provo-
cado pelo decr. n. 1.637 e que nem a regulamentaçao
poderia sanar, como já nos referimos em «Um brado
de defesa da cooperaçao», cabendo porem aos Drs.
Luciano Pereira e Adolpho Gredilha, relator, a ta-
refa gloriosa de definir o que interessava os coopera-
dores a respeito de direito commum, dentro das dis-
posições dos codigos civis e de commercio, tendo sido
elucidadas e coordenadas por elles as respectivas re-
missões provocadas pelo decreto n. 1 * 637. A nós
nada mais nos coube, senão alguns esclarecimen-
tos doutrinarios, baseados nos mestres, cujas obras
indicamos no presente opusculo, todos inimigos do li-
beralismo capitalistico.
Assim, era natural que competisse a dois illustres
advogados dizer o que permittia a lei das cooperati-
vas, afim de salicutar melhor as suas lacunas, os seus
erros, as suas omissões, sem que tal regulamentação
impedisse a verdadeira propaganda doutrinaria, que,
aliás, quanto á Caixa-Raiffeisen e o Banco-Luz-
zatti, foi consubstanciada nas disposições respctivas

- 167 -
de conformidade com. o art. 40 da lei que criou o
Serviço de Fiscalização do Credito Cooperativo Agri-
cola, mais o que se decretou em consequencia do re-
ferido àrtigo e obriga á observancia dos principios
basicos dos institutos em questão, sobretudo do voto
singular... <<Igualdade absoluta, de direitos e deve-
res. .
Em <<Um brado de. defesa da Cooperação>>, discu-
timos esse assumpto embora rapidamente.
Voltaremos mais tarde a tratar disso, não juridi-
camente o que seria mettermo-nos em seara alheia,
e sim nos limites do que toca a integração de princi-
pios que interessam profundamente a todo sincero
cooperacionista e ao bom senso.
Pratica financeira, theoria, jurisdição, gestão,
administração geral, contabilidade, intuição metho-
dica, constituem um terreno mui vasto onde as indo-
les diversas devem manifestar-se, na immensa forja
do pensamento humano - cada qual no seu posto de
officio desinteressado, acima das rniserias reinan-
tes...
Cada especie de cooperativa tem que ser exami-
nada particulartnente e as leis têm que se especializar
na consagração dos systemas expurgados de qualquer
hybridismo tendencioso, como acenamos logo na pri-
meira pagina do «Brado de defesa da Cooperação»:
«Felizmente para as Caixas - Raiffeisen e os bancos-
Luzzatti, cuja consagração é mundial dentro da for-
ma a mais explicita, o decreto n. 17.339 de 2 de ju-
lho de 1926, «approvando o regulamento destinado
a reger a fiscalização gratuita da organização e func-
cionamento das Caixas-Raiffeisen e dos bancos-
Luzzatti, veio indubitavelmente sanar, por urna ex-
cepção ou lei especial, o que é commum e mais proprio para
cada especie, o mal causado por aquelle decreto n. 1.637)
na parte concernente ás cooperativas em geral».
Ha necessidade de mais circumstanciadas ins-
trucções, embora se achasse que só coubesse á propa-
ganda, pormenorizar a respeito da federação e tambem
dos demais detalhes a respeito dos orgãos dos institu-
tos e operações normas que devem ser prescriptas re-
gulamentarmente, de accordo com os institutos que
nos servem de modelo e de que colhemos farta messe de
ensinamentos aproveitados na propaganda que se vem
—168—

fazendo, á margem da fiscalização official, apesar de


certa censura tendenciosa aqui, e em Recife.
Aqui mesmo, possuimos uma Caixa-Raiffeisen,
qual a de Friburgo, que muito tem valido de expe-
riencia e sobre a qual ás paginas 44, do Dominio
universal da Cooperaçao», dissemos «Isto não nos
impedia de julgar a Caixa de Friburgo como um es-
tabelecimento capaz de reger, como centro natural e
unico da federação das Caixas do Estado do Rio de
Janeiro, o respectivo movimento estadoal».
Ora, em a parte referente ás suggestões apresen-
tadas em janeiro tratamos da federação das Caixas
refundindo o que estudamos nos documentos belgas,
pedidos directamente pela Directoria do Formento
antes até da criaçào do Credito Agrícola.
O que consta de Louvain é que nos inspirou e
mais a federação francesa, em parte, sem prejuízo da
intuição... Ficou assim lembrada a idéa de criar-se
como na central de louvain uma categoria de so-
cios singulares, pelas circumstancias. A esses socios
demos o nome de provisorios até que se fundasse
uma caixa no município onde residissem, inclusive o
em que funccionasse a Central. Naquelle capitulo
ficou detalhado o caso. Accresce dizer que a Central,
apesar de têr sua séde na capital d’um Estado, ipso
facto, deverá logo tratar de fundar urna caixa local no
mesmo municipio, nos arrabaldes destinados á locu-
pletação da cidade. Essa caixa não poderá fazer som-
bra á central, sendo diversas as funcções, outrosim,
será mais um elemento contrario á usura na zona que
não deixa de ser rural, qual a dos arrabaldes d'uma
capital.
Assim, caso não seja possível obter-se, na Cen-
tral, a presença no Conselho de Administração, dos
representantes das Caixas locaes, que forem eleitos
pela assembléa geral, ha de procurar-se outro modo
de preencher esses claros com pessoas capazes resi-
dentes no municipio onde funccione a central, desde
que essas pessoas entrem para a categoria dos socios
provisorios como consta do capitulo anterior, relativo
as caixas. Por ventura, se não houver 7 caixas, pode-
rão federar-se ? E se houver somente sete caixas,
os 7 representantes constituirão o conselho, elegendo-
se a si mesmo ?
- 169 -

Temos pois, que estabelecer primeiramente a


doutrina sã, antes de tratar na pratica desse assumpto,
como do que se refere ás regionaes municipaes, no
caso de haver muitas districtaes contentando-nos
por emquanto de reproduzir aqui as palavras do Mês-
tre: «A caixa central ou regional está para as caixas
ruraes e obreiras da sua circumscripção como cada
uma dessas caixas está para os habitantes do seu dia-
tricto ou para os membros da profissão para a qual ella
foi instituida, isto é como uma excellente Caixa Eco-
nomica e de credito»,
A caixa Raiffeisen exige virtudes, que a gente
banzeira não pode sentir.

Os membros da federação são as caixas locaes.


Uma assembléa geral é convocada annualmente, pelo
Conselho. Todos os membros das Caixas ruraes po-
dem tomar parte nas deliberações com voz consultiva.
Só os representantes das caixas ruraes têm direito ao
voto, «per capita». Cada caixa local é representada
pelo director ou seu delegado. A assembléa geral
trata da situação geral e delibera, de accordo com o
Conselho, sobre as questões que interessam o desen-
volvimento da obra federativa.
À assembléa elege os membros do Conselho e
toma todas as medidas e decisões uteis para o funccio-
namento da federação.
As caixas adherentes poderão inspirar-se nessas
decisões, afim de apperfeiçoarem as suas normas re-
gulamentares e arganizar melhor os regulamentos e
estatutos.
A federação é administrada, segundo Luiz Durand
de quem tiramos essas disposições, por um conselho
composto de 6 membros no minimo e de 25 no ma-
ximo, eleito por 3 annos e renovaveis no terço cada
anno. O conselho deve ser composto, no minimo de
dois terços de membros das caixas locaes, conforme
o Mestre.
«Oconselho elege annualmente o seu escripto-
rio, composto d’um presidente, d’um ou diversos vice-
presidentes, d’um secretario geral e d’um thesoureiro.
Todos os membros do Conselho são reeligiveis. O
Conselho pode eleger membros, cujo concurso lhe
seja util>>.
O proprio Conselho organiza a inspecção, facilita.
- 170 -

o intercambio dos serviços, a fundação de novas cai-


xas, promove conferencias, toma todas as providencias
necessarias ás caixas locaes e regionaes.
O regímen francez catholico chega a esta pureza
de expressão, que não é nenhuma «fita»: «Uma caixa
Durand tem commumente á sua disposição fundos con-
sideraveis sua caixa regional ou central tem por fim
conservar esses fundos á sua disposição, sem perda de
juros e nada mais. Se ella pedir á Caixa regional ou
central que lhe realizem um lucro, elIa pede uma
coisa anormal».
Que mentalidade defferente desse «catholicismo
bandeirante» que paga os depositos das caixas á razão
de 10 e empresta ás mesmas a 8 % (vide nota, no
fim do «Dominio universal da Cooperação).. Que
negocio curioso ! Paga mais os depositos que cobra
juros dos emprestimos..
Donde sae isso senão da usura?
As operações da Caixa — Raffeisen não podem
ser as mesmas que as do banco Luzzatti, embora
este as isente da especulação, quando se mantem
dentro dos principios — o que é raro... Por isso é
que o pacto de solidariedade differe na Caixa, do
pacto do banco. Seria um absurdo doutra forma.
Sem a prudencia aconselhada por Luiz Durand, a
caixa Raiffeisen torna-se um crime, um esbulho.
Nella se não pode ir alem, graças á sua moral mathe-
matico e altruística a um tempo dos depositosa
praso fixo, dos adiantamentos feitos mediante fiança
(caso da obrigação civil), penhor agricola, Warrantar
hypotlteca (em condições de exuberancia de capitaes,
pura emprestimos a longo praso), credito chirogra-
phario, conta corrente hypothecaria (segundo consta
ja estarem isso em uma das principaes caixas, en-
tre nós).
Em poucas, caixas se verificam taes transacções
e na maioria descontam-se titulos como nos bancos.
Para responder a forma de solidariedade illimi-
tada não ha documentos relativo ao empenho de
bens; ha intervenção de influencia extranha a poli-
tica em algumas, conspurca os interesses desmora-
liza a acção raiffeisana, e nem por isso taes caixas
deixaram de ser elogiadas pela «Convenção do voto
plural»,..
- 171 -

Em tantas a promissoria substitue a obrigação


civil e a conta corrente de novimento existe até no
inicio; são communs os casos de directorias discre-
cionarias e assembléas inconscientes, invalidas, que
se tornam um instrumento equivoco isto sob o pacto
da responsabilidade illimitada! É o cumulo!
E no meio desse cahos de institutos fórmados a
trouxe-mouxe, a idéa religiosa a qui não chega a ex-
purgar-se das vicissitudes ambientes, conspurcando-
se assim os fins tolerantes do espirito democratico
que a religião deve irmanar por meio de exemplo dos
crentes que saibam conduzir-se á altura dos princi-
pios adoptados pelas 2.000 caixas Raiffeinn cons-
tituidas em França pelo genio bondoso e energico de
Luiz Durand qua refundio aquelles principios em
normas estatutarias que não transudam as prescri-
pções confessionaes, embora enfrentando o mundo
material opposto,)com as virtudes as mais puras de
que dão exemplo as suas santas caixas onde não ha
hypocritas nem vãos ambiciosos... Grandiosa união!
Qual moral eguala a que illumina o caminho do jus-
to na inegualavel patria dê Jeame d’Are, vulcão da
liberdade que nenhuma forma de tyrania poderia es-
tinguir... A obra da cooperação catholicos
franceses, para os Iavradores, os maritimos manteve
os principios integraes como a dos pioneiros de Ro-
chdale os manteve tambem para os trabalhadores
das officinas. O Supremo Espirito ha de compensar
ambas na realização desse santo communismo tão
cheio de ordem e tolerancia. Que se fez aqui? Só
os dá Santa Maria do ‘Rio Grande ganharam a
palma’...
Elles são o unico exemplo. Sigamo-los 1
O” formoso espirito de Tolstoi nos indica o mes-
mo Caminho - Mysticos ou sem fé porem bons, to-
dos cooperadores devem ser amigos até que a Eter-
nidade os Livre das mentiras terranas, das, vãs sedu-
cções da vaidade... •. Essa obra de qualquer forma
é Santa, desde que seja pura, caritativa, justa paci-
fica até ao extremo.
Na Europa ha luz. Aqui ha trevas . . .. . . . com
tanto sol !
Só agora, trata-se de esvrumar verdade é que
por meio de anesthesicos, o tumor da deturpação vo-
- 172 -

luntaria e involuntaria... Com a criação da Sdcção


do Credito Agrícola precedeo-se ao exame methodico
dos estatutos de bancos e caixas, destas e da alguns
bancos se occupando o autor deste folheto inglorio;
porem sincero, porque o não confessar ?
Já em 1925 na edição renovada da «A Coope-
ração é um Estado» dizíamos o que vas abaixo repro-
duzido numa previsão dos factos, isto depois de em
1920, das paginas 23 em diante haveremos detalhado
em «As Caixas ruraes são as cellulas do nosso pro-
grosso» os dois systemas de Raiffeisen e Luzzatti, e
feito lembrar a bulla do Papa Pio X, que parecia
tolher a acção irritante de Don Cerutti, a qual teve,
ao envez, grande exito no que consistio a perseguição
soffrida pelas cooperatfvas operarias, livres, por parte
das cooperativas clericaes na Italia, segundo affir-
ma Vergnanini.
Assim, dizíamos em 1925: «A falta de registro
proprio das cooperativas é que tem concorrido para
os equivocos voluntarios ou involuntarios, sendo as-
sim registradas até espeluncas, casas de prégo e con-
generes coisangas com o nome de cooperativas ou
mutualidade, o que produz um effeito contrario á
boa progaganda que tem que depender da fiscalização
cathedratica do Ministerio da Agricultura, o qual
poderá fornecer as instrucções necessarias a respeito,
a todos que lidem com o registro, devendo o mesmo
Ministerio ter a seu cargo, um registro, especial de
cooperativas estabelecidas no territorio nacional, com
a o obrigação dos registradores nos Estados e Dis-
tricto Pederal communicarem os respectivos regis-
tros á repartição competente daquelle Ministerio, em
via de organisação definitiva baseada na experiencia
aliás bem ardua... .
Vaticinamos, pois. Não nos queiram mal por
isso. .
Outrosim, é mais que tempo de responder d’uma
vez a certas insinuações capciosas, dos que têm es-
crupulo de em publico, mentir e calunniar, numa
campanha que promovem «pro doma sua», e no senti-
do de fazer crêr, aos incantos, que se trata d’uma cam-
panha pessoal... Paginas 43 em diante, do «Domi-
nio universal da Cooperação» publicado no começo do
anno de 1926, antes de criada a Secção de credito
—178 —

agricola já haviamos rasgado a mascara na cara dos


deturpadores, portanto numa epoca muito anterior a
em que nos accusam indirecta, miseravelmente de ser-
vir de instrumento a persejuições inventadas para ef-
feitos de enscenação...
Desde 1915, na edição primitiva da <<A Coopera-
ção é um Estado» e em As Caixas ruraes são as cel-
lulas do nosso progresso», accusamos a deturpação, e
tratamos de indicar o verdadeiro caminho, pagando
edições sobre edições á nossa custa e as distribuindo
gratuitamente até que enfim a situação, graças a Deus,
favoreceo os nossos esforços, porem de forma que
não é permittido nenhuns abuso, o que não poderá di-
zer os iliuminados que viveram e vivem ainda de sup-
posto privilegio nesta republica inferior ao imperio,
quanto á concepção do que seja a verdadeira Sociedade
Cooperativa.
Que provem o contrario do que ahi fica, todos os
que . hypocritamente pretendem ludibriar — nos,
nestas placas(pragas...) cascavelicas?
EPILOGO

O ciel, nel cui girar par che si creda


<<
Le condizion di quaggiu trasmutarsi
Quando verra per cui quesia disceda ! > >

DANTE ALIOHIERI
Colyseu d’oiro...
Selvano, ao pé do monumento de Eça de Queiroz,
olhava diante de si, sem vêr... Seu pensamento di-
luia o mundo material, num rythmo incessante de
idéas alviçareiras com finalidade espiritualistica,
isenta de Concretização corriqueira e astuciosa...
O que havia sonhado, era fruto de transcen-
dental liberdade, a qual não affectava a ordem, tor-
nando-a até mais fecunda, fazendo dos mesteres um
honesto encanto, e das indoles superiores, equilibra-
das directrizes...
Assim o que emanava do espirito idealistico,
jamais subjugado pelas circumstancias materiaes da
vida, devia ser, no seu entender, aproveitado na pra-
tica, no contacto com o mundo, por obra da moral
e da poesia desta existencia tão cheia de surpresas
boas e más...
Selvano não reconhecia na grande maioria dos
praticantes precipites dos Fagerolles, de cuja
«ficha» Zola se incumbio, no mais bello romance,
qual o L’Oeuvre a compreensão exacta do que se
erguia na atmosphera seentimental em que se desa-
brocha o sonho humano das épocas, e nem sequer
queria tornar conhecimento dessa fancaria que, em-
bora surgida dos effeitos da profunda propaganda,
fiel ao idealismo evolucionario e sem personalidade,
destoava dos fins, cahia na chatice, ou na empbase
plagiaria, no bysantinismo...
Seu pavor era ímmenso. pela observação do ry-
hmo moral, na pratica variante, na transformação
do que é essencialmente altruistico, e impessoal, na

- 178 -
choldra produzida pela ambição de dinheiro ou de
glorla, num conto do vigario passado na humani-
dade, quando se nao substituia o ideal, a educaçao
do bem e do bello, pelo mais crú materialismo, num
automatismo ignobil, numa balança judaica de
tudo...
- A idéa é harmonia, palpita, vive a sua propria
vida, num subjectivismo que reage contra a acção
mesologica destruidora dos principios emanados das
fontes as mais puras, que não offendem o que é via-
vel e nobre, As raizes do pensamento humano bus-
cam a seiva da vida, não na lama terrena, e sim nos
espaços onde se formam os mundos e o calor espi-
ritual da eternidade abriga o homem no seio do infi-
nito de que nascemos.

Uma estrella maga se elevava, vinda do oriente,


no derradeiro clarão do dia.
.

- Estrella, traças a orbita do espiritualismo. . .


Chimicos, que podereis produzir para reagir contra a
debilidade physica? Então desconheceis que á
força moral vale mil vezes mais que as vossas dro-
gas? Que tem prestado melhor assistencia á huma-
nidade-as vossas pillulas, ou a mais santa das mo-
raes, que é a «do amor ao proximo»? Por amor
ao proximo, é que produzis venenos, os explosivos,
as balas contendo baciltos? Pois o amor ao proximo
contém a maior força.

Um toque de clarim tirou uma nota soluçante,


tremula. . Parecia um gemido de fogo, uma flam
ma...

-Os heroes tremem quando a consciencias lhes


fala. . O monstro do imperialismo á que mantem
o inundo em pé de guerra... Não é o «amor ao pro-
ximo», A. sciencia que é do bem, é do mal ; ella
arma o punho assassino e compõe as ambulancias . . .
Que moral podem suggerir tão cynicos principicios?
Na pratica, fora do ambiente mystico, expurgado do
entremez da hypocrisia, como da magia insana ; fóra
dos centros da mais pura cooperação, onde a mola do
odio ou da revolta individualistica não automatiza o
—179—

ideal de reinvidicação e concordia onde o mobil


não é outro senão o da caridade mutua sem nenhuma
festricção,o profundo desejo de paz fecunda, como
o que vibra nos brotos primaveris ; fára dessa at-
mosphera insuspeita, tem sido uma verdadeira quéda
de icaros sociológicos . . . M ira i-v o s n e st e es p e lh o !

As casas se dissolviam nos véos vespertinos


com que o silencio parecia envolver as coisas, em-
quanto mansas vagas plangiam em surdina de har-
pas azues, vagas lisas como o ouyx, de cuja reben-
tação frouxa nos bancos de areia juntos á circumfe-
rencia do immenso caes, mal se percebia a espuma
branca, tinta de reflexos da tonalidade ambiente,
azul, já esquecido o esplendor do sol . . . A silhueta
impetuosa do Corcovado, que servirá um dia de pe-
destal ao Verbo o mais sincero, o unico isento da
vaidade vã, verbo que se fez Carne para livral-a das
fraquezas, que lhe são inherentes, ainda conservava a
mudez da natureza com, apenas, a cruz que lhe plan-
tou Anchieta... e foi atuada pelo gentio no seio das
selvas. As almas ingenuas têm olhos onle ha risos
de estrellas que brilham... A sysnpathica face do
universo, é bem irmã do homem isento los artifícios
da mentira e da vaidade. . - A que familia pertencia
Christo ?—Tinha uma Mãe. No mais era Elle-
Mesmo...
Certa feita alguem perguntara a Selvano se,
dentro das suas cogitações, elle havia considerado a
instituição da familia?
—A familia, como se fraccionou no rebanho hu-
mano, não foi por insticto matriarchal e sim por
virtude do egoismo patriarchal, o qual deixou que se
criasse no seio de cada grupo assim constituido, um
alvo... Hoje, é a humanidade inteira que luta contra
esse polvo! A unica coisa que ainda perdura d’um sen-
timento mais profundo que os espaços infinitos, e o
genio matriarchal, aliás uzurpado pelo poderío do
pae-o ente o mais grosseiro da sociedade actual...
Que fez elle ? - O bem (?) que pôde á sua próle. o
mal que pode-aos outros... Quanta poesia nesse
santo matriarchado de Belém 1 O Natal devia ser uma
solemnidade fóra dos tectos dà egoismo, sob os céos
ao despetalar da neve ou floridos de estrellas . . . Nesse
—180—

dia, as mães deviam mostrar aos seus filhinhos, o santo


berçovazio, e, na eterna virgindade, que o sentimento
materno exprime de facto, ensinar-lhes que naquelle
bergo santo o Espirito Supremo se fez carne por obra
d’uma mulher cuja pureza nunça mais existira senão
nella... e que devia ser assim, para o supremo exem-
plo que daquelle berço se irradia sobre a néve das
montanhas, a areia dos desertos, a face enrugada dos
mares, a planicie florida onde os riachos cantam e as
mães aladas fazem com macias fibras pequeninos ber-
ços alcandorados nos ramos, para os seus filhinhos . . .
E’ o amor universal materno onde não ha maldade,
nem egoismo, o amor que tudo gera numa infinita har-
monia, que o homem conspurcou, tyrannizando a Mu-
lher... Não, a Familia que se nos deparou em Belém
é bem outra 1 Maria concebeo Jesus para o bem
humano, não para o bem d’um lar burguez... A
limpidez da alma daquella criança, que é eterna,
como a limpidez da virgindade do espirito materno,
é que nos salva. Como são ignobeis os que o não
sentem !
Subitainente, num vágado, illuminou.se a ensea-
da de Botafogo, descrevendo-se com a rapidez d’um
relampago, como que feito de reticencias de luz, todo
o circulo do ambito geometrico, circundado pela
grande massa escura dos morros.
Eis o palanque de Néro transformado num
pachiderme burguez, lá no lugar do ventrudo, mo-
nastico Pão de Assucar... Eis de novo o Coliseu a
seus pés, projectado com mil columnas d’oiro na li-
quida saphira do mar tão placido, como a face d’um
hypocrita,
Voltando-se então para o Eça, percebeo-lhe o
sorriso velado com amenidade bohemia, porem onde
vibrava a amargura da ironia, aliás innata na raça
dos grandes incredulos... Consequencia logica.
Nada como a esculptura para fixar tal sorriso
diante daquelle Coliseu d’oiro, diluido na boca dos
ubysmos..

Rio, em Fevereiro de 1928

(Do << Fogo Sagrado>>, a seguir)


Excerpto da «Trilogia de Ergo Semterra »
(Do mesmo autor)

«João Tupy tinha mulher e tres filhos, sendo


um do sexo masculino. Descendia directamente de
indigenas e portuguezes. Os seus antepassados das
selvas ouviram na magnitude da natureza, a santa
palavra de Anchieta.

«Longe, na vastidão dos descampados


Que se perdem no vago horizonte,
Onde os almargeaes e os frescos vallas
A’ luz crepuscuiar que envolve os ermos
Tomam do firmamento a côr cerulea
Longe; desapparece a ultima turma
Dos filhos do sertao, que as alvás praias
Buscam da guanabara A patria os chama.
Correm a defender a afflicta »

patria

Quando João Tupy tinhaesta lhe não


via a mulher nem as filhas Com voz meiga pedia
café, da «sala» para o interior do rancho silencioso
como um terno mysterio familiar. Havia encanto
nesse recato. O filho trazia o café nas tigellinhas,
adoçado com caldo de cannas • Era uma delícia tal
bebida, pois o fruto do cafeciro nunca deixava de ser
escolhido e velho de mais de anno * de modo que ao
torra-o no justo ponto e ao moel-o,dáva um pó côr
de pulga, aromatico estimulante para o cerebro pó
antidoto da nicotina, dá «folha torcida» que lhes apra-
zia fumar, como bons conhecedores por instinctto,
—182—

das finas coisas da natureza patria, isentas da chimica


industrial, porem ás vezes não menos nocivas . . .
O velho «foreiro» do sitio recentemente adquirido
por Ergo, habitava o pendor d’uma alta e murmura
vertente ornada de fontes crystallinas. Quanta poe-
sia naquelie ancião resignado, baixote, troncudo, alta
fronte, barba e cabeilos revoltos como o burity, olhar
perscrutador, entre de bondoso e astuto, gesto felino,
démoustrando um certo habito de defender-se instinc-
tivameute de tudo, porem a disfarçar a innata descon-
fiança... A natureza proporciona aos seres meios de
defesa.
Sua choça de sapê bem trançado era limpa e a
mobilia da «sala» se compunha das peças desmonta-
das d’um monjolo, uma larga mesa carcomida, encos-
tada á parede com, ao longo, um banco cumprido de
pau.
Parecia um ninho humano onde a família vives-
se juntinba, ali suspensa sobre a viliania das aldeias e
cidades, já nos confins do azul onde o olhar sereno
das alturas etavolvia os raros entes humanos numa ca-
rícia ideal, pois a natureza é um eterno e immenso
fundo de inspiração que nos attrahe sempre e reage
contra a impostura da civilisação tumultuaria.,.
Coisa extranha ! Aquelie velhinho, ao ser apre-
sentado a Ergo, pelo antigo dono do sitio, sciemando
que elle fosse tomar conta das terras serranas, como
era de costume, disse-lhe sem pestanejar.
- Aqui me encontro ha 17 annos, mas se Va-
micê vem reclamá seu sitio, não farta oitro pr’a don-
de levá os meus cacarecos.
Isto foi proferido sem nenhum signal de constran-
gimento, nem alteração na voz e muito menos na
physionomia tão serena e nobre como aquellas san-
tas paragens... Entretanto o velho serrano espe-
rava a sentença de morte» usual, nessas transacções
de terras sem cadastro, por ahi além...
Apezar do art, 99 (Vide «A escravidão dos pe-
quenos lavradores» - 1917), de lei da accessão por
construcções e plantações, que obriga á indemniza-
ção nos casos de desoccupação de terras, ha quem
abuse dos que desbravam as mattas, capoeirões, for-
mam a ceilula rural, valorizam o sertão e são postos
na estrada, «com os seus cacarecos,» quando a pro
-183 -

priedade é passada adiante por bom preço e sem


rumo certo graças ao trabalho perseverante do po-
bre «forelro» submisso,,, e que por ignorancia não se-
não servindo do arado nem de adubos, coisas inexis-
tentes para e le derrubam inutilmente as mattas dos
proprios cumes, verdadeiras reservas de estrume ve-
getal que as enxurradas despejam pelas encostas la-
vradas, pois ninguem pode negar que esse estrume
vegetal traga vantagem e que o ar ozonificado das
mattas deixe de influir na saude, coisas que se ap-
prendem por si no proprio livro da natureza aberto a
toda a gente que sabe ler em primeira mão, não em
segunda, terceira, nas innumeras dynamizações do pla-
gio da nossa sciencia livresca, que surrupia d’aqui
d’ali, sem aspas nem nenhuma experiencia . . . e já
querendo impor! Nenhum homem de sciencia in-
ventou o arado, nem o estrume, nem a semente . . .
Ergo se havia munido de livros praticos, e mesmo
assim, estava disposto a ser prudente no lidar com as
terras e os instiuctos do lavrador nato que ainda valia
mais que a propria sciencia de lombada doirada...
pelo menos para viver.
João tupy, as terras são de Deus, e o traba-
lho que executas, te pertence Se quizeres mudar de
sitio, só o farás por livre vontade.

De volta da casa de João Pupy, Ergo já cogi-


tava num regimen que tornasse a cada qual o bem
que coubesse a todos os trabalhadores da terra
egualmente transrormandose o esforço no maior di-
reito, e a solidariedade dos nucleos no maior dever.
Isto por estagios naturaes, sem nenhuma violencia,
inspirando se nas leis evolucionarias, nos institutos
que já haviam dado exemplo melhor e que pelas pro-
prias leis vinham sendo consagrados sem ambigui-
dade, entre os povos cultos, trabalhados pela expe-
riencia sociologica cuja origem se ia reconhecendo
não ser outra senao a do genio da ajuda mutua,
Ergo antevia uma civilisaçao propriamente rural...
para corrigir os effeitos da outra, decerto com o au-
xilio do machinario e da chim ca, porem sem impostu-
ra, e de forma a ser de facto vulgarisado o ensina-
mento pratico, conveniente,
O communismo fundiario» do medievo, em uso
- 184 -

entre os grandes senhores de terras sem rumo, que


permittia aos camponios o goso das mattas e pasta-
gens, até que se foi restringindo com o augmento da
população usofruto rural ajuda enriquecido com as
terras que as Communas offereciam aos lavradores,
como fazem observar os autores que analysaram his-
toricamente a vida intima dos povos, autores que
repetem, tal regimen ainda poderia servir de exemplo,
em muitas regiões entre nós outros... Entretanto, o
foreiro que pode valorisar as terras, que lhe dão ou
alugam á razão de 40$000 ao anno mais ou menos, de-
via ter direito ao que era deiles, de accordo com um re-
gimen contratual, moralizado e legal, não no sentido
de roubal-o e sim no de garantir sua velhice e sua
prole, baseando-se nessa fixaçao de normas regula-
mentares a incrementação da mutualidade rural (de
assistencia, previdencia, escola de officios), da co-
operaçao agricola, a que taes contraios deveriam
obrigar, uma vez conhecida a forma conveniente
para a cooperativa de consumo nas fazendas, de com-
pra e venda nas villas da pequena Caixa-rural no
districto, do monjolo cooperativo onde ha quedas d’a-
gua e sitios de «foreiros». Eis a engrenagem natu-
ral e unica a pôr-se em execução por meio de gente
altruistica.
Os presidentes de camara, os vigarios, os medi-
cos os funccionarios publicos deveriam estar a par
desse reginen de paz, e por mando da consciencia,
aconselhal-o, ensinar. A nossa terra assim seria um
paraiso. Pensava Ergo.
No caminho a neblina havia subido, irisada qual
pollen fosco ao sol que surgia nos vãos irregulares dos
vinhaticos monstros de folhagem miuda. Fina cambraia
matutina!
Num pé de cabelluda em flôr, num como can-
tico de boca fechada, zunia a surdina vibrante d’um
enxame de abelhas d’oiro... Sem o artificioso fras-
co da chimica manhosa, livre do charlatanisimo da
civilisação urbana, era tão puro o angelico perfume das
floresinhas que vividas cobriam aquelle arbusto orna-
do do vidrilho do orvalho, e a filigrana de gottas
de rocio nas teias de aranha dava um encanto impre-
visto, a rendar os esvãos do arvoredo esguedelhado.
Alacre chilrear vagava pelo ar, emquanto o pio d’um
- 185 -

passaro mysterioso harmoniosamente imitava o dul-


cissimo. som d’um beijo de amor sadio dentro das
moitas...
De repente na curva da estrada estreita, ingre-
me a sulcada pelas enxurradas, já proximo dos seus
novos penates, os festivos raios d’um sol fulgente fe-
riram em «pointillé. o bambual, numa bizarra apo-
theose fazendo a viração soar uma como frauta de
egipans no roçugar das touceiras de grossos taqua-
russús auri-verdes - onde as serpes se aninham bu-
reaucraticamente.. »

Nota — A «Trilogia de Ergo Sem-


terra,», romance, e «Fogo Sagrado», colle-
cção de contos, serão publicados a seguir.
O autor cogitou de expor sinceramente o
que lhe coube da parte de experiencia nesse
viver. Alem desses dois livros, o autor
aguarda a opportunidade para publicar um
romance sobre impressões de viagens escripto em
1909, em Paris, lido nessa epoca a um grupo
amigo de artistas brasileiros. A coterie
reinante a impostura dos que abusam da bôa
fé publica, toda essa incongruente fauna
plagiaria, ha de ceder um dia o lugar ao sol,
que tambem pertence a quem não se serve de
astucia.
Excerpto
opportuna
M. Vergnanini

Oggi e Domani

<<L’ applicazione dei principri cooperativisti>>

«Não é mais sufficiente a velha lactica estensiva


de apostolado espiritual e de propaganda theorica
deixando que sobre o terreno pratico dos factos a
organização se na ani-feste livremente, automaticamen-
te, supportando todas as influencias ambientes, do-
brando-se sob todas as resistencias. Hoje a coopera-
ção se acha mui diffundida, mui exaltada, e mui temi-
da para que possa ser abandonada ao ímpeto do seu
vigoroso dosenvolvimento é á Influencia das innume-
ras correntes de interesses políticos, moraes e econo-
micos que se voltam para a Cooperação e esperam
encontrar nella auxilios e beneficios.
Contra a ameaça dessas influencias prejudiciaes e
contra o perigo das infiltrações corruptoras e adul-
terações, em todos os paizes, se reclama a prompta
interyenção da lei, que facilite a obra urgente de de-
puração e disciplina das energias cooperativas»

A consagração do direito’ cooperativo, na letra


da lei não deve porem ser julgada sufficiente para
dar á complexa e vasta materia da cooperação, a
ordem organica e o andamento que são necessarios
para tornar efficaz a sua acção E preciso que as
proprias forças Cooperativas possuam senso desta
necessidade e sob a pressão da’ vida real no meio da
qual se movem encontrem o seu caminho elaborem
o novo direito amadureçam a lei de amanhã...
- 188 -

A cooperação possue dezenas de milhares de


hectares de terras; estabelecimentos metallurgicos,
arsenaes construe naves, material ferroviario; faz a
gestão de serviços publicos, transportes terrestres e
maritimos.
<<Pode-se dizer que mais d’um decimo da popu-
lação italiana vive quasi que exclusivamente por meio
da actividade cooperativa».
<<D’um lado e Confederação Catholica do outro
um grupo de presumidos neutralizadores independentes,
que se apoiando em qualquer nucleo de combatentes,
improvisou um emmaranhado de clamorosas operações
e de negocios em estylo reclamistico e com uma <<mise
eu scene>> até agora desconhecida pela honesta e mo-
desta cooperação.
«Assim, a unidade, que é uma das condições
essenciata para a actividade cooperaciornista, torna-se
cada dia mais um mytho».

E preciso que o conceito da cooperação seja


comprebendido em toda a sua extensão economica e
politica, de forma que o cooperador saiba qual é a
sua missão, quaes são os seus deveres, qual meta con-
seguir
«Fixadas as caracteristicas da cooperação, defini-
do o seu alto fim social, será facil distinguir a falsa
da verdadeira cooperação».
O mestre, que préga a cooperativa de consumo,
como base fundamental da cooperação, parece que
adivinhou o transe por que passamos, em materia de
cooperação deturpada..,
Ahi fica o echo dessa fonte pura da Verdade, onde
uma geração menos individualistica poderá sempre
desalterar-se da sêde de justiça. neste deserto verde,
immenso cheio de amabilissimos felinos, fluidicos
morcegos...
Vem a calhar o modo de proceder no Districto
Federal quanto á isenção de impostos, não tomando
em consideração senão as cooperativas de consumo e
as agrícolas, o que aliás de pouco vale, visto ser nulla
a acção da propaganda no sentido de fomentar-se a
anthentica fundação dessas cellulas da economia rural
e popular De forma que a cogumelica vegetação es-
pantosa dos bancos da uzura sob o titulo de coope-
- 189 -

rativas, até hoje não despertou nenhuma sympathia


do Conselho Municipal.
Por ventura, o mesmo Conselho,, no bom exami-
nar da verdadeira forma do banco-Luzzatti, onde o
voto sempre foi singular em toda parte, bem que po-
deria proteger os que se regessem pela doutrina ver-
dadeira, vindo assim prestar um grande serviço á
instituição universal, cujo tratamento, na Argentina,
foi bem diverso do que se deo aqui, como se poderá
verificar pelo excerpto que industriosamente annexa-
mos, no fim, da lei platina das cooperativas, dei-
xando-se de citar alguns artigos que não vêm ao caso.
Outrosim, não deixa de ser azado o que, abaixo
reproduzimos a respeito do voto nos bancos populares,
numa informação pelo nosso punho escripta em 29
de fevereiro proximo findo, sobre o que vem ao caso,
perante o criterio do docr. n. 17,339 e as instruc-
ções complementares» que o confirmam, dentro da dis-
ciplina legal, infelizmente ainda mui ampla de mais,
dado o momentaneo penedo de preparação d’uma lei
organica que se impõe no futuro, e de conformida-
de com a boa doutrina, jamais visando o «habeas cor-
pus» da deturpação,..
Na Argentina deo-se um anuo para a reforma
das sociedades, como consta dos arts. 8° e 9° da lei
n, 11. 388 sobre o regime a das sociedades cooperati-
vas, lei que se approximou muito mais dos verdadei-
ros principios, que o decr. n. 1.639-páu para toda
obra maligna. .. Mas, encurtemos o assumpto, o
opusculo está a sabir da bemdicta machina, unica coisa
que pode valer ás boas causas nesta terra essencial-
mente materialistica. A distancia que nos separa
das nações onde os ideaes se harmonizam com a vida
dos povos, produz apenas aqui uma especie de propa-
ganda de «papier maché de pue tambem lançamos
mão, por não ter outro remedio... porem o fazemos
com o que apprendemos por nós mesmo e dos bons
mestres, lições que passamos adiante, receioso da pre-
sumpção ambiente que emmaranha as coisas, com ras-
gos de illumineda, modifica a esmo o que está con-
sagrado Nada pedimos alem d'um pequeno apoio da
parte dos que tenham um pouco de boa vontade para
reconhecer nas aspirações sinceras nada mais que o
-190-

amor á causa que se defende com os recursos que


Deus dá a cada um.
E aqui consiganmos os nossos votos para a feli-
cidade dos nossos illustres companheiros que se vêm
devotando brilhante fraternalmente pela mesma cau-
sa sob o bondoso acolhimento dos nossos chefes, na
luta que se vem travando cada qual com o seu ca-
bedal proprio e sem nenhum ardil, sendo .o autor
deste folheto o mais humilde de todos, figura apa-
gada, sombra da propria causa...
Procuramos apprender o que existe, sem prejui-
zo da nossa argumentação e intuição Podemos já-
zer nos archivos da indifferença ou da manha am-
biente, nos cemiterios dos alfarrabistas temos po-
rem a consciencia limpa: fizemos o que pudemos e
esse pouco que seja, de alguma coisa tem servido á
causa, não a nós outro. Perfidias, mesquinharias,
risota calumnia, intrigas — eis uma epopéa! . . .
Cada um dá o que tem.
Longe de nós a presumpção. Ha annos que
combatemos, porem não o fazemos por qualquer ga-
lão. Com a ajuda de Deus havemos de vêr um dia
a cooperação irtegral victoriosa,e é só o que dese-
jamos, atirando duma vez para sempre ao lixo todas
as iníamias que nos assacaram, nessa campanha em
que nunca deixamos de defender, em qualquer lugar,
os direitos do nosso povo e não de capitalistas que de-
turparam a cooperação a poder de artifícios os mais
grosseiros, que devem ser repudiados por todo ho-
mem de conciencia.

Para effeitos da doutrinação

Informação sobre joia e invariabilidade do valor


nominal da acção do B. Luzzatti

A forma de joia expressa neste art. não deixa de


ser a adoptada, em geral, pelos bancos populares
italianos.
Por ventura, seja-nos licito considerar que o sys-
tema de Luzzatti, attendendo ao congraçamento de
classes, teve que se sujeitar á forma de soc. anony-
ma, decerto com as modificações proprias dos fins a que
se applica a soc. coop. fins inteiratente contrarios aos
-191 -

da sociedade anonyma, que é de capitae, não de


pessoas modificações aliás exigidas por lei, em toda a
parte, já na previsão universal de factos que poderiam
dar-se no sentido de crisr-se uma entidade hybrida ju-
ridica sob o titulo, de soc. coop. gosando dessa
forma de favores legaes sem as garantias exigidas
já para a soc. anony, que só viga embora o interes-
se de accionistas que se não conhecem, dando-se até
o privilegio dos mais, fortes delles, concedido pelo
voto plural, como o fazem sentir eminentes juriscon-
sultos. francezes, belgas, italianos e brazileiros, cujas
obras são mais que conhecidas, e que, dão força á,
doutrina sã, ao voto singular
Assim, ainda hoje, parece incrivel, mesmo com
ás modificções ,já forçadas por lei, o atavismo da epoca
permittio ao B., Luzzatti, na propria italia que lhe deo
origem pequenas taras proprias da soc. anony., com-
esse promettendo a integração do caracter cooperacionista,
/ aliás crystallizado no systema Rochdaleano e na
Caixa — Raiffeisen.
Só ese facto poderia explicar, atem de outras,
anomalias a forma Indirecta de augmentar o valor
nominal da acção que na soc. coop. é invariavel, o
que destoa da soc. anony.,. cujo mobil é exepecular
com os proprios titulos...
Por essa razão tentamos de corrigir o que se re-
fere á. forma de joia em questão, na adaptação que
fizemos dos Est. do B. de Cremona, propondo que
a joia (quota de entrada) independentemente da ac-
ção (quota-parte), fàsse imposta num limite maximo
de 100$, podendo ser paga por prestações mensaes,
mínimas, conto consta do art. 6 let. d e art. 7,
dos referidos estatutos suggeridos a titulo de ame-
nidade, para effeitos cordeaes de propaganda livre,
submettendo-os já se vê, a ulterior “estado da Secção
competente No mais iremos examinando, campa-
rando disposições legaes e estatutarias.

Informação sobre o direito de voto no


B. Luzzatti

Cada socio, de accordo coma let. 1 do art. 5 das


instrucções complementares, tem, até em qualquer co-
operativa, direito a um só voto qualquer que seja o nu
-192-

mero de acções que possua, apezar da omissão no-


tada a respeito no decr. n. 1.637, que não veda o
cumprimento exacto da doutrina universal que todo
bom cooperador segue á risca.
Diante desse facto extranho, e de accordo com
o decr. n. 17.339 que poz em execuçao as medidas
constantes do art. 40 da lei orçamentaria, uma vez
que se tratou no decre. 17.339 de obedecer os principios
basicos das caixas-Raiffeisen e do banco-buzzatti, as
instrucções, para taes effeitos, exigem, let. 1 do art,
5 «egualdade absoluta de direitos e deveres dos
socios o que na incongruente espectativa actual,
não deixa de positivar a doutrina nem poderia ser
doutra forma. A legislação mundial é unanime em
reconhecer como principul caracteristica da soc. de
pessoas, qual a coop., o voto singular, por quanto
cada qual responde por si, no facto social de natureza
tão elevada.
A lei belga prescreve textualmeute a «egualdade
de direitos e deveres entre os socios», «egualdade»
que é interpretada como adopção legal do voto singu-
lar como se dá nas cooperativas belgas de consumo,
nas federações das caixas, nas cooperativas agricolas,
nos bancos populares, sendo que, como prova disso,
o Serviço possue um modelo de estatutos do Banco
popular de Liege
O voto singular o unico regimen que torna va-
lida a soberania da Assembléa Geral, conforme o
grande commercialista Vidari e demais mestres da ju-
prudencia, que trataram na cooperação sob o seu ver-
dadeiro aspecto juridico social. A mentalidade
pouco experiente do nosso meio e o relaxamento libe-
ral permittiram detarpadores prégar parasitaria-
mente o inverso do que é o banco-Luzzatti, isto so-
mente emquanto a acção do governo foi illudida, e a
dos interessados em formar verdadeiras cooperativas
de credito. Decerto os interessados, já agora ad-
vertidos, devem antecipar as medidas necessarias,
que cohibem, impedem a deturpução e que as leis
condensam num periodo mais ou menos demorado de
organização systematica de dispositivos, apurados
pela eminente jurisprudencia evolucionária, que re-
flecte aidéa pura nunca deixando de tomar em con-
-193-

sideração as normas essenciaes doutrinarias a moral


fiscalizando a pratica.
Por isso os intereseados devem logo tratar de
defender por si a instituição de previdencia colle-
ctiva, por excellencia, das tramas dos deturpadores
que pretendem fazer escola com magnatas da uzura
disfarçada, alliando incautos, servindo-se de omis-
sões legaes, dando pessimo exemplo ás demais for-
mas de coop. e aos que os acompanham tão somente
por deficiencia da catechesee, que entre nós é sempre
prejudicada pela indifferença culposa da imprensa e
pela acção da política mal informada.
Chegou a vez, de facto de impedir-se que a
cooperação unica meio de redempção economica do
povo sirva de instrumento hybridó aos que preten-
dem transformar a soc. de pessoas em soc. de capi-
taes da uzpra, quando ,o banco-Luzzatti é constituido
para obter mais facilmente os capitaes necessarios aos
que se esforçam nos. officios no peq. commercio, na
peq. lavoura e pequena industria enfim, nas profis-
sões liberaes em geral, nos proprios lares onde paes
de família, militares ou civis, lutam acerbamente
Se o B. X, que revela as melhores inten-
ções adoptando entre outras medidas, de accordo
com o instituto verdadeiro, o limite do numero das
acções (50), com faci-lidade irá alem no terreno dou-
trinario, adoptando o voto singular, pedra angular da
cooperação a qual elIe poderá servir até no sentido
de irradiar a sua acção cyclica de propulsão desinte-
ressada. no ambiente falto de estimulo ás empresas
de caracter collectivo e visceralmente popular, empresas
que alicerçam a alforria nacional, criando-se
assim uma atmosphera social mais digna da huma-
nidade.

EXCERPTO DA LEY N. 11.388 SOBRE REGIMEN DE LAS


SOCIEDADES COOPERATIVAS

Buenos Aires, 20 de Deciembre de 1926

Art. 2.° - Solo podram denominarse «cooperati-


vas» las sociedades que ademas de ese titulo reunan
los caracteres seguientes:
-194-

4. º Cada socio no tendrá más que un voto sea


cual fuere el número de sus acciones;
8.º En caso de liquidacion de la sociedad los
fondos de reserva se entregarán al fisco na-
cional o pró uncial segun el domicille real de
la sociedad para fines de educación economi-
ca del pueblo;
9.º No concederán ventaja ni privilegio alguno
a los iniciadores, fundadores y directores; ni
preferencia a parte alguna del capital;
10.º No podrán remunerar con comisión ni en otra
forma a quien aporte nueves socios o coloque
acciones ;
11.º No podrán tener por fin principal ni accesso-
rio la propaganda de ideas políticas, religio-
sas, de nacionalidades o regiones determina-
das; ni imponer como condicion de admisión
la vinculacion de los socios con organiza-
ciones religiosas, partidos políticas o agru-
paciones de nacionalidades o regionales;
13.º De los servicios de la sociedad, sólo podrán
hacer uso los socios;
15.º Cuando electúen prestamos eu dinero a los
socios no cobrarán a título de premio, pri-
ma o con otro nombre suma alguna que re-
duzca la cantidad efectiva prestada a menos
del monto nominal del prestárno, salvo el
descuento por el pago de intereses si asi se
hubiera establecido. El interês no podrá
exceder más del 1 % de la tasa efectiva co-
brada por los bancos oficiales en operacio-
nes sernejantes y no podrá ser aumentado
durante la vigencia del préstamo. Los prés-
tamos podrán. ser cancelados en cualquier
momento, por el prestatario sin recargo al-
guno de interés ;
16.º De las utilidades realizadaas y liquidas podrá
pagarse sobre eI capital empleado eu opera-
ciones que nu sean 4e crédito un interes que
no exceda del % al que cobra el Banco
de la Nacion en sus descuentos;
17.º De las utilidades realizadas y liquidas de
cada cjercicio se destinará por lo menos e
5 % al fondo de reserva y se distribuira el

-195-

90 % entre los socios (percentagem exage


rada);
a) En las cooperativas o secciones de con-
sumo, en proporción al consumo hecho por
cada socio;
b) En las cooperativas de produccion en
proporcion al trabajo hecho por cada uno.;
c) En las coopeiativas o secciones de
adquisicion de elementos de trabajo y de
transformacion y venta de productos, en pro-
porcion al monto de las operaciones de cada
socio con la sociedad;
d) En Ias cooperativas o secciones de cré-
dito en proporcion al capital;
21.º Cuando los socios pasen de 10.000 la asam-
blea general será substituída por una asam-
blea de delegados elegidos en asambleas
electorales de secciones o de distritos en
las condiciones que determinen los estatu-
tos Igual procedimiento pueden adoptar los
estatutos para la representacion de los socios
que residan en localidades distantes dei lugar
de la asamblea general ;

Art. 3,°- Las sociedades cooperativas podrán


ampliar su objeto y fusionarse con otra u obras de la
misma naturaleza por el voto de la mayoria de la
asamblea ordinaria siempre que asunto figure en la
orden dei dia La ampliacion de su objeto o la fusión,
serán registradas e inscriptas en la forma estableci-
da en los artículos 5 y 6 de esta ley.
Art. 4.°- Las sociedades cooperativas podrán
asociarse entre si por el voto de la mayoria de la asam-
blea ordinaria para constituir una cooperativa de
cooperativas y hacer operaciones en comun según
los principios establecidos eu esta ley.
Art. 5.°- Las sociedades, cooperativas podrán
constituirse . validamente sin necesidad de escritura
pública, labrándose actas por duplicado, las que de-
berán ser firmadas por los coonstituyentes e inscri-
ptas en registro especial que llevará el Ministerio
de Agricultura.
Art. 8 - Las socieo les cooperativas existentes
deberán ajustarse dentro de un são de sn promulga-
las disposiciones de la presente ley si desean
-196-

conservar la denominación de «cooperativas». Las que


no lo hicieren incurrirán eu Ia penalidad establecida
eu el artículo siguiente.
Art, 9.°- Queda prohibido el uso de la palabra
«cooperativa» en el nombre de cualquier sociedad o
empresa, posterior a la fecha de promulgacion de esta
ley, que no se haya constituído de acuerdo con sus
disposiciones. La violación de esta prohibicion será
penada con multa desde 500 hasta 2,000 pesos, mo-
neda nacional, y la clausura deI establecimiento ofi-
cinas locales de ventas y demás dependencias públi-
cas de la sociedad o empresa, mientras no se suprima
el uso indebido de la palavra «cooperativa».
Art. 10.° - El Ministerio de Agricultura tendrá
a su cargo el control público de las sociedades coope-
rativas, revisará y certificará los balances que le sean
sometidos por éllas, y establecerá un servicio de in-
formacion para y sobre el movimiento cooperativo de
la República.
Art. 12.°-Esta ley se incorporará eu titulo espe-
cial al Código de Comercio.

☼☼☼☼☼☼☼☼☼☼☼☼
MODELO

(CONFORME ARRIGO VALENTINI)

QUADRO ESTATISTICO DAS PRINCIPAIS OPERAÇÕES REALIZADAS PELO BANCO DESDE SUA FUNDAÇÃO ATÉ 31 DE DEZEMBRO DE 19...6

Depositos em
Fundo de resrva RESIDUOS
custodia
Capital Social

sobre effeitos

Transportes e

Dividerndo
inscriptos no

prorrogações

das acções
Emprestimos
emprestimos
Quantidades

exercicio
Dscontos e

Lucros e

Anno de
Effeitos a
Exercicio

exercicio

perdas
publicos
Anno de

Em corrente
Acções

economia
Socios

cobrar

fructifer
cadernet

effeitos
com bancos

Sobre

as de
Em Em conta

Em

os
Simples e correspon-
cofres conjunta
dentes di-
versos

N O T A – E s t e Q u a d r o d e v e r i a s e r o r g a n i z a d o a n n u a l me n t e p o r c a d a u m d o s b a n c o s – L u z z a t t i p a r a s e r e n v i a d o a o R e g i s t r o d a S e c ç ã o d e C r e d i t o
A g r i c o l a , a l e m d o s d o c u me n t o s e x i g i d o s p é l o a r t i g o 1 6 d o d e c r . n . 1 6 3 7 d e 5 d e j a n e i r o d e 1 9 0 7 , e b e m a s s i m a o i n s t i t u t o q u e c e n t r a l i z a s s e a F e d e r a ç ã o
Propria e futura desses bancos, como se faz na Italia, nossa inspiradora fiel, como a França, a Belgica, a Suissa, a Dinamarca, a Inglaterra, a Allemanha,
a R u s s i a e o u t r a s n a ç õ e s n ã o m e n o s c u l t a s , n o q u e r e s p o e i t a á a c ç ã o l a t e r a l c o o p e r a c i o n i s t a . O R e g i s t r o d o M i n i s t e r i o d e s s a f o r ma a p t o a o r g a n i s a r
u m Q u a d r o g e r a l e s t a t i s t i c o , a n n u a l me n t e , s o b r e o m o v i m e n t o d o s b a n c o s p o i s d o s i n d i c e s d a s o p e r a ç õ e s p a p u l a r e s é q u e s e d e d u z o g r a u d e p r o g r e s s o s u -
bstancioso das cidades onde os bancos operam, como affirma o criador do novo instituto, o proprio Prof. Luiz Luzzatti.
NOTA ULTIMA

Occorreo-nos no ponto final, o seguinte facto


que deveria pôr logo os governos de sobreaviso nessa
questão da usura disfarçada A grande massa de to-
madotes de emprestimos, recusada pelos bancos com-
muns, é que visam os pseudo-baucos populares com
meia duzia de mãosinhas capitalisticas eternamente á
testa... Não é a verdadeira cooperação que aliás as
taesinhas temem por lhes vedar à bopropina O | a
Instituto de Previdencia, já vem cohibir os empresti-
mos mais alto do que 12 % porém é preciso que os
verdadeiros cooperadores compreheendam que, a Cai-
xa Economica e o Instituto de Previdencia que com-
pletam a acção official do Credito, não embargam a
formação do verdadeiro credito cooperativo, que o
voto singular e o credito pessoal garantido, actual-
mente mystificado offerecem a um campo de acção
directa que propulsiona todas ás forças fecundas con-
tidas nas energias populares desvirtuadas por tudo
que não representar a sua individualidade propria,
collectiva jamais parcellada pois o credito coopera-
tivo deve ser o eixo em torno do qual devem girar as
actividades populares regeneradoras, profundamente
moraes e altamente fecundas. Como já ha nos bri-
lhantes «guichets» da Candelaria, secções para acolher a
economia popular que por elles se escoa, amanhã
esses mesmos «guichets, por sua vez, mystificarão
tambem credito pessoal popular, pois já devem inter-
vir nesse sentido, por intermedio de caixas ruraes e
bancos—populares, pouco affettos a engranagem fe-
derativa por especie e dentro das normas doutrinarias que
sempre procuram burlar, com mui raras ex-
cepções Tal mystificação equiivale a dos taes «bo-
nus cooperativos» qne não passam d’lima grosseira
mystificação da bonificação criada pela cooperativa
de consumo rochdaleana o instituto popular por ex-
cellencia
Alerta, cooperadores!
—198—

Observação. - A respeito do art. 15 in fine dos


Estatutos do Banco popular urbano, por nos adap-
tados dos de Cremona devemos insistir sobre a for-
ma da Sociedade poder alienar acções ou das mes-
mas serem alienadas pelos socios.
Allenar é «tornar alheio ou de outró» (Caldas
Aulete).
Ora, nu caso em questao, trata-se justamente de
mudança de propriedade de acções em determinadas
condições, o que pode dar-se, quer para effeitos de-
minuição de capital (capital-acção pesa produz a val-
vula escapatoria dos dividendos. ..), que para effei-
tos de traspasse admissivel entre, os socios.
Portanto, o primeiro acto é o de alienação caben-
do tanto á Sociedade como aos socios, o segundo
acto é que compete á contabilidade, Isto é, concellar| a
ou transpassar sem que seja necessarlo estatuir a
respeifo desta disciplina logica perfeitamente suben-
tendida.
Os artigos 11, 12 13, 14, 15, e 18 satisfazem
perfeitamente todas as clausulas referentes á acção e
como em nenhum banco desses que têm havido, in-
tegrando-se assim, nessa parte, como no mais, o ver,
dadeiro caracter popular do instituto onde se evita o
dogma draconiano e, por concomitancia, tudo que to-
lhe a acção do progresso moral conjugado com o
material.
O art, 9 tambem tem uma significaçao mui ca-
racteristica: abrange o desdobramento e ao mesmo
tempo a união das sociedades cooperativas, sem com-
prometter a federação que se faz por especie tão
somente.
O credito centraliza em cada lugar a acção pro-
pulsora das energias cooperativas. Se uma coopera-
tiva qualquer nao pudesse ser socia d’um banco po-
pular, d’uma caixa local ou d’uma caixa central, ti-
nham que recorrer ás sociedades anonymas de cre-
dito... Ora, trata-se justamente de evitar tal conta-
cto com qualquer forma de cooperativa, por causa do
contagio de escolas antagonicas, no apurar da dou-
trina regeneradora por excellencia e que por, isso pre-
cisa de apostolos verdadeiros, mais ainda que de
carpintaria, sobrendo quando os carpinteiros são
manhosos...
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Mas, apostolos se não encommendam e assim


devemos nos contentar com a «prata de casa», porem,
sem receio dos debates esclarecedores do assumpto,
sempre prompto para a replica, em questões de prin-
ciplos, que é do que nos occupamos. joiremos as
idéas sem preconceito de especie alguma.
Por ventura ha praxes admittidas pela alta, pro-
funda experiencia dos grandes e pequenos centros
historiscos, que irradiam pelo universo amigo do
progresso e nunca inimigo da idéa de ternura e de-
sinteresse que deve predominar na acção justa, co-
operacionista, o de que a razão muita vez se não oc-
cupa, por virtude de ser essencialmente fria e meca-
nica, quer imbuida no dogma juridico commum, quer
no terreno das finanças, esquecendo-se de que a so-
ciedade cooperativa, antes de tudo, é uma sociedade
de corações..
O homem, sem a suprema graça, não pode at-
tingir ideal tão grande, formigando até na propria
cooperação, apegado a coisas de somenos. .
Ouvi as palavras do Mestre: «As nossas Associações,
têm por fim combater o espirito do mundo, o
egoismo, a fébre de lucro, essa luta para á vida pre-
sente, em que se procura unicamente apoderar-se dos
bens deste mundo, tanto que fôr possivel e o mais
depressa possivel, sem pensar se os outros se arrui-
nam por nossa causa e cahem na miseria»... «Não
esqueçamos nunca, caros consocios, que, sem os
nossos deveres de christãos o fim, os deveres que
nossas Caixas se impuzerem de emprestimos e eco-
nomia não serão preenchidos. Nossas Associações
descerão enião á simples funcção dos negocios de
dinheiro e de nada servirão Queira Deus que tal
coisa nunca aconteça ! >>

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