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Alfredo Lamy Filho

Exposicées

Pareceres

BMARLCELD FERARD

RENOVAR BRRin
Rio de Janeiro » S&o Paulo » Recife v
Nan Faca Coprs

2007
O Acionista Controlador na Nova Lei de S.A.*

1 — Limites do Trabalho

Anova Lei de Sociedades por Agdes (Lei n® 6.404, de 1976), ao dis-


ciplinar, no capitulo X, direitos ¢ obriga¢des dos acionistas, dedicou a
secao IV (arts. 116/117) 4 figura do “acionista controlador” Trata-se de
inovagdo de nosso direito positivo que, até o presente, tem provocado
{20 que pudemos observar) poucas referéncias criticas, o que surpreen-
de, dada a relevancia do tema. Por outro lado, comecam a surgir, por
parte de alguns empresarios, uma contida reacio no sentido de que se
trata de uma demasia, de um excesso do legislador, de conseqiiéncias
imprevisiveis para a ainda incipiente vida empresarial do pais.
© Asnotas que se seguem — extraidas de alguns pareceres que tive-
mos oportunidade de emitir sobre a matéria — pretendem esclarecer
(i) que era e é imprescindivel a disciplina juridica do acionista contro-
lador, em face da crescente importincia do poder empresarial numa
economia aberta, como a em que vivemos; e (ii) que as normas legais
recém-editadas sobre a matéria nada tém de catastréficas (como che-
gou a declarar um ilustre empresirio estrangeiro), encontrando ampla
- justificativa e precedentes tanto no campo jurisprudencial como no
- doutrinério, dos paises mais desenvolvidos.

II — Empresa e Poder Empresarial

Uma das caracteristicas marcantes do mundo em que vivemos é a


presenca da empresa — sobretudo em sua forma atual de macroem-
. presa — como condigao da vida moderna. Duas cita¢des bastam para
ilustrar o afirmado.

* Publicado na Revista da OAB, vol. IV, 1978.

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Dizem Dale e Bounine, em livro que mereceu o preficio do pré- remuneragoes maiores mas ainda requerem instrumental e condi-
mio Nobel Jacques Monod!: “no curso dos tiltimos anos, as sociedades ¢oes de trabalho que s6 os grandes podem propiciar; a criagio de hé-
industriais viram crescer seus indices de produgio a taxas jamais igua: bitos de consumo de massa s6 atendivel mediante produgio de massa;
ladas. Seus membros beneficiaram-se de uma abundéancia de bens m “a explosio populacional, o fenémeno da concentragio urbana, o ideal
teriais e de modos de vida que eram inimaginaveis, hd, apenas, 15 generalizado e universal do “desenvolvimento econdmico” (que che-
anos. Mas, para tanto, viram-se forcadas a viver em estado de simbiose gou a ser chamado “o novo nome da paz”) — e tantas outras caracte-
sem precedentes com a empresa. Jamais os homens em atividade oy risticas do mundo moderno, propiciaram, senio impuseram, a presen-
ca atuante da empresa, €, mais especificamente, da macroempresa.
aposentados, no trabalho, ou em viagem, alimentando-se ou no lazer,
(E, acrescente-se: essa instituigio é a mesma -— como acentua RUI
vivendo na cidade ou no campo, jamais dependeram tio Completa-
DE SOUZA?® — no mundo capitalista, socialista, fascista ou comunis-
mente, como em nossos dias, do processo de 1ndustr1a11zagao .
ta; “é ela, sempre a mesmissima institui¢io, que toma a forma de gran-
E o chamado Relatério Sudreau®: “a empresaé a célula de base de de empresa privada nos Estados Unidos, da inddstria socializada pela
toda a economia industrial. Em economia de mercado, é, com efeito politica trabalhista da Inglaterra ou dos imensos e potentes torgs so-
a nivel de cada empresa que se efetua a maior parte das escolhas que * viéticos”).
comandam o desenvolvimento econdmico: defini¢io de produtos; Em seu processo de expanséo ilimitada, as empresas desbordaram
orientagio de investimentos e reparti¢io priméaria de rendas. Esse pa as fronteiras nacionais, tornaram-se transnacionais ou multinacionais,
pel motor da empresa é bem um dos tracos dominantes de nosso m o que tudo provoca um rol de conseqiiéncias, de natureza nio apenas
delo econdmico: por seu poder de iniciativa, a empresa é a fonte da econdmica, mas também politica, social e juridica, sobre as quais se
criagio constante da riqueza nacional; ela é também o lugar de inova debrugam, cada vez mais interessados, estudiosos de tode o mundo.
cao e de promocio” (pois “oferece a cada um, um itinerdrio de prom Para nos atermos apenas ao ponto que interessa ao caso, assina-
¢ao” lem-se dois aspectos da mais alta relevincia: a fissio do direito de pro-
A empresa €, pois, a unidade de produgao tipica da economia mo- priedade {que afasta o dono da gestdo, com a ascensio do controle) e
derna, com a qual estamos condenados a “viver em simbiose”, sobre- a dramitica expansio do poder empresarial. Ambos os efeitos encon-
tudo em sua forma adulta e, sob tantos aspectos ameacadora, da ma tram seu ponto de origemn na sociedade andnima, e nela devem encon-
croempresa. A marcha, por ela percorrida, para o gigantismo atua trar, correlatamente, normas juridicas que as disciplinem. Dai enten-
ndo ocorreu por mera ambicio dos empresirios em busca de maiores dermos bem por que ASCARELLI, no artigo com que inaugura a Ri-
lucros, ou pela via induzida da concentragio de renda, mas aparece vista delle Societd* nao hesita em afirmar que a disciplina privada da
como resultante de uma intera¢io com o processo do desenvolvime S/A “puo un po' considerarsi come il diritro costituzionale dell’econo-
to econdmico, a um tempo causa e efeito de tal processo. -mia, attendendo alla strutura giuridica piti importante e caratteristica
A segunda Revolugio Industrial, ou a revolugao tecnoldgica dell’economia attuale” (nosso o grifo).
para a qual a grande empresa concorreu com as pesquisas que s6 ela’ Em tese que fez época na Franga — e que coloca o seu autor na
podia financiar, ou com sua capacidade de mobilizar capitais para linha dos grandes analistas do fendmeno, como RATHENAU, BER-
transformar em produto as descobertas realizadas nos centros unive LE, RIPPERT e poucos mais — CLAUDE CHAMPAUD? assinala que
sitdrios; a busca do ponto étimo de producéo s6 atingivel em economia “a nocio de controle domina as realidades econdémicas contempora-
de escala; a utilizagio dos melhores técnicos, que fazem jus nio apenas: neas, mas, em geral, os juristas ndo se apercebem senio de seus ecos”.

1 Quand L'Entreprise s'éveille a la concience sociale, Ed. Laffont, 1975, p. 37 3 Ruide Souza, O Direito das Empresas, 1939, p. 211,
2 Rapport du Comité d'étude pour la Reforme de L'Entreprise, presidido por 4 I problemi delle societa anionime per Azioni, ano I, vol. 1, 1956, p. 5.
Pierre Sudreau, submetido ao Presidente da Republica e ac Primeiro-ministro 5 Le pouwvoir de concentration de la Societé par Actwns, Slrey, 1962, pp. 150,
(francés), em 1973, p. 13. 156 e 161.

150 15]
E, esclarece, “para que apareca a no¢io de controle, é necessirio, em ida e os bens de toda a sociedade, que existe em “simbiose perma-
primeiro lugar, que exista um patriménio cujo titular se encontrana nte com a empresa”. Daf por que esse poder empresarial, sob pena
impossibilidade fisica de gerir os bens de que seja proprietario. Ta} ¢ ameagar a sociedade dentro da qual vive e para a qual vive, deva ser
condicdo ocorre sempre que o proprietdrio € uma pessoa juridica”. Em d15c1phnado e balizado pelo interesse piblico de que participa.
conclusio: “o controle é o direito de dispor de bens alheios como um Este, alids, é o pensar comum nio apenas dos estudiosos da maté-
proprietario”. ia, mas também dos empresérios conscientes de que desempenham
ORLANDO GOMES, no seu recente Direito Economzco endos- ‘um papel de importancia fmpar no mundo atual. Alguns poucos exem-
sou 0 conceito, em termos que merecem ser transcritos: “plos, respigados na vasta literatura existente sobre o assunto, podem
“Quem controla uma sociedade €, na linguagem proprietarista, - ser citados.
seu dono. O que distingue, porém, o controlador do proprietario& E conhecido o debate, travado entre os Profs. ADOLF BERLE e
que este tem direito de dispor dos bens préprios, enquanto aquele ‘MERRICK DODD JR., através da Harvard Law Review, anos
pode dispor praticamente dos bens alheios, pouco importando, como. °1931/1932, sobre o problerna em que o primeiro sustentava que os
se discute, se os bens sociais sdo da pessoa juridica ou dos acionistas” poderes e responsablhdades dos administradores sio, necessariamen-
E, apés invocar a ligio de CHAMPAUD, conclui: ‘te, e em todas as hip6teses, “exercisable only for the ratable benefit of
“Légico, portanto, que a gestdo dos bens sociais, vale dizer, o go- -all the stockholders as their interest appears”, enquanto o segundo
verno da empresa, fique na dependéncia da vontade dos detentores do- ‘aditava que o uso da propriedade privada envolvia fundamente o inte-
controle acionario da sociedade. Sdo eles préprios que se elegem ad
resse ptiblico (“deeply affected with a public interest”), e a opinido pu-
ministradores ou escolhem quem lhes convenha para o exercicio da
_:-blica cada vez tomava maior consciéncia do fato. Esse debate, dos
fungdo”.
‘mais esclarecedores, terminou com a concordancia de BERLE “at
Nesta matéria, a literatura juridica brasileira (quigd universal) foi
least for the time being” com as teses de DODD — como se 18 no seu
enriquecida com a tese, sob tantos titulos admirdvel, do Prof. FABIO .
livro The 20th Century Capitalist Revolution, N.Y., 1954, pig. 169.
RONDER COMPARATO O Poder de Controle na Sociedade And
No estudo de EUGENE ROSTOW entdo Dean of the Law
nima —, de leitura obrigatéria para os que desejarem aprofundar 0
School, Yale University (“To whom and for what ends is corporate
exame do tema. '
management responsible”? — publicado no livro de E. MASSON The
Corporation in Modern Society, ed. Atheneum, N.Y., 1975, p. 46 e
ss.), cita ele a manifestacdo do Justice Douglas, entdo Chairman da
III — O Exercicio do Controle e o Interesse Piblico
Securities and Exchange Commission que vale transcrever:
Bastam essas nocdes para evidenciar que o poder empresarial se. “Hoje é geralmente reconhecido que todas as companhias pos-
traduz em termos de controle da empresa. Tal poder empresarial — suem um elemento de interesse piblico. O diretor de uma sociedade
que se nio confunde com o direito de propriedade, pois se caracteriza- deve pensar ndo somente em fungio dos acionistas mas também do
como gestéio de bens alheios — é exercido nio apenas sobre a “célula trabalhador, do forneceder, do vendedor e do consumidor dltimo de
econdmica” (que retine os elementos necessirios4 producio) ou so- seus produtos. Nossa economia é como uma corrente que nio serd
bre a “célula social”, composta dos elementos humanos necessarios a- mais forte que qualquer de seus elos”.
dinamizacgdo dos elementos materiais da “célula econdmica” (e que in-. No mesmo sentido o pensamento de EINMHAL, num estudo so-
tegram a empresa, na linguagem de DESPAX” — mas, a rigor, sobre a. bre a reforma das sociedades an6nimas na Alemanha (publicado na
Révue Trimestrielle de Droit Commercial, tomo XXI, 1968, pég.
563}, quando assinala que os empresarios “j4 se deram conta de que
tém mais deveres para a economia como um todo que perante os de-
6 Ed. Saraiva,
1977, p. 221 e segs.
tentores do capital social”.
7 M. Despax, L'Entreprise et le Droit, Ed. LG. D.J., 1957, p. 80.

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No XXI Congresso da Cimara de Comércio Internacional, real; Leia-se, a propésito, o que consigna FLETCHER (Cyclopaedia of the
zado em Montreal de 13 a 20 de maio de 1967, cujas conclusoesie: Law of Private Corporations, 1961, revisto, volume n° 13, § 5.810,
textos selecionados foram divulgados sob o titulo de L'entreprise pr 2ég. 148):
vée dans un monde em évolution, uma das proposicdes aprovadas di . “O acionista majoritdrio, na medida em que controla a sociedade,
justamente que: : eve agir de boa-fé, no que concerne aos direitos do acionista minori-
“Q objetivo de lucro que visa tradicionalmente o homem de negé- tario. O juiz Douglas; em julgado da Suprema Corte dos Estados Uni-
cios é perfeitamente compativel com suas responsabilidades para cony ““dos, resumiu admiravelmente as normas juridicas que regem a compa-
a comunidade. N3o s6 a empresa nio poderd continuar a fazer face a. nhia declarando que a maioria tem o direito de controle, mas ao exer-
suas responsabilidades se ndo tiver lucros, mas ainda sua rentabilida- cé-lo assume uma relagio fiducidria para com a minoria, tanto quanto
de, a longo termo, impde ao empresdrio respeito as finalidades da co- a prépria sociedade ou seus administradores. A responsabilidade do
munidade e participagio nos esforcos por ela feitos para atingir tais acionista dominante, ou controlador, ou grupo de acionistas, para com
fins” (pag. X1}. o a minoria é a mesma do diretor da sociedade para com o acionista. Sua
Veja-se, ainda, a entrevista do empresirio PETER MACCO- acio deve ser isenta de fraude e ndo pode visar a destrui¢io dos direi-
LOUGH, publicada na Harvard Business Review, vol. 53, n°® 3, maio- tos da minoria”.
juntho de 1975, p. 127 e ss. na qual é travado o seguinte didlogo: E, adiante, citando o julgado de N.Y., FLYNN V. Brooklin City
- RCo.:
— Julgo dificil estabelecer qualquer prioridade entre grupos
“Embora os tribunais nio possam compelir diretores ou acionistas,
sejam eles acionistas, empregados, comunidade ou paises.
- que agem através do voto da maioria, a agir com sabedoria, podem
— Comunidade e pafs sio belas palavras. Poderia o senhor espec
- compeli-los a agir honestamente”.
ficar um pouco mais o que significam? O tema foi bem examinado no cap. VI (pigs. 233/246) do livro de
— Quando se opera numa 4rea, temos responsabilidade nessa A. BERLE e G. MEANS, The Modern Corporation and Private Pro-
drea. Temos que estar atentos s necessidades dessa drea particular, e perty, N.Y., 1932, no qual se mostra que a “doctrine of dominant
nossa responsabilidade é encontrar essas necessidades, sejam elas em stockholder” teve sua génese num julgado do Justice Taft, em 1893,
prego, negbcios ou comércio. Para ampliar o foco até o pafs, a menos no qual afirmou:
que V. realmente v4 de encontro as necessidades de um pafs em par- “O vicio desses contratos nio € que nio representem a relagio ver-
ticular, V. ndo estard habilitado a levar seus negécios muito longe, ou dadeira entre as partes, mas é que sao contratos feitos por uma socie-
40 MEenos Com muito sucesso nesse pafs. ' dade com alguém que exerce indevida influéncia sobre os diretores,
em razio das relacdes que tém como principal acionista, o que torna
nio eqiiitativa e indefensavel para elas, através de tal influéncia, asse-
IV — O Acionista Controlador na Doutrina e Jurisprudéncia gurar-se de proveito individual s custas da sociedade e dos seus acio-
Estrangeiras nistas”. '
Mais adiante, esclarecem BERLE e MEANS:
Quanto & figura do acionista controlador, em especial, embora no “Controle, em ultima anilise, pode atuar em trés hipéteses. Pri-
definida nas legislacoes estrangeiras nos termos em que consagrados . meira, pode influenciar ou induzir os diretores no exercicio de suas
em nossa lei, a verdade é que a jurisprudéncia e a doutrina desde al- funcées e poderes. Segundo, o controlador pode, atuando no exerci-
gum tempo vém construindo seu perfil e atribuindo-lhe responsabili cio de seus direitos, praticar certos atos diretamente — como votar
dades especificas. na elei¢io para diretores, reforma de estatutos ou ratificar atos dos
Com efeito, tanto a jurisprudéncia americana, quanto a inglesaea. diretores. Terceiro, o ‘controlador’ pode praticar atos que, formal-
de outros pafses, ha muito ddo status juridico a figura do controlador mente, nada tém a ver com a sociedade, mas que de fato atingem gra-

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vemente o destino da empresa. Por exemplo, o ‘controle’ pode se A disciplina do controle das sociedades, e dos contratos de domi-
vendido”. ' cdo estd feita na lei alema de 1965 (ver §§ 15a 22 € 311 a 338 da
A seguir, BERLE e MEANS examinam a disciplina juridica do cos i). Mas, como esclarece H. WORDINGER (German Company
trole, nas trés hipéteses formuladas, evidenciando que todas sdo “fa aw, 1965, pag. 148 e ss.) o leading case no assunto data de 1913 —
ly governed by legal theory” — embora quanto a terceira delas (com:’ im julgado da Suprema Corte da Alemanha (Deutsche-Amerikanis-
pra de controle ou, como diz, “bying power not stock”) haja poucos: che Petroleum — Gesellschaft, subsididria alema da Standard Qil
precedentes (pdg. 243). . ‘Company of New Jersey, versus Deutsche Petroleum — Verkaufge-
No direito inglés, o problema se pde em termos semelhantes ‘sellschaft).
como se 1&, v.g., em GOWER, The Principles of Modern Company Como parece evidenciado, o problema de responsabilidade do
Law, 3" ed., Londres,1969: acionista controlador constitui, de hd muito, preocupagio comum dos
“Qualquer um, e, a fortiori, o acionista dominante, pode ser res vérios paises de economia aberta — embora sé disciplinado, no direito
ponsivel se, conscientemente, participa de uma irregularidade: brasileiro, na recente Lei n® 6.404, de 1976.
(breach of trust) do diretor. Ele serd igualmente responsével se, sem
escusa legal, induz um diretor a faltar com seus deveres perante a
companhia. Os controladores, por conseqiiéncia, ndo podem, sem im-’ 'V — Responsabilidade dos Figurantes na 8/A
punidade, instalar homens de palha corno diretores testas-de-ferro:
(dummy) e usé-los para assaltar a companhia”. ' Com os pressupostos que vimos de enunciar — embora de forma
No direito continental europeu - ao qual nos filiamos, por tradi-- resumida ~-, é ficil de entender por que a nova lei de §/A procurou
¢do — a posic¢io do acionista controlador 56 mais recentemente vem fixar (com a flexibilidade que lhe impunha a condigio inovadora) a
sendo tratada com nitidez. : responsabilidade dos varios figurantes na sociedade andnima, sejam
Vejam-se, a esse propoésito, os livros de CLAUDE BERR — L'E- eles subscritores de acdes, avaliadores, acionistas, administradores fis-
xercise du Pouvoir dans les Societés Commerciales, ed. Sirey, 1961; o cais e/ou controladores. A cada um deles a lei impde deveres e respon-
de JEAN PAILLUSSEAU, La Societé Anonyme, Technique d’Organi- sabilidades correlatos aos direitos que lhes assegura no processo, e
sation de L'Enterprise, Sirey, 1967; ¢, especialmente, a admirdvel tese que, em tltima andlise, se definem em lealdade para com os demais
de CLAUDE CHAMPAUD: Le Pouvoir de Concentration de la Socie- socios e para com a comunidade em gue atua a empresa.
té par Actions, edicio Sirey, 1962, na qual preleciona:
Leia-se, a propésito, o que preceitua o art. 115, sobre o abuso do
“Os acionistas controladores gozam igualmente de certo ndmero
direito de voto e conflito de interesses, impondo responsabilidades ao
de direitos e prerrogativas de fato em contrapartida de obrigagdes ou
acionista mesmo quando minoritirio (§ 3° do mesmo artigo), se frau-
de deveres que lhes incumbem.
da o interesse societdrio com seu voto: é o “abuso de minoria”, que
“O exercicio do controle se confunde praticamente com a admi-
tantas vezes ocorre na préitica de nossas sociedades, e ji tio bem exa-
nistracio da sociedade andnima, mas a qualidade do administradore a
do acionista controlador ndo estdo obrigatoriamente conjugadas. : minado pelos autores (cf. GOWER, op. cit., pags.. 509/510; MI-
“Em primeiro lugar, cumpre salientar que o acionista que dispde . CHEL MEYSSON, Les Droits de Actionnaires et des Autres Porteurs
do controle nio assume sempre seu exercicio direto. Certos titulares de Titres dans les S.A., 1962, pig. 135).
do controle, como as pessoas juridicas, precisam recorrer a pessoas fi- Ao administrador — conselheiro ou diretor — a lei, nos arts. 153
sicas 3s quais credenciam para desempenharem em seus lugares os a 158, prescreve normas de conduta e define responsabilidades coin-
atos de administracdo. Por outras razdes, certas pessoas fisicas, acio- cidentes, em muitos casos, com as que regulam a atuacio do controla-
nistas controladores, se abstém de sentar no Conselho de Administra- dor, mas necessariamente mais amplas, por isso que a eles incumbe,
cdo e se contentam em dar ordens a pessoas interpostas que preen- de direito, o exercicio do poder empresarial. Dai por que a lei, entre
chem tais fungdes por sua conta” (pégs. 38/39). outras prescrigbes, determina, no art. 154:

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“Q administrador deve exercer as atribui¢bes que a lei e o estaty transferéncia do controle para uma holding como forma de
lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satigfe imir-se de responsabilidade de controlador:
tas as exigéncias do bem piiblico e da fungio social da empresa” (nos
o grifo). _ A primeira questdo que se pde € a de saber-se se o controle fosse
Ora, o quadro nio estaria completo — por tudo quanto se viu ag ransferido para uma outra S/A, a responsabilidade do controlador
teriormente-se o controlador, que exerce efetiva parcela do podg atingiria o “controlador do controlador” (sobretudo na hipétese de
empresarial (mesmo quando ausente da administraciio) ficasse forad controlador sediado no estrangeiro}.
alcance da lei, e da responsabilidade dos atos que pratica, ou pode pra Em termos estritos, a lei brasileira nio cogitou de “controlador do
ticar. controlador”, ou “holding de 2° grau” para efeito de apuragio de res-
Dai por que a Lei n° 6.404 deu status juridico a figura do acionista i'ponsabilidade Mas, é oportuno ressalvar que, em direito, vigora o
controlador (Secgdo IV, Cap. X, arts. 116 e 117), definindo seus deve principio fraus omnia corrumpit, o que vale dizer: se a constituigio da
res e responsabilidades, especificamente. Especial atencio mereceo companhia é feita para fraudar a lei, o juiz pode desconsiderar sua
parigrafo tnico do art. 116, in verbis: “
“O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazera; Veja-se o art. 145 do Cédigo Civil (que declara nulo o ato juridico
companhia realizar seu objetivo e cumprir sua fungdo social, e tem de ‘licito), sendo principio incontroverso que o ato contraveniente de lei
veres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, * de ordem piblica é nulo. (Alids, o Projeto de Cédigo Civil, em discus-
os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cu]os .50 no Congresso, sanciona tal nulidade com mais precisdo, ao pres-
direitos e deveres deve lealmente respeitar e atender”. : “crever no art. 164, itemn VI, que “é nulo o negécio juridico quando
Tambémé de salientar-se que a lei, a0 enumerar algumas hipéte. -tiver por objetivo fraudar le1 imperativa”.)
ses de exercicio abusivo do poder empresarial por parte do controla- ~ Nessa mesma ordem de idéias cabe referir que virios julgados dos
dor, colocou, em primeiro lugar (alinea a, do § 1°, do art. 117) o sé- “tribunais brasileiros — aplicando a doutrina americana de “disregard
gulnte ‘of the legal entity” — tém desconsiderado a existéncia da pessoa juri-
“a) orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou le- :dica interposta para alcancar diretamente o acionista interessado.
sivo ao interesse nacional, ou levé-la a favorecer outra sociedade, bra- ' Veja-se a sentenca do ilustre Juiz Pereira Pinto, confirmada pelo Tri-
sileira ou estrangeira, em prejuizo da participagio dos acionistas m 'bunal de Justiga da Guanabara (Revista Forense, vol. 188, maio de
noritdrios nos lucros ou no acervo da companbhia, ou da economia na- 1960, pags. 269/280) da qual nos permitimos citar:
cional”. “E pacifico, assim na doutrina como na jurisprudéncia estrangei-
Nao menor relevo tém as demais hipdteses que se seguem, como ras, que se deve, se o diretor ou acionista se serve fraudulentamente
as de “promover liquidacio de companhia préspera”; “eleger adm da sociedade para fins pessoais, prescindir da existéncia da sociedade
nistrador que sabe inapto moral ou tecnicamente”; “induzir ou ten- e considerar o ato como se fosse praticado diretamente pelo acionista
tar induzir administrador ou fiscal a praticar ato ilegal” — e outras soberano interessado.
mais, que merecem a leitura meditada dos empresarios e dos seus a “Existe um abuso quando se trata, com a ajuda da pessoa juridica,
sessores. de burlar a lei, violar obrigacdes contratuais ou prejudicar fraudulen-
tamente terceiros. Supera-se, daquele modo, a forma externa da pes-
soa juridica para alcangar as pessoas e bens que sob seu manto se es-
VI — Anélise de Alguns Temas Suscitados pelo Texto Legal condem”.
(Sobre o assunto vide a obra de ROLF SERICK: “Aparencia y
Passemos, agora, a uma andlise mais detida de alguns problemas: Realidade en las Sociedades Mercantiles, trad. espanhola Ariel,
suscitados pela responsabilidade do acionista controlador, dado o in- 1958; o trabalho de RUBENS REQUIAO “Abuso de Direito através
teresse imediato que apresentam: da Personalidade Juridica” (“Disregard Doctrine”), publicado na Re-

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vista dos Tribunais, vol. 410, pdg. 12 e ss.; e o estudo de ROGE ‘nhece e dé énfase ao fato, que marca a diregdo para onde tende o pro-
HOUIN, “I’Abus de la Personalité dans les S.A. en Droit Frangaig” cesso econdmico, cada vez menos isolado, e mais integrado no sistema
in Studi in Memoria de ANGELO SRAFFA, pég. 351 ess.). ' -de vida do homem, e da comunidade.
Apenas para ilustrar com um caso — talvez o de maior significacdo
-do Direito Comercial continental europeu —, leia-se o famoso “Arrét
b) responsabilidade do controlador perante a comunidade Fruehaut”, no qual os controladores Fruehauf-International deram or-
‘dem para que sua subsididria Fruehauf-France nio cumprisse um con-
Qutra questio, formulada com freqiiéncia, € a de saber-se em qu trato com seu principal cliente (40% da produgio), o que levaria a so-
consiste, afinal, a responsabilidade do controlador (e também dos ad=: ciedade 2 faléncia; levado o caso aos tribunais, pelos diretores da com-
ministradores) da empresa para com “os que nela trabalham e parg: panhia francesa, a corte de Paris nomeou um “administrador provisé-
com a comunidade em que atua”? rio” para gerir a sociedade e executar o contrato, fundado em que sua
Os arts. 116 e 117 da Lei n°® 6.404 prescrevern padrdes ou stan: rutura importava na ruina da empresa, “a provoquer sa disparation et
dards de comportamento. Esses padrdes — como virios outros adota le licenciement de plus de six cent ouvriers”. O julgado foi objeto de
dos em direito, e.g. “o comportamento do bom varao”, “trato dos ne- varias anélises — como as de R. COUTIN, publicado no Journal de
gécios alheios com a diligéncia empregada em seus proprios negécios Societés, ¢ as de CHAMPAUD e PAILLUSSEAU (L’Entreprise et le
e outros mais — pertencem ao sentimento comum do homem media=. Droit Commercial, Ed. Colin, Paris, 1970, pag. 82 e ss.), no qual se
no, e terio de ser apurados, em cada caso, a critério do juiz, ou tribu: salienta que o acérdao da corte de Paris, de 22.5.65, fugiu 3 concep-
nal a que a causa for aforada. Vale esclarecer que a responsabilidade cdo antiga, vinda do Cédigo Civil francés, que identificava o “interesse
decorre do chamado “abuso do controle”, e este supde o dois elemen - social” com o dos detentores do capital. O interesse social nio se con-
tos (como observa CHAMPAUD, op. cit., pag. 148): a) violagio d. funde com os de alguns associados, mesmo majoritdrios, nem com a
interesse social; b) para atender a interesse pessoal. “Esses dois ele soma de interesses da maioria, nem mesmo com o da unanimidade
mentos sio ligados, porque o delito consiste, precisamente, no sacrifi-. dos sécios, porque ele se identifica com o interesse da empresa. Em
cio do interesse social ao interesse egoista de quem exerce o controle outras palavras — dizem os comentaristas —, essa empresa, que com-
do patriménio social”, conclui CHAMPAUD. - . preende tarnbém os empregados, fornecedores, contratantes, clientes
Referindo aos deveres e responsabilidades do controlador do capi- e tantos outros interessados, tem direito nio s6 ao crescimento, como,
tal social para com os que trabalham na empresa, e para com a comu- sobretudo, i vida. A esse julgado, outros se seguiram, firmando juris-
nidade em que atua, a lei buscou pdr em relevo o conceito de “empre- prudéncia no mesmo sentido.
sa”, a “célula de base de toda a economia industrial” (como a definiu Mais nio parece necessério acrescentar para que se entenda a ra-
o relatério SUDREAU, cit.), da qual depende a sobrevivéncia de uma zio pela qual o art. 116, pargrafo tnico, fala em deveres e responsa-
sociedade economicamente aberta, e que é também integrada pela bilidades dos controladores para com os que trabalham na empresa e
forca do trabalho. Essa empresa atua num sistema politico, econdmico para com a comunidade em que atua. E ainda porque o art. 117, § 1°,
e social do qual recebe a contribuicdo intangivel das garantias de seu alinea b, inclui, entre os casos de “abuso de controle”, a “liquidacio de
funcionamento, e obtengdo de seus lucros, da realizacio de seus fins, companhia préspera (...) com o fim de obter para si, ou para outrem,
da existéncia de consumidores para o que produz, dos sistemas de vantagem indevida, em prejuizo dos demais acionistas, dos que traba-
mercado, transporte, comunicagio, etc., de que se vale, da existéncia tham na empresa, etc.”.
de uma ordem juridica que lhe permite trabalhar. Em contrapartida, :
retribui com as atividades que desenvolve, paga seus impostos, cria - c) favorecimento indevido da controladora ou de coligada
empregos, enriquece a comunidade. E, pois, uma célula — a célula de "
base, como vimos — de um organismo vivo que é a comunidade em - Na mesma ordem de idéias, interroga-se sobre o que sejam: “favo-
que se integra ou o préprio pais, em Gltima analise. A lei apenas reco- recimento de uma sociedade, brasileira, ou estrangeira” “em prejuizo

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da economia nacional” e “atos lesivos ao interesse nacional”: quals b ou superfaturamento, negociagdo com inimigo, em caso de guerra,
sentido dessas normas, e que organismo deverd defini-lo ou deterriii. facdo da lei antitruste, praticas comerciais ilegitimas, etc, — em que
na-lo? ' responsabilidade civil e criminal atinge aos que as praticam (os admi-
O art. 117, parigrafo tnico, alinea a, define um dos casos mai istradores da sociedade) e que, agora, se estende aos que deles se be-
freqiientes de “abuso de controle”, qual seja o do controlador de v efic1am ou determinam que sejam feitos (“orientar a companhia para
rias sociedades que, para atender aos seus préprios interesses, sacrifi T)- A hip6tese supde, portanto, a existéncia de uma lei, de ordem pi-
ca os de wuma companhia para favorecer outra, em que tem maior pa lica (“interesse nacional” ou da “economia nacional”) Vlolada por de-
ticipaciio. A norma deve ser entendida em consondncia com o dispos minacio do controlador (“orientar a companhia para fim [...]).
to no Cap. XX da lei (arts. 243 a 264}, que trata das sociedades co Nesses casos, se houver acionista dissidente, nas condic¢oes do art.
gadas, controladoras e controladas, e, especialmente, os arts. 245 ¢ 6, acima examinado, tem ele a¢do para haver a reparagio do dano.
246 a seguir transcritos: Independentemente do fato, no entanto, a iniciativa da apuracgio de
“Art. 245 — Os administradores ndo podem, em prejuizo da comi- violagdo de norma de ordem ptiblica estd regufada na lei que a editou,
panhia, favorecer sociedade coligada, controladora ou controlada; camprindo examinar cada hipétese para definir a quem caberd a ini-
cumprindo-lhes zelar para que as operacdes entre as sociedades, se. ‘ciativa (Ministério Piblico, agéncias governamentais, etc.).
houver, observem condicdes estritamente comutativas, ou com paga
mento compensatério adequado; e respondem perante a companhia
pelas perdas e danos resultantes de atos praticados com infragdo ao. ¢) o controlador nas sociedades por cotas de responsabilidade
disposto neste artigo. Timitada
“Art. 246 — A sociedade controladora serd obrigada a reparar osf
danos que causar i companhia por atos praticados com infragio ao dlS Um problema que comega a ser examinado — sobretudo por par-
posto nos arts. 116e 117. te dos que desejam furtar-se no império das normas que disciplinam a
“§ 1° A acdo para haver reparagio cabe: atividade do acionista controlador nic adotando a forma de S/A — é
“a) a acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do_ o de fixar o alcance de tais preceitos em relacio as sociedades por co-
capital social; ' 'tas de responsabilidade limitada.
“b) a qualquer acionista, desde que preste caugio pelas custas e Reconheca-se, de inicio, que uma interpretacio literal da lei ex-
honoririos de advogado dev1dos no caso de vir a acdo ser julgada im cluiria, desde 10g0 a extensio de um preceito, que cogita de acionista,
procedente. auma sociedade de cotistas. Mas o assunto, cremos, nao se esgota nes-
“§ 2° — A sociedade controladora, se condenada, além de reparar' sa resposta simplista, e requer ponderagbes que (para ndo estender
o dano e arcar com as custas, pagara honorarios de advogado de 20%: ainda mais o presente artigo) sdo apenas indicadas para maior debate
{vinte por cento) e prémio de 5% (cmco por cento) ao autor da agao posterior:
calculados sobre o valor da indenizagdo.” a) as normas dos arts. 116 e 117 tém seu fundamento na disciplina
Como se v&, a acio cabe aos acionistas da sociedade pre]uchcada : do “poder empresarial”, exercido por s6cios ndo administradores ou
em qualquer caso. gerentes — o que s6 pode ocorrer na andnima e na limitada; nos de-
mais tipos societdrios (as chamadas “sociedades de pessoas”, como a
sociedade em nome coletivo, a comandita, a sociedade de capital e
d) ato lesivo ao interesse nacional inddstria, ou, ainda, na parceria maritima, ou nas sociedades de fato)
0 gerente é sempre, e necessariamente, socio e ilimitadamente res-
Resta examinar a hipétese, incluida no texto em questio, de pratica ponsédvel; ora, como reza a norma de hermenéutica “ubi eadem ratio,
de ato “lesivo ao interesse nacional”, Esses atos dizem respeito a infra- . ibi eadem legis dispositio”, ou seja, onde existe a mesma razio funda-
coes de intimeras leis de ordem ptblica — remessa indevida de lucros, mental prevalece (ou deve prevalecer) a mesma regra de direito;

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b) a lei de sociedades andnimas, no Brasil, embora ndo contenh, O assunto, evidentemente, nio se esgota na indicacio sumadria de
disposicdo expressa neste sentido, sempre regulou matéria relatiy aleuns de seus aspectos, e cresce de importéncia se considerarmos —
todos os tipos societdrios (especialmente as limitadas) como € o cas . aqui é lembrado como fatos a serem ponderados por juristas e legis-
da defini¢io de nacionalidade (art. 60 do Decreto-lei n® 2.627 adores — que: (i) a tendéncia das subsididrias fechadas das socieda-
1940); autorizagio para funcionamento de qualquer tipo de sociedad; des estrangeiras é adotarem a forma de limitada; (i} as limitadas po-
brasileira (art. 59/63 do mesmo decreto-lei); autoriza¢io para socie dem exercer (e em alguns casos exercem) tdo grande poder empresa-
dades estrangeiras funcionarem no Brasil (arts. 64/70 do mesmo d ial guanto as andnimas, pois nenhuma restrigdo existe quanto ao
creto-lei); disciplina da mudanca de nacionalidade (art. 71/72); traj montante de seu capital; Prc)]eto de Cédigo Civil, submetido ao Con-
formacdo e fusio de sociedades de qualquer tipo (arts. 149/154 d gresso Nacional, declara, no art. 1.090, que a limitada reger-se-4, nas
Decreto-lei n® 2.627, cit., e 220 e ss. da Lei n° 6.404, cit.}; etc. .- omissbes do Capitulo [V, pelas normas da sociedade simples {e néo da
c) no caso, o art. 18 do citado Decreto n® 3.708, de 1919 (qu andnima) — o que as excluird de qualquer aplicagio extensiva das nor-
rege as hm1tadas) prescreve, expressamente: : as sobre responsabilidade do controlador.
“Serdo observadas quanto s sociedades por cotas de responsa ili
dade limitada no que nio for regulado no estatuto social e na part
aplicivel, as disposicdes da Lei das Sociedades Andnimas”. ; VII — O Controle da Empresa Multinacional
Esse texto deu margem a longa — e ainda ndo concluida — discus
sdo doutrindria, e divergéncia jurisprudencial, entendendo uma cor: Cabe, para encerrar o presente artigo, umna referéncia especial a
rente que a lei de anénimas s6 é supletiva do que “néo for reguladon -disciplina da agdo das multinacionais no Brasil em face dos novos tex-
estatuto social” (cf. WALDEMAR FERREIRA, Tratado de Direit 0s que vimos de examinar.
Comercial, vol. 3, pég. 461 e ss.); uma segunda corrente entende le E de todos sabido que o problema do controle dessas macroem-
de S.A. ¢, em sua integridade, fonte subsidiiria da disciplina das soc resas ascendeu ao primeiro plano de preocupacio ndc apenas dos
dades por cotas que se aproxima das sociedades de capital, por hay conomistas, mas de estadistas e dos organismos internacionais. E o
limitagao de responsabilidade, (cf. JOAO EUNAPIO BORGES;, Re Cédigo de Etica — que hd muito vem a ONU discutindo como norma
vista Forense, vol. 128, maio de 1950, pdg. 350); e uma terceira cc _de procedimento a ser por elas adotado — encontra, na nova lei brasi-
rente, que sustenta ser a limitada um tipo peculiar de sociedade; de leira, seu fundamento legal, e ndo discriminatério: a integracio da em-
vendo reger-se por normas préprias (cf. EGBERTO LACERDA TEI “presa com os interesses da comunidade e o respeito aoc bem ptiblico e
XEIRA, Das Sociedades por Cotas de Responsabilidade Limitada ‘a0s interesses da economia nacional passaram a fazer parte dos deve-
1956), a serem futuramente editadas. ires e responsabilidades dos que exercem o poder empresarial, sejam
Ora, quer nos coloquemos no primeiro ou no segundo ponto: de eles administradores ou controladores, brasileiros ou estrangeiros, de
vista — e este nfo é o momento para discuti-los — ¢ inegdvel g mpresas nacionais ou multinacionais.
disciplina e o comportamento do controlador nas sociedades de res Sem pretender disciplinar o problema do capital estrangeiro no
ponsabilidade limitada deveria obedecer is mesmas normas do con ‘pais — de todo estranho aos objetivos de uma lei de S/A — nido se
trolador das andnimas, invocando-se a nova lei como subsididria d furtou ela, no entanto, a enfrentar o problema que lhe dizia respeito
contrato (1® corrente) ou de toda a disciplina das sociedades por cota -— a disciplina do poder empresarial das empresas multinacionais. E
(22 corrente). .procurou fazé-lo da forma que julgou mais eficiente, assumindo o ris-
Quanto i posi¢io de EGBERTO LACERDA TEIXEIRA, estd ex -co do pioneirismo e abrindo um caminho de cujo acerto falario os fru-
pressa em artigo publicado na Revista de Direito Mercantil (n® 23 tos que a aplicacdo da lei vier a produzir.
ano XV, Sio Paulo, pig. 157), no sentido de que as exigéncias relati
vas ao acionista controlador niao se justificariam no caso das socieda
des limitadas, face ao direito vigente. :

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