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À PROCURA DA ESSÊNCIA
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:e•i'.:>zc ,w ~
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de dl.rioi-la
o
com mu ito conhecimento
. . .
de causa , e~perL-°'Z" , -
._, ... , ast ucia . ou::.a-
<lia etc., para qu~ _e la seJa vitoriosa na luta competitiva e dê lucro
muito lucro . o max1mo de, lucro . Mas isso não muda O fato de que n~
~mpresa todo o poder ~sta concentrado num único centro diretivo, 0
qual subordina a seu fim - a lucratividade - a ação de todos 0 ~
demais que trabalham nela .
É difícil imaginar uma instituição mais autoritári a do que a em-
presa capitalista . E~a ~ propriedade privada , mesmo quando O titular
é uma entidade publica , como por exemplo , um governo naci onal
estadual ou municipal. O poder do dono , ou dos que legalmente ~
representam , é sem limites em relação aos demais "colaboradores",
que se encontram na empresa meramente como vendedores de sua
forca de trabalho . O empregado tem diversos direitos em relacão à
empresa - limitação do horário de trabalho , remuneração mí~ima,
salubridade nas condições de trabalho etc. - menos o de decidir au-
tonomamente o que fazer dentro dela . Em seu trabalho é obrigado a
obedecer às ordens da direção , dos possuidores do capital. insubordi-
nação é justa causa para a rescisão do contrato de trabalho , isto é,
para a expulsão do "colaborador" da empresa.
Este autoritarismo é tão essencial à empresa capitalista que é
tomado como natural. O trabalhador , em geral , não aspira ao poder
de decidir sua atividade , pois nunca dispõe das informações necessárias
para tanto. A direção monopoliza estas informações e, portanto, a apti-
dão para tomar decisões . Por isso se diz que o trabalho sob o capital
é "alienado ", isto é, é cedido em troca de um salário a um ·'outro " ,
o qual é o único que conhece o propósito específico de cada atividade ,
podendo determinar seu caráter, seu ritmo , sua forma .
Outra característica essencial do capital é que ele é plural. A
produção e a distribuição são organizadas em múltiplas unidades au-
tônomas, em perene competição pelos mercados . O empresário age
no mercado às cegas ; ele desconhece o que fazem os demais competi-
dores e o conjunto dos consumidores. Um adágio antigo diz que "o
segredo é a alma do negócio". Na luta competitiva, cada capitalista
procura ocultar dos demais os seus planos e intenções e, ao mesmo
tempo, procura descobrir o que os outros pretendem fazer . A prática
áa chamada espionagem industrial o atesta . Tudo isso dá à atividade
econômica, no capitalismo, um aspecto lúdico , lembrando o jogo da
cabra-cega. A especulação , ou seja, a adivinhação do futuro contami-
na, a partir do econômico, todo comportamento social. O candidato à
u_niversid ade especula o possível futuro de diversas carreiras profis-
~t~nais ; os noivos es peculam , no mercado imobiliário , onde e como
Vno morar ; os políticos especulam no mercado eleitoral: os fãs do
g
r
10
asto a mais em equipamento é mais do que compensador para 0
0
~t pela economia de salários, à medida que o novo processo
cap1 a1, .
~~)
'te obter maior vo 1ume de produtos por unidade de trabalho . .
Uma parte ~os_ trabalhadores torna-se r_edundante e, é forçada a se
ar ao exercito de desempregados, cuJa presença e uma caracterís-
5?:
tlC
essencial do mercado de trabalho capitalista.
f . d , . .
Seja por e eito o progresso tecmco , se1 a por outros motivos , a
oferta de força de trabalho tende a superar a demanda. O que faz
ue O estado normal do trabalhador seja o medo de ficar sem em-
:rego. ror isso el_e teme o progresso técnico , embora este o beneficie
1
enquanto consumidor.
Visto tudo isso , qual é a essência do capitalismo? É a corrida
generalizada atrás áo dinheir0, é a competição cega das empresas no
mercado, é a invenção de novos produtos , é a caça, pelos consumidores ,
do que "vai ser moda,,, é a incessante mudança de processos e o
sucateamento precoce de homens e máquinas . E é o trabalho alienado
de muitos , subordinado às ordens do capital agindo às cegas e que ,
ao agir assim , ora cria progresso, ora crise: ambos inadvertidamente .
Apesar de sua evidente irracionalidade enquanto sistema, o ca-
pitalismo tem sua lógica, que a nós caberá deslindar nos capítulos
que se seguem . Entre as c!J_ações típ_i~~s- ~_o -~apitali~_~o está -~-il~cia,
isto é: a coleção sistemática do conhecimento e sua comprovação me-
diante procedimentos aceitáveis por todos . E é a ciência, com sua dia-
lética de contínua renovação , em que verdades estabelecidas são
incessantemente abaladas por novos dados e desafiadas por novas teo-
rias, que nos permite distinguir a trama lógica que interliga os muitos
aspectos paradoxais que compõem o capitalismo .
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1
1. ECONOMIA l)I~: 1\'1l~J{C r\ll()
E Ci\PIT ALISMO
12
não encontrados localmente e a obJ.etos sof· t . , d .
is 1ca os, em geral impor-
tados. Nas choupanas dos caboclos e nas vi'la d • .
• d s o mtenor a presenca
da economia e mercado ainda era mai·s t · A ' . ,
res nta. economia de
mercado ocupava um espaço maior nas grand 'd d
, . . es c1 a es , mas, mesmo
ai , era comum
, que a ma1ona
. · has, cu 1t1·vasse
das famílias cri·asse gal m
árvores frut1feras e fabricasse , em casa , vest uano
, · , roupa de cama e
mesa , conservas etc .
A vida da: ?essoas dep~ndia apenas parcialmente do mercado;
seu consumo bas1co estava ligado à economia doméstica . Em conse-
qüênci~ , os padr~es d_e consumo eram bastante rígidos em quantidade
e guahdad~-l O dmheiro era im~ortante sobretudo para adquirir bens
de ostentaçao.tEle estava longe ainda de representar a riqueza em geral.
Para a grande massa do povo, as necessidades a serem satisfeitas
mediante o dinheiro eram limitadas e, por isso, a necessidade de di-
nheiro também o era. Para muitos , um trabalho remunerado ocasional
bastava. O tempo dedicado a ganhar dinheiro devia ser menor do
que o dedicado à produção para o autoconsumo e a atividades não-
econômicas de cunho religioso, recreativo etc.
A produção para o mercado era artesanal, realizada em unidades
pequenas, em geral por um número reduzido de pessoas, muitas vezes
ligadas por laços de parentesco. Os regimes de mercado eram muito
diversos, mas o mais comum era que, em cada cidade ou região, os
produtores do mesmo tipo de produto se organizassem em corporações
de ofício, para evitar concorrência mútua. A corporação limitava o
volume de produção, fixando o número de unidades de produção e
o número máximo de trabalhadores por unidade . A limitação da oferta
se destinava a sustentar um "preço justo" dos artigos, impedindo que
um excesso de oferta o aviltasse. A corporação justificava sua utilidade
para os consumidores, velando pela qualidade dos produtos. Sob este
pretexto proibia inovações técnicas , pois estas tendiam a favorecer
determinados mestres em detrimento dos demais . E pelo mesmo motivo
proibia o lançamento de novos produtos, cuja qualidade não era com-
parável aos demais.
/ A organização corporativa era avessa a mudanças, valorizava a
tradição e a defesa das vantagens adquiridas no passado.k .
Esta economia de mercado, característica da Idade Média, mas
que sobrevive nas regiões intocadas pelo c_apitali~mo até o presente,
apresenta um dinamismo muito limitado . E possIVel demonstrar que
ela também sofre transformações , geralmente por efeito de catástr~fes
- guerras externas ou intestinas, secas , terremotos, enchentes, _ep1~e-
mi as - , mas seu potencial intrínseco de mudança é extraordmana-
mente pequeno.
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O capitalismo manufature iro
. . e' uma economia de mercado também ma
o capita 1ismo ~ ' s de
índole completamente diferente.' Ele surge, no seculo XVI ' como fruto
- do mercado mundial resultante das Grandes Navegaço~
da formaçao . _' ,. . es.
Estas estabeleceram a interhga7ª? ~antima de todos os continentes e
elevaram O comércio a longa distancia a um novo patamar. Acima dos
mercados locais e regionais segmentados, surge um mercado mundial
para produtos de grande d~nsidade de v~lor, como o ouro e a prata,
a pimenta e O açúcar , tecidos de ~lgodao e~ s_eda, tabaco , perfumes,
pérolas etc . O grande capital comercial e ~suran~ s~ la~ça na expansão
deste mercado mundial , levando de roldao as hmitaçoes corporativas
preexistentes . O capital, que até então se limitava à circulação de
mercadorias e valores , penetra na produção, tornando-se manufatureiro.
Surgem , na Europa , empresários capitalistas que empregam grande
número de artesãos e produzem em massa para mercados que crescem
sobretudo pela destruição de barreiras que separavam os mercados
locais e regionais .
É claro que o desenvolvimento da navegação marítima e, por
conseqüência , da navegação fluvial , lacustre e de canais construídos
pelo homem foi condição necessária para esta unificação de mercados,
que constituiu a base do capitalismo manufatureiro . Mas esta condição
não era suficiente . O capital manufatureiro necessitava não só do
acesso físico aos mercados mas também do acesso econômico, ou seja,
da possibilidade de penetrar neles de fora para vender e comprar. E
este direito feria , obviamente , os interesses dos mestres e comerciantes
locais, protegidos pelas regulações corporativas . O período de desen-
volvimento do capitalismo manufatureiro , do século XVI ao século
XV 11 I , assiste ao embate entre o capital manufature iro (apoiado, em
vários países, pelas monarquias absolutas) e as corporações, muitas
vezes aliadas à nobreza local. Deste embate surgem as nações moder-
nas, politicamente dominadas pelo poder nacional e economicamente
un ificada s pela abolição das barreiras ao comércio interno e pela
abolição das moedas e medidas locais . Os símbolos da nação mo-
derna são, ao lado da bandeira nacional, a moeda nacional de curso
fo rçado e um sistema único de pesos e medidas , que atualmente tende
ª ser O sistema métri co decimal.
No Brasil , a luta pela unificação dos mercados foi levada a cabo
pe la metrópole port uguesa nos limi tes do Pacto Colonial , que propu-
nha O monopólio me tropolitano do comércio com a colônia. Um cpi-
~ódi o dc~ta luta foi a proibição da ma nufatu ra de pano~ , no Brasi l,
em 178'5 · A m"d1·d·
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O capitalismo manufatureiro
o capitalismo é uma economia de mercado tambén, r.1 41 '-t.
mdole completamente diferente . Ele surge . no século X\'1 . come fn_ t...
da formação do mercado mundial , resultante das Grandes \;avegaçC,e~
Estas estabeleceram a interligação marítima de todos os contineme 5 1:
elevaram o comércio 8 longa distância a um novo patamJ r. Acima dos
mercados locais e regionais segmentados , surge um mercado mundiai
para produtos de grande densidade de valor , como o ouro e a prata
a pimenta e o açúcar , tecidos de algodão e seda, tabaco, perfume~
pérolas etc . O grande capital comercial e usurário se lança na expansã(i
deste mercado mundial. levando de roldão as limitações corporati, a~
preexistentes . O capital, que até então se limitava à circulação de
mercadorias e valores . penetra na produção , tornando-se manu/atureirc,
Surgem , na Europa , empresários capitalistas que empregam grande
número de artesãos e produzem em massa para mercados que crescerr.
sobretudo pela destruição de barreiras que separavam os mercado5
locais e regionais .
É claro que o desenvolvimento da navegação marítima e. por
conseqüência , da navegação fluvial , lacustre e de canais construídos
pelo homem foi condição necessária para esta unificação de mercados.
que constituiu a base do capitalismo manufatureiro . Mas esta condição
não era suficiente . O capital manufatureiro necessitava não só do
acesso físico a::ls mercados mas também do acesso econômico, ou seja,
da possibilidade de penetrar neles de fora para vender e comprar. E
este direito feria , obviamente . os interesses dos mestres e comerciante~
locais , protegidos pelas regulações corporativas . O período de desen-
volvimento do capitalismo manufatureiro . do século XVI ao século
XVII l , assiste ao embate entre o capital manufatureiro (apoiado. em
vários países , pelas monarquias absolutas) e as corporações, muitas
vezes aliadas à nobreza local. Deste embate surgem as nações moder-
nas , politicamente dominadas pelo poder nacional e economicamente
unificadas pela abolição das barreiras ao comércio interno e pela
abolição das moedas e medidas locais . Os símbolos da nação mc-
derna são , ao lado da bandeira nacional , a moeda nacional de (Ur-5°
forçado e um sistema único de pesos e medidas , que atualmente ~endc
a ser o sistema métrico decimal .
No Brasil, a luta pela unificação dos mercados foi le vada a ~abc
pela metrópole portuguesa nos limites do Pacto Colonial. que propu-
nha o monopólio metropolitano do comércio com a colónia . Lm epi-
sódio desta luta foi a proibição da manufatura de panos . no Bra5 il.
em 178J . A medida se destinava a favorecer a importação d~ te( id~~
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britânicos por ca~i!ai_s comer~iais portugueses. Deste modo, 0 capital
manufatureiro bntam_co, me?rnnte os bons ofícios da diplomacia de
Sua Majestade, que tmha feito com Portugal O Tratado de Methuen
ampliava o seu merc~do mu~~ia_I. Por este Tratado, o mercado portu~
guês se abria aos . tecidos br~tanicos, e o da Grã-Bretanha aos vinhos
portugueses . Obviamente, nao bastava ao capital manufatureiro bri-
tânico ter acesso .ao mercado brasileiro. Precisava dominá-lo e para
tanto não se hesitava em usar o poder do Estado para eliminar a
concorrência da manufatura local.
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O ca pitali smo rnunufalun: iru fui ci.Jpé.!L . lk. ~xpl urn , l:lli l 1,. f [1J
mcJid a, a possi bilidade de aum ~nlar a produtr vr<ladc medra nte i.1 rru
ct ução em grande esca la. Reunindo numerosos traba lh<1d ure~ sub
mes mo teto, o capitalista manufatureiro pôde cri élr uma J 1v1 ;10 1,'Lli
nica de trnbalho dentro da manufatura , o que lhe permit iu alCí:in~~,
maior produtividade do trabalho . Em lugar de Célda trabal hc1dur rea.
lizar todas as operações. cada operação passava a se r tarda de um
grupo específico de trabalhadores.
Esta nova divi são do trabal bo proporcionava três forma s dç ,rn-
mento da produtividade :
a) poupava o tempo que o operador perde quando passa du ma
tarefa a outra ;
b) aumentava a destreza do operador, que passava a se especia-
lizar num único tipo de trabalho ;
c) ensejava a invenção de ferramentas especialmente adaptadas a
cada tipo de trabalho .
A manufatura capitalista conseguiu, deste modo , reduzir os custos
de produção, barateando seus artigos , que começaram a se tornar
competitivos com a produção doméstica .
A econom ia de mercado , ao se tornar capitalista, começou a se
ex pandir pela incorporação de atividades até então integradas à eco-
nomia de subsistência . É o que acontece , na Jnglaterra, com a agri·
cultura , que se torna , ao mesmo tempo , mercantil e capitalista. Uma
grande parte dos trabalhadores é expulsa da terra e, na medida em
que consegue al ienar sua fo rça de trabalho ao capital manufatureiro,
passa a adqu iri r sua com ida no mercado . Surge assim um mercado de
bens para assal arié.ldos como corolário do surgimento de uma clasSE
de proletários puros , to talmente dependentes do mercado para sua
subsistência .
O capitalismo industrial
. ·
A d mam1zação da econom ia de mercado pelo capitali smo ga nha
_
im pulso enorme com a Revolucão ,
Industrial ' que tem início na Gra·
. 1
Bn:tanha . no último quartel do século XVIJI. Ela consiste essencia ·
mente na mvenção de máqu inas capazes de real izar tarefas que antes
requenam a mao - 1 h - ,
üO ornem . Na man ufatu ra , a operaçao e rea
Jizada
pelo traba lhador com o auxílio da ferrame nta . Na maquinof atu ra , ª
ferram enta é engastad a numa máquina , que substitu i o tra balhado_r
na realização da tarefa . O trabalhador em vez de produzir passa íl
, · 'qu ina e
)er neces~ano apena~ para regular . carregar e acionar a ma . _
depo is parn de~ lig á-la. descarregá -la e pô-la novamente em conJiçoes
ló
de funciona r. De pr~clulor , u operário é litera lmente reduZJ do a se r-
vente de um mecarn_smu , com cu 1a Íúr~a regulari dc:1de e \ eluLidadc
t:le não pode competir.
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l 829 - · A Rocket, de George Stephenson, demons-
trava a praticabilidade da locomotiva movida a va-
por.
18
a intervenção do Est::1do no mcrcadCJ , mc~rnú qUt M:ja tm !>eu fa vvr.
Sua superioridade produtiva dá-lhe confüm~á de poder vtnct:r a c0m-
etição, sem precisar da proteção e!!ttatc1I .
p o liberalismo económico é pétrte de umc2 doutrmci maror, c.:om
desdobramento no nível político. Ele propugna a liberdade do indiví-
duo, enquanto cidadão, produtor í! conwmidor. A famO!,él palavra de
ordem fi siocrata " laü,sez faíre, labbtZ pa~~cr' (deíxãÍ fazer, deixai
passar) proclama o direito de cada um produzir o que deseja e de
comprar e vender em qualquer mercado. fa,te direito, no plano eco-
nômico, se conjuga com o direito de livre expre:,são do pensamento,
de reunião e manifestação e de participação (mediante o voto) m1
escolha dos governantes. Esteb direitos implicam o controle do governo
pelos cidadãos ou ~eus represen tantes eleitos, cumprindo notar que o
direito de votar e ser votado estavé1 restrito aos indivíduos detentores
de um mínimo de propriedade ou renda. Não se supunha que a cida-
dania se estendesse aos pobres.
O liberalismo é o estandarte sob o qual a burguesia luta e con-
quista a hegemonia econômica e política. Na época do capitalismo
manufatureiro, a classe capitalista procura um lugar ao sol sob a tutela
do Estado monárquico, que ela não pode encarar como seu. A luta
.principal se trava entre a realeza e a nobreza, a primeira procurando
centralizar o poder e eliminar os particularismos locais. Nesta luta, a
burguesia usurária, comercial e manufatureira não passa de aliada da
monarquia, de cujos propósitos unificadores se aproveita para se ex-
pandir. Com o triunfo do absolutismo e a constituição dos grandes
impérios coloniais, a relação de forças muda . A burguesia, agora
industrial , se torna imensamente rica e passa a enxergar no Estado
absolutista um rival na disputa pelo excedente. Já no fim do século
XVIII , Adam Smith , o grande clássico do liberalismo, deblatera contra
o parasitismo do aparelho de Estado , contra os elevados gastos mili-
tares e contra a interferéncia reguladora do governo no funcionamento
do mercado. A burguesia quer agora um Estado " seu", sóbrio nos
gastos, avesso às aventuras guerreiras e neutro em relação à disputa
pelos mercados.
O fim do século XVI 11 é marcado pela Revolução Industrial na
Inglaterra e pela Revolução Francesa. Ambas abrem caminho ao triun-
fo do li bera lismo, no século seguinte, primeiro, a seguir, na Europa
Ocidental e nos Estados Unidos ; na Rússia , no Japão e em diversos
países da América Latina.
No Brasi l, o libera li ~mo tem seu pri meiro êxito em 1808, quando
D. loão Vf decreta él abertura dos portos brasileiros às " nações ami-
gas '. Com a Independéncia , cm 1822, o Brasí I se torna uma monarquia
constitucional. nos moldes do parlamentarismo bnt úni1.:u. J\hi :i a l:'>
tura sócio-econômica do país era complet amente difl:n.:n k L., _tr<l\;
l )d ~t:d d
ainda no escravismo colonial .
Durante o século XlX o liberalismo serviu , no Brasil, pura con
ciliar a unidade nacional. representadG1 pelo governo imperial no Riu
de Ja neiro , com a domin a<;ão loca l da oli garquia t.: ~cra vocrata. o
verdadeiro liberalismo em representado pelos abolicionista s, cuja vitó-
ria final, em 1888. criou fina lmente no Brasil condições para a im-
plantação e expansão do capitalismo indu strial.
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,.\ 111at11tf J tur.1 d e 111á4u111:1:- JL, mutmn J \ljptH c mdt :- 1Jrdc:.
lk 111 1h.pti11n~ l'k tri r:1:-, l t'1·1wu o L"llnhrcimentu ~\alL, dcJ:- propnedadc=:-
d:t 111 :.it éri:i 11\!l'L':-~:iri o ao pru~n.•::,::,u ::,üc1:.1l ( ) ThL,m::,on ~ :--ct. am1gL'
l :iit ytH: lura nom l'adu pwk:-::-. ur de filo~u l 1:.i nJtu, ai t'm l::..d1m hur~o
dl'c idir:1111 L'!'IC l\'. \ l'r um / mtuJo J<· l 1'mofw f\laruru l en-: --1uc t.'.\pun h..im
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Fk~ cxpu~L'ram .t ci0m:ia cL.1 mL'dnicJ mco1bc1cn1emcntc jc pünt u dt.'
visw de um L'l1~L'nhl'iro idl'al 4ul' fu::,::-.e um mes tre dl' fi s11.::.i m3tt.'.m Jtl·
c:J . ( ) Thom!'lon L' Tuit re.:1li zaram . p:ira os lidere::- culto~ da burFUc-
:-iia industrial , . 1 conquist..1 L' u ..l!'l~tmilacão d..i l.'.ultura f1 ~1 co-mJ1emJt1C .1
tfo classe men.:;.intilist~ . A influ~ncia do result 3do destJ lurn de cL1ssc-::
numé:I da:-i regiões mais elevadas do empenho humano fez-~t.'. sentir t'm
nível inferior . nu en:-iino da m.:itemática dementar o~ J 1::,1.:1pulo~ de
Thomson. Ayrton e Perry . lideraram o movimento pe lo en~ml' d~
'matemática prática' . Eles explicaram que a nm a classe de técnico~
criada pela indústria mecânica . quena um conhecimento mJternaticL'
que fo~se de utilid ade prática em suas tarefa::i _· • (Cro,, ther Br111~h
scientists of the 11i11etee11th centur>·, citado em Hogben . 1940. p. 729 )
O extraordin ário desenvolvimento das forças produtivas alcançJdo
pelo capitalismo industrial resulta rnnto do fomento da atividade cien-
tífica como da estreita interligação dos laboratórios com as fábricas .
c:~tas recebendo , com rapidez, os resultados das pesquisas e os apl ican-
do à produção e enviando dt: volta com igual rapidez os novos pro-
blemas ~uscitados pelo avanço técnico . É o que explica o continuo
crescimento da produtividade e o conseqüente barateamento das mer-
cadorias produzidas pelo capital industrial. Bem ao contrário da eco-
nomia de mercadori a anterior , em que os preços eram mantidos
deliberadamente constantes , a capitalista fomenta a sistemática redução
de custos e de preços. Nestas condições , a produção não-capitali::ita de
mercadorias, operada em pequenas unidades de caráter familiar , difi -
ci lmente poderia resistir ao avanço da produção capitalista. A partir
Ja Revolução Industrial , a indústria de transformação . o transporte de
pas~ageiros e de carga e as comunicações se tornaram capitalistas nos
vário~ países que se industrializaram. Na agricultura , o capital se apo-
Jc:rou du maior parte das plantações e da criação em grande escala
No comércio acon teceu o mesmo com o atacado e o varejo operado cm
grande::i unidades, como os ~upermercados e as lojas de dcpanamen to::i .
1-. 110~ ~crviçu~. o capiw l exp lora cadeias de hotéis. de lanchonete~
(lucéli~ ern que ~e ~e rvl'm refeiçõe~ li)!eira:-i) nkm de hospitai~ e clí mca~
C'-lcula~ em tuJo~ u~ nívei ~ sem fal;,r da rede cada vez mai ~ e\. ten s.:1 e
d1 vL:r\ r/1 c;HJa ck 111krn1edí,11,.: élo lm am:eira (h,ncu~ . financeira~ . :;egura-
dci1 ,1~ l' IC ), q11c dL':,,d( :-iempn.: ti ve rum car5te,· capitalis ta
21
No fim do século passado, muitos ~bservador~s estavam LUnvtLlu~
ão simples de mercadona~ estava Iadada a desa pare
de que a pro duç d . 'd• d .. Ler
.. e~ncia dos ganhos de pro ut1v1 a e, que a util izaçau .1.
em conseq U . , . .. ua
., • proporcionava ao capital. Um seculo depois , ven f1c:.i-se que em
c1encrn . . 'd d
diversos ramos da produção mercant1 1, a superton a e tecnológica dü
capital em face da produçã~ familiar é peq uena_ou ~ es~o ine~istente.
Nestes ramos, a produção simples de mercadori as nao so persiste ma~
inclusive se desenvolve. t o que ocorre na maior parte da agricultura ,
em que a combinação de plantio com a criação de pequenos animais
não permite a mecanização de toda a atividade nem a rotinização da
maioria das tarefas. Nestas circunstâncias, o trabalho do produtor
autônomo tende a ser tão ou mais produtivo que o do assalariado.
Outros casos são os serviços de reparação, o comércio varejista em
pequena escala (particularmente de artigos caros : joalharias, butiques),
certos serviços pessoais (tinturarias, cabeleireiros, salões de beleza) , o
transporte por caminhão etc. Apesar de a produção simples de merca-
dorias mostrar capacidade de resistir à concorrência do capital em
determinados ramos , é inegável que este domina a maior parte da
economia de mercado .
A hegemonia do capital é conseqüência da livre concorrência, que
est á longe de ser uma condicão natural do mercado. A livre concor-
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