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INTRODUÇÃO:

À PROCURA DA ESSÊNCIA

- é bom começar uma exposição por meio de definições , pois


Nª0
como diz a pa1avra - de1·imitam· o f enomeno
" em relação a
· " . O en ten d.1men to da det·m1çao
estas - fenômenos " afms · - do capitalismo
· ·
outros " · em que os me10s
" . tema sócio-econom1co · de pro dução são pro-
- SlS } . } . _

r . d de privada duma casse socia em contrapos1çao a outra classe


1
:r:balhadores não-proprietários " - pressupõe uma série de conhe-
~ entos que este escrito tem como propósito oferecer. Discutir os
~:tornos do capitalismo antes de expor seu conteúdo seria não só
dificultar a compreensão, mas propor como postulado o que deve ser
obtido naturalmente como conclusão lógica .
Voltemo-nos, pois, para o que caracteriza o capitalismo, a partir
da acepção mais comum do vocábulo.
Quando se fala de "capitalismo", pensa-se em capital e sobretudo
em capitalista, sujeito rico, poderoso, em geral dono ou dirigente de
empresa industrial, comercial ou banco. Mas "capitalismo" sugere tam-
bém enorme variedade de produtos que são estridentemente propagan-
deados pelos meios de comunicação de massa. Os símbolos atuais deste
aspecto do capitalismo talvez sejam o automóvel e principalmente a
televisão, que é meio de consumo e veículo de publicidade ao mes-
mo tempo.
Finalmente, "capitalismo" lembra também especulação, o jogo do
dinheiro de que todos participam : seja o play-boy que aplica na bolsa
de valores, seja a dona-de-casa que armazena mercadorias vendidas em
liquidação. Deste ponto de vista , o capitalismo se assemelha a um
gigantesco cassino, em que pobres sonham com riqueza súbita , jogando
no bicho ou na Joto , ao passo que ricos acumulam afanosamente signos
de valor (moedas, saldos bancários , títulos de dívida) à procura de
uma segurança que jamais encontram .
Dentro dessas características do capitalismo, evidentes mas su-
per!ici_ai s, encontramos algu ns fios que poderão nos conduzir à sua
essenc,a. Um deles é a concorrência pelo dinheiro visto como repre-
~entan te da riqueza . Todos querem dinheiro porque com ele tudo pode

7
:e•i'.:>zc ,w ~

ser comprado - .todas as coisas _ ,


desejávei s . estão à venda , "ª-
., 0 mer-
cadoriús . lsso obviamente nao e verdade estrita . Amor , fidelidade a·
de espírito ou um bom prato de comida caseira ainda pode~ Ps z
encontrados no intercâmbio interpessoal , ou seja , no inter-rel acion:.
mento espontâneo das pessoas , sem pagamento "em espécie", isto é,
sem a moeda legal do país . Mas existe no capitalismo a tendência de
transformar tudo o que é desejável em objeto de comércio . Amor
mesmo não pode ser comprado, mas sexo pode , e sucedâneos, sob a
forma de cachorrinhos ou bichanos , também .
Uma das características do capitalismo é o "capital", valores à
procura de inversão lucrativa, inversão esta que pressupõe um "mer-
cado ", uma demanda solvável , uma necessidade virtual ou real que
pode ser explorada mercantilmente .
Outra forma de encarar esta faceta do capitalismo é constatar '
que a concorrência pelo dinheiro , que é uníversal , é conduzida pebs
que já têm dinheiro , ou seja , pelos donos do capital organizado em
empresas . Os demais apostam numa ou noutra empresa competidora,
investindo seu dinheiro nela, ou depositando-o num intermediário fi -
nanceiro (geralmente num banco) que faz a aposta por nós. As em·
presas competem entre si pelo " mercado", tanto por mercados já
existentes corno por mercados por desenvolver . Outro dia, a imprensa
noticiou a existência de uma empresa que vende trabalhos escolares,
inclusive teses de mestrado . Há empresas que ajudam clientes a esco-
lher futuros cônjuges , outras alugam acompanhantes a festas . Os ex~m-
plos mais bizarros ilustram a tendência , no capitalismo, de generalizar
a "economia de mercado", o que dá sentido à competição universal
pelo dinheiro , que aparece sempre mais como meio de obter tudo o
que se pode desejar .
O que move o capitalismo é o capital constituído em empresa.
Esta pode ser grande ou pequena , nacional ou multinacional , privada ,
pública ou mista . O que a caracteriza acima de tudo é a unidade de
propósito : o lucro. O capital é valor que se valoriza , valor que engen·
dra mais valor. A empresa se apresenta como entidade a serviço dos
seus consumidores e dos seus empregados (chamados de ·'colabora~o-
res ''). Mas esta aparênci a é enganadora . A empresa capitalista eStª ª
serviço apenas dos seus possuidores , isto é, dos que nela mandam .
É verdade que o capitalista tira a sua razão de ser soci al da ~rn-
53
presa . e neste sentido está a seu serviço . Já se disse que "o capitah l
é o funcion~rio do capita\ " , pensado este como relação so_cial._
dúvi da isto e correto , mas deve ser entendido como subordmaçao .
se:
capitalista à lógica do capital como um todo , do capital social. O caP;
talísta não pode fazer com a empresa o que lhe dá na telha , mas te

8
de dl.rioi-la
o
com mu ito conhecimento
. . .
de causa , e~perL-°'Z" , -
._, ... , ast ucia . ou::.a-
<lia etc., para qu~ _e la seJa vitoriosa na luta competitiva e dê lucro
muito lucro . o max1mo de, lucro . Mas isso não muda O fato de que n~
~mpresa todo o poder ~sta concentrado num único centro diretivo, 0
qual subordina a seu fim - a lucratividade - a ação de todos 0 ~
demais que trabalham nela .
É difícil imaginar uma instituição mais autoritári a do que a em-
presa capitalista . E~a ~ propriedade privada , mesmo quando O titular
é uma entidade publica , como por exemplo , um governo naci onal
estadual ou municipal. O poder do dono , ou dos que legalmente ~
representam , é sem limites em relação aos demais "colaboradores",
que se encontram na empresa meramente como vendedores de sua
forca de trabalho . O empregado tem diversos direitos em relacão à
empresa - limitação do horário de trabalho , remuneração mí~ima,
salubridade nas condições de trabalho etc. - menos o de decidir au-
tonomamente o que fazer dentro dela . Em seu trabalho é obrigado a
obedecer às ordens da direção , dos possuidores do capital. insubordi-
nação é justa causa para a rescisão do contrato de trabalho , isto é,
para a expulsão do "colaborador" da empresa.
Este autoritarismo é tão essencial à empresa capitalista que é
tomado como natural. O trabalhador , em geral , não aspira ao poder
de decidir sua atividade , pois nunca dispõe das informações necessárias
para tanto. A direção monopoliza estas informações e, portanto, a apti-
dão para tomar decisões . Por isso se diz que o trabalho sob o capital
é "alienado ", isto é, é cedido em troca de um salário a um ·'outro " ,
o qual é o único que conhece o propósito específico de cada atividade ,
podendo determinar seu caráter, seu ritmo , sua forma .
Outra característica essencial do capital é que ele é plural. A
produção e a distribuição são organizadas em múltiplas unidades au-
tônomas, em perene competição pelos mercados . O empresário age
no mercado às cegas ; ele desconhece o que fazem os demais competi-
dores e o conjunto dos consumidores. Um adágio antigo diz que "o
segredo é a alma do negócio". Na luta competitiva, cada capitalista
procura ocultar dos demais os seus planos e intenções e, ao mesmo
tempo, procura descobrir o que os outros pretendem fazer . A prática
áa chamada espionagem industrial o atesta . Tudo isso dá à atividade
econômica, no capitalismo, um aspecto lúdico , lembrando o jogo da
cabra-cega. A especulação , ou seja, a adivinhação do futuro contami-
na, a partir do econômico, todo comportamento social. O candidato à
u_niversid ade especula o possível futuro de diversas carreiras profis-
~t~nais ; os noivos es peculam , no mercado imobiliário , onde e como
Vno morar ; os políticos especulam no mercado eleitoral: os fãs do

g
r

futebol especulam os resultados da rodada jogando na loteria es .


. . I ,., b' porti.
va ; os viaJantes especu am o cam 10 etc .
O que caracteriza, portanto, a conduta do capital individual é O1
risco em face da incerteza. No fundo , ignorando totalmente O que
precisaria saber, isto é, quanto o mercado está disposto a comprar e
quanto os competidores se dispõem a vender, cada agente projeta o1
futuro com base na experiência do passado. Age como se "o que foi
sempre será ", o que dá ao capital um viés conservador. Mas sendo
esta a regra geral, fugir dela , inovar, arriscar pode ser altamente
lucrativo . Isso acontece porque cada mercado "certo " é constantemen-
te invadido por novos competidores, tend~ndo assim à saturação e
comprimindo o lucro de todos. O capital que foge à rotina, inventando
um novo produto ou dando a um produto velho nova aparência, nova
utilidade (às vezes ilusória) ou nova "identidade", pode alcançar lu·
0
cros muito acima da média. Ou pode fracassar, perden~o to~o
investimento. Disso o capitalismo extrai o seu inegável dmamismo
' · 1' assume '
sua capacidade de se transformar. O progresso no capita ismo d 0
a forma da incessante busca do novo, do que vai icar n
. f' a .mo a·
. . d ça se torna 1
que implica perene renovacão cultural , em que a mu an , ue
O
um valor em si , que ofusc~ os demais valores. Ser moderno e q 1
importa . d 0 que
Os consumidores também competem entre si, esp · ecu1an °
vão usar. Ou o que vão ouvir, ]er, assistir, beber _etc. d eios de
A tendência a inovar atinge também os fabncantes e rn etição
- , · · , · ri·mas A comp
pro duçao : maqumas , equipamentos, matenas-p · ão visando
nestes mercados enseja a mudança dos processos de produç 'duçáo e
aumentar a produtivi dade e assim reduzir os cu sto s de pro lucros.
. 'bu1.cão. Esta é a outra importante maneira
d1stn . de aumentar os para
, . d s custos.
Cada capital lucra tanto mais quanto mais re uz seu rocessos
obter custos menores , o capital revoluciona regularmente os pmáquina
produ tivos : su bstituiu a ferramenta pela máquina a vapor, ª elo aço,
f
a va por pela máq uina elétrica, a madeira pelo ferro , 0 e~ro p or .pro-
, .
u aço por p last1cos . . . dipvidua1s
e 1·1gas meta'] 1'cas, os process os mecamcos .
cessas automáticos etc . A competição impõe aos capitais ind ão de
as mu danças dos processos · as empresas que se atrasa
m na a oç rgef11
. ' • a ma
processos mais aperfeiçoados vêem su bitamente estre ttar desce
de lucro, a ponto de se tornar margem de prej uízo. Para escapar uitaS
pengo , os cap1ta1s · · se lançam a invest imentos pesa dos, aJienando rn reço
, · por P
ve zes st!u equipamento anterior ainda em bom es tado f isico ,
'
de sucata . . Jisrnº
, · r ·
Um coro 1ano requente da s revoluções pro utivas d · no capita
_ d .0 btíi •
,e o sucareamen
· - , d
to nao so o maquinário mas tam em b , da mao- e

10
asto a mais em equipamento é mais do que compensador para 0
0
~t pela economia de salários, à medida que o novo processo
cap1 a1, .
~~)
'te obter maior vo 1ume de produtos por unidade de trabalho . .
Uma parte ~os_ trabalhadores torna-se r_edundante e, é forçada a se
ar ao exercito de desempregados, cuJa presença e uma caracterís-
5?:
tlC
essencial do mercado de trabalho capitalista.
f . d , . .
Seja por e eito o progresso tecmco , se1 a por outros motivos , a
oferta de força de trabalho tende a superar a demanda. O que faz
ue O estado normal do trabalhador seja o medo de ficar sem em-
:rego. ror isso el_e teme o progresso técnico , embora este o beneficie
1
enquanto consumidor.
Visto tudo isso , qual é a essência do capitalismo? É a corrida
generalizada atrás áo dinheir0, é a competição cega das empresas no
mercado, é a invenção de novos produtos , é a caça, pelos consumidores ,
do que "vai ser moda,,, é a incessante mudança de processos e o
sucateamento precoce de homens e máquinas . E é o trabalho alienado
de muitos , subordinado às ordens do capital agindo às cegas e que ,
ao agir assim , ora cria progresso, ora crise: ambos inadvertidamente .
Apesar de sua evidente irracionalidade enquanto sistema, o ca-
pitalismo tem sua lógica, que a nós caberá deslindar nos capítulos
que se seguem . Entre as c!J_ações típ_i~~s- ~_o -~apitali~_~o está -~-il~cia,
isto é: a coleção sistemática do conhecimento e sua comprovação me-
diante procedimentos aceitáveis por todos . E é a ciência, com sua dia-
lética de contínua renovação , em que verdades estabelecidas são
incessantemente abaladas por novos dados e desafiadas por novas teo-
rias, que nos permite distinguir a trama lógica que interliga os muitos
aspectos paradoxais que compõem o capitalismo .

11
1
1. ECONOMIA l)I~: 1\'1l~J{C r\ll()
E Ci\PIT ALISMO

A economia de mercado anterior ao capitalismo

A economia de mercado é muito antiga . Desde os pródro mo!> da


hi stória , diferentes sociedades organizaram sua vida econômi ca ~ob a
forma de produção especializada de bens que eram intercambi ados em
feiras sazonais ou mercados permanentes . Nas forma ções soc iai~ an-
teriores ao capitalismo , a economia de mercado soía coe xistir com uma
economia de subsistência mais ou menos ex ten sa. Alguns ben s eram
produzidos como mercadorias, e muitos outros eram produzidos como
valores de uso , para o consum o dos próprios produtores ou de outro~
membros de seu círculo domés ti co .
O camponês medi eval , por exe mplo. produzia sua alimentação,
manufaturava seus instrumentos de traba lho. co nstruía sua casa , está·
bulo , celeiro etc . Não poucas vezes produ zia fibra s vegetais e animais,
que fiava e tecia , fabric ando ves tu ário , roupa de cama , sacaria etc.
Os nobres, naturalmente , não fa ziam nada di sso, mas tinham , em seu~
domínios, servos que lhes forn eciam diretamente, sem contrapartida.
is to é, como valores de uso, alimentos e muitos objetos . A produção
mercantil soía concentrar-se em objetos de lu xo (jóias , armas, carrua·
ge ns, arreios, vestuário de luxo etc .) para O consumo , sobretudo . da
minoria privilegiada .

No Bras i_l, e_conom!a de mercado se ach ava si ti ada por amp ~o
1
!)etor de subs1stenc1a pra ticamente até o começo do atual século. Na
fa ze nda disti nguia-se a produção para o mercado (o cultivo de cnf~.
cacau , cana , algodão ou a criação de gado) da ampl a e L!ive rsificada
produção de subsis tência . Além de horta , pomar . plantacões J e ce rcai~.
criação de pequenos animai s, a fa zend a contava com oficin as em qu1.'
~e trabalha va madei ra, co uro, fi bras , metais , barro etc. o co nsumo
de mercadorias , na fazen da, era mui to limitado , reduzido a macc:: rioi~

12
não encontrados localmente e a obJ.etos sof· t . , d .
is 1ca os, em geral impor-
tados. Nas choupanas dos caboclos e nas vi'la d • .
• d s o mtenor a presenca
da economia e mercado ainda era mai·s t · A ' . ,
res nta. economia de
mercado ocupava um espaço maior nas grand 'd d
, . . es c1 a es , mas, mesmo
ai , era comum
, que a ma1ona
. · has, cu 1t1·vasse
das famílias cri·asse gal m
árvores frut1feras e fabricasse , em casa , vest uano
, · , roupa de cama e
mesa , conservas etc .
A vida da: ?essoas dep~ndia apenas parcialmente do mercado;
seu consumo bas1co estava ligado à economia doméstica . Em conse-
qüênci~ , os padr~es d_e consumo eram bastante rígidos em quantidade
e guahdad~-l O dmheiro era im~ortante sobretudo para adquirir bens
de ostentaçao.tEle estava longe ainda de representar a riqueza em geral.
Para a grande massa do povo, as necessidades a serem satisfeitas
mediante o dinheiro eram limitadas e, por isso, a necessidade de di-
nheiro também o era. Para muitos , um trabalho remunerado ocasional
bastava. O tempo dedicado a ganhar dinheiro devia ser menor do
que o dedicado à produção para o autoconsumo e a atividades não-
econômicas de cunho religioso, recreativo etc.
A produção para o mercado era artesanal, realizada em unidades
pequenas, em geral por um número reduzido de pessoas, muitas vezes
ligadas por laços de parentesco. Os regimes de mercado eram muito
diversos, mas o mais comum era que, em cada cidade ou região, os
produtores do mesmo tipo de produto se organizassem em corporações
de ofício, para evitar concorrência mútua. A corporação limitava o
volume de produção, fixando o número de unidades de produção e
o número máximo de trabalhadores por unidade . A limitação da oferta
se destinava a sustentar um "preço justo" dos artigos, impedindo que
um excesso de oferta o aviltasse. A corporação justificava sua utilidade
para os consumidores, velando pela qualidade dos produtos. Sob este
pretexto proibia inovações técnicas , pois estas tendiam a favorecer
determinados mestres em detrimento dos demais . E pelo mesmo motivo
proibia o lançamento de novos produtos, cuja qualidade não era com-
parável aos demais.
/ A organização corporativa era avessa a mudanças, valorizava a
tradição e a defesa das vantagens adquiridas no passado.k .
Esta economia de mercado, característica da Idade Média, mas
que sobrevive nas regiões intocadas pelo c_apitali~mo até o presente,
apresenta um dinamismo muito limitado . E possIVel demonstrar que
ela também sofre transformações , geralmente por efeito de catástr~fes
- guerras externas ou intestinas, secas , terremotos, enchentes, _ep1~e-
mi as - , mas seu potencial intrínseco de mudança é extraordmana-
mente pequeno.
13
O capitalismo manufature iro
. . e' uma economia de mercado também ma
o capita 1ismo ~ ' s de
índole completamente diferente.' Ele surge, no seculo XVI ' como fruto
- do mercado mundial resultante das Grandes Navegaço~
da formaçao . _' ,. . es.
Estas estabeleceram a interhga7ª? ~antima de todos os continentes e
elevaram O comércio a longa distancia a um novo patamar. Acima dos
mercados locais e regionais segmentados, surge um mercado mundial
para produtos de grande d~nsidade de v~lor, como o ouro e a prata,
a pimenta e O açúcar , tecidos de ~lgodao e~ s_eda, tabaco , perfumes,
pérolas etc . O grande capital comercial e ~suran~ s~ la~ça na expansão
deste mercado mundial , levando de roldao as hmitaçoes corporativas
preexistentes . O capital, que até então se limitava à circulação de
mercadorias e valores , penetra na produção, tornando-se manufatureiro.
Surgem , na Europa , empresários capitalistas que empregam grande
número de artesãos e produzem em massa para mercados que crescem
sobretudo pela destruição de barreiras que separavam os mercados
locais e regionais .
É claro que o desenvolvimento da navegação marítima e, por
conseqüência , da navegação fluvial , lacustre e de canais construídos
pelo homem foi condição necessária para esta unificação de mercados,
que constituiu a base do capitalismo manufatureiro . Mas esta condição
não era suficiente . O capital manufatureiro necessitava não só do
acesso físico aos mercados mas também do acesso econômico, ou seja,
da possibilidade de penetrar neles de fora para vender e comprar. E
este direito feria , obviamente , os interesses dos mestres e comerciantes
locais, protegidos pelas regulações corporativas . O período de desen-
volvimento do capitalismo manufatureiro , do século XVI ao século
XV 11 I , assiste ao embate entre o capital manufature iro (apoiado, em
vários países, pelas monarquias absolutas) e as corporações, muitas
vezes aliadas à nobreza local. Deste embate surgem as nações moder-
nas, politicamente dominadas pelo poder nacional e economicamente
un ificada s pela abolição das barreiras ao comércio interno e pela
abolição das moedas e medidas locais . Os símbolos da nação mo-
derna são, ao lado da bandeira nacional, a moeda nacional de curso
fo rçado e um sistema único de pesos e medidas , que atualmente tende
ª ser O sistema métri co decimal.
No Brasil , a luta pela unificação dos mercados foi levada a cabo
pe la metrópole port uguesa nos limi tes do Pacto Colonial , que propu-
nha O monopólio me tropolitano do comércio com a colônia. Um cpi-
~ódi o dc~ta luta foi a proibição da ma nufatu ra de pano~ , no Brasi l,
em 178'5 · A m"d1·d·
...
. Vét i.l f avo rec~r t.1 1
. Je ~t lílél
0 se .mpo rtu ~au
- d~. l .... . ,,~ jJm,

14
O capitalismo manufatureiro
o capitalismo é uma economia de mercado tambén, r.1 41 '-t.
mdole completamente diferente . Ele surge . no século X\'1 . come fn_ t...
da formação do mercado mundial , resultante das Grandes \;avegaçC,e~
Estas estabeleceram a interligação marítima de todos os contineme 5 1:
elevaram o comércio 8 longa distância a um novo patamJ r. Acima dos
mercados locais e regionais segmentados , surge um mercado mundiai
para produtos de grande densidade de valor , como o ouro e a prata
a pimenta e o açúcar , tecidos de algodão e seda, tabaco, perfume~
pérolas etc . O grande capital comercial e usurário se lança na expansã(i
deste mercado mundial. levando de roldão as limitações corporati, a~
preexistentes . O capital, que até então se limitava à circulação de
mercadorias e valores . penetra na produção , tornando-se manu/atureirc,
Surgem , na Europa , empresários capitalistas que empregam grande
número de artesãos e produzem em massa para mercados que crescerr.
sobretudo pela destruição de barreiras que separavam os mercado5
locais e regionais .
É claro que o desenvolvimento da navegação marítima e. por
conseqüência , da navegação fluvial , lacustre e de canais construídos
pelo homem foi condição necessária para esta unificação de mercados.
que constituiu a base do capitalismo manufatureiro . Mas esta condição
não era suficiente . O capital manufatureiro necessitava não só do
acesso físico a::ls mercados mas também do acesso econômico, ou seja,
da possibilidade de penetrar neles de fora para vender e comprar. E
este direito feria , obviamente . os interesses dos mestres e comerciante~
locais , protegidos pelas regulações corporativas . O período de desen-
volvimento do capitalismo manufatureiro . do século XVI ao século
XVII l , assiste ao embate entre o capital manufatureiro (apoiado. em
vários países , pelas monarquias absolutas) e as corporações, muitas
vezes aliadas à nobreza local. Deste embate surgem as nações moder-
nas , politicamente dominadas pelo poder nacional e economicamente
unificadas pela abolição das barreiras ao comércio interno e pela
abolição das moedas e medidas locais . Os símbolos da nação mc-
derna são , ao lado da bandeira nacional , a moeda nacional de (Ur-5°
forçado e um sistema único de pesos e medidas , que atualmente ~endc
a ser o sistema métrico decimal .
No Brasil, a luta pela unificação dos mercados foi le vada a ~abc
pela metrópole portuguesa nos limites do Pacto Colonial. que propu-
nha o monopólio metropolitano do comércio com a colónia . Lm epi-
sódio desta luta foi a proibição da manufatura de panos . no Bra5 il.
em 178J . A medida se destinava a favorecer a importação d~ te( id~~

14
britânicos por ca~i!ai_s comer~iais portugueses. Deste modo, 0 capital
manufatureiro bntam_co, me?rnnte os bons ofícios da diplomacia de
Sua Majestade, que tmha feito com Portugal O Tratado de Methuen
ampliava o seu merc~do mu~~ia_I. Por este Tratado, o mercado portu~
guês se abria aos . tecidos br~tanicos, e o da Grã-Bretanha aos vinhos
portugueses . Obviamente, nao bastava ao capital manufatureiro bri-
tânico ter acesso .ao mercado brasileiro. Precisava dominá-lo e para
tanto não se hesitava em usar o poder do Estado para eliminar a
concorrência da manufatura local.

cm 1785, a rainha de Portugal -


Dona Ma ria I , "a Louca" - proibiu
a manufatura de panos no Brasil, para
favorecer os mercadores portugueses
e garantir mercado para o capital ma-
nufatureiro britânico.

Foi também mediante o colonialismo que o grande mercado da


I ndia foi incorporado ao mercado mundial do capital manufatureiro
britânico. A f ndia possuía uma tecelagem de alto padrão, cujos pro-
dutos tinham larga aceitação na Europa . O governo colonial inglês
consegui u destruir esta manufatura, assegurando tanto o mercado eu-
ropeu quanto o da própria rndia aos tecidos britânicos .
De uma forma gera l, o avanço do capitalismo manufatureiro foi
lento e desigual , muito dependente do apoio político de que podia
dispor e das vi cissitudes das lutas entre as diferentes nações européias
pelo domínio das vias marítimas e dos mercados coloniais . No século
X V 111 . l)LH.:cssivas guerras rcsu ltar..im no triunfo da Grã-Bretanha sob_re
u heu maior riva l a França . Em conseqüência , o capitali smo manula-
1u,t:1ro ulc.:,mçou m~iior c.kst.!nvolvimento na Grã-Bretanha, criando as
<-01 1d1~·ôe~ rt1r.i u l~cvuhu,:ão Indu stri al, que teve lugar logo a seguir.

15
O ca pitali smo rnunufalun: iru fui ci.Jpé.!L . lk. ~xpl urn , l:lli l 1,. f [1J
mcJid a, a possi bilidade de aum ~nlar a produtr vr<ladc medra nte i.1 rru
ct ução em grande esca la. Reunindo numerosos traba lh<1d ure~ sub
mes mo teto, o capitalista manufatureiro pôde cri élr uma J 1v1 ;10 1,'Lli
nica de trnbalho dentro da manufatura , o que lhe permit iu alCí:in~~,
maior produtividade do trabalho . Em lugar de Célda trabal hc1dur rea.
lizar todas as operações. cada operação passava a se r tarda de um
grupo específico de trabalhadores.
Esta nova divi são do trabal bo proporcionava três forma s dç ,rn-
mento da produtividade :
a) poupava o tempo que o operador perde quando passa du ma
tarefa a outra ;
b) aumentava a destreza do operador, que passava a se especia-
lizar num único tipo de trabalho ;
c) ensejava a invenção de ferramentas especialmente adaptadas a
cada tipo de trabalho .
A manufatura capitalista conseguiu, deste modo , reduzir os custos
de produção, barateando seus artigos , que começaram a se tornar
competitivos com a produção doméstica .
A econom ia de mercado , ao se tornar capitalista, começou a se
ex pandir pela incorporação de atividades até então integradas à eco-
nomia de subsistência . É o que acontece , na Jnglaterra, com a agri·
cultura , que se torna , ao mesmo tempo , mercantil e capitalista. Uma
grande parte dos trabalhadores é expulsa da terra e, na medida em
que consegue al ienar sua fo rça de trabalho ao capital manufatureiro,
passa a adqu iri r sua com ida no mercado . Surge assim um mercado de
bens para assal arié.ldos como corolário do surgimento de uma clasSE
de proletários puros , to talmente dependentes do mercado para sua
subsistência .

O capitalismo industrial
. ·
A d mam1zação da econom ia de mercado pelo capitali smo ga nha
_
im pulso enorme com a Revolucão ,
Industrial ' que tem início na Gra·
. 1
Bn:tanha . no último quartel do século XVIJI. Ela consiste essencia ·
mente na mvenção de máqu inas capazes de real izar tarefas que antes
requenam a mao - 1 h - ,
üO ornem . Na man ufatu ra , a operaçao e rea
Jizada
pelo traba lhador com o auxílio da ferrame nta . Na maquinof atu ra , ª
ferram enta é engastad a numa máquina , que substitu i o tra balhado_r
na realização da tarefa . O trabalhador em vez de produzir passa íl
, · 'qu ina e
)er neces~ano apena~ para regular . carregar e acionar a ma . _
depo is parn de~ lig á-la. descarregá -la e pô-la novamente em conJiçoes


de funciona r. De pr~clulor , u operário é litera lmente reduZJ do a se r-
vente de um mecarn_smu , com cu 1a Íúr~a regulari dc:1de e \ eluLidadc
t:le não pode competir.

Fiação : na maquino/útura, a /errc111 enta é engastada numa máquina .


que .1uhstituí o trabalhador. E ste apenas aciona , carrega e regula a
máquína .

A máquina é mai s "produtiva " do que o homem porque supera


facilmente os limites físicos do organismo humano . Movida por força
hidrá ulica e pouco depois pela energia do vapor, a máquina pode dar
conta de trabalhos para os quai s o homem é fraco demais .
O movimento da máquina é muito mai s uniforme do qu e o do
corpo huma no, para o qual a monotonia aumenta a fadiga . Na pro-
dução, em grande escala, de objetos iguais, a máquina é muito superior
ao homem. Além di sso , ela pode ser ace lerada , atingindo ve locidades
c.k mov imento in alcançáveis para o homem .
Por tucJo isso , a substitui~ão do homem pela máquina apresenta
va ntagens incg~ve is pa ra o capital, pela redu ção do custo de produ ção
que: rropun.,iona

17
l 829 - · A Rocket, de George Stephenson, demons-
trava a praticabilidade da locomotiva movida a va-
por.

Com a Revolução Industrial , nasce o capitalismo industrial q~e


d1 ere do capita
'f · 1tsmo
· · nao
manufatureiro - so, pe1a tec01ca
, · de produçao
mas pela postura que assume perante a economia de mercado.
. . . . . ·1· o. sua estra·
O capitalismo manufatureiro msp1ra o mercantt tsm · . I •ve
, · d d ·onal (me usi
teg1a e expansão requer a unificação do merca o nact , . Ele
,. . ) d . -
o das co1amas e sua ommaçao me iante o monopd' o'l1'0 pohuco.
. . 1· . r seus riv• ais
necessita da intervenção do Estado nacional para e imma · estrangei·ros.
do mercado, sejam estes artesãos locais ou manufatureiros expor·
Segundo a doutrina mercantilista , cabe ao Estado promoverdas O
omer·
- 1· · ·
taçoes e im itar as importações , de modo a maximiza · · r o sal e
ta) no
cial e deste modo promover a entrada de dinheiro (ouro ou pra
país, para refo. .
rçar o. Tesouro
d . rea1. . • 0 [ibera1is,,, . wro ·· sua
O capita1ismo tn ustnal por sua vez inspira ados, lo·
estratégi a de expan são requer a un ificação de todos º . ":erc ortanto,
5
. . . d t dos Re1e1ta, p
cais e nac1on a1 s, sen o a competição livre para o ·
/

18
a intervenção do Est::1do no mcrcadCJ , mc~rnú qUt M:ja tm !>eu fa vvr.
Sua superioridade produtiva dá-lhe confüm~á de poder vtnct:r a c0m-
etição, sem precisar da proteção e!!ttatc1I .
p o liberalismo económico é pétrte de umc2 doutrmci maror, c.:om
desdobramento no nível político. Ele propugna a liberdade do indiví-
duo, enquanto cidadão, produtor í! conwmidor. A famO!,él palavra de
ordem fi siocrata " laü,sez faíre, labbtZ pa~~cr' (deíxãÍ fazer, deixai
passar) proclama o direito de cada um produzir o que deseja e de
comprar e vender em qualquer mercado. fa,te direito, no plano eco-
nômico, se conjuga com o direito de livre expre:,são do pensamento,
de reunião e manifestação e de participação (mediante o voto) m1
escolha dos governantes. Esteb direitos implicam o controle do governo
pelos cidadãos ou ~eus represen tantes eleitos, cumprindo notar que o
direito de votar e ser votado estavé1 restrito aos indivíduos detentores
de um mínimo de propriedade ou renda. Não se supunha que a cida-
dania se estendesse aos pobres.
O liberalismo é o estandarte sob o qual a burguesia luta e con-
quista a hegemonia econômica e política. Na época do capitalismo
manufatureiro, a classe capitalista procura um lugar ao sol sob a tutela
do Estado monárquico, que ela não pode encarar como seu. A luta
.principal se trava entre a realeza e a nobreza, a primeira procurando
centralizar o poder e eliminar os particularismos locais. Nesta luta, a
burguesia usurária, comercial e manufatureira não passa de aliada da
monarquia, de cujos propósitos unificadores se aproveita para se ex-
pandir. Com o triunfo do absolutismo e a constituição dos grandes
impérios coloniais, a relação de forças muda . A burguesia, agora
industrial , se torna imensamente rica e passa a enxergar no Estado
absolutista um rival na disputa pelo excedente. Já no fim do século
XVIII , Adam Smith , o grande clássico do liberalismo, deblatera contra
o parasitismo do aparelho de Estado , contra os elevados gastos mili-
tares e contra a interferéncia reguladora do governo no funcionamento
do mercado. A burguesia quer agora um Estado " seu", sóbrio nos
gastos, avesso às aventuras guerreiras e neutro em relação à disputa
pelos mercados.
O fim do século XVI 11 é marcado pela Revolução Industrial na
Inglaterra e pela Revolução Francesa. Ambas abrem caminho ao triun-
fo do li bera lismo, no século seguinte, primeiro, a seguir, na Europa
Ocidental e nos Estados Unidos ; na Rússia , no Japão e em diversos
países da América Latina.
No Brasi l, o libera li ~mo tem seu pri meiro êxito em 1808, quando
D. loão Vf decreta él abertura dos portos brasileiros às " nações ami-
gas '. Com a Independéncia , cm 1822, o Brasí I se torna uma monarquia
constitucional. nos moldes do parlamentarismo bnt úni1.:u. J\hi :i a l:'>
tura sócio-econômica do país era complet amente difl:n.:n k L., _tr<l\;
l )d ~t:d d
ainda no escravismo colonial .
Durante o século XlX o liberalismo serviu , no Brasil, pura con
ciliar a unidade nacional. representadG1 pelo governo imperial no Riu
de Ja neiro , com a domin a<;ão loca l da oli garquia t.: ~cra vocrata. o
verdadeiro liberalismo em representado pelos abolicionista s, cuja vitó-
ria final, em 1888. criou fina lmente no Brasil condições para a im-
plantação e expansão do capitalismo indu strial.

A economia de mercado se torna capitalista

A partir da Revolução Industrial , num país após o outro , ü


capitalismo passa a dominar a economia de mercado e esta passa a
abarcar a maior parte das atividades econômicas. A ofensi va capita-
lista tem corno motor o desenvolvimento das forças produti va~ e a
eliminação das barreiras institucionais à li vre concorrência .
O capitalismo industrial acelera o desenvolvi mento das forças pro-
dutivas mediante o progresso das ciências físicas e a sistemática apli-
cação dos seus resultados na ati vidade produtiva . A pesquisa científica
é realizada em escala crescente . em universidades e instituições pú-
blicas e privadas . contando com amplo fina nci amento, proveniente , em
pan e. do orçamento governamental ~ ~m parte . de doações privadas.
estas última~ em geral estimulada'- por generosas isenções fiscai~ . Pra-
tica-se tanto a pesqu isa pura que vi sa o conhecimento em si, com::> ª
pesquirn aplicada . que rrata de encontrar conhecimentos necessário!
para desenvolver novos produtos ou aperfeiçoar os processos produ·
tivos.
É interessante ob servar como o ensi no científico foi transformado
cm fu nção das necessidades do novo modo de produção . .. Até mead~
do século Xl X o ensino un i,·ersicáno da ciéncia na Grã-Bretan ha
não estava onentado para os interesses dos industriai~. que tinh~ffi
ganho a liderança da sociedade britán ica Antes daquela data. o ensino
universitário da ciência esta va inspirado pelos rnercanrilísta~ de urr.
período anterior ao desen,·olvimento social da Grã-Bretanha. Sob ~ua
11
ínfluéncia. a astronomia era o ramo da ciência físi ca de maior pr,~ •
g.ío porque a ~guran~ da navega<;ão dependi a do ~nhec1 meíllC ª~~
tronóm1co e o sucesEo do comércio maríu mo dependw da s-eguran~
da navegação O prestígio da fi~ica na~ umvers.1dade~ Jnlántca~ nac
ultrapassou o da astron~míá até :iue a 1mportám..ia dv mdu~tnaiJ;rn:
ultrapassou a do mercantilismo

20
,.\ 111at11tf J tur.1 d e 111á4u111:1:- JL, mutmn J \ljptH c mdt :- 1Jrdc:.
lk 111 1h.pti11n~ l'k tri r:1:-, l t'1·1wu o L"llnhrcimentu ~\alL, dcJ:- propnedadc=:-
d:t 111 :.it éri:i 11\!l'L':-~:iri o ao pru~n.•::,::,u ::,üc1:.1l ( ) ThL,m::,on ~ :--ct. am1gL'
l :iit ytH: lura nom l'adu pwk:-::-. ur de filo~u l 1:.i nJtu, ai t'm l::..d1m hur~o
dl'c idir:1111 L'!'IC l\'. \ l'r um / mtuJo J<· l 1'mofw f\laruru l en-: --1uc t.'.\pun h..im
;J fí:-ic..1 nwtcm..í tic..1 de form:J ackqu:1J...i :.i demJndJ (untempl' r::ml:'.J
Fk~ cxpu~L'ram .t ci0m:ia cL.1 mL'dnicJ mco1bc1cn1emcntc jc pünt u dt.'
visw de um L'l1~L'nhl'iro idl'al 4ul' fu::,::-.e um mes tre dl' fi s11.::.i m3tt.'.m Jtl·
c:J . ( ) Thom!'lon L' Tuit re.:1li zaram . p:ira os lidere::- culto~ da burFUc-
:-iia industrial , . 1 conquist..1 L' u ..l!'l~tmilacão d..i l.'.ultura f1 ~1 co-mJ1emJt1C .1
tfo classe men.:;.intilist~ . A influ~ncia do result 3do destJ lurn de cL1ssc-::
numé:I da:-i regiões mais elevadas do empenho humano fez-~t.'. sentir t'm
nível inferior . nu en:-iino da m.:itemática dementar o~ J 1::,1.:1pulo~ de
Thomson. Ayrton e Perry . lideraram o movimento pe lo en~ml' d~
'matemática prática' . Eles explicaram que a nm a classe de técnico~
criada pela indústria mecânica . quena um conhecimento mJternaticL'
que fo~se de utilid ade prática em suas tarefa::i _· • (Cro,, ther Br111~h
scientists of the 11i11etee11th centur>·, citado em Hogben . 1940. p. 729 )
O extraordin ário desenvolvimento das forças produtivas alcançJdo
pelo capitalismo industrial resulta rnnto do fomento da atividade cien-
tífica como da estreita interligação dos laboratórios com as fábricas .
c:~tas recebendo , com rapidez, os resultados das pesquisas e os apl ican-
do à produção e enviando dt: volta com igual rapidez os novos pro-
blemas ~uscitados pelo avanço técnico . É o que explica o continuo
crescimento da produtividade e o conseqüente barateamento das mer-
cadorias produzidas pelo capital industrial. Bem ao contrário da eco-
nomia de mercadori a anterior , em que os preços eram mantidos
deliberadamente constantes , a capitalista fomenta a sistemática redução
de custos e de preços. Nestas condições , a produção não-capitali::ita de
mercadorias, operada em pequenas unidades de caráter familiar , difi -
ci lmente poderia resistir ao avanço da produção capitalista. A partir
Ja Revolução Industrial , a indústria de transformação . o transporte de
pas~ageiros e de carga e as comunicações se tornaram capitalistas nos
vário~ países que se industrializaram. Na agricultura , o capital se apo-
Jc:rou du maior parte das plantações e da criação em grande escala
No comércio acon teceu o mesmo com o atacado e o varejo operado cm
grande::i unidades, como os ~upermercados e as lojas de dcpanamen to::i .
1-. 110~ ~crviçu~. o capiw l exp lora cadeias de hotéis. de lanchonete~
(lucéli~ ern que ~e ~e rvl'm refeiçõe~ li)!eira:-i) nkm de hospitai~ e clí mca~
C'-lcula~ em tuJo~ u~ nívei ~ sem fal;,r da rede cada vez mai ~ e\. ten s.:1 e
d1 vL:r\ r/1 c;HJa ck 111krn1edí,11,.: élo lm am:eira (h,ncu~ . financeira~ . :;egura-
dci1 ,1~ l' IC ), q11c dL':,,d( :-iempn.: ti ve rum car5te,· capitalis ta

21
No fim do século passado, muitos ~bservador~s estavam LUnvtLlu~
ão simples de mercadona~ estava Iadada a desa pare
de que a pro duç d . 'd• d .. Ler
.. e~ncia dos ganhos de pro ut1v1 a e, que a util izaçau .1.
em conseq U . , . .. ua
., • proporcionava ao capital. Um seculo depois , ven f1c:.i-se que em
c1encrn . . 'd d
diversos ramos da produção mercant1 1, a superton a e tecnológica dü
capital em face da produçã~ familiar é peq uena_ou ~ es~o ine~istente.
Nestes ramos, a produção simples de mercadori as nao so persiste ma~
inclusive se desenvolve. t o que ocorre na maior parte da agricultura ,
em que a combinação de plantio com a criação de pequenos animais
não permite a mecanização de toda a atividade nem a rotinização da
maioria das tarefas. Nestas circunstâncias, o trabalho do produtor
autônomo tende a ser tão ou mais produtivo que o do assalariado.
Outros casos são os serviços de reparação, o comércio varejista em
pequena escala (particularmente de artigos caros : joalharias, butiques),
certos serviços pessoais (tinturarias, cabeleireiros, salões de beleza) , o
transporte por caminhão etc. Apesar de a produção simples de merca-
dorias mostrar capacidade de resistir à concorrência do capital em
determinados ramos , é inegável que este domina a maior parte da
economia de mercado .
A hegemonia do capital é conseqüência da livre concorrência, que
est á longe de ser uma condicão natural do mercado. A livre concor-
0

r~ncia foi imposta em conseq üência do triunfo do liberalismo em pra-


ticamente todos os países capitalistas desenvolvidos. Mas este triunfo
q~ase nunca é completo, no sentido de uma exclusão total do Estado da
vida econômica . O liberalismo se impôs em medida suficiente para con-
verter
, em co ncorrencrn1s· · a maioria dos mercados, mas em determma · das
areas da prod uçao - ª massa de pequenos operadores logra quase sempre
06
ter alguma proteção do Estado. A agricultura por exemplo, em que
as. exploracões
, fa mi·1rnres
· pre dommam• e, em geral
' subs1d1a
• · da e prote-
g1da da concorr" 13 · d ' d ue-
, . enc os produtos importados . Outros tipos e peq "
nas. e medrns
, . em presas tam 6em , tem" obtido favores da poht1ca , · ecano-
mica : credito a · b · . . · Estes
t' d Juros aixos , assistência técnica isencões fiscais .
ipos e acão est t I " · ' , · ·t dos
Para nao - ' . ª ª tem sido, no entanto suficientemente hm 1 ª
estreitar s· 'f• · ' ·t I a
qual soe a6ranger aigni icativamente a área de acumulação de capi ª '
.
E . maior parte da economia de mercado.
esta, 1mpulsio d f rças
produtivas t · na ª pe IO desenvolvimento capitalista das 0
, em se expand.dO d' odutos,
que suscitam i me 1ante a criacão de novos pr
e atendem . , . bens e
servicos produ .d ª novas necessidades ou substituem
,
em conserva
ZI os no âmb '
.
d ,
lto omestico. São exemplos os a nn 0
r entoS
ou sem1 proce d esa
cuidado de cria . ssa os, vestuário roupa de cama e IT1 : .
das . Nota-se a pncas ,
em idad
.
, ,
e pre-escolar , de pessoas idosas ou
inva1i-
,
rogress1va at r·1 mo a
ro ª da produção para o autoconsu '
22
medida que o capital oferece bens e serviços análogos a preços acessí-
veis . E muitas atividades que continuam a fazer parte da economia
doméstica passam a ser realizadas com instrumentos produzidos pelo
capital (máquina de lavar roupa , máquina de lavar louça , aspirador de
pó, liquidificador, geladeira etc .). Desta maneira, a economia capitalista
de mercado está sempre se diversificando e atraindo parcelas crescen-
tes da população - inclusive cada vez mais mulheres casadas - ao
mercado de trabalho . A oferta de novos produtos suscita novas neces-
sidades, cuja satisfação requer elevação da renda familiar . O assalaria-
mento da dona-de-casa resolve freqüentemente este problema , mas não
deixa de suscitar outros, particularmente o de aliviar o peso das tarefas
domésticas . Mas para estes o capital apresenta também soluções, sob
a forma de mais bens e serviços postos à venda .
Desta maneira, o capital vai criando para si mesmo novas oportu-
nidades de inversão, o que lhe garante expansão perene. O seu destino
parece ser o de crescer sempre, transformando tendencialmente todos os
membros da sociedade em vendedores de força de trabalho e compra-
dores de suas mercadorias . A força expansiva do capital tende a ho-
mogeneizar a sociedade, tornando-a puramente capitalista. Há contra-
tendências, como vimos acima . Além disso, o dinamismo do capital
apresenta contradições, que explodem em geral sob a forma de crises .
Isso indica que a expansão do capital tem limites históricos, mas que,
em países ainda pouco desenvolvidos , estão longe de ser visíveis .

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