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CAPITULO III
PESSOAS COLETIVAS
73. Classificações doutrinais das pessoas coletivas: Corporações e Fundações; Pessoas coletivas de direito público e Pessoas coletivas de direito privado
As pessoas coletivas são objeto de numerosas classificações. Importa dar indicação dos termos e do conteúdo das principais.
Corporações e Fundações
Tem ela por critério a composição do substrato quanto ao primeiro dos elementos integradores: as corporações são coletividades de pessoas, as fundações são
massas de bens.
As Corporações são constituídas e governadas por um agrupamento de pessoas (os associados), que subscrevem originariamente os estatutos e outorgam no
ato constitutivo ou aderem posteriormente à organização. Os associados dominam através dos órgãos da corporação, podendo mesmo alterar os estatutos.
As Fundações são instituídas por um ato unilateral do fundador de afetação de uma massa de bens a um dado escopo de interesse social. O fu ndador, além de
indicar no acto da instituição o fim da Fundação e de especificar os bens que lhe são destinados, estabelecerá de uma vez para sempre as normas disciplinadoras
da sua vida e destino.
As Corporações visam um fim próprio dos associados, podendo ser altruístico, e são governadas pela vontade dos associados. São regidas por uma vontade
imanente, por uma vontade própria, que vem de dentro e, por isso, pode dizer-se que têm órgãos dominantes.
As Fundações visam um interesse estranho às pessoas que entram na organização fundacional; viam um interesse do fundador de natureza social e são
governadas pela vontade inalterável do fundador, que deu o impulso inicial à Fundação e, desse modo, a animou com a vontade n ecessária à sua vida. São
reguladas, pois, por uma vontade transcendente, por uma vontade de outrem, que vem de fora e, por isso, pode dizer-se que têm organização servientes.
a) pessoas coletivas de direito privado e utilidade pública: são as que se propõem um escopo de interesse público, ainda que, concorrentemente se dirijam à
satisfação de um interesse dos próprios associados ou do próprio fundador. Mas são possíveis diversas modalidades:
→ pessoas coletivas de fim desinteressado ou altruístico: o interesse a satisfazer é de natureza altruística, ou seja, é o interesse em promover certos
interesses de outras pessoas (os beneficiários). Os associados ou o fundador tomam a peito determinados interesses alheios. E trata-se de pessoas coletivas de
utilidade pública, porque à comunidade social importa que tais interesses sejam satisfeitos. A esta categoria pertencem todas as fundações – excetuado
porventura algum raríssimo caso e ainda um grande número de associações, como as de beneficência ou as humanitárias.
→ pessoas coletivas de fim interessado ou egoístico: nestas pessoas coletivas o escopo visado interessa de modo egoístico aos próprios associados, mas é tal
que ao mesmo tempo interessa à comunidade. Este fim pode ser de diversa ordem, daí uma subsequente subdistinção em:
1. Pessoas coletivas de fim ideal - o objetivo egoístico que uma pessoa coletiva se proponha pode consistir num interesse de natureza ideal (não económica):
recreio, desporto, instrução, cultura física ou intelectual, etc. É o que sucede, por ex. com clubes recreativos ou desportiv os.
2. Pessoas coletivas de fim económico não lucrativo – a pessoa coletiva pretende conseguir certas vantagens patrimoniais para os seus associados: subsídios
pecuniários no caso de invalidez, empréstimos em boas condições, etc. Trata-se, pois, de uma finalidade económica. Mas não de finalidade lucrativa, pois não se
cuida propriamente de obter lucros para repartir pelos associados. Nesta categoria localizam-se as associações de socorros mútuos e instituições congéneres, as
caixas de crédito agrícola, os sindicatos, as associações patronais e as cooperativas de consumo, crédito, construção e habitação. O escopo visado por estas
associações, ao mesmo tempo que interessa de modo egoístico aos associados, interessa também à coletividade.
b) pessoas coletivas de direito privado e utilidade particular: a finalidade própria destas pessoas coletivas é de mero interesse particular. Também aqui o
interesse privado não deixa de ter atinências com o interesse público, só não assumem relevo especial, e por isso a lei limita-se a olhar ao interesse particular
dos associados. As pessoas coletivas de utilidade particular só podem ser as que se dirigem a um escopo lucrativo: fazer lucros para distribuir entre os seus
componentes. Trata-se das sociedades; daquelas sociedades que têm personalidade jurídica. Devem integrar-se igualmente neste âmbito os chamados
agrupamentos complementares de empresas (A.C.E), bem como os agrupamentos europeus de interesse económico (A.E.I.E). Trata-se de agrupamentos de
pessoas singulares ou coletivas (sobretudo sociedades) com o fim de melhorar as condições de exercício ou de resultado das respetivas atividades económicas,
mediante, por ex., a realização de estudos e investigações de natureza técnica e económica que a todos interessem, a aquisição de maquinaria para emprego
em comum, a propaganda e a representação de produtos em mercados externos, etc.
74. Classificações legais das pessoas coletivas: Associações, Fundações e Sociedades Associações, fundações e sociedades - Esta classificação tripartida
(Associações, Fundações, Sociedades) não tem um carácter unitário, porque as associações e sociedades são pessoas coletivas de tipo corporativo e por isso
opõem-se às fundações. Por outro lado, as associações e fundações, integram uma mesma categoria oposta às sociedades, porque estas visam fins económicos
e aquelas não.
A tipificação legal das Associações, Fundações e sociedades é notória no Código Civil. Este regula a matéria das associações e fundações no cap. II, dedicado às
pessoas coletivas, arts. 167º seg. - Associações; arts. 185º seg. - Fundações.
Dentro das sociedades comerciais e das civis em forma comercial, a mais importante classificação é a que tomo como critério a presença ou ausência de
responsabilidade pessoal dos sócios perante os credores sociais e a extensão dessa responsabilidade.
Sob este ponto de vista, têm os interessados de escolher um dos tipos legais de sociedade indicados na lei. Vigora nesta medida o princípio do numerus clausus
ou da tipicidade.
São os seguintes os tipos legais de sociedades conhecidos na nossa lei:
a) Sociedades em nome coletivo – caracterizam-se pela responsabilidade pessoal e limitada perante os credores sociais, subsidiariamente em relação à
sociedade e solidariamente com outros sócios;
b) Sociedades por quotas – os sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, mas são solidariamente responsáveis por todas as entradas convencionadas no
contrato social, isto é, respondem para com a sociedade pela realização da sua quota, e ainda, solidariamente com os demais, pelas prestações devidas à
sociedade por algum ou alguns dos outros associados por força da não realização integral das suas quotas; o capital social está dividido em quotas;
c) Sociedades anónimas – os sócios estão isentos de responsabilidade pessoal pelas dividas da sociedade e os credores sociais só se podem pagar pelos bens
sociais; o capital social está dividido em frações a cada uma das quais corresponde uma ação; cada sócio tem a sua responsabilidade limitada, para com a
sociedade, pelo capital que subscreveu, isto é, pelo montante das ações respetivas, nada mais tendo a satisfazer, mesmo que os outros sócios estejam em dívida
para com a sociedade.
d) Sociedades em comandita – são uma combinação entre os tipos anteriores, pois intervêm nelas sócios que assumem responsabilidade ilimitada, como os
sócios das sociedades em nome coletivos (sócios comanditados), e sócios que só arriscam o valor das suas entradas, como os acionistas das sociedades
anónimas (sócios comanditários); o capital social pode ou não ser representado por ações.
77. Constituição das pessoas coletivas: formação do substrato das fundações de direito privado
Na vigência do Código Seabra podiam levantar-se dificuldades quanto a ser admissível dispor de bens por testamento ou até por ato entre vivos para uma
fundação que se quisesse constituir.
No Código atual não podem surgir quaisquer dúvidas, pois o art. 185º é expresso em permitir a instituição de fundações de ambas as maneiras, devendo o
instituidor indicar no ato de instituição o fim da fundação e especificar os bem que lhe são destinados e podendo ainda providenciar sobre a sede, organização,
funcionamento e eventual transformação ou extinção do ente fundacional.
Instituição por testamento. Qual a natureza jurídica do ato de instituição por testamento? Tem-se admitido na doutrina portuguesa que o ato de instituição,
quer realizado entre vivos quer praticado em testamento, é um negócio jurídico unilateral autónomo, sui generis. Esta tomada de posição inspirou-se em
Ferrara, para quem a instituição de uma fundação em testamento “não é vocação de herdeiro ou legado, e por isso não é governada pelos princípios
sucessórios, mas é um negócio autónomo de instituição de um obra ou de destinação de um património”. Tal negócio, quer praticado em testamento, quer
entre vivos, qualifica-o Ferrara como pertinente a uma categoria que designa por negócio de destinação.
Em face ao exposto, parece que só teoricamente tem significado a afirmação de que o negócio de fundação, quando adote a veste testamentária, é um negócio
autónomo, sui generis, pois sempre a sua efetivação terá de se realizar através do mecanismo técnico-jurídico da herança ou legado, aplicando-se-lhes as
disposições duma ou doutra instituição, consoante os casos.
Que dizer da tendência de certa doutrina para desdobrar o ato de instituição e dois atos: um ato ou negócio de fundação visando a constituição dum novo ente
jurídico, e um ato ou negócio de dotação, liberalidade a favor do sujeito de direito criado pelo primeiro?
Tal análise do ato de instituição é de repudiar em face do CC, pois:
• A vontade do instituidor não basta para criar um novo sujeito de direito, sendo necessária a intervenção do reconhecimento
• O art. 188º estabelece que será negado o reconhecimento, se não forem afetados à fundação bens suficientes. Quer dizer, o primeiro ato não pode subsistir a
se, sem segundo
A distinção é, pois, como observava Manuel de Andrade, “antes ideal que real ou prática”.
Quid júris, se o instituidor se arrepende depois do ato de instituição e quiser revogar? Será imediatamente irrevogável a instituição, uma vez lavrada a escritura
pública exigida no nº3 do art. 185º?
O Código sanciona, no mesmo preceito, a doutrina segunda a qual a instituição só se torna irrevogável quando for requerido o reconhecimento ou principiar o
respetivo processo oficioso. Portanto, até este momento, pode o fundador revogar a disposição.
E na hipótese de o fundador morrer antes desse momento? Deverá entender-se, como na vigência do Código do 1867, que, em princípio, a instituição caducará?
Parece que não. Esta solução era defendida, na vigência do Código de Seabra. Com o Código de 1966, todavia, temos lei aplicável especialmente à hipótese: o
art. 185º, nº4, segundo o qual aos herdeiros do instituidor não é permitido revogar a instituição, salvo por força das normas sobre a sucessão legitimária. Tal
solução está aliás em conformidade com a regra do art. 226º
Resulta, igualmente, do mesmo art. 185º, nº3 e 4, que o ato de instituição não pode ser revogado co fundamento em superveniência de filhos legítimos ou outra
causa própria da revogação das doações.
Mas pergunta-se: trata-se ainda dum reconhecimento normativo, embora condicionado à verificação de determinados requisitos que devem acrescer aos
elementos do substrato, ou será antes um reconhecimento por concessão, mediante ato individual da autoridade pública?
Encontramos na nossa lei manifestações das duas modalidades.
O CC de 1966 acolheu no art. 158º, na sua redação primitiva, o reconhecimento por concessão, não só para as fundações como também para as associações.
Pretendia-se, com o reconhecimento por concessão, efetuar um controlo administrativo de constituição das associações. O Estado podia assim controlar,
através dum ato discricionário, a constituição de qualquer associação.
Perante esta situação, assistiu-se a um desenvolvimento das sociedades cooperativas, as quais, sendo sociedades comerciais não estavam sujeitas ao
reconhecimento por concessão, adquirindo personalidade jurídica nos mesmos termos que outras sociedades, isto é, mediante o reconhecimento normativo
condicionado.
Este movimento foi, porém, de curta duração, pois em 1971 um Decreto-Lei dispôs que as sociedades cooperativas que se proponham exercer ou exerçam
atividades não económicas estavam sujeitas ao regime das associações.
Com a alteração dos princípios políticos ordenadores da sociedade, operada em 25 de Abril de 1974, foram alterados os pressupostos condicionantes da
liberdade de associação. Os entraves à constituição de associações desapareceram, logo nesse mesmo ano, com o Decreto-Lei nº594/74, de 7 de Novembro.
O Decreto-Lei nº594/74 veio, pois, consagrar, quanto às associações, o reconhecimento normativo condicionado, sem necessidade de qualquer ato individual e
discricionário de uma autoridade pública para a concessão da personalidade jurídica.
O controlo de conformidade dos estatutos ou da associação à lei ou à moral pública passou a ser feito posteriormente, não impedindo a aquisição de
personalidade, podendo apenas, se for o caso disso, provocar a declaração judicial de extinção de pessoa coletiva.
Entrou em vigor em 1976 a CRP, sujo o art. 46º, nº1, veio declarar terem os cidadãos “o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização,
constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a violência e os respetivos fins não sejam contrários à lei penal”.
O reconhecimento das associações é hoje o reconhecimento normativo condicionado embora se tenham alterado os requisitos legais que devem acrescer ao
substrato.
Com efeito, enquanto, a partir de 1974, bastava o mero depósito do ato de constituição e dos estatutos, após prévia publicação no Diário do Governo e num dos
jornais mais lidos na região, a lei atual formula uma maior exigência para a constituição de uma escritura pública. Este documento realiza-se perante notário, o
qual, deste modo, é a entidade que vai efetuar um primeiro controlo de legalidade.
A vantagem deste controlo, efetuado logo no momento da constituição da associação, é de sublinhar, pois se vira ab initio a constituição das pessoas coletivas
sem os requisitos exigidos ou com objetivos contrários à ordem pública, determinantes da sua posterior extinção judicial caso tivessem sido legalmente
constituídas, situação que acarretaria certamente maiores prejuízo aos interessados e até eventualmente a terceiros.
Uma vez celebrada a escritura pública, compete ao notário, oficiosamente, a expensas da associação, comunicar a constituição e estatutos, bem como as
alterações destes, à autoridade administrativa e ao Ministério Público e remeter ao jornal oficial um extrato para publicação (art. 168º, nº2), para que possam
produzir efeitos em relação a terceiros (art. 168º, nº3). O Ministério Público deverá promover a declaração judicial de nulidade quando haja violação do art.
280º.
A exigência de escritura pública justifica-se, quer pela maior solenidade conferida ao ato de constituição, como pela segurança jurídica resultante de um ato
celebrado e confirmado por uma autoridade (o notário) e, finalmente, pelas vantagens que um controlo prévio da legalidade do ato envolve.
Foi alterado o nº2 do art. 182º, que prevê agora a extinção das associações através das associações através de decisão judicial e não já por via administrativa,
consequência óbvia da consagração do reconhecimento normativo em substituição do reconhecimento por concessão.
Refira-se, por último, que a epígrafe do capítulo II se referia a associações não reconhecidas, sendo agora designadas como associações sem personalidade
jurídica (arts. 195º e ss).
O art. 258º, nº2, aplicável às fundações, prescreve o reconhecimento por concessão ou individual, da competência da autoridade administrativa.
À generalidade das pessoas coletivas religiosas aplica-se o regime dos arts. 33º a 44º da Lei da Liberdade Religiosa. As igrejas e demais comunidades religiosas,
bem como as associações e fundações por elas criadas, podem adquirir personalidade jurídica, seja através de inscrição no registo das pessoas coletivas
religiosas previsto nesse diploma, seja nos termos gerais previstos no CC para as pessoas coletivas privadas.
O reconhecimento das sociedades comerciais ou civis em forma comercial é o reconhecimento normativo condicionado (arts. 1º, 5º e 36ç e ss do Cód. das
Sociedades Comerciais).
A exigência formal de escritura pública implica a intervenção de um agente público (o notário), mas nem por isso se trata de um reconhecimento por concessão.
É que o notário vai limitar-se a exarar as declarações das partes, autenticando a sua emissão, e apreciando a existência ou não de um motivo de nulidade do
contrato, mas não realiza nenhuma apreciação sobre a conveniência da constituição da sociedade ou qualquer outro julgamento discricionário.
Outros autores são da opinião contrária. Isto depende da natureza do vínculo entre a pessoa coletiva e as pessoas que procedem em seu nome e no seu
interesse. Se for um vinculo de verdadeira organicidade, teremos capacidade para o exercício de direitos, pois a relação entre um órgão e o ente em que se
integra é de verdadeira identificação, agindo o órgão é a própria pessoa que age. Se for um nexo de mera representação , devemos rejeitar a tese da
capacidade para o exercício de direitos pois há autonomia entre as personalidades jurídica do representante e do representado (é uma relação intersubjetiva
entre dois sujeitos, contrario da relação orgânica que é intrasubjectiva).
Devemos seguir o primeiro critério, o de um nexo de verdadeira organicidade. Vemos isso pelo artigo 162º, mas sobretudo pela responsabilidade civil
extracontratual da pessoas coletivas. Normalmente não há responsabilidade civil extracontratual dos representados pelos atos dos seus representantes → o
artigo 500º abrange um sector da representação: casos em que o procurador pode ser considerado um comissário. Isto só acontece quando está numa relação
de dependência com o representado, quando está sujeito a um seu poder de direção. Ora, os órgãos não são encarregados de nenhuma comissão, os órgãos
superiores (ex. assembleia geral) não estão numa relação de dependência, mas são eles os formuladores da vontade da pessoa coletiva. Ora, o artigo 165º
estatui essa responsabilidade civil para as pessoas coletivas, daí que digamos que as pessoas coletivas tenham capacidade para o exercício de direitos.
O artigo 160º.º, n.º2 refere que estão excecionados do âmbito da capacidade jurídica das pessoas coletivas :
a) relações jurídicas vedadas por lei (ex. capacidade testamentaria ativa – 2182º);
b) relações jurídicas inseparáveis da personalidade singular (direitos derivados da vida humana como casamento ou filiação, por exemplo).
À primeira vista parecia estarem-lhe negados os direitos de personalidade, no entanto elas podem ser titulares de pelo menos alguns, caso do direito ao nome
(artigo 72º), o direito à honra que pode-se desentranhar da tutela geral da personalidade (artigo 70º).
Resulta a contrario do artigo 160º, n.º1 estarem fora da capacidade jurídica das pessoas coletivas os direitos e obrigações que não sejam necessários ou
convenientes à prossecução dos seus fins. É o chamado «princípio da especialidade do fim».
O fim estatutário será a medida do âmbito da capacidade, ou seja, serão os atos necessários, adequados ou convenientes ao fim que está previsto nos seus
estatutos. Tal restrição não impede que as pessoas coletivas de fim desinteressado ou fim egoístico ideal possam praticar atos de natureza lucrativa, em ordem
a obter recursos para a prossecução dos seus fins. Isto diz-nos Manuel de Andrade.
Manuel de Andrade refere ainda que deriva do principio da especialidade a incapacidade das sociedades comerciais fazerem doações, ainda que essa proibição
não seja total, já que a sociedade pode fazer doações remuneratórias a empregados e clientes (941º) e pode praticar donativos conformes aos usos sociais
(940º, n.º2).
As pessoas coletivas têm capacidade testamentária passiva (2033º, n.º 2 alínea b). Quanto à aceitação de doações podemos aplicar por analogia este mesmo
artigo.
I- Responsabilidade contratual
Esta resulta da capacidade da pessoa coletiva contrair obrigações. Vem enunciada no Art.165º. As pessoas coletivas respondem pelos atos dos seus órgãos,
agentes ou mandatários que produzam a violação de uma obrigação, em sentido técnico, remetendo-nos para o 800º. Há responsabilidade civil nos termos
gerais da responsabilidade civil contratual, Art.798º e ss. Há a necessidade de culpa do órgão ou agente tanto nos casos de falta de cumprimento como nos de
cumprimento defeituoso Art.799º nº1. Para existir responsabilidade civil contratual das pessoas coletivas é necessário que o contrato de onde emerge a
obrigação infligida, tenha sido celebrado por que tinha poderes para vincular a pessoa coletiva e caus. O Art.165º estatui que as pessoas coletivas respondem
nos mesos termos em que os comitentes respondem pelos atos ou omissões dos seus comissários.
Estaremos no não exercício das funções quando se prosseguem exclusivamente interesses pessoais do agente. O agente, órgão ou mandatário fica obrigado a
indemnizar ao lado da pessoa coletiva. Trata-se de uma responsabilidade solidária, aplicando-se o Art.497º por remissão do Art.499º, ou seja, será
responsabilizada apenas a sociedade, se não for determinado o órgão ou agente culpado do ato desencadeador da responsabilidade.
Quanto às relações internas, a pessoa coletiva que tiver satisfeito a indemnização tem direito a regresso contra o órgão, agente ou mandatário, poendo exigir o
reembolso de tudo o que haja pago, desde que este tenha culpa no plano das relações internas.
(Pode haver externamente, mas não internamente como no caso de um motorista que adormece a atropela uma pessoa, mas a causa da fadiga deve-se às
instruções dadas pela entidade patronal para um trabalho sem o necessário repouso Art.500º nº3, neste houve culpa por parte do comitente também. Também
o órgão, agente ou mandatário pode exercer a ação de regresso contra a pessoa coletiva se não houve da sua parte qualquer culpa no plano das relações
internas Art.497ºnº2, ou ainda no caso de indefinição da culpa no plano interno, é aplicada a parte final deste mesmo Art.
No nosso direito, como noutros sistemas jurídicos, verificava-se uma tradição já secular no sentido de restringir a capacidade das pessoas coletivas
relativamente à aquisição de direitos reais sobre os bens imóveis.
Em correspondência com este pensamento, o Código Civil de 1867, no artigo 35.º, pretendeu evitar a reconstituição de patrimónios excessivos e manteve o
mesmo regime. Na reforma do Código Civil de 1930 o artigo 35.º foi modificado, permitindo às pessoas perpétuas a aquisição a título oneroso de bens
indispensáveis e dispensando-as de converter em títulos de dívida pública os bens recebidos a título gratuito, mas sujeitando-as ao pagamento de um imposto
de sucessão ou transmissão por cada período de 30 anos.
Desta resenha deduz-se que o regime da capacidade das pessoas morais perpétuas para a aquisição de imóveis era, antes da entrada em vigor do CC de 1966, os
seguintes: podiam adquiri-los a título oneroso, se fossem indispensáveis; estavam proibidas, sob pena de nulidade, de fazer aquisições onerosas de bens
dispensáveis e podiam adquirir a título gratuito quaisquer bens.
O art.161.º do CC, na sua redação originária, permitiu livremente as aquisições a título gratuito, mas estabeleceu uma incapacidade para o exercício de direitos
no que toca à aquisição onerosa de bens imóveis e à alienação ou oneração dos mesmos a qualquer título, incapacidade suprível por uma autorização do
Governo.
Na sanção do n.º2 do art.161.º falava-se de nulidade, no caso de falta de autorização do Governo. Cremos que se tratava de uma invalidade mista (com
caracteres predominantes de nulidade e de anulabilidade).
O regime da nulidade e anulabilidade dos negócios jurídicos conta dos artigos 285.º e seguintes. A nulidade pode ser invocada a todo o tempo, por qualquer
interessado e é insuscetível de confirmação. A anulabilidade só pode ser arguida por certas pessoas, dentro de um ano a contar da cessação do vício que lhe
serve de fundamento e é sanável por confirmação.
II- Sobre outras pessoas, não se trata de direitos subjetivos, mas de poderes-deveres (poder paternal Art.1878º e o poder tutelar Art.1935º), estes incidem
diretamente sobre a pessoa do filho ou do pupilo, não são direitos de domínio ou soberania sobre a pessoa, não ferindo a sua dignidade, mas visando o seu
beneficio. O pupilo ou o filho estão sujeitos ao poder tutelar. Estes são direitos que conferem poderes destinados a habilitarem os pais ou o tutor ao
cumprimento dos seus deveres para com o filho ou pupilo, podendo os titulares de tais direitos ser sancionados se não exercerem e não cumprirem os deveres
ao serviço dos quais eles se encontram.
III- As prestações, conforme o direito de crédito, conforme foi aludido, o objeto é um confuta, ou seja, a prestação. Nestes direitos o objeto não é rigorosamente
uma coisa, mas um comportamento do devedor. Por vezes, (obrigações de prestação de coisas) a prestação é o objeto imediato e a própria coisa será o objeto
mediato, noutros casos, (obrigações de prestação de facto positivo ou negativo) a prestação é também o objeto da relação jurídica, não sendo de distinguir
entre o objeto mediato e objeto imediato.
IV- Coisas corpóreas ou bens materiais: têm existência física, podem ser apreendidas pelos sentidos, podem ser tocadas, o interesse de saber se são corpóreas
reside no Art.1302º. É necessário que estes objetos corpóreos revistam certos requisitos: existência autónoma, idoneidade para satisfazer interesses humanos,
isto é, devem ser uteis, possibilidade de sujeição jurídica ao poder exclusivo de um ou alguns homens, isto é, devem ser apropriáveis.
CAPÍTULO II
AS COISAS E O PATRIMÓNIO
Quanto aos bens imateriais, objeto dos direitos de autor, podem integrar-se no conceito de coisas, embora tenham um regime especial relativamente ao regime
geral das coisas e não estejam previstas nas várias classificações das coisas enumeradas no Art.203º. São coisas incorpóreas.
No Art.202º é tomado por coisa tudo aquilo “que pode ser objeto de relações jurídicas”, dado que os bens de carácter estático, carecidos de personalidade, só
são coisas em sentido jurídico quando puderem ser objeto de relações jurídicas. Para esse efeito, devem:
1. Ter existência autónoma ou separada (uma casa é uma coisa, não o sendo seriam pedras e paredes separadas);
2. Ter possibilidade de apropriação exclusiva por alguém (não são coisas os bens que escapam ao domínio do ser humano, como estrelas, planetas...);
3. Ter aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas (ser humano é a medida e o critério do relevo jurídico das coisas, por isso não são coisas uma
gota de água, porque não serve para nada);
O CC define várias categorias de coisas, essas têm interesse porque a lei faz, por vezes, corresponder regimes jurídicos específicos a certas categorias e não a
outras. Assim no Art.204º são definidos os vários tipos de coisas.
Fala-se de património global, quando se tem em vista o conjunto de relações jurídicas ativas e passivas (direitos e obrigações) avaliáveis em dinheiro de que uma
pessoa é titular. É importante destacar alguns pontos sobre esta noção:
a) Trata-se do conjunto de relações jurídicas, não se trata do conjunto de imóveis, móveis, créditos ou outros direitos patrimoniais. O património é integrado por
direitos sobre as coisas, direitos de crédito, obrigações e outros direitos patrimoniais.
b) Não fazem parte do património certas realidades, suscetíveis de ter grande relevância para a vida económica das pessoas, mas que não são relações jurídicas
existentes, sendo antes meras fontes de rendimentos futuros, tais como o caso da força do trabalho, da competência técnica de um individuo, etc...
c) Só fazem parte do património as relações jurídicas suscetíveis de avaliação pecuniária, esta pecuniaridade pode resultar do valor de troca do direito, por este
ser alienável mediante uma contraprestação, ou do valor de uso traduzido em um o direito, proporcionar o gozo de um bem, material ou ideal, que só se obtém
mediante uma despesa.
Fala-se de património bruto ou líquido, quando se tem em vista o conjunto de direitos avaliáveis em dinheiro, pertencentes a uma pessoa, abstraindo, portanto,
das obrigações. Trata-se de saldo patrimonial, ou seja, relações jurídicas ativas ou direitos e relações jurídicas passiveis ou obrigações.
Esfera jurídica- totalidade das relações jurídicas de que uma pessoa é sujeito, esta abrange o património e os direitos e obrigações não aviáveis em dinheiro.
O conceito de património traduz a soma ou o conjunto das relações jurídicas avaliáveis em dinheiro, pertencentes a uma pessoa. Quem pretender alienar, por
ato entre vivos, todas as suas relações patrimoniais têm de recorrer aos vários tipos negociais adequados à alienação de cada um dos elementos componentes
do seu património, observando os requisitos necessário para cada um desses atos. Este, é, portanto, um conjunto de relações jurídicas e não uma unidade. Não
há um direito único sobre o património bruto ou global.
II- O património autónomo ou separado será, assim, o que responde por dividas próprias, isto é, só responde e responde só ele por certas dividas. Torna-se
necessário, que um certo património responda apenas por certas dividas do seu titular, não respondendo pelas outras, e que por aquelas dividas só o
património autónomo responda, não podendo elas afetar o património geral do seu titular. As dividas pelas quais só o património autónomo responde, são as
dividas relacionadas com a função especifica, com a finalidade especial desse património.
1. Um estabelecimento comercial seria um património autónomo se, respondesse apenas pelas dividas comerciais do seu titular com exclusão das dividas
estranhas ao exercício do comércio e, se por essas dividas comerciais não respondesses os restantes bens do comerciante.
2. No nosso direito privado, a herança será um património autónomo, se os bens hereditários responderem apenas pelas dividas do de cujus, e não pelas dividas
pessoas do herdeiro, e se pelas dividas do de cujus responder só o ativo da herança e não o património pessoal do herdeiro.
III- No património autónomo no direito português, o caso mais nítido é a herança – conjunto das relações jurídicas patrimoniais que, por força da morte de um
individuo, passam da titularidade deste para os herdeiros e legatários.
As características de uma plena autonomia patrimonial manifestam-se:
a) Tanto no caso de aceitação a beneficio do inventario Art.2071º/1 como se no caso de aceitação pura e simples Art.2071º/2 o herdeiro não responde pelas
dividas da herança para além das forças dos bens herdados, ou seja, não responde ultra vires hereditatis. Sendo que o ónus da prova de insuficiência do ativo
hereditário cabe ao herdeiro e não aos credores na aceitação pura e simples Art.2071º/2 e o ónus da prova da existência de mais bens além dos inventariados
cabe aos credores na aceitação a beneficio de inventario Art.2071º/1 só a herança responde pelas suas dividas e não os herdeiros;
b) Na circunstancia dos credores da herança e os legatários gozarem de preferência sobre os credores pessoais do herdeiro, durante os cinco anos subsequentes
à abertura da sucessão ou à constituição da divida se esta é posterior Art.2070º; os credores pessoais só podem, portanto, pagar-se pelos bens hereditários,
depois de satisfeitos os credores do de cujus, desparecendo assim a autonomia patrimonial com o pagamento destes; passados cinco anos cessa também, a
autonomia patrimonial da herança, estejam ou não pagos os credores do de cujus, pois cessa a preferência consagrada no Art.2070º. A herança só responde, em
principio, pelas dividas da herança, e não por outras dividas Art.2070º
V- Estando um património autónomo afetado à satisfação exclusiva de certas dividas, parece que, se um bem desse património se perde, adquirindo-se
concomitantemente outro valor (ex: vende-se um objeto que é trocado pelo preço correspondente, troca-se um objeto por outro). Se um bem desse património
autónomo se perde, adquirindo-se outro valor, este valor deve substituir-se ao primeiro bem tomando o seu lugar no património autónomo, fazendo as suas
vezes. A isto se chama sub-rogação real. Esta instituição da substituição de uma coisa que se perdeu por força de um ato ou facto jurídico que simultaneamente
implicou a aquisição de um valor, ocupando o novo valor o lugar do anterior, como novo objeto da mesma relação jurídica que já existia.
a) Património Coletivo: trata-se da mesma massa patrimonial que pertence em bloco, globalmente, a um conjunto de pessoas sem possibilidade de cada uma
dessas pessoas alienar uma quota ou fração desse património ou requerer a divisão enquanto não terminar a causa geradora do surgimento do património
coletivo.
A forma que se conhece no nosso direito de um património coletivo é o da comunhão conjugal (quer a comunhão geral de bens, qu er a comunhão de
adquiridos). Quanto às dividas da responsabilidade de ambos os cônjuges temos o Art.1695º; quanto à responsabilidade de dividas de um dos cônjuges temos o
Art.1696º, refira-se que a menção mencionada no Art.1969º só é possível de execução quando se processa à extinção da comunhão conjugal, com a extinção do
casamento ou através da separação de bens entre cônjuges. Nos Art.1682º e 1681º, temos a necessidade de consentimento dos cônjuges na alienação ou
oneração de bens móveis e imóveis de forma a garantir a estabilidade no casamento.
b) A compropriedade ou propriedade comum: aqui estamos perante uma comunhão por cotas ideais, isto é, cada comproprietário é simultaneamente titular do
direito de propriedade sobre a mesma coisa Art.1403º nº1. Trata-se de uma comunhão por quotas ideais, em que cada proprietário tem direito a uma quota
ideal ou fração do objeto comum Art.1403º nº2. Contrariamente ao património coletivo, o comproprietário pode dispor de toda a sua quota na comunhão ou de
parte dela Art.1408º, daí também que o comproprietário não seja obrigado a permanecer na indivisão, podendo exigir a divisão da coisa comum Art.1412º.
CAPÍTULO II
AQUISIÇÃO, MODIFICAÇÃO E EXTINÇÃO DE RELAÇÕES JURÍDICAS
92. Preliminares
Os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos. Esses efeitos jurídicos consistem fundamentalmente numa aquisição, numa modificação ou numa
extinção de relações jurídicas.
a) Noção
A aquisição de direitos é a ligação de um direito a uma pessoa, pensamos no lado ativo da relação jurídica. Diz-se que o sujeito adquire um direito, quando esse
direito se liga a esse sujeito. Não se confundem as noções de aquisição de direitos e de constituição de direitos. A constituição de um direito é o surgimento, é a
criação de um direito que não existia anteriormente. Toda a constituição de um direito implica a sua aquisição, dado não existirem direitos sem sujeito. Mas,
nem toda a aquisição evolve uma constituição de direito, como por ex. a aquisição derivada translativa (adquire-se por transferência um direito já constituído e
preexistente na titularidade de outra pessoa, direito que mantem a sua identidade, apesar da mudança de sujeito).
b) Os dois tipos fundamentais de aquisição de direitos são a aquisição originária e a aquisição derivada.
Na aquisição originária o direito adquirido não depende da existência ou da extensão de um direito anterior, que poderá até não existir. Quando o direito
anterior exista, o direito não foi adquirido por causa desse direito, mas apesar dele. São casos desta, a ocupação de coisas móveis Art.1318º ss, usucapião
Art.1287º ss, no caso de caça e pesca Art.1319º nem sequer há um direito anterior e em todos eles o direito do adquirente não foi adquirido por causa do
direito anterior, mas apenas dele. Na aquisição derivada, o direito adquirido funda-se ou filia-se na existência de um direito na titularidade de outra pessoa, a
existência anterior desse direito e a sua extinção ou limitação é que geral a aquisição do direito pelo novo titular, é que são a causa dessa aquisição. Ou seja, é a
aquisição em que o direito que se adquire depende não só do facto aquisitivo, mas também do direito anterior, como por ex. a aquisição de propriedade através
do contrato de compra e venda, a aquisição de um crédito ou de uma relação contratual por cessão.
Estes caracterizam-se por base num critério de causalidade, que vê a aquisição derivada como consequência ou efeito imediato da extinção subjetiva ou da
limitação de um direito anterior, enquanto que na aquisição originária não existe qualquer ligação causal entre a perda ou diminuição de um direito e a
aquisição.
É importante a distinção entre cessão da posição contratual e subcontrato. A cessão da posição contratual Art.424º ss, por ex a cessão da posição de comprador
ou de vendedor num contrato de fornecimentos periódicos, esta é uma aquisição derivada translativa da posição contratual, ist o é, da relação contratual
emerge do contrato de fornecimento. O subcontrato, por ex a subempreitada Art.1213º é uma aquisição derivada constitutiva, pois uma contratante concede ao
outro a possibilidade de usar a posição contratual que para o primeiro resulte de um contrato principal ao qual este ultimo continua ligado.
e) A transmissão de direitos:
Esta equivale à aquisição derivada translativa. No entanto, num sentido amplo pode-se utilizar a expressão “transmissão de direitos” para abranger qualquer
forma de aquisição derivada. A transmissão, tal como a sucessão refere-se tanto aos direitos, como às dividas.
a) Instituto do registo predial e registo similares (aeronaves, navios...): as pessoas devem inscrever, com o fim de lhes dar publicidade aos diversos atos
inerentes a bens imóveis e outros bens indicados, em particular os atos de que resulte a aquisição de direitos reais sobre os mesmos bens.
Exemplo 1:
A vendeu a um automóvel ou um prédio a B, e depois a C, B e C são terceiros entre s e prevalece a venda a C, se foi primeiramente registada, embora A já não
fosse o verdadeiro proprietário, pois a sua venda a B é plenamente válida e eficaz inter partes. Assim, se B adquire um bem sujeito a registo, mas não o regista e
C adquire o mesmo bem, e o regista, aplica-se a regra da prioridade do registo, e não da aquisição do direito sobre o bem, de modo que, embora A já não seja
proprietário do bem, se verifica uma situação de aquisição a non domino (aquisição de um bem que já não era titulado por A) – logo há um exceção ao principio
do nemo plus iuris.
➔ Enquanto não for registado, embora a aquisição produza efeitos inter partes, estes efeitos não se poderão opor a terceiros quando não haja tal
aquisição sido registada. Assim quanto aos bens sujeitos a registo, não se aplica a regra da prioridade ou prevalência de transmissão, mas a regra
da prioridade do registo.
Exemplo 2:
Se o mesmo prédio for vendido por A a B e por C a D, neste caso prevalece das duas vendas a que foi feita pelo verdadeiro proprietário, mesmo que a outra
tenha sido registada em primeiro lugar.
Exemplo 3:
A vende um prédio a B, que regista a aquisição, e este vende logo a C, que igualmente regista o ato, C terá de abrir mão do prédio, no caso de a primeira venda
(de A a B) ser logo declarada nula ou anulada, dado o efeito retroativo da invalidade da primeira compra, que provoca uma invalidade derivada.
➔ É que o registo estabelece apenas uma presunção de existência da propriedade da pessoa a favor de quem o prédio está registado. Garante
apenas a terceiros, entendendo que o individuo a favor de quem está registado um prédio foi seu titular, ou então ainda o é.
A partir daqui, concluímos que o registo predial não se destina a realizar uma proteção máxima de segurança na aquisição de direito sobre imóveis, mas uma
proteção mais limitada: não a garantir que, se se adquire de quem tem o prédio registado em seu nome, se faz uma aquisição válida e firme, mas, a assegurar
que, se o direito existiu na titularidade dessa pessoa, então ela ainda o conserva.
Esta garantia – a única conferida pelo registo – deve se considerar plena, pelo que deve funcionar, sejam ambas as aquisições onerosas ou gratuitas e sem que
se deva admitir prova tendente a demonstrar que o terceiro devia conhecer, ou conhecia o ato anterior não inscrito, isto é, sem que releve a boa ou má fé
subjetivos do terceiro. A segurança que se pretende garantir ao comercio jurídico, seria fortemente afetada, se o terceiro, adquirente de quem tem um prédio
registado a seu favor, ficasse exposto, às incertezas, aos gastos, tendentes a provar que ele conhecia uma alienação anterior.
Exemplo 1:
Se o simulado adquirente de um prédio, porém, vender ou doar, por ato verdadeiro, o mesmo prédio a um terceiro e este ignorar a simulação, o terceiro
adquire validamente esse objeto Art.243º. Ora, dedo que o vendedor ou doador tinha adquirido a propriedade por ato simulado e, portanto, nulo, o terceiro
adquire de quem não era proprietário, ao invés do que prescreve o principio nem plus júris ... (ninguém pode transferir para outrem mais direitos do que o
próprio tem).
Desta advém a regra geral da proteção de terceiros contra qualquer invalidade (nulidades e anulabilidades) Art.291º - este artigo estabelece um regime de
inoponibilidade da nulidade e anulação de negócios jurídicos anteriores com base nos seguintes pressupostos cumulativos:
1. Estejam em causa bens imóveis ou bens móveis sujeitos a registo;
2. Onerosidade da aquisição;
3. Ser terceiro, são terceiros aqueles que inseridos numa mesma cadeia de transmissões linear e sucessiva, vêm a sua aquisição afetada por um vicio de um
negócio precedente (não pode haver invalidade própria);
4. Haja boa fé, sendo a boa fé determinada no nº3 do Art.291º, como ignorância não culposa das causas de invalidade dos atos anteriores à aquisição do direito
pelo terceiro, ou seja, tem de haver um desconhecimento efetivo no momento da sua aquisição;
5. Ser um negócio nulo ou anulável – só funciona contra causas de invalidade;
6. A aquisição ter de ser registada antes do registo da ação – efeitos laterais do registo;
7. A posição do terceiro só se consolida após 3 anos do decurso do negócio inválido Art.191º nº2 (se for numa cadeia conta o último negocio inválido). Embora
no caso da anulabilidade há sanção pelo decurso do tempo Art.287º nº1.
a) Modificação subjetiva:
Há uma substituição dos sujeitos na titularidade do direito, permanecendo a identidade objetiva do direito. Há uma sucessão no direito, é o que se verifica no
domínio dos direitos de crédito, e quanto a atos inter vivos, com a cessão de créditos e com a sub-rogação nos créditos Art.577º e 589º ss. Pode ainda resultar
de uma multiplicação dos sujeitos por adjunção (p.ex um novo devedor assume a obrigação para com o credor, permanecendo o devedor vinculado).
b) Modificação objetiva:
Muda-se o conteúdo ou o objeto do direito, permanecendo o direito idêntico. Muda o conteúdo se, p. exemplo é concedida pelo credor ao devedor uma
prorrogação do prazo para o cumprimento. Muda o objeto se, p. exemplo não cumprindo o devedor culposamente a obrigação, o seu dever de prestar é
substituído por um dever de indemnizar.
b) Extinção objetiva
Se o direito desaparece, deixando de existir para o seu titular ou para qualquer outra pessoa. Nesta hipótese não há sucessão, transmissão ou aquisição
derivada translativa de direitos. É o que acontece se há destruição do objeto do direito, p. exemplo destruição de coisa por incendio, ou até se há abandono de
um móvel.
Uma forma particular de extinção de direitos é a correspondente aos institutos da prescrição Art.300ºss e da caducidade Art.328ºss
a) Se um titular de direito o não exercer durante certo tempo fixado na lei, extingue-se esse direito. Diz-se nestes casos, que o direito prescreveu, ou que o
direito caducou.
O beneficiário a prescrição, pode recusar o cumprimento da prestação ou opor-se ao exercício do direito prescrito. No entanto, se o devedor, tiver cumprido
espontaneamente a obrigação prescrita, o credor goza de soluti retentio, não podendo o obrigado repetir o que haja prestado Art.304º. Isto porque, as dividas
prescritas passam a constituir obrigações naturais.
A caducidade opera também a extinção do direito.
b) Ao falarmos de prescrição, referimo-nos à prescrição extintiva ou negativa: extinção de um direito que pode não ser acompanhado pela aquisição
correspondente. Tem a ver com objetivos de conveniência ou oportunidade social, mais do que propriamente com objetivos de justiça. Enquanto que na
prescrição aquisitiva ou usucapião: ao contrário da prescrição extintiva aqui adquirem-se direitos reais.
c) A prescrição aplica-se aos direitos subjetivos propriamente ditos, enquanto a caducidade visará os direitos potestativos. A nossa lei, seguindo um critério
formal, afirma que quando um direito deva ser exercido durante certo prazo aplicam-se as regras da caducidade, salvo se a lei se referir expressamente à
prescrição Art.298º nº2.
TÍTULO II
DO NEGÓCIO JURÍDICO E DO SIMPLES ATO JURÍDICO
SUBTÍTULO I
CONCEITO, ELEMENTOS E CLASSIFICAÇÕES
CAPÍTULO I
CONCEITO E ELEMENTOS
99. Relação entre a vontade exteriorizada na declaração negocial e os efeitos jurídicos do negócio
1. Teoria dos efeitos jurídicos
Para esta doutrina, os efeitos jurídicos produzidos, tais como a lei os determina, são perfeitamente e completamente correspondentes ao conteúdo da vontade
das partes. Ou seja, deve haver, exata e completa correspondência entre o conteúdo da vontade das partes e os efeitos jurídicos produzidos tais como a lei os
determina. Os próprios efeitos derivados de normas supletivas resultariam da tácita vontade das partes.
Críticas:
- As partes dos vários negócios não têm uma ideia completa e exata de todos os efeitos que o ordenamento jurídico atribui às suas declarações de vontade. Se
esta doutrina fosse verdade só os juristas completamente informados sobre o ordenamento poderiam celebrar negócios jurídicos.
- As normas supletivas só deixam de se aplicar quando uma vontade real contrária for manifestada, não bastando provar-se que as partes não pensaram no
ponto ou até não teriam querido aquele regime.
Por falta de intenção de efeitos jurídicos temos de distinguir os negócios jurídicos dos chamados negócios de pura obsequidade. -> São promessas ou
combinações da vida social, às quais é estranho o intuito de criar, modificar ou extinguir um vínculo jurídico (convite para jantar).
A falta de vontade de efeitos jurídicos distingue, igualmente, os negócios jurídicos dos chamados meros acordos. -> são combinações sobre matéria que é
normalmente objeto de negócios jurídicos, mas que, excecionalmente, estão desprovidas de intenção de efeitos jurídicos. (empréstimo de honra).
1. Elementos essenciais
Podem ser aqueles relativos à existência do negócio jurídico, sem os quais o mesmo não chegaria a ter existência material, falamos então da declaração, dos
sujeitos e do conteúdo. Segundo a sistematização tradicional, que considera essenciais os requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negócio,
falamos ainda da capacidade das partes, a declaração de vontade sem anomalias e a idoneidade do objeto, Art.280º.
Pode igualmente falar-se de elementos essenciais no sentido de elementos essenciais de cada negócio típico ou nominado. São as características próprias de
cada modalidade negocial, como p. exemplo a locação Art.1022º ss, em que temos:
1º a obrigação de proporcionar à outra parte o solo de cada coisa
2º gozo esse que é temporário (diferente de compra e venda)
3º obrigação da outra parte a pagar a correspondente retribuição
2. Elementos naturais
São os efeitos negociais derivados de disposições legais supletivas. Não é necessário que as partes configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos,
dado que podem ser excluídas por estipulação. São exemplos de normas supletivas, e de efeitos correspondentes a elementos naturais dos respetivos tipos de
negócios jurídico o Art.885º compra e venda.
3. Elementos acidentais
São as cláusulas acessórios dos negócios jurídicos. Elas não caracterizam o tipo negocial em abstrato, mas tornam-se imprescindíveis para que o negócio
concreto produza os efeitos a que elas tendem, como p. exemplo a cláusula de juros.
CAPÍTULO II
CLASSIFICAÇÕES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Mortis causa: destinam-se a produzir efeitos depois da morte do declarante ou depois da morte de alguma das partes. O exemplo mais favorável é o
testamento, que se destaca por ser um ato livremente revogável pelo testador Art.2179º, não sendo sequer renunciável a faculdade da revogação Art.2311, a
transferência dos bens hereditários a favor dos herdeiros e legatórios só se opera após a morte do testador Ar.2031º, os herdeiros ou legatários não podem, em
vida do testador, renuncias à sucessão ou dispor dela Art.2028º nº1e2.
Características:
1- Nos negócios mortis causa há uma prevalência dos interesses do declarante sobre o interesse na proteção da confiança do declaratário, ao contrário dos
negócios inter vivos em que há uma tutela das expectativas da parte que se encontra em face da declaração negocial;
2- O testamento é claramente um negócio mortis causa. As doações por morte são, em princípio nulas Art.946º como quaisquer outros pactos ou contratos
sucessórios Art.2082º nº2. Estes são objeto de uma conversão legal em disposições testamentárias Art.946º nº2.
Certos pactos sucessórios contidos em convenções antenupciais são válidos Art.1700º. Em relação a estes, as disposições a favor de um dos esposados feitas
pelo outro ou por terceiro são negócios híbridos ou mistos já que têm características de negócio mortis causa já que só se verifica transferência de bens depois
da morte, no entanto há uma restrição de poderes feita ao disponente, algo que é típico dos negócios inter vivos Art.1701º.
As disposições a favor de terceiros feitas pelos esposados são negócios mortis causa se o terceiro não interveio na convenção antenupcial Art.1704º e serão
negócios híbridos se ele interveio como aceitante Art.1705º.
Negócios consensuais ou não solenes: São aqueles em que a validade do negócio jurídico não está dependente de qualquer requisito formal, podendo ser
realizado por qualquer comportamento. Ou seja, podem ser celebrados por quaisquer meios declarativos aptos a exteriorizar a vontade negocial, porque a lei
não impõe uma determinada roupagem exterior para o negócio.
O princípio geral do nosso código em matéria do formalismo é o da liberdade declarativa ou liberdade de forma Art.219º. Quando nos casos excecionais, a lei
prescrever uma certa forma e esta não for observada a declaração negocial é nula Art.220º.
Exemplos de negócios formais:
a) Para os quais a lei exige documento autêntico: constituição de associações Art.168º, compra e vende de imóveis Art.875º;
b) Para os quais a lei obriga apenas ao documento particular: doação de móveis não acompanhada de tradição da coisa Art.947º nº2, doação de imóveis
Art.947º;
c) Para os quais a lei exige um documento autenticado: Art.363º nº3 em que há confirmação de determinado negócio jurídico através do notário;
b) A distinção dos negócios jurídicos em onerosos e gratuitos tem como critério o conteúdo e finalidade do negócio nos teros que a seguir se evidenciam:
Os negócios onerosos ou a titulo oneroso: pressupõem atribuições patrimoniais de ambas as partes, existindo, segundo a perspetiva destas, um nexo de
correspetividade entre as referidas atribuições patrimoniais. Cada uma das partes faz uma atribuição patrimonial que considera retribuída ou contrabalançada
pela atribuição da contraparte. Não é necessário um equilíbrio ou uma equivalência das prestações ou atribuições patrimoniais, consideradas pelo sue valor
objetivo ou normal. O que releva á a avaliação das partes ou, mais que a avaliação, a vontade o intento das partes.
De qualquer modo as partes estão de acordo em considerar as duas atribuições patrimoniais como correspetivo uma da outra. Neste sentido pode dizer-se que
no negócio oneroso as partes estão de acordo em que a vantagem que cada uma vida obter é contrabalançada por um sacrifício que está numa relação de
estrita causalidade com aquela vantagem. (arrendamento, aluguer, compra e venda)
Os negócios gratuitos ou a titulo gratuito caracterizam-se pela intervenção de uma intenção liberal. Uma parte tem a intenção devidamente manifestada, de
efetuar uma atribuição patrimonial a favor da outra sem contrapartida ou correspetivo, sem a pretensão de nenhum equivalente económico. A outra parte age
com consciência e vontade de receber essa vantagem sem proporcionar uma vantagem à outra parte (doação e depósitos gratuitos).
Os contratos de jogo e aposto não são válidos, e não constituem fontes de obrigações civis, no entanto quando lícitos são fon te de obrigações naturais
Art.1245º, excetuando-se as competições desportivas com relação às pessoas que nelas tomarem parte Art.1246º e outras exceções previstas em legislação
especial Art.1247º.
No entanto, a lei muitas vezes não restringe os poderes de certas pessoas a atos de ordinária administração sem qualquer especificação. Quando a lei não
esclarece através de uma definição ou de uma enumeração quais os atos que integram uma dada categoria teremos de nos guiar pelos interesses que estão em
jogo e o sentido das normas que espelham esses mesmos interesses.
Assim, atos de mera administração são os correspondentes a uma gestão concedida e limitada, com exclusão dos atos arriscados (que podem originar grandes
lucros e também prejuízos elevados) que afetam a substância dos bens. São, assim os atos que correspondem a uma atuação prudente, dirigida a manter o
património e a aproveitar as virtualidades normais de desenvolvimento:
São atos de mera administração:
a) Atos de conservação dos bens administrados: atos destinados a fazer quaisquer reparações necessárias nesses bens tendentes a evitar a sua deterioração ou
destruição;
b) Atos tendentes a prover à frutificação normal: essa frutificação é a pelo modo habitual parra os bens administrados (atos destinados a prover ao cultivo de
uma terra nos termos usuais do arrendamento);
Atos de disposição são os atos que afetam a substancia de património administrado, que altera a forma ou a composição desse capital administrado, que
atingem a raiz dos bens, ultrapassando parâmetros de uma atuação prudente e comedida.
São, assim, atos de disposição:
a) Atos de frutificação anormal: como é o caso da transformação de um Pinhal em Vinha, abrir uma pedreira num terreno de cultivo;
b) Atos tendentes a prover ao melhoramento do património administrado, desde que não sejam feitos com os rendimentos existentes da administração: como é
o caso da abertura de um poço, ou cercar de muro um prédio rustico não havendo necessidade disso;
c) As alienações onerosas: atos que envolvem transferência de propriedade para outrem (compra e venda, troca). No entanto, nem todas as alienações onerosas
são atos de disposição. Só o são as que afetam a substância dos bens (ex. não é ato de disposição o corte e venda de 20 pinheiros secos que nada estavam a
fazer no pinhal).
d) Onerações: trata-se de imposição de um ónus real sobre um determinado prédio (ex. constituição de uma servidão de passagem).
e) Doações: tratam-se de liberalidades de alienação sem contrapartida;
SUBTITULO II
ELEMNTOS ESSENCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
CAPÍTULO I
CAPACIDADE E LEGITIMIDADE
112. Remissão
A capacidade e a legitimidade são os pressupostos gerais de validade dos negócios jurídicos.
A capacidade traduz-se num modo de ser ou qualidade do sujeito em si.
A capacidade negocial de gozo é a suscetibilidade de ser um sujeito jurídico ser titular de direitos e obrigações derivados de negócios jurídicos. Contrapõe-se-lhe
a incapacidade negocial de gozo que representa um absoluto impedimento ou proibição da titularidade de tais relações e, como tal, é insuprível.
A capacidade negocial de exercício: é a aptidão para celebrar, modificar ou extinguir negócios jurídicos, por atividade própria ou através de um representante
voluntário. Contrapõe-se-lhe a incapacidade negocial de exercício que representa um impedimento ou proibição não absoluta da realização de negócios, e como
tal, é suprível pelos institutos da representação ou da assistência.
A legitimidade é uma relação existente entre o sujeito e o conteúdo do ato. Contrapõe-se-lhe a ilegitimidade, ou seja, a falta dessa relação de tal modo que o
sujeito não pode com a sua vontade afetar esse direito ou essa obrigação.
CAPÍTULO II
A DECLARAÇÃO NEGOCIAL
DIVISÃO I
Noções gerais
Vimos que pode haver uma falta de vontade de ação, uma falta de vontade da declaração e um desvio na vontade negocial. São estes os casos de divergência
entre a vontade e a declaração. Essa divergência pode ainda resultar de um desvio da vontade de ação: ex. a pessoa quer escrever quinta da regaleira, ou prédio
nº20 e por lapso engana-se a escrever ou a falar e sai-lhe quinta da regaleira nº30.
Só lhe caberá tal significado havendo norma legal ou convenção das partes nesse sentido, bem como nas hipóteses:
- de um uso prevalente em certo circulo social (uso geral p. exemplo num determinado ramo de atividade económica);
- ou uma prática estabelecida entre os contraentes a legitimar a atribuição de sentido negocial a um comportamento omissivo (uso particular, p. exemplo no
caso de uma pessoa enviar habitualmente a outra mercadorias que esta recebe, sem aceitar nem rejeitar, e paga em devido tempo, criando-se entre ambas uma
prática deste tipo);
Também é afastada a ideia de que o silêncio vale como declaração quando o silenciante podia e devia falar, o saber se devia ou não falar não é claro e mesmo se
houvesse o dever de falar, não se deve concluir do silêncio uma certa declaração, mas apenas a verificação de um incumprimento do dever de falar suscetível de
incorrer o silenciante na obrigação de reparar os danos causados a outrem pela frustração da sua confiança em receber uma reposta - dano da confiança ou
interesse contratual negativo.
Só tem valor como declaração quando a lei, convenção negocial ou o uso lho atribuam, caso so Art.923º nº2. No que respeita às mercadorias recebidas pelas
pessoas, quando remetidas com a proposta há legislação que protege o destinatário, que não é obrigado a recambiá-las, devendo apenas restitui-las se o
proponente as mandar buscar, estando na sua conservação apenas obrigado a abster-se de as deteoriar por dolo ou negligencia.
A declaração negocial ficta tem lugar sempre que a um comportamento seja atribuído um significado legal tipificado sem admissão de prova em contrário.
Exemplos: Artigo 923º nº2, artigo 1054º. Em processo civil, o caso típico é a chamada confissão ficta (artigo 448º nº1 do código de processo civil)
O regime-regra é o de as presunções legais podem ser ilididas, mediante prova em contrário, só deixando de ser assim quando a lei o proibir (artigo 350 nº2).
Quer isto dizer que salvo os casos excecionais consagrados na lei, as presunções legais são presunções “tantum iuris”.
Afirma-se comummente que o protesto não vale quando o comportamento declarativo só consente a interpretação contra a qual o declarante se quer
acautelar. É o pensamento expresso no aforismo protestitativo facto contraria nihil relevat (por exemplo: a declaração de não querer ratificar um negócio, ao
mesmo tempo que se utiliza ou consome prestação dele derivada). A validade deste aforismo não tem, porém, um alcance absoluto.
Ponderando as vantagens e inconvenientes do formalismo negocial, sancionou o código civil (art. 219º) o princípio da liberdade de forma ou da
consensualidade. Considerando quanto a certos negócios jurídicos prevalecerem as vantagens sobre os inconvenientes admitiu porém numerosas e importantes
exceções a este princípio. Na sistemática do código as normas excecionais que exigem determinada forma encontram-se formuladas a propósito da
regulamentação especial dos negócios ou atos jurídicos a que essa exigência se refere, a alguns dos quais já se aludiu, quando se exemplificou a distinção entre
negócios formais e consensuais.
O formalismo exigível para um certo negócio pode ser imposto pela lei (forma legal) ou resultar de uma estipulação ou negócio jurídico das partes (forma
convencional) como acontece por exemplo, quando durante as negociações prévias se convenciona que o futuro ou futuros negócios entre partes se deverão
revestir de certa forma.
O problema da legitimidade da forma convencional é debatido na doutrina, o código resolveu-o no sentido da admissibilidade e eficácia dos negócios
determinativos da forma (art.223). Porém, é óbvio que o reconhecimento das estipulações das partes sobre forma do negócio não significa que os particulares
possam afastar, por acordo, as normas legais que exigem requisitos formais para certos atos, pois trata-se de normas imperativas. O reconhecimento da formal
convencional significa apenas, poderem as partes exigir determinados requisitos para um ato, pertencente a um tipo de negocial que a lei regula como não
formal ou que sujeita a um formalismo menos solene.
O negócio dirigido à fixação de uma forma especial para um ulterior negócio não está sujeito a formalidades. Com efeito não se exigindo no artigo 223º
quaisquer requisitos formais para o pacto sobre a forma ai previsto, este negócio cairá dentro do campo de aplicação do princípio geral do nosso direito: o
princípio da liberdade de forma (artigo 219º)
III – Âmbito da forma exigida – No que toca ao problema de saber quais as clausulas ou estipulações negociais a que a forma legal é aplicável, quando exigida
entende-se que a forma abrangia não só as clausulas essências do negócio jurídico mas também as estipulações acessórias típicas ou atípicas, quer as
contemporâneas da conclusão do negócio, quer as subsequentes, mas já não se estenderia tal exigência aos chamados pactos abolitivos ou extintivos.
O código civil de 1966 consagrou esta regra na medida em que estatui que em princípio as estipulações acessórias anteriores ao negócio ou estipulações
acessórias anteriores ao negócio ou contemporâneas dele devem revestir a forma exigida pela lei para o ato, sob pena de nulidade (art211). Admitem-se
contudo na mesma disposição restrições a este princípio. Reconhece-se a validade de estipulações verbais anteriores ao documento exigido para a declaração
negocial ou contemporâneas dele, desde que se verifiquem, cumulativamente as seguintes condições:
a) Que se trate de clausulas acessórias – não deve tratar-se de estipulações essenciais e parece dever igualmente tratar-se de estipulações adicionais
que completem documento, que estejam para além do conteúdo do mesmo e não de estipulações que o contradigam que estejam em contrário
dele.
b) Não sejam abrangidos pela razão de ser da exigência de documento (por exemplo: num contrato de compra e venda nada se diz num contrato de
compra e venda sobre o lugar e o tempo do pagamento mas prova-se que as partes convencionaram verbalmente que o preço seria determinado
em certa data e em certo local; parece que tal acordo verbal deve ser respeitado mas não havendo lugar à aplicação de quaisquer normas
supletivas.
c) Que se prove que as cláusulas acessórias correspondem à vontade das partes – este requisito é óbvio pois traduz-se na prova de que a estipulação
existiu, se sobre o ponto de acessório há cláusula no documento, o pacto verbal não será valido pois tem de se admitir que as partes, regulando
aquele ponto no documento, não quiseram de todo o pacto verbal anterior ou contemporâneo. Por outro lado, é manifesto que há uma presunção
natural de o documento ser completo, pelo que na dúvida sobre a existência de uma estipulação acessória anterior ou simultânea, adicional é de
decidir contra a sua existência.
Temos todavia que tomar atenção a possibilidade de as estipulações acessórias não formalizadas, a que se refere o artigo 221 produzirem efeitos em bem
menores do que prima facie pode parecer isto dado o disposto no artigo 394º que declara inadmissível a prova por testemunhas se tiver por objeto convecções
contrárias ou adicionais ou conteúdo de documentos autênticos ou particulares. Assim se defende o conteúdo dos documentos (seu caracter verdadeiro e
integral) contra os perigos da precária prova testemunhal. Em conformidade com a máxima “lettres passent témoins” da coordenação do artigo 221 com o
artigo 394 resulta que as estipulações adicionais não formalizadas, anteriores ou contemporâneas no documento, não abrangidas pela razão determinante da
forma, só produziram efeitos, se tiver lugar a confissão ou se forem provadas por documento, embora menos solene do que o exigido para o negócio (expl. Uma
carta no caso de um negocio dever constar de escritura publica)
Quanto aos pactos modificativos (adicionais ou contrários a clausulas acessórias ou essências constantes do documento) e aos pactos extintivos ou abolitivos o
numero dois do artigo 221 dispensa-os de forma legal prescrita para a declaração, se as razões das exigências especiais da lei não lhes forem aplicáveis. A
aplicação deste critério será segura em alguns casos. Considerava-se que os pactos pelos quais se altera a área do prédio vendido, ou aumenta ou se agrava as
obrigações por exemplo fiança, cuja constituição a lei sujeita a forma, devem considerar-se abrangidos pela exigência de forma legal; mas não já quando o pacto
cancele ou reduza as obrigações de alguma ou de ambas as partes (sujeição a um prazo da obrigação de pagar o preço, remissão do preço, limitação da
obrigação do fiador, etc.) Noutras hipóteses, porém, poderá haver lugar a dúvidas.
IV- Consequências da inobservância da forma:
a) Distinção doutrinal entre formalidades “ad substantiam” e formalidades simplesmente “ad probationem”: as primeiras são insubstituíveis por
outro género de prova, gerando a sua falta a nulidade do negocio, enquanto a falta das segundas pode ser suprida por outros meios de priva mais
difíceis de conseguir (confissão; era também o caso, no nosso antigo direito, do juramento)
b) Consequências da inobservância da forma no nosso direito:
a) Inobservância da forma legal -Em conformidade com a orientação da generalidade das legislações e com os motivos de interesse públicos
que determinam as exigências legais de forma. O Código Civil liga a inobservância da forma legal a nulidade, e não a mera anulabilidade.
Poderá parecer, à primeira vista, que tal solução conduzirá a resultados injustos. Com efeito, nula por falta de forma, uma compra em que o
comprador já pagou o preço ou um mútuo em que a quantia mutuada já foi entregue ao mutuário, parece que haveria um locupletam ento
injusto do vendedor ou do mutuário, pois não seria obrigado a entregar
a coisa vendida ou a restituir a importância recebida, dada a nulidade dos
contratos donde resultaria essa obrigação. Não se verifica, todavia, tal locupletamento à custa alheia, pois, uma vez declarado nulo o
negócio, deverá ser restituído tudo o que tiver sido prestado em consequência do negócio viciado, podendo a prova da prestação, para o
efeito desta obrigação de restituir, ser feita por qualquer dos meios de prova admitidos em geral pela lei. É o que resulta do artigo 289.º
(efeitos da
declaração de nulidade), disposição que está em coerência com o instituto (de aplicação subsidiaria do enriquecimento sem causa (art.473.
), embora o regime da obrigação de restituir particularmente quanto ao objeto (289.º, n.º 1, e 479.º) e quanto à prescrição (482.º), seja, na
hipótese de ter por fundamento uma declaração de nulidade, um regime não coincidente com o regime geral do enriquecimento sem
causa.
A nulidade deixará de ser a sanção para a inobservância da forma legal sempre que, em casos particulares, a lei determine outra consequência (art.220.º). Pode
suscitar-se, a este propósito, o problema de saber se o nosso direito, nalguns casos, não considerará certas formalidades como simplesmente probatórias ou
«ad probationem».
Há que tomar em conta o artigo 364.º do atual Código, integrado nas disposições sobre direito probatório material constante do mesmo. Aí se reafirma no n1 o
princípio o geral, segundo o qual os documentos autênticos, autenticados ou particulares são formalidades «ad substanciam». No n.2, estatui-se que o
documento pode ser substituído por confissão expressa, se resultar claramente da lei que foi exigido apenas para prova da declaração. Donde se infere que
quaisquer documentos (autênticos ou particulares) serão formalidades «ad probatio nem», nos casos excecionais em que resultar claramente da lei que a
formalidade tida em vista ao ser formulada certa exigência de forma foi apenas a de obter prova segura acerca do ato e não qualquer das outras finalidades
possíveis do formalismo negocial (obrigar as partes a reflexão sobre as consequências do ato, assegurar a reconhecibilidade do ato por terceiros ou o seu
controlo no interesse da comunidade, etc.). Admite-se nestes casos, como meio de suprimento da falta do documento, a confissão expressa.
Nem sempre será isenta de dúvidas a aplicação do critério do n.º do artigo 364º: quando é que se poderá concluir «resultar claramente da lei que o documento
é exigido apenas para prova da declaração?” exemplo nítido era o correspondente ao artigo 1088º.Já se defendeu que era também, atualmente, o
caso do artigo 7º n.º 3, do Regime do Arrendamento Urbano.
Na doutrina nacional e estrangeira já se tem posto o problema de saber se a possibilidade de invocação da nulidade por vício de forma não pode ser excluída
por aplicação da cláusula geral da boa-fé ou do abuso do direito entre nós sancionada no artigo 334º
É ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente os limites impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou
económico desse direito». Deverá admitir-se a invocação da nulidade com fundamento em vício de forma, quando essa invocação por uma das partes constitua
um abuso do direito, isto é, quando o comportamento do invocante, globalmente considerado, seja intoleravelmente ofensivo do nosso sentido ético-jurídico?
Assim, p. ex., será verdadeiramente escandalosa, «excedendo manifestamente os limites impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou
económico desse direito» (art. 334º) a arguição da nulidade, com fundamento em vício de forma, por um contratante que a provocou, fazendo como que
falsificar por outrem a sua própria assinatura ou induzindo dolosamente a outra parte a não insistir pela formalização do negócio ou procedendo em termos de
criar na outra parte a expectativa de que a nulidade jamais seria arguida, aceitando, p expl. Públicos, reiterados e dispendiosos testemunhos de gratidão por
uma liberalidade feita, aliás, sem a forma devida. A doutrina tem discutido o problema desde há décadas. Propendia-se para a solução da improcedência da
arguição da nulidade, quando esta arguição revestisse as características de um abuso de direito.
Alguns autores, porém, não admitiam que o princípio do abuso de direito (ou o princípio da boa fé) pudesse limitar a eficácia das normas que exigem a forma,
dados os fins imperativos de segurança que estas têm em vista, pelo que deveriam ser estritamente aplicadas («jus strictum»). Neste sentido se pronunciou
também, num primeiro momento, LARENZ (S48), que, todavia, corrigia a injustiça concreta resultante da indefetível aplicação das regras sobre o formalismo,
impondo, em caso de abuso de direito, ao autor do abuso, a obrigação de indemnizar a outra parte pelo interesse contratual negativo.
Já na anterior edição desta obra se defendeu a primeira solução (embora reconhecendo que o problema, como caso-limite, dava margem a largas
dúvidas).
É certo que a aplicação das regras de forma pode conduzir a uma ou outra solução de menos equidade, sem que possa, todavia, afastar-se a sua aplicação
nesses casos, pois trata-se de um preço conscientemente pago para fruir o rendimento social correspondente às vantagens do for- malismo negocial. É da
essência do direito encarar as condutas subspecie societatis e não sub specíe individui. Entre essas vantagens está a criação e tutela do valor de segurança
jurídica, que só pode ser plenamente realizado sacrificando o critério de “justiça de cada caso”. Esta perspetiva é correta, pois, de outro modo, renunciar-se-ia à
realização do interesse público que subjaz à formulação das exigências de formalismo negocial. Dela decorre que os negócios, afetados por vício de forma,
tenham de ser nulos: se assim não fosse, não se garantiria o acatamento dos preceitos sobre a forma, que passariam a ser meras recomendações.
Tal consideração não exige, porém que as regras da boa forma devam ser consideradas um jus strictum indefetivelmente aplicado, sem qualquer subordinação a
um princípio supremo do direito, verdadeira exigência fundamental do “jurídico” como é o do artigo 334º (abuso do direito). O interprete, desde que lealmente
aceite como boa e valiosa para o comum dos casos a normal que prescreve a nulidade dos negócios feridos de vicio de forma, está legitimado para, nos casos
excecionalíssimos do artigo 334º, afastar a sua aplicação tratando-se a hipótese como se o ato estivesse formalizado. Fora destes casos excecionalíssimos se
uma das partes atou com má-fé nas negociações, o negócio é nulo, mas surgirá uma indemnização por força do artigo 227º
Aliás, os próprios autores que sustentavam o caracter de jus strictum das normas sobre a forma procuravam as escandalosas injustiças a que dá lugar o abuso do
direito através de uma indeminização do chamado dano de confiança. A segurança e a vida jurídica da certeza do direito sendo valores de importância
fundamental na ordenação da vida social e compreendendo-se o seu acatamento mesmo que para isso se pague o tributo de alguma injustiça, não podem ser
afirmadas com sacrifício das elementares exigências do “justo”.
Atualmente a doutrina admite-se que a invocação da nulidade por vicio de forma não proceda quando se verifiquem certas circunstancias qualificadoras da
situação enquadrando-se tais casos seja numa responsabilidade pela confiança seja nos institutos do abuso do direito e da boa-fé. E também a jurisprudência
nacional tem admitido que a invocação da nulidade por falta da forma legalmente exigida possa ser impedida pela proibição do abuso do direito, já desde os
anos 70. São hipóteses enquadradas no abuso do direito de dolus praeteritus em que uma parte obstou à observância da forma legal pré-ordenadamente, para
vir depois a invocar esse vicio ou de inadmissível comportamento contraditório (de venire contra factum proprium ), em que a falta de forma, mesmo que não
provocada dolosamente pela parte que a vem invocar, lhe é imputável , tendo a outra parte efetuado um «investimento» com base na confiança depositada na
validade do negócio.
Há que ter em conta, todavia, que a solução com base no abuso de direito poderá não ser viável ou adequada, pois a exigência legal de forma serve também
interesses públicos e a nulidade pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal. Nestes casos, restará ao lesado exigir o ressarcimento dos danos sofridos, com
fundamento em responsabilidade pré-contratual da outra parte (quando for esse o caso).
Inobservância da forma convencional -Rege a este respeito o artigo 223.º É óbvio que, tratando-se de averiguar quais as consequências da falta de requisitos
formais que a lei não exige, mas as partes convencionaram, a resposta ao problema posto deve ser pedida, em primeiro lugar, à vontade das partes. O artigo
223.º limita-se a estabelecer presunções que, como todas as presunções legais, são em princípio meramente relativas ou «tantum juris» (art. 350.°). Essas
presunções são duas, variando com o facto que é base da presunção. Assim:
1) Se a forma especial foi estipulada antes da conclusão do negócio, consagra-se uma presunção de essencialidade, isto é presume-se sem a
observância da forma, o negócio ineficaz a forma tem, pois, carácter constitutivo;
2) Se a forma foi convencionada após o negócio ou simultaneamente com ele, havendo, nesta última hipótese, fundamento para admitir que as
partes se quiseram vincular desde logo, presume-se que as partes não quiseram substituir o negócio, suprimindo-o e concluindo-o de novo, mas apenas visaram
consolidá-lo ou qualquer outro efeito (p. ex., dar-lhe mais clareza, tomar a prova mais segura, dar-lhe fé em face de terceiros, etc.)
Desta doutrina, constante do artigo 224.º, n.º 1, decorre, para os contratos, ter a nossa lei optado pela doutrina da receção quanto ao momento da sua
conclusão. Quer dizer: o contrato está perfeito quando a resposta, contendo a aceitação, chega à esfera de ação do proponente, isto é, quando o proponente
passa a estar em condições de a conhecer.
Concretizando algo mais: quando a declaração de aceitação foi levada à proximidade do destinatário de tal modo que, em circunstâncias normais, este
possa conhecê-la, em conformidade com os seus usos pessoais ou os usos do tráfico (v. g., apartado, local de negócios, casa); uma enfermidade, uma ausência
transitória de casa ou do estabelecimento são riscos do destinatário, e também é considerada eficaz a declaração que só por culpa do destinatário não foi por
ele recebida - artigo 224º nº2 (nos termos do n. 3 do artº224) todavia, é ineficaz a «declaração recebida pelo destinatário em condições de, sem culpa sua, não
poder ser conhecida»). Não será preciso tanto, todavia, se, por qualquer meio, foi dele conhecido.
A interpretação nos negócios jurídicos é a atividade dirigida a fixar o sentido e alcance decisivo dos negócios, segundo as respetivas declarações integradoras.
Trata-se de determinar o conteúdo das declarações de vontade e, consequentemente, os efeitos que o negócio visa produzir, em conformidade com tais
declarações, e virá a produzir, se não houver qualquer motivo de invalidade.
Como atividade ou operação dirigida à fixação do sentido negocial, a interpretação não pode ser abandonada ao senso empírico de cada intérprete, mas deve
pautar-se por regras ou critérios cuja formulação é, precisamente, o objeto da teoria da interpretação dos negócios ou hermenêutica negocial.
A teoria da interpretação pode ver e vê frequentemente alguns dos seus resultados convertidos em verdadeiras normas jurídicas – dirigidas ao juiz às partes –
onde se fixam os princípios ou critérios interpretativos é o caso dos artigos 236º e seguintes do atual código civil.
II – Para haver uma declaração e interpretar é necessário estarmos perante um ato ou uma conduta voluntaria equiparável, uma ação ou omissão controláveis
pela vontade. Não é declaração negocial – não é rigorosamente ato humano – uma manifestação feita durante o sono, em narcose ou em situação que exclua
toda a direção consciente da vontade bem como a coação absoluta.
Apesar de corresponder ao estado atual do nosso direito civil uma perspetiva objetivista da declaração negocial, não podemos ver nela uma mera notificação ou
comunicação, um simples indício probatório da existência da correspondente vontade dos efeitos jurídicos. Não podemos deixar de a considerar como um ato
determinante, uma manifestação de validade que é o fundamento imediato da verificação dos efeitos jurídicos. Além de ser um ato determinante, a declaração
é também porém um ato social de comunicação que tem de ter relação com aquele a quem se destina ou o conhece. Estes dois aspetos que, exacerbados
conduziram ao “dogma da vontade” ou ao “dogma da declaração” acerca da essência do negócio jurídico conjugam-se na prevalência do elemento objetivo, não
de prendível, porém, da existência de uma vontade de agir (com consciência de validade)
III- As duas tarefas fundamentais da hermética dos negócios jurídicos são dar resposta as seguintes questões:
a) Qual o tipo de sentido negocial decisivo, cuja determinação constitui o fim da atividade interpretativa?
b) Quais os elementos, os meios ou subsídios que o intérprete deve tomar em consideração na busca do sentido negocial relevante?
Para as posições subjetivistas o intérprete deve buscar, através de todos os meios adequados, a vontade real do declarante. O negócio valerá com o sentido
subjetivo, isto é como foi querido pelo autor da declaração.
Para as posições objetivistas o intérprete não vai pesquisar a vontade efetiva do declarante, mas um sentido exteriorizado ou cognoscível através de certos
elementos objetivos. O objeto da interpretação não é a vontade como «facto da vida anímica interior», mas a declaração como ato significante. É uma
interpretação normativa e não uma interpretação psicológica. Não se dá relevo necessariamente à vontade real do declarante, nem sequer necessariamente à
vontade real do declaratório. Não estamos perante uma mera averiguação de factos; há que averiguar factos, mas a conclusão, a partir deles, é valoração
jurídica e critério normativo.
De entre as doutrinas objetivistas merece referência, por ser a melhor das suas variantes, a chamada teoria da impressão, do destinatário; a declaração deve
valer com o sentido que um destinatário razoável, colocado na posição concreta do real declaratório, lhe atribuiria; considera-se o real declaratório nas
condições concretas em que se encontra e tomam-se em conta os elementos que ele conheceu efetivamente mais os que uma pessoa razoável, quer dizer,
normalmente esclarecida, zelosa e sagaz, teria conhecido, e figura-se que ele raciocinou sobre essas circunstâncias como o teria feito um declaratório razoável.
Sindicato dos bancários do sul e ilhas: corporação porque visa interesse comum, de direito privado, utilidade pública, e tipo de fim económico mas não lucrativo.
Fundação Eugénio de Almeida: pessoa coletiva de direito privado, utilidade pública e o fim é desinteressado e altruístico
Pedra e Cal construções lda: pessoa coletiva de direito privado, utilidade particular e interesse económico lucrativo (sociedade por cotas)
Fabrício Cunha – canalizações unipessoal lda: pessoa coletiva de interesse privado, utilidade particular e interesse entómico e lucrativo, (sociedade comercial
unipessoal)
Associação dança jazz: (uma associação não pode ser uma sociedade) pessoa coletiva de direito privado, utilidade publica e de interessado eu egoístico, de fim
ideal não económico
Balancete- SEROT (Sociedade de revisores oficiais de cotas) Pessoa coletiva de direito privado e utilidade particular, interesse económico e lucrativo (sociedade
civil sob forma civil)
Associação dos amigos das cegonhas: pessoa coletiva de direito privado, atividade pública, de fim desinteressado ou altruístico
Bilaterais