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Administração Autónoma

O Professor Freitas do Amaral define a Administração Autónoma como “aquela que


prossegue interesses públicos próprios das pessoas que a constituem e por isso se
dirige a si mesma, definindo com independência a orientação das suas actividades,
sem sujeição a hierarquia ou a superientendência do Governo.”

Em primeiro lugar, a administração autónoma prossegue interesses públicos próprios


das pessoas que a constituem, ao contrário da administração indireta que, como vimos,
prossegue atribuições do Estado, ou seja, prossegue fins alheios.

Em segundo lugar, e em consequência disso, a administração autónoma dirige-se a si


mesma, apresentando-se como um fenómeno de auto-administração: quer dizer, são
os seus próprios órgãos que definem com independência a orientação das suas
actividades, sem estarem sujeitos a ordens ou instruções, nem a diretivas ou
orientações do Governo.

A administração direta do Estado, central ou local, depende sempre hierarquicamente


do Governo; a administração estadual indireta está sujeita em princípio à
superintendência do Governo – em alguns casos, porém, em função das
particularidades de algumas das entidades pertencentes à administração indireta, o
legislador considera preferível ou vê-se mesmo forçado a sujeitá-las a simples poderes
de tutela – sendo de qualquer modo o Governo que, com maior ou menor intensidade,
traça a orientação e define os objectivos fundamentais a prosseguir. Diferentemente se
passam as coisas com a administração autónoma, uma vez que esta se administra a si
própria e não deve obediência a ordens ou instruções do Governo, nem tão-pouco a
quaisquer diretivas ou orientações dele emanadas.

O único poder que constitucionalmente o Governo pode exercer sobre a


administração autónoma é o poder de tutela do artigo 199º, nº 4 do artigo 229º e artigo
242º da Constituição, que, como veremos, é um mero poder de fiscalização ou
controlo, que não permite dirigir nem orientar as entidades a ele submetidas.

Entidades públicas que pertencem à Administração autónoma:


• As associações públicas;
• As autarquias locais;
• As regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
As primeiras são entidades de tipo associativo; as segundas e as terceiras são as
chamadas pessoas coletivas de população e território. Em todas elas há um substrato
humano: todas são agrupamentos de pessoas, diferentemente do que acontece na
administração indireta, onde tanto os institutos públicos como as empresas públicas
são substratos materiais, organizações de meios – serviços, patrimónios,
estabelecimentos ou empresas.

As regiões autónomas dos Açores e da Madeira integram-se na administração


autónoma embora tenham características muito distintas das associações públicas e
das autarquias locais. As regiões autónomas não estão abrangidas pelos poderes de
tutela administrativa que impendem sobre os demais entes da administração autónoma,
embora não se possa excluir liminarmente a possibilidade de, em certas circunstâncias
bem delimitadas, o Governo da República fiscalizar certas funções executivas levadas
a cabo pelas administrações regionais.

As associações públicas

A maior parte das associações são entidades privadas. Mas algumas associações há
que a lei cria ou reconhece com o objectivo de assegurar a prossecução de certos
interesses coletivos, chegando mesmo a atribuir-lhes para o efeito um conjunto de
poderes públicos – que exercem relativamente aos seus membros e, nalguns casos,
mesmo em relação a terceiros - , ao mesmo tempo que as sujeita a especiais restrições
de carácter público. Estas outras entidades têm ao mesmo tempo natureza associativa
e de pessoas coletivas públicas, pelo que não podem deixar de ser qualificadas como
associações públicas.
Podemos assim definir associações públicas como sendo as pessoas coletivas públicas,
de tipo associativo, destinadas a assegurar autonomamente a prossecução de
determinados interesses públicos pertencentes a um grupo de pessoas que se
organizam com esse fim.

• Associações de entidades públicas: tratam-se de entidades que


resultam da associação , união ou federação de entidades públicas menores e,
especialmente, de autarquias locais. Constituem exemplos deste tipo de
entidades as associações de freguesias de direito público (Lei nº 175/99, de 21
de Setembro), as comunidades intermunicipais de direito público (Lei nº
11/2003, de 13 de Maio) e as áreas metropolitanas (Lei nº 10/2003, de 13 de
Maio).
• Associações públicas de entidades privadas: é esta a categoria
mais importante de associações públicas, constituindo, de certa forma, o seu
paradigma. Como exemplos, podemos apontar as ordens profissionais – que
basicamente começaram por ser associações de profissões liberais, embora
hoje muitos dos profissionais inscritos sejam trabalhadores subordinados – e
as câmaras profissionais.
• Associações públicas de carácter misto: há associados públicos
e particulares, uns e outros com direito a participar na assembleia geral ou
num órgão deliberativo equivalente, em proporções variáveis. E nos órgãos
executivos estão também presentes, em conjunto, tanto os representantes do
Estado ou de outra ou outras pessoas coletivas públicas, como os
representantes dos associados particulares.

Em suma, para serem consideradas associações públicas têm que corresponder


a três requisitos, que são eles: qualidade de pessoa coletiva de direito público,
a sua natureza deve ser associativa e devem ainda possuir personalidade
jurídica.
Quanto ao seu regime jurídico, as regras aplicáveis encontram-se em vários
diplomas como a LAPP (Lei 2/2013, de 10 de Janeiro) e tal como as restantes
pessoas coletivas de direito público também está contemplada na Constituição
( Artigo 3º/3) ou (Artigo 22º), tendo as suas limitações no artigo 276º/4 CRP.
Também sujeitas a regras de direito privado podemos encontrá-las nos artigos
157ª e ss. do Código Civil.

Autarquias Locais

Em sentido subjetivo ou orgânico, é o conjunto das autarquias locais. Em sentido


objetivo ou material, é a atividade administrativa desenvolvida pelas autarquias locais.
A existência de autarquias locais no conjunto da Administração Pública portuguesa é
um imperativo constitucional. Na verdade, determina o artigo 235º da CRP.

São compostas por 4 elementos:


• Território;
• População;
• Interesses comuns e próprios;
• Órgãos representativos.

São autarquias locais: freguesias e municípios.


• Freguesias: são as autarquias locais que, dentro do território
municipal, visam a prossecução de interesses próprios da população residente
em cada circunscrição paroquial. Têm como funções a realização do
recenseamento, a administração de bens próprios e atribuições a nível da
assistência social e da saúde pública. É composta por um órgão deliberativo e
representativo dos habitantes – a Assembleia de Freguesia - , e por um órgão
executivo – a Junta de Freguesia.
• Municípios: são as autarquias locais que visam a prossecução
de interesses públicos da população residente na circunscrição concelhia,
mediante órgãos representativos por ela eleitos. Os principais órgãos são: a
Assembleia Municipal, a Câmara Municipal e o Presidente da Câmara.

Em suma, os municípios e a freguesias são ambos pessoas coletivas públicas de cariz


territorial no entanto a diferença entre ambos reside no facto de os municípios
prosseguirem interesses de uma circunscrição territorial maior, que envolve várias
freguesias. As atribuições dos municípios é definida numa cláusula geral, na Lei das
Autarquias Locais ( Lei 75/2013, de 12 de Setembro), nomeadamente no artigo 23º/1.
Tendo no nº 2 do mesmo artigo os domínios em que os municípios actuam.
Artigo 23.º
Atribuições do município
1 - Constituem atribuições do município a promoção e salvaguarda dos interesses
próprios das respetivas populações, em articulação com as freguesias.
2 - Os municípios dispõem de atribuições, designadamente, nos seguintes domínios:
a) Equipamento rural e urbano;
b) Energia;
c) Transportes e comunicações;
d) Educação, ensino e formação profissional;
e) Património, cultura e ciência;
f) Tempos livres e desporto;
g) Saúde;
h) Ação social;
i) Habitação;
j) Proteção civil;
k) Ambiente e saneamento básico;
l) Defesa do consumidor;
m) Promoção do desenvolvimento;
n) Ordenamento do território e urbanismo;
o) Polícia municipal;
p) Cooperação externa.

Regiões Autónomas

As regiões autónomas dos Açores e da Madeira são pessoas coletivas de direito


público, de população e território, que pela Constituição dispõem de um estatuto
político-administrativo privativo e de órgãos de governo próprio democraticamente
legitimados, com competências legislativas e administrativas, para a prossecução dos
seus fins específicos.
Esta definição tem de ser compreendida à luz do artigo 6º da Constituição, segundo o
qual o nosso País constitui um Estado unitário, que respeita na sua organização e
funcionamento o regime autonómico insular. Como podemos consultar no artigo
225º/1 da CRP, as características geográficas de ambas as regiões levem a uma maior
autonomia, que passa pela descentralização administrativa e também política.
Nas regiões autónomas podemos encontrar um sistema de governo composto pela
Assembleia Legislativa, o Governo Regional e o Representante da República.
Compete à Assembleia Legislativa elaborar e apresentar projecto de decretos
legislativos regionais. p Governo é representado pelo Representante da República e
este por sua vez é nomeado e exonerado pelo Presidente da República, exercendo
apenas competências políticas e nunca administrativas.

Bibliografia

Amaral, Diogo Freitas do (2015). Curso de Direito Administrativo (4ª ed., Vol. I).
Almedina

Adriana do Nascimento, nº28523, subturma 15

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