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TEMA: 10

 Continuação da aula anterior:


3. Espécies de Pessoas Colectivas Públicas;
4. Regime Jurídico das Pessoas Colectivas Públicas;
5. Órgãos das Pessoas Colectivas Públicas.

3. Espécies de Pessoas Colectivas Públicas


As espécies de pessoas Colectivas Públicas subdividem-se em: Estado; as Autarquias
locais; os Institutos Públicos; as Empresas Públicas; as Associações Públicas, sendo que
esssas espécies conduzem a três tipos de categorias de Pessoas Colectivas:

3.1. Pessoas Colectivas de População e Território ou de Tipo Territorial


Correspondem a grupos humanos ligados pela vida em comum num mesmo solo, tal é o
caso do Estado e das Autarquias locais.
Assim:

a) O Estado
A palavra Estado pode ser entendida sob diferentes acepções, nomeadamente, a
internacional, a constitucional e a administrativa, sendo, portanto, a concpção
administrativa que releva pertinente para o presente estudo, pois aqui o Estado é a
pessoa colectiva pública que, no seio da comunidade nacional, desempenha, sob a
direcção do Governo, a actividade administrativa. Nesta acepção o Estado é uma
organização administrativa.

 Estado Como Pessoa Colectiva Pública


No âmbito do Direito Administrativo é o Estado-administração sendo uma pessoa
colectiva pública autónoma, que não se confunde com:
 Os Governantes que o dirigem: pois o Estado é uma organização permanente,
enquanto os governantes são indivíduos que transitoriamente desempenham funções
como dirigentes da organização.
 Os Funcionários: pois o Estado é uma pessoa colectiva, com património próprio,
enquanto os funcionários são indivíduos que actuam ao serviço do Estado, mas
mantendo a sua individualidade humana e jurídica. O que significa que se o
funcionário do Estado agir como sujeito privado é o seu património pessoal que
responde pelas dívidas contraídas ou pelos danos causados outras pessoas. No
entanto, se o mesmo funcionário causar danos no exercício de funções públicas e
por causa desse exercício, então é o património do Estado responsável pela
compensação dos danos causados, em clara demostração o artigo 58.º da CRM).
 O Estado não se confunde com as Autarquias Locais, com os Institutos Públicos
e nem com as Associações Públicas:poiscada uma destas entidades possui
personalidade jurídica própria, o seu património, as suas atribuições e competências.

 Os Cidadãos: pois o Estado tem personalidade jurídica própria, o que permite que o
mesmo estabeleça relações jurídicas com os cidadãos, quer como sujeito activo,
quando o Estado exerce o seu direito de punir os actos contrários à unidade
nacional, nos termos do artigo 39.º da CRM, ou como sujeito passivo, quando recai
sobre o Estado o dever de respeitar os direitos e liberdades fundamentais do homem,
nos termos do artigo 3.º da CRM.

 Espécies de Administração do Estado


Há duas formas de o Estado exercer a sua Administração, são elas:

1. Administração por via Directa ou Administração Directa do Estado


É exercida por órgãos e serviços inseridos no próprio Estado. Estes serviços podem ser
de âmbito central ou local (CRM, artigos 249.º). O Governo é o principal órgão da
administração central do Estado (artigos 199.º e 202.º da CRM).

As Principais características desta Administração são:


 Unicidade - O Estado é a única pessoa colectiva deste género. Ao conceito de
Estado pertence apenas um ente – o próprio Estado;

 Carácter Originário - Todas as outras pessoas colectivas públicas são sempre


criadas ou reconhecidas por lei. O mesmo não acontece com a pessoa colectiva
Estado, que não é criada pelo poder constituído. Tem natureza originária, não
derivada, e por essa razão alguns dos seus órgãos, como por exemplo o Governo,
são órgãos de soberania;
 Territorialidade - O Estado é uma pessoa colectiva de cuja natureza faz parte um
certo território, o território nacional. É a primeira e a mais importante, das pessoas
colectivas de população e território, estando todas as parcelas territoriais, mesmo
afectas a outras entidades, como é o caso das autarquias, sujeitas ao poder do Estado
(n.º 1 do artigo 264.º da CRM);

 Multiplicidade de Atribuições - O Estado é uma pessoa colectiva de fins múltiplos,


que prossegue diversas atribuições, como é o caso da educação, saúde, transportes,
energia, entre outros, o que o distingue de outras pessoas colectivas públicas, que só
podem prosseguir fins singulares,

 Pluralismo de Órgãos e Serviços - São numerosos os órgãos do Estado, bem como


os serviços administrativos que auxiliam esses órgãos, por exemplo: o Governo, os
Ministros, os Secretários Permanentes, os Directores de Serviços. Os serviços
públicos de saúde, serviços de bombeiros, serviços de registos e notariados;

 Organização em ministérios - Os órgãos e serviços do Estado, ao nível central,


estão estruturados em departamentos, organizados por assuntos ou matérias,
denominados ministérios: Ministério da Agricultura, da Saúde, das Pescas, entre
outros;

 Personalidade Jurídica Una - Apesar da multiplicidade das atribuições, do


pluralismo dos órgãos e serviços e da divisão em ministérios, o Estado mantém
sempre uma personalidade jurídica una. Todos os ministérios pertencem à mesma
pessoa jurídica: o Estado. Daí resulta que o Património do Estado que é só um,
esteja afecto a diferentes ministérios. A sua gestão está a cargo do Ministério das
Finanças, através da Direcção Nacional do Património do Estado;

 Instrumentalidade - A Administração do Estado é subordinada, não sendo


independente e nem autónoma. É um instrumento para o desempenho dos fins do
Estado. A Constituição submete a Administração directa do Estado ao poder de
direcção do Governo (artigos 200.º e 203.º da CRM). A administração indirecta fica
sujeita à superintendência ou tutela do Estado (artigo 277.º da CRM);
 Estrutura Hierárquica - A Administração directa do Estado encontrase organizada
por um modelo constituído por órgãos e agentes com atribuições comuns e
competências diferenciadas, ligados por um vinculo de subordinação (artigo 252.º
da CRM);

 Supremacia - O Estado-administração por ser originário e instrumental


relativamente aos fins do Estado, exerce poderes de supremacia, não só em relação
aos sujeitos de direito privado, como também sobre as outras entidades públicas.
Veja-se que os institutos públicos e as autarquias estão sujeitos à superintendência e
à tutela do Estado, respectivamente.

II. Administração Por Via Indirecta ou Administração Indirecta do Estado


É exercida por pessoas colectivas públicas criadas por lei e distintas do Estado, dotadas
de personalidade jurídica e autonomia administrativa e financeira. A justificativa para a
Administração indirecta é o constante alargamento e a crescente complexidade das
funções do Estado e da vida administrativa, tornando-se necessária a criação de
entidades de fins específicos e com um relativo grau de especialidade.
Assim integram a administração estadual indirecta:
 Pessoas Colectivas Públicas do Tipo Institucional, integrando os Institutos Públicos
e as Empresas Públicas;
 Pessoas Colectivas Públicas do Tipo Associativo, são as Associações Públicas.

As Principais características desta Administração são:


 A Administração estadual indirecta é uma modalidade da administração pública
em sentido objectivo, ou seja, é uma forma de actividade administrativa;
 É uma actividade que se destina à realização de fins do Estado, logo, é uma
actividade de natureza estadual;
 Trata-se de uma actividade que o Estado transfere, por decisão sua, para outras
entidades distintas dele. A esta transferência dá-se o nome de devolução de
poderes;
 As actividades e poderes que o Estado confere a outras entidades continuam a
ser, de raiz, poderes do próprio Estado, o qual pode em qualquer momento,
retirar-lhes e chamar de novo a si, a sua realização. Porém, tal só poderá ocorrer
nos termos da lei;
 A administração estadual indirecta é exercida no interesse do Estado, mas é
desempenhada, pelas entidades a quem está confiada, em nome próprio e não em
nome do Estado. Como se disse anteriormente, a responsabilidade pelos actos
destas pessoas não recai sobre o Estado, mas sim nelas próprias; Dado que a
actividade é desenvolvida no interesse do Estado, o mesmo tem poderes de
intervenção sobra as pessoas colectivas públicas que as exercem.
 É constituída por um conjunto de pessoas colectivas públicas distintas do
Estado, com personalidade jurídica própria;
 As pessoas colectivas públicas que exercem a Administração estadual indirecta,
são criadas e extintas por livre decisão do Estado;
 As pessoas colectivas públicas que integram a administração estadual indirecta
estão dotadas de autonomia administrativa e financeira, o que significa que
tomam elas as suas próprias decisões, gerem a sua própria organização, cobram
as suas receitas, realizam as suas despesas e organizam as suas contas;
 O grau de autonomia de que dispõem, bem como o maior ou menor
distanciamento em relação ao Estado, é variável. Por exemplo, no caso das
empresas públicas, verifica-se o nível máximo da autonomia; no tocante aos
institutos públicos, o distanciamento mostra-se por vezes menor, na medida em
que estes funcionem como direcções dos ministérios a que respeitam.

b) Autarquias Locais
São à semelhança do Estado, pessoas colectivas públicas de população e território.
Segundo Gilles Cistac, a existência de uma base territorial e de uma população como
critério de classificação das pessoas colectivas de Direito Público, permite destacar o
Estado e as Autarquias locais das restantes. Explica o autor que é através da sua
população e do seu território que a Autarquia Local vai constituir a sua identidade.

Ora vejamos:

 A População da Autarquia Local


É constituída pelos residentes no território respectivo. Não é a naturalidade que confere
a qualidade de membro de uma Autarquia Local, mas sim, a nacionalidade e a
residência.
Neste caso, seriam os moçambicanos residentes no território da Autarquia, devendo a
residência ser habitual na área da Autarquia e não ocasional.

 O Território da Autarquia local


As autarquias locais assentam sobre uma fracção do território nacional, que toma a
designação de circunscrição territorial, é a parcela do território que identifica a
autarquia local.
Ex: o Município da Cidade de Maputo, circunscreve-se àquela parcela territorial e não
pode estender as suas actividades ao Município da Matola.
Assim, o papel que o território desempenha relativamente à Autarquia Local é múltiplo,
sendo que:
 Identifica a Autarquia - por exemplo: a Cidade de Maputo; a Cidade de
Inhambane; a Vila de Catandica;
 Define o agregado populacional cujos interesses vão ser prosseguidos pela
Autarquia - as pessoas residentes no território da autarquia local que vão
constituir a sua população;
 Delimita as atribuições e as competências da Autarquia Local e dos respectivos
órgãos - os órgãos das Autarquias Locais só têm competência em função da área
a que dizem respeito. Cada autarquia pode actuar relativamente à porção do
território que lhe está afecta.

3.2. Pessoas Colectivas do Tipo Institucional


Integram a categoria de pessoas colectivas públicas do tipo institucional, os institutos
públicos e as empresas públicas.

a) Instituto Público
É uma pessoa colectiva pública, do tipo institucional, criada para assegurar o
desempenho de determinadas funções administrativas de carácter não empresarial,
pertencentes ao Estado ou a outra pessoa colectiva pública.
Portanto:
Da definição dada, resulta que:
 por ser uma pessoa colectiva pública, o Instituto Público tem personalidade
jurídica própria;
 O instituto público é pessoa colectiva pública do tipo institucional, sendo o seu
substrato (base) uma instituição e não um conjunto de pessoas como acontece
com as associações que são constituídas a partir do agrupamento dos seus
membros;
 O instituto público é criado para desempenhar determinadas funções
administrativas e não todas as funções administrativas, ou seja, os institutos
públicos têm por função exclusiva o desempenho de funções administrativas,
não podendo desempenhar por exemplo funções políticas ou funções privadas;
 As funções administrativas prosseguidas pelo instituto público devem ser
determinadas, ou seja, não podem ser todas as funções administrativas, mas sim,
uma determinada função administrativa; Por exemplo o Instituto Nacional de
Estatística dedica-se exclusivamente àquela área, fornecendo os vários
indicadores de que o país carece, n.º de habitantes, diferenciação em função do
género, população activa, agregados familiares;
 O instituto público desempenha actividades de carácter não empresarial, facto
que o diferencia das empresas públicas. Na verdade, o orçamento do instituto
público provém maioritariamente do Estado, enquanto as empresas públicas que
têm carácter empresarial, asseguram a sua sobrevivência através das receitas
obtidas com a venda de bens ou a prestação de serviços, não obstante poderem
receber uma participação do Estado;
 As funções desempenhadas pelos institutos são pertencentes ao Estado ou a
outras pessoas colectivas públicas como é o caso das Autarquias, o que significa
que não são funções próprias. O instituto ao exercê-las fá-lo de forma indirecta.
2.

 Espécies de Institutos Público Segundo


Os Institutos Públicos podem ser de três espécies:
 Os Serviços Personalizados - são serviços públicos de carácter administrativo a
que a lei atribui personalidade jurídica e autonomia administrativa e financeira. 1

1
São exemplos: o Laboratório de Engenharia de Moçambique (LEM), o Instituto Nacional de Estatística,
a Administração Nacional de Estradas, entre outros;
 As Fundações Públicas - assentam basicamente num património e existem para
o administrar e vivem da gestão financeira desse mesmo património.2
 Os Estabelecimentos Públicos - são estabelecimentos abertos ao público,
destinados a fazer prestações de carácter cultural ou social aos cidadãos.3

b) Empresas Públicas
São organizações económicas de fim lucrativo criadas com capitais públicos e sob a
direcção e superintendência de órgãos da Administração Pública. Em Moçambique, a
Lei n.º 17/91, de 3 de Agosto, aprovou o regime jurídico respeitante à criação e
funcionamento das empresas públicas.4

 Traços Fundamentais da Empresa Pública


A Empresa pública:
 É uma pessoa colectiva pública dotada de personalidade jurídica pública;
 Tem sempre uma Direcção Pública, e está sujeita à superintendência de órgãos
da Administração Pública. Refira-se que no nosso ordenamento jurídico, a
indicação do Presidente do Conselho de Administração das Empresas Públicas é
feita pelo Presidente da República;
 Tem capitais públicos, provindo o financiamento inicial que forma o capital da
empresa do Estado. O seu património também é público.

c) Pessoas Colectivas Públicas do Tipo Associativo


São as que têm por base um agrupamento de vários indivíduos ou de pessoas
colectivas, sem fins lucrativos, criadas para assegurar a prossecução de interesses
públicos determinados pertencentes ao Estado ou a outra pessoa colectiva pública. 5

2
São exemplos de fundações públicas os fundos públicos, designadamente: o Fundo de Energia; o Fundo
de Estradas, o Fundo do Ambiente;
3
O exemplo desta categoria são as Universidades Públicas.
4
São exemplos destas empresas: a Televisão de T Moçambique, a Rádio Moçambique e os Transportes
Públicos de Maputo.
5
O exemplo no país é o da Associação Nacional dos Municípios de Moçambique.

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