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29 de dezembro de 2020
Controladoria-Geral da União (CGU)
Secretaria Federal de Controle Interno (SFC)
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO
Órgão: Ministério da Justiça e Segurança Pública
Unidade Examinada: Secretaria Nacional de Segurança Pública - Senasp
Município/UF: Brasília/DF
Relatório de Avaliação: 829819
Missão
Elevar a credibilidade do Estado por meio da participação social, do controle
interno governamental e do combate à corrupção em defesa da sociedade.
Avaliação
O trabalho de avaliação, como parte da atividade de auditoria interna, consiste
na obtenção e na análise de evidências com o objetivo de fornecer opiniões ou
conclusões independentes sobre um objeto de auditoria. Objetiva também
avaliar a eficácia dos processos de governança, de gerenciamento de riscos e de
controles internos relativos ao objeto e à Unidade Auditada, e contribuir para o
seu aprimoramento.
POR QUE A CGU REALIZOU ESSE
QUAL FOI O TRABALHO?
TRABALHO No ano de 2017, no Brasil, houve mais de 65,5 mil
homicídios, o que corresponde a uma taxa de 31,6
REALIZADO mortes por 100 mil habitantes. Essa taxa é mais de 30
vezes a taxa da Europa. Diante desse cenário no Brasil,
PELA CGU? o Governo Federal desenvolveu o PEFB, com o intuito
responder a esse desafio da criminalidade violenta no
O objetivo geral deste trabalho é país. O PEFB possui caráter multiagencial,
avaliar os processos de governança interfederativo e interdisciplinar, em consonância com
e de gestão do Projeto Piloto Em o previsto na Lei nº 13.675/2018, que instituiu o SUSP.
Frente Brasil (PEFB). Com base na
experiência do piloto, será Devido à relevância do PEFB para o Brasil, e da
desenvolvido o Programa Nacional complexidade da sua estrutura de governança e gestão,
de Enfrentamento à Criminalidade a CGU atuou de forma preventiva, propondo
Violenta (PNECV), em escala aprimoramentos com relação aos processos de
nacional. governança, de controles internos e gestão de riscos.
RECOMENDAÇÕES 48
CONCLUSÃO 51
ANEXOS 54
No art. 6º da referida Lei estão descritos os objetivos-chaves, dentre os quais, no inciso XXIII,
está previsto o objetivo-chave “priorizar políticas de redução da letalidade violenta”.
A Lei também foi uma resposta ao compromisso assumido pelo Brasil no Agenda 2030 da
Organização das Nações Unidas (ONU), cujo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
16 é “Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável,
proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e
inclusivas em todos os níveis”.
Concebido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), o projeto alia ação
interministerial com ações interfederativas, e a intenção é promover a transformação das
1
Modelo Lógico do Projeto, página 8.
2
Segundo o Modelo Lógico do PEFB, cerca de 120 municípios do país concentram em torno de 50% dos
homicídios em 2017.
3
Modelo Lógico do Projeto, página 14.
6
realidades no curto, médio e longo prazos por meio da cooperação e da integração. Em um
primeiro momento, o projeto foi instituído em caráter experimental (piloto). Assim, a partir
dos diagnósticos locais personalizados, as cidades selecionadas serão atendidas por meio da
atuação transversal e multidisciplinar nas áreas de educação, saúde, habitação, emprego,
cultura, esporte e programas sociais. Em um primeiro ciclo, foram escolhidas cinco cidades
com relevantes indicadores de homicídios, uma em cada região: no Norte, Ananindeua (PA);
no Nordeste, Paulista (PE); no Sudeste, Cariacica (ES); no Sul, São José dos Pinhais (PR); e, no
Centro-Oeste, Goiânia (GO).
De acordo com o Governo Federal, as avaliações realizadas a partir do projeto piloto Em Frente
Brasil têm gerado evidências para a formação do Programa Nacional de Enfrentamento à
Criminalidade Violenta (PNECV), que ganhará escala a nível nacional, para os territórios com
indicadores mais elevados de criminalidade violenta.
7
• Avaliar a gestão e supervisão do MJSP, quanto ao processo de elaboração do
Diagnóstico Local de Segurança - DLS, notadamente em relação à suficiência e
completude das informações dos DLS; e
• Avaliar o processo de priorização das ações previstas no Plano Local de Segurança -
PLS.
Por fim, em que pesem os achados identificados ao longo do relatório, cujo condão é auxiliar
a gestão no atingimento de seus objetivos, o projeto piloto EFB foi baseado nas melhores
práticas nacionais, como o Guia Prático de Análise ex ante do Governo Federal para
elaboração do Modelo Lógico, utilizando experiências exitosas nacionais e internacionais.
Ainda, como boa prática apontada no citado Guia, antes da instituição para todo o país do
Programa Nacional de Enfrentamento à Criminalidade Violenta - PNECV, foi realizado o
projeto piloto, com a intenção de testar na prática o desenho inicial pretendido. A partir de
lições aprendidas será possível aperfeiçoar a concepção inicial do PNECV, bem como os
mecanismos a serem utilizados quando da implementação da política.
A seguir, serão abordados os Achados de Auditoria, tanto positivos quanto negativos, que
subsidiaram as opiniões da equipe de auditoria com relação ao objeto avaliado. Quando
pertinente, com base no julgamento profissional da equipe, serão propostas recomendações
para aprimoramento das fragilidades constatadas, de modo a mitigar potenciais riscos
identificados por meio da auditoria.
8
RESULTADOS DOS EXAMES
A Nota Técnica nº 06 do IPEA4, utilizada pelo MJSP como referencial para elaboração do
Modelo Lógico do Projeto em Frente Brasil, define “Ação” como sendo os processos que,
combinando apropriadamente os recursos adequados, produzem bens e serviços com os
quais se procura atacar as causas do problema.
Dessa forma, não há que se falar no desenvolvimento de ações de uma política pública sem o
devido planejamento quanto aos recursos que serão utilizados para esse fim.
Os recursos definidos no modelo lógico devem incluir os orçamentários como também os não
orçamentários necessários e suficientes para que o programa alcance os seus objetivos. O
alcance e as metas devem ser compatíveis com os recursos disponíveis.
Assim, a capacidade de a política pública atingir seus objetivos, atacando a fonte dos
problemas e alcançando resultados e metas compatíveis com os objetivos propostos, durante
a implementação da política, depende fortemente de quais são os instrumentos disponíveis,
aí incluindo recursos financeiros, sua capacidade de aplicação e de que forma eles serão
utilizados na ação pública.
O Projeto em Frente Brasil pretende ser o piloto para instituição futura do Programa Nacional
de Enfrentamento à Criminalidade Violenta. Trata-se de uma política de caráter
interministerial, com ações de articulação e integração multidisciplinares (segurança pública,
saúde, educação, esporte, cultura, trabalho). E, justamente por ser tratar de um projeto piloto,
torna-se ainda mais importante que todos os elementos do modelo lógico sejam trazidos com
clareza e detalhamento suficientes.
Na leitura do modelo lógico do Projeto Em Frente Brasil verifica-se que não há menção quanto
à previsão dos recursos orçamentários que serão utilizados pelo Governo Federal para as
ações previstas no documento.
4
Nota Técnica nº 06 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) – Como elaborar Modelo Lógico: roteiro
para formular o programa e organizar avaliação – Brasília – 2010.
9
A apresentação do Modelo Lógico dispõe que:
Uma das formas apontadas pelo IPEA para, em linhas gerais, testar o desenho do programa, é
descrever a lógica de intervenção com hipóteses, verificando uma série de assertivas “se –
então”:5
Ressalta-se que o teste só se torna possível se o modelo lógico da política descreveu de forma
clara todos os seus elementos, de acordo com a figura a seguir:
Resultados Resultado
Recursos Ações Produtos Intermediários Impactos
Final
Uma das possíveis causas para o MJSP não ter definido os recursos do Projeto Em Frente Brasil
no Modelo Lógico pode advir de o projeto ser ainda um piloto. Contudo, justamente por se
tratar de um piloto, é essencial que a previsão de recursos conste do documento, bem como
a sua clara vinculação às ações propostas. Tal fato permite a melhor realização de testes no
modelo proposto, assim como uma análise mais consistente da viabilidade e sustentabilidade
do Programa.
5
Teste de Consistência do Modelo Lógico. Nota Técnica nº 6 do IPEA (pag. 14).
6
Inclusive, a Lei de Responsabilidade Fiscal determina que a criação, expansão ou aperfeiçoamento da ação
governamental que acarrete aumento da despesa, seja acompanhada de estimativa de impacto orçamentário-
financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos dois subsequentes. Portanto, o gestor deve
estabelecer metas de entrega de produtos ou benefícios para o período de 3 anos. Tal fato permite monitorar e
10
(LOA), ou seja, para que uma despesa seja realizada, ela tem de estar prevista em alguma ação
orçamentária e adequada a essa7. Assim, seria possível, mesmo que de forma geral e não
detalhada, que o órgão trouxesse para o Modelo Lógico informações acerca dos recursos que
serão utilizados nas etapas de iniciação, Fase 1 e Fase 2 do Projeto Em Frente Brasil.
avaliar a política durante e após a implementação das ações, além de permitir a tomada tempestiva de decisões.
Outros detalhes estão descritos no Registro 3 desta NA
7
São exceções as despesas não orçamentárias, tais como as financiadas com recursos do FGTS, ou com recursos
próprios das agências oficiais de fomento, ou financiadas por meio de renúncias de receita, entre outras. (Guia
Ex Ante, pag. 119)
11
2. Deficiências na identificação das relações de causalidade entre os
componentes do Modelo Lógico
A elaboração de uma política pública se inicia com a identificação de um problema a ser
enfrentado. Consequentemente, a política é formulada para atuar sobre as fontes ou as
causas de um determinado problema ou conjunto de problemas, sendo sua solução ou
mitigação o objetivo geral da ação pública.
A Nota Técnica nº 6 do IPEA descreve, no item sobre estruturação do programa para alcance
de resultados, que as ações do programa devem estar orientadas para mudar causas críticas
do problema, aquelas sobre as quais se deve intervir pelo seu maior efeito para a mudança
esperada. Essas ações geram produtos, que serão bens ou serviços ofertados aos beneficiários
do programa. Em decorrência dos produtos das ações, os resultados intermediários
evidenciam mudanças nas causas do problema e, por sua vez, levam ao resultado final
esperado, que está diretamente relacionado ao objetivo do programa, refletindo a mudança
do problema.8
8
Nota Técnica nº 06 – IPEA, pag. 10.
12
Figura 2 - Ações do Projeto Em Frente Brasil9
Ademais, o Modelo Lógico também não estabelece quais são as causas críticas do problema
identificado e, talvez por essa razão, se torne difícil a percepção da vinculação das ações
propostas aos resultados intermediários e finais pretendidos, que evidenciariam as mudanças
9
Modelo Lógico do Projeto Em Frente Brasil.
13
nas causas apontadas. Segundo o Guia Ex Ante, a efetividade da política depende também da
clareza e do foco em atacar determinadas causas do problema. Podem existir muitas causas
para um problema, mas muitas dessas terão associação fraca ou muito indireta com a política
que está sendo proposta e, na situação sempre constante de escassez financeira, a aplicação
dos recursos deve ser focada, de modo a garantir maior eficiência, eficácia e efetividade nos
resultados pretendidos.
Registra-se que a árvore de problemas trazida no Modelo Lógico do Projeto Em Frente Brasil,
e ilustrada na figura a seguir, teria condições de subsidiar a definição dessas causas
consideradas críticas e, consequentemente, das ações por meio das quais os objetivos seriam
atingidos.
10
Fonte: Modelo Lógico do Projeto Em Frente Brasil.
14
A relação bem estruturada de causas e efeitos na estrutura do Modelo Lógico permite a
identificação de falhas lógicas na concepção da intervenção, como redundâncias, atividades
inconsistentes e/ou expectativas causais irrealistas. Durante a etapa de planejamento de uma
política, é também útil para detectar os principais problemas que podem vir a surgir durante
sua implementação, permitindo que seu desenho seja aperfeiçoado de forma a evitá-los.
(Guia Ex Ante, pg. 97)
15
3. Deficiências na identificação de elementos essenciais para o
monitoramento do Projeto em Frente Brasil
Quando se fala em monitoramento, avaliação e controle é importante ressaltar que as
políticas públicas deverão dispor de11:
A partir da elaboração do Modelo Lógico é possível definir aonde o Programa está querendo
chegar e quais objetivos pretende atingir em termos de insumos, atividades, produtos,
resultados e impactos. É importante que se estabeleçam indicadores suficientes para a
verificação dos progressos alcançados e do alinhamento aos objetivos propugnados.
Ressalta-se que não está sendo desconsiderado nessa análise o fato de o Projeto Em Frente
Brasil ainda estar em fase incipiente, não tendo sido concluídos até o momento os Planos
Locais de Segurança de todos os municípios piloto.
Na análise realizada no Modelo Lógico do Projeto Em Frente Brasil não foram identificados
quais são os indicadores e metas que poderão balizar esse monitoramento, o que pode ter
11
GUIA Ex ante, pag. 163/164.
16
sido causado pelo fato de também não haver clareza sobre quais sejam os resultados
intermediários e final das ações propostas.
O Guia Prático de Análise Ex Ante ressalta que a definição de metas quantitativas é essencial
para a avaliação da eficácia, eficiência e efetividade da política. O uso de indicadores
quantitativos e/ou qualitativos apropriados faz parte, então, do desenho da política. Após a
implantação da política pública, esses parâmetros iniciais poderão ser comparados com os
resultados efetivos e as metas alcançadas, no âmbito de avaliações Ex post.
Por outro lado, os referenciais utilizados nessa análise apontam que: o uso de modelos lógicos
também auxilia a estruturação de sistemas de monitoramento. Nem sempre se percebe que
o monitoramento é condição necessária à avaliação e que ele serve de bússola para correções
de rumo, contribuindo para o ajuste fino de decisões tomadas anteriormente e como radar
para detectar falhas que precisam ser rapidamente atacadas. Na medida em que insumos e
12
Fonte: Avaliação de Políticas Públicas – Guia Prático de Análise Ex Ante
17
processos estejam mapeados e produtos e resultados listados, é possível identificar pontos de
controle à produção de políticas públicas que apontem avanços e, também, eventuais
inconsistências.13
Diante do exposto, cumpre salientar que o governo federal atua precipuamente como indutor
e coordenador da política de enfrentamento à criminalidade violenta. Compete a ele garantir
a observância plena ao quarto eixo do Projeto Em Frente Brasil: o eixo da Governança e
Gestão, que diz respeito aos mecanismos de liderança, estratégia e controle utilizados para
avaliar, direcionar e monitorar a gestão quanto às atividades de planejamento, execução,
controle e correção de rumos.
• Prejuízo quanto à forma de mensuração dos resultados devido à não definição clara
de metas e indicadores;
• Dificuldade na identificação de problemas e gargalos nas fases iniciais do Programa
inviabilizando possíveis correções de rumo necessárias às demais etapas da política;
• Prejuízo à transparência do Programa devido a não disponibilização de dados quanto
aos resultados intermediários da política;
• Prejuízo à economicidade, uma vez que não há monitoramento sistemático de todas
as fases do desenho da política pública;
• Redução no grau de governança da política por ausência de um monitoramento
institucionalizado e com papéis e responsabilidades definidas.
Para este Achado, foi emitida a recomendação 4 descrita no anexo Recomendações deste
relatório. Como já mencionado anteriormente, essa recomendação continua sob
monitoramento pela CGU, uma vez que ainda não houve publicação do Modelo Lógico para o
PNECV.
13
Guia Ex ante, pag. 97
18
Criminalidade Violenta” (PNECV). De acordo com o documento, participariam do Comitê, além
do próprio MJSP:
Dessa forma, a governança do Projeto Em Frente Brasil ficou a cargo deste Comitê
Interministerial, tendo como órgão coordenador, a Senasp do MJSP.
Presidente do Comitê de
Presidente da República
Governança
Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da • Incentivar, promover e monitorar
República as ações e metas previstas nos
Ministro Chefe da Secretaria de Governo da planos e acordo de resultados;
Presidência da República Membros efetivos-natos
Ministro Chefe da Secretaria-Geral da do Comitê de • Apreciar e avaliar os painéis e
Presidência da República Governança relatórios gerenciais;
Ministro da Cidadania
Ministro do Desenvolvimento Regional • Participar e conduzir as reuniões
Ministro da Economia de controle e avaliação.
19
MEMBROS FUNÇÃO COMPETÊNCIAS
Ministro da Educação
Ministro da Justiça e Segurança Pública
Ministro da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos
Ministro da Saúde
Contudo, este Comitê de Governança não chegou a ser criado, tendo sido relatado pelo MJSP
que se utilizariam do Comitê Interministerial para a realização do Projeto Piloto, e que outro
seria efetivamente criado quando da instituição do PNECV.
O Guia Prático de Análise Ex Ante de Avaliação de Políticas Públicas observa que formular
políticas consistentes requer um estudo prévio de como articular os atores que mais influem
sobre a busca de soluções. Do contrário, haveria a ilusão, para não dizer a ingenuidade, de
achar que o sucesso da política decorre naturalmente de sua eficiência gerencial. Descreve
ainda que os arranjos institucionais de implementação são a combinação de regras,
mecanismos e processos com os quais uma política conta para garantir os insumos necessários
e propiciar a interação coordenada de diversos atores, sejam eles os copartícipes na decisão,
parceiros de implementação, beneficiários, responsáveis pela fiscalização e interessados na
transparência e na avaliação.
Cria-se, a partir de uma política transversal como o Projeto Em Frente Brasil, o que alguns
autores chamam de “rede de políticas públicas”, que é um conjunto de relações relativamente
estáveis de natureza não hierárquica e interdependente ligando uma variedade de atores que
compartilham interesses comuns em relação a uma política e trocam recursos com o objetivo
de perseguir estes interesses comuns, conscientes de que a cooperação é o melhor modo de
se alcançar as metas comuns (BÖRZEL, 1998).
Torna-se clara nesse tipo de rede a dependência entre os atores envolvidos na política, uma
vez que, isoladamente, não conseguem alcançar os objetivos propostos sem a participação
20
dos demais partícipes. A cooperação entre atores, desse modo, torna-se questão central para
explicar o sucesso ou o fracasso das políticas públicas (HILL e HUPE, 2002).
De forma geral, os Ministérios partícipes do Projeto em Frente Brasil, por meio de seus
representantes designados, participaram satisfatoriamente das reuniões do Comitê
Interministerial, contribuindo com dados e informações relevantes para os objetivos da
política. Foram realizadas dezessete reuniões ordinárias e duas extraordinárias, entre
maio/2019 e fevereiro/2020, quando foi realizada a última. Cumpre ressaltar que nem todas
as reuniões do Comitê tiveram atas elaboradas, o que dificultou a verificação do engajamento
dos representantes ministeriais e os avanços quanto aos temas propostos.
No entanto, verificaram-se também alguns aspectos que poderão ser aperfeiçoados, talvez
não mais no âmbito do Projeto em Frente Brasil, mas certamente quando escalonado
nacionalmente para o PNECV.
O primeiro diz respeito a constatação de que não houve submissão formal do Modelo Lógico
do Projeto Em Frente Brasil a todos os Ministérios partícipes, bem como aos entes
subnacionais.
21
Conforme preceitua a NT nº 06 do IPEA14, o processo de formulação do modelo lógico deve
contribuir para garantir as seguintes condições:
O último tópico extraído da NT nº 06 já deixa clara a necessidade de que o modelo lógico deva
ser construído ou ao menos validado e aperfeiçoado por todos os envolvidos na política
pública.
Esse assunto está detalhadamente descrito no Achado 5 deste Relatório. Contudo, julga-se
importante abordá-lo sob a perspectiva da fragilidade da instância de governança federal,
quanto à articulação e coordenação da política, uma vez que o Governo, em muitas situações,
assume o risco de produzir políticas inconsistentes, especialmente se os objetivos dos
diferentes ministérios envolvidos são divergentes e/ou concorrentes. Uma boa articulação e
coordenação de uma instância de governança forte mitigaria tal risco e daria mais legitimidade
a todo o processo.
14
Nota Técnica nº 6 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) – Como elaborar Modelo Lógico: roteiro
para formular o programa e organizar avaliação.
22
trazida pelo documento e que se impõe à gestão e boa governança de uma política
interfederativa diz respeito a:
Por fim, o último aspecto verificado na coordenação dos Ministérios partícipes do Projeto Em
Frente Brasil em que se observou oportunidades de melhoria diz respeito ao pouco
engajamento dos participantes do Comitê Interministerial em relação às ações propostas no
Plano de Trabalho.
No entanto, a Senasp é apenas uma entre outras cinco secretarias do MJSP que direta ou
indiretamente estão envolvidas com as competências anteriormente descritas.
23
Quadro 2- Composição das Coordenações Executivas
¹preferencialmente, devem ser indicados Secretários de Secretarias que tenham ampla transversalidade com as demais
secretarias da estrutura do Estado/Município
Importante observar o que foi descrito no Quadro para a escolha dos indicados como
secretários no âmbito estadual e municipal para que preferencialmente a escolha recaia em
secretarias que tenham ampla transversalidade com as demais secretarias. Infere-se que o
mesmo raciocínio fora utilizado quando da escolha da Casa Civil no âmbito federal.
Para o êxito de uma política dessa magnitude, a instância de governança central precisa ser
capaz de coordenar múltiplos atores políticos, administrativos, econômicos e sociais. Nesse
sentido, é importante manter a coerência e o alinhamento de estratégias e objetivos entre as
organizações envolvidas; institucionalizar mecanismos de comunicação, colaboração e
articulação entre os atores envolvidos; e regular as operações.15
15
Referencial básico de governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública / TCU. Versão 2 –
Brasília, 2014.
24
liderança que promova coordenação efetiva por meio da adoção de um modelo claro de
cooperação entre os ministérios e com a inclusão das demais partes interessadas,
direcionando sinergicamente os esforços com vistas ao alcance dos objetivos pretendidos.
A norma ABNT NBR ISO 31000:201816 - Gestão de Riscos – Diretrizes descreve que:
Em consonância com a norma ABNT acima, o Decreto nº 9.203/2017, que dispõe sobre a
política de governança da administração pública federal direta, autárquica e fundacional,
considera como gestão de riscos:
Das citadas normas, é possível verificar que o gerenciamento dos riscos permite compreender
os contextos internos e externos de uma organização18, a atribuição dos papeis
organizacionais (inclusive das demais partes interessadas), autoridades, responsabilidades e
16
As premissas de sua metodologia são consideradas diretrizes para a gestão de riscos no âmbito do MJSP,
conforme a Portaria GM/MJSP nº 31 de 17 de janeiro de 2018.
17
De acordo com a ISO 31000:2018, página 1, parte interessada é uma pessoa ou organização que pode afetar,
ser afetada ou perceber-se afetada por uma decisão ou atividade.
18
Diante do contexto sob análise, é possível estender esse conceito para uma política pública com gestão
compartilhada, como o PNECV.
25
responsabilizações, alocações de recursos de forma racional e comunicações necessárias para
a tomada de decisões fundamentadas e, por fim, para garantir com razoável segurança o
atingimento dos objetivos pretendidos.
No que tange ao processo de gestão de riscos eficaz, é fundamental considerar o papel da Alta
Administração para transmitir o “tom do topo”, demonstrando liderança e comprometimento
contínuo com a gestão de riscos19 e a cultura ética de uma organização. Na mesma toada, o
inciso I, art. 5º do Decreto nº 9.203/2017, prevê como mecanismo para o exercício da
governança pública a liderança, que compreende um conjunto de práticas de natureza
humana ou comportamental exercida nos principais cargos das organizações, de modo a
assegurar a existência de condições mínimas para o exercício da boa governança.
Ademais, no inciso IV, do art. 4º do referido Decreto, está prevista para a governança pública
a seguinte diretriz, e que se aplica integralmente ao objeto em análise, que tem caráter
multiagencial, interfederativo e interministerial:
19
Conforme a ISO 31000:2018, página 4, “a eficácia da gestão de riscos dependerá da sua integração na
governança e em todas as atividades da organização, incluindo a tomada de decisão. Isto requer apoio das partes
interessadas, em particular da Alta Direção.
20
A interpretação de partes interessadas nesse contexto não deve ser taxativa, antes, exemplificativa.
26
Em contraponto às melhores práticas relacionadas à gestão de riscos, ao Decreto nº
9.203/2017 e à própria Portaria GM/MJSP nº 31/2018, foi informado21 pelos gestores que no
âmbito do projeto piloto:
Não houve processo de avaliação dos riscos realizado de forma conjunta entre
os Ministérios. Acredita-se que a realização desse processo é competência e
atribuição exclusiva de cada Ministério na perspectiva de planejamento e
execução das respectivas ações;
Importante mencionar que, apesar de não ter ocorrido a participação conjunta das demais
partes interessadas na análise dos riscos do projeto piloto, verificou-se que os gestores do
EFB, dentro do MJSP, realizaram a identificação e avaliação de riscos relacionados ao objeto
de auditoria sob análise, inclusive com proposição de medidas visando mitigar/tratar os riscos
levantados22. Contudo, tais medidas não foram suficientes, considerando a natureza da
política pública em tela, a qual possui caráter interdisciplinar e envolve os demais entes
federativos e seus órgãos e entidades.
Ainda quanto ao fato, convém informar que foram entrevistados pela equipe de auditoria,
pontos focais que participaram do Comitê Interministerial. Das entrevistas, houve
unanimidade23 com relação à importância de se discutir a gestão de riscos no âmbito do
projeto piloto. Inclusive, houve relato de um ponto focal entrevistado sobre um risco
específico, que poderia impactar o objetivo pretendido pelo programa, que só poderia ser
identificado por pessoas diretamente envolvidas com o tema da pasta ministerial.
21
Informação nº 87/2020/EFBRA/DPSP/SENASP.
22
A análise dos riscos identificados e avaliados internamente pelos gestores do EFB não havia sido aprovada
internamente no âmbito do MJSP quando da aplicação dos procedimentos de auditoria.
23
Não foram entrevistados todos os Ministérios participantes do Comitê Interministerial.
27
podem ser ampliados de forma geométrica, abrangendo todas as disciplinas”24. No caso
concreto, riscos externos ao MJSP, de origem de órgão ou entidade parceiro, podem impactar
significativamente o objetivo de redução das taxas de criminalidade violenta e, até mesmo,
inviabilizar a ação estatal.
Após aplicação dos procedimentos de auditoria, evidenciou-se que tal situação se deve à falta
de internalização da cultura de gestão baseada em riscos por parte das lideranças, bem como
ao atual estágio da política de gestão de riscos no âmbito do MJSP que ainda é considerado
incipiente.
Do exposto, pode-se considerar diversos efeitos adversos e que podem comprometer o bom
desempenho e a viabilidade do PNECV, quais sejam:
• A análise isolada dos riscos por cada Ministério não leva em consideração a
interconectividade dos riscos, podendo acarretar uma análise equivocada para o
PNECV e, por conseguinte, impactos significativos no atingimento dos objetivos
pretendidos por meio da ação estatal;
• As decisões dos gestores tomadas sem embasamento criterioso/formal a respeito dos
principais riscos que possam interferir no atingimento dos objetivos propostos no
Projeto, podendo implicar baixa eficácia nos resultados pretendidos;
• Concorrência e/ou conflito entre as ações e objetivos pretendidos pelo PNECV e ações
socioeconômicas dos outros ministérios;
• Priorização de ações de menor eficiência em detrimento de outras porventura mais
eficazes, devido a falhas no gerenciamento de riscos do Projeto (identificação, análise
e avaliação);
• Prejuízo à governança do PNECV ao não considerar a integração do processo de gestão
de riscos ao de governança;
• Prejuízo ao processo de controles internos do PNECV, uma vez que este não tem por
base a identificação, a avaliação e o gerenciamento de riscos que possam impactar a
consecução dos objetivos estabelecidos para o programa (IN MP/CGU 01/2016, art.
3º);
• Baixa integração da gestão de riscos às atividades significativas e funções do
programa;
• Potencial prejuízo à escalabilidade do Projeto quando da instituição do PNECV devido
à deficiência dos arranjos institucionais relacionados à gestão de riscos e o
monitoramento dos seus impactos;
• Deficiências na troca de informações (oportunidade, clareza e disponibilidade) a
respeito dos principais riscos que possam impactar o atingimento dos objetivos
pretendidos com o PNECV.
Por todo o exposto, conclui-se que há distorções relevantes com relação ao processo de
gestão de riscos no âmbito do projeto piloto e que podem impactar significativamente os
objetivos pretendidos quando houver a escalabilidade para o Programa Nacional de
24
Artigo “O que é a interconectividade entre os riscos e por que ela é tão importante?” do Brasiliano.
Agosto/2018. Disponível em: https://www.brasiliano.com.br/16-interconectividade-entre-riscos. Acesso em
31/10/2020.
28
Enfrentamento à Criminalidade Violenta. Além disso, considerando o processo de gestão de
riscos basilar para a boa governança de uma organização ou política pública, pode-se
considerar também esse achado como uma das causas para as deficiências na Governança do
PNECV (Achado 4).
25
O sistema Córtex é utilizado para acompanhar as operações nas fases de agendamento, andamento,
cancelamento, início e término de todas as operações e ações das organizações de segurança envolvidas nas
Áreas de Interesse Operacionais (AIO). Sinteticamente, é o sistema utilizado para monitoramento do esforço
realizado pelas Forças-Tarefas. Nesse sistema há também painéis que consolidam as informações das FTs e que
auxiliam no acompanhamento gerencial das operações por parte do MJSP e partes interessadas.
29
Cite-se ainda o Plano Estratégico de Atuação Integrada – PEAI, para a Fase 1:
De acordo com o Referencial para Avaliação de Governança em Políticas Públicas26, item 3.1.8
- Accountability, considera-se como boa prática a “documentação, manutenção de registros e
divulgação de operações e resultados da política de maneira sistemática”.
26
Disponível em:
https://portal.tcu.gov.br/data/files/61/86/7D/09/8CA1F6107AD96FE6F18818A8/Referencial_avaliacao_govern
anca_politicas_publicas.PDF>. Acesso em: 12 de novembro de 2020.
30
apresentados Relatórios de reuniões ocorridas, que evidenciam as tratativas entre os gestores
das três esferas.
Em relação aos Planos Operacionais Integrados (POI), foi feito um para cada município
participante do PEFB. Verificou-se que os documentos trazem, além da Matriz de
Responsabilidades dos órgãos componentes das Forças-Tarefas, os Protocolos de Atuação
Integrada, que determinam as operações a serem realizadas por mais de um agente público,
dentro de cada natureza de crime (feminicídio, tráfico de drogas, fiscalização de bares etc.).
Como também descrito neste Relatório (Achado 10), embora diversas ações no sistema Córtex
mostrem uma integração entre os órgãos em seus registros, pela descrição de algumas delas
não é possível determinar se os Protocolos de Atuação Integrada acima citados estão sendo
efetivamente seguidos, impedindo assim o cotejo do que foi planejado com o que foi
efetivamente executado.
Sobre a periodicidade na alimentação do sistema Córtex, pôde-se notar que a ferramenta tem
sido diariamente atualizada com os registros das operações, incluindo data e horário, sua
natureza (Fiscalização, Repressão Qualificada e Prevenção e Ações Sociais, por exemplo), os
órgãos participantes, a(s) AIO(s) em que a ação acontecerá e o Relatório de Atividades, após
o término da operação (quando preenchido, conforme visto mais acima).
Verifica-se, portanto, que há vários documentos que não foram adequadamente preenchidos,
relativos às reuniões, além de no sistema Córtex não haver clara vinculação das ações ao
Planejamento Integrado, conforme apontado anteriormente. Apesar das falhas nos controles
internos, em diversos momentos percebeu-se a articulação e a coordenação entre os
partícipes da Fase 1, como nas reuniões realizadas entre os gestores e os integrantes das
Forças-Tarefas e na integração entre os agentes partícipes das operações realizadas nos
municípios.
Por todo o exposto, conclui-se que é necessário que todos os passos de um projeto piloto
como este em análise estejam bem documentados, a fim de que os gerentes do Projeto
possam decidir com segurança sobre os rumos da política e traçar suas estratégias baseadas
em informações completas e confiáveis. Há que considerar também a importância da
rastreabilidade das informações para garantir o cumprimento das obrigações de
accountability, notadamente com relação à transparência, à prestação de contas e à
conformidade dos atos de gestão.
27
Art. 11 da IN MP/CGU nº 01/2016
32
entrevistas com os gestores federais e os coordenadores das Forças-Tarefas, a fim de captar
sua percepção quanto à suficiência e disponibilização dos dados.
Um dos critérios adotados para a avaliação foi o Modelo Lógico do projeto piloto (PEFB), que,
sobre as atividades das Forças-Tarefas, no item 2.3.2.7 dispõe:
A Avaliação Semanal compreende analisar a eficácia das ações previstas nos POI,
correções de possíveis desvios de planejamentos, de modo a não se perder os
objetivos previstos da Fase 1.
Foi também consultado o Plano Tático Integrado - PTI, que estabelece em seus itens 7.2.1 a
7.2.4 o que segue sobre os ciclos de atuação da Fase 1:
33
Nas avaliações, serão produzidos os relatórios de atuação e de ocorrências no
território, de forma a se permitir a mensuração por dia, horário, turno e série
histórica de comparação, permitindo-se mensurar e demonstrar eventuais
resultados.
De acordo com Referencial para Avaliação de Governança em Políticas Públicas 28, item 3.1.8 -
Accountability, considera-se como boa prática justamente a “documentação, manutenção de
registros e divulgação de operações e resultados da política de maneira sistemática”.
Do exame, observou-se que, quanto às reuniões dos “agentes com expertise em segurança
pública” (PEAI, item 4.1.2.1.2) que definiram as chamadas Áreas de Interesse Operacional
(AIO’s) de cada município, não foram apresentadas atas ou documentos equivalentes que
descrevessem o conteúdo das discussões promovidas. Os gestores apontaram três
videoconferências (realizadas entre abril e junho de 2019) com os representantes das Forças-
Tarefas; porém, foi verificado que tal documentação apresenta os resultados das reuniões e
das decisões tomadas, não se constituindo num registro do que foi efetivamente tratado. A
importância desse memorial está no fato de que todas as ações realizadas posteriormente na
Fase 1 tiveram por base a definição das AIO’s, ou seja, das regiões que necessitavam de maior
atenção dos órgãos de segurança, e as atas dessas discussões, além de registro histórico,
poderiam ainda servir de fonte de consultas posteriores, considerando a intenção de expandir
o projeto piloto para um programa nacional de abrangência maior, no caso o Programa
Nacional de Enfrentamento à Criminalidade Violenta (PNECV).
28
Disponível em:
https://portal.tcu.gov.br/data/files/61/86/7D/09/8CA1F6107AD96FE6F18818A8/Referencial_avaliacao_govern
anca_politicas_publicas.PDF
34
são as videoconferências mencionadas no parágrafo acima e as visitas técnicas promovidas
pelo MJSP, concretizadas tanto em Brasília/DF como nos próprios municípios, inclusive com a
presença do então Ministro em algumas delas, para apresentação das ações desenvolvidas
pelo Choque Operacional. Os Relatórios de Viagem apresentados pelos gestores da esfera
federal demonstram esses encontros, embora pudessem estar mais bem detalhados em
conteúdo, constituindo-se, como no exemplo do parágrafo acima, em registro histórico do
PEFB.
No que tange às reuniões promovidas pelos órgãos gestores da área federal, não foram
fornecidas à equipe as atas das reuniões realizadas pelo Gabinete de Governança das Forças-
Tarefas29, não sendo possível verificar se as autoridades componentes desse colegiado
avaliaram as atividades desenvolvidas. Questionados, os gestores esclareceram que as atas
das reuniões do Comitê Técnico foram validadas pelo então Ministro, apresentando os
Despachos comprobatórios. Porém, importa ressaltar que tal ato não substitui uma análise
feita de forma colegiada, que certamente agregaria maior valor ao exame das ações, na
medida em que contaria com os pontos de vista dos dirigentes dos órgãos responsáveis pela
implementação do Projeto, em sua fase de Choque Operacional.
Da verificação dos anexos dos cinco Relatórios de Atividades do Comitê Técnico do Gabinete
de Governança das Forças-Tarefas (CT-GGA/FT), averiguou-se que, em diversas ocasiões, os
órgãos componentes das Forças-Tarefas não disponibilizaram aos gestores federais as
informações competentes à sua área de atuação. Também foi observado que os encontros
nos municípios nem sempre ocorriam semanalmente, contrariando o disposto no Modelo
Lógico e na Portaria nº 723, já citada, e que alguns encaminhamentos determinados não
receberam uma resposta clara em documentos posteriores. Tais impropriedades podem
impactar no monitoramento e avaliação gerencial dos trabalhos desenvolvidos, bem como na
transparência das medidas adotadas e responsabilização dos partícipes. Considere-se,
ademais, que a questão do monitoramento será ainda mais crucial quando da expansão do
projeto piloto para o PNECV, a ser lançado pelos organismos ministeriais de diferentes áreas
e em um número de municípios muito superior ao do PEFB.
29
Instituído pela Portaria MJSP nº 723/2019.
35
de término para 20 de janeiro de 2020, portanto antes do início das medidas sanitárias
adotadas em razão do combate à COVID-19.
Ainda considerando o ML, no que se concerne à definição da Fase 1, está descrito que:
30
Não foram aplicados procedimentos de auditoria quanto à aplicação/execução dos recursos repassados.
36
[...] a repressão qualificada pode ser apresentada como um conjunto de ações
cirúrgicas de resposta ao crime e aos criminosos, basicamente por meio de
inteligência e análise criminal, com o gerenciamento de informações e a
concentração de iniciativas policiais contra as redes de crimes e os criminosos
habituais, objetivando uma resposta rápida e eficaz de todo o sistema de justiça
criminal. Trata-se da ação policial baseada em planos pontuais de desarticulação
dos grupos criminosos e da criminalidade profissional, pela identificação de
suspeitos contumazes e a intervenção estratégica contra eles, de forma
coordenada, articulada e integrada. Esse conjunto se materializará por meio de
operações integradas, choque operacional, forças-tarefa e intervenções nos
mercados de fomento aos crimes contra o patrimônio.
31
Estrutura de governança e gestão da Fase 1.
37
pandemia de COVID-19. Em decorrência da pandemia, as demais partes interessadas
direcionaram os esforços para combater seus efeitos, em detrimento das ações previstas para
o projeto piloto.
Em relação à escalabilidade do EFB para o PNECV, foi informado pelos gestores a inviabilidade
de utilização simultânea da FNSP em vários municípios, em decorrência de sua capacidade
operacional32.
A equipe de auditoria analisou ainda dez convênios firmados no âmbito do Projeto. Embora a
execução propriamente dita não tenha feito parte do escopo deste trabalho, verificou-se que
os objetos constantes dos Termos de Convênio se coadunam com os objetivos da Fase 1 do
EFB, consistindo principalmente em itens como aquisição de viaturas e armamentos,
equipamentos para videomonitoramento e análise forense e expansão de sistemas de
radiocomunicação. Observou-se ainda que os processos contêm as justificativas e os Planos
de Trabalho devidamente analisados pelos setores competentes do MJSP.
Foram também verificados os registros dos resultados das operações das Forças-Tarefas no
sistema Power BI, utilizado pelos gestores para a avaliação das ações. Este sistema encontra-
se integrado ao Córtex e permite que se utilizem filtros para uma eventual segmentação da
informação que se deseja consultar. Abaixo, alguns exemplos dos dados que podem ser
obtidos e monitorados:
Dos dados acima, depreende-se que houve uma diminuição geral dos homicídios dolosos34 em
28,5% e dos roubos em 35,4%, embora tenha sido verificado um aumento nos homicídios nos
municípios de Cariacica/ES e São José dos Pinhais/PR desde o início das operações,
principalmente entre janeiro e março de 2020, que causaram o aumento nos números. Os
gestores federais questionaram os citados municípios sobre o fato, e estes relacionaram
32
Estudo mais detalhado sobre o projeto estava em desenvolvimento pelos gestores e não foi possível análise
detalhada pela equipe de auditoria, até a finalização da fase de aplicação dos procedimentos de auditoria.
33
Fonte: Painel de Gestão Operacional
34
Não foi possível verificar se a redução dos homicídios nos municípios se deve somente ao PEFB.
38
fatores como redução do efetivo nas operações (por necessidade pontual de deslocamento
do efetivo para outras localidades) e, no caso do município paranaense, crimes relacionados
à repressão ao tráfico de drogas no período. Ressalte-se que os gestores, em entrevistas,
mencionaram a complexidade dos fatores criminógenos, como mudanças no tipo de crime
cometido (por exemplo, uma região que apresentava muitos assaltos a bancos pode passar a
ter mais sequestros, por causa da atuação policial específica) e migração dos crimes (de uma
área fortemente policiada para uma área vizinha que não esteja sob o choque operacional).
Isso também impacta na estratégia de combate à criminalidade, na medida em que interfere
no foco territorial, um dos eixos do PEFB.
As causas identificadas pela equipe de auditoria para a Fase 1 ter, em geral, suscitado
resultados positivos, são:
Há que se mencionar que o delay entre a Fase 1 e a implementação das ações da Fase 2,
conforme o cronograma inicial, impactou parte do objetivo pretendido pela Fase 1, conforme
previsto no ML do projeto piloto, que era a rápida redução da criminalidade com a pacificação
das áreas e a implementação síncrona da Fase 2 por meio de ações existentes das áreas
socioeconômicas, mapeadas pelas partes interessadas. O custo-benefício de permanência da
atuação da FNSP que é limitada em termos de efetivo, tende a piorar ao longo do tempo, uma
35
Com natureza de um Protocolo de Intenções entre os signatários.
36
Em que pese os gestores não terem apresentado evidências com relação às reuniões do GGA/FT, conforme
previsto na Portaria nº 723/2019.
39
vez que para sua manutenção, há necessidade de pagamento de diárias e passagens. Tal fato
reforça a limitação simultânea da utilização da FNSP em várias localidades.
Por todo o exposto, conclui-se que os resultados da Fase 1 têm contribuído, de modo geral,
para a redução da criminalidade violenta37, em que pese em dois municípios ter aumentado a
taxa de homicídios. Como informado pelos próprios gestores, o fenômeno da criminalidade é
complexo e a atuação policial, como pretendido pela Fase 1, não é, por si só, suficiente para a
redução da criminalidade, sendo necessária a implementação de ações socioeconômicas para
enfrentar as causas estruturantes da criminalidade e, por conseguinte, reduzir os índices de
criminalidade violenta no país.
Quanto à verificação dos mecanismos de prestação de contas, convém esclarecer a lógica que
sustentou essa avaliação. Idealmente, as competências definidas devem vir acompanhadas
desses mecanismos sempre que a verificação do seu cumprimento não estiver explícita a
partir do próprio texto da competência. Por exemplo, se a competência consiste em “elaborar
relatórios de controle e avaliação”, a demonstração do cumprimento dessa competência será
por meio da apresentação dos próprios relatórios. Por outro lado, caso a competência seja do
tipo “avaliar” ou “monitorar” determinado objeto, por exemplo, é preciso definir de que
forma essas ações (ou os seus resultados) serão registradas.
Os critérios de auditoria utilizados para esta avaliação incluem a Constituição Federal (art. 70,
parágrafo único), o Referencial para Avaliação de Governança em Políticas Públicas (TCU,
2014) e os Guias Práticos de Análise Ex Ante e Ex Post (Governo Federal, 2018). Além disso,
também se utilizou o Modelo Lógico do Projeto Em Frente Brasil, o qual apresenta, de maneira
geral, o modelo de governança e gestão a ser formalmente instituído por outros normativos
do Projeto.
37
Não foi objeto de avaliação pela equipe de auditoria o quantum de redução decorre da atuação do PEFB para
a redução da criminalidade. Não houve a avaliação do impacto gerado pela intervenção.
38
O termo “prestação de contas” está sendo empregado no presente trabalho com o sentido amplo de “registro
daquilo que foi feito, considerando as competências/atribuições definidas”.
40
Em relação aos resultados da avaliação, primeiramente cabe registrar que o regramento do
Projeto é constituído por vários documentos, que em sua maior parte são específicos para
alguma das duas fases que compõem o Projeto. Assim, há uma distinção muito clara entre os
normativos da Fase 1 e aqueles da Fase 2.
Em relação à Fase 2, importa registrar que nem todos os atos normativos previstos no âmbito
do Projeto foram editados até o momento, como por exemplo os Acordos de Resultados, que
poderão trazer dispositivos que tratem de competências específicas e mecanismos de
prestação de contas. Considerando os documentos disponibilizados, foram identificadas as
competências dos atores envolvidos e os instrumentos de prestação de contas, embora
tenham sido verificadas algumas fragilidades pontuais, detalhadas a seguir.
Em relação ao Plano Local de Segurança de São José dos Pinhais, único PLS apresentado à
equipe de auditoria, o "prazo" das ações a serem implementadas na Fase 2 é definido como a
"data de início da implementação da solução", a qual não condiz com a definição usualmente
empregada para o termo, qual seja, "o período de tempo em que algo deve ser feito". Além
dessa definição equivocada, os prazos que constam das ações foram informados em
diferentes formatos, alguns dos quais sugerindo que seja de fato somente a data de início da
ação. Também não há padronização em relação ao registro do campo "dono da ação", sendo
citado, em alguns casos, o cargo e, em outros, o órgão. Por fim, existem duas ações para as
quais não constam o dono da ação, o prazo e o indicador. Sabe-se que essa versão do PLS de
São José dos Pinhais ainda será submetida à análise e validação por parte das instâncias de
governança do Projeto, o que possibilita que essas falhas sejam sanadas tempestivamente.
Todas as falhas indicadas anteriormente (Fase 1 e Fase 2) possuem caráter formal e consistem
em lacunas/equívocos pontuais nos normativos do Projeto; no entanto, sabe-se que lacunas
e/ou inconsistências na normatização de uma política pública, no que tange especificamente
à definição de responsabilidades e mecanismos de prestação de contas, podem resultar em
problemas concretos no cumprimento da estratégia de atuação concebida pela política e,
41
possivelmente, no atingimento de seus objetivos, podendo também prejudicar o
monitoramento e a avaliação da política.
Conclui-se que a normatização do Projeto Em Frente Brasil, no que diz respeito à definição de
responsabilidades e mecanismos de prestação de contas, está majoritariamente adequada,
havendo algumas fragilidades que, embora pontuais, merecem atenção dos gestores para que
a institucionalização do Programa Nacional de Enfrentamento à Criminalidade Violenta conte
com dispositivos claros e precisos quanto a esses dois aspectos avaliados.
42
Instância Houve prestação
Competências selecionadas Normativo
responsável de contas?
6) Avaliar a Fase 1 - Choque de Segurança quanto
Portaria MJSP nº Sim
etapa de implementação da política.
723/2019, art. 4º, §2º
7) Acompanhar as operações, por meio de
(II e III) Parcialmente
painéis e relatórios.
Comitê Técnico do
8) A avaliação dos resultados da operação
Gabinete de
ocorrerá semanalmente pelas FT´s,
Governança das
e mensalmente pela DIOP e demais envolvidos. Plano Estratégico de
Forças-Tarefas - CT-
Os critérios analisados serão relacionados ao Atuação Integrada -
GGA/FT Sim
acompanhamento dos indicadores de Item 4.3 - Ciclo de
criminalidade nas AIO´s, especialmente os de Avaliação
homicídio, em paralelo com a análise do esforço
realizado.
9) Operacionalizar as ações previstas no POI. Sim, com ressalvas
10) Elaborar relatórios de operações e
Não
inteligências.
Portaria MJSP nº
11) Elaborar relatórios de controle e avaliação. Parcialmente
723/2019, art. 5º, §2º
12) Os GGO/FT se reunirão, em caráter (III, IV e V) e §3º
ordinário, semanalmente, e, em caráter
Parcialmente
extraordinário, a qualquer tempo por meio de
Gabinetes de Gestão
convocação de seu Coordenador.
das Forças-Tarefas -
GGO/FT 13) A avaliação dos resultados da operação
ocorrerá semanalmente pelas FT´s, e
mensalmente pela DIOP e demais envolvidos. Os Plano Estratégico de
critérios analisados serão relacionados ao Atuação Integrada -
Parcialmente
acompanhamento dos indicadores de Item 4.3 - Ciclo de
criminalidade nas AIO´s, especialmente os de Avaliação
homicídio, em paralelo com a análise do esforço
realizado.
Em relação ao GGA/FT, verificou-se que, embora essa instância colegiada tenha se reunido –
conforme informado pela equipe gestora do Projeto –, não foi apresentado nenhum registro
formal de suas reuniões, tampouco documentos que demonstrem o cumprimento das
competências elencadas no Quadro 3 (1 a 5). Cabe registrar que houve a apreciação de todos
os Relatórios de Avaliação elaborados pelo CT-GGA/FT por parte do Ministro da Justiça e
Segurança Pública, registrada em despachos, contudo, apesar de o referido Ministro ser o
coordenador do GGA/FT, a sua atuação isolada não cumpre com as competências designadas
à instância colegiada GGA/FT.
Neste ponto, importa resgatar a verificação feita no âmbito do achado anterior, que apontou
a falta de dispositivos normativos que definam os mecanismos de prestação de contas a serem
observados para demonstrar o cumprimento das competências do GGA/FT. A definição formal
desses mecanismos é um importante instrumento de controle interno que o gestor deve
utilizar para reduzir o risco de não prestação de contas de forma adequada.
Em relação aos relatórios de operações e inteligência que devem ser elaborados pelos
GGO/FT, o gestor informou que as informações referentes a esses relatórios foram relatadas
pelos representantes da Diretoria de Inteligência – DINT/SEOPI nas reuniões de avaliação do
CT-GGA/FT, conforme constam nos Relatórios de Avaliação e seus anexos. Contudo, não há
clareza na documentação do CT-GGA/FT de que “relatórios de operações e inteligência”
elaborados pelos GGO/FT tenham sido consultados. Dessa forma, considera-se que não houve
a prestação de contas para a competência 10 do Quadro 3.
A respeito dos relatórios de controle e avaliação que devem ser elaborados pelos GGO/FT, o
gestor informou que esses documentos constam nos Relatórios de Avaliação do CT-GGA/FT.
Trata-se do anexo “síntese das avaliações de rotina das FT’s”, o qual não foi apresentado nos
dois últimos Relatórios de Avaliação (4º e 5º), além de que houve apresentação parcial das
informações no 2º e 3º Relatórios (não constam registros de todas as cinco Forças-Tarefas).
Por essas razões, considera-se que a prestação de contas foi parcial para a competência 11.
44
i. Alinhamento entre a execução e as competências estabelecidas, o que denota a
importância de que as competências estejam bem definidas, dispondo de clareza e
exequibilidade; e
ii. Registro sistemático do cumprimento das competências estabelecidas. Também é
importante que o mecanismo de registro a ser observado esteja definido nos
normativos da política. Considerando que se trata de uma política multiagencial, faz-
se necessária uma constante articulação e engajamento, por parte do órgão
coordenador da política, junto aos demais órgãos partícipes sobre a necessidade de
elaboração e encaminhamento dos registros de suas ações de forma contínua.
Para a presente avaliação, foram utilizados como critérios de auditoria a Lei nº 12.527/2011
(Lei de Acesso à Informação) e seu Decreto regulamentador nº 7.724/2012, o Guia de
Transparência Ativa para Órgãos e Entidades do Poder Executivo Federal - 6ª versão (CGU), o
Referencial para Avaliação de Governança em Políticas Públicas (TCU, 2014) e os Guias
Práticos de Análise Ex Ante e Ex Post (Governo Federal, 2018).
45
implementação da política. Em relação aos demais temas, identificaram-se lacunas, conforme
explicitado a seguir:
A nível geral, a transparência aparece como um dos princípios do Projeto, conforme expresso
na cláusula segunda dos Contratos Locais de Segurança. Os atos normativos da Fase 1
preveem a criação de equipes de comunicação social tanto no âmbito das Forças-Tarefas,
quanto no do Gabinete de Governança, sendo a atuação dessas equipes voltada,
principalmente, ao fornecimento de informações aos órgãos de imprensa, embora haja
menção pontual à criação e gerenciamento de ferramentas e plataformas digitais de
comunicação social (website e redes sociais). Foi elaborado Protocolo de Atuação Integrada
específico para tratar das ações ordinárias de Comunicação Social no âmbito da Fase 1,
estando previstas ações de divulgação de boletins semanais, quinzenais e balanços finais,
contabilizando recursos, ações e resultados das operações das Forças-Tarefas, apesar de não
constar especificação dos canais a serem utilizados para realizar tais divulgações. Em relação
à Fase 2, consta somente que cabe às Coordenadorias Executivas federal, estaduais e
municipais "promover a divulgação de resultados à sociedade", sem maiores detalhes.
Cabe observar que a divulgação de informações do Projeto em redes sociais, a qual foi prevista
nos normativos do Projeto e também demonstrada em relatório de atuação elaborado pela
Assessoria de Comunicação - ASCOM, não atende, de forma isolada, ao dever de transparência
ativa, visto que a Lei de Acesso à Informação estabelece que a divulgação deve ser “em local
de fácil acesso” e “em sítios oficiais”. Por sua vez, as principais redes sociais atuais (Facebook,
Instagram e Twitter, nas quais o MJSP possui contas oficiais) somente podem ser acessadas
de forma ampla caso o usuário seja cadastrado, além de que sua forma de apresentação de
informações tem caráter cronológico, dinâmico e diversificado, ao passo que o sítio oficial
46
possui característica de repositório de informações, o que facilita a localização de
determinada informação por parte do usuário. Portanto, a utilização de redes sociais para a
divulgação de informações relacionadas aos órgãos públicos deve ser considerada como uma
ferramenta complementar à utilização do sítio oficial, o qual consiste no principal canal de
divulgação para o cumprimento da transparência ativa.
47
RECOMENDAÇÕES
1 - Fazer constar do Modelo Lógico do Programa Nacional de Enfrentamento à Criminalidade
Violenta a estimativa de recursos federais, incluindo os orçamentários, que darão
exequibilidade às ações previstas no documento, de forma que seja possível a verificação dos
meios que serão utilizados para atingimento dos objetivos e metas propostas.
Achado n° 1
3 - Explicitar qual ou quais causas consideradas críticas do problema que o PNECV pretende
combater, motivando a escolha daquela ou daquelas a serem enfrentadas, em detrimento de
outras, e como a ação a ser implementada combate a(s) causa(s) do problema identificado.
Achado nº 2
Achado nº 3
48
5 - Desenvolver uma coordenação executiva para a governança federal do Programa Nacional
de Enfrentamento à Criminalidade Violenta, com capacidades técnica e política para gerenciar
programas multiagenciais e interfederativos, com ampla transversalidade no governo e apta
a exercer essa coordenação sob uma perspectiva integrada, com a definição de papéis e
responsabilidades, incluindo como o esforço cooperativo será liderado, detalhes da atividade
que deverá ser empreendida e identificação dos recursos humanos, físicos e financeiros e de
tecnologia da informação necessários para iniciar e manter o esforço cooperativo.
Achado n° 4
7 - Aprimorar os controles internos do PEFB da Fase 1 quanto aos seguintes tópicos: (i) registro
das reuniões do GGA/FT; (ii) aperfeiçoamento da integração e vinculação do planejamento
realizado (ações previstas nos Protocolos de Atuação Integrada) com a execução das Forças
Tarefas (ações informadas na Matriz de Atividades do Sistema Córtex); (iii) aprimoramento do
campo “Principais Encaminhamentos” dos Relatórios de Avaliação do CT-GGA/FT, de modo a
inserir o status dos encaminhamentos de reuniões anteriores; (iv) necessidade de maior
completude e transparência no registro dos anexos dos Relatórios do CT-GGA-FT que trata
sobre a atuação dos demais órgãos componentes das Forças-Tarefas; (v) aprovação do “Plano
de implementação dos controles internos” relacionados à Fase 1 e posterior avaliação do
desempenho do processo de controle interno dessa fase.
Achados n° 6, 7 e 9
49
9 - Atualizar a página do Projeto Em Frente Brasil em relação aos seguintes tópicos:
a. solução proposta: complementar a seção "Ações", que explica a funcionamento do
Projeto, com informações sobre os convênios firmados, esclarecendo sua finalidade
no contexto da estrutura do Projeto.
b. indicadores e metas: tão logo sejam definidos, inseri-los, contextualizando-os com
informações sobre as ações correspondentes, seus responsáveis e prazos para alcance
das metas;
c. resultados: criar seção específica para apresentação dos resultados, que deverá estar
de acordo com as diretrizes de que trata a recomendação 8;
d. instrumentos de transferência de recursos: visando facilitar a localização das
informações, criar seção específica que trate dos instrumentos de transferências de
recursos firmados no âmbito da política, a exemplo dos convênios, apresentando seus
dados gerais, como número, objeto, concedente/convenente, valor e vigência atual.
Também informar que informações adicionais sobre os convênios podem ser
consultadas na Plataforma +Brasil, com a disponibilização de link de direcionamento.
Achado n° 11
50
CONCLUSÃO
Considerando o contexto da criminalidade violenta no Brasil — que apresenta uma taxa de
31,639 homicídios por 100 mil habitantes equivalente a 30 vezes a taxa da Europa, com
números absolutos de homicídios que superam 60.000 anuais —, o Ministério da Justiça e
Segurança Pública desenvolveu o Projeto Piloto Em Frente Brasil (PEFB), que tem por objetivo
geral a redução dos indicadores de criminalidade violenta em cinco municípios selecionados.
A partir da execução do Projeto nos territórios selecionados, e com base nas lições aprendidas,
pretende-se ampliar substancialmente o número de municípios atendidos, a partir da
implantação do denominado Programa Nacional de Enfrentamento à Criminalidade Violenta
(PNECV).
Com base nas evidências obtidas pela equipe de auditoria, conclui-se que tanto o Modelo
Lógico, que trata sobre o planejamento da política pública, quanto os processos de gestão de
riscos, de governança e de controles internos relacionados ao PEFB necessitam de
aprimoramentos, porquanto servirão de base para o Programa Nacional de Enfrentamento à
Criminalidade Violenta (PNECV).
No que tange ao Modelo Lógico do PEFB, verificou-se que este necessita de aprimoramentos
para ser utilizado para o PNECV, notadamente com relação à completude e clareza nas
relações de causalidade dos elementos previstos em sua estrutura lógica. Especificamente
com relação ao elemento “recursos”, verificou-se não haver previsão de todos os recursos
necessários à exequibilidade das ações previstas no ML. Também não houve explicitação com
relação às causas consideradas críticas a serem enfrentadas pelo PNECV e como as ações a
serem implementadas combatem as causas do problema a ser enfrentado. Tão importante
quanto os aspectos mencionados, verificou-se que no ML não foram identificados quais são
os indicadores e metas que poderão balizar o monitoramento para todas as etapas do PNECV.
39
Informação extraída do ML com relação ao ano de 2017.
51
hierárquica em relação aos demais Ministérios, não tem capacidade suficiente para coordenar
uma política pública interfederativa e interministerial, necessitando de um órgão de
supervisão superior para exercer a governança efetiva necessária.
Quanto aos controles internos da gestão, foram aplicados testes de controle específicos com
base em riscos. Identificaram-se deficiências com relação à documentação da Fase 1 que
podem impactar nos processos de monitoramento e de avaliação das etapas da política, na
rastreabilidade de informações, na devida prestação de contas, na transparência dos atos de
gestão, bem como na avaliação da conformidade dos atos.
A despeito das fragilidades apontadas pela auditoria, um evento externo que impactou o
adequado desenvolvimento do PEFB foi a pandemia de COVID-19, pois as partes envolvidas
atuaram para o enfrentamento da doença, postergando a execução de medidas que foram
planejadas. Na prática, verificou-se que não houve a implementação das ações
socioeconômicas da Fase 2, estendendo-se o prazo inicialmente previsto de atuação das
Forças Tarefas. Tal fato impactou parcialmente o objetivo pretendido pela Fase 1, ao menos
em termos de desempenho, uma vez que a pacificação territorial pretendida pela Fase 1
deveria ser sucedida de forma síncrona pela implementação das ações socioeconômicas da
Fase 2.
As causas para as fragilidades pontuais identificadas pela equipe de auditoria estão dispostas
em cada um dos achados do relatório. No entanto, as causas raízes relacionadas ao de
processo de governança dizem respeito principalmente ao processo de gestão de riscos do
PEFB, que não se dá de modo compartilhado, impactando na tomada de decisões, na
responsabilização dos demais partícipes e na definição dos planos de contingência. Outra
causa raiz importante é a fragilidade da posição hierárquica da Senasp/MJSP para exercer o
tom do topo e a articulação necessária frente a uma política interministerial e interfederativa.
40
Inciso II, Art. 9º-A do Decreto nº 9203/2017.
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ANEXOS
I – MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA E ANÁLISE DA EQUIPE
DE AUDITORIA
Achados nº 4 e 5
“[...]
Não obstante o comitê federal não ter sido estruturado em fase de projeto piloto, o Comitê
Interministerial instituído por Portaria do Ministro da Justiça atendeu inicialmente, em boa
medida, as necessidades de interlocução interministerial e permitiu que as pastas avançassem
coesas na realização dos diagnósticos locais de segurança e na construção dos planos locais
de segurança, sabidamente, elaborados em cada um dos municípios e contando com a
participação de todos os ministérios, secretarias de estado e secretarias municipais envolvidas.
E permitiu ainda mais: a avaliação dos requisitos necessários à efetivação de uma estrutura
com tamanha robustez, levando-nos inclusive à avaliação da própria viabilidade de se
estabelecê-la nos moldes inicialmente previstos. Afinal, a realização de um projeto piloto tem
como principal virtude a experimentação das concepções até então formatadas para que se
procedam os ajustes exigidos.
Na primeira hipótese, haveria de fato essa coordenação executiva espessa e mais ampla. Na
segunda hipótese, os exatos termos de atendimento à recomendação estariam sujeitos à
adaptação a essa arquitetura mais leve. Em ambos os casos, os elementos essenciais da
concepção do projeto piloto estarão mantidos, quais sejam, a identificação dos problemas
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transversais que compõem as causas críticas relavas à criminalidade violenta em territórios
específicos e o monitoramento e avaliação de resultados a partir de planos pré-estabelecidos.
A distinção dos modelos apresentados nas opções estaria no nível de autonomia dos
ministérios na identificação e especificação de iniciavas, ações e projetos a serem
implementados a partir dos problemas e indicadores postos.
[...]
Achado nº 6 e 7
“[...]
[...]
11. Para o monitoramento das ações realizadas no projeto, fora convencionado entre a SEOPI
e as forças-tarefas dos municípios, que somente seriam registrados os RAs na matriz de
atividades para aquelas ações que gerassem algum indicador, não havendo a necessidade de
cadastrar um RA para todas as ações, inclusive as que não tivessem gerado nenhum resultado
mensurável.
12. De outro lado, existe outra ferramenta no Sistema Córtex, denominada Painel de Gestão
Operacional, a qual se destina exclusivamente ao registro de indicadores de uma operação,
que necessariamente deveria ser preenchida a cada ação ou atividade (conjunto de ações)
realizadas, pois ainda que não houvesse indicadores de produtividade a serem cadastrados,
havia a necessidade de se alimentá-la com os indicadores de meios empregados na ação, quais
sejam: efetivo empregado, viaturas utilizadas etc.
13. Feitas estas considerações, é importante deixar claro que não havia a obrigatoriedade de
se registrar um RA para cada ação prevista da matriz de atividades [...]
[...]
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15. Conforme se observa nos cinco relatórios das reuniões do Comitê Técnico (SEI n.º
13493042/13493086, 13493106/13493130, 13493163/13493187, 13493196/13493206 e
13493216/13493224) os encaminhamentos definidos em reunião anterior sempre eram
tratados e analisados na reunião subsequente, buscando sempre exauri-los, de modo que não
é pertinente a afirmação de que existem diversas pendências a serem resolvidas e que não
houve um acompanhamento individualizado dos encaminhamentos, o que efetivamente
ocorrera, conforme demonstrado nos relatórios mencionados.
[...]
17. Faz-se necessário esclarecer que existe sim uma rotina formal de acompanhamento das
operações efetivadas nos municípios objetos do projeto Em Frente Brasil, assim como é
realizado com todas as demandas de interesse do Centro Integrado de Comando e Controle
Nacional (CICCN).
18. O acompanhamento das operações realizadas nos municípios do projeto, foi e ainda é
realizado diariamente pela equipe da Coordenação-Geral de Operações Integradas, a qual está
formalmente designada para monitorar os assuntos de interesse do CICCN, conforme se
observa no item 5.2 do Procedimento Administrativo Padrão (PAP) - Rotina de Atuação no
CICCN (SEI nº 13493242), o qual fora aprovado pela Portaria SEOPI n.º 07, de 10 de fevereiro
de 2020 [...]
Com base na manifestação dos gestores e nas novas evidências apresentadas, parte dos
conteúdos dos Achados nº 6 e 7 do Relatório Preliminar foram modificados para melhor
adequação, conforme detalhes a seguir.
Concernente às afirmações acerca dos Relatórios de Viagem, o parágrafo foi excluído, uma
vez que foram apresentadas novas evidências acerca dos assuntos que foram tratados nas
reuniões com os gestores das demais esferas.
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No que se refere à necessidade de inserção de “Relatório de Atividades” no Sistema Córtex
para cada operação efetivada, optou-se por retirar a informação, com base na argumentação
dos gestores.
Achado nº 11
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