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Os efeitos das Resoluções CNJ nos 308 e 309 no âmbito do Tribunal

Regional Eleitoral de São Paulo

Claucio Cristiano Abreu Corrêa


Michel Hulmann

Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar e elucidar os efeitos provocados pelas Resoluções CNJ nºs
308 e 309 no contexto do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, com foco particular nas responsabilidades
da unidade de auditoria. O estudo busca demonstrar as vantagens que essas resoluções trazem para a
governança e a administração do Tribunal em questão, estabelecendo um alinhamento consistente com as
diretrizes fornecidas pelo Tribunal de Contas da União.
Palavras-chave: Resoluções CNJ; Funções da Unidade de Auditoria; Governança; Administração; Acórdãos
do TCU.

1. Introdução.
O Conselho Nacional de Justiça 1 editou, em março de 2020, as Resoluções 308
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2020a) e 309 (CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA, 2020b). O objetivo dessas resoluções é organizar e padronizar as atividades de
auditoria interna dos órgãos do Poder Judiciário, com a finalidade de desempenhar um papel
relevante na contribuição para a governança e gestão dos conselhos e tribunais do país, com
exceção do Supremo Tribunal Federal 2. Além disso, visam também estabelecer as Diretrizes
Técnicas das Atividades de Auditoria Interna Governamental do Poder Judiciário –
DIRAUD-Jud, definindo os princípios, conceitos e requisitos fundamentais para o exercício
da profissão de auditor interno.

Esses dois normativos estão em total sintonia com as recomendações do Tribunal de


Contas da União, estabelecidas nos Acórdãos TCU nº 2.622/2015 - Plenário e nº 1.171 –
Plenário. De forma específica, a Resolução CNJ nº 308 enfatiza a necessidade de promover

1
O Conselho Nacional de Justiça foi criado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004, nos termos do artigo
103-B da Constituição da República Federativa do Brasil, com o propósito de aperfeiçoar o trabalho do Poder
Judiciário Brasileiro, mormente quanto ao controle e à transparência administrativa e processual.
https://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj/quem-somos/
2
O STF, como corte Suprema, não integra o rol de tribunais sujeitos ao controle administrativo do Conselho
Nacional de Justiça. https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/supremo-em-acao/
2

a efetividade dos artigos 70 a 74 da Constituição Federal. Isso envolve a implementação de


um órgão de auditoria que opere de forma independente e objetiva, focando suas atividades
prioritariamente em tarefas de auditoria e consultoria.

As resoluções mencionadas representam marcos na condução dos procedimentos e


atividades de auditoria no contexto dos integrantes do Poder Judiciário, pois enfatizam as
atividades dos órgãos de controle e estabelecem novos contornos para a execução das
auditorias internas. Elas provocam alterações profundas tanto nas responsabilidades quanto
nas estruturas organizacionais, como é evidente no caso da unidade de auditoria do Tribunal
Regional Eleitoral de São Paulo, conforme indicado na Resolução TRE/SP nº 535/2021
(TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL, 2021).

2. Situação anterior às Resoluções CNJ nº 308 e 309.

Antes da edição das resoluções em questão, a organização e o funcionamento das


unidades de controle interno nos Tribunais eram regulados pela Resolução CNJ nº 86, de 08
de setembro de 2009 (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2009). Essa Resolução
estabelecia as diretrizes, princípios, conceitos e normas técnicas para tais unidades. Era uma
norma simples e direta, composta por apenas oito artigos.

O parágrafo primeiro do artigo 1º dessa Resolução anterior delineava as


responsabilidades dos órgãos de controle, expressas em cinco incisos. Notavelmente, esses
incisos não abordavam procedimentos de auditoria. Em vez disso, eles atribuíam uma ênfase
prioritária ao controle prévio dos atos administrativos, como pode ser observado a seguir:

Art. 1º - Os Tribunais integrantes do Poder Judiciário e sujeitos ao controle do


Conselho Nacional de Justiça, criarão unidades ou núcleos de controle interno, de
acordo com o disposto no art. 74 da Constituição Federal.
§1º - Os núcleos ou unidades administrativas de controle interno desenvolverão
suas atividades, com os seguintes propósitos:
I- avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual respectivo;
II- acompanhar e avaliar a execução orçamentária e os programas de gestão;
III- verificar a observância e comprovação da legalidade dos atos de gestão e
avaliar os resultados, especialmente quanto à eficiência e à eficácia das ações
administrativas, relativas à gestão orçamentária, financeira, patrimonial e de
pessoal, nos seus vários órgãos.
IV- examinar as aplicações de recursos públicos alocados por entidades de direito
privado;
V- subsidiar meios e informações, bem como apoiar o controle externo e o CNJ
no exercício de sua missão institucional.
3

De maneira similar e respaldada pela citada Resolução do CNJ, no Tribunal


Regional Eleitoral de São Paulo, a unidade de auditoria, conhecida como Secretaria de
Controle Interno, tinha suas responsabilidades delineadas pela Resolução TRE-SP nº
297/2013 (TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO, 2013). Esta, em
particular, destacava em seus artigos 38 e 39, o papel dessa Secretaria como consultora
prévia para as propostas da Diretoria-Geral e decisões da Presidência, como delineado nos
termos a seguir:

Art. 38 Nos termos da Resolução n.º 86, de 8 de setembro de 2009, do Conselho


Nacional de Justiça e da decisão do E. Plenário deste Tribunal Regional Eleitoral
de São Paulo, de 17 de novembro de 2009, a Secretaria de Controle Interno possui
vinculação direta à Presidência desta Corte, devendo se manifestar previamente às
propostas da Diretoria-Geral e às decisões da Presidência. (destaque nosso),
Art. 39 À Secretaria de Controle Interno incumbe:
I. executar, planejar, orientar e dirigir as atividades pertinentes à Coordenadoria
de Auditoria, Acompanhamento e Orientação de Gestão e à Coordenadoria de
Contas Eleitorais e Partidárias.
II. examinar a regularidade legal e formal das tomadas de contas anuais dos
ordenadores de despesa do Tribunal;
III. realizar auditoria contábil, orçamentária, operacional e patrimonial. Levando
em consideração os aspectos da legalidade, legitimidade e economicidade;
(redação dada pela Res. TRE/SP nº 303 de 08/04/2014)
IV. avaliar o cumprimento das metas do plano plurianual, programas de governo
e orçamento, bem como os resultados da gestão orçamentária, financeira,
patrimonial, quanto à eficiência e à eficácia; (incluído pela Res. TRE/SP nº 303 de
08/04/2014) V. subsidiar meios e informações, bem como apoiar o controle
externo e Conselho Nacional de Justiça no exercício de sua missão institucional.
(incluído pela Res. TRE/SP nº 303 de 08/04/2014)
Parágrafo único. Fica assegurado às unidades de Controle Interno acesso irrestrito
a processos, documentos ou informações relevantes para o exercício de suas
funções.
Noutras palavras, não era foco das unidades de controle, inclusive da Justiça
Eleitoral Paulista, a realização de atividades de auditoria como meio de controle das decisões
administrativas, deixando evidente uma confusão entre os conceitos de auditoria interna e
controles internos, questão esta que já vinha sendo apontada pelo Tribunal de Contas da
União, por meio dos Acórdãos TCU nº 2.622/2015-Plenário 3 e nº 1171/2017 – TCU –
Plenário 4.

3
https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/documento/acordao-
completo/*/NUMACORDAO:2622%20ANOACORDAO:2015%20COLEGIADO:'Plen%C3%A1rio'/DTRELEVANCI
A%20desc,%20NUMACORDAOINT%20desc/0
4
https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/documento/acordao-
completo/*/NUMACORDAO%253A1171%2520ANOACORDAO%253A2017%2520COLEGIADO%253A%2522Pl
en%25C3%25A1rio%2522/DTRELEVANCIA%2520desc%252C%2520NUMACORDAOINT%2520desc/0/%2520
4

O Acórdão TCU no 2.622/2015 5-Plenário recomendou, de maneira assertiva, aos


órgãos públicos em geral ao analisar a situação da governança e da gestão das aquisições em
amostra de organizações da Administração Pública Federal (APF), a fim de identificar os
pontos vulneráveis e induzir melhorias na área, distinguir e segregar controle interno de
auditoria interna, de acordo com os excertos abaixo:

9.5. recomendar à Controladoria-Geral da União (CGU/PR) que continue a


orientar as organizações sob sua esfera de atuação para que:
9.5.1. observem as diferenças conceituais entre controle interno e auditoria interna,
de forma a não atribuir atividades de cogestão à unidade de auditoria interna;
9.5.2. em decorrência da distinção conceitual acima, avaliem a necessidade de
segregar as atribuições e competências das atuais secretarias de controle interno
(ou equivalentes) , de forma que a mesma unidade organizacional não possua
concomitantemente atribuições e competências relativas a atividades de controle
interno e a atividades de auditoria interna;
Por sua vez, o Acórdão no 1171/2017 6 – TCU – Plenário detalhou o conceito de
auditoria interna com base em padrões internacionais e entidades especializadas como o
Instituto de Auditores Internos (IAA) e a Organização Internacional de Entidades
Fiscalizadoras Superiores (International Organization of Supreme Audit Institutions -
Intosai).

3. Implicações das Resoluções CNJ nº 308 e 309.

Atendendo às recomendações do Tribunal de Contas da União (TCU), conforme os


Acórdãos TCU nºs 2.622/2015-Plenário e 1171/2017 – TCU – Plenário, o CNJ, exercendo
suas competências, definiu, estabeleceu e organizou as diretrizes para a realização de
auditoria interna no âmbito do Poder Judiciário, resultando em alterações significativas nas
funções das unidades de controle nos respectivos tribunais.
As mencionadas resoluções têm como objetivo principal:
• Promover a padronização e a busca de excelência nos métodos, critérios,
conceitos ou sistemas utilizados na atividade de auditoria nos órgãos vinculados
ao CNJ;
• Rever os marcos normativos e os manuais de procedimentos relativos ao controle
interno e à auditoria interna, com a finalidade de adequá-los às boas práticas
exigidas pela comunidade nacional e internacional;

5
https://portal.tcu.gov.br/es/biblioteca-digital/levantamento-de-governanca-e-gestao-das-aquisicoes.htm
6
https://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/fiscalizacoes-incluidas-no-relatorio-de-politicas-e-programas-
2017.htm
5

• Orientar a atuação da auditoria interna para avaliar as operações do órgão, a fim


de verificar o cumprimento da legislação, agregar valor, aperfeiçoar as operações
e auxiliar o tribunal ou conselho a alcançar seus objetivos; e
• Observar as diferenças conceituais entre controle interno e auditoria interna, de
maneira a evitar a atribuição de atividades de cogestão à unidade de auditoria
interna.
Para atingir tais objetivos, os referidos normativos estabelecem parâmetros de
atuação das auditorias internas com independência e objetividade (Capítulo V da Resolução
CNJ nº 309), exercendo exclusivamente atividades de auditoria e consultoria. Desta forma,
as atividades das unidades de auditoria podem efetivamente agregar valor às respectivas
organizações, respaldadas nas mencionadas garantias e práticas, cuja aplicabilidade será
viabilizada por meio do Estatuto de Auditoria Interna, do Código de Ética e dos
procedimentos estabelecidos no Manual de Auditoria do Poder Judiciário editado pelo
próprio CNJ.
Além de regulamentar a atuação da auditoria interna, a Resolução CNJ nº 308
também estabelece critérios objetivos para a estrutura da auditoria interna, bem como para a
escolha de seu dirigente, proporcionando maior autonomia e independência nos trabalhos do
órgão de auditoria. Isso permite uma atuação alinhada com suas atividades principais, como
auditoria e consultoria, agregando mais valor à instituição e minimizando os riscos relativos
à atividade de governança.
No que diz respeito à reestruturação da unidade de controle, a Secretaria de Controle
Interno (SCI) do Tribunal Eleitoral Paulista, houve uma mudança expressiva, não apenas na
denominação, que passou a ser Secretaria de Auditoria Interna (SAI). A antiga SCI era
composta de duas Coordenadorias e respectivas Seções, a saber: Coordenadoria de
Auditoria, Acompanhamento e Orientação de Gestão, composta pela Seção de Análise de
Procedimentos Contratuais (ScAPC), Seção de Acompanhamento e Orientação à Gestão de
Recursos Humanos (ScAOr), Seção de Auditoria (ScAud) e Seção de Análise de
Procedimentos Licitatórios (ScAPL), e a Coordenadoria de Contas Eleitorais e Partidárias,
composta pelas Seções de Contas Eleitorais e Seção de Contas Partidárias, conforme
organograma da Figura 1.
6

Figura 1: Antiga estrutura da Secretaria de Controle Interno do TRE-SP


Fonte: Autores

Nota-se que o foco das atividades da SCI, por meio de suas seções, era a emissão de
pareceres prévios à tomada de decisões pela alta administração em sede de processos
licitatórios, de pessoal e administrativo em geral. Neste caso, sempre que demandado pela
Diretoria-Geral ou Presidência, com forte caráter de cogestão, a realização de auditoria na
gestão dos atos e procedimentos administrativos não era prioridade. A função de controle
prévio, caracterizando gestão participativa do órgão de controle interno, não contribuía para
a melhoria da governança e gestão, já que não analisava a eficácia, a eficiência e os
resultados a partir das decisões administrativas por meio de sistemas de auditoria.

Infere-se que a atuação da SCI estava mais voltada para o assessoramento, o que
descaracterizava a função precípua do órgão de controle e não observava a devida
segregação de funções entre os órgãos de execução e fiscalização, comprometendo a
avaliação independente e autônoma das políticas judiciárias escolhidas e implementadas pela
Alta Administração.

Seguindo a orientação da Resolução CNJ nº 308, bem como as diretrizes do Tribunal


Superior Eleitoral, cabeça do sistema de toda a Justiça Eleitoral, na busca por máxima
7

simetria com este Órgão Superior, a nova configuração da unidade de controle, objeto do
Processo SEI n. 0013046-85.2020.6.26.8000, passou a ser denominada Secretaria de
Auditoria Interna. Com a exclusão da unidade de prestação de contas (Coordenadoria de
Contas Eleitorais e Partidárias), a nova estrutura passou a ter apenas uma Coordenadoria de
Auditoria e Consultoria de Gestão, composta, inicialmente, por quatro seções: Seção de
Auditoria de Aquisições, Contratos e Licitações (ScALC); Seção de Auditoria de Pessoal
(ScAP); Seção de Auditoria de Gestão e Apoio à Governança (ScAuG); e Seção de Auditoria
de Tecnologia da Informação (ScATI), conforme estrutura organizacional apresentada na
Figura 2.

Figura 2: Nova estrutura da Secretaria de Auditoria Interna do TRE-SP


Fonte: Autores

A nova estrutura do órgão de auditoria mencionado, estabelecida na Resolução


TRE/SP nº 535/2021, trouxe adaptações relevantes para a consecução dos objetivos traçados
nos Acórdãos do TCU já citados. Em primeiro lugar, desvinculou a área de prestação de
contas (Coordenadoria de Contas Eleitorais) da unidade de auditoria, devido à distinção de
atribuições, visto que o exame de prestação de contas é um procedimento de verificação das
despesas realizadas por partidos e candidatos. Em segundo lugar, direcionou de maneira
absoluta as atividades da unidade para a realização de auditorias, utilizando padrões,
métodos e critérios internacionais de auditoria. Tal direcionamento tem o propósito
consequente de aperfeiçoar a governança e gestão em relação ao gerenciamento de riscos,
controles internos e integridade, de modo a agregar valor à organização e subsidiar o alcance
8

dos objetivos estratégicos previstos no Planejamento Estratégico Institucional do TRE de


São Paulo.

Atualmente, a SAI passou por uma nova reestruturação, por meio da Resolução
TRE/SP nº 581/2022 7, que criou mais uma seção, a de Auditoria Financeira, especializando
as auditorias de acordo com a matéria objeto de análise.

Por sua vez, a Resolução CNJ nº 309 trouxe inúmeras inovações e aprimoramentos
na área de auditoria, implementando a padronização e a busca pela excelência nos métodos,
critérios, conceitos ou sistemas utilizados na atividade de auditoria nos órgãos vinculados ao
CNJ. A finalidade é garantir que essa atividade nos tribunais e conselhos cumpra sua missão
institucional e o postulado constitucional de integração, respaldando-se em normas de
auditoria emitidas pela Organização Internacional das Entidades Superiores de Fiscalização
(INTOSAI) e em normas internacionais de auditoria expedidas pela Federação Internacional
de Contadores (IFAC). Estas normas contêm requisitos éticos e de planejamento para
obtenção de razoável segurança na isenção de distorções materiais nas informações,
almejando, ao final, a atualização e racionalização do processo de modernização
institucional.

Referido normativo do CNJ, amparado na comunidade nacional e internacional, reviu


os marcos normativos e os manuais de procedimentos que tratam de controle interno e
auditoria interna, para adequá-los às boas práticas sobre o tema, como o Coso (Committee
of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission), particularmente o Coso II, e o
IPPF ( International Professional Practices Framework, adotando o conceito das 3 linhas de
defesa do Instituto Internacional de Auditores Internos (The Institute of Internal Auditors –
IIA), ratificado pelo Instituto de Auditores Internos do Brasil (IIA – Brasil), no
gerenciamento de riscos, de controle e de governança corporativa. Nesta esteira, assevera
que a atividade de auditoria corresponde à 3ª linha de defesa, com a responsabilidade de
avaliar as 1ª e 2ª linhas de defesa.
Além disso, impôs requisitos éticos, de integridade e zelo profissional dos servidores
públicos responsáveis pela execução das auditorias, por meio da elaboração de código de
ética contendo princípios e condutas desejadas, bem como vedações às ações dos auditores

7
https://www.tre-sp.jus.br/++theme++justica_eleitoral/pdfjs/web/viewer.html?file=https://www.tre-
sp.jus.br/legislacao/legislacao-eleitoral/arquivos-scasal/tre-sp-resolucao-no-581-
2022/@@download/file/TRE-SP-resolucao-tre-sp-581-alteracao-estrutura-organizacional.pdf
9

quando da atuação das suas atividades, bem assim manual das atividades de auditoria e
fixando a elaboração de planejamento das auditorias por meios de dois instrumentos: Plano
de Auditoria de Longo Prazo (PALP) e Plano Anual de Auditoria (PAA), amparadas em
riscos para possibilitar a definição de prioridades, alinhados aos objetivos e metas
institucionais da entidade, aprovados pelo presidente do Tribunal ou Conselho.
Outro aspecto introduzido pelo norma em referência foi a instituição do Programa de
Qualidade de Auditoria, contemplando toda a atividade de auditoria interna, do seu
planejamento até o monitoramento das recomendações, objetivando o enriquecimento da
qualidade em termos de aderência às normas, ao código de ética, e aos padrões definidos de
auditoria, a fim de reduzir o tempo de tramitação dos processos, diminuindo o retrabalho e
aumentando a eficácia e efetividade das propostas de encaminhamento. Por fim, determinou
a realização de avaliações interna (autoavaliação) e externa dos trabalhos de auditoria com
o objetivo de aferir a qualidade e identificar as oportunidades de melhoria.
As ações mencionadas foram implementadas no Tribunal Regional Eleitoral de São
Paulo por meio das Portarias TRE/SP nºs 256 e 257, ambas de 2020. A primeira portaria
instituiu o Código de Ética, de observância obrigatória para todos os servidores lotados na
SAI, esboçando, além dos princípios e requisitos éticos, os deveres, direitos, garantias,
vedações e impedimentos. A segunda, por sua vez, tratou da criação do Estatuto de Auditoria
Interna, definindo sua missão e conceitos técnicos de auditoria, atribuições, competências e
práticas funcionais dentro da rotina da unidade. Detalhou a elaboração dos planos de
auditoria, tanto de longo prazo como anual, e previu o plano de capacitação permanente e
anual dos servidores, visando avanços nos trabalhos de auditoria. Além disso, dedicou um
capítulo para delinear a atividade de consultoria da unidade de auditoria e, por fim, tratou
sobre o Programa de Qualidade de Auditoria.
Para dar efetividade ao Programa de Qualidade de Auditoria do TRE/SP, a SAI
confeccionou o Manual do Programa de Qualidade de Auditoria Interna, mirando a
evolução, qualidade e desenvolvimento contínuo da atividade de auditoria interna, por meio
de avalições internas e periódicas, consistente em questionários a serem respondidos pelas
unidades auditadas, gestores e alta administração, além das avaliações externas.
Finalmente, o CNJ optou por elaborar um Manual de Auditoria para todo o Poder
Judiciário, de natureza conceitual, orientativa e referencial, criando um Sistema de Auditoria
do Poder Judiciário – SIAUD-JUD, para servir de procedimento padronizado para todas as
ações de auditoria interna dos órgãos jurisdicionais. Nas palavras do presidente da Comissão
10

Permanente de Auditoria do CNJ, isso representa "O fortalecimento do serviço de auditoria


vai dar mais segurança para que os administradores possam agir dentro das melhores
práticas".
4. Considerações finais.

As Resoluções CNJ nos 308 e 309 atenderam as recomendações do Tribunal de


Contas da União e trouxeram avanços inegáveis e expressivos para os órgãos de auditoria
interna do Poder Judiciário, ao organizar e fixar diretrizes, padrões e sistema de atuação das
atividades de auditoria, seguindo normas e procedimentos internacionais de instituições de
renome, autônomas e da área de auditoria, almejando, em última instância, o aprimoramento
da prestação do serviço público. As citadas normas expressam verdadeiras normas de
governança para exercício da atividade de auditoria interna.

Sob à luz das normas do CNJ e dos acórdãos do TCU, o Tribunal Regional Eleitoral
de São Paulo editou seus normativos sobre o sistema de auditoria interna, dando passos
firmes para a atuação precípua do órgão de auditoria interna, quais sejam, auditoria interna
e consultoria, deixando de lado a função típica de gestão nos processos decisórios do aludido
tribunal.

O trabalho de revisão e aprimoramento das normas é perene e contínuo, razão pela


qual as regras em tela já foram modificadas pelas Resoluções CNJ nos 403, 422, de 2021, e
423, de 2023 8.

Desse modo, há uma consolidação da incumbência e responsabilidade dos órgãos de


auditoria interna do Poder Judiciário, tornando-se unidades de auxílio aos gestores públicos
na contínua busca pela eficácia e eficiência da gestão pública, alinhada ao planejamento
estratégico da instituição, e apontando caminhos de melhoria, através de boas práticas e
lições aprendidas em cada atividade de auditoria interna.

O esforço e união do Tribunal de Contas da União, do Conselho Nacional de Justiça,


dos Conselhos e Tribunais do Poder Judiciário revelam o propósito de dar aos órgãos de
auditoria interna condições de cumprir a sua missão constitucional, contribuindo de forma
efetiva no fortalecimento e progresso da prestação de serviço público.

8
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3288
11

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 86, de 08 de setembro de 2009.


Dispõe sobre a organização e funcionamento de unidades ou núcleos de controle interno nos
Tribunais, disciplinando as diretrizes, os princípios, conceitos e normas técnicas necessárias
à sua integração. Diário Oficial da União, Seção 1, nº 178, p. 87, 17 set. 2009;
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 308, de 11 de março de 2020.
Organiza as atividades de auditoria interna do Poder Judiciário, sob a forma de sistema, e
cria a Comissão Permanente de Auditoria. Diário de Justiça Eletrônico do CNJ, nº 90, p. 2,
1º de abril de 2020.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 309, de 11 de março de 2020.
Aprova as Diretrizes Técnicas das Atividades de Auditoria Interna Governamental do Poder
Judiciário – DIRAUD-Jud e dá outras providências. Diário de Justiça Eletrônico do CNJ, nº
90, p. 5-16, 1º de abril de 2020.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO. Resolução nº 297, de 5 de
dezembro de 2013. Aprova o Regulamento Interno da Secretaria do Tribunal Regional
Eleitoral de São Paulo. Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo - Edição, p. 3-51, 11 dez.
2013.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO. Resolução nº 535, de 29 de abril
de 2021. Dispõe sobre alteração da estrutura organizacional da Secretaria de Controle
Interno do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo, com os consequentes
remanejamento e transformação de cargos em comissão e de funções comissionadas, sem
aumento de despesa, a fim de implementar e estruturar a dissociação das atividades da
unidade de auditoria interna da unidade de prestação de contas eleitorais e partidárias. Diário
da Justiça Eletrônico, 03 mai. 2021.

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