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CONTABILIDADE

PÚBLICA
AVANÇADA

Organizadora:
Aline Alves
Julgamento pelos
tribunais de contas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

n Reconhecer a principal função do Tribunal de Contas da União.


n Identificar os critérios estabelecidos para realizar a fiscalização pelo
Tribunal de Contas.
n Analisar a legislação que regula as contas administrativas públicas e
os procedimentos realizados pelo órgão.

Introdução
É de competência do Tribunal de Contas da União prestar informa-
ções que foram requisitadas pelo Congresso Nacional; essa solicitação
pode partir de qualquer de suas Casas ou mediante qualquer de suas
Comissões, relativas ao controle contábil, financeiro, operacional, orça-
mentário e patrimonial. Tais ações do TCU podem ser verificadas através
da Constituição Federal art. 71, inciso VII. O auxílio prestado está previsto
através da Lei nº 8.443/92 nos arts. 38 e 103, e também no Regimento
Interno do TCU, mediante arts. 231 a 233.
Neste texto, você vai estudar as principais funções do TCU, reconhe-
cer os métodos definidos para o processo de fiscalização e verificar a
legislação que regulamenta esses processos desenvolvidos pelo órgão.

Período para envio e julgamento das contas


O Tribunal de Contas da União (TCU) corresponde a um tribunal administrativo.
Compete a ele realizar o julgamento das contas relacionadas aos administradores
públicos e outros responsáveis pelos valores em dinheiro, bens e também valores
públicos federais. Ele também julga as contas de toda pessoa que ocasionar
perda, extravio ou ainda qualquer outra irregularidade que venha a resultar em

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prejuízo à Fazenda. Essa competência administrativa-judicante, assim como


outras, está disposta na Constituição Federal (BRASIL, 1988), no artigo 71.
De acordo com as normas praticáveis, os processos de contas ordinárias
são enviados ao TCU no período financeiro consecutivo ao seu encerramento.
Isso é feito conforme ordenação determinada anualmente mediante decisão
normativa e pelo período máximo de 180 dias. Esse prazo começa a valer a
partir do encerramento do referido exercício financeiro.
Com relação às tomadas de contas da Justiça Eleitoral, se deve apresentá-las
pelo período máximo de 210 dias, contados a partir da data de encerramento
do referido exercício financeiro e também dos processos relativos às contas
extraordinárias. É necessário considerar até 120 dias da efetiva extinção,
liquidação, dissolução, transformação, fusão ou ainda incorporação referente
à unidade jurisdicionada.
Você deve saber que, a partir do exercício de 2007, a Norma de Execução
CGU/PR nº 5/07 (BRASIL, 2007) definiu que, no campo do Poder Executivo,
as tomadas e prestações de contas deverão ser enviadas às referidas unidades
de controle interno obedecendo aos seguintes prazos:

n Processo anual das contas de unidade da administração direta, demons-


trado de maneira individual: até 29 de fevereiro.
n Demais processos relacionados à tomada de contas consideradas não
individuais e processo relativo à prestação de contas: até 31 de março.

As contas de fundos especiais que possuem essência contábil ou financeira deverão


ser enviadas junto às contas da entidade ou do órgão ao qual estão vinculadas. É
necessário apresentá-las mediante demonstrações diferentes e conforme retratadas
na legislação que as gerou, da mesma maneira com relação à legislação que regula
os processos que possuem a mesma natureza.

O julgamento das contas referente aos dirigentes e demais responsáveis


deve ser realizado pelo TCU com embasamento nos processos de tomadas
e prestação de contas enviados e orientados mediante os órgãos de controle
interno. Para esse julgamento, será dado o prazo até o término do exercício
seguinte àquele em que as contas tiverem sido demonstradas.

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Contudo, esse prazo será suspenso quando:

n O exame do referido processo resultar em perícia.


n Estiver em trâmite no Tribunal processo de denúncia, evidenciação,
inquérito, vistoria, auditoria ou outros cuja decisão a ser emitida possa
ocasionar efeitos no julgamento do mérito das referidas contas.

Você pode perceber que essa ordenação não depende da apreciação das
contas anuais do presidente da República. Ela é resultante do parecer prévio
redigido 60 dias depois do recebimento das contas, conforme previsto na
Constituição Federal (BRASIL, 1988), artigo 71, inciso I. Assim, deve ocorrer
no prazo de 60 dias depois da abertura da sessão legislativa, o que pode ser
observado na Constituição Federal (BRASIL, 1988), artigo 84, inciso XXIV,
de 2 de fevereiro, e conforme artigo 57, caput, modificado pela EC nº 50/06
(BRASIL, 2006).
Seguindo esses critérios, o parecer deverá ser redigido até 2 de junho.

Dimensão do desempenho do Tribunal de


Contas
O TCU é também denominado Corte de Contas. É composto por nove minis-
tros. Seis deles são apontados pelo Congresso Nacional. Quanto aos demais,
um é indicado pelo presidente da República e os outros dois, selecionados por
auditores e integrantes do Ministério Público, que funciona junto ao Tribunal.
Suas decisões são realizadas, em regra, pelo Plenário, que se refere à instância
máxima, ou ainda, nas hipóteses praticáveis, por uma das duas Câmaras. Você
deve saber que, nas sessões do plenário e das câmaras, é exigida a presença
de representante do Ministério Público junto ao Tribunal. Este se refere a um
órgão independente, que possui como missão fundamental a promoção da
defesa da ordem jurídica.
Para execução da missão institucional, o TCU conta com uma secretaria,
que objetiva fornecer o apoio técnico necessário para o exercício de suas
competências constitucionais e legais.
A secretaria à disposição do TCU é composta de várias unidades:

n Secretaria-Geral das Sessões


n Secretaria-Geral de Administração
n Secretaria-Geral de Controle Externo

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Os dirigentes da área executiva e do controle externo são responsabilidade


da Secretaria-Geral de Controle Externo. A ela estão sujeitas as unidades
técnico-executivas que estão localizadas em Brasília e nos demais 26 estados
da Federação. Estas últimas possuem por incumbência, além de outras ações,
fiscalizar a execução dos recursos federais que foram repassados para esta-
dos e municípios, normalmente por meio de convênio ou outro instrumento
congênere.

Entre as atividades básicas do Tribunal de Contas da União, estão: fiscalizar, realizar as


consultas, prestar informações, realizar o julgamento, sancionar, corrigir, normatizar
e auditar.

A atividade de fiscalizar contempla efetuar auditorias e inspeções, mediante


vontade própria, via requisição do Congresso Nacional. Também envolve
a verificação de possíveis denúncias, em órgãos e entidades federais e em
programas de Governo. Inclui ainda a análise da legitimidade dos atos de
concessão de aposentadorias, pensões, reformas e contratação de pessoal para
o serviço público federal, bem como o controle de renúncias relacionadas às
receitas e de atos e contratos administrativos em geral.

A fiscalização corresponde a um processo de atuação em que são empregados recursos


humanos e também materiais com a finalidade de verificar a gestão dos recursos
públicos. O processo consiste, essencialmente, em colher informações, verificar, elaborar
um relatório e constituir um juízo de valor.

A fiscalização poderá ser efetuada mediante cinco instrumentos conside-


rados fundamentais:

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n Levantamento: se refere ao instrumento usado para reconhecer a


entidade e suas funções relacionadas a sistema, programa, projeto ou
ações governamentais. Também é utilizado para reconhecer objetos
e ferramentas de controle e mensurar a viabilidade da sua efetivação.
n Auditoria: verifica a legalidade e a legitimidade referente aos atos da
gestão, considerando os aspectos contábeis, orçamentários, financeiros
e patrimoniais. Também verifica a execução operacional e os resultados
atingidos pelos órgãos, entidades, programas e projetos governamentais.
n Inspeção: busca dados não disponíveis no Tribunal ou também escla-
rece dúvidas. Tem por função ainda apurar acontecimentos trazidos ao
conhecimento do Tribunal por meio de denúncias ou apresentações.
n Acompanhamento: se refere ao controle e à análise da gestão de órgão,
entidade ou programa governamental correspondente a um período de
tempo definido anteriormente.
n Controle: é usado com o objetivo de medir o atendimento das determina-
ções do Tribunal e dos resultados ocorridos. A ação consultiva é aplicada por
meio da elaboração de pareceres estimados e individualizados, de essência
basicamente técnica, a respeito das contas prestadas ao ano, pelos chefes
dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e também mediante o chefe
do Ministério Público da União, com o intuito de ajudar no julgamento.

O processo de controle integra ainda o exame de consultas efetuadas


pelos responsáveis pela função. Ele busca o esclarecimento de dúvidas na
aplicação de dispositivos legais e regulamentares respectivos às matérias de
competência do Tribunal.
Cada responsável, ou seja, cada ministro ou auditor do TCU, tem a missão
de apresentar esses processos, demonstrar voto e sujeitar aos pares a proposta de
acórdão. Isso ocorre depois da verificação e da instrução preliminar efetuadas
pelos órgãos técnicos da secretaria do Tribunal.

É importante você compreender que as penalidades aplicadas pelo Tribunal de Contas


não eliminam a execução de medidas penais e demais sanções administrativas. Estas
últimas são realizadas pelas autoridades responsáveis.

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Atuação do Tribunal de Contas


A lei nº 8.443/92 (BRASIL, 1992), artigo 1º, que aborda o julgamento das
contas dos administradores, define sobre a competência do TCU, considerado
órgão de controle externo:

Art. 1° Ao Tribunal de Contas da União, órgão de controle externo, com-


pete, nos termos da Constituição Federal e na forma estabelecida nesta Lei:
I – julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por
dinheiros, bens e valores públicos das unidades dos poderes da União
e das entidades da administração indireta, incluídas as fundações e so-
ciedades instituídas e mantidas pelo poder público federal, e as contas
daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de
que resulte dano ao Erário.

Sua atuação está prevista mediante a Constituição Federal (BRASIL, 1988),


no artigo 71. Ele retrata o auxílio prestado ao Congresso Nacional, entre outras
ações que devem ser executadas pelo TCU:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exer-


cido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
I – apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da Re-
pública, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta
dias a contar de seu recebimento;
II – julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por
dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta,
incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder
Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio
ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;
III – apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão
de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas
as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as
nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melho-
rias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório.

Você deve considerar, com relação às atribuições do TCU, o que afirma


o inciso IV do artigo 71 da mesma lei. Segundo ele, o Tribunal de Contas
da União pode efetuar, de modo voluntário, ações relacionadas à inspeção e

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também auditorias em qualquer uma das unidades administrativas inseridas


nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Também estão incluídas a
administração direta e indireta, as fundações e as sociedades estabelecidas e
conservadas mediante o Poder Público Federal.
Da mesma maneira, é possível requisitar as ações de fiscalização por meio
das casas do Congresso Nacional, ou também por uma das suas comissões
técnicas ou de inquérito. Designadamente, é possível realizar as ações de
inspeção por meio de auditorias.
Observe o que afirma a Constituição Federal (BRASIL, 1988), artigo 71,
inciso IV:

IV – realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado


Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de
natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas
unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário,
e demais entidades referidas no inciso II.

Como você pode verificar nos demais incisos do artigo 71 da Constituição


Federal (BRASIL, 1988), as funções do TCU compreendem:

n Controlar as contas nacionais relativas às empresas supranacionais,


em cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta,
conforme estabelecido nos termos do tratado constitutivo.
n Controlar a execução de todo recurso que for repassado pela União, por
meio de convênio, contrato, correção ou outros instrumentos congêneres,
a estado, ao Distrito Federal ou a município.
n Fornecer dados requisitados pelo Congresso Nacional, por qualquer de
suas casas, ou mediante respectivas comissões, por meio da inspeção
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, e também
mediante os efeitos de auditorias e perícias ocorridas.
n Executar sobre os responsáveis, se houver situações de ilegalidade
relacionadas à despesa ou irregularidade de contas, as medidas pre-
vistas em lei. Esta definirá, entre outras imposições, multa adequada
ao prejuízo causado à Fazenda.
n Firmar prazo, de maneira que o órgão ou a entidade escolha as providên-
cias cabíveis ao exato cumprimento da lei, se forem de fato constatadas
ilegalidades.
n Cancelar, na ocorrência de não atendimento, a aplicação do ato impug-
nado, comunicando a decisão aos responsáveis.

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n Demonstrar ao poder competente as irregularidades ou os excessos


apurados.

Na existência de contrato, o ato de rompimento será realizado diretamente


pelo Congresso Nacional, que requisitará de forma instantânea ao Poder Execu-
tivo as medidas cabíveis. Contudo, na ocorrência de o Congresso Nacional ou
o Poder Executivo, no prazo de 90 dias, não executar as providências previstas
em lei, o Tribunal ficará encarregado de resolver tal situação.

As decisões tomadas pelo Tribunal que tenham como consequência a atribuição de


débito ou multa terão êxito de título executivo. O Tribunal enviará ao Congresso Nacio-
nal, observando o período trimestral e anual, o respectivo relatório de suas atividades.

A tomada de contas especial estabelecida precisa ser enviada ao Tribunal


de Contas. Contudo, se a unidade administrativa que repassou os recursos não
definir a tomada de contas especial competente, fica a critério do Tribunal
de Contas da União a referida função, conforme determina a lei nº 8.443/92
(BRASIL, 1992), artigo 8º, § 1º. Se a tomada de contas especial não apurar
irregularidades, ela precisará ser enviada pela entidade administrativa que a
definiu, junto com a sua prestação de contas anual, com o objetivo de exame
pelo Tribunal de Contas.
Na constatação do prejuízo, se deve primeiramente apurar o seu valor e
depois enviá-la ao TCU. No entanto, segundo determina a Lei Orgânica do
TCU, artigo 8º, § 2º, a remessa da tomada de contas especial deve ser realizada
imediatamente ao TCU se o valor for idêntico ou acima da quantia definida
anualmente pelo Tribunal. Se o valor correspondente for inferior à quantia
estabelecida, a remessa do processo de tomada de contas especial precisa
obedecer ao que diz a lei nº 8.443/92 (BRASIL, 1992), artigo 8º, § 3º.

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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 dez. 2016.
BRASIL. Emenda constitucional nº 50, de 14 de fevereiro de 2006. Brasília, DF, 2006. Dis-
ponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/
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BRASIL. Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992. Brasília, DF, 1992. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8443.htm>. Acesso em: 14 dez. 2016.
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ponível em: <http://www.cgu.gov.br/sobre/legislacao/arquivos/portarias/porta-
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Leituras recomendadas
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Funcionamento do TCU. Brasília, DF, c2016. Dispo-
nível em: <http://portal.tcu.gov.br/institucional/conheca-o-tcu/funcionamento/>.
Acesso em: 14 dez. 2016.
PISCITELLI, Roberto B.; TIMBÓ, Maria Zulene F. Contabilidade pública: uma abordagem
da administração financeira pública. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
SILVA, Lino Martins da. Contabilidade governamental: um enfoque administrativo da
nova contabilidade pública. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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