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RELATÓRIO DE APURAÇÃO

Agência Espacial Brasileira


Apuração de denúncias sobre irregularidades em deslocamentos para fora do país de
servidores públicos da Agência Espacial Brasileira para eventos no exterior.
Exercícios 2021 e 2022

Março de 2023
Controladoria-Geral da União (CGU)
Secretaria Federal de Controle Interno (SFC)

RELATÓRIO DE APURAÇÃO
Órgão: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
Unidade Examinada: Agência Espacial Brasileira
Município/UF: Brasília/DF
Relatório de Apuração: #1259709
Missão
Elevar a credibilidade do Estado por meio da participação social, do controle
interno governamental e do combate à corrupção em defesa da sociedade.

Apuração
O serviço de apuração consiste na execução de procedimentos com a finalidade
de averiguar atos e fatos inquinados de ilegalidade ou de irregularidade
praticados por agentes públicos ou privados, na utilização de recursos públicos
federais.
POR QUE A CGU REALIZOU ESSE
QUAL FOI O TRABALHO?
TRABALHO O trabalho foi realizado a partir das apurações
REALIZADO realizadas no Plano de trabalho #1194826, que

PELA CGU? tratou da análise de denúncias sobre supostas


irregularidades ocorridas na contratação de
Apuração de supostas consultoria no âmbito da participação no
irregularidades relacionadas evento Space4Women e, posteriormente, ao
aos deslocamentos para fora
recebimento denúncias sobre supostas
do país de servidores públicos
da Agência Espacial Brasileira. irregularidades relacionadas a outros
Foram realizadas apurações deslocamentos para fora do país de servidores
relacionadas à motivação, aos públicos da Agência Espacial Brasileira.
benefícios e aspectos afetos a
regularidade dos processos
de autorizações e prestação QUAIS AS CONCLUSÕES
de contas realizados entre
2021 e 2022.
ALCANÇADAS PELA CGU? QUAIS
AS RECOMENDAÇÕES QUE
DEVERÃO SER ADOTADAS?
Após os exames realizados, foram constatadas
a) deficiências/ausências de motivação dos
afastamentos para o exterior; b) presença de
servidores com atribuições não diretamente
relacionadas com o objeto do afastamento; c)
deslocamentos realizados fora do fluxo normal
com justificativa inadequada; d) deficiências
na justificativa quanto ao número necessário
para composição das comitivas; e)
incompletude dos requisitos normativos
necessários para prestação de contas; e, por
fim, f) ausência de informações acerca de
cancelamentos de viagens no SEI-AEB.

Recomenda-se aprimorar a norma interna com


parâmetros objetivos para a motivação e
aprovação das viagens, além de prever registro
do cancelamento de viagens e a aprovação das
contas por parte do MCTI nos processos
internos da AEB.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AEB Agência Espacial Brasileira


CGU Controladoria-Geral da União
DTU Universidade Técnica da Dinamarca (DTU Space)
MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
PNDAE Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais
PNAE Programa Nacional de Atividades Espaciais
SCDP Sistema de Concessão de Diárias e Passagens
SEI Sistema Eletrônico de Informações
SIAF Sistema Integrado de Administração Financeira
LOA Lei Orçamentária Anual
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 6

RESULTADOS DOS EXAMES 9

1. Necessidade de melhor motivação na aprovação das viagens 9

2. Presença de servidores com atribuições não diretamente relacionadas com a temática


da viagem 10

3. Viagens realizadas como urgentes com justificativas inconsistentes 11

4. Motivação insuficiente para comprovar quantidade necessária de servidores para as


viagens internacionais 13

5. Prestações de contas apresentadas não contemplam a totalidade dos requisitos


normativos 14

6. Falta registro de informação no SEI sobre o cancelamento de viagens 15

7. Falta de comprovação da aprovação do MCTI nos processos internos da AEB 15

RECOMENDAÇÕES 17

CONCLUSÃO 18

ANEXOS 19
INTRODUÇÃO

Este Relatório apresenta os resultados da ação de apuração realizada a respeito dos


deslocamentos realizados por agentes e servidores da Agência Espacial Brasileira (AEB) ao
exterior. O trabalho compreende viagens internacionais realizadas no ano de 2021 e, na sua
maioria, viagens realizadas em 2022. No total foram examinados 16 processos de concessão
de diárias e passagens disponíveis no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) da AEB. A ação
apuratória decorreu de denúncias recebidas pela CGU por meio do sistema Fala-Br acerca de
supostas irregularidades nas viagens internacionais realizadas pelos agentes públicos da AEB.

As denúncias recebidas pela CGU inicialmente trataram de supostas irregularidades


relacionadas à contratação, pela AEB, de consultoria no âmbito do projeto BRA/20/021 para
participação no evento Space4Women, realizado em Dubai, nos dias 21 e 22 de outubro de
2021. No curso da apuração, foram recebidas novas denúncias relacionadas a outros
deslocamentos internacionais dos agentes públicos da AEB, de modo que se optou pela
realização de auditoria para apurar as supostas irregularidades nas viagens internacionais
realizadas pela Agência entre 2021 e 2022, iniciando-se pela referida viagem à Dubai.

Inicialmente, faz-se necessário discorrer acerca da missão institucional da AEB e suas


competências.

A Agência foi criada por meio da Lei nº 8.854, de 10 de fevereiro de 1994, com finalidade de
promover o desenvolvimento das atividades espaciais de interesse nacional. De acordo com a
referida lei:

Art. 3º À AEB compete:


I - executar e fazer executar a Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades
Espaciais (PNDAE), bem como propor as diretrizes e a implementação das ações dela
decorrentes;
II - propor a atualização da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades
Espaciais e as diretrizes para a sua consecução;
III - elaborar e atualizar os Programas Nacionais de Atividades Espaciais (PNAE) e as
respectivas propostas orçamentárias;
IV - promover o relacionamento com instituições congêneres no País e no exterior;
V - analisar propostas e firmar acordos e convênios internacionais, em articulação
com o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Ciência e Tecnologia,
objetivando a cooperação no campo das atividades espaciais, e acompanhar a sua
execução;
[...]

Desta feita, cabe ressaltar o papel da Agência no relacionamento com organismos


internacionais para realizar sua missão no desenvolvimento das atividades espaciais no
âmbito nacional. Por exemplo, cooperação entre os BRICS, agrupamento de países de
mercado emergente em relação ao seu desenvolvimento econômico formado por Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul. De acordo com o PNAE, essa cooperação tem como
objetivo estabelecer uma constelação de satélites de sensoriamento remoto que se consolida
6
por meio do compartilhamento de dados entre organizações desses países. Para abordar
desafios que se relacionem a mudanças climáticas globais, gestão de desastres, proteção do
meio ambiente, prevenção da escassez hídrica e prevenção de escassez de alimentos. Outro
exemplo é Programa Artemis, o programa visa promover uma missão tripulada à Lua, com a
utilização de tecnologias inovadoras para a sua exploração.

Em seguida, vale compreender o instituto do afastamento a serviço de agentes e servidores


para representação em missão oficial fora do país. O principal ato normativo que dispõe
acerca do afastamento é o Decreto nº 1.387, de 7 fevereiro de 1995. Nele, são disciplinados
os casos possíveis de deslocamento para o exterior por agentes e servidores civis de órgãos e
entidades da Administração Pública Federal, a saber:

Art. 1º O afastamento do País de servidores civis de órgãos e entidades da


Administração Pública Federal, com ônus ou com ônus limitado, somente poderá ser
autorizado nos seguintes casos, observadas as demais normas a respeito,
notadamente as constantes do Decreto nº 91.800, de 18 de outubro de 1985:
I - negociação ou formalização de contratações internacionais que,
comprovadamente, não possam ser realizadas no Brasil ou por intermédio de
embaixadas, representações ou escritórios sediados no exterior;
II - missões militares;
III - prestação de serviços diplomáticos;
IV - serviço ou aperfeiçoamento relacionado com a atividade fim do órgão ou da
entidade, de necessidade reconhecida pelo Ministro de Estado ou pelo Presidente
do Banco Central do Brasil, conforme o caso; (Redação dada pelo Decreto nº 10.789,
de 2021)
V - intercâmbio cultural, científico ou tecnológico, acordado com interveniência do
Ministério das Relações Exteriores ou de utilidade reconhecida pelo Ministro de
Estado ou pelo Presidente do Banco Central do Brasil, conforme o caso; e (Redação
dada pelo Decreto nº 10.789, de 2021)
VI - bolsas de estudo para curso de pós-graduação stricto sensu.

O escopo do objeto em apuração neste trabalho compreende os deslocamentos para o


exterior realizados pela Agência no valor aproximado de R$1.295.897,871, com base em dados
levantados no painel de viagens do Ministério da Economia. Nesse contexto, ressalta-se que
o orçamento consignado na Lei de Orçamentaria Anual (LOA) para a AEB em 2022 sofreu uma
redução expressiva, quando comparado com 2021. Em contraste, é possível observar um
aumento significativo nas viagens internacionais, tanto em quantidade quanto em valor,
conforme apresentado na Tabela a seguir:

Tabela 1 - Orçamento x Viagens realizadas


Unidade Orçamentária Ano Orçamento Viagens Quantidade de viagens concluídas
Agência Espacial Brasileira 2021 R$ 50.246.475,19 R$ 524.335,34 18
Agência Espacial Brasileira 2022 R$ 25.826.567,76 R$ 935.471,96 34
Fonte: painel de viagens do Ministério da Economia

1
O valor não compreende todos os deslocamentos realizados no ano de 2021 e também não compreende a todo
o ano de 2022, apenas aos deslocamentos realizados a data em que o trabalho teve início para o ano de 2022.
7
O investimento em viagens também se mostra relevante na AEB quando se considera outras
unidades do sistema MCTI, mesmo aquelas com estrutura e orçamento maiores. A título de
ilustração, entre 2019 e outubro 2022, a AEB realizou 108 viagens, ao passo que o CNPq e a
CNEN, 33 e 34 respectivamente. Não se questiona o total de viagens a priori, tendo em vista
o perfil de atividades da Agência, mas esses dados reforçam a relevância do tema em relação
aos processos da Unidade e a criticidade de sua análise.

Dessa forma, o trabalho buscou responder às seguintes questões de auditoria:

1. Os processos foram instruídos adequadamente?

2. As prestações de contas das viagens foram devidamente apresentadas de acordo


com a legislação pertinente?

3. Como os resultados das viagens internacionais impactam no cumprimento da


missão da AEB?

A metodologia empregada consistiu no exame documental de amostra não probabilística e


análise de dados contidos em processos registrados no SEI, no Painel de Viagens do Ministério
da Economia e de dados extraídos do Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI)
e Portal da Transparência do Governo Federal. Não houve limitações ou restrições ao trabalho
no que tange ao acesso e concessão de informações e acesso aos dados.

Como benefícios esperados do trabalho, objetiva-se uma melhoria dos processos internos
relacionados aos deslocamentos internacionais da AEB e uma racionalização dos custos e das
comitivas integrantes dessas viagens, e a realização das viagens em caráter de urgência
apenas em casos excepcionais que não poderiam ser planejadas com a antecedência
recomendada.

8
RESULTADOS DOS EXAMES

1. Necessidade de melhor motivação na aprovação das viagens


De acordo com Instrução Normativa Nº 1, de 19 de julho de 2021, instrução que disciplina
procedimentos para concessão de diárias e passagens de viagens nacionais e internacionais,
no âmbito da Agência Espacial Brasileira, é necessário que os processos incluam informações
acerca da pertinência do afastamento com os interesses da AEB. Entretanto, com base nas
justificativas, termos de imprescindibilidade e solicitações para afastamento do país,
presentes nos processos, verificou-se a ausência análise prévia dos impactos/benefícios
esperados com os deslocamentos, de forma clara e alinhada com programas, projetos e metas
da Agência. Vale destacar que, nos arts. 6º e 7º da IN, são abordados os requisitos e
formulários para motivar o afastamento:

Art. 6º Compete aos titulares das Diretorias da Agência Espacial Brasileira, à Chefia
de Gabinete, ou ao Presidente da Agência Espacial Brasileira a autorização de
afastamento da sede para deslocamentos nacionais dos servidores das respectivas
unidades.
Parágrafo único. A solicitação de que trata o caput deve incluir informações sobre a
pertinência do afastamento com os interesses da Agência Espacial Brasileira e a
correlação das atividades desenvolvidas pelo servidor com o objetivo da viagem.
(grifos nossos)
Art. 7º O processo administrativo com vistas à autorização de afastamento do País
deverá ser encaminhado pela unidade solicitante à Presidência da Agência Espacial
Brasileira, com antecedência de, no mínimo, 30 (trinta) dias do início da missão, e
deverá constar:
I - solicitação de autorização para afastamento do País completamente preenchida,
disponível no SEI;
II - documentos que justifiquem o afastamento, tais como carta-convite ou
documento congênere, manifestando interesse da organização do evento, governo
estrangeiro, organismo ou entidade internacional quanto à participação de
representante desta Agência;
III - agenda ou programação do evento com a especificação das atividades previstas,
que deverão ser compatíveis com a justificativa apresentada para o pedido de
afastamento do País.
[...]

A solicitação de autorização para afastamento do país deve ser realizada via formulário SEI. O
formulário dispõe de campo específico denominado “IMPACTO/BENEFÍCIO DA MISSÃO PARA
A AGÊNCIA E RESULTADOS ESPERADOS”, e nele deve-se fazer referência a pertinência do
deslocamento com os interesses e missão institucional da agência. As evidências indicam que,
na maioria dos processos, não são apontados de forma clara e precisa os impactos /benefícios
esperados para AEB com os deslocamentos ao exterior. Conforme evidenciado, no
preenchimento do campo de exposição dos impactos/benefícios esperados, disponível no
formulário de solicitação de afastamento não há clareza ou ainda detalhamento de quais
serão os benefícios gerados no âmbito da agência no que tange aos programas, objetivos,
metas e ações relacionados no PNAE. Um exemplo disso foi a viagem para Copenhage/

9
Dinamarca2 que teve como finalidade de manter reuniões com o Instituto de Pesquisa Espacial
dinamarquês (DTU Space) e, posteriormente, participação no evento “Semana de Inovação
Brasil-Suécia” realizado na cidade de Estocolmo na Suécia, os quais se realizaram entre os dias
09 e 15 de maio de 2022. Ademais, de forma semelhante são exemplos, as viagens realizadas
para Quito/ Equador3 e Colorado Springs/ Estados Unidos4.

Como possível causa para insuficiência de exposição dos impactos/benefícios esperados é a


carência de alinhamento dos deslocamentos realizados com as estratégias e objetivos
institucionais da agência.

Entende-se que os processos administrativos foram instruídos com motivação insuficiente


para demonstrar a imprescindibilidade dos deslocamentos internacionais para os objetivos do
PNAE, resultando em processos que não demonstram de forma inequívoca a clareza de
identificação prévia de potenciais benefícios das viagens em relação aos programas, objetivos,
metas e ações da agência.

2. Presença de servidores com atribuições não diretamente


relacionadas com a temática da viagem
Conforme Instrução Normativa nº 1, de 19 de julho de 2021, em seu parágrafo único do Art.
6º:

Parágrafo único. A solicitação de que trata o caput deve incluir informações sobre a
pertinência do afastamento com os interesses da Agência Espacial Brasileira e a
correlação das atividades desenvolvidas pelo servidor com o objetivo da viagem.

Para escolha dos integrantes das comitivas para missões internacionais, deve-se buscar, no
corpo funcional, colaboradores com habilidades técnicas suficientes e adequadas e que
desenvolvam atividades correlatas com os objetivos do afastamento, posto que os acordos,
contratos e conhecimentos realizados ou adquiridos no afastamento devem ser absorvidos de
forma a serem utilizados no âmbito da AEB para o alcance de seus objetivos. Restou
evidenciado a presença de servidores com atribuições diversas da temática das viagens e que
realizaram atividades de cunho administrativo, sem correlação com o objeto do afastamento.
Em virtude da diferença encontrada e a situação esperada, faz-se necessário apontar
deficiências no planejamento e seleção dos colaboradores selecionados para compor as
comitivas.

Essas deficiências estão intimamente relacionadas com o Achado 4 deste Relatório, que trata
do quantitativo de servidores participantes dos eventos, e é descrito na sequência. Quando
são enviadas comitivas muito grandes, como nas viagens a Paris e Dubai, naturalmente fica
mais difícil de comprovar a correlação entre as atividades desenvolvidas por cada servidor
com os objetivos da viagem. Como exemplo, pode-se citar a presença de assistentes e

2
Processo SEI_01350.001605_2021_43
3
Processo SEI_01350.000081_2022_54
4
Processo SEI_01350.000312_2022_20
10
assessores da presidência, além de servidores de áreas como comunicação social. Conforme
a doutrina, pode-se afirmar que, na verdade, os servidores não viajam, mas se afastam a
serviço para cumprir tarefas de interesse público. Isso reforça a necessidade de um
planejamento criterioso para cada viagem, para evitar possíveis distorções.

Desse modo, verificou-se ausência de correlação de atividades desenvolvidas por servidores


em missão com o objeto dos deslocamentos para eventos realizados no exterior, trazendo o
risco, dessa forma, de dispêndio de recursos financeiros e organizacionais de forma
desnecessária e, por conseguinte, o não atingimento de objetivos institucionais da agência.

3. Viagens realizadas como urgentes com justificativas inconsistentes


As solicitações de afastamento de agentes públicos da AEB cumprem um fluxo administrativo
e temporal para concessão de passagens e diárias, conforme previsto na Instrução Normativa
nº 1, de 19 de julho de 2021. No caso de viagens internacionais, é necessário o
encaminhamento do processo administrativo para Presidência da AEB para aprovação e,
posteriormente, autorização do Ministro de Estado, o qual realiza a autorização de
afastamento para fora do país. Um fluxograma do processo de aprovação apresentado pela
AEB pode ser observado na figura abaixo:

Figura 1 - Fluxo de autorização MCTI

Fonte: Fluxograma interno de concessão de viagens e passagens - AEB

11
De acordo com IN nº 1, de 19 de julho de 2021, Art. 7º:

Art. 7º O processo administrativo com vistas à autorização de afastamento do País


deverá ser encaminhado pela unidade solicitante à Presidência da Agência Espacial
Brasileira, com antecedência de, no mínimo, 30 (trinta) dias do início da missão, [..].

Caso o processo seja encaminhado com prazo inferior aos 30 (trinta dias) do início da viagem,
é necessário apresentar, segundo Art. 9º da IN nº 1:

Art. 9º A autorização para deslocamentos em caráter de urgência será discricionária


e analisará a imprevisibilidade, a inviabilidade de agendamento e o risco institucional
do não afastamento, bem como dependerá de justificativa expressamente
apresentada pelo Proponente, apontando obrigatoriamente:
I - o motivo que impossibilitou a apresentação das informações dentro do prazo;
II - a imprescindibilidade para a ocorrência da atividade fora do prazo;
III - a impossibilidade de remarcação; [...]

Os Formulários de Pré-Aprovação de Viagem e convites de outras entidades evidenciam


atrasos nos trâmites internos para realização das viagens, ou ainda, justificativas
inconsistentes para os motivos que ocasionaram a realização de forma urgente. Destacam-se,
entre possíveis causas, morosidade entre o recebimento de convites e o início do fluxo de
autorização de afastamento e, também, recebimento de convites com prazo exíguo,
impossibilitando seguir o fluxo normal de autorização de afastamento. Isso acarreta aquisição
de passagens e reserva de hotéis com valores mais dispendiosos, devido à proximidade da
data embarque/check in, e, consequentemente, maiores impactos financeiros no orçamento
discricionário da AEB.

Por exemplo, na viagem realizada em abril de 2022, com destino a Santiago no Chile5, para
Feria Internacional del Aire y del Espacio realizada entre os dias 5 e 10 de abril, o afastamento
se originou a partir de convite recebido pela embaixada em Santiago, há indicação que no dia
03/09/2021 o MCTI enderençou o convite para AEB. Todavia, a reunião para indicação dos
nomes dos participantes da missão internacional ocorreu em 03/03/2022 e o envio da
solicitação de afastamento do país no dia 11/03/2022. Consequentemente, a viagem foi
realizada em caráter emergencial. Já na viagem realizada com destino Colorado Springs/
Estados Unidos6, entre os dias 29 de março a 01 de abril de 2022, há indicação do recebimento
do convite por parte da agência no dia 25 de fevereiro de 2022, ao passo que o formulário de
Pré-Aprovação da Viagem foi datado em 10/03/2022, contudo, a justificativa apresentada
para realização da viagem em caráter emergencial foi de que os servidores estavam
analisando qual cotação aérea ficaria mais viável para a viagem. Assim, ficou prejudicada a
consistência da justificativa e sua precisão diante dos prazos dispostos no processo.

Assim, pelo exposto, constata-se lentidão para início dos tramites na seleção de participantes
das missões internacionais, como também, inconsistências/imprecisão relacionadas às
justificativas apontadas para realização de deslocamentos em caráter emergencial.

5
Processo SEI_01350.001237/2021-33
6
Processo SEI_01350.000312/2022-20
12
4. Motivação insuficiente para comprovar quantidade necessária de
servidores para as viagens internacionais
A conduta da dos agentes públicos deve ser pautada por princípios que norteiam o bom
desempenho das atividades e o alcance de metas e objetivos. Assim, a Constituição Federal
de 1988 elenca os principais princípios:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]

O princípio da eficiência baliza que os responsáveis por gerir a coisa pública devem buscar o
melhor resultado possível com o mínimo dispêndio e com níveis adequados de qualidade7.
Além disso, é fundamental explicitar a motivação para os atos e os fundamentos pelos quais
o levaram a chegar à determinada decisão8.

Nesta perspectiva, a motivação quanto ao efetivo de pessoal necessário para o atingimento


dos objetivos do afastamento deve ser clara quanto a necessidade, funções ou atividades que
serão desenvolvidas nos eventos, conferências e reuniões realizadas durante o afastamento.
Contudo, na maior parte dos processos analisados, as justificativas que expõem a motivação
para realização das viagens e os relatórios de prestação de contas são genéricos e não
detalham os serviços e atividades a serem realizadas ou realizados pelo servidor durante a
realização/participação em tais ocorrências.

Da totalidade de 16 processos analisados, foram identificadas inadequações em 11 processos.


Ocorreram viagens em que a participação também poderia ter sido feita por videoconferência,
dispensando a necessidade de mais de um participante presencialmente. Também foram
observadas viagens com membros da comitiva com perfil exclusivamente de apoio
administrativo. Em uma equipe grande, é mais fácil conseguir sinergia entre os membros e
assim evitar deslocamentos desnecessários de servidores.

Entre os motivos para isso, pode-se citar o dimensionamento inadequado da equipe


destacada para atendimento da necessidade da missão no exterior, e, como consequência, o
comprometimento do orçamento discricionário da AEB, dado o elevado custo despendido
com passagens, diárias, seguros e custos administrativos em deslocamentos internacionais.

Conforme relatado, para a maioria dos processos analisados, não foi feita a devida exposição
da necessidade do afastamento de servidores em relação à quantidade, bem como das
atividades a serem realizadas durante o afastamento. Isso fica reforçado quando se analisa os
relatórios de viagem, tema do próximo tópico: não é claramente demonstrada a relação entre
os resultados esperados com a viagem e os resultados alcançados após o retorno ao país.

7
Di Pietro, 2002,p. 83 . DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2002.
8
art. 2º, §único, VII, da Lei n. 9.784/99.
13
5. Prestações de contas apresentadas não contemplam a totalidade
dos requisitos normativos
No contexto de afastamentos internacionais, a prestação de contas (Relatório Circunstanciado
e demais documentos) é de extrema importância para demostrar o trabalho desenvolvido
durante o afastamento, conforme Art.36 da IN nº 1:

II - Apresentação de documentos relacionados com o objetivo das viagens realizadas


a serviço, a exemplo de atas de reunião, certificados de participação ou presença,
entre outros.
[..]

De acordo com a Instrução Normativa nº 3, de 11 de fevereiro de 2015, Art.19, a prestação de


contas deve ser feita dentro de 30 dias, contados da data do término do afastamento:

Parágrafo único. Em caso de viagens ao exterior, com ônus ou com ônus limitado, o
servidor ficará obrigado, dentro do prazo de 30 (trinta) dias, contado da data do
término do afastamento do país, a apresentar relatório circunstanciado das
atividades exercidas no exterior, conforme previsão contida no art. 16 do Decreto nº
91.800, de 18 de outubro de 1985, além do cumprimento do que dispõe o caput.

Ademais, é necessário apresentar à AEB:

Art. 37. Para a prestação de contas de missões em território internacional, o


proposto, seja servidor seja colaborador eventual autorizado pelo Presidente da
República, deverá apresentar, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, no SCDP,
contados da conclusão da missão, um Relatório de Viagem Circunstanciado, com
relato detalhado de atividades desenvolvidas no período, os objetivos esperados e
alcançados, sugestões de encaminhamentos internos e relativos a desenvolvimento
de cooperação técnica internacional.

Dessa maneira, é imprescindível realizar a prestação de contas dentro do prazo legal, com o
detalhamento dos fatos e atividades desenvolvidas, apreciada e aprovada por um superior
hierárquico. Além disso, o Relatório Circunstanciado das viagens é um instrumento que
propicia a identificação de deficiências nos procedimentos internos, oportunizando melhorias
no processo.

Nesse contexto, há lacunas na prestação de contas em relação ao relato detalhado de


atividades desenvolvidas no período, principalmente, quanto aos objetivos esperados e
alcançados. Ademais, há também ausência de sugestões de encaminhamentos internos e
relativos a desenvolvimento de cooperação técnica internacional. De um modo geral, são
relatados fatos ocorridos sem o detalhamento das atividades desenvolvidas por servidores em
sua incumbência. Neste último aspecto há um relacionamento com o Achado 4. Entretanto,
vale mencionar que há prestações em aderência aos requisitos ora expostos.

As implicações da confecção dos relatórios em desconformidade parcial ou de sua não


apresentação, além de não atender à legislação, também traz prejuízos a real apuração dos
benefícios esperados e alcançados e, sobretudo, a futuros exames de outros a agentes e
servidores a respeito dos fatos e ações ocorridas no afastamento.

14
Deste modo, pelas falhas apontadas, houve casos em que a prestação de contas não evidência
adequadamente o cumprimento inequívoco da programação prevista para a viagem e os
benefícios para a instituição, uma vez que os relatórios são falhos em pontos vitais, conforme
descrito acima.

6. Falta registro de informação no SEI sobre o cancelamento de


viagens

Conforme o Art. 3º da IN nº 1/2021, o processo para emissão de passagens e concessão de


diárias para viagens internacionais deverá ser por meio do Sistema de Concessão de Diárias e
Passagens – SCDP e do Sistema Eletrônico de Informações – SEI. O normativo também
prescreve, no seu Art. 5º, que cabe à unidade solicitante a responsabilidade acerca do
acompanhamento dos procedimentos relativos à concessão de passagens aéreas e diárias,
desde sua solicitação até a aprovação da prestação de contas.
De um modo geral, os processos são iniciados com a Solicitação para Afastamento do País e
acabam com a prestação de contas do viajante, materializada pelo Relatório de Viagem
Circunstanciado. Durante a análise no sistema SEI, verificou-se processos que foram
devidamente iniciados, com a presença do documento de Solicitação para Afastamento do
País do servidor, mas que não tiveram um seguimento, ou seja, não possuem um Relatório de
Viagem.
Nos processos relacionados à viagem a Paris, SEI 01350.001106/2022-37 e SEI
01350.001143/2022-45, foram identificados 5 casos em que a solicitação de afastamento foi
feita, mas o relatório de viagem não foi feito. Isso levou a crer que as prestações de contas
desses deslocamentos não foram realizadas tempestivamente, indo contra o disposto no Art.
37 da IN nº 1/2021, que prevê um prazo 30 dias contados da conclusão da missão para a
apresentação do Relatório de Viagem Circunstanciado.
A AEB informou, após a leitura do Relatório Preliminar desta apuração, que esses 5 casos se
referem a viagens que, na verdade, não foram realizadas – os processos de autorização foram
iniciados, mas não tiveram aprovação do MCTI, e por isso as viagens foram canceladas.
Com base no exposto, verifica-se uma fragilidade no procedimento de registro de informações
no sistema SEI, o que pode induzir aos usuários do sistema a erros, assim também como
instâncias de controle. Os processos de viagem no SEI devem ter um início e um fim com as
devidas motivações, de modo que as eventuais pendências sejam prontamente visualizadas.
Assim, as informações referentes ao cancelamento de viagens devem também constar no SEI,
de modo a melhorar a clareza e a transparência das informações.

7. Falta de comprovação da aprovação do MCTI nos processos


internos da AEB
De acordo com a legislação, o sistema para solicitação de emissão de bilhetes e afastamento
é o Sistema de Concessão de Diárias e Passagens (SCDP). O Sistema deve ser utilizado por
15
todos os órgãos e entidades vinculadas ao Executivo Federal. Assim, além de instrução
processual no SEI – AEB, é necessário preencher os dados no sistema para que seja possível
realizar a emissão de bilhetes e, após o retorno, é necessário realizar o procedimento de
prestação de contas, conforme preleciona a Instrução Normativa nº 3, de 11 de fevereiro de
2015:

Art. 13. São procedimentos administrativos para concessão de diárias e passagens


no SCDP:
I - autorização e solicitação de afastamento;
II - pesquisa e reserva dos trechos;
III - autorização de emissão da passagem;
IV - pagamento da diária; e
V - prestação de contas do afastamento.

Nesse contexto, com o objetivo de verificar se havia aprovação das contas prestadas pelos
servidores da AEB ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o Ministério foi
instado a confirmar a realização da prestação e respectiva aprovação.

Nesse âmbito, segundo o MCTI, “O recebimento dos relatórios de viagem ocorre geralmente
via Sistema de Concessão de Passagens e Diárias – SCDP, no qual também é autorizada a
despesa de viagem ao exterior [...] Nesse sistema, além de se fazer a solicitação de viagem,
também é realizada toda a prestação de contas do interessado”.

Diante do retorno aos questionamentos, ficou constatado que não há indicação nos processos
SEI-AEB de que seja realizada alimentação dos processos com o recebimento das informações
pelo MCTI e, consequentemente, a aprovação. Isso decorre do fato de que não há previsão
dessa comunicação entre prestação de contas/aprovação no SCDP e a alimentação do
processo SEI, o que prejudica a clareza e a transparência da fase final do processo de
afastamento. Entretanto, conforme Memorando nº 17096-2022-MCTI: “se encontra, no
âmbito deste Ministério, uma proposta de portaria com o intuito de aperfeiçoar os controles
relacionados aos afastamentos do país dos servidores do MCTI, bem como de suas entidades
vinculadas”.

Portanto, ficou caracterizado que não há previsão para alimentação do processo SEI-AEB da
prestação/aprovação realizada pelo MCTI via SCPD, de afastamentos autorizados pelo
Ministro de Estado. Todavia, como descrito, há propostas de aperfeiçoamento de controles
por parte do Ministério relacionado ao tema.

16
RECOMENDAÇÕES
Recomendações à AEB:

1 – Aprimorar a norma interna da AEB sobre os afastamentos, de modo a garantir que os


seguintes aspectos sejam cumpridos:

a) Solicitações de Afastamento com parâmetros objetivos para a motivação, tornando


mais claros os benefícios e impactos esperados, além da efetiva consonância entre as
atribuições dos agentes envolvidos e os objetivos da missão.
Achados n° 1, 2 e 4;

b) Relatórios de Viagem que contemplem a totalidade dos requisitos normativos, em


especial quanto os objetivos esperados e alcançados, sugestões de encaminhamentos
internos e relativos a desenvolvimento de cooperação técnica internacional.
Achado nº 5;

c) Registro no sistema SEI-AEB quando do cancelamento de viagens, atualizando os


processos em que essa situação ocorreu.
Achado nº 6;

d) Registro no sistema SEI-AEB da interação de recebimento/aprovação da prestação de


contas por parte do MCTI.
Achado nº 7.

Recomendação ao MCTI:

1 – Apresentar informações sobre o andamento da norma interna a respeito dos


deslocamentos internacionais das unidades subordinadas e vinculadas, incluindo informações
sobre o estágio de desenvolvimento da norma (áreas técnicas, responsáveis e prazos) e
parâmetros que estão sendo considerados.

Achado nº 7.

17
CONCLUSÃO

O presente trabalho da CGU apurou denúncias de supostas irregularidades na realização de


viagens internacionais da Agência Espacial Brasileira. Para essa apuração, a equipe de
auditoria analisou processos de concessão de passagens e diárias relacionadas aos
afastamentos a serviço de servidores e agentes públicos da AEB. Tal análise se concentrou em
16 processos referentes aos afastamentos de 2021 e 2022.

No Achado 1, identificou-se motivação de forma parcial das viagens internacionais da AEB,


ficando prejudicada a clareza de identificação prévia de potenciais benefícios. No Achado 2,
observou-se a ausência de correlação de atividades desenvolvidas por servidores em missão
com o objeto dos deslocamentos para eventos realizados. Referente ao Achado 3, identificou-
se morosidade em trâmites internos e justificativas imprecisas nos processos de solicitação de
viagens. No Achado 4, não foi feita a devida exposição dos motivos para a quantidade
necessária de afastamento de servidores. Sobre o Achado 5, a prestação de contas está de
forma parcialmente adequada a legislação, uma vez que os relatórios são falhos em pontos
vitais, por exemplo, relato detalhado de atividades desenvolvidas no período, principalmente,
quanto aos objetivos esperados e alcançados. No achado 6, verificou-se a ausência de
informações no sistema a respeito do cancelamento de viagens. E, por fim, no Achado 7, não
há alimentação do processo SEI-AEB da aprovação do MCTI da prestação de contas.

Em suma, as causas para distorção entre a situação esperada e a situação encontrada guardam
relação com deficiências no planejamento e procedimentos internos de instrução de
processos.

São benefícios esperados para o trabalho: a) racionalização de gastos e melhor alinhamento


com objetivos da AEB; b) relatórios tempestivos e com completude dos requisitos, em sintonia
com a norma e os objetivos da AEB; c) Maior clareza e transparência do processo de prestação
de contas.

18
ANEXOS

I – RESUMO DAS VIAGENS E OCORRÊNCIAS VERIFICADAS

Viajantes para
Integrantes Possibilidade de
Processo SEI Destino apoio Problemas Boas práticas
comitiva participação on line
administrativo
Copenhage Não demonstratrada a necessidade da participação Encaminhamento proposto no relatório de
01350.001605/2021-43 3 não não
Estocolmo de 3 servidores viagem.
Presença de servidores com com perfil não
relacionado com a missão.
01350.000880/2021-40 Dubai 10 não sim Não demostrada a necessidade do número elevado
de servidores.
Relatórios de viagem incompletos.

Não demonstrada a necessidade da participação de


01350.000102/2020-70 Viena 2 sim não 2 servidores presencialmente
Relatórios de viagem incompletos

01350.000378/2022-10 Roma 2 não não Relatórios de viagem incompletos

01350.000759/2022-07 Farnborough 3 não não Relatórios de viagem completos

Presença de servidores com com perfil não


01350.001106/2022-37 relacionado com a missão.
1 dos relatórios de viagem completo conforme a
01350.001143/2022-45 Paris 6 não sim Não demostrada a necessidade do número elevado
norma - SEI 01350.001199_2022_08 - [22]
01350.001199/2022-08 de servidores.
Relatórios de viagem incompletos.

Washington Justificativa de urgência apresentada inconsistente.


Colorado Springs 4 não não Falta de clareza na atuação dos participantes da
01350.000312/2022-20 comitiva.

01350.001070/2022-91 Seul 1 não não

Viagem realizada como urgente devido a


01350.001237/2021-33 Chile 5 não sim/justificado
deficiências de planejamento

Falta de exposição dos benefícios nos documentos


01350.000405/2022-54 Finlândia 1 não não
para autorização do afastamento

Falta de clareza acerca de atividades desenvolvidas


Quito 5 não não
pelos participantes
01350.000081/2022-54

Huntsville Relatórios de viagem sem detalhamento das Instrução com adequação ao normativo na fase de
01350.000936/2022-47 1 não não
Washington atividades realizadas solicitação de afastamento

Bogotá 1 não não


01350.000763/2022-67

A justificativa e relatório não são claros sobre a


Washington 1 não não
necessidade do deslocamento do servidor
01350.000160/2022-65

19
II – MANIFESTAÇÃO DA AEB E ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA – APÓS PRIMEIRO
RELATÓRIO PRELIMINAR

Manifestação da Entidade

NOTA INFORMATIVA Nº 69/2023/PRE

PROCESSO Nº 01350.001247/2022-50

INTERESSADO: Agência Espacial Brasileira

1. SUMÁRIO EXECUTIVO

1.1. Trata-se de Nota Informativa que se destina a apresentar esclarecimentos relacionados à


Notificação CGU/Sistema e-Aud, recebida por esta Agência no dia 10 de janeiro de 2023,
encaminhando o Relatório Preliminar - Auditoria 1259709, que analisou a apuração de
denúncias sobre irregularidades em deslocamentos para fora do país de servidores públicos
da Agência Espacial Brasileira - AEB para eventos no exterior.

2. INFORMAÇÕES

2.1. Inicialmente, vale ressaltar que a presença da AEB em eventos no exterior, representada
por meio de seus servidores, conflui com as competências desta Autarquia, dispostas em sua
Lei de criação 8.854, de 10 de fevereiro de 1994, especialmente no que diz respeito a executar
e fazer executar a Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE),
aprovada pelo Decreto 1.332, de 8 de dezembro de 1994, que tem como um de seus objetivos
específicos o: ''Estabelecimento no País de competência técnico-científica na área espacial,
que lhe possibilite atuar com real autonomia: nas negociações, nos acordos e nos tratados
internacionais envolvendo matérias pertinentes às atividades espaciais ou que possam
beneficiar-se dos conhecimentos decorrentes dessas atividades.

2.2. Na oportunidade do recebimento do referido Relatório Preliminar, julga-se necessário


apresentar esclarecimentos a esse órgão de auditoria, não no intuito de buscar a alteração do
documento, mas com a intenção de permitir a completa compreensão de cada tema tratado.

2.3. Como registrado no Relatório Preliminar, observa-se um significativo aumento no


quantitativo de afastamentos do país de servidores da AEB, fato que é coerente com a maior
projeção de atividades internacionais relacionadas ao programa espacial brasileiro, a exemplo
da noticiada comercialização do CLA, que despertou grande interesse internacional no Brasil
e também resultou na maior quantidade de convites de participação da AEB em eventos de
outros países relacionados diretamente às atividades da AEB.

2.4. No que tange ao Achado 1, que versa sobre a necessidade de melhor motivação na
aprovação das viagens, entende-se que o órgão de auditoria recomenda que a
imprescindibilidade da missão seja justificada com fundamento no PNAE. Nesse ponto,

20
esclarece-se que as atividades executadas pela AEB têm como norte o PNAE, que figura como
instrumento de planejamento e orientativo para o período de 10 anos, no caso, de 2022 a
2031. Destarte, e conforme explicitado no PNAE, "o Brasil desempenha papéis de destaque
em várias agendas internacionais" (PNAE, p. 37), tendo como visão de futuro "Ser o país sul-
americano líder no mercado espacial", o que denota a importância da dimensão da
cooperação internacional no exercício das atividades da AEB. Logo, tem-se que, embora as
justificativas não descrevam explicitamente a aderência ao PNAE, tal instrumento é a base de
todas as atividades executadas pela AEB.

2.5. Em relação ao Achado 2, que trata da ''presença de servidores com atribuições não
diretamente relacionadas com a temática da viagem'', destaca-se que a AEB participou de
eventos de grande porte que necessitavam uma equipe com conhecimento em diversas áreas.
Nas missões de Dubai e Paris, em específico, a Agência estava atuando na condição de
organizadora de um dos eventos (Space4Women) de Dubai, por exemplo, e de expositora do
International Astronautical Congress - IAC, de Paris. Tais eventos necessitaram uma equipe
multidisciplinar a fim de serem viabilizados.

2.6. No que se refere à missão para Dubai, em específico, observa-se que o seu objetivo
englobou três eventos, quais sejam: i) a participação na EXPO 2020/Dubai, que celebrou, entre
os dias 17 e 23 de outubro, a semana do Espaço; ii) a organização e participação no Space for
Women Expert Meeting: Initiatives, challenges and opportunities for women in space, e iii)
participação no 72º Congresso Internacional de Astronáutica (IAC), evento anual organizado
pela Federação Internacional de Astronáutica (IAF). A participação no IAC se fez essencial no
sentido de permitir que esta autarquia se fizesse presente no fórum internacional mais
importante e adequado de representação diante de suas congêneres no mundo, além de seus
representantes terem atuado diretamente na defesa da candidatura da AEB para sediar o
mesmo Congresso no ano de 2024 no Brasil.

2.7. Ainda relacionado ao Achado 2, faz-se importante esclarecer que a AEB conta com uma
equipe de servidores diminuta. Dessa feita, embora a AEB esteja organizada em unidades
setoriais, muitos dos trabalhos e temas discutidos e construídos na AEB são executados por
equipes multidisciplinares, compostas por servidores de diversas unidades, por meio de
Grupos de Trabalho.

2.8. Desta feita, tem-se, por exemplo, que o servidor Aluísio Viveiros Camargo, Diretor de
Planejamento, Orçamento e Administração - DPOA, em meio às inúmeras atividades
realizadas na missão à Dubai, auxiliou o Presidente desta Autarquia na extensa agenda de
reuniões com representantes de empresas, agências espaciais e organizações internacionais,
como pode ser verificado no Relatório de Viagem ao Exterior do Diretor, anexado aos autos
do processo nº 01350.000880/2021-40, o qual contém o registro de cartões e folders das
reuniões realizadas. Nesse mesmo contexto, o Diretor da DPOA atuou, em algumas
oportunidades, como Presidente substituto da AEB, o que demonstra a interdependência e
interdisciplinariedade das unidades da AEB.

2.9. No Achado 2, o Relatório Preliminar chama a atenção à participação de "assistentes e


assessores da Presidência, além de servidores de áreas como comunicação social". O assessor
da Presidência que participou da missão ao Chile, João Sérgio Beserra de Lima, era Chefe de
21
Gabinete Substituto e, além de ter atuado como um dos fiscais da contratação do estande,
atuou como representante do Gabinete na missão, assistindo ao servidor designado como
chefe da delegação, Sr. Cristiano Augusto Trein, em suas reuniões e atividades, como
demonstrado nos Relatórios de Viagem. Ademais, a participação de servidores da
comunicação social é essencial para garantir a realização de entrevistas e confecção de
matérias e posts em redes sociais, o que também encontra convergência com o Objetivo
Estratégico do Espaço - OEE.7 "Consolidar de forma ativa, em todos os setores da sociedade,
o entendimento sobre os benefícios diretos e indiretos, existentes e potenciais, do setor
espacial para o Brasil" (PNAE, p. 30 e 41).

2.10. Com relação ao Achado 3, o Relatório de Auditoria demonstra que houve atraso na
definição da equipe. Nesse aspecto, importante esclarecer que a participação da AEB na FIDAE
– Feria Internacional del Aire y del Espacio se configura como o primeiro evento internacional
no qual a AEB montou um estande, então alguns atrasos nas definições derivam do fato de a
tratativa ter sido inédita. Nesse aspecto, também a delimitação da quantidade de servidores
e as competências requeridas para comporem o estande da AEB foram objeto de inúmeras
reuniões.

2.11. Além disso, importa registrar que os processos de viagens são instruídos e remetidos ao
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com vistas à autorização da viagem e sua
publicação no Diário Oficial da União - DOU. O trâmite do processo no MCTI independe de
atuação da AEB, então é importante frisar que podem ocorrer atrasos que, em alguns casos,
fogem à esfera de competência desta Agência.

2.12. Quanto ao Achado 4, que versa sobre a motivação da quantidade necessária de


servidores, observa-se que Dubai foi a missão com maior quantidade de servidores, 10 (dez),
cuja justificativa para a participação dessa delegação nos três eventos foi demonstrada no
processo de afastamento e nos relatórios de viagem. Neste ponto, reitere-se que o quadro de
pessoal é por demais enxuto e as atividades são executadas por diversos setores, em parceria
e coesão. Ademais, a Assessoria de Cooperação Internacional (ACI) interage com os indicados
para as missões, instruindo-os antes dos compromissos e colhendo feedbacks ao seu fim, de
forma a manter os registros do setor atualizados.

2.13. Em aditamento à Nota Informativa nº 3399/2022/PRE (SEI nº 0176588), encaminha-se


Nota Jurídica nº 00003/2023/PF/AEB/PFEAEB/AGU (SEI nº 0190826), que apresenta
esclarecimentos a respeito do afastamento do Dr. Ian Grosner, Chefe de Divisão de Análise e
Pareceres, para a cidade de Quinto, no Equador.

2.14. No tocante à multiplicação do conhecimento e experiências adquiridos durante as


missões internacionais, foram compartilhados com a Agência, por meio de processos
transversais, via reuniões de diretoria, reuniões de lições aprendidas e reuniões com a ACI,
que visam orientar os programas, ações, projetos e atividades da AEB. Dessa forma, o
conhecimento e o networking realizados são disseminados para o corpo diretivo e funcional.

2.15. Com relação aos temas ''falta de clareza acerca de atividades desenvolvidas pelos
participantes'' e ''a justificativa e relatório não são claros sobre a necessidade do

22
deslocamento do servidor", encaminha-se Despacho da Coordenação de Satélites e
Aplicações - CSA (SEI nº 0190269), que oferece esclarecimentos adicionais.

2.16. Tabela-Resumo das viagens e ocorrências verificadas: Por fim, informo que foram
promovidas sugestões de alterações na Tabela-Resumo do Relatório Preliminar (Anexo I do
Relatório), tendo em vista a oportunidade de se adequar algumas informações, as quais foram
ajustadas e constam da tabela anexa (SEI 0192730), em vermelho. Alguns ajustes promovidos:

a) Dubai: número do processo principal: 01350.000880/2021-40. Não havia oportunidade de


participação online em nenhum dos 3 eventos ocorridos em Dubai;

b) Roma: não havia oportunidade de participação online. Como descrito pelo organizador do
evento, o encontro não propiciou participação online, mas, ao revés, custeou a participação
do Presidente da Autarquia. Ademais, uma das finalidades do evento era a interação com a
indústria italiana;

c) Paris: participaram da missão um total de 6 servidores, e não 11, como constam nos
processos relacionados.

3. CONCLUSÃO

3.1. Considerando o disposto, apresenta-se os esclarecimentos na expectativa de prestar os


subsídios suficientes à elaboração do Relatório Final de Auditoria no tocante aos
deslocamentos para fora do país de servidores públicos da Agência Espacial Brasileira - AEB.

23
ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA

Achado nº 1 – item 2.4 da manifestação da AEB

Quanto a necessidade de melhor motivação para aprovação das viagens internacionais, a


Unidade Examinada admite que as justificativas não descrevem claramente o alinhamento
com PNAE, apesar de afirmar que que tais deslocamentos estão aderentes ao instrumento de
planejamento. Contudo, reafirma-se a necessidade observação aos normativos no que tange
a completude da instrução processual, como também a exposição de forma clara dos
benefícios/impactos esperados com os deslocamentos para a cumprimento da missão da
Agência. No mais, não foram apresentadas novas informações para alteração do achado.

Achado nº 2 – itens 2.4 a 2.9 da manifestação da AEB

A Unidade examinada afirma que a sua equipe de servidores é diminuta, com equipes
multidisciplinares. De acordo com a Instrução Normativa nº 1, de 19 de julho de 2021, em seu
Art. 6º:

Parágrafo único. A solicitação de que trata o caput deve incluir informações sobre a
pertinência do afastamento com os interesses da Agência Espacial Brasileira e a
correlação das atividades desenvolvidas pelo servidor com o objetivo da viagem.

A necessidade de correlação das atividades do servidor com o objetivo da viagem não é uma
faculdade, e sim uma disposição legal. Isso só reforça a necessidade de uma avaliação
criteriosa dos servidores que participam de viagens, e, também, de quais viagens que devem
ser realizadas, de acordo com a capacidade da AEB.

Achado nº 3 – itens 2.10 e 2.11 da manifestação da AEB

Em relação ao Achado nº3, a Unidade Examinada expõe os motivos pelos quais houve atraso
nos tramites para realização da viagem em caráter emergencial com destino a Santiago no
Chile. Vale mencionar que o Achado nº3 aponta também inconsistências/imprecisão
relacionadas às justificativas apresentadas para realização de deslocamentos em caráter
emergencial em outros afastamentos. Assim, novamente, enfatizamos a necessidade de
melhor instrução do processual, assim como, melhorias no planejamento afim de respeitar
aos prazos estabelecidos na legislação pertinente e ao normativo interno. Por fim, não houve
demanda no sentido de alteração do achado.

24
Achado nº 4 – itens 2.12 a 2.15 da manifestação da AEB

A Unidade Examinada ofereceu esclarecimentos adicionais acerca das atividades realizadas no


âmbito dos deslocamentos por meio Despacho da Coordenação de Satélites e Aplicações - CSA
(SEI nº 0190269) e Nota Jurídica nº 00003/2023/PF/AEB/PFEAEB/AGU (SEI nº 0190826).
Reforça-se a necessidade de que se faça o registro nos autos dos processos de forma permitir
identificação das atividades a serem realizadas e, por fim, efetivamente realizadas, assim
como o relato detalhado de atividades desenvolvidas no período, os objetivos esperados e
alcançados, sugestões de encaminhamentos internos e relativos a desenvolvimento de
cooperação técnica internacional, entre outros.

Tabela-resumo das viagens e ocorrências realizadas - Item 2.16 da manifestação da AEB

Após os esclarecimentos prestados, as sugestões de alteração na tabela foram incluídas.


Importante destacar o item c), que trata da quantidade de servidores na viagem a Paris.
Incialmente, baseado na informação disponibilizada no sistema SEI, considerou-se um total
de 11 viajantes, dos quais apenas 6 apresentaram Relatório de Viagem, o que configuraria
uma irregularidade (ausência de prestação de contas). Somente após uma conversa
presencial, realizada durante a visita a AEB em 08/02/2023, é que foi possível esclarecer a
situação: na verdade, foram 6 viajantes, visto que os demais 5 tiveram a viagem cancelada.
Assim, não se configurou a ausência de prestação de contas, o que motivou a modificação do
Achado nº 5. Entretanto, pela ausência dessas informações de cancelamento de viagem no
sistema SEI, e com isso a impossibilidade de certificar documentalmente os fatos ocorridos,
foi aberto um achado específico para esse ponto – Achado nº 6.

25
III – MANIFESTAÇÃO DA AEB E ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA – APÓS SEGUNDO
RELATÓRIO PRELIMINAR

Manifestação da Entidade

NOTA INFORMATIVA Nº 132/2023/PRE

PROCESSO Nº 01350.001247/2022-50

INTERESSADO: Agência Espacial Brasileira

1. SUMÁRIO EXECUTIVO

1.1. Trata-se de Nota Informativa que se destina a apresentar esclarecimentos relacionados à


Notificação CGU/Sistema e-Aud, recebida por esta Agência no dia 03 de março de 2023,
encaminhando a segunda versão do Relatório Preliminar - Auditoria 1259709, que analisou a
apuração de denúncias sobre irregularidades em deslocamentos para fora do país de
servidores públicos da Agência Espacial Brasileira (AEB) para eventos no exterior.

2. INFORMAÇÕES

2.1. A Controladoria-Geral da União (CGU) encaminhou a esta AEB, no dia 10 de janeiro de


2023, o Relatório Preliminar de Auditoria que analisou a apuração de denúncias sobre
irregularidades em deslocamentos para fora do país de servidores públicos da AEB para
eventos no exterior. Em resposta à Notificação, foi enviada, no dia 6 de fevereiro do corrente,
a Nota Informativa n° 69/2023/PRE (SEI nº 0193332) contendo esclarecimentos relacionados
aos Achados constantes no Relatório em cito.

2.2. Após análise da resposta por parte da equipe de auditoria da CGU, foi encaminhada, no
dia 6 de março de 2023, a segunda versão do Relatório Preliminar. Assim, na oportunidade do
recebimento do documento em menção, julga-se necessário apresentar esclarecimentos a
esse órgão de auditoria, com a intenção de reiterar a compreensão dos temas tratados.

2.3. No que tange à análise da equipe de auditoria em relação ao Achado 1, no que diz:

[...] A Unidade Examinada admite que as justificativas não descrevem claramente o


alinhamento com PNAE, apesar de afirmar que tais deslocamentos estão aderentes ao
instrumento de planejamento. [...]

2.4. Cabe informar que, conforme apresentado no item 2.4 da Nota Informativa nº 69, as
atividades executadas pela AEB têm como norte o PNAE, que figura como instrumento de
planejamento e orientação para o período de 10 anos, no caso, de 2022 a 2031. Logo, o
documento é a base de todas as atividades executadas pela autarquia. Ainda no caso de não
estar expressa a aderência de cada afastamento às finalidades da AEB, as justificativas
apresentadas e todas as informações que compõem os autos demonstram, claramente, o
alinhamento das missões.

26
2.5. Um exemplo da adequada motivação é o afastamento para Copenhage e todas as citadas
no Achado 1. Todo o processo instruído mostra a cooperação havida entre a AEB e a
Dinamarca, na área espacial. O afastamento decorreu de convite da Embaixada no Brasil em
Copenhage (documento SEI nº 0151711), tendo sido discutida a conveniência e oportunidade
de participação na missão em reunião entre AEB, MCTI e o MRE, além de diversas trocas de e-
mails entre esse entes, nas quais foi verificada a aderência do conteúdo programado para o
evento, a necessidade de participação da AEB e de discussão de Memorando de Entendimento
voltado ao setor espacial (SEI nº 0149184 e 0149186). Diante do exposto, tem-se que a
motivação das missões consta em diversos documentos que compõem os autos, e não apenas
nos formulários de solicitação desses.

2.6. Todos os processos citados contêm ampla motivação, que justifica o empenho dos
recursos da AEB em cada um desses afastamentos.

2.7. Em relação ao Achado 2, a segunda versão do Relatório Preliminar destaca acerca da


necessidade de correlação das atividades do servidor da AEB com o objetivo da viagem, em
concordância com o Art 6º da Instrução Normativa nº 1, de 19 de julho de 2021. Conforme
apresentado no item 2.7 da manifestação desta Agência, muitos dos trabalhos e temas
discutidos e construídos na AEB são executados por equipes multidisciplinares, compostas por
servidores de diversas unidades, por meio de Grupos de Trabalho. Dessa forma, a avaliação
de escolha dos servidores que participam de missões internacionais é feita levando em conta
não só sua formação profissional, mas, principalmente, seu envolvimento direto com o tema
da missão. A exemplo disso, no afastamento para participação em evento internacional, com
estande da AEB, uma pessoa da diretoria responsável pelas contratações, com competência
técnica para verificar a adequação do contratado com o que fora efetivamente entregue,
participou da missão. Todas essas informações constam dos processos respectivos.

2.8. Nesse aspecto, vale registrar que no ano de 2022, primeira vez em sua história, foi
montado estande da AEB em um dos mais importantes eventos de astronáutica, como
consequência de sua maior projeção internacional. O setor espacial brasileiro tem sido, cada
vez mais, alvo de interesse internacional, em especial pela anunciada abertura do espaçoporto
de Alcântara para operação em bases comerciais.

2.9. Com relação à análise do Achado 3, em que apontam-se inconsistências/imprecisões


relacionadas às justificativas apresentadas para realização de deslocamentos em caráter
emergencial em outros afastamentos. No entanto, conforme mencionado outrora na Nota
Informativa, a FIDAE – Feria Internacional del Aire y del Espacio se configura como o primeiro
evento internacional no qual a AEB participou na condição de expositor, algo nunca antes
realizado pela Autarquia. Tal feito demandou diversas reuniões com diversos setores da AEB
e com a organização do evento, gerando atrasos na definição da comitiva, o que somente foi
realizado após a confirmação da contratação do estande. Cabe reiterar que a justificativa da
equipe escolhida encontra-se acostada nos autos do processo SEI nº 01350.001237/2021-33.
Os aprendizados auferidos para a realização desse evento certamente serão incorporados às
rotinas de trabalho. Uma próxima participação em evento internacional, com estande, já não
será mais novidade.

27
2.10. Com relação à viagem realizada com destino Colorado Springs/ Estados Unidos, entre os
dias 29 de março a 01 de abril de 2022, como apontado no Relatório Preliminar de Auditoria,
há indicação do recebimento do convite por parte da Agência no dia 25 de fevereiro, ao passo
que o formulário de Pré-aprovarão da Viagem foi datado em 10/03/2022, portanto, 15 dias
após o recebimento do convite. Esse foi o prazo para a realização da tomada de decisão
quanto à realização dos afastamentos, definição da equipe, importância, oportunidade e
pertinência da participação da AEB no evento e o orçamento disponível da AEB.

2.11. Nesse ponto, uma análise a ser feita é como aumentaram os convites para que a AEB
participe de eventos internacionais. O new space, a recente criação de novas agências
espaciais em diversos países, o aumento constante da participação privada no setor, que
movimenta milhões de dólares por ano, a abertura do espaçoporto de Alcântara para
operação, dentre outros, mostram que as relações internacionais conduzidas pela AEB têm
sido ampliadas, havendo reconhecimento internacional pela Agência, o que se reflete nos
inúmeros e inéditos convites que a AEB têm recebido nos últimos três a quatro anos.

2.12. No que se refere à análise da Equipe de Auditoria referente ao Achado 4 ‘’reforça-se a


necessidade de que se faça o registro nos autos dos processos [...]’’, os documentos remetidos
ao MCTI visando à aprovação da viagem permitem identificar as atividades a serem realizadas
por meio do cronograma enviado. Reitera-se que os registros das missões internacionais são
descritos e detalhados posteriormente nos Relatórios de Viagem ao Exterior, que são juntados
aos autos dos processos. Além disso, os conhecimentos e experiências obtidos durante as
missões internacionais são compartilhados com a Agência de forma transversal, por meio de
reuniões de diretorias, ou com a Assessoria de Cooperação Internacional (ACI) ou, ainda,
reuniões de lições aprendidas com o grupo que participou da missão.

2.13. Com relação ao disposto no Relatório de que alguns afastamentos poderiam ser
substituídos por participação via videoconferência, dispensando a necessidade de mais de um
participante presencialmente, entende-se que não se pode desconsiderar a relevância de
reuniões presenciais. Perceba-se que é a tecnologia espacial que permite a realização de
eventos virtuais, os quais têm suma importância, mas não substituem o encontro
pessoalmente feito pelos diversos stakeholders do setor espacial. Desta feita, a participação
de forma presencial configura-se como mérito administrativo, estando devidamente
motivado nos autos respectivos.

2.14. No que tange à participação de “membros da comitiva com perfil exclusivamente de


apoio administrativo...”, com relação ao afastamento para Dubai, tem-se que todos os
afastamentos foram extensamente justificados, e as 10 (dez) pessoas que se afastaram
atenderam a eventos diversos, cada qual com sua responsabilidade. Os servidores estavam
envolvidos em atividades como a organização dos eventos, na busca de conteúdos atuais do
setor espacial, na representação institucional da AEB, na realização de reuniões, na
apresentação de painéis, na defesa da busca para o Brasil sediar o maior evento do setor, o
que não ocorre desde o ano de 2000, quando foi realizado na cidade do Rio de Janeiro o IAC.
Todos da equipe tinham reuniões diárias entre si e com a equipe do MCTI que também assistiu
aos eventos, de debriefing e organização do dia seguinte de atividades, o que é mostrado nos
diversos Relatórios de Viagem.

28
2.15. Tabela - resumo das viagens e ocorrências realizadas - Item 2.16 da manifestação da
AEB: Com relação aos afastamentos para Paris, apenas 6 (seis) foram aprovados, como
explicado anteriormente. Os afastamentos internacionais da AEB têm como autoridade
competente para aprovação o(a) Ministro(a) de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Como não houve aprovação dessa autoridade em 5 dos afastamentos solicitados, o ato
administrativo de afastamento desses servidores sequer se aperfeiçoou, não gerando, pois,
efeitos. Por esse motivo, entende-se não ser o caso de cancelar nenhum afastamento, eis que
não aprovados.

2.16. Nada obstante, foram anexados aos autos o Ofício do MCTI que mostra a aprovação de
apenas 6 (seis) servidores, dentre os 11 (onze) nomes inicialmente enviados pela AEB ao MCTI.
Esse documento já constava em processo relacionado ao do afastamento, mas
posteriormente foi replicado neste.

3. CONCLUSÃO

3.1. Não obstante os argumentos aqui apresentados, importa destacar que a AEB se mostra
inteiramente alinhada e disposta a aprimorar os registros internos referentes às missões
internacionais.

3.2. A esse respeito, informa-se que as diversas unidades desta Autarquia têm participado
ativamente do esforço conjunto com vistas a melhorias nos processos relacionados a
deslocamentos para o exterior de servidores da AEB. Todos os anos a ACI elabora tabela de
possíveis viagens ao exterior e, em trabalho conjunto com o Gabinete, neste ano de 2023 foi
elaborado mecanismo transversal de consultas internas relacionadas às possíveis
participações das diretorias em eventos externos.

3.3. Cabe pautar que a ACI elaborou Nota Técnica (SEI n° 0193254) relacionada ao Relatório
Preliminar da CGU, em que apontou várias circunstâncias em que o compromisso da ACI com
as melhores práticas relacionadas a viagens ao exterior pode ser constatado. A fim de melhor
esclarecer e otimizar processos, o setor responsável pela cooperação internacional (ACI)
esteve presente nas viagens a Dubai, Colorado Springs, Quito e Paris.

3.4. Considerando o disposto -- e com a plena convicção de se estar perseguindo os essenciais


propósitos estabelecidos na Lei que criou esta Agência --, apresentam-se os esclarecimentos
na expectativa de prestar os subsídios suficientes à elaboração do Relatório Final de Auditoria
no tocante aos deslocamentos para fora do país de servidores públicos da Agência Espacial
Brasileira - AEB.

29
ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA

Achado nº 1 – itens 2.3 a 2.5 da segunda manifestação da AEB

A AEB afirma que “ainda no caso de não estar expressa a aderência de cada afastamento às
finalidades da AEB, as justificativas apresentadas e todas as informações que compõem os
autos demonstram, claramente, o alinhamento das missões”.

Diferentemente do afirmado, não existe demonstração clara do alinhamento das missões, e,


na maioria dos casos, é apresentada apenas uma justificativa genérica do impacto/benefício
que se espera com o afastamento, o que contraria o disposto em norma. Conforme já
mencionado na análise do Relatório Preliminar nº1, reafirma-se a necessidade de demonstrar
inequivocamente a necessidade de deslocamentos internacionais para atingir os objetivos do
PNAE. Isso é especialmente válido no presente momento, que, conforme demostrado, é de
seguidas restrições orçamentárias escassez de recursos. Ademais, a segunda manifestação da
unidade examinada demostra contradição, ora exposto em primeiro momento que : “Logo,
tem-se que, embora as justificativas não descrevam explicitamente a aderência ao PNAE, tal
instrumento é a base de todas as atividades executadas pela AEB” (grifos nossos) - ponto 2.4
da primeira manifestação; em contraponto, a segunda manifestação na mesma numeração:
“Ainda no caso de não estar expressa a aderência de cada afastamento às finalidades da AEB,
as justificativas apresentadas e todas as informações que compõem os autos demonstram,
claramente, o alinhamento das missões”.(grifos nossos). É necessário ressaltar que não existe
óbice ao inteiro detalhamento da justificativa para os afastamentos internacionais, pelo
contrário faz parte dos requisitos normativos, uma vez que é a partir da explicitação da
motivação que serão apresentados os impactos e benefícios esperados para o afastamento
das autoridades e agentes públicos em missão pela AEB. Não foram apresentadas novas
informações ou evidências para alteração das conclusões iniciais.

Achado nº 2 – itens 2.7 e 2.8 da segunda manifestação da AEB

A AEB afirma que suas equipes são multidisciplinares e cita o exemplo da necessidade da
equipe responsável pelas contratações no evento com estande da AEB.
A Instrução Normativa nº 1/2021 prescreve que a solicitação de viagem deve incluir
informações sobre a pertinência do afastamento com os objetivos da AEB, além da correlação
de atividades. Nesse aspecto, reforça-se a necessidade de exposição clara e explícita das
atividades do servidor com a temática da viagem. Além disso, ressalta-se a necessidade de
uma avaliação criteriosa dos servidores e de suas atividades para participarem das comitivas,
e, também, de quais viagens podem ser realizadas, de acordo com a capacidade técnica e
operacional do quadro da agência.

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Achado nº 3 – itens 2.9 a 2.11 da segunda manifestação da AEB

A AEB argumenta que no caso da viagem ao Chile para a Feria Internacional del Aire y del
Espacio houve atraso nos trâmites internos, devido aquele ser o primeiro evento no qual foi
montado um estande na condição de expositor. Já a viagem para Colorado Springs/ Estados
Unidos teve como justificativa para realização em caráter de urgência a realização da tomada
de decisão quanto à realização dos afastamentos e definição da equipe. Contudo, o Achado
nº 3 não se refere somente aos atrasos decorrentes de trâmites internos, dificuldades no
planejamento ou fluxos de responsabilidade do MCTI e que fogem a esfera de controle da
AEB, mas também diz respeito a consistência das justificativas apresentadas para realização
dos deslocamentos em caráter de urgência. Outrossim, em sequência na manifestação da
unidade examinada, é demostrada ainda mais a necessidade de planejamento do corpo
técnico e operacional com vista ao momento atual da agência, conforme item 2.11 da
manifestação: “Nesse ponto, uma análise a ser feita é como aumentaram os convites para
que a AEB participe de eventos internacionais”. (grifos nossos). Assim, outra vez, destacamos
a necessidade de melhor instrução do processual, assim como melhorias no planejamento a
fim de respeitar aos prazos estabelecidos na legislação pertinente e ao normativo interno. Por
fim, não houve demanda no sentido de alteração do achado.

Achado nº 4 – itens 2.12 a 2.14 da segunda manifestação da AEB

A AEB afirma que “os documentos remetidos ao MCTI visando à aprovação da viagem
permitem identificar as atividades a serem realizadas por meio do cronograma enviado.
Reitera-se que os registros das missões internacionais são descritos e detalhados
posteriormente nos Relatórios de Viagem ao Exterior, que são juntados aos autos dos
processos”. A análise documental demonstrou que não existe, de maneira clara e explícita,
uma correlação entre o que foi planejado e, principalmente, o que foi efetivamente realizado.
A norma pertinente requer que essa correlação fique evidente nos processos, que pode ser
materializada nos relatórios de viagem. O Achado nº 4 versa que “não é claramente
demonstrada a relação entre os resultados esperados com a viagem e os resultados
alcançados após o retorno ao país”, dessa forma não é possível atestar se a necessidade
anteriormente dimensionada era aquém do necessário ou superior e devido a essa lacuna no
detalhamento objetivo do que efetivamente foi realizado. Quanto à afirmação de que os “a
participação de forma presencial configura-se como mérito administrativo”, a motivação deve
ser clara e demonstrar cabalmente a real necessidade do deslocamento presencial, sob pena
de apuração de responsabilidade. No momento atual, de sérias dificuldades orçamentárias,
recomenda-se fortemente a adoção de participação por vídeo conferência sempre que
possível. Por fim, é fundamental demostrar a necessidade da quantidade de forma motivada
tanto na fase de aprovação como também na prestação de contas.

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Achado nº 5 – não mencionado nas manifestações da AEB
Embora não apresentado em tópico apartado dos demais, o Achado nº 4 apresenta pontos
abordados pela unidade em seus esclarecimentos que dizem respeito ao Achado nº 5. -
“Reitera-se que os registros das missões internacionais são descritos e detalhados
posteriormente nos Relatórios de Viagem ao Exterior, que são juntados aos autos dos
processos. Além disso, os conhecimentos e experiências obtidos durante as missões
internacionais são compartilhados com a Agência de forma transversal, por meio de reuniões
de diretorias, ou com a Assessoria de Cooperação Internacional (ACI) ou, ainda, reuniões de
lições aprendidas com o grupo que participou da missão”
O Achado nº 5 demonstra que os Relatórios de Viagem, em sua maioria, não contemplam os
itens previstos em norma, e por isso estão irregulares. Ressalta-se importância de se elaborar
relatórios de forma completa, detalhada e explícita, com os fatos ocorridos no afastamento e
a avaliação do cumprimento dos objetivos da missão.

Tabela-resumo das viagens e ocorrências realizadas / Achados nº 6 e nº 7 - itens 2.15 e 2.16


da segunda manifestação da AEB
A AEB afirma que “Como não houve aprovação dessa autoridade em 5 dos afastamentos
solicitados, o ato administrativo de afastamento desses servidores sequer se aperfeiçoou, não
gerando, pois, efeitos. Por esse motivo, entende-se não ser o caso de cancelar nenhum
afastamento, eis que não aprovados”.
Os processos são uma sequência de eventos, com início, meio e fim. A AEB utiliza o sistema
SEI para documentar os processos de afastamentos internacionais. Dessa forma, uma vez
iniciado o processo, ele deve ter um seguimento e um desfecho ordenado, para que
posteriormente seja possível avaliar os fatos ocorridos. No caso em questão, em que foram
solicitados 11 afastamentos e apenas 6 aprovações, o processo SEI dos casos que não foram
aprovados ficaram incompletos, gerando dúvida e indicando, incorretamente, que não havia
sido feita a prestação de contas no prazo.
A recomendação é que seja incluída nos processos SEI a informação de não aprovação de
viagem, de modo a evidenciar o fim do processo. Não se trata de cancelamento de
afastamento, e sim de transparência dos atos.

Conclusão
A AEB afirma estar “inteiramente alinhada”, o que não se sustenta, visto que há diversos
pontos para correção e melhoria ao quais podemos citar tramites e planejamento de
autorização, aprovação dos afastamentos, motivação e instrução processual adequada e
prestação de contas nos moldes da legislação aplicável. Além disso, como exposto, esses
pontos quando corrigidos e disciplinados acarretaram ganhos para toda gestão da agência
implicando em maior atingimento de seus objetivos.

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Assim, as recomendações deste Relatório de Apuração são para tornar os processos mais
transparentes, aderentes à norma, além de seu aprimoramento nos pontos destacados.

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IV – MANIFESTAÇÃO DO MCTI E ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA – APÓS SEGUNDO
RELATÓRIO PRELIMINAR

ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA

A manifestação do MCTI foi realizada através de reunião presencial, realizada em 22/03/2023


nas dependências do MCTI.
Em relação ao Achado nº 7, o MCTI informou que a portaria que regulará os procedimentos
de aprovação das viagens internacionais de suas unidades vinculadas já se encontra em
estágio avançado, em fase de aprovação final pelas autoridades superiores.
A norma irá padronizar os procedimentos e facilitar o controle, contemplando pontos
abordados nesse Relatório de Apuração. Além disso, servirá não apenas para a AEB, mas para
todas as vinculadas do MCTI.

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