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867/2017-4
RELATÓRIO
15. Para a seleção das contratações a serem analisadas, foram identificados na base de
dados do Sistema Integrado de Administração e Serviços Gerais (Siasg) as contratações diretas
realizadas pela UFPR a partir de 2014. Os resultados foram ordenados pelo fornecedor de acordo
com o valor contratado e selecionados aqueles de maior valor que, na visão da equipe de auditoria,
apresentassem maior risco ou relevância para a Universidade. Também foram analisadas aquisições
de produtos para pesquisa, com dispensa de licitação justificada pelo inciso XXI do art. 24 da Lei
8.666/1993. Foram selecionadas as 25 empresas com maior valor fornecido desde 2010 e que
possuíssem pelo menos dez contratações. Foram solicitados à UFPR um total de 312 processos. Para
a seleção da amostra, restringiu-se os processos com valor superior a R$ 1.000,00 e foi utilizada a
função “aleatório()” do software Microsoft Excel, que gera números aleatórios entre zero e um,
sendo selecionados então os processos com os menores números gerados.
16. Os trabalhos foram realizados em conformidade com as Normas de Auditoria do TCU
(Portaria TCU 280/2010) e com observância aos Padrões de Auditoria de Conformidade (Portaria
TCU-Segecex 26/2009). Não foram impostas limitações aos trabalhos da equipe de auditoria de
forma afetar os objetivos, os resultados ou as conclusões da auditoria.
1.4. Volume de recursos fiscalizados
17. O volume de recursos fiscalizados foi de R$ 73,5 milhões, calculado pela soma do valor
dos contratos solicitados à UFPR para análise pela equipe de auditoria, dos quais R$ 2,5 milhões
referem-se às aquisições para pesquisa e o restante aos contratos de dispensa e inexigibilidade.
1.5. Benefícios estimados da fiscalização
18. Vislumbram-se os seguintes benefícios potenciais desta fiscalização: interrupção nas
irregularidades relativas às contratações diretas da Universidade; ressarcimento de possíveis danos
ao Erário; e responsabilização dos agentes que deram causa às irregularidades. Espera-se que este
trabalho possa contribuir para uma melhoria na gestão da ética, na gestão de riscos, na gestão da
transparência, nas atividades da auditoria interna, na instituição de controles internos nos processos
de aquisições e concorrer, portanto, para a criação de uma cultura de combate à fraude e corrupção.
1.6. Processos conexos
19. Os seguintes processos no TCU possuem relação com o objeto da presente auditoria:
a) TC 016.994/2017-5: Auditoria de Conformidade e Governança em aquisições das
Universidades e Institutos Federais. Consolidação da fiscalização de orientação centralizada. As
deliberações propostas neste relatório não impactarão as contas da entidade fiscalizada.
b) TC 026.096/015-3: Auditoria Operacional em âmbito de FOC, com o objetivo de avaliar
se as práticas de governança e de gestão de aquisições públicas adotadas pela UFPR estão de acordo
com a legislação pertinente e aderentes às boas práticas.
c) TC 025.448/2016-1: Auditoria de conformidade na concessão de bolsas pelas
Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) do Paraná que identificou fraude no pagamento de
bolsas para pessoas sem relação com a UFPR.
d) TC 034.726/2016-0: Representação acerca de possíveis irregularidades em pagamentos
de bolsas realizados pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPR (PRPPG).
e) TC 008.390/2017-7: Representação acerca de indícios de irregularidades na aquisição
de materiais e equipamentos para pesquisa na UFPR
f) As contas da UFPR de diversos exercícios estão sobrestadas em aguardo de julgamento
de mérito em outros processos da Universidade em que foram identificadas irregularidades.
1.7. Comentários dos Gestores
33. Para a formação da amostra dos processos a serem analisados, foram selecionadas
empresas com uma quantidade maior de processos, tendo sido excluídas as empresas com menos de
10 processos. Para delimitação da amostra foram selecionados processos realizados a partir de
2010. Dessa forma, não foram selecionados processos da empresa S.D. Teixeira Produtos
Laboratoriais – EPP, pois esta interrompeu o fornecimento para a UFPR a partir deste exercício.
34. Foram solicitados à UFPR, por meio dos Ofícios de Requisição 001, 002, 003 e 006-
289/2017-TCU-Secex-PR (peças 3, 5, 7 e 23) um total de 312 processos de dispensa para pesquisa,
com um valor total de R$ 2,5 milhões. Para a seleção da amostra, restringiu-se os processos com
valor superior a R$ 1.000,00 e foi utilizada a função “aleatório()” do software Microsoft Excel, que
gera números aleatórios entre 0 e 1, sendo selecionados então os processos com os menores números
gerados.
35. O fluxo do processo de dispensa de licitação para pesquisa foi definido em reunião entre
a auditoria interna da UFPR, a PRPPG e a Controladoria Geral da União (CGU), em 2008 (peça
49). Foi acordado que o coordenador do programa de pesquisa encaminharia três orçamentos,
devendo estes serem datados, assinados, com carimbo de CNPJ, descrição do material, quantidade
e valor. Além disso, o pedido deveria ser acompanhado de justificativa técnica, informando a
vinculação para a pesquisa, contando ainda a assinatura da PRPPG.
36. Os processos de dispensa para pesquisa são iniciados pelo formulário de requisição
elaborado pelos professores interessados e assinado conjuntamente com o coordenador do programa
de pesquisa. São acrescentadas ao processo certidões negativas de débitos previdenciários,
trabalhistas e do FGTS da empresa com menor preço.
37. A justificativa da dispensa de licitação é assinada pela Chefe da Seção de Controle e
Execução Orçamentária, cargo ocupado pela Sra. Conceição no período, e pelo Pró-Reitor. Consta
do processo ainda a autorização de empenho, assinada pelas mesmas duas pessoas, e também pela
Pró-Reitoria de Planejamento Orçamento e Finanças (Proplan). É incluída então a nota fiscal dos
produtos, com o ateste de recebimento.
38. Nos contratos supostamente fraudados, verificou-se que as solicitações de compra dos
produtos pelos professores foram falsificadas, inserindo-se assinaturas escaneadas nos documentos.
O atesto de recebimento dos produtos nas notas fiscais não foi realizado pelos setores dos professores
solicitantes, mas na maior parte dos casos pela Sra. Conceição. Em entrevista, os professores
afirmaram que as solicitações não foram formuladas por eles, que não tem conhecimento de alguns
dos produtos adquiridos e que diversos elementos nos processos indicam para a falsidade, como
divergência nas fontes dos recursos para os projetos de pesquisa, valores das aquisições acima dos
normalmente praticados, justificativas sem nexo ou erros na elaboração dos formulários que não
seriam cometidos pelos professores.
b) Objetos nos quais o achado foi identificado
39. Foram solicitados à UFPR um total de 312 processos de aquisições para pesquisa, de 24
empresas diferentes. Observou-se que a fraude ocorreu até 2012. Este padrão de utilização de cópias
de requisições com assinaturas idênticas foi encontrado em processos de aquisições das empresas
Reagen e Ermex, e também das empresas Labmaster Comercio de Produtos Científicos Ltda. (CNPJ
01.974.431/0001-11) e PH Cientifica Aparelhos Científicos Ltda. (CNPJ 05.287.391/0001-90).
c) Critérios de Auditoria
40. A Lei 8.666/1993 estabelece que:
Art. 66. O contrato deverá ser executado fielmente pelas partes, de acordo com as cláusulas
avençadas e as normas desta Lei, respondendo cada uma pelas consequências de sua inexecução
total ou parcial.
(...)
Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido:
(...)
II - em se tratando de compras ou de locação de equipamentos:
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação da conformidade do material com a
especificação;
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e quantidade do material e consequente
aceitação.
41. Quem poderia atestar a qualidade e quantidade dos materiais adquiridos seriam os
programas de pós-graduação da UFPR. Ainda, segundo a Lei de Licitações, é crime a não entrega
da quantidade de mercadoria contratada:
Art. 96. Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação instaurada para aquisição ou
venda de bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente:
(...)
IV - alterando substância, qualidade ou quantidade da mercadoria fornecida;
Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
42. Segundo o Código Penal (Decreto-Lei 2.848/1940), são crimes:
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria
vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-
se a pena de sexta parte.
d) Evidências
43. A análise dos processos de dispensa das quatro empresas indicou alguns indícios de que
os processos seriam fraudados. O primeiro ponto a chamar a atenção em muitos processos é o fato
de as requisições dos produtos não serem documentos originais, mas cópias. E a assinatura do
coordenador do programa e do professor solicitante são exatamente iguais em div ersos processos,
indicando que poderia ter havido a falsificação da assinatura no formulário por meio eletrônico. A
título de exemplo, as Figuras abaixo constituem o campo da assinatura no formulário de requisição
dos processos 203530/2010-10, 204403/2010-38 e 205508/2010-12 (peças 50, 51 e 52), que seriam
do Programa de Bioquímica, com assinaturas do então coordenador do programa Philip Albert
James Gorin e do professor solicitante Miguel Daniel Nosêda.
44. Verifica-se que as assinaturas dos professores são idênticas nos três processos e estão
inseridas exatamente no mesmo local dentro do campo da assinatura. Percebe-se ainda que a linha
que delimita os campos da assinatura teria sido refeita a mão, possivelmente em virtude de ter sido
em parte apagada quando da inclusão da assinatura em algum programa de computador. Esse fato
de constarem assinaturas idênticas se repete em diversos processos, com inúmeros outros
professores.
45. Um segundo indício de fraude é o fato de o ateste do recebimento dos produtos nas notas
fiscais ter sido assinado pela Sra. Conceição, e não pelo professor solicitante ou outra pessoa do
departamento de pesquisa. Em muitas notas fiscais consta a assinatura da Sra. Conceição em
conjunto com um visto sem identificação.
46. As quatro empresas que teriam processos de aquisições fraudados são justamente as
quatro empresas com maior volume de vendas de produtos para pesquisa com dispensa de licitação,
conforme se observa na Tabela 1, acima. Outra semelhança é o fato de as suas vendas para pesquisa
na UFPR terem reduzido significativamente a partir de 2013, ano em que foi iniciada a fraude nas
bolsas de pesquisa. Dessa forma, verifica-se que nesse exercício houve a substituição da fraude nas
aquisições de produtos para pesquisa por dispensa de licitação para a fraude nas bolsas de pesquisa.
Os gráficos abaixo apresentam a evolução do valor total anual de vendas das quatro empresas.
Gráfico 1: Evolução do valor total anual das quatro empresas com aquisições fraudadas
10
47. A equipe de auditoria selecionou então alguns professores para entrevistar e verificar se
as requisições de produtos para pesquisa haviam sido feitas por eles e se os produtos haviam sido
entregues. Um dos professores entrevistados foi Miguel Daniel Nosêda, das assinaturas nas Figuras
1, 2 e 3 (peça 33).
48. Foram conferidos com o professor sete processos com a cópia da requisição e
assinaturas idênticas. Os processos 204403/2010-38, 205508/2010-12, 210499/2010-73 e
222907/2011-11 (peças 51, 52, 53 e 56) da Reagen, o processo 203530/2010-10 (peça 50) da PH
Científica e os processos 203859/2010-81 e 220564/2011-50 (peças 54 e 55) da Labmaster. Também
foram analisados dois processos com assinatura original: 205315/2010-53 e 206855/2010-54 (peças
57 e 58) da Reagen.
49. O professor afirmou que as requisições que eram cópias não foram feitas por ele. Ele
informou que sempre entregava a via original das requisições para a PRPPG, o que é o procedimento
padrão no fluxo dos processos. Além disso, o fato de a assinatura ser idêntica em diversos processos
e estar sempre localizada no mesmo espaço do campo da assinatura não faria sentido, pois cada
requisição recebia uma nova assinatura original, não era feita a reutilização de assinaturas
escaneadas.
50. No processo 222907/2011-11 (peça 56, p.2), consta a requisição de três produtos, entre
eles o Azino Bis Ethylbenzthiazoline. O professor afirma que não teria requisitado tal produto, pois
não sabe para que ele seria utilizado, não conhece o produto. Além disso, a quantidade dos produtos
solicitados nas requisições fraudadas é bastante superior ao que normalmente é praticado pelo
programa.
51. O professor também informou que as justificativas constantes dos formulários de
requisição não teriam sido escritas por ele. Apesar de serem usados termos comuns na pesquisa, são
justificativas sem nexo, que não fazem sentido, diferentemente dos processos originais, em que as
justificativas são mais específicas. Por exemplo, no processo 222907/2011-11 (peça 56, p.2), a
justificativa afirma que “deve ser da marca reconhecida mundialmente porque será usado para
quantificar”, algo que o professor afirmou que nunca incluiria em uma justificativa.
52. O professor afirmou que não realizava cotações de preços junto às empresas Kumer
Produtos para Laboratórios Ltda. (CNPJ 14.107.022/0001-60), com cotação no processo
222907/2011-11 (peça 56, p.6), e junto à empresa Cell Diagnóstica (CNPJ 10.427.858/0001-90),
com cotação no processo 205508/2010-12 (peça 52, p.10).
53. Também foi realizada entrevista com a professora Ida Chapaval Pimentel (peça 34).
Foram apresentados à professora os processos de dispensa de licitação para pesquisa 209511/2010-
05, 210497/2010-84 e 206334/2012-69 (peças 59 a 62) da Reagen, e o processo 216831/2011-94
(peças 63 e 64) da PH Científica, todos com cópia de requisição e assinaturas idênticas, para que
ela avaliasse se as requisições realmente foram feitas pela professora e se os produtos haviam sido
entregues. As figuras a seguir constituem o campo de assinatura em dois dos processos apresentados
à professora:
Figura 4: Assinaturas na requisição do processo 210497/2010-84
11
54. A professora Ida afirmou que não reconhecia as requisições como sendo de sua autoria.
O primeiro fato que indicaria a falsidade da requisição seria a cópia dos documentos, pois a
professora sempre encaminhava a via original da requisição para a PRPPG. Além disso, as
assinaturas idênticas e localizadas no mesmo local do campo da assinatura também seriam
indicativos de fraude, porque em cada formulário ela incluía uma nova assinatura original.
55. Outro indício é que em três dos quatro processos não consta a assinatura da então
coordenadora do programa de Pós-Graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia,
professora Edilene Alcântara de Castro. Segundo a professora Ida, todas requisições saíam com a
assinatura da coordenadora, pois esta é a norma para os processos de dispensa para pesquisa na
UFPR.
56. Mais um indício é que a professora não reconheceu os produtos constantes do processo
206334/2012-69 (peça 62, p.2), quais sejam: saponina purificada, solução cintilação gold coquetel
e difenil sulfona. A professora afirmou que não tem conhecimento acerca da utilização destes
produtos.
57. O quarto indício seria a realização de duas compras com a lista de produtos quase
idêntica com dois meses de diferença (processos 209511/2010-5 e 210497/2010-84). A professora
afirmou que não faria estas aquisições tão semelhantes em períodos tão curtos. Ademais, o valor dos
processos de aquisição é bastante elevado. Os quatro processos possuem valores entre R$ 4.000,00
e R$ 8.000,00, fora das disponibilidades financeiras do departamento para aquisições para pesquisa.
58. Quanto à entrega dos produtos, a professora afirmou que ela normalmente ocorria no
departamento de patologia, e não na PRPPG, e que o procedimento era algum representante do
departamento assinar a nota fiscal com sua identificação. O fato de o recebimento dos produtos ter
sido assinado pela Sra. Conceição Mendonça, juntamente com uma assinatura sem identificação,
não era uma prática na época.
59. A equipe de auditoria também entrevistou a professora Gláucia Regina Martinez
(peça 35). Foram apresentados à professora três processos, das empresas Reagen, Labmaster e
Ermex: 219786/2011-20, 203467/2010-11 e 210509/2010-71 (peças 65, 66 e 67). Os três processos
possuem requisições que são cópias e dois deles assinaturas idênticas:
Figura 6: Assinaturas na requisição do processo 203467/2010-11
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60. Segundo a professora, as solicitações dos processos apresentados não eram de sua
autoria. Ela afirmou que sempre entregava a via original das solicitações e não utilizava assinaturas
escaneadas. O projeto financiado pela Fundação Araucária durou até 2009 e as compras foram
realizadas apenas até esse exercício, não havendo novas solicitações em 2010 e 2011, anos dos
processos fraudados.
61. A professora apresentou uma pasta com todos os documentos das compras efetuadas no
projeto, com cópias das solicitações realizadas, e não consta nenhuma das solicitações dos processos
analisados. Além disso, não foram realizadas compras das empresas Reagen, Ermex ou Labmaster.
A professora informou ainda que não realizava cotações com as empresas que participaram nos
processos fraudados: Suprilab, Reagen, Ermex e Labmaster.
62. O conteúdo das solicitações falsas também possui indícios de fraude. As justificativas
constantes das solicitações falsas são bastante diferentes das normalmente utilizadas pela professora
nas suas solicitações, mais detalhadas e específicas. As quantidades dos produtos adquiridos são
muito elevadas, assim como os valores gastos. Por exemplo, estava previsto o gasto R$ 167,00 com
o produto hidroxy-deoxy, enquanto no processo fraudado foram gastos R$ 2.370,00. Os três
processos somam R$ 21.710,00, quando o orçamento total do projeto era de R$ 20.000,00.
63. O recebimento dos produtos sempre era feito no programa de pós-graduação, e não na
PRPPG, e a pessoa que recebia sempre se identificava com a assinatura. O e-mail da professora nas
solicitações e nas cotações das empresas está errado em todos os processos falsos. O e-mail correto
é grmartinez@ufpr.br, enquanto nas solicitações e nas cotações está gmartinez@ufpr.br, ou seja,
sem o “r” no início do e-mail. Se as empresas formularam seus orçamentos a partir de e-mail
encaminhado pela professora, não faria sentido que todos eles, em todos os processos, estivessem
errados.
64. Nos processos fraudados, os recursos utilizados não foram os da Fundação Araucária,
financiadora do projeto de pesquisa, mas do Programa de Apoio à Pós-Graduação da Capes
(Proap), de outros programas de pós-graduação, como do Programa de Ciências Farmacêuticas
(peça 66, p. 10) e do de Biologia (peça 67, p. 11). O programa de Bioquímica, da qual a professora
faz parte, no exercício de 2010, era conceito Capes 6, o que significa que o programa recebia
diretamente da Capes os recursos, estes não passavam pela PRPPG. Além disso, o valor total do
programa nesses exercícios girava em torno de R$ 48.000,00, sendo destinado para cada professor
apenas R$ 3.000,00.
65. O quarto professor com o qual a auditoria realizou entrevista foi Wanderson Duarte da
Rocha. Foram apresentados ao professor os processos de dispensa de licitação para pesquisa
206338/2012-47 (peça 68) da Reagen e 218007/2011-79 (peça 69) da Ermex, supostamente
fraudados, e os processos 223034/2011-63 (peça 70) da Induslab e 202564/2011-50 (peça 71) da
Labmaster, que seriam originais, para que avaliasse se as requisições realmente foram feitas por
ele.
66. Segundo o professor, as requisições dos dois processos fraudados não eram de sua
autoria. O procedimento padrão nas aquisições para pesquisa era a entrega da via original da
requisição, e não de cópias. Além disso, o professor não utilizava assinaturas escaneadas nos
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documentos e não teria apagado o carimbo juntamente com o último sobrenome da assinatura no
processo 206338/2012-47, conforme a Figura 9.
Figura 8: Assinaturas na requisição do processo 218007/2011-79
67. Observa-se que as assinaturas nos dois processos, digitalizadas, são exatamente as
mesmas, com a diferença de que a do processo 218007/2011-79 continha o último sobrenome do
professor (Rocha) e parte do carimbo. Já no processo 206338/2012-47, foram apagados tanto o
último sobrenome quanto o carimbo. O professor afirma que jamais fez esta edição em qualquer
imagem de sua assinatura. E é a Sra. Conceição que faz o ateste de “confere com o original” no
documento.
68. O professor mantém em seu computador o registro das requisições realizadas, e não
foram encontradas as requisições dos processos fraudados, mas foram encontradas dos processos
originais. Além disso, o professor utilizava para a requisição um formulário com formatação
diferente dos formulários fraudados, e o preenchimento dos campos dos formulários também é
diferente.
Figura 1: Formulário do processo fraudado 206338/2012-47
14
69. Os formulários dos processos fraudados são iguais ao formulário padrão da PRPPG
para aquisição de produtos para pesquisa com dispensa de licitação. Já os formulários utilizados
pelo professor possuem algumas diferenças. Eles não contêm, por exemplo, o campo para
preenchimento do professor solicitante, apenas o campo do coordenador do projeto. Além disso, a
forma de preenchimento dos campos é diferente, tendo em vista que o professor usava negrito na
fonte e preenchia todos os campos, enquanto nos processos fraudados vários campos são deixados
em branco.
70. Outro indicativo de fraude é o nome do projeto de pesquisa preenchido nos formulários.
Nos dois processos fraudados, o nome apresenta de forma incorreta o “Trypanosoma Crusy”,
quando o correto seria “Crusi”, como está escrito nos processos originais. Segundo o professor,
esse é um erro que ele não cometeria.
71. No processo 206338/2012-47 (peça 68, p.2), o professor não reconheceu o produto
Bromo Ethylamonium Bromide, afirmou que não saberia a utilização do reagente, e que o preço de
R$ 6.842,10 estaria muito acima das compras realizadas no período, que jamais seria gasto um valor
tão alto em apenas um reagente.
72. A fonte dos recursos nos processos fraudados não é da Fundação Araucária,
financiadora do projeto pelo qual foram adquiridos os produtos, mas do Proap, de programas de
pós-graduação diferentes da Bioquímica, da qual o professor faz parte. No processo 206338/2012-
47 (peça 68, p.11) foram usados recursos do Programa de Biologia e no processo 218007/2011-79
(peça 69, p.8) foram usados recursos do Programa de Genética. Já nos dois processos originais
foram usados recursos da fonte da Fundação Araucária.
73. Entre 2007 e 2013, as quatro empresas que teriam processos fraudados forneceram um
total de R$ 3,7 milhões para a UFPR em produtos para pesquisa com dispensa de licitação pelo
inciso XXI. Na Tabela 1, verifica-se que as quatro empresas são justamente as que tiveram o maior
valor em fornecimento de produtos com dispensa para pesquisa para a UFPR. No mesmo período,
o total de compras da universidade justificadas por este inciso foi de R$ 57,9 milhões. Excluindo as
empresas internacionais, o total gasto com produtos para pesquisas com empresas nacionais foi de
R$ 15,6 milhões. Por conseguinte, as quatro empresas teriam fornecido 23% do que foi comprado
no país.
e) Causas
74. A principal causa subjetiva para a fraude na aquisição de produtos para pesquisa está a
conduta dolosa da então Chefe da Seção de Controle e Execução Orçamentária, Sra. Conceição, em
falsificar a requisição de produtos para pesquisa e o atesto no recebimento de produtos, em conluio
com as quatro empresas, com o objetivo de enriquecimento ilícito.
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75. Além disso, entre as causas objetivas, podem ser citadas as fragilidades na gestão da
ética, na gestão de riscos, na gestão da transparência e na auditoria interna da UFPR, analisadas
neste relatório.
f) Efeitos
76. Devido à quantidade de processos de aquisição para a pesquisa junto às quatro empresas
que teriam participado da fraude, não foi possível a esta auditoria verificar o valor total de recursos
desviados. A UFPR já instaurou uma comissão para atender ao Acórdão 4.778/2017-TCU-
1ª Câmara, que determinou que a UFPR, no prazo de 180 dias, analisasse as aquisições junto às
empresas Reagen e Ermex, entre os anos de 2007 a 2016 e, nos casos que se configurassem dano ao
erário, identificasse os responsáveis, quantificasse o montante do débito e implementasse as medidas
administrativas necessárias para o respectivo ressarcimento. Tendo em vista que foram identificadas
mais duas empresas em que foi identificado o mesmo padrão de fraude na aquisição de produtos
para pesquisa, cabe determinar à UFPR faça a mesma análise, verificando a regularidade das
contratações junto às empresas PH Científica e Labmaster.
g) Responsabilidade
77. A identificação da responsabilidade pela fraude nas aquisições de produtos para
dispensa também deverá ser realizada pela comissão a ser constituída pela UFPR.
h) Comentários dos Gestores
78. Quanto ao achado referente às fraudes nas aquisições para pesquisa por meio de
dispensa de licitação, a UFPR informou que será constituída nova comissão para verificar as
compras junto às empresas (PH Científica e Labmaster), tendo em vista que já havia sido constituída
comissão para avaliar as aquisições das empresas Reagen e Ermex. São citadas ainda medidas que
foram tomadas ao longo de 2017 com o objetivo de reduzir os riscos de fraudes nessas aquisições,
tais como: implantação de Sistema Eletrônico de Informações com a necessidade de assinatura
eletrônica dos responsáveis, sendo eliminados os processos físicos, realização de levantamento de
riscos nos processos de aquisições, estudos com o objetivo de reduzir a utilização de dispensas.
i) Conclusão da equipe de auditoria
79. As evidências de fraude na aquisição de produtos para pesquisa com dispensa de
licitação demonstram que o desvio de recursos da Universidade perdurou por um longo período de
tempo e com valores significativos. Verifica-se que, somado ao período de desvio de recursos das
bolsas para estudantes e pesquisadores, a PRPPG esteve por quase uma década sujeita a ações
fraudulentas que se aproveitaram da falta de controles adequados. A UFPR demonstrou que
compreendeu a gravidade do problema e tem implementado medidas que podem aperfeiçoar o
combate à fraude e à corrupção.
j) Proposta de encaminhamento
80. Determinar à UFPR, com fundamento no art. 250, inc. II, c/c 251, caput, do Regimento
Interno do TCU, que, com fundamento no art. 66, inciso II do art. 73 e art. 96 da Lei 8.666/1993, no
prazo de 180 (cento e oitenta) dias, no que se refere às aquisições junto às empresas Labmaster
Comercio de Produtos Científicos LTDA – EPP (01.974.431/0001-11) e PH Científica Aparelhos
Científicos LTDA - EPP (CNPJ 05.287.391/0001-90) entre os anos de 2007 a 2017, adote
procedimentos para verificar a regularidade dessas aquisições, seus respectivos recebimentos e
pagamentos e, nos casos que se configurarem dano ao erário, identifique os responsáveis,
quantifique o montante do débito e implemente as medidas administrativas necessárias para o
respectivo ressarcimento, por fim, apresente a este Tribunal de Contas as medidas adotadas e os
elementos comprobatórios que fundamentaram suas conclusões.
2.2. Subutilização de imóvel adquirido sem planejamento e motivação adequados
16
a) Situação Encontrada
81. Entre os processos de dispensa selecionados para fiscalização está o Contrato 36/2014,
processo 23075.005461/2014-12, relativo à aquisição de imóvel pela UFPR junto à empresa JTEKT
Automotiva Brasil Ltda. (CNPJ 02.638.940/0001-36) pelo valor de R$ 14.500.000,00 no ano de 2014.
82. Três anos após sua aquisição, o imóvel está sendo subutilizado pela Universidade, que
até o momento da realização desta auditoria ainda não possuía destinação certa para o bem.
Atualmente, o imóvel em Piraquara abriga o arquivo e a imprensa universitária. Este ano, foi
realizada no local a 15ª edição da Feira de Profissões, que, segundo a UFPR, recebeu em torno de
85 mil visitantes entre os dias de 24 a 27 de agosto. A reitoria informou em entrevista à equipe de
auditoria que está realizando estudos com vistas a definir quais outros serviços da Universidade
poderiam ser alocados no imóvel. Espera-se que o espaço possa ser usado para receber bens de
grande proporção e que são de difícil armazenamento nos campi da Universidade.
83. A contratação não foi precedida de um planejamento adequado, pois não foram
realizados estudos prévios e não foi avaliada a compatibilidade da aquisição com o Plano Diretor
da UFPR. Não constam do processo documentos que indiquem quais as demandas por espaço na
Universidade frente às disponibilidades. Também não são apresentados documentos que demonstrem
quais os requisitos de instalação e localização que o imóvel deveria atender. São escassas e vagas
as menções à motivação para a compra do imóvel. E a contratação foi realizada por dispensa de
licitação, sem atender às condições estabelecidas pela Lei 8.666/1993 para a dispensa na aquisição
de imóveis, como será analisado no próximo achado.
84. A precária motivação consignada no processo dispõe que o imóvel em Piraquara seria
destinado para a centralização de serviços administrativos da UFPR, como arquivo, almoxarifado
central, Central de Transportes (Centran), imprensa universitária e depósito da editora. Não existem
estudos que demonstrem a viabilidade do imóvel para estes usos e qual seria o ganho para a
Universidade com sua aquisição. Pelo contrário, quando se verifica que o imóvel adquirido está
localizado em outro município, distante da reitoria e dos principais campi da UFPR, espera-se uma
elevação nos custos de unidades como o Centram, uma vez que haveria um deslocamento superior
para atender aos pedidos das unidades.
85. No Plano Diretor da UFPR, observa-se que, na classificação das zonas, não era de
interesse da UFPR ocupar áreas de preservação ambiental, indicando inclusive a possibilidade de
descontinuidade de espaços nas Zonas de Ordenamento Ambiental. Por conseguinte, entende-se que,
segundo as diretrizes do Plano Diretor, não seria adequada a ocupação de áreas de preservação
ambiental, como é o caso do imóvel em Piraquara, com serviços administrativos da Universidade,
como o Centran ou o almoxarifado central.
86. Também se verifica que a aquisição do imóvel em Piraquara vai de encontro à diretriz
de buscar a diversidade de uso e garantir a presença de alunos e atividades de ensino no maior
número possível de espaços, pois o imóvel em Piraquara não pode ser utilizado para implantação de
campus universitário, tendo em vista o número elevado de usuários, o que é proibido pela legislação
municipal para as áreas de mananciais.
87. Entende-se que a contratação foi realizada sem o zelo exigível na atuação do gestor
público, com a imobilização de uma alta soma de recursos sem a devida destinação, resultando em
um custo de oportunidade elevado para a UFPR, que poderia ter aplicado o valor em opções de
retorno maior, principalmente diante da situação de crise financeira pela qual passa não só a
Universidade, mas toda a Administração Pública.
88. Ainda existem questões que precisam ser melhor explicitadas, como se o valor pago pelo
imóvel foi adequado, o que demanda uma avaliação pericial que esta equipe de auditoria não possui
17
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Entendemos que a motivação é, em regra, necessária, seja para os atos vinculados, seja para
os atos discricionários, pois constitui garantia de legalidade, que tanto diz respeito ao interessado
como à própria Administração Pública; a motivação é que permite a verificação, a qualquer
momento, da legalidade do ato, até mesmo pelos demais Poderes do Estado.
95. Como afirma a autora, a motivação é um dos elementos necessários para a análise da
legalidade dos atos administrativos. Se a motivação não está adequadamente apresentada nos
processos de contratação, não é possível ao controle averiguar se ele atende ao interesse público.
96. A UFPR possui o Plano Diretor, que apresenta as diretrizes para uso e ocupação dos
espaços da Universidade. O documento é de dezembro de 2009, aprovado pela Resolução Coplad
50/2009. No documento já era apresentada a constatação de que “não raro, as propostas para as
novas construções e edificações colidem com as indicações gerais desse documento. Quase
constantemente, o Plano não é consultado preliminarmente para planejar projetos, expansões físicas
ou remodelações nos prédios existentes”.
97. O Plano Diretor apresenta uma classificação e descrição das Zonas quanto ao uso e
ocupação do solo. Entre os tipos de zonas, são definidas:
a) Zona de Restrição à Ocupação: áreas de interesse de promoção da recuperação e da
conservação ambientais. Observações: quando definidas de preservação pela legislação superior,
não podem receber nenhum tipo de edificação, a não ser acessos a outras zonas; quando de
conservação, deverão ter seus usos restritos àqueles de baixa densidade e com o mínimo de supressão
da cobertura vegetal; em ambos os casos, deverá ser respeitada a legislação ambiental vigente.
b) Zona de Ordenamento Ambiental: área legalmente considerada de preservação,
entretanto já ocupada por edificação, onde devem ser estudadas as possibilidades da continuidade
de sua utilização.
c) Zona de Concentração de Usos: área ainda não saturada ou ocupada dispersamente,
com grande perda de espaço e maiores impactos ambientais, conduzindo à proposta de que os novos
edifícios sejam verticalizados, diminuindo assim os índices de impermeabilização
98. Entre as diretrizes gerais definidas pelo Plano Diretor estão:
a) Garantir o interesse maior da Universidade frente ao atendimento a necessidades
pontuais de um outro setor/departamento;
b) Buscar a diversidade de usos e garantir a presença de alunos e atividades de ensino de
graduação no maior número possível dos espaços e edifícios ocupados pela UFPR;
c) Otimizar espaços livres e construídos da Universidade em todos os campi organizando
fluxos e demandas por área;
d) Agregar atividades com grau de complexidade semelhante de maneira a otimizar as redes
de infraestrutura;
e) Desenvolver, sempre que possível, projetos que permitam atividades de diferentes
funções de maneira a garantir o uso intensivo do edifício e uma distribuição de fluxos com vistas à
maximização do uso da infraestrutura instalada e dos recursos investidos;
d) Evidências
99. O primeiro documento do processo que contém alguma menção à motivação para a
compra do terreno é a Informação 72/2014 (peça 43, p.21), da Coordenadoria de Programação e
Controle Orçamentário, da Proplan, de 27/2/2014. Segundo o documento:
Chega a esta Coordenadoria, encaminhada pela Pró-Reitoria de Administração, solicitação
de informação de disponibilidade orçamentária para compra de imóvel em Piraquara, para atender
19
pela própria Instituição, deve ser comprovada por meio de um relatório detalhado, com dados
objetivos, que justifique a necessidade da compra do imóvel e especifique o uso que se fará dele.
Apesar de haver uma justificativa às fls. 152-153, esta foi redigida ao COPLAD. Deve ser
juntado aos autos uma justificativa mais completa, com o propósito único de comprovar que existe,
de fato, um interesse público na aquisição pretendida. Este documento dev erá tratar a questão com
maior detalhamento, explicitando, por meio de dados, quais as carências da Universidade em
relação a demanda de serviços/logísticas e como a compra do referido imóvel irá supri-las.
A realização desse negócio jurídico demanda da Instituição absoluto zelo e dedicação, visto
que a soma de recursos públicos destinados à compra do imóvel é considerável. Desse modo, pede-
se que a Administração aja de maneira enérgica, juntando ao processo um estudo minucioso sobre
os benefícios advindos da aquisição do imóvel.
105. Na resposta ao parecer (peça 43, p. 97), a PRA faz um detalhamento da motivação na
compra do imóvel, informando que a UFPR, por questões administrativas, necessitava de uma
centralização de seus serviços, o que resultaria em uma economia com estrutura administrativa
enxuta e modernização de equipamentos. A princípio, a área adquirida seria utilizada para unificar
os serviços e facilitaria a logística da administração: almoxarifado central, imprensa universitária,
depósito da editora, arquivo geral, Centran.
106. Porém, a informação apresentada pela PRA não atende ao exigido no Parecer da
Procuradoria, que é bastante enfática ao usar expressões como “relatório detalhado”, “dados
objetivos”, “justificativa mais completa”, “maior detalhamento”, “estudo minucioso”. A PRA
ignorou estas exigências da Procuradoria e deu continuidade ao processo apresentando uma
descrição bastante sumária acerca dos usos pretendidos.
107. No processo de aquisição do imóvel de Piraquara, a Coordenação do Plano Diretor só
se manifestou em 18/8/2014 (peça 47, p. 33-37), ou seja, quatro meses após a compra ser efetivada,
tendo em vista que o contrato foi celebrado em 22/4/2014. Não existe no processo nenhuma análise
quanto à adequação da compra do imóvel às diretrizes do Plano Diretor.
108. A Coordenação do Plano Diretor apresenta consultas (peça 47, p. 38-40) realizadas
junto à Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo da Prefeitura de Piraquara com o objetivo de
verificar a adequação dos usos pretendidos à legislação municipal. Isso significa que, apenas depois
de formalizada a contratação, é que a UFPR foi verificar se os usos que ela planejava para o imóvel
eram permitidos para o local, que apresenta restrições por se encontrar em área de preservação
ambiental. Ainda no ofício da Coordenação do Plano Diretor consta que a partir daquele momento
seria “possível desenvolver estudos preliminares para a ocupação do imóvel”.
e) Causas
109. A principal causa para a subutilização do imóvel adquirido em Piraquara foi a ausência
de planejamento e estudos prévios adequados à contratação de alto valor realizada. A contratação
não foi precedida de um planejamento adequado, pois não foram realizados estudos prévios e não
foi avaliada a compatibilidade da aquisição com o Plano Diretor da UFPR
f) Efeitos
110. Uma alta soma de recursos da UFPR foi imobilizada sem que houvesse um resultado
corresponde para a entidade. Foram gastos R$ 14 milhões com um imóvel que não está sendo
utilizado adequadamente.
111. Esta equipe de auditoria não possui a qualificação necessária para avaliar se o valor
pago pelo imóvel foi adequado. Dessa forma, entende como necessária a requisição de serviço
técnico especializado junto ao Departamento de Polícia Federal, que dispões de peritos com
competência na área, com base no art. 101 da Lei nº 8.443/92 e no art. 297 do Regimento Interno.
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g) Responsabilidade
112. Entende-se que ainda existem questões que precisam ser melhor explicitadas,
principalmente se o valor pago pelo imóvel foi adequado. Tal análise exige uma avaliação pericial
que esta equipe de auditoria não possui condições de realizar. Por conseguinte, propõe-se a
instauração de representação com vistas a avaliar possível dano ao Erário e identificar as
respectivas responsabilidades.
h) Comentários dos gestores
113. Em relação à subutilização do imóvel em Piraquara, informa o Reitor que docentes do
Setor de Tecnologia da universidade manifestaram interesse em estruturar seus laboratórios no
local, “o que acabou por ensejar o retardamento para as definições do uso do local para fins
acadêmicos”. Dessa forma, além da utilização do imóvel para as atividades-meio para as quais ele
foi inicialmente adquirido (central de serviços da UFPR), a atual gestão planeja também que o
imóvel possa servir a realização de atividades de ensino, pesquisa e extensão. Para tanto, estariam
sendo empreendidas as medidas para a divisão e adequação dos espaços.
114. É apresentado também um histórico do procedimento de aquisição do imóvel, elaborado
pelo Prof. Dr. Zaki Akel Sobrinho, ex-Reitor da UFPR responsável pela compra. Este informa que
em sua gestão, a UFPR teve de lidar com um grande desafio, que era a ampliação da Universidade.
Foram realizadas diversas aquisições de áreas (peça 73, p.54) e, segundo o ex -Reitor, foi dada
grande valorização à Equipe do Plano Diretor, tendo sido atendidos todos os estudos e análises
incluídos no Plano Diretor. Afirma-se que o Plano aponta para a necessidade de remanejamento da
Central de Transportes e de criação de um Setor de Serviços, que aglutinassem em único espaço a
Imprensa, a Centran e o Almoxarifado Central. Ademais, a CGU também teria alertado para a
necessidade de uma política integrada de compras, com a criação de uma Central de Recebimento e
um Almoxarifado Central. O ex-Reitor cita ainda dificuldades com o armazenamento do arquivo da
UFPR e dos prontuários do Hospital de Clínicas. Entende o ex -Reitor que ficou demonstrado:
que houve um grande esforço de Planejamento da constituição de um Setor de Serviços e que
pode ser melhor compreendido em um cenário de veloz expansão das atividades acadêmicas e
administrativas da UFPr, gerando uma grande pressão sobre a Reitoria pela incorporação de novas
áreas adicionais.
115. Como exemplo desse planejamento, é citada ainda a consignação de R$ 5.000.000,00 no
PLOA 2013, destinados à inversão financeira e que seria destinado para quitação da entrada quando
da assinatura do contrato de compra e venda do imóvel. Assim, na visão do ex -Reitor, “desde 2012
já havia sido discutida a necessidade de área adicional, provisionado recurso e definidas as unidades
que deveriam ser alocadas constituindo a Central de Serviços, cujo conceito foi sendo aperfeiçoado
e ajustado ao longo do tempo”.
116. Alguns fatores teriam retardado a plena utilização do imóvel. São citados pelo ex-Reitor
o interesse de professores do Setor de Tecnologia em instalar seus laboratórios no local, o interesse
em utilizar o imóvel para realização de grandes eventos, como a feira de profissões, e o fato de sua
gestão estar se concluindo, razão pela qual optou por deixar que o novo Reitor pudesse decidir a
melhor utilização do imóvel.
i) Conclusão da equipe de auditoria
117. Entende-se que as justificativas apresentadas pelo ex-Reitor e pela atual administração
da UFPR não são suficientes para explicar a subutilização do imóvel. Não são apresentados
documentos que comprovem que houve um planejamento adequado da aquisição e estudos que
demonstrem que o imóvel atendia às necessidades da Universidade.
22
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critérios claros para se afirmar que o imóvel adquirido condicionaria a escolha em termos de
instalação e localização.
125. Não há nada no processo que comprove que o imóvel adquirido possuísse características
únicas de instalação ou localização necessárias para a Universidade, ou ao menos que as suas
características fossem adequadas para os usos pretendidos.
126. O terceiro requisito refere-se à compatibilidade do preço com o valor de mercado,
aferida em avaliação prévia. Constam do processo dois laudos periciais relativos ao valor do imóvel.
O primeiro (peça 42, p. 9-45) foi contratado pela empresa JTEKT e realizado pelo perito Sydney
Millen Zappa. O valor de venda do imóvel calculado no laudo foi de R$ 21.147.348,00. Já o segundo
laudo (peça 42, p. 161, até, peça 43, p. 17), contratado pela UFPR, calculou o valor total do imóvel
em R$ 23.677.340,74. Porém, ambos os laudos calculam o valor a partir da área total do imóvel,
sem considerar que ao menos 30% do terreno não poder ser aproveitado por constituir Área de
Preservação Ambiental. Esta equipe de auditoria não teria condições de avaliar se o valor pago está
de acordo com o valor de mercado, sendo necessária a realização de perícia especializada.
b) Objetos nos quais foi constatado
127. Contrato 36/2014, processo 23075.005461/2014-12, de aquisição de imóvel localizado
na Rodovia João Leopoldo Jacomel, 4015, bairro de Jardim Primavera, município de Piraquara, no
estado do Paraná, adquirido pela UFPR por meio de dispensa de licitação.
c) Critério de Auditoria
128. Segundo a Lei 8.666/1993:
Art. 24. É dispensável a licitação:
(...)
X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas
da administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde
que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia;
129. No voto do Acórdão 5.948/2014-TCU-2ª Câmara, o Ministro-Relator Raimundo Carreiro
defendeu que:
Para que se possa adquirir imóvel mediante dispensa de licitação, faz-se necessária a
conjugação de três requisitos: a comprovação de que o imóvel se destina ao atendimento das
finalidades precípuas da administração; a escolha condicionada a necessidades de instalação e de
localização; e a compatibilidade do preço com o valor de mercado, aferida em avaliação prévia.
130. O primeiro requisito refere-se à destinação do imóvel para as atividades precípuas da
organização. No Acórdão 733/2000-TCU-2ª Câmara, foi analisada a dispensa de licitação para
locação de imóvel pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul para instalação de sua editora.
O Acórdão apontou a dispensa como irregular, pois o imóvel não estaria sendo destinado às
atividades precípuas da Universidade. Segundo o voto do Ministro-Relator Valmir Campelo:
O supramencionado dispositivo legal prescreve ser dispensável a licitação para a compra ou
locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da Administração, cujas
necessidades de instalação condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com o
valor de mercado, segundo avaliação prévia. Diante do seu texto, fica evidente o descabimento de
sua aplicação no caso em tela, haja vista ter sido tal imóvel alugado para a instalação do
departamento responsável pelas atividades administrativas da Divisão de Editora/FUFMS,
conforme consta do Relatório de Auditoria à fl. 357. Ora, se o legislador fala em finalidades
precípuas da Administração, tendo o termo 'precípua' a acepção de essencial, principal, certamente
quer se referir à área fim de determinada entidade pública, e não a suas atividades administrativas
24
ou outras afins, claramente classificadas como de área meio, estando, assim, inadequada sua
dispensa com amparo no dispositivo da Lei de Licitações acima apresentado.
131. Segundo o Acórdão 6.259/2011-TCU-2ª Câmara:
A dispensa de licitação para a aquisição de imóvel necessita da comprovação de sua
destinação ao atendimento das finalidades precípuas da entidade, pois caso o imóvel seja destinado
à realização de atividades acessórias, a aquisição deveria ter sido precedida de procedimento
licitatório.
132. O segundo requisito refere-se aos condicionantes de instalação e localização do imóvel.
O inciso X do art. 24 dispõe que a escolha do imóvel adquirido por meio de dispensa de licitação é
condicionada, ou seja, uma escolha sem alternativas disponíveis. Na doutrina e na jurisprudência,
não há unanimidade quanto à necessidade de o imóvel ser o único capaz de atender às necessidades
da Administração. De um lado, existe o entendimento de que, para atender a este dispositivo, o imóvel
adquirido deveria ser o único a atender às necessidades da Administração. De outro lado, defende-
se que quando há apenas uma possibilidade, deveria ser utilizada a inexigibilidade, e que não é
necessária a existência de um único imóvel que atenda aos requisitos de instalação e localização.
133. Na visão de Marçal Justen Filho (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de
Licitações e Contratos Administrativos, 11ª Edição, 2005, pag. 250):
A ausência de licitação deriva da impossibilidade de o interesse sob a tutela estatal ser
satisfeito através de outro imóvel, que não aquele selecionado... Antes de promover a contratação
direta, a Administração deverá comprovar a impossibilidade de satisfação do interesse sob tutela
estatal por outra via e apurar a inexistência de outro imóvel apto a atendê-lo.
134. Alguns Acórdãos do TCU seguiram este entendimento:
Acórdão 444/2008-TCU-Plenário: “Somente deve ser utilizada a dispensa de licitação para
locação de imóvel quando ficar configurada sua especificidade, cujas instalações e localização
evidenciem que ele é o único imóvel que atende o interesse da administração, fato que deverá estar
devidamente demonstrado no respectivo processo administrativo”.
Acórdão 1.816/2013-TCU-2ª Câmara: “É irregular a aquisição de imóvel, por dispensa de
licitação, sem a comprovação de que é o único capaz de atender às necessidades da Administração”.
135. A Decisão 337/1998-TCU-1ª Câmara determinou ao Tribunal Regional do Trabalho da
4ª Região que adotasse, entre outras providências:
8.1.18 - observar as disposições da Lei nº 8.666/93, no que concerne à dispensa de licitação
para aquisição de imóveis, observando que o enquadramento no art. 24, inciso X, somente é possível
quando a localização do imóvel for fator condicionante para a escolha;
136. Porém, no Acórdão 5.244/2017-TCU-1ª Câmara, foi adotado o posicionamento do
Ministro Revisor Benjamin Zymler, como seguinte enunciado:
A existência de um único imóvel apto a, por suas características de instalação e localização,
atender às finalidades precípuas da Administração não é requisito para a contratação por dispensa
de licitação fundada no art. 24, inciso X, da Lei 8.666/1993.
137. Já no Acórdão 2.420/2015-Plenário, de relatoria do Ministro Benjamin Zymler, firmou-
se o enunciado de que:
Mesmo que vários imóveis satisfaçam as condições desejadas pela Administração, encontra-
se na esfera do poder discricionário do gestor contratar a locação por meio de dispensa de licitação
(art. 24, inciso X, da Lei 8.666/1993). Os motivos adotados para a seleção não se limitam
necessariamente ao valor do aluguel, sendo possível – e até desejável – a consideração de outros
25
critérios, devendo-se observar as exigências legais de adequada motivação para a opção escolhida
e de demonstração da compatibilidade do valor da contratação com parâmetros de mercado (art. 26
da Lei 8.666/1993).
138. Portanto, ainda que existam outros imóveis aptos a atender às necessidades da
Administração, seria possível a utilização da dispensa, desde que haja a devida motivação para a
opção escolhida. Assim, é necessária a comprovação de que o imóvel atende aos requisitos de
instalação e localização da Administração. Para isso, primeiro é necessário definir quais seriam
estes requisitos, o que não foi feito no processo de aquisição do imóvel em Piraquara, que apresenta
motivação precária e ausência de estudos prévios.
d) Evidências
139. A UFPR não definiu adequadamente os requisitos a serem atendidos pelo imóvel a ser
adquirido, a não ser que ele fosse “grande o suficiente”. Segundo o Ofício por meio do qual a PRA
encaminhou o processo para apreciação do Coplad (peça 43, p.54):
Na primeira reunião de Pró-Reitores deste ano foi solicitado à PRA e PROPLAN que
procurassem uma área grande o suficiente para que a Universidade atendesse a crescente demanda
de serviços/logística, que seria: Almoxarifado Central, Arquivo Geral, etc.
(...)
Neste Sentido, tendo em vista a oportunidade de aquisição do imóvel em Piraquara, a UFPR
tomou providencias para iniciar as negociações com empresa proprietária da área, conforme a
documentação anexada ao presente.
140. Além disso, não há no processo nenhum documento que comprove que o imóvel em
Piraquara atenderia às necessidades da UFPR em termos de instalação e localização. Segundo a
visória realizada pela prefeitura da Universidade, quando da entrega do imóvel em 30 de junho de
2014 (peça 47, p.29-32):
Considerando que o uso daquela edificação era até então de uma fábrica de peças automotivas,
pouco se acrescenta as informações sobre as instalações, uma vez que deveremos proceder
alterações para a nova finalidade de uso, isto posto, a vistoria se resume ao conhecimento global
das instalações e seus aspectos principais, como: casa de força, ar condicionado, sistema de esgoto,
entrada e reservação de água, e outros itens menos relevantes;
(...)
A edificação está sem utilização há pelo menos 05 (cinco) anos, e não há danos ou avarias que,
não sejam as deixadas pela utilização do tempo de funcionamento daquele empreendimento e que
deverão ser reparadas. Todavia, julgando pelas dimensões daquele empreendimento haverá
necessidade de recursos, os quais deverão ser apurados na medida em que forem apresentadas as
modificações e ajustes na edificação para o novo uso, de maneira que se possa formar o Orçamento
Base Estimativo que será posteriormente levado ao conhecimento da Administração;
(...)
Como observado pela empresa no Termo de Entrega Técnica, há sobre o terreno condição
imposta de restrição de uso em face da atividade ali desenvolvida que restringe a ocupação do
terreno, cujo atingimento é na ordem de 30% (trinta) por cento da área total do terreno. Tal restrição
da-se em cumprimento ao TAC - Termo de Ajuste de Conduta firmado junto ao Ministério Público
do Estado Paraná.
Nesta questão, entendemos que cabe ao Plano Diretor da UFPR dentro das diretrizes daquela
coordenação, sobre a definição de ocupação de espaço físico, buscar informações mais detalhadas
junto a Secretaria Especializada do Município quanto aos critérios de aprovação daqueles projetos,
26
do alvará de licença concedido, da finalidade e uso da edificação, para que dentro do que for
possível, realizar as alterações de aprovação adequando ao novo uso pretendido para a edificação,
e retificando ou não os termos do TAC - Termo de Ajuste de Conduta junto ao Ministério Público do
Estado do Paraná.
141. O laudo da própria Universidade aponta que as instalações do imóvel não são adequadas
para os usos que se pretendem, sendo necessárias adequações. Além disso, existem restrições quanto
ao uso do imóvel, que se encontra em área de preservação ambiental. Como analisado ano achado
anterior, apenas após a formalização da aquisição é que a Universidade buscou verificar junto aos
órgãos competentes se o imóvel poderia ser utilizado para os fins pretendidos. Portanto, a escolha
do imóvel não estaria condicionada em virtude de necessidades de instalação. O mesmo se pode dizer
quanto à localização, uma vez que o imóvel está distante dos principais campi da UFPR, em outro
município da região metropolitana de Curitiba.
e) Causas
142. Uma das causas para a contratação direta irregular foi a ausência de planejamento e
estudos prévios adequados à contratação de alto valor realizada. Caso tais estudos tivessem sido
realizados, poderiam indicar a existência de outros imóveis aptos atender aos interesses da UFPR,
demonstrando a vantagem na realização de procedimento licitatório para a seleção do imóvel com
melhor relação custo benefício. Outra causa, subjetiva, refere-se à conduta dos agentes públicos em
não atender aos requisitos da Lei de Licitações para a compra de imóveis com dispensa.
f) Efeitos
143. Um efeito da contratação direta irregular foi a seleção de um imóvel que não seria o
mais apto a atender aos requisitos da Universidade para instalação de serviços administrativos.
Como analisado no achado anterior, foi imobilizada uma alta soma de recursos, sendo que o imóvel
está subutilizado atualmente. Em termos financeiros, não foi possível à esta equipe de auditoria
avaliar se há compatibilidade do valor pago pelo imóvel com o valor de mercado, sendo necessária
uma perícia para tal avaliação.
g) Responsabilidade
144. Entende-se que irregularidade na dispensa de licitação deve ser avaliada em conjunto
com a análise do valor pago pelo imóvel, pois a Lei 8.666/1993 estabelece que um dos requisitos
para o uso da dispensa é que o preço seja compatível com o valor de mercado. Uma vez que a
avaliação do valor deverá ser realizada em processo de representação com o auxílio de especialista,
a identificação das responsabilidades pela irregularidade e por possível dano ao Erário também
ocorrerá no processo a ser instaurado.
h) Comentários dos gestores
145. Quanto ao achado relativo à dispensa irregular de licitação na aquisição do imóvel, a
UFPR apresenta o relato do ex-Reitor Prof. Dr. Zaki Akel Sobrinho, analisado na seção do achado
anterior. Porém, o ex-Reitor apresenta considerações apenas acerca da subutilização do imóvel, não
há comentários acerca da irregularidade na dispensa em si.
i) Conclusão da equipe de auditoria
146. Tendo em vista que ao menos dois dos três requisitos para utilização de dispensa de
licitação para aquisição de imóveis não foram atendidos, entende-se que a contratação direta foi
irregular. Devido à necessidade de apuração da compatibilidade do valor pago com o valor de
mercado, entende-se como necessária a instauração representação com vistas a analisar de forma
mais detalhada as irregularidades na aquisição do imóvel, calcular possível dano ao Erário e
identificar as responsabilidades, conforme proposto na seção relativa ao achado anterior.
27
j) Proposta de Encaminhamento
147. O encaminhamento relativo a este achado está inserido na proposta relativa ao achado
anterior.
2.4. Terceirização de atividade fim da Universidade: extensão
a) Situação Encontrada
148. Foi analisado na presente auditoria o Contrato 65/2016, celebrado com a Cooperativa
de Educadores e Instrutores de Línguas de Curitiba (Ceilin), CNPJ 07.412.916/0001-06, por
inexigibilidade de licitação. O objeto do contrato são serviços técnicos nas áreas de educação e
instrução de línguas estrangeiras, entre outras disciplinas relacionadas a idiomas, por meio dos
cooperados com habilitação técnica da Contratada para atender às demandas institucionais e
administrativas apresentadas pelo Centro de Línguas e Interculturalidade da UFPR (Celin/UFPR).
149. Foram identificados dois achados relacionados com o contrato. O primeiro é o
desvirtuamento da atividade de extensão universitária, tendo em vista que se trata de uma atividade
finalística da Universidade. O segundo foi a utilização irregular da contratação direta por meio de
inexigibilidade, uma vez que não foram comprovadas a natureza singular dos serviços e a notória
especialização da contratada, como será analisado no próximo item.
150. O ensino de línguas para o público interno e externo à UFPR constitui uma atividade de
extensão, que faz parte do rol de atividades finalísticas das universidades, quais sejam: ensino,
pesquisa e extensão. Desta forma, tais atividades não poderiam ser objeto de contratação de
entidades privadas para sua execução, o que configura terceirização irregular na administração
pública. A contratação, por representar mera intermediação de mão de obra para prestar serviços
da área finalística da universidade, constitui terceirização ilícita e burla ao concurso público, art.
37, II da Constituição Federal de 1988.
b) Objetos nos quais o achado foi encontrado
151. Contrato 65/2016 (peça 29, p. 24-32), celebrado com a Cooperativa de Educadores e
Instrutores de Línguas de Curitiba (Ceilin), CNPJ 07.412.916/0001-06, contendo as seguintes
especificações:
a) Objeto: serviços técnicos nas áreas de educação e instrução de línguas estrangeiras
como o inglês, francês, alemão, espanhol, italiano, grego, latim, holandês, esperanto, polonês,
ucraniano, russo, japonês, coreano, chinês, português para estrangeiros, hebraico, árabe, guarani,
entre outras disciplinas relacionadas a idiomas por meio dos cooperados com habilitação técnica da
Contratada para atender às demandas institucionais e administrativas apresentadas pelo Centro de
Línguas e Interculturalidade – Celin da Universidade Federal do Paraná.
b) A quantidade total prevista: 84.000 horas-aula anuais, ao custo unitário variando de R$
50,00 a R$ 57,00 por hora-aula, a depender da qualificação do professor. O valor total é de R$
4.016.880,00.
c) Critérios
152. Os princípios da extensão universitária contidos no art. 1º, §1º, I a III da Resolução
72/2011, do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPR, preveem, em linha geral e comum,
a participação acadêmica nas atividades de extensão universitária. Razoável que não sendo a
universidade uma empresa, a prestação de serviços fornecida à comunidade esteja contemplada em
projetos acadêmicos e envolva a participação de docentes, alunos, bolsistas etc. A terceirização
dessa atividade para uma cooperativa desnatura o objeto da extensão. Em muitos casos, nem os
professores, nem os alunos possuem vínculo com a UFPR, sendo esta mera patrocinadora financeira
da ação.
28
153. De acordo com o art. 207 da Constituição Federal, de 1988, as universidades devem
obedecer ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Na mesma linha, os
seguintes normativos da UFPR enfatizam que as atividades de extensão estão no centro da missão
da universitária:
Estatuto da UFPR
Art. 41. A Universidade ministrará cursos de: (...) IV – extensão;
Art. 54. Por meio de atividades de extensão, a Universidade contribuirá para o
desenvolvimento material e espiritual da comunidade.
Art. 56. A Universidade consignará obrigatoriamente em seu orçamento recursos destinados
às atividades de extensão, sem prejuízo dos que venha a obter de outras fontes.
Disponível em: http://www.soc.ufpr.br/wp-content/uploads/2017/08/Estatuto-da-UFPR-
180817.pdf, acesso em 19/9/2017.
Regimento da UFPR
Art. 43. A Universidade manterá as seguintes modalidades de cursos:
IV- de extensão e outros de interesse local ou regional, abertos a candidatos que satisfaçam os
requisitos exigidos neste Regimento Geral.
Disponível em: http://www.soc.ufpr.br/wp-content/uploads/2016/08/Regimento_Geral_da_
UFPR.pdf, acesso em 19/9/2017.
154. Não por outra razão o art. 160, §2º, do Regimento Interno da UFPR inclui nas horas de
trabalho dos docentes as atividades de pesquisa e extensão. Nesse sentido, verifica-se que a
contratação da Ceilin constitui terceirização indevida de atividade finalística da instituição, em
confronto com os artigos 1º e 2º do Decreto 2.271, de 1997.
155. A terceirização de atividades finalísticas constitui burla ao art. 1º, § 2º, do Decreto
2.271/1997 e ao art. 9º, incisos I, II e III, da Instrução Normativa SLTI/MPOG 2/2008, vigente à
época. A jurisprudência do TCU corrobora tal entendimento:
Acórdão 2515/2017-Primeira Câmara - Relator: Augusto Sherman
É vedado aos conselhos de fiscalização profissional terceirizar as atividades que integram suas
atribuições finalísticas, abrangidas pelo plano de cargos e salários, podendo ser objeto de execução
indireta apenas as atividades materiais acessórias, instrumentais e complementares aos assuntos que
constituem sua área de competência legal.
Acórdão TCU 576/2012 – Plenário – Relator Raimundo Carreiro:
Considerando o risco de os cofres públicos arcarem com possíveis indenizações trabalhistas
decorrentes de terceirizações indevidas, julgo necessário que este Tribunal expeça alerta ao Mpog
visando a que aquele órgão possa orientar os gestores no sentido de que a terceirização de serviços
que envolvam a contratação de profissionais existentes no Plano de Cargos e Salários do
órgão/entidade contraria o art. 37, II, da Constituição Federal e, ainda, pode implicar futuros
prejuízos ao Erário, decorrentes do possível acolhimento pela Justiça do Trabalho de pleitos dos
terceirizados, garantindo-lhes o direito ao recebimento das mesmas verbas trabalhistas legais e
normativas asseguradas àqueles contratados pelo tomador dos serviços. Entendo que, doravante, as
novas contratações dessa natureza não devam ser consideradas de boa-fé.
Acórdão 2.303/2012 – TCU – Plenário – Relator Augusto Nardes, dispôs: A terceirização de
atividades finalísticas e/ou de funções contempladas nos planos de cargos das empresas estatais
concessionárias de serviço público configura ato ilegítimo (...)
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160. A Tabela 4, contendo a relação dos cooperados que possuem algum tipo de vínculo com
a UFPR está no Apêndice 1.
30
31
168. A UFPR deve executar esta atividade com seus próprios meios ou com o auxílio de sua
fundação de apoio. Segundo a Lei 8.958/1994, que regulamenta as relações entre as instituições
federais de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica e as fundações de apoio:
Art. 1º As Instituições Federais de Ensino Superior - IFES e as demais Instituições Científicas
e Tecnológicas - ICTs, de que trata a Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, poderão celebrar
convênios e contratos, nos termos do inciso XIII do caput do art. 24 da Lei no 8.666, de 21 de junho
de 1993, por prazo determinado, com fundações instituídas com a finalidade de apoiar projetos de
ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à
inovação, inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à execução desses projetos
[grifo nosso].
169. A UFPR afirmou em seus comentários que estaria preparando o procedimento licitatório
para a contratação de serviços de ensino de línguas, porém esta medida não corrige a irregularidade
identificada, tendo em vista que o serviço que constitui atividade-fim continuará a ser terceirizado.
i) Proposta de encaminhamento
170. Determinar à UFPR que, com fulcro no art. 250, inc. II c/c 251, caput do Regimento
Interno do TCU, e com fundamento no art. 207 da Constituição Federal de 1988, no prazo de 60
dias, apresente plano de ação com as medidas a serem implementadas com o objetivo de encerrar a
contratação de terceiros para a prestação de serviço de ensino de línguas, que constituem atividade
de extensão universitária, uma atividade precípua da Universidade, de forma a assumir a execução
de tais serviços com seus próprios meios ou com o auxílio de sua fundação de apoio.
2.5. Utilização irregular da inexigibilidade de licitação junto ao Ceilin
a) Situação Encontrada
171. A UFPR celebrou o Contrato 65/2016 com a Ceilin por inexigibilidade de licitação sem
comprovar a inviabilidade de competição e sem evidenciar a natureza singular dos serviços e a
notória especialização da contratada.
172. Na justificativa para a contratação (peça 26, p. 2), consta apresentação do Celin/UFPR
como sendo um programa de extensão da universidade, que oferece cursos às comunidades interna
e externa, e tem por propósito estabelecer relação entre a universidade e a sociedade para uma
atuação transformadora. Diante de tal propósito, informa-se que o Celin atua em dois eixos: a)
formação inicial e continuada de profissionais na área de ensino-aprendizagem de línguas
estrangeiras; e b) oferta de cursos de línguas para a comunidade interna e externa da UFPR.
173. Argumenta-se que para o atendimento do eixo “b”, a Ceilin consta como única opção,
que “abriga instrutores dos mais diversos idiomas, proficientes em línguas e que já passaram pelo
curso de formação do Celin”; que a cooperativa já atua com a Universidade há bastante tempo, o
que teria propiciado uma sistemática de ensino que permite à UFPR oferecer tanto a seus alunos
quanto à comunidade os serviços de expansão cultural linguística, especialmente nos idiomas mais
restritos em termos de oferta de instrutores.
174. Diz-se que a busca por outras entidades prestadoras desses serviços não é possível
porque no mercado não haveria empresas capacitadas em todos os idiomas ofertados pelo Celin;
que sem tais instrutores, as atividades desenvolvidas em prol da pesquisa e da extensão, tais como a
produção de livros e de material didático, ficariam extremamente prejudicadas. Defende-se ainda
que a contratação possibilita o desenvolvimento de uma metodologia de ensino diferenciada da
existente no mercado convencional de ensino de línguas estrangeiras, e que foi desenvolvida em
conjunto com a UFPR. Nesse sentido, a opção pela contratação de diversas instituições implicaria
grave alteração da metodologia, já que não seria possível integrá-las, o que ensejaria grave risco
de perda do patrimônio cultural e metodológico do Ceilin.
32
175. Em que pese os argumentos expostos na justificativa para a contratação direta, não foi
verificado o cumprimento dos seguintes requisitos: natureza singular do serviço e a notória
especialização do contratado.
176. Quanto ao primeiro requisito para a aplicação da inexigibilidade de licitação, a natureza
Singular do Serviço, verifica-se que ele não foi atendido. O objeto da contratação é a prestação de
serviços técnicos de educação e instrução em idiomas. A argumentação pela singularidade está
centrada em dois aspectos: 1) metodologia própria e única da Ceilin; e 2) outras escolas não
conseguem congregar todos os idiomas que a Ceilin oferece.
177. Com relação ao primeiro aspecto, não foi identificada a metodologia específica utilizada
pela Ceilin e de que forma ela se diferencia das oferecidas pelas demais escolas, vale dizer, quais os
ganhos em termos de aprendizagem justificam a excepcionalização da regra da licitação. Admite-se
que determinados tipos de produtos fornecidos pela maioria das escolas possam não atender às
necessidades da Ceilin, porém isso não significa que as empresas não poderiam customizá-los ou
apresentar outros produtos, respeitando às especificações da UFPR.
178. Ademais, sendo a metodologia um diferencial estratégico para a consecução dos fins do
programa de extensão em questão, ela deveria ser detida pela própria Universidade e não delegada
ao particular contratado. Mantido o entendimento esposado na justificativa da contratação no
sentido de que a metodologia é única e que a alteração da empresa colocaria em risco o patrimônio
cultural e metodológico do Celin, chega-se à conclusão de que a entidade deverá ser contratada
indefinidamente, pois, mesmo que apareçam concorrentes, sempre será utilizada a justificativa da
“manutenção da metodologia”. Ademais, por tal argumento denota-se a temerária alocação da
estratégia do programa de extensão da universidade no parceiro privado.
179. Dos fatos apresentados, entende-se que uma vez determinada a metodologia de ensino a
ser praticada por qualquer entidade que venha a ser contratada pelo Celin, e isso devidamente
especificado em processo de contratação, qualquer empresa do ramo pode se habilitar ao certame
licitatório. Ao contrário, a alocação da metodologia no particular, para a manutenção do
atrelamento contínuo a ele, constitui restrição injustificada do caráter competitivo da contratação.
180. Ademais, a dinâmica de trabalho das cooperativas, como a Ceilin, inclui autonomia dos
cooperados e a vedação de seu uso para a intermediação de mão de obra subordinada (Arts. 2º e 5º
da Lei 12.690, de 19 de julho de 2012). Neste contexto, é difícil conceber de que forma a cooperativa
garante que todos os cooperados atuem seguindo a mesma propalada metodologia de ensino de
idiomas. E, ademais, se qualquer cooperado, a partir do momento em que se filia à cooperativa,
consegue se preparar para trabalhar na metodologia da UFPR, outras empresas também
conseguiriam.
181. Não se pode dizer que Curitiba-PR seja uma cidade de mercado reduzido, pelo contrário,
em simples consultas pela internet identifica-se dezenas de escolas de inglês e espanhol, além de
representantes dos renomados: Instituto Goethe (alemão), Alliance Francaise (francês), Associação
Cultural Nipo-Brasileira (japonês), e ainda as escolas Centroasia (mandarim e japonês), Escola
Brasileira Árabe de Curitiba (árabe) etc. Adequado processo de planejamento da contratação
poderia avaliar quais dessas escolas estariam dispostas e aptas a prestar serviços para a
Administração de acordo com a metodologia exigida. Não se está a afirmar que existam escolas para
todos os idiomas contratados da Ceilin, isso será objeto do próximo tópico. Aqui apenas se cogita
do amplo mercado fornecedor de Curitiba que sequer foi consultado.
182. Com relação ao segundo aspecto das justificativas: de que não haveria escolas aptas em
todos os idiomas exigidos, entende-se que tal situação foi gerada pelo próprio agrupamento
excessivo em lote único de todos os itens contratados. É bastante razoável intuir que quando se exige
em uma contratação que a mesma empresa possua professores de áreas de conhecimento tão
33
díspares, como esperanto, coreano, hebraico, holandês e russo, por exemplo, o universo de possíveis
concorrentes se restringe muito.
183. Por outro lado, se fosse constituído um lote com os cursos em que há oferta suficiente no
mercado, como inglês, espanhol, francês e alemão, por exemplo, coincidentemente os de provável
maior procura e materialidade envolvida, poderia ser realizado um processo licitatório para
abranger a grande maioria, e as especificidades tratadas de maneira particular em eventuais
contratações diretas. Em outras palavras, a limitação de instrutores de esperanto e hebraico não
justifica a inexigibilidade para contratação de inglês e espanhol. Esse é o propósito da Súmula n.
247 do TCU. Assim, tal impedimento não prospera, vez que gerado pela própria restrição indevida
imposta pela UFPR.
184. Quanto ao segundo requisito, relativo à notória especialização da contratada, foram
apresentados apenas currículos plataforma lattes dos coordenadores de áreas de cursos (peça 27, p.
64-146 e peça 28, p. 1-122). Considerando que os serviços serão diretamente prestados pelos
professores e instrutores, em sistema de cooperativa, eles também deveriam comprovar a alegada
expertise diferenciada.
185. O mero apostilamento de currículos de pessoas que estarão apenas indiretamente
relacionadas aos serviços prestados (coordenadores), sem qualquer prova concreta da notória
experiência dos prestadores diretos dos serviços, não permite inferir que o trabalho da Ceilin é
“essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato”, conforme
§1º do art. 25 da Lei 8.666/1993.
b) Objetos nos quais o achado foi encontrado
186. Contrato 65/2016 (peça 29, p. 24-32), celebrado com a Cooperativa de Educadores e
Instrutores de Línguas de Curitiba (Ceilin), contendo as seguintes especificações:
a) Objeto: serviços técnicos nas áreas de educação e instrução de línguas estrangeiras
como o inglês, francês, alemão, espanhol, italiano, grego, latim, holandês, esperanto, polonês,
ucraniano, russo, japonês, coreano, chinês, português para estrangeiros, hebraico, árabe, guarani,
entre outras disciplinas relacionadas a idiomas por meio dos cooperados com habilitação técnica da
Contratada para atender às demandas institucionais e administrativas apresentadas pelo Centro de
Línguas e Interculturalidade – Celin da Universidade Federal do Paraná.
b) A quantidade total prevista: 84.000 horas-aula anuais, ao custo unitário variando de R$
50,00 a R$ 57,00 por hora-aula, a depender da qualificação do professor. O valor total é de R$
4.016.880,00.
c) Critérios
187. Segundo a Lei 8.666/1993:
Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial:
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza
singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para
serviços de publicidade e divulgação;
188. O parágrafo 1º do art. 25 conceitua notória especialização:
§1ºconsidera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujo conceito no campo
de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publicações,
organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados com suas
atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à
plena satisfação do objeto do contrato.
34
35
Posteriormente foram trazidos apenas os valores de dois contratos firmados pela Ceilin com outros
clientes (peça 29, p. 2-10)
e) Causas
198. A principal causa do achado foi a conduta dos agentes públicos, que delegaram a
terceiros uma atividade finalística da UFPR e ainda utilizaram a inexigibilidade de licitação, quando
era cabível o emprego do procedimento licitatório, o que poderia resultar em uma proposta mais
vantajosa para a Administração Pública.
f) Efeitos
199. Entre os efeitos do achado podem ser citados o direcionamento da contratação para
grupos com vínculo ou relação pessoal com os agentes públicos, além de uma possível proposta
menos vantajosa para a Universidade, em vista da ausência de competição no certame.
g) Comentários dos gestores
200. A UFPR não apresenta comentários acerca do achado relativo à utilização irregular da
inexigibilidade de licitação junto ao Ceilin.
h) Conclusão da equipe de auditoria
201. Não preenchidos os requisitos para o afastamento da regra da licitação, reputa-se
ilegítima a contratação direta em questão, eis que, além de descumprir o art. 25, caput, inciso II e
§1º e o art. 3º, caput da Lei 8.666, de 1993, constitui afronta aos princípios da isonomia, da
impessoalidade e da eficiência na administração pública.
202. Diante dos fatos expostos considera-se ilegítima a contratação da Ceilin por meio de
inexigibilidade de licitação. Observou-se restrição à competitividade, caracterizada pela utilização
de lote único para itens de natureza bastante diversas. Para além, a quantidade de vínculos dos
cooperados com atividades anteriores ou em curso na UFPR fornece indícios de direcionamento da
contratação, o que viola os princípios da isonomia e da impessoalidade.
i) Proposta de encaminhamento
203. Tendo em vista que é irregular a própria contratação de entidade privada para prestação
de serviço de ensino de línguas, que constitui atividade de extensão, precípua da universidade,
entende-se que a proposta de encaminhamento contida na seção do achado anterior também é
aplicável neste achado.
2.6. Dispensas de licitação emergenciais ilegítimas
a) Situação Encontrada
204. O escopo desta fiscalização consistiu nas contratações diretas, dispensas de licitação e
inexigibilidades, realizadas pela UFPR. Dado o volume de dispensas emergenciais (inciso IV) para
a contratação de serviços terceirizados, considerou-se adequado incluir também este grupo
processos de contratação na amostra da auditoria. Não por haver indícios de fraudes, mas pela
grande quantidade de emergenciais ocorridas num curto espaço de tempo (entre 2015 e 2017, mas
principalmente em 2016), para a contratação de serviços contínuos, cuja necessidade é em princípio
previsível.
205. Foram identificados dezessete processos de dispensa de licitação emergenciais (art. 24,
IV da Lei 8.666, de 1993) para contratação dos serviços terceirizados de limpeza, manutenção
predial, mão de obra para o restaurante universitário, recepcionistas e vigias, mão de obra para a
Fazenda Experimental da UFPR (Fazenda Canguiri), motoristas e mão de obra para a imprensa
universitária, entre os exercícios de 2015 e 2017, conforme a Tabela 2.
36
206. A título de esclarecimento, cabe informar que os apontamentos trazidos neste achado têm
por base conclusões extraídas a partir do conjunto das dispensas analisadas. Pretende-se, a partir
do conjunto, pela repetição e semelhança das contratações diretas, demonstrar irregularidade
generalizada nas contratações de serviços da UFPR. Vale também sinalizar que na auditoria não
foram verificados indícios de favorecimento a empresas ou fraudes nas contratações emergenciais
analisadas.
207. Observou-se que estas dispensas emergenciais foram realizadas devido à falta de
planejamento da Universidade. Elas não foram casos isolados, mas amplamente reiteradas nos
exercícios de 2015 a 2017. Na grande maioria dos casos as justificativas foram genéricas e não
apontaram concretamente os riscos e prejuízos iminentes a serem evitados com as emergenciais
208. Além disso, administração não contratou emergencialmente apenas os “bens necessários
ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa”. Nas dispensas analisadas apenas se
reproduziram os quantitativos e especificações de contratos regulares, como se a integralidade dos
respectivos objetos fosse imprescindível para evitar o “prejuízo ou comprometer a segurança de
pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares”.
209. Aliás, à contratação direta não foi conjugada ação efetiva da Administração com vistas
à retomada do quadro de normalidade. Ao contrário, a UFPR descumpriu dispositivo que impõe o
prazo máximo de 180 dias e que veda a prorrogação de contratações emergenciais. Considerando
que todos os serviços contratados são contínuos, e que não se trata da construção de um objeto
específico, cujo prazo de execução precise ultrapassar os 180 dias; verificando também que não
houve fatos novos a justificar a renovação das emergências; reputam-se irregulares todas as
prorrogações e reiterações das emergenciais realizadas.
210. Verifica-se o potencial desperdício de recursos decorrente da perda de economicidade,
tendo em vista a não realização de processo licitatório capaz de selecionar a proposta mais
vantajosa. Consideram-se irregulares as contratações realizadas e manifestamente contrárias ao
interesse público primário.
b) Objetos nos quais o achado foi encontrado
211. Entre 2015 e 2017, a UFPR realizou 17 dispensas de licitação justificadas pelo inciso IV
do art. 24 da Lei 8.666/1993:
Tabela 2: Relação de Contratações Emergenciais de Serviços Terceirizados - UFPR
Valor Inicial
Contrato Processo Vigência Mensal Aprox. Motivo alegado para a Dispensa
(R$)
Limpeza
Manutenção Predial
37
38
prejuízo. Todavia, não é qualquer prejuízo que pode autorizar a dispensa de licitação. Do contrário,
todas as aquisições poderiam em certo momento ser objeto de dispensa de licitação. A autorização
concedida pela Lei para excepcionalizar a regra da licitação deve ser usufruída com
proporcionalidade. Nesse sentido, Marçal Justen Filho:
A expressão prejuízo deve ser interpretada com cautela, por comportar significações muito
amplas. Não é qualquer prejuízo que autoriza dispensa de licitação. O prejuízo deverá ser
irreparável. Cabe comprovar se a contratação imediata evitará prejuízos que não possam ser
recompostos posteriormente. O comprometimento à segurança significa o risco de destruição ou de
sequelas à integridade física ou mental de pessoas ou, quanto a bens, o risco de seu perecimento ou
deterioração. (Em Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 17ª Edição, 2016,
Revista dos Tribunais, p. 477)
217. Quanto à prorrogação de contratos emergenciais sem que existissem fatos novos a
justificá-las, o TCU já decidiu:
Acórdão 4570/2014-Primeira Câmara - Relator: José Múcio Monteiro
A contratação emergencial destina-se somente a contornar acontecimentos efetivamente
imprevistos, que se situam fora da esfera de controle do administrador e, mesmo assim, tem sua
duração limitada a 180 dias, não passíveis de prorrogação (art. 24, inciso IV, da Lei 8.666/1993).
d) Evidências
218. Na última coluna da direita da Tabela 2, constam, em linhas gerais, os argumentos
utilizados para as emergenciais. Dos dezessete processos listados, foram analisados detalhadamente
dez, e as respectivas justificativas foram:
a) Em seis processos a justificativa básica foi no sentido de que o “Processo licitatório não
estaria pronto tempestivamente” – Contratos 19/2016, 89/2016 (Limpeza); 81/2016 (Manutenção
Predial), 37/2016 (Restaurante Universitário), 18/2016 (Terceirizados para a Fazenda Canguiri),
21/2016 (Mão de Obra para Imprensa Universitária);
b) Em dois essa motivação básica esteve aliada a um fato mais preciso, porém previsível e
remediável - Contratos 03/2016 (Restaurante Universitário) – Justificativa: Há três meses do fim da
vigência do contrato anterior (Contrato 3/2015) a empresa informou que não tinha interesse na
prorrogação; e 72/2016 (Motoristas) – Justificativa: A empresa contratada na primeira emergencial
(Contrato 35/2016 não possuía interesse na prorrogação) e o processo licitatório não estaria pronto
tempestivamente.
c) Apenas em dois casos as justificativas efetivamente incluem acontecimentos imprevistos:
Contratos 63/2016 (Restaurante Universitário) – Justificativa: Mandado de Segurança impediu o
início de contrato via licitação; e 39/2016 – Justificativa: Acordo com o Ministério Público do
Trabalho antecipou em cerca de um mês o final da vigência do Contrato 50/2015.
219. Ou seja, dos dez processos analisados apenas dois (20%) aparentam ter se destinado ao
contorno de acontecimentos efetivamente imprevistos. E não há informações nos autos indicando que
na relação de processos não analisados as motivações tenham sido distintas.
220. Na maioria dos casos, como visto, a justificativa foi no sentido de que o processo
licitatório não estaria pronto tempestivamente.
221. Entretanto, no caso dos serviços de limpeza, por exemplo, antes de realizar a primeira
emergencial, a UFPR permaneceu no mesmo contrato por mais de sessenta meses, tempo em que
poderia ter preparado a nova contratação. Ainda, segundo relatos contidos na solicitação da
emergencial (de 29/3/2016), o projeto básico para a nova licitação havia sido iniciado em meados
40
de julho de 2015, mas não permitiria a contratação via licitação em tempo hábil, antes do
encerramento da vigência do Contrato 226/2010, 15/6/2016.
222. Observam-se dois problemas graves na mesma ocorrência: a) apenas no ano em que se
encerraria a última prorrogação possível do Contrato 226/2010, em 2015, é que a UFPR iniciou o
projeto básico para a nova contratação; e b) iniciando o projeto básico em julho de 2015, a UFPR
não conseguiu finalizar a contratação a tempo de ter o contrato assinado e vigente em 15/6/2016.
Ou seja, onze meses não foram suficientes para o planejamento da contratação. Agravante, a UFPR
não só prorrogou como reiterou emergencial para a contratação dos serviços de limpeza,
permanecendo no quadro de anormalidade até 11/6/2017, de modo que o prazo total de vigência das
emergenciais foi de quase um ano. A destacar que antes disso a UFPR já havia utilizado a
prorrogação excepcional prevista no art. 57, §4º da Lei 8.666/1993. Isto é, regularmente deveria ter
produzido um contrato oriundo de licitação para viger a partir de 30/10/2015, mas só conseguiu em
12/6/2017, com cerca de vinte meses de atraso.
223. Com relação aos serviços de manutenção predial, a situação é ainda mais grave. O
último contrato assinado em decorrência de licitação foi o Contrato 232/2010 (encerrado em
4/11/2016). Da mesma forma que no caso da limpeza, a UFPR já fez uso das prorrogações
excepcionais por doze meses (art. 57, §4º da Lei 8.666/1993), e, mesmo assim, entrou na primeira
emergencial em 23/11/2016 - Contrato 81/2016, o qual foi prorrogado até 21/5/2017. Posteriormente
realizou a segunda emergencial, que vigeu de 26/5/2017 a 23/8/2017. No momento da execução
auditoria, o processo de licitação estava na fase externa (Pregão 001/2017 – Processo 161928/2016-
78). Outra vez, entre o fim de vigência regular do Contrato 232/2010, 4/11/2015, e a data de início
do contrato oriundo dessa nova licitação, (a ocorrer provavelmente em outubro de 2017), há um
intervalo de quase dois anos.
224. No caso da contratação de mão de obra para o Restaurante Universitário, anteriormente
à primeira emergencial estava em vigor o Contrato 3/2015, de 2/2/2015 a 1/2/2016. Todavia, ao ser
consultada sobre o interesse na prorrogação, em 27/10/2015, a empresa declinou. Nesse sentido, a
UFPR considerou que o período entre a referida data e o final da vigência do Contrato 3/2015
(1/2/2016) não seria suficiente para realizar novo processo licitatório. A mencionar que segundo o
Calendário Acadêmico de 2016 da UFPR, as aulas de graduação iniciaram apenas em 29/2/2016
(cf. Resolução Cepe/UFPR 49/2015), de modo que a indispensabilidade dos serviços do Restaurante
Universitário pode ser considerada a partir de tal data.
225. A contratação direta foi realizada em 3/2/2016 (Contrato 3/2016), posteriormente
prorrogada e renovada. De modo que a situação de anormalidade permaneceu até 30/9/2016 (data
de encerramento da vigência do Contrato 37/2016). E conforme noticiado no histórico de tramitação
contido na peça 16, p. 51-55, o processo de licitação destinado à contratação de mão de obra foi
autuado em 19/10/2015 pelo Restaurante Universitário. E em 22/7/2016, passados, portanto, nove
meses da autuação, o processo ainda não havia sido concluído. Apontou-se como principal gargalo
a fase de planejamento da contratação, já que haviam transcorrido seis meses desde a abertura do
processo até a sua entrada na Comissão de Licitação.
226. Os serviços de recepcionista e de vigia foram prestados em contratações emergenciais
por mais de um ano, de 1º/8/2016 a 21/8/2017.
227. Os serviços de locação de mão de obra para a Fazenda Canguiri estiveram sob
emergencial de 18/6/2015 a 9/12/2016, cerca de 18 meses, embora o diretor tenha relatado que o
processo para a realização de licitação fora aberto em 14/8/2015, cf. Apêndice 2.
228. Os serviços de motoristas foram contratados via dispensa emergencial de 1/8/2016 a
27/4/2017. E a mão de obra para a Imprensa Universitária de 27/6/2016 a 3/4/2017, ambos por
aproximadamente nove meses.
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ordem de R$ 500 mil mensais. Considerando-se que as emergenciais vigeram em média por um ano,
tem-se um desperdício potencial aproximado de R$ 6 milhões, cf. Tabela 5 no Apêndice 3.
237. A análise foi realizada por meio da comparação dos valores praticados nos contratos
anteriores, oriundos de processos licitatórios, com os praticados nas dispensas emergenciais.
Tomou-se o cuidado de garantir que as datas bases dos contratos comparados fossem as mesmas.
Algumas adaptações foram realizadas tendo em vista que as contratações não eram necessariamente
iguais. Elas estão destacadas nos rodapés das planilhas apresentadas no Apêndice 3. Ressalva-se
também que a metodologia é simplificada e não teve por objetivo apurar sobrepreço e
superfaturamento, mas apenas demonstrar um dos graves efeitos das contratações emergenciais.
g) Responsabilidade
238. A gravidade das irregularidades avistadas é extraída do conjunto das ocorrências
durante sobretudo o exercício de 2016. Cada um dos processos de dispensa tem histórico próprio, e
motivação específica. Uns podem ter sido gerados por demora na elaboração do Termo de
Referência, outros porque o Documento de Oficialização da Demanda (ou similar) chegou muito
tarde, outros porque continham erros e precisaram ser retrabalhados, enfim, cada caso concreto tem
o seu fator determinante para o atraso, o qual, episodicamente, poderia ser um motivo justo para a
dispensa.
239. Contudo, a análise global da situação demonstra que as emergências foram nutridas pela
própria falta de gestão e governança nas contratações. Se dentro de um mesmo período, contratações
das mais diversas naturezas, como, por exemplo, manutenção predial, motoristas, limpeza, mão de
obra para o RU; sofrem do mesmo mal – a não conclusão do processo de contratação em tempo
hábil para licitar – é inverossímil que a causa esteja nas especificidades dos processos. Trata-se,
com maior potencial, de uma falha de gestão generalizada, com impactos em todas as contratações.
240. Todas elas estiveram sob a gestão da Pró Reitoria de Administração (PRA), a quem cabe
planejar, coordenar, orientar, supervisionar e dirigir as atividades de serviços terceirizados e de
licitações e contratos, nos termos da Resolução 15/91-CA/UFPR.
241. É de responsabilidade do Pró-Reitor velar para que as atividades realizadas dentro de
sua área ocorram em obediência aos princípios da administração pública, com destaque à
legalidade. Ao tolerar inúmeros processos de dispensa emergenciais sem qualquer acontecimento
excepcional justificando a urgência, e não adotar qualquer medida com vistas a coibir novos casos
e apurar as responsabilidades, o gestor atuou de forma negligente nas suas funções de planejamento,
coordenação, orientação, supervisão e direção da Pró-Reitoria de Administração (PRA).
242. Conquanto em algumas contratações, os setores demandantes sejam externos à PRA,
como nos casos da Fazenda Canguiri, Restaurante Universitário (RU), Suinfra (antiga Prefeitura
Universitária), e se possa a tais setores querer atribuir as responsabilidades pelas respectivas
dispensas, tal não deve prosperar. É verdade que em muitos casos a demora desses setores em adotar
as providências de suas alçadas acaba contribuindo para situações como a em debate.
243. Tomando por exemplo o processo de contratação de mão de obra para o RU. O setor
demandante (RU), que confecciona o Termo de Referência, não pertence à PRA. Assim, poder-se-ia
cogitar que o efetivo responsável pelas dispensas emergenciais foi o RU, ou, pelo menos, que a
responsabilidade deveria ser melhor apurada, para fins de eventual compartilhamento entre a PRA
e o RU.
244. Tal se faria se se estivesse a perquirir a responsabilidade pelo vício em um processo
específico. Porém, como várias vezes mencionado neste achado, a responsabilidade atribuída à PRA
é relativa à sua falha em planejar, coordenar, orientar, supervisionar e dirigir as atividades de
serviços terceirizados e de licitações e contratos, nos termos da Resolução 15/91-CA/UFPR. Caberia
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à PRA dispor sobre a responsabilidade por cada ato nos processos de contratação e sobre os
respectivos prazos. A inexistência de fluxos padronizados, prazos determinados, controles, clara e
correta alocação de responsabilidades, torna a Administração muito vulnerável a ocorrências como
as descritas.
245. Nesse sentido, compreende-se que as falhas foram originadas na PRA, unidade criada
especificamente na estrutura da UFPR para gerir as licitações e contratos, pela qual todos os
processos de dispensa analisados passaram. A isso aliada a gravidade da irregularidade em ocasião,
justifica-se a atuação punitiva desta Corte. Assim, será proposta a realização de audiência do gestor
da referida pró reitoria no exercício de 2016, ano de ocorrência da grande maioria das dispensas.
246. Em consulta ao Relatório de Gestão da UFPR referente ao exercício de 2016, verifica-
se que o responsável pela PRA no período entre 1º/1/2016 e 31/12/2016 foi o Sr. Edelvino Razzolini
Filho (Designação: 16/3/2015 – Portaria 1613). Deste modo, deve o referido responsável ser
chamado em audiência.
h) Comentários dos Gestores
247. A UFPR argumenta de maneira geral que os atrasos de repasse realizados pelo
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MPDG), ao longo dos exercícios de 2015 e
2016 teriam descapitalizado muitos prestadores e levado os contratos ao fracasso. Assim, para que
os serviços não fossem interrompidos, lançou-se mão das emergenciais.
248. Aduz também que, de forma geral, todos os serviços em referência, contratados
emergencialmente, são essenciais, e, portanto, imprescindíveis para a manutenção do funcionamento
da Universidade.
249. Especificamente em relação aos serviços de Manutenção Predial, esclareceu que parcela
dos motivos para os atrasos no planejamento, e, consequentemente, para a emergencial, deve-se às
exigências formuladas pelo TCU no Acórdão 2.345/2016-TCU-Plenário e às tentativas de inovação
decorrentes.
250. A UFPR contesta o apontamento contido no relatório de que as emergenciais teriam
representado desperdício de recursos com valores pagos a maior. Entretanto, não apresentam dados
para contraditar os valores assinalados no Relatório Preliminar de Auditoria (Apêndice 3: Análise
Perda de Economicidade nas Dispensas Emergenciais).
251. Alega ainda haver erro da auditoria, ao mencionar dezessete processos de dispensa
emergenciais nos exercícios de 2015 a 2017, considerando que apenas dez foram efetivamente
analisados pela equipe de auditoria. E enfatiza que o processo de contratação é longo e que não
pode ser realizado em 90 dias, como teria sido apontado pela auditoria.
i) Conclusão da equipe de auditoria
252. Os comentários confirmam a ocorrência das irregularidades e as justificam em dois
motivos essenciais: atrasos no repasse do MPDG e essencialidade dos serviços. Com relação ao
primeiro ponto, não foi informado precisamente quais e quando os atrasos ocorreram, e quais os
respectivos impactos nos contratos em vigor, isto é, quais foram rescindidos intempestivamente em
razão da falta de pagamento.
253. Não parece razoável admitir tal fato como justificativa genérica para os problemas de
gestão observados. Ademais, os serviços de limpeza, manutenção predial e motoristas, antes das
emergenciais, foram prestados pelas mesmas respectivas empresas durante os 60 meses, fora as
prorrogações excepcionais por mais 12 meses, em alguns casos. (vide Apêndice 2: Histórico das
Dispensas Emergenciais). A permanência da mesma empresa em um contrato por 60 e/ou 72 meses
enfraquece a tese de que os atrasos estariam as afastando.
44
254. Além disso, o Contrato de Limpeza 19/2016 (Emergencial), inicialmente previsto para o
prazo de três meses, teve a sua vigência prorrogada, ficando ativo no interregno de 16/6/2016 a
12/12/2016, justamente no auge dos alegados atrasos de repasses. E, ainda, a empresa contratada
na Segunda Emergencial - Processo 23075.165020/2016-22, Orbenk Administração e Serviços Ltda.,
Contrato 86/2016, não só aceitou prorrogar a emergencial como também participou e sagrou-se
vencedora da licitação seguinte, vindo a firmar o Contrato 29/2017 com a UFPR. Assim, o
argumento de que os atrasos nos repasses repeliram as empresas não parece de todo válido. Na
mesma linha, a contratação emergencial de manutenção predial (Contrato 81/2016) também foi
prorrogada. Houvesse ali grande desinteresse da empresa em razão das retenções de pagamentos
esta não teria aceitado prorrogar o contrato.
255. Quanto à essencialidade dos serviços, segundo ponto, os argumentos trazidos
convalidam as constatações da auditoria, vez que insistem em defender de forma genérica que todos
os serviços eram necessários, sem, contudo, demonstrar detalhadamente os impactos da interrupção
em cada um deles.
256. Quanto à contestação do apontamento de prejuízos advindos das emergenciais, não
houve nenhuma contraprova técnica que demonstrasse erro nos cálculos ou similar. De todo modo,
como salientado no relatório, tratou-se de um cálculo aproximado, sem o objetivo de imputar débito
a quem quer que seja.
257. Por fim, com relação ao erro sugerido na menção a dezessete processos de dispensa
emergenciais nos exercícios de 2015 a 2017, sendo que apenas dez foram efetivamente analisados
pela equipe de auditoria; não se observa qualquer impropriedade no relatório. Com efeito foram
constatados dezessete processos de dispensas emergenciais. Por limitações de esforços foram
analisados detalhadamente apenas dez. Para fins de consolidação e demonstração do montante de
dispensas emergenciais realizados num período específico, não se observa qualquer limitação no
cômputo de todos os processos.
j) Proposta de Encaminhamento
258. Realizar a audiência do Sr. Edelvino Razzolini Filho (CPF 319.147.649-00), então Pró-
Reitor de Administração da UFPR, com fulcro no art. 43, II, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 157, caput,
250, inciso IV, do RI/TCU, para apresentar, no prazo de quinze dias, razões de justificativa acerca
das Dispensas de Licitação Emergenciais Ilegítimas realizadas no exercício de 2016 na UFPR
(achado 2.6. do Relatório de Auditoria), conforme matriz de responsabilização em anexo.
a) Dispositivos violados:
Art. 37, XXI da Constituição Federal de 1988; Art. 3º e 24, IV da Lei 8.666/1993; Princípios
da Legalidade, da Eficiência, da Transparência e da Economicidade; Resolução 15/91-CA/UFPR.
b) Conduta:
i. Não planejar, coordenar, orientar, supervisionar e dirigir as atividades de serviços
terceirizados e de licitações e contratos, nos termos da Resolução 15/91-CA/UFPR.
ii. Não institucionalizar fluxos e padrões para os processos de contratação realizados pela
PRA, em que fossem definidos modelos, prazos e responsáveis por cada ato, bem como as
responsabilidades pelos atrasos.
iii. Não adotar qualquer medida com vista à apuração de responsabilidade dos agentes
causadores das dispensas emergenciais.
c) Nexo de causalidade:
A não adoção das medidas relacionadas no item anterior “b - Conduta” contribuiu para a
formação de um ambiente de ausência de governança das aquisições, em que os setores e respectivos
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servidores não se comprometeram com padrões, fluxos e prazos, o que deu ensejo às inúmeras
dispensas emergenciais.
d) Culpabilidade:
Não é possível afirmar que houve boa-fé do responsável. Gestor de média diligência, chefe de
Pró Reitoria cuja incumbência específica é atuar em contratações administrativas, teria razoáveis
condições de aferir a irregularidade nas reiteradas dispensas emergenciais conduzidas no âmbito de
sua unidade.
Ademais, ciente das responsabilidades definidas para a PRA, na Resolução 15/91-CA/UFPR,
relacionadas à governança das licitações e contratos (planejar, coordenar, orientar, supervisionar
e dirigir as atividades de serviços terceirizados e de licitações e contratos), o gestor deveria ter
instituído padrões, fluxos, responsabilidades e prazos para que os processos de contratação não
ocorressem sem qualquer controle, para que as dispensas emergenciais fossem casos excepcionais,
e para que as responsabilidades dos causadores das emergenciais fossem apuradas. Nesse sentido,
é razoável afirmar que era exigível do responsável conduta diversa daquela que ele adotou,
consideradas as circunstâncias que o cercavam.
3. Achados Relacionados com o Ambiente Organizacional
259. Nesta seção, são analisados os achados relativos ao ambiente organizacional da UFPR,
no que se refere aos mecanismos de gestão de riscos que contribuam para a boa governança e a
gestão das aquisições públicas, a fim de evitar desperdício de recursos públicos e mitigar as
hipóteses de fraude e corrupção.
3.1. A Comissão de Ética não conta com representantes locais e o seu plano de trabalho não
é vinculado ao planejamento estratégico da instituição.
260. De acordo com informações prestadas pela Presidente da Comissão de Ética da UFPR,
(peça 10, 9.5, item 4), a Comissão de Ética da UFPR não conta com representantes locais para
contribuir nos trabalhos de educação e de comunicação. A universidade possui diversos campi e
setores espalhados não só em Curitiba, mas também em outros municípios do Paraná, como, por
exemplo, Matinhos, Paranaguá e Palotina, o que limita o desempenho da comissão se não houver
representantes locais.
261. Além disso, de acordo com a resposta fornecida pela Comissão de Ética da UFPR ao
questionário anual da Comissão de Ética Pública 2016-2017 (peça 6, p. 39-45), o plano de trabalho
daquela não está vinculado ao planejamento estratégico da UFPR. Tal vinculação é recomendada
pela Comissão de Ética Pública, para que os trabalhos da Comissão de Ética sejam
institucionalizados e apoiados pela instituição.
262. Nesse sentido, será proposta recomendação à UFPR para que, no sentido de aprimorar
os trabalhos da Comissão de Ética, designe representantes locais por setor ou campus ou ainda com
base em outra divisão administrativa que entender mais eficiente para potencializar as ações de
educação e comunicação. Além disso, em vista da orientação fornecida pela Comissão de Ética
Pública, será recomendado à UFPR que inclua em seu Planejamento Estratégico o Plano de
Trabalho da Comissão de Ética da UFPR.
3.2. A UFPR não implantou política de gestão de riscos e não designou comitê de governança
e gestão de riscos.
263. Segundo documento enviado pela Pró-Reitoria de Planejamento Orçamento e Finanças
(peça 32, p. 117-128), o que existe de concreto em relação à gestão de riscos na UFPR é o projeto
de criação da Coordenadoria de Governança e Riscos (CGR).
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272. Com relação à falha identificada na alínea “a” supra, considera-se que a
disponibilização de informações de forma fragmentada prejudica a transparência ativa, já que
dificulta o acesso ao cidadão. Ao clicar na opção “Licitações e Pregões / Sicaf” na tela inicial, o
operador tem a expectativa de que será direcionado para uma tela em que constem todas as licitações
da UFPR. Naturalmente as especificidades de cada licitação, como a própria modalidade licitatória
utilizada (concorrência, tomada de preços, pregão etc.) podem constituir agrupadores de organização
das informações divulgadas, de forma que o acesso vá se desdobrando em árvore. Mas o acesso inicial
deve permitir que se chegue a todas as opções por meio de um caminho lógico. E essa observação vale
para o acesso aos contratos também. Não há opção específica para acesso aos contratos na página
principal da UFPR, tampouco se consegue acessá-la em desdobramentos da opção “Licitações e
Pregões / Sicaf”.
273. A impropriedade assinalada na alínea “b” é ainda mais grave. Trata-se de completa
omissão das contratações realizadas por dispensa e inexigibilidade de licitação. Deve-se fazer a
ressalva de que no SigeA os contratos gerados a partir de contratações diretas são divulgados. Ficam
de fora da publicidade, entretanto, os respectivos processos de contratação e as compras que não
possuem instrumento contratual.
274. Quanto à falta relatada na alínea “c”, reputa-se fundamental para que o cidadão possa
compreender a integralidade do processo de contratação pública, que haja integração nas consultas
dos processos de licitação e dos contratos. Ou seja, a partir da identificação e do acesso aos
documentos referentes a determinado contrato, o operador deve ter a opção de acessar também os
documentos relativos ao processo licitatório que deu origem àquele contrato, e vice-versa.
275. Nesse sentido, para o atendimento dos normativos supramencionados relativos à
obrigatoriedade dos órgãos e entidades públicos garantirem a transparência ativa das aquisições,
considera-se apropriado determinar à UFPR com fundamento no art. 7º, inciso V, do Decreto
7.724/2012 e no art. 8º, caput e incisos III, e IV da Lei 12.527/2011, no prazo de 60 dias, promova
as seguintes alterações na divulgação das contratações em seu site na internet:
a) Divulgue todas contratações realizadas pela UFPR, independentemente do setor
demandante (Superintendência de Infraestrutura (Suinfra), Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-
Graduação (PRPPG) etc.), inclusive as dispensas e inexigibilidades de licitação;
b) Garanta que a integralidade das contratações realizadas seja divulgada a partir de
opção inicial única na página principal da UFPR, e que as especificidades (modalidade de licitação,
setor demandante, fase do processo etc.) sejam tratadas em subgrupos, cujas consultas possam ser
realizadas em modelos de “árvore” a partir da opção inicial única;
c) Crie links para que a partir de consulta a determinado processo licitatório seja possível
acessar de forma direta o respectivo contrato no Sistema Integrado de Gestão de Acordos – SigeA,
e vice-versa, a partir de consulta do contrato no SigeA seja possível obter o edital e o resultado do
respectivo processo licitatório ou contratação direta, se for o caso.
3.4. A Auditoria Interna da UFPR não possuiu plano baseado em riscos para determinar as
prioridades da auditoria para os exercícios de 2016 e 2017.
276. De acordo com o extrato de entrevista realizada com os membros da Auditoria Interna
da UFPR (Audin), peça 10, p. 3, não houve levantamento completo dos riscos inerentes às atividades
de cada pró reitoria, devido à falta de conhecimento dos membros da Audin e de recursos. De modo
que o planejamento dos trabalhos da Audin em 2016 e 2017 não foi baseado em análise de riscos.
277. Em 12/6/2017 foi publicada a Instrução Normativa MT/CGU 3/2017, que aprova o
Referencial Técnico da Atividade de Auditoria Interna Governamental do Poder Executivo Federal.
De acordo com o art. 3º, ele entra em vigor em 180 dias a contar da data da publicação.
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iii. Crie links para que a partir de consulta a determinado processo licitatório seja possível
acessar de forma direta o respectivo contrato no Sistema Integrado de Gestão de Acordos – SigeA,
e vice-versa, a partir de consulta do contrato no SigeA seja possível obter o edital e o resultado do
respectivo processo licitatório ou contratação direta, se for o caso.
d) com fundamento no art. 17 da Instrução Normativa MPOG/CGU 1/2016, no prazo de 60
dias, apresente plano de ação com vistas à implementação da política de gestão de riscos, incluindo,
entre outros a criação do Comitê de Governança, Riscos e Controles.
e) com fundamento nos itens 83 a 92 da Instrução Normativa MT/CGU 3/2017, a
proposição de novas ações de fiscalização da Audin e a elaboração do Paint 2019 sejam baseadas
em análise de riscos dos processos da UFPR.
289.2. Recomendar à UFPR que, no sentido de aprimorar os trabalhos da Comissão de
Ética:
a) designe representantes locais por setor ou campus ou ainda com base em outra divisão
administrativa que entender mais eficiente para potencializar as ações de educação e comunicação.
Além disso, em vista da orientação fornecida pela Comissão de Ética Pública,
b) inclua em seu Planejamento Estratégico o Plano de Trabalho da Comissão de Ética da
UFPR.
289.3. Determinar à Secex-PR que instaure processo de representação com o objetivo
de avaliar o valor pago pela UFPR na aquisição do imóvel localizado na Rodovia João Leopoldo
Jacomel, 4015, bairro de Jardim Primavera, município de Piraquara, no estado do Paraná,
adquirido pela UFPR por meio do Contrato 36/2014, processo 23075.005461/2014-12, e a
identificação das responsabilidades pela subutilização do imóvel, pela dispensa irregular de
licitação e de possíveis danos ao Erário.
289.4. Requisitar à Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no
Paraná, com fulcro no art. 101 da Lei nº 8.443/92 c/c art. 297 do Regimento Interno, a prestação de
serviço técnico especializado de perícia para avaliação de valor pago na aquisição de imóvel
localizado na Rodovia João Leopoldo Jacomel, 4015, bairro de Jardim Primavera, município de
Piraquara, no estado do Paraná, adquirido pela UFPR por meio do Contrato 36/2014, processo
23075.005461/2014-12.
289.5. Determinar à Superintendência da Controladoria Regional da União no Paraná
que, ao realizar a análise do Paint 2019 da UFPR, nos termos do art. 6º da Instrução Normativa
CGU 24/2015, e da DN 163/2017 – TCU. Art. 13, § 1º, verifique se ele foi elaborado com base em
riscos, segundo os itens 83 a 92 da Instrução Normativa MT/CGU 3/2017, e se manifeste quanto ao
cumprimento da presente determinação nos Relatórios Anuais de Contas da UFPR.
289.6. Realizar a audiência do Sr. Edelvino Razzolini Filho (CPF 319.147.649-00),
então Pró-Reitor de Administração da UFPR, com fulcro no art. 43, II, da Lei 8.443/1992 c/c o art.
157, caput, 250, inciso IV, do RI/TCU, para apresentar, no prazo de quinze dias, razões de
justificativa acerca das Dispensas de Licitação Emergenciais Ilegítimas realizadas no exercício de
2016 na UFPR (achado 2.6. do Relatório de Auditoria), conforme matriz de responsabilização em
anexo.
a) Dispositivos violados:
Art. 37, XXI da Constituição Federal de 1988; Art. 3º e 24, IV da Lei 8.666/1993; Princípios
da Legalidade, da Eficiência, da Transparência e da Economicidade; Resolução 15/91-CA/UFPR.
b) Conduta:
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VOTO
Divirjo apenas do órgão sugerido pela equipe de fiscalização para realização do laudo de
avaliação. Considerando a expertise na área e julgados precedentes do Plenário desta Casa, como os
Acórdãos 742/2012, 399/2008, 453/2008 e 774/2007, considero pertinente solicitar serviços técnicos
especializados à Caixa Econômica Federal.
A caracterização dos cursos de idiomas realizados pela Cooperativa de Educadores e
Instrutores de Línguas de Curitiba (Ceilin) como atividades finalísticas de extensão da UFPR e,
portanto, não passíveis de terceirização, merece ser aprofundada.
Além de apontar irregularidades na inexigibilidade de licitação utilizada para contratação
da Cooperativa, a equipe de fiscalização afirmou que o ensino de línguas para o público interno e
externo à UFPR constitui atividade de extensão, que faz parte do rol de atividades finalísticas das
universidades.
Fundamentou tal conclusão em princípios gerais da extensão universitária, contidos em
resolução da própria entidade, segundo os quais deve haver participação acadêmica nas atividades de
extensão. Referiu-se, ainda, ao estatuto da UFPR, que estabelece o dever de a Universidade manter e
ministrar cursos de extensão e de os docentes terem incluídas em suas horas de trabalho atividades de
pesquisa e extensão.
Por sua vez, a UFPR, em comentários dos gestores, procurou elidir a contratação da Ceilin
mediante inexigibilidade de licitação. Dispensou, a partir de 2018, os cooperados com vínculos
empregatícios com a Universidade e propôs a realização de procedimento licitatório para outra
contratação com os mesmos objetivos.
A entidade não se pronunciou claramente sobre a natureza dos serviços prestados pela
cooperativa. Limitou-se a afirmar que o Centro de Línguas da Universidade, mediante seu corpo
docente, exerce atividades de extensão, como pesquisas, publicações, implementação de programas de
estágios e concessão de auxílios a alunos, defendendo que o ideal desenvolvimento dessas atribuições
finalísticas necessita dos serviços em sala de aula, prestados pelos instrutores da cooperativa
contratada.
Tanto a equipe de fiscalização quanto a Universidade não fundamentaram devidamente
seus posicionamentos sobre a caracterização dos cursos de idiomas como atividade finalística,
acessória, instrumental ou complementar.
Não há referências a normativos e orientações do Ministério da Educação e não foi
devidamente demonstrado o fato de os cursos ministrados pela Ceilin serem alheios ou inerentes às
atividades exercidas pelo corpo docente da UFPR.
Ainda não foram tratadas informações sobre o funcionamento dos cursos, como por
exemplo, as relacionadas ao pagamento das aulas pelos diversos tipos de alunos, a fim de verificar a
obtenção de receitas pela UFPR. Em consulta ao site do Centro de Línguas da UFPR, verifiquei que os
alunos externos devem pagar R$ 850,00 por cursos de 60 horas aula. Alunos, professores e servidores
estão sujeitos ao pagamento de R$ 640,00 pela mesma carga horária. Apenas 10% das vagas dos
cursos ofertados são gratuitas.
Dessa forma, entendo que a contratação da Ceilin pela UFPR, alcançando a legalidade da
inexigibilidade de licitação e a classificação das atividades contratadas como atividade fim ou
acessória, deve ser tratada em processo apartado a ser autuado pela Secex-PR, com auxílio, se
necessário, da SecexEducação.
Considerando o tratamento da questão em processo específico, indefiro pedido de ingresso
da Ceilin nos presentes autos e determino que a Secex-PR promova oitiva da Cooperativa no processo
a ser autuado, tendo em vista que decisão do Tribunal sobre a matéria pode afetar seu direito subjetivo.
3
Diante do exposto, voto por que o Tribunal acolha a minuta de acórdão que submeto à
deliberação deste Colegiado.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 5 de setembro de
2018.
1. Processo nº TC 020.867/2017-4.
2. Grupo I – Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Responsável: Ricardo Marcelo Fonseca (729.663.519-34).
4. Órgão/Entidade: Universidade Federal do Paraná.
5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Paraná (SECEX-PR).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos, que tratam de auditoria realizada na
Universidade Federal do Paraná (UFPR), no âmbito da fiscalização de orientação centralizada (FOC),
com o objetivo de verificar se as universidades e os institutos federais possuem mecanismos de gestão
de riscos que contribuam para a boa governança e gestão das aquisições, a fim de evitar desperdício de
recursos públicos e mitigar as hipóteses de erro, fraude e corrupção.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do
Plenário, ante as razões expostas pelo relator:
9.1. determinar, com fundamento no inciso I do artigo 43 da Lei 8.443/1992, à
Universidade Federal do Paraná (UFPR) que:
9.1.1. no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, apresente ao Tribunal as medidas adotadas,
acompanhadas dos elementos comprobatórios pertinentes, para verificar a regularidade das aquisições
junto às empresas Labmaster Comércio de Produtos Científicos Ltda. – EPP (01.974.431/0001-11) e
PH Científica Aparelhos Científicos Ltda. - EPP (CNPJ 05.287.391/0001-90), realizadas no período de
2007 a 2017, incluindo a avaliação dos seus respectivos recebimentos e pagamentos e, nos casos de
dano ao Erário, a identificação dos responsáveis, a quantificação do débito e a implementação das
medidas administrativas necessárias para o respectivo ressarcimento ;
9.1.2. no prazo de 60 (sessenta) dias, com fundamento no art. 7º, inciso V, do Decreto
7.724/2012 e no art. 8º, caput e incisos III, e IV da Lei 12.527/2011, promova as seguintes alterações
na divulgação das contratações em seu site na internet:
9.1.2.1. divulgue todas as contratações realizadas pela UFPR, independentemente do setor
demandante (Superintendência de Infraestrutura (Suinfra), Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
(PRPPG) etc.), incluindo as dispensas e inexigibilidades de licitação;
9.1.2.2. garanta que a integralidade das contratações realizadas seja divulgada em um único
local, com acesso a partir da página principal da UFPR, tratando as especificidades (modalidade de
licitação, setor demandante, fase do processo etc.) em subgrupos, que podem ser acessados a partir do
local destinado à integralidade das informações;
9.1.2.3. crie links para que, a partir de consulta a determinado processo licitatório, seja
possível acessar de forma direta o respectivo contrato no Sistema Integrado de Gestão de Acordos
(SigeA), o edital e o resultado do certame ou contratação direta, se for o caso;
9.1.3. no prazo de 60 (sessenta) dias, com fundamento no art. 17 da Instrução Normativa
MPOG/CGU 1/2016, apresente plano de ação com vistas à implementação de política de gestão de
riscos, incluindo, entre outras providências, a criação do Comitê de Governança, Riscos e Controles;
9.1.4. no prazo de 60 (sessenta) dias, com fundamento nos itens 83 a 92 da Instrução
Normativa MT/CGU 3/2017, comprove ao Tribunal as ações adotadas para que o plano da auditoria
interna seja baseado em análise de riscos dos processos da UFPR;
9.1.5. no prazo de 60 (sessenta) dias, com fundamento no art. 2º, inciso XXV, art. 4º, § 3º
e art. 10, § 2º, da Resolução 10/2008, da Comissão de Ética Pública da Presidência da República
(CEP), designe representantes locais da comissão de ética;
9.2. recomendar à Universidade Federal do Paraná que o plano de trabalho da comissão de
ética seja vinculado ao planejamento estratégico da entidade;
9.3. determinar à Universidade Federal do Paraná que, no prazo de 60 (sessenta) dias,
encaminhe ao Tribunal plano de ação para cumprimento do item 9.2 deste acórdão, contendo, no
mínimo, as medidas a serem adotadas, as unidades e os responsáveis pelas ações e o prazo previsto
para implementação, justificando, se for o caso, a não adoção da recomendação contida no referido
item;
9.4. determinar à Superintendência da Controladoria Regional da União no Paraná que, ao
realizar a análise do Paint da UFPR, nos termos do art. 6º da Instrução Normativa CGU 24/2015,
verifique se ele foi elaborado com base em riscos, segundo os itens 83 a 92 da Instrução Normativa
MT/CGU 3/2017, e se manifeste quanto ao cumprimento da presente determinação nos Relatórios
Anuais de Contas da UFPR;
9.5. requisitar à Caixa Econômica Federal, com fundamento no art. 101 da Lei 8.443/1992,
a prestação de serviço técnico especializado, para que, no prazo de 90 (noventa) dias, avalie o valor de
mercado do imóvel localizado na Rodovia João Leopoldo Jacomel, 4015, bairro de Jardim Primavera,
município de Piraquara, no estado do Paraná, à época de celebração do Contrato 36/2014, da
Universidade Federal do Paraná, considerando as restrições de uso do referido imóvel;
9.6. determinar à Secex-PR que autue processo apartado a fim de verificar, com base no
laudo de avaliação objeto do item 9.5, a regularidade do valor pago pela UFPR na mediante o Contrato
36/2014, bem como identificar as responsabilidades pela subutilização do imóvel, pela dispensa
irregular de licitação e possíveis danos ao Erário;
9.7. determinar à Secex-PR que autue processo apartado para avaliar a legalidade da
contratação da Cooperativa de Educadores e Instrutores de Línguas de Curitiba (Ceilin) pela UFPR, se
necessário, em parceria com a SecexEducação, e:
9.7.1. emita parecer conclusivo e fundamentado sobre a possibilidade de execução indireta
das atividades contratadas, à luz do Decreto 2.271/1997 e de normativos e orientações expedidas pelos
órgãos competentes, como o Ministério da Educação, bem como considerando a relação de tais
atividades com as demais atribuições do Centro de Línguas e Interculturalidade da UFPR e questões
atinentes ao financiamento dos cursos ministrados;
9.7.2. com base nas novas informações obtidas, reavalie ou ratifique as conclusões obtidas
nos presentes autos sobre a regularidade da execução de cursos de idiomas na forma adotada pela
UFPR;
9.7.3. no processo apartado, realize a oitiva da Cooperativa de Educadores e Instrutores de
Línguas de Curitiba sobre as questões tratadas, uma vez que decisão a ser adotada por este Tribunal
pode afetar direito subjetivo da contratada;
9.8. com fundamento no art. 43, inciso II, da Lei 8.443/1992, promover a audiência de
Edelvino Razzolini Filho, Pró-Reitor de Administração da UFPR responsável pelas contratações
emergenciais realizadas no exercício de 2016, nos termos propostos no relatório de fiscalização;
9.9. indeferir o pedido de ingresso da Cooperativa de Educadores e Instrutores de Línguas
de Curitiba nos presentes autos, com fundamento no §2º do artigo 146 do Regimento Interno do
Tribunal;
9.10. autorizar o monitoramento desta deliberação pela Secex-PR; e
9.11. dar ciência deste acórdão à Universidade Federal do Paraná e à Cooperativa de
Educadores e Instrutores de Línguas de Curitiba.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral